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LelroMise(elaor loli Tle) Capitulo V, “As terrivels aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)” Histéria Tragico-Maritima € 0 titulo da compilagio em dois volumes (Lisboa, 1735-1736), reali- = zada por Bernardo Gomes de Brito, a partir da obra que recolhe os relatos dos nauftagios softidos pelas naus portuguesas na chamada “carrera da indi Aniénio Sérgio escreveu uma versio abreviada desta narrativa publicada pela primeira vez em 1934, embora o texto original date do fim do século XVI. O capitulo V desta obra de Anténio Sérgio intitula-se “As terrveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)*. Duarte Coelho Pereira, pai de jorge de Albuquerque Coelho, protagonista deste relato, tera par- ‘ticipado na expedigdo de Vasco da Gama a india, na viagem de Pedro Alvares Cabral ao Brasil ena primeira expedigao a chegara terras da China. ‘O capitulo V da obra de Ant6nio Sérgio relata a viagem de Olinda para Lisboa de Jorge de Albu- querque Coelho. Este texto apresenta uma mensagem simbélica, para além do relato de uma traves- sia do Atlantico acidentada, Na realidade, pretende-se transmnitir uma mensagem de fé e de esperanga, representada na figura de Jorge de Albuquerque Coelho; comparar as vicissitudes da ‘viagem maritima com o percurso terreno ¢ o desejo de salvacio da alma; refletir sobre o pecado, a cefemeridade da vida e o temor da morte, preocupagdes do homem barroco. Na realidade, esta obra apresenta um caréter didatico, na medida em que, apesar de todas as vicissitudes, enaltece um herbi exemplar que coloca os ideais da patria e da fé acima de tudo € influencia os demais. Aventuras e desventuras dos Descobrimentos: Os relatos de naufrégios apresentam o reverso do Renascimento na literatura de viagens. Sio registos que se afastam da euforia renascentista da conquista para desenvolver uma critica & expan- so em funglo dos perigos e perdas que ela provoca. Sto textos de cardter documental em que 0 relato de testemunho ¢ a narragio de tragédias vividas estéo, em gral perfeitamente identificadas. Estes relatos salientam o lado negro, desastroso e anti-heroico do império portugues. Sao realcadas as dificuldades, a ganincia, a corrupgio, o desejo infrutfero de enriquecimento facil. No fundo, apresenta-se um Portugal decadente e arruinado, com problemas nas colénias e na metrépole. HISTORIA TRAGICO-MARITIMA: 0 ESSENCIAL EM TOPICOS Caraceristicas ‘genéricas da obra Espago + Obra de literatura de viagens + Obra organizada por Bernardo Gomes de Brito em dois volumes, em 1735 1736, séeulo XVIIL + Obra constituds por relatos de nauftgios que tveram lugar entre 1550 1650, séculos XVIeXVIL + Obra compilada a partir de relatos que circulavam de forma regular, em folhetos de “corde”, com muita popularidade + As relagbes de naufgios” constituem um géneroliteréro caracteristicamente Portugués + Adaptago de Ant6nio Sérgio, século XX Sa + Tntrodugio antecedents da prtida de Olinda para Lisboa ~ Aurbulo da capltania de Pernambuco a Duarte Coelho ~ Morte de Duarte Coelho em Porsgal — Revolta ds inios em Pernambuco ~ Heigio de orge de Albuquerque Codlho como chee ds capitania = Embarque para a metrépole a nau “Santo Antinio™ + Desenvolvimento: Fata de Olinds a 16 de msio de 1565 Problemas séenicos com a nau ¢suspenso da pstida ~ "Nau Santo Anno" partea 29 de junho ~Intengo:paragem em Cabo Verde invabilizada pelos ventos ~ Escassez de mantimentos e necessiade de pacificagio dos marinheiros = Atague de corsrios francesee:reisténcia erendigio ~Tempenade — Patida dos corsrion ~Tempestade ensufigio ~ Avstament da costa + Gondusto ~— Auwlio de Rodrigo Alvares ereboque da nau = Chegada a Lisboa edesembsraue ~ Enconto de Jorge de Albuquerque Colho com o seu primo que nfo orecanhece + Olinda, Brasil + Cabo Verde + Agores, thas do Faia, Pico e Graciosa + Serra de Sintra + Cabo da Roce Bata de Cascais Belém EM el Moot uae Personagens ‘Tempo histrieo ~ Reinado de D. Joto It (15071557) — Portugal atravestadifculdades potas ¢econémicas ~ Aexpanszo marfim perdeagléra iniial + Tempo narratvo (dois tempos distintos) Antecedents da viagem: cerca de 11 anos (desde a chegada de Dusrte Coelho 3 Pernarinico até & pata de Olinda do seu iho Jorge de Albuquerque Coelho) = Viagem de Olinda até Lisbos, em 1565: cerca de 4 moses e meio (desde 16 de maio 2 3 de outubro de 1565) + Jorge de Albuquerque Coelho Protagonist elder da expeiszo Fidago, nore, religiso, atta ecardeso = Her exemplar + Duarte Coetho Pai de Jorge de Albuquerque Coelho ~ Fialgo que representa as virtudes ea honra do velho Portugal + Duarte de Albuquerque Coelho temo de Jonge de Albuqueroue Coelho = Fdalgo de honra que se bate pela Pita -Teipulantes da mau — Personagem colts ndiscilinada = Pouco corsjosos, perm faciimente a fé, esanimados, pouco perseverantes “ Figuras opostas 20s Sidalgos que simbolizam a decadéncia de Portugal + Corséiosfranceses ~ Personagem coletiva inimiga dos portugueses — Figuras que simbolizam os dissidents do Catelicismo, pois so hteranos Figura do eapitio destae-2e do grupo pelo zexpeito que demonstra em rela a Jorge de Albuquerque Coelho, pela sua honra e valor. ‘Linguagem e estilo + Orlidade do discurso + Simplicdade do léxico com algum vocabulério arcaico: “ledo*, “peer” + Introdugdo do discurs direto + Campos lesicais da navegacio eda relgito Aprendo como se faz sn hein ‘Como pode surgir em exame a Hist6ria Trégico-Maritima? Anélise de um excerto a partir de um questionério interpretativo, COC Anélise de um excerto Lela o texto, Jorge de Abbuquergue, como de costume, flava aos ‘outros para Ines dar coragom. Confiassom em Dous,-© “1 swwrvantocgrande ao mesmo tempo fossem dando & bomba, esgotando a perigo gua que invacira o convés. Enquanto houver vida ~ 5 dizia-Ihes — trabalhem todos por a conservar, E se Deus dispusesse por outra forma, tivessem paciéncia ante os seus decretos: mente Ele sabe oque nos émelhor, Com estas palavras os persuadia a faina, Deram& — “inser a Viagem segundo os bomba, com imensa diiculdade de se aguentarem de _designizode Deus 10 pé, @ esgotaram a agua, —_________________,_ *Viagem simbslica Mas outro vagalnao se langou sobre a nau. Cobrindo © convés, arebatou o mastro grande, verga, vela, xa. SUN cias', camarotes, borda; levou 0 mastro da mezena* ‘traosobstéculos: com o aparelho todo, uma parte da popa, e também um 15 dos franceses dos de maior jerarquia. Os Portugueses — ieee que trabalhavam na bomba foram logo artojados aqui e obstaculo além; cobertos pelo mar, todos se convenceram de que se afogariam. Levantaram-se aos poucos, queixando-se_ Questao2: este de que partira um brago, aquele uma perna. Ficou *Personagam coletiva: 20 tude mergulhado por algum tempo; e o mar, depois, os portuguese dava ainda pelos joelhos dos desgragados, Mandou 0 Albuquerque alguém a coberta, para ver a agua que nela entrava. Sé faltavam trés palmos para chegar acima, @ a encher de todo, Fuzilavam relampagos; a 2 forga do vento, a imensidade das ondas, ateravam 03 4nimos; a gua que entrava vinha cheia de areia. Jorge de Albuquerque, apesar de tudo, consolava 0s tristes, afimando-Ines a esperanca de se salrem daquio. a ‘© mastro grande, quando caiu, ficou preso na enxér- + Lider mostra o verda- © cia; por debabko de agua, passara para a banda de bar —_derocaminte dat lavento; e de al, jogado na vaga, dava choques horriveis de encontro ao costado, que tremia todo com som cavernoso. Enfim, vieram uns mares que o levaram para. Tonge, ¢ de mais esse tormenta so viram lives. ") 3 G x o © a] 3 . wo ® us rf 3 fe Aprendo como se faz 35 Passados trés dias, em que continuamente se deu a bomba, comegou enfim a abonangar a procela’. Caaatto® Dos pedagos da ponte que o mar abatera, ede tes | +*osnossos" opde-ce acs remos do batel que escaparam do estrago, trataram Piratae 5 iogoldelimpravisarummastoletarmaremineielumal|— Guestdot i +32 momento: resolugio da 40 velazinna. ‘eftuagdo inicial ¢ inviabllza- Go da revottacontra oe Geis. Jorge de Albuquerque dissuadiu-os disso, No Franceocs estado em que estavam, 0 Unio remédlo era anau dos corsérios. Se ola escapara, trataria decerto de deman- + pereonagem coletiva: 08 cor 45 dar a nossa, por causa dos Franceses que nela iam; e _—_edrios francesa. vindo-os buscar, € néo os achando, decerto matariam *"eoredric” significa pleata: valordepreciativo 05 Portugueses todos. Lembrou-Ihes também que ja ‘do tinham agua, nem vinho, nem mantimento algum, ‘86 podiam esperar 0 que os Franceses Ihes dessem. erences —Franceses" é sinénimo de 0 Assim discutiam, travando raz6es, quando deram “corsérios”epiratas ® 3 % Ci) o 3 Es Hi Cy 19 ri 3 co vista da nau francesa. Fizeram-Ihes fogos. Ela acudiu, esbaratada também, mas no destrogada como estava Questio2: —— + Falta de mantimentos dos portugueses “As rvs avernuras de Jorge de Aouguarque Goel (1565); in Hist ria Tgico-Martima. Narva de Nautagios ds Eoca des Conqusias, | ——___ "Vadapta;so de Anco Saryo, Lisboa: Livaria Sa ca Costa, 2008, Questio2: 188-201, + Anau francesa eetava em ‘melhor eatado do quea nossa ‘conjumo de abos fos que, para ume oxto onde aguentam os masts eis des ‘endo tas mess, 2yelaatnado mato de, Mato de mezenso sto d "sempestad, 1. Divida o texto nas suas partes consttutivas, estabeleca relagdes de sentido entre os vérios momentos e explicite 0 seu valor simbélico. 2. Distinga dois grupos de personagens e caracterize-os. Desejo de | Lela 0 excerto duas vezes. Provacdo tearcaral * Lela todas as questées colocadas, ‘savage + Relela o texto, * Sublinhe o verbo de instrugéo de cada pergunta. + Elabore t6picos de resolugao para cada questo. a ~ | *Verifique se inseriu exemplos textuals, : ‘Ama humana | *Construa as respostas, Metrépole pone | + Reloia as respostas, colias chegar a bom i rio 1. Divida © texto nas suas partes constitutivas, estabeleca relagdes de sentide entre os varios momentos e explicite o seu valor simbélico. Resposta Este excerto do relato do naufragio de Jorge de Albuquerque Coe~ tho, na viagem de Olinda para Lisboa, esté estruturado em trés momentos. AAs tr8s sequéncias distintas deste texto articulam-se por enca- deamento numa relacao de causa-consequéncia. Assim, 0 primeira ‘momento & constituido pelo primeiro parégrafo, que introduz asitua- ‘680 de grande perigo. Na segunda parte do texto, relatam-se as vicis- situdes da luta contra a tempestade. Os dois titimos paragrafos s8o ‘marcados pela resolu¢go do problema inicial e pela inviabilizacso do plano de revolta contra aos franceses, Todo o relato deste naufragio apresenta um forte valor simbélico. ‘A viagem simboliza o percurso do homem na vida terrena e o desejo de chegada a bom porto: 0 Céu. 0 maré metéfora de perigoe asterras, ortuguesas (Cabo Verde e Agores) que os marinheiros encontram pelo caminho representam o refiigio. Concluindo, este relato apresenta uma perspetiva crista da exis- ‘tncia humana e defende um ideal de império do qual Portugal se estava a afastar. 2. Distinga dois grupos de personagens e caracterize-os. Resposta Neste excerto, sio referidos dois grupos distintos de personagens: 0s portugueses e os corsarios franceses. De facto, estas duas personagens coletivas representam interes- ses opostes. Por um lado, opdem-se porque professam religides dife- rentes: 0 catolicismo e o protestantismo. Por outro lado, os franceses uerem pilhar 2 nau portuguesa e os nossos marinheiros, castigados pelo mat, t8m dificuldade em defender-se e acabam por render-se. 0s franceses so designados pelo vocabulo depreciativo “corsério*, 0 que evidencia as suas intencdes de pilhagem. Em suma, os franceses atacaram a nau portuguesa porque tem ‘mais mantimentos e uma nau em melhor estado. Jorge de Albuquer- que Coelho, como lider respeitado, assume um papel conciliador entre estes dois grupos que se enfrentam. Introdugso sdenticagae dae partes do vexto Desenvolvimento + explcagdo + relagao entre as res do vexto = oxplctagao ao valor siiv6ico data contra asvicisetoudes daviagem Conclusdo Introdueao Desenvolvimento + dieting 409 ‘Aferentesinte- nesses doe dois cqrupos de perso- agers + wpa Concluedo ® 3 % o o a] 3 Ps r ® us 3 3 fe Agora fago eu Anilise de um excerto Leia o texto, A3 de Setembro, navegando eles em demanda das ilhas, alcangou-os uma nau de corsérios franceses, bem arthada e consertada, como costumavam. ‘Vendo 0 piloto, 0 mestre @ os demais tripulantes da «Santo Anténio» que néo iam em estado de se defenderem, pois mais artiharia ndo havia a bordo que um 5 faledo’ e um 86 bergo® (afora as armas que o Albuquerque trazia, para sie para 0 seus criados) determinaram de se render. Jorge de Albuquerque, porém, ‘opés-se a isso com a maior firmeza, Nao! por Deus, ndo! Nao permitisse Nosso ‘Senhor que uma nau em que vinha ele se rendesse jamais sem combater, tanto ‘quanto possivel! Dispusessem-se todos ao que Ihes cumpria, e ajudassem-no 10 na resistencia: pois somente com © bergo © com 0 falco tinha ele esperanca que se detenderiam! 86 sete homens, contud, se Ihe ofereceram para o acompanhar; e com os ‘sete, © contra o parecer de todos 0s demals, se pOs &s bombardas* com a nau francesa, &s arcabuzadas', aos tiros de frecha, determinado e enérgico. Durou 15 esta luta quase trés dias, sem ousarem Franceses abordar os nossos pela dura. resistencia que neles achavam, apesar de os combatentes serem t&o Poucos de nao haver sendo o bergo e 0 falco, aos quais Jorge de Albuquerque pessoal- ‘mente carregava, bordeava’, punha fogo, por néo vir na viagem bombardeiro, ou ‘quem soubesse fazé-lo tao bem como ele. 2 Ora, vendo 0 piloto, 0 mestre, os marinheiros, que havia perto de trés dias ‘que andavam neste trabalho; que recebiam os nossos muitos danos dos tiros disparados pelos Franceses, e que jé thes ia faltando a pélvora, - pediram ao fidalgo @ aos que 0 aludavam que consentissem enfim na rendigdo, pois hes era impossivel o prosseguir na defesa: ndo fossem causa de os matarem a todos, ou 25 de os meterem no fundo! Responderam a isto os combatentes que estavam decididos a nao se renderem enquanto capazes para pelejar*. Os outros, vendo- 08 assim determinados, deram de siibito com as velas em baixo, e comegaram 1 bradar para os Franceses: entrassem, entrassem na nau, que se hes rendial (Os que combatiam, indignados, quiseram matar o piloto © © mestre, pelo ato 20 de fraqueza a que forgavam todos; no tardou, porém, que subissem e entras- ‘som dezassete franceses, armados de espadas, de broquéis’ de pistoletes, @ ‘alguns deles com alabardas®, Num instante se senhorearam? da nau. ® 3 % Ci) o 3 Es Hi Cy 19 ri 3 co *Poquens pes de arthur Nes mendos do seul XVI, um fle peswva cera de 700 quo, c uns 800 gramas seu proj. "ga de arava cute Tyo de bombarda boca defo cu, “Tro de aeabuz ara de fego inva de aegar pea boc Andar 3 vot *Requeno exude “Asma comport por uma baste lng “apoderaree, conus Hats pce Metin \Verificando a maneira como vinha esta, perguntaram com que artiharia e que munigdes se haviam defendido tantos dias, e o nimero dos homens que comba- 4 tiam. Ouvindo isto, drigiu-se o capitéo dos Franceses a Jorge de Albuquerque Coelho com o rosto soberbo e melancilico, e disse-Ihe assim: ~ Que coragao temerdrio é 0 teu, homem, que tentaste a detesa desta nau tendo tao poucos apetrechos de guerra, contra a nossa, que vern téo armada, e ue traz seis dezenas de arcabuzeiros!? 40 Ao que respondeu o Albuquerque Coelho, bem seguro de si: ~ Nisso podes ver que infeliz fui eu, em que me embarcar em nau tao despre- parada para a guerra; que se viera aparelhada como cumpria, ou trouxera o que a tua traz de sobejo, creio que tivéramos, tu e eu, estados diferentissimos daqueles em que estamos. Alids, a boa fortuna que tivestes, agradece-a & trai- 4S go desses meus companheiros —o mestre, 0 piloto, os marujos, ~ que se decia- raram contra mim: pois se me houvessem ajudado, como me ajudaram estes ‘amigos, no estarias aqui como vencedor, nem eu como vencido. Contraveio 0 capitéo francés: = Nao te desconsoles, amigo: é isto fortuna da guerra, que hoje favorece uns, 50 amanhé outros. Pelo bom soldado que tu és, farte-ei muito boa companhia, € queles que te ajudaram a combater: que tudo merece quem faz o que deve, Ccumprindo a obrigagao da sua pessoa. ") 3 G x o © a] 3 . wo ® us rf 3 fe ‘Ae tele aventura do Jorge ce Abequerque Coslno (1565) n Astra Tpleo-Martime. Nara do naufdgios da Epaca des Congustas, V. Adapla;do de Arnie Sérgio, Uisboa: varia Sé da Cosi, 2008, ‘p.165-160) "omens com arabuzes, 1. Analise a importancia da presenga da reprodugao de relato de discurso num texto deste género, 2. Explique em que medida este episédio valoriza o protagonista individual e, ao mesmo ‘tempo, os pouces tripulantes que o ajudaram, ‘Topicos para a construgao da resposta a questéo 1 + Vivacidade do discurso J] tivredugto + Aproximagao entre personagens @ o narratério | Desenvolvimento + Expresso de sentimentos + Exaitagdo das qualidades dos protagonistas + Reforgo da veracidade dos acontecimentos J conciusso Topicos para a construgdo da resposta & questéo 2 + Protagonista:fidalgo portugues J] terodugto + Her6ireligioso, militar e civico “rin anon dri aio | oxo + Elogio pelo inimigo e capacidade de lideranga + Reconhecimento como lider 5} concluoto ® 3 % Ci) o 3 Es Hi Cy 19 ri 3 co Agora fago eu (nivel 2: sem tépicos) Anilise de um excerto Leia o texto, 0 Entéio, a 12 de setembro, o vento acalmou, para logo depois rondar ao sudoeste. Pouco tardou que soprasse em firia, zunindo nas enxarcias',turbilho- nando? nuvens, rendilhando espumas agoitando* no escuro os vagalhdes' roncantes, Ali! Alia! Alia carga! Alla! Alaram tudo que na coberta havia, e debaixo da ponte. Como enfuriasse ainda mais 0 tempo, trataram de alljar os mastaréus* das géveas’, ¢ todas as caixas que cada um trazia, Para que nao fosse isto pesado a alguém, foi a de Jorge de Albuquerque Coetho a primeira de todas que se langaram ao mar, na qual ele trazia os seus vestidos e outros objetos de importéncia. E, parecendo que ndo bastava isto, arojaram para as aguas a artiharia, com ‘muitas calxas que continham agdear, e numerosos fardos de algodao, ‘Um mar mais violento desmanchou 0 leme. Atravessou-se a nau aos esca- ccéust, @ no fol possivel desvid-la para a fazer tornar a correr em popa. Quase todos, entio, se sentiram descorocoar’, Jorge de Albuquerque, vendo- 08 assim, comecou a falarines para Ihes dar animo, e ordenou a alguns que buscassem meio com que se pudesse enfim governar @ nau. Ajoeiharam os ‘outros, @ pediram a Deus que os livrasse do perigo. Jd a este tempo, que seriam nove horas da manha, o navio dos corsérios se no avistava; e os Franceses que estavam na “Santo Antonio; vendo a tormenta desencadeada, 0 leme desmanchado, atravessada a nau, 0 rumor que fazia toda a gente, ~ chegavam-se aos nossos em tor amigo e cumpriam tudo que Ines eles mandavam, como se fossem cativos dos Portugueses, @ ndo os corsé- tos @ roubadores. Dispés-se entéo um bolso de vela para o porem em torno do castelo de roa, a ver se com isso arribaria a nau, e deixaria assim de se atravessar a0 mar. ‘As dez, escureceu por completo; parecia noite. © negro mar, em redor, todo ‘se cobria de espumas brancas; 0 estrondo era tanto, - do mar e do vento, ~ que ns aos outros $e niio ouviam. isto, levanta-se de ld uma vaga altissima, toda negra por balxo, coroada de ‘espumas; e, dando na proa com um borbotdo do vento, galga sobre ela, a sub- ‘merge, @ arrasa. Estrondeando e partindo, leva o mastro do traquete" com a sua verga' e enxdrcia; leva a cevadeira", 0 castelo de proa, as Ancoras; estihaca a ponte", 0 batel", o beque', arrebatando pessoas, mantimentos, pipas. Tudo se ‘quebra © Id val no escuro. A nau, até 0 mastro grande, fica rasa e submersa, © ‘mais de meia hora debaixo de agua. (Os sobreviventes, que se arrastavam pévidos”, confluem a um padre que se acha a bordo e atropela as rezas ¢ as confissdes. Um relmpago risca, lumina a 40 treva: veem-se todos de joelhos, com as maos no ar, a pedir misericérdia e a clamar por Deus. Jorge de Albuquerque, como de costume, falava aos outros para Ihes dar coragem. “As loves ayorturas do Jorge de Abuquergue Coelho (1565) in Hita Tégico- Martina, Naativa do ‘nautdgios de Epoca des Conqusias, V Acaptaca0 de Aribnio Sérgio, Lisboa: varia $4 da Costa, 2008, Pp 105201, * Conjuna dos cos sos que, partum eouvo Bordo, aguntam os masteos els, descend até mess. "Aves redonda mais bala e maior do mastee depres, "pau peso ao mane onde se amare ela, "Vela que pendia de uma vega atravessaa no gurupés (masta clocado ma extemnidae da pra, ormando um Angulo de 302.40 gras. Cobesta, “Embarcato malr do navlo, qu a acomodada no eanvés dana. "Parte mals avangada da poe. assustados Explicite em que medida este texto pode ser um exemplo da expresso latina homo Judus deorum, 0 homem 6 um brinquedo nas mos dos deuses, idela jd introduzida por Cam@es em Os Lusiadas, aquando do relato da viagem na costa do indico. Indique de que modo 0 aspeto religioso, to saliente nos relatos de nautragios, est presente no final do excerto. ® 3 cl x o o a] Q 7 2 p wo r Bed wn co) 3 fe Propostas de resolugao Exercicio 1 1. Num texto narrativo, a introdugéo do discurso direto torna o relato mais vivo e presentifica os acontecimentos. Na verdade, permite uma maior aproximagio entre as personagens e 0 narratério, possibili- tando uma expresso de sentimentos mais real Neste caso em particular, o dlogo entre o capi- ‘Go portugués @ 0 francés permite a exaltagao das qualidades morais de Jorge de Albuquerque Coatho, uma vez que é 0 seu inimigo a reconhe- cer as suas préprias qualidades. Conelui-se que 0 discurso direto contribui para dar mais veracidade aos acontecimentos. 2. Jorge de Albuquerque Coelho afirma-se neste relato como um herbi religioso, militar e ofvico. Fidalgo de uma antiga familia portuguesa, retine as qualidades de cristéo, de portugués hhonrado e de bom cidado. Este episédio valoriza a coragem e determina- (980 do capitéo, que nunca pensa em render-se mesmo quando esté em dasvantagem e 6, in- clusivamente, elogiado pelo seu adversario, or outro lado, os homens que o acompanham estdo ividides entre os que pensam como ele e aqueles que demonstram fraqueza e possibi- litam a abordagem dos corsérios franceses. Os sete homens que o ajudam demonstram tam- bém coragem e, mesmo estando em desvanta- gem, no desistem. Em suma, a determinagao do capitéo e dos ‘ipulantes 6 tal que até 0 seu inimigo a reco- nhece ¢ elogia. Exercicio 2 1. Os relatos de naufragios e as reflexes do Poeta em Os Lusiadas apresentam uma ver- tente critica semelhante, uma vez que refletem lum império em decadéncia. ‘Assim, este texto pode ser considerado eco da ideia veiculada por Camées, por exemplo, na reflextio do Canto | sobre a fraglidade da vida humana. Por um lado, com este relato de nau- {ragio, fica evidente que o homem pode ser um joguete nas maos de forgas superiores (‘pedi- ram a Deus que os livrasse do perigo”). Por outro lado, a coragem e a determinagao hu- mana levaram os marinheiros que sofreram este nautragio a resistir ¢ a ultrapassar os perigos (‘trataram de alijar os mastaréus das gveas, e todas as caixas que cada um tra- ia). Em suma, neste relato, a razAo e o livre arbitio. ‘equilibram forgas com o poder da divindade. Nos relatos de nautragios, a 16 @ a ideologia crista estdo bom patentes, pois a narrativa pro- ‘cura veicular a ideologia do Cristianismo, De facto, final do excerto, sobressai o apelo 20 divino como unico recurso numa situacdo I- mite, evidente nas seguintes expresses: ‘con- fluem a um padre que se acha a bordo atropela as rezas e as confissGes" e “veem-se todos de joeihos, com as maos no ar, a pedir misericérdia e a clamar por Deus” Na realidade, relatam-se situag6es diticels de ultrapassar, que péem a nu as falhas daqueles cristéos que hesitam em acreditar em contra- pponto com os que, como Jorge de Albuquerque Coelho, mantém a esperanga @ a 1é mesmo ‘nos momentos mais complicados. Em concluséo, a presenga das referéncias reli- giosas 6 uma forma perspicaz de enallecer os valores cristaos.

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