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Nota:

Vermelho = Trecho localizado em acorde com função de tônica;


Verde = Trecho localizado em acorde com função de subdominante;
Azul = Trecho localizado em acorde com função de dominante.

Caminhemos – Herivelto Martins e Peri Ribeiro (arr. Nelson Gonçalves)

A música inicia com uma cadência perfeita antes do início da letra.

Primeiro verso - “Não, eu não posso lembrar que te amei”


Presenciamos aqui o final de uma afirmação terminada em meia cadência, o que
indica que o sentimento de amor, está num conflito, justamente por ser a única palavra
localizada no acorde de dominante, que finaliza sem resolução. Também é interessante
analisar o trecho que vai da palavra “eu” até a palavra “amei”, que são reproduzidas
pela mesma nota, indicada na figura abaixo:

O trecho faz um caminho ascendente, seguido no auge do agudo a palavra


“posso”, ela na música tem enorme destaque, pois a canção revela uma pessoa que está
em conflito, entre poder ou não poder esquecer momentos de mágoa que seu amor lhe
proporcionou.

Segundo verso – “Não, eu preciso esquecer que sofri”

Destaco o trecho “que sofri”, fazendo o seguinte movimento “ ”, o que


torna a palavra “sofri”, finalizada em movimento ascendente de um tom, algo com
caráter de que a afirmação do verso tem uma pequena esperança de realização,
confirmando isso também com a chegada da dominante, um repouso, relaxamento.
O trecho “Não, eu preciso” localizado na subdominante, possui caráter de
afastamento, o “eu preciso” está totalmente relacionado com o afastar das mágoas que o
amor lhe proporcionou.
O “esquecer que”, apresentado em dominante, indica tal conflito da afirmação,
ele tem conflito no esquecer, que o torna desafiador, porém com uma esperança de que
será esquecido devido ao final da frase.
Terceiro e quarto verso – “Faça de conta que o tempo passou; e que tudo entre nós
terminou”
Aqui é notório no sentido da frase o encaminhamento melódico, presente nos
trechos “conta que o tempo passou” e “tudo entre nós terminou” que se apresenta:

e
Este encaminhamento melódico em direção ao grave, onde a presença das fusas
tem detalhamento no sentido, ressaltam que tudo presente no que se está querendo
afirmar, o sujeito quer que seja encontrado em ruínas. As duas frases terminam no
acorde com função de dominante, o que justifica que é uma afirmação não resolvida, o
que também encaixa com o que o sujeito no contexto pede em que de fato ainda não
possa estar em ruínas.

Quinto verso – “E que a vida não continuou pra nós dois”


Aqui podemos compreender a passagem “E que a vida não” onde a dominante
acaba por vir seguida da subdominante, como um afastamento, o que acontece no caso
da afirmação, onde a vida dos dois o sujeito quer e confirma este afastamento no trecho
seguinte “continuou pra nós dois”.

Sexto verso – “Caminhemos, talvez nos vejamos depois”


Aqui vemos uma maior confiança no que se está falando, quando ao afirmar
“caminhemos” a frase vai para tônica em uma cadência plagal. Seguindo temos o trecho
“talvez nos vejamos” que nesta parte a melodia vai subindo progressivamente até nota
mais aguda, caindo também no acorde com função de dominante, transformando tal
afirmação, de “talvez nos vejamos” como algo num futuro distante. Em seguida é
finalizado com um retorno à tônica, afirmando o “depois” com um caráter de que esta
possibilidade vista num futuro distante seja uma certeza do destino.

Sétimo verso – “Vida comprida, estrada alongada”


A persistência do acorde de função dominante na maior parte deste verso está
relacionada principalmente à tensão que quer ser enfatizada na palavra “alongada”,
magistralmente bem-feita nesta parte.
Oitavo verso – “Parto à procura de alguém ou à procura de nada”
O oitavo verso, também aproveita as tensões que o acorde de característica
dominante oferece, sendo também quase todo realizado nesta função harmônica. O
partir à procura de alguém, que está totalmente em acorde de dominante, para o sujeito
já está como algo contra os seus sentimentos. Seguindo “ou à procura de nada”, onde a
palavra “nada” é bem destacada, terminando em função de afastamento, indica que o
objetivo do sujeito é mais esquecer suas mágoas.

Nono verso – “Vou indo, caminhando sem saber onde chegar”


Antes da cadência, a parte em “Vou indo, caminhando sem sa-” possui uma
grande tensão, com o cavaquinho ritmicamente dando uma massa sonora, o que enfatiza
este momento tenso, destacando este trecho da frase. O próximo trecho, que já é a
cadência, a sensação de repouso, livre de tensões, acaba por ser tomada pela melodia,
que progressivamente vai ao agudo, reproduzindo novamente a nota mais aguda da
música, dando a sensação de que o sujeito espera, por mais que se tenha muitas tensões
neste processo, chegar longe, saber até onde ele pode ir.

Décimo verso – “Quem sabe na volta, te encontre no mesmo lugar”


O trecho “quem sabe na volta”, a saída da tônica e entrada na subdominante, o
afastamento tonal toma um caráter mais distante do agora a volta, relacionando-a com
as afirmações anteriores, onde vemos a relação com o sexto verso, aqui vemos a certeza
que num futuro distante o sujeito espera como uma certeza o “talvez nos vejamos
depois”. A cadência no trecho “mesmo lugar”, significa que o sujeito, ao voltar à tônica
no final do trecho, ainda vê como um retorno, a possibilidade que ele espera no futuro,
uma fé em que o contrassujeito não vai mudar com o tempo, ao contrário do que ele se
espera.

Décimo primeiro verso – “Não, eu não posso lembrar que te amei”


Mesma ideia do primeiro verso da música, tendo alteração significante nos
baixos logo ao terminar esta frase, dando um caráter de desespero, como uma loucura
que tenha atingido o sujeito logo após a afirmação.

Décimo segundo verso – “Não, eu preciso esquecer que sofri”


Mesmo caráter do segundo verso.

Décimo terceiro e décimo quarto verso – “Faça de conta que o tempo passou; e que
tudo entre nós terminou”
Mesmo caráter do terceiro e quarto verso.
Décimo quinto verso – “E que a vida não continuou pra nós dois”
Possui caráter igual ao quinto verso.

Décimo sexto verso – “Caminhemos, talvez nos vejamos depois”


É o mesmo sentido do sexto verso, porém com uma fermata no “depois”,
indicando fim de discurso.

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