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presente, já que tal coisa nem sempre A segunda objeção ligava ...e ao su
pareceu evidente. Sendo provavelmen jeito, isto é, ao historiador. As gerações
te aqui um doe mais velhos, devo dizer anteriores duvidavam da possibilidade
que fiz meus estudos de história na d e acedermos à objetividade quando se
época que se seguiu à Segunda Guel"la tratava de acontecimentos nos quais
Mundial. Naquele tempo, na França pe havíamos estado mais ou menos envol·
lo menae, nossos profeeeoJ"es, 06 hisb> vidos, dos quais havíamos sido teste
riadores mais antigos, sequer imagina munhas, observadores, 05 quais ha
vam que os historiadoree pud"",em in viam suscitado em nós reações, enga
terE""ar-se por acontecimentos relati jamentos, tomadas de posição. O histo
vamente recentes. Tlinta e cinco anos riador é um ser impregnado de pai
atrás, em 1957, publiquei na Rêvue xões, compartilha os preconceitos pró
Françai"" de Scu.nces Politiques um ar prios do seu tempo, da cornmte de pen
tigo intitulado "Em defesa da história samento a que pertence. Será que pode
abandonada". Esta "história abandona div idir-se? Não será melhor esperar
da" era, de fato, a história dos quarenta que o tempo tenha cumprido seu papel
e que o distanciamento tenha acalma
anos que acabavam de passar. Até en
tão, ninguém imaginava que o que tinha do as paixóes? Hoje em dia, estas obje
ções foram felizmente superadas. Ga
ocorrido após o 10 de agosto de 1914
nhamos o processo em favor de uma
pudesse ser da competéncia dos histo
hiBtória próxima, e ela hoje está inte
riadores. Devia ser deixado para os ou
giada ao trabalho do historiador. Sem
bos. Era realmente história?
pre desejei iBso, por não pensar que
Na verdade, as razões pelas quais as
exiBtiBse uma diferença de natureza
geraçre.. anteriores demonstravam re
entre a história longínqua e a história
servas ou desconfiavam da história con
recente, já que a fronteira que separa
temporânea náo eram desprovidas de
o presente do passado está fadada a
valor. Havia principalmente d11As ra·
apagar-se. Sempre desejei isso, tam
zões e vou evocá-las rapidamente. A
bém, numa perspectiva que eu chama
,
pois que talvez houvesse outras fontes, tória. E melhor assim do que abando-
houvesse substitutivos. Ontem, quando nã-lo a outras disciplinas.
visitei o CPDOC, fiquei muito impres O tema que finalmente elegi, com o
sionado com o espaço que ocupam, de consentimento doe organizadores, e cu·
um lado, o recolhimento dos arquivos jo título consta do progra ma -P or que a
privados e, de outro, os depoimentos da história politica? - náo se define pela
chamada história oral. posição do período estudado na sucessão
12 ESTUDOS HJSTÓRICOS 19!WJ13
-
do tempo, e sim pela natureza dos fato.. tará dedicar-se ao mais significativo e
sobre os quais concordamos em nos de-
,
ao mais explicativo. A resposta à per
bruçar. E sobre isto que eu desejaria, gunta acima é aSl5im inseparável da
agora, tecer alguns rápidos comentá idéia que fazemos da categoria capaz de
rios. Partiremos de uma observação ele introduzir, oom o maior grau de certeza
mentar, de uma constatação perfeita possível, a intelegibilidade do real, ou
mente banal - mas 08 lugal1as--comuns seja, da categoria que contém a maior
comportam uma parte de verdade que é carga explicativa. A pergunta é, em ou
importante estudar e explorar- que é a tros termos, a seguinte: o que é deterl!';
seguinte: a história se apres�nta como nante? Não resta dúvida de que se, no
uma totalidade não dividida e global. conjunto das realidades, existem algu
Periodicamente, os historiadores ali mas que são detelminante8 e outras
mentam a ambição, um pouco insana, detellninadas, parece mais lógico inte
de fazer uma história total. Mas é O ressarmo--nos mais pelas primeiras do
espírito humano quem intltxluz, nesta que pelas segu ndas. Se uma categoria
,
categorias de fatos que o espírito dis Estamoe A85im diante de uma dupla
tingue ou isola. Aplicada ao político, ela pergunta. A crítica outrora feita à histó
teve várias respostas ao longo do tem ria política era justificada? Não seria
po. Sem perco..er de novo a história de ela, ainda hoje, pertinente? E, simetri
suas variações e vicissitudes, diria su camente, a volta ao político teria funda
mariamente que, se outrora, no século mento? O que justifica que, hoje em dia,
XIX ou no início do século XX, a cha uma parte das objeções feitas seja afes
mada história política desfrutou de um tada? Volto à pergunta que já anunciei
prestigio inigualado, exercendo um aqui - e perdoem-me por fotmulá-la de
imperium e uma hegemonia sobre o novo, mas acho que desta. fOlma ela 5e
resto da disciplina, a profunda renova tornará mais precisa: por que nos inte
ção que atingiu a história na França se ressarmoe pela história política? Ou se
. .
fez, de modo geral, em reação e contra qU18C3BC usar te1111 08 nlS.15 pre tellSlOSOB
'
ela. De certa forma, a história política e enfáticos: qual será o estatuto episte
passou a ser denunciada como um con mológico da história do político? Ou ain
tra-exemplo. Ela reunia todos os defei da: merecem os fatos políticoe constituir
tos contra oe quais as novas gerações objeto de conhecimento científico? Ares
posta depende do que se pensa, pois se
de historiadores desejavam definir-se,
vai responder a uma intell'OgaçãO que
reagindo a uma negligência demasiado
prolongada dos historiadores mais ve
diz respeito à natureza das coisas E, já
que é dos fenômenos coletiv08 que a
lhos frente a outras realidades não me
história se enca..ega e se responsabili
nos importantes, entre elas o trabalho,
za em primeiro lugar, será que existe,
as relações sociais, a economia.
na vida das sociedades, uma ordem de
1bdavia, nas d1las últimas décadas
realidades, 11m coqjunto de fenômenos
desenhou-se uma inversão de tendên
sociais que seja, por natureza, suficien
cias. Falou-se em "retorno do político".
temente distinguível dos outroe tipos de
Não gosto nem um pouco desta expres
realidades para constituir algo específi
são, porque ela faz pensar que se trata
co? Será que existe este conjunto de
de uma volta atl'ás ou de uma restaura
fenômenos sociais dotado de uma con
ção, quando, na verdade, trata-se de
si.stência própria, a qual seria relativa
algo completamente diferente, de uma
mente itiedutível a ouLJas realidades,
outra história, que se beneficiou do en
econômicas, sociais ou ideológicas? Um
riquecimento de todas as gerações ante conjunto dotado de alguma autonomia?
riores e trouxe, não resta dúvida, o polí Insisto: alguma autonomia. Não se tra
tico para a frente do palco. A tal ponto ta de reivindicar para nenhuma catego
que as Editions du Seuil, na sua peque ria de fatos uma soberania, uma inde
na coleção Point-Histoire, onde há um pendência absoluta. Será que existe um
volume dedicado às escolas históricas conjunto dotado de alguma autonomia
na França, achou por bem, na última e que possa, em algumas circunstán
edição, acrescentar um capítulo de cerca cias, se constituir não mais em efeito e
de trinta páginas sobre a "volta do polí sim em causa. que não seja mais deter
tico". Curiosamente, este volume, que minado e sim determinante? Um con
consiste em uma galeria de escolas, ter junto que possa, por conseguinte, impri
mina por um capítulo dedicado não a mir sua marca e influir no curso da
uma escola, mas a um objeto. Trata-se, história mediante um processo de cau
de certa fOl"lua, de uma mudança na salidade que não seria unilinear, e sim
.
paISagem.I recíproco ou circular? Eis a questão.
•
15
posto pelas classes médias. Por conse própria existência. Gostaria de argu
França deve ser governada pelo centro." O primeiro se refere à origem das
escolhas políticas. Vocês sabem, semdú
Giscard d'Estaing não era mais marxis
vida, que um dos ramos da história e das
ta que François Mitterand, mas adota
ciências políticas (trata-se, de fato, de
va também uma posição segundo a qual,
um traço comum) que mais cedo e mais
no fundo, a política ficava na estrita
amplamente se
desenvolveram na
dependência das realidades sócio-eco-
. França é o que trata da origem das
nomlcas.
-
Politiques. publicou. tl'ê" décadas de mesmas conclusões - e mais uma vez
pois, outro livro pioneiro, La politique podemos constatar o valor do inter
eles partis enFra.nce, onde constata que, câmbio entre disciplinas. da pluridisci
de 1849 a 1936. em certos cantões fran plinaridade. A sociologia religiosa de
ces.... a repartição dos votos entre a sistiu de explicar as crenças e os com
direita e a esquerda não variou de 11m portamentos religiosos mediante fato
ponto sequer. 'lemos, então, ao mesmo res de ordem externa. Uma das conclu
tempo. a diversidade no "'paço e a cons sões a que levaram notadamente as
tância. a continuidade no tempo. Trata pesquisas sobre classes. sociedade e
ee de um problema singular que nos religião é a de que, e m defmitivo, e
coloca uma questão. Como explicar que. contrariamente ao que alguns acredi
a despeito da renovação dos indivíduos. tavam, não há COIlelação entre o grupo
que são substituídos biologicamente. te social a que deterllÚnados indivíduos
nha havido eemelhante pel'manência pertencem. seu stafus profissional e
das tradições políticas? Podemos dizer sua fé ou ausência de fé. Por conseguin
que. desde 1913. esta questão nunca te, temos aqui um primeiro elemento
deixou de constituir uma preocupação, que sugere que o político exige ser es
e que foram inventariadas todas as ex tudado separadamente. não é um sim
plicações possíveis. P...quisaram-ee as ples prolongamento do estudo da com
correlações entre os votos e a geografia. posição social. por exemplo.
a ffitrutura fundiária. a repartição das Segundo argumento: todas as pes
teu as, a riqueza ... 1bdos os fatores fo quisas realizadas nos últimos trinta
ram examinados. 'Ibdas as hipóteses anos sobre os proc...sos de tomada de
foram levadas em consideração e. de decisão (como é tornada urna decisão?
certa fOl"ma, testadas. E foi necessário como funciona um governo? como surge
reconhecer que nenhuma delas dava um texto de lei?) levaram à percepção
plenamente conta do fenômeno, que não da relativa autonomia das decisões po
e>cistem conelações fixas. Existem con líticas em relação aos constrangimentos
vergências, mas é impossível encontrar que sempre se impõem. Não é verdade
uma relação de c81'sslidade. Por conse que elas sejam de certa f'>Ium ditadas
guinte, 05 indivíduos não são detel'llli por necessidades de ordem econômica.
nados, e existe uma variação que nos Não chegaria a dizer que são frutos do
remete a OUtJ1lS realidades de ordem acaso, mas sim que há uma margem de
imaterial. ligadas às tradições cultu manobra para os políticos. que eles qua
rais, à educação. se sempre podem fazer uma escolha
Este problema foi retomado em ou entre várias políticas, e que essas esco
tras bases, uns vinte anos atrás, JXlr lhas são feitas por razões antes de tudo
•
uma jovem já falecida. Annick Perche políticas. E por demais simplista imagi-
ron. que estudou a socialização políti nar que no fundo os políticos não pas
ca, a fOl'Iua como as crianças desco sam de serviçais ou de executivos de
brem a política ou como os adolescen-
•
grupos de pressão que lhes ditam suas
tes realizam suas escolhas. E preciso decisões. Em primeiro lugar. porque
admitir que existe aí uma grande liber uma sociedade é sempre suficientemen
dade. que as escolhas políticas real te complexa e diferenciada para que os
mente constituem um domínio relati políticos possam pór os grupos em con
vanlente autônomo e auto-explicativo. fronto entre si, para depois exercer sua
Paralelamente. as pesquisas de socio arbitragem. Segundo. porque os políti
logia religiosa levaram exatamente às cos encontram a força para essas arbi-
POR QUE A H1STÓRlA POLÍTICA? 17
tragens nelas mesmas. 'lerceiro, porque tecer out1'B8 considerações que são mais
os fatores de ordem política contribuem, particulares, que nos tocam mais de
por sua vez, para modificar a realidade. perto no exercício da nossa proliosão de
As instituiÇÕES não são apenas a tradu historiadores e que, na minha opinião,
ção de realidad... mais fortes. Elas não dão foro ao fenômeno político frente ás
são neutras nem indiferentes, elas pro exigênrias legítimas que a história pode
duzem efeitos, fixam regras, traçam fazer para admitir na sua ãrea uma
sulC08, modelam as mentalidad... e as categoria de fatos. Isto, de certa fOIma,
sensibilidades. Isto ficou muito evidente responde um pouco b criticas anterio
na França, no deconer da 8UOOMão de res e mostra a mudança ocorrida na
experiências que fizemos depois da Se idéia que fazemos hoje daquilo que pode
gunda Guella. Constatamos que uma ser a história política.
escolha institucional acalIeta transfor
Uma das objeções - e penso que al
mações profundas nos sistemas de for
gumas coisas que vou dizer irão ao en�
ças e até na expressão das escolhas.
contra da experiência do CPDOC - que
Nenhum regime eleitoral é neutro. O
durante muito tempo foi feita à história
fato de termos escolhido, logo após 1958,
política era que no fundo ela só se inte
um sistema baseado no voto majoritário
ressava porum pequeno nllmero de pes
teve toda uma série de efeitos na modi
soas. Ora, já que tem a ambição de
ficação do quadro político.
abraçar a totalidade, é normal que a
Não tentarei definir aqui o que é o
história privilegíe aquilo que diz IllSpei
político, mas também não podemos
to a um grande número de pesso as.
perder de vista o fato de que existe um
Uma biografUl individual pode ser ...-
campo próprio do político, ainda que
clareced ora, mas é menos inte"".sante
variãvel. A esfera do político absorve
do que o estudo de um grupo. Não pou
problemas ou questões que não se co
cas vezes os historiadolllS do político se
locavam antes e que aliás, em alguns
casos, tornam a sair dela. Os contornos viram acusados de só se interessar por
são pouco nítidos, mas hoje em dia um pequeno número. por aquelas pes�
poucos domínios escapam da política. soas que desempenhavam um papel
Basta ver a diversidade das chamadas principal, que ocupavam a frente do
políticas públicas. Existem hoje políti palco, OS governantes, os parlamenta
cas públicas de saúde, de biologia, de res, e de reduzir a vida política àquilo
meio ambiente, enfllD. de uma série de que é às vezes cMmado de microcosmo
problemas que nossos antecessores político. Ora, esse miCIocosmo não é o
não imaginavam poderem tornar-se reflexo do macrocosmo, da nação. da
um dia objeto de debates políticos ou sociedade. O historiador, nesse caso. só
de escolhas políticas. Sinto-me tentado se intel(zsaria JX>r uma elite, por uma
a dizer que nunca foi tão difícil como fina película na superfície da sociedade.
hoje descartar o político como um fator . Seria portanto normal lhe opor a reali-
superficial ou exterior. dade da sociedade profunda. Só há his
Estes são alguns dos argumentos de tória quando se trata de grandes núme
ordem geral que me parecem justificar ros. E fica claro que, definida desta ma
o fato de o historiador interessar-se pelo neira, a história política não pode se
político. Não quero dizer que todo histo equiparar ao estudo da demografUl, ao
riador deva interessar-se pelo político, estudo do trabalho, da saúde, da ali
mas sim que há lugar na família para mentação, que são problemas que atin
uma história política. Gostaria ainda de gem a todos.
18 ESTIJDOS HISTÓRICOS 190<!l3
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também comporta estruturas que lhe grupo ao qual pertence. Mas há muito
são próprias. As instituições são por mais que isso Ele temconvicçóes, idéias
.