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NANE CAINHA

& NANE HÁBIL


Rimance

Por Joanim Pepperoni, PhD


©opyranho di Joanim Pepperoni, PhD
Prima Edizione Anno Domini MMXX

Imagens da Capa: Trono, Cetro e Coroa


 
Dados Internacionais de Catalogação nas Pipas (CIP)
(Paiol Cocanhês do Livro)
 
Índice para o catálogo sintagmático
1. Rimance : Literatura Cocanhesa    C869.2

Pepperoni, Joanim PhD


 Nane Cainha & Nane Hábil - rimance / Joanim Pepperoni – Polentawood:
Editora Prensa de Torresmos Cantina do Frei,  Anno Domini MMXX, 36p.
 
  ISBN 187-51-875-2020-1
1. Rimance cocanhês; comédia; sátira menorreia 

Conselho Naneditorial

Joanim Pepperoni, PhD (Sempre presidente vitalício)


Vittorio Pancetta, Ph²O (Vice-presidente)
Andreas Polentoni, PhD (Em quarentena)
Giuseppe Ravioli, Ph7 (Gerente das prensas de torresmo)
D. Jerico Pissacàn, PhD (Filósofo e conselheiro)
Gioconda Rondinelli, PhD (Secretária e dançarina)
Clobo Agnollini, PhD (Copista)
Pepito Pepperoni, PhDMI (Livreiro)
Christophoro Cappeletti, PhD (Agiota exilado)
Juó Bananère (Versejador macarrônico – in pol. mem.)
Gargaliazzo Polentoni, PhD (Especialista em Paintbrush)
D. Florim Fulô,  PhD (Tchuco-mor)
Debulhador Maneta (Livre-pensador)
Terra Cocanhae
Anno Domini MMXX

Prensa de Torresmos Cantina do Frei

Vinhos, graspas, álcoois em gel, visgos, farinhas, gravetos, cariolas,


fogolares, pipas, livros, patronos, rainhas da festa da uva, latas de
querosene, máscaras, fake news e outros aviamentos
Pipocos póstumos de e-milho
                       
                                                               
Prezado Joanim Pepperoni, PhD, ídolo do teatro de bacon, que a
Estrela da manhã te conceda Guerra.
 
Infelizmente, eu não posso aceitar o convite para prefaciar o seu
rimance. A minha caneta funciona. Não tenho medo de usar a
caneta, nem pavor. Mas ela será usada para o bem do Brasil e
da Terra da Cocanha, não para o seu bem. Nada pessoal. Brasil e
Estados Unidos acima de tudo!!
 
Algo subiu à sua cabeça. Está se achando, de repente virou
estrela. Escreve pelos cotovelos. Faz arte imitando o próprio
umbigo. Recebe dinheiro de ONG. Faz provocações no Facebook
e no Twitter. Pode ser que você esteja certo, mas está faltando
um pouco de humildade. Cai na real!
 
Eu também meditei bastante e reconheci que não tenho
condições de prefaciar o seu rimance Nane Cainha & Nane Hábil.
O motivo é simples: eu só sei falar de mim mesmo. A minha
egolatria é maior do que o meu desejo de te servir, tá ok? Eu
acima de todos! A sua hora ainda não chegou.
 
Não é meu propósito trazer à consideração dos estudiosos uma
nova teoria literária. Tampouco quero dar ensejo a um inquérito
pedantesco, apresentar uma coleta fastidiosa de documentos e
observações sobre esse rimance com um amontoado... Muita
coisa escrita, tem que suavizar isso.

Não quero analisar as causas prováveis da invenção da polenta


no dilúvio, nem conhecer as causas certas da ronha entre os
bambinos, tampouco avaliar as causas possíveis do Nane
Tamanca, muito menos estudar as aptidões do Nane Cainha ou
do Nane Hábil. Poupo o leitor desse aranzel.
 
Tampouco importam o lavoro do office-bambino, o Chevette na
chuva, os azares e triunfos dos nanes, suas peripécias burlescas,
a areia na tulha de milho, a sabotagem das máquinas, o
emporcalhamento da farinha, o Tegão, o milho sem palha, os
ovos sem casca e os cactos sem espinhos.
Oh!!! que saudades que tenho da aurora da minha vida, da
infância na Cocanha, que os anos não trazem mais! As tardes
fagueiras, debaixo dos milharais, o odorífero dos sabugos, o
anilado dos céus, o prestimoso dos nanes, o noticioso e
suculento dos relatórios de Etnomilhografia...
 
Uma vez os ensinamentos de Joanim Pepperoni, o nosso divino
PhD, estavam iluminados para o nosso divertimento. Mas nos
últimos tempos você começou a doutrinação ideológica de
esquerda, para destruir a família, bastião do conservadorismo,
apagar a religião e controlar a linguagem!
 
Começo a me arrepender deste e-milho. Não que ele me canse;
eu não tenho o que fazer acá; e realmente, expedir o prefácio
para a Terra da Cocanha seria tarefa que distrairia um pouco da
eternidade. Mas o seu livro é ideológico, cheira a maconha, traz
certa semântica esquerdopata.
 
O que Joanim plantou na ficha catalográfica desse livro? Plantou
militância. Tanto é que os leitores leem “Fora Bozo” e votam no
PT ou no PSOL. Molecada de saia no Observatório Colonial, MST
na Escola de Estudos de Excelência da Terra da Cocanha e
outras coisas mais. Esquerdalha!
 
O rimance Nane Cainha & Nane Hábil é formado em cima dessa
filosofia do Paulo Freire da vida, esse energúmeno, ídolo da
esquerda?! 90% dos leitores vão ser homossexuais e vão ser
garotos de programa com toda certeza, influenciados pelo pacto
libertino entre os dois protagonistas.
 
Não me sinto confortável em dizer, mas tenho que expor a
verdade para o leitor ter conhecimento e sempre tomar suas
prioridades. Comentem, tirem suas conclusões. Logo no
primeiro poema desse livro já vemos a profanação: ele mistura
útero, cu, vagina, umbigo e sagradas escrituras.

Na sequência dos XXIII poemas, profana a hóstia no vinho,


espalha fake news sobre a Santa Inquisição, louva o falso Deus
da Polenta, faz zoofilia com um pônei lascivo, mostra golden
shower com mijo de zorrilho e elogia o Tarantino, que deu
dinheiro pra ONG tacar fogo na Amazônia.
 
Cenas que revoltam! MIL VEZES CANALHA! A intenção desse
rimance lixo é estimular o sexo cada vez mais? Não posso
admitir que esse livro pornográfico seja distribuído
gratuitamente para as crianças. Temos que acabar com esse
abuso de doutrinação ideológica baseada em Paulo Freire.

É melhor ler o meu livro Tuítes póstumos de um herói nacional. Só


ler. Depois você tira as conclusões. Lá são fatos, com a bandeira
do Brasil na capa e o hino nacional em anexo. Não é blá blá blá
de esquerdista. Ou lê a novela do parceiro Franz Kafta, O
jejuador na colônia penal.
 
Joanim, deixa lá o Harold Bloom dizer que você é um gênio da
ironia. Se voltarmos à monarquia, certamente você será
nomeado bobo da corte. Isso se não for condenado às
masmorras por causa da sua sátira menorreia, gástrica,
macarrônica, sardônica, viperina, trocista, cínica, bufa.
 
Escrever prefácio para seus alexandrinos fakes e sextetos
irregulares? Não vou ajudar porra nenhuma! Vou ajudar o
escritor que é decente. Infelizmente, aqui no reino escuro não
tenho latrina. Mas posso lançar seu livro no fogo do inferno.
Antes das leis, reformemos a literatura!!
 
Pois que já riste, chora!
 

Pelo espírito Messias Botnaro 


 Psicografia mecânica de Vittorio Pancetta, Ph²O
República dos Pampas, Estados Unidos do Sul
Quarentena pandêmica de 2020.
Convém ler antes de ler

Esta é uma história para ser lida numa noite fria – daquelas em
que, antes do cantar do primeiro galo, a capota dos Chevettes já
se cobriu de geada. Uma história para ser lida ao pé de um
fogolare, sobre cuja chapa de ferro se assam pinhões e se prepara
a polenta. Uma história para ser lida à luz de uma velha lamparina
de querosene, tomando uma caneca de graspa ou um copo de
vinho colonial.
 
Não se trata, portanto, de um livro qualquer, para ser lido em
qualquer ocasião. É antes um livro circunscrito a um espaço e
dirigido a um leitor que preencha requisitos – ou seja, um Nane
Tamanca raiz.

Pode que este rimance não agrade pelo estilo – e aí estarei de mal
a pior. Então, restará ao leitor lançar o livro ao fogo, sem peso na
consciência nem prejuízo financeiro, porque, distribuído
gratuitamente, não lhe custou nem um fiorim. E se isso de fato vier
a acontecer, a culpa será totalmente minha, porque nunca tive
pretensões intelectuais ou literárias. Sempre achei supérfluas as
coisas do espírito.

Confesso que decidi me tornar escritor apenas porque invejo de


morte o glamour que envolve os saraus poéticos, as sessões de
lançamento de livros, as resenhas elogiosas nos jornais, as
milhares de curtidas nas fanpages, as reuniões fardadas da
academia municipal de letras. Como a maioria dos escritores que
conheço, não é a literatura que me interessa. A literatura em si é
maçante e não serve para nada. Tenho apenas o gosto da fama e
dos elogios.

Assim, se este livro não tocar pelo conteúdo e pelo estilo, não se
acanhe em dar cabo dele, seja para aquecer a chapa do fogolare,
seja para quebrar o gelo da casinha de banho, seja para dar um
descanso temporário ao sabugo da latrina.

Vamos, então, à rima dos fatos sucedidos no melhor estilo que o


meu desejo de fama conseguir.

J.P.
I.
 
Se os heróis deste rimance
gêmeos fossem univitelinos
no útero teriam brigado
e vindo ao cu do mundo
não pelo vão da vagina
mas por um furo no umbigo.
 
E se eles irmãos não são
muito menos univitelinos
por que se hostilizam tanto
como se personagens fossem
da sagrada escritura
ou de romance machadino?
 
Pra conhecer as circunstâncias
da ronha entre os bambinos
limpe o leitor as suas lentes
antes frite bem a polenta
lance mão da fantasia
e encha um copo de vino.
II.
 
Esta história principia
num tempo muito antigo
quando o Nane Tamanca
durante o dilúvio
inventou a polenta
e semeou dois bambinos.
 
Quem quiser saber mais
como obrou o Destino
esta leitura pare agora
busque A lenda da polenta¹
escrita com maestria
no livro que eu mesmo assino.
 
E agora que já temos
o assunto introduzido
à história vamos de fato
dos galetos briguentos
que desde a casca do ovo
se declaram inimigos.

¹ Belvedere PEPPERONI, Joanim. Viagem à roda do Rio Tegão –


seguida de "A lenda da Polenta". Terra da Cocanha: Cantina do Frei,
2013.
III.
 
Diz-que o Nane Cainha
qual filhote de chupino
foi chocado em ninh’alheio
comeu quirera de milho
potchou hóstia no vinho
e fugiu de Panambino.
 
Ninguém sabe ao certo
o que fez o paladino
entre o seu nascimento
e a profissão da fé
quando iniciou no lavoro
como office-bambino.
 
Depois versou-se meirinho
e por chamado divino
entrou na lida política
pra fazer o pé-de-meia
cacarejar na tribuna
posar de garnizé al primo.
IV.
 
Consta que Nane Hábil
nosso herói cervantino
fez seu próprio ninho
chocou o próprio ovo
abriu co’o bico a casca
e nasceu emplumadinho.
 
Da infância nada se sabe
(se foi lerdo ou traquino
se brincou com bonecas
se meteu fogo na casa)
mas aprendeu esgrima
e se graduou meirinho.
 
Até que um dia enfadou
do quefazer cretino
lançou mão da espada
montou no Roçabugo
e ingressou na política
pra objetar o Destino.
V.
 
Se o leitor já adivinha
quem são os pepinos
heróis desta aventura
tire o Chevette da chuva
volte a ler com atenção
e siga meu raciocínio.
 
Neste rimance político
com estro alexandrino
inspirado por Bocca
grande Deus da Polenta
narro azares e triunfos
há pouco sucedidos.
 
E se os personagens
em muito são parecidos
com figuras públicas
amigos ou vizinhos
é porque Arte imita às vezes
o nosso próprio umbigo.
VI.
 
Se como diz o adágio
“Quem nasce pra meirinho
nunca chega a deputado”
pode parecer magnífico
que os meus biografados
tenham metido o focinho.
 
E tantas são as histórias
dos atrevidos franguinhos
que faltará quem escreva
e gente que leia e conte
as peripécias dantescas
de Nane Hábil & Cainho.
 
Não existem Tristram Shandy
nem de Gaula Amadis
Romualdo de Abreu e Silva
ou Histórias de Alexandre
que de longe se assemelhem
às caçadas de perdiz.
VII.
 
Estava o dia bonito
de azul bem cristalino
quando Cainha saiu
para caçar perdizes
e roubar melancias
no lote de um vizinho.
 
Andava cheio de graça
como um pônei lascivo
alisando o topete
balançando as ancas
sentindo-se um astro
do cinema Tarantino.
 
Além de visgo e barbante
carregava consigo
uma carga de chumbinhos
e acompanhado estava
por dois cães de caça
com notável faro fino.
VIII.
 
Os dois cães de rastro
como ferozes felinos
atendiam por nomes
que o leitor já conhece
e foram inventados
na Revolta do moinho.²
 
Um era o Sabudog
de amarelo brasino
e o outro, Polentotó,
carniceiro impiedoso
que lembrava o cavalo
do grande Alexandrino.
 
E aqui os encontramos
ao pé do herói bizantinho
que se dirige sestroso
a perseguir perdizes
e a roubar melancias
no lote de um meirinho.

² Belvedere PEPPERONI, Joanim. A revolta do moinho. Terra da


Cocanha: Cantina do Frei, 2016.
IX.
 
Após curta caminhada
Cainha chega ao destino
monta suas armadilhas
espalha visgo e quirera
desenrola o barbante
põe sal grosso nos ninhos.
 
Enquanto as ratoeiras
cumprem o seu viperino
nosso hábil caçador
desanda a vadiar
e a procurar encrenca
qual Max e Moritzino.
 
E não tarda a encontrar
o pequeno travertino
com o que se entreter  
pelos lotes alheios
embaixo das parreiras
nas roças de milho.
X.
 
Aqui derruba espigas
pisoteia germíneos
arranca cachos de uva
retalha melancias
e se põe habilidoso
a entortar pepinos.
 
Ali espanta os burros
joga pedras nos girinos
dispersa as ovelhas
e com know-how dum Degas
põe um feixe de urtigas
sob a cauda de um equino.
 
Acolá desata cercas
defeca nos caminhos
põe fogo no campo
sabota as pinguelas
e enche de areia
as tulhas do moinho.
XI.
 
Mas a pior das ruindades
do nosso peralvilho
na sua tarde de folga
se deu na charneca
do vizinho Nane Hábil
proprietário do moinho.
 
Não bastasse a areia
na tulha de milho
Cainha cortou correias
sabotou as máquinas
e emporcalhou a farinha
com mijo de zorrilho.
 
Por fim desbalanceou
a mão de mó do moinho
pra que a pedra de moer
em vez de fina farinha
produzisse quirera
e canjica de milho.
XII.
 
O cansado leitor
já deve ter percebido
o quanto nosso herói
nas suas lambanças
mostra que tem de asno
o mesmo que de sabido.
 
Não é preciso detalhar
consequências do ocorrido
que qual rastilho de pólvora
pela Terra da Cocanha
correu de boca em boca
de ouvido em ouvido.
 
Mas foi caso de polícia
que o delegado Pasúbio
investigou co’a perícia
de outros casos conhecidos
como o das perdizes
e dos lotes clandestinos.
XIII.
 
Este mundo tão velho
não é lugar de aprendiz
e o delegado Pasúbio
teria muito trabalho
pra colocar sal grosso
no rabo desse petiz.
 
E enquanto não acontece
de cumprir o que a lei diz
ponha mais graspa no copo
jogue mais lenha no fogo
e venha seguindo o rastro
deixado p’lo cordorniz.
 
Porque aqui só se narra
o que à verdade condiz
- não se inventam fatos:
quando muito, isso sim
dá-se à realidade
uma demão de verniz.
XIV.
 
Mas foi o Nane Hábil
que da santa inquisição
rápido se fez ministro
armando-se de méscola
e de traje de esgrima
pra reparar o sinistro.
 
“A propriedade é sagrada
desde antes de Cristo
e cada um o seu lote
defende como pode
contra o rico e o pobre
pois na lei está escrito”.
 
Essas coisas dizendo
ia o nosso mosquito
rangendo os dentes
aqui e ali farejando
de uma toca a outra
à caça do seu proscrito.
XV.
 
Foi na orla do Tegão
que um duelo ranhido
se deu entre os Nanes
e os ecos dessa ronha
pela Terra da Cocanha
se fizeram ouvidos.
 
As méscolas na mão
os semblantes erguidos
engalfinharam-se os dois
com a fome de leões
nas arenas de combate
dos Césares antigos.
 
Gritos, bestemas e preces
(que lembravam rugidos)
socos, dentadas, beliscos
(de dar inveja a Dante)
e uma mão-de-pilão
no pé da raiz do ouvido.
XVI.
 
Prostrados no chão
e em sangue esvaídos
os dois duelantes
lembravam valentes
os galos combatentes
Benzão e Wolwerino.
 
E quem acreditava
que Hábil e Cainho
inimigos seriam
pra o resto da vida
que mude de ideia
ou morda o pepino.
 
Mal findada a luta
e recobrado o tino
deram-se as mãos
os dois canhotos
unindo-se pra sempre
em pacto libertino.
XVII.
 
E foram pra política
Nane Hábil e Cainho
cacarejar na tribuna
emporcalhar o poleiro
fazer menarosto
abjetar o destino.
 
Não é fácil reportar
em detalhes mínimos
o que ambos fizeram
que fique na história
de obra grandiosa
no afã maquiavelino.
 
Aqui farei a crônica
em formato reduzido
que em letra de forma
caiba neste opúsculo
e seja de grátis
no Arco distribuído.
XVIII.
 
Pôr ordem no galinheiro
não é obra de noviço
pois a empreitada exige
estômago de raposa
e tarimba de um Degas
pra fazer bem o serviço.
 
Remover cascas de ovo
penas, bosta e ciscos
apalpar as galinhas
trocar a água dos potes
e distribuir a quirera
são os ossos do ofício.
 
Mas eles quiseram mais
do que alcançava o caniço
e se meteram nas hortas
nas ninhadas de perdizes
no fundo das tulhas
e na parreira do bispo.
XIX.
 
Nane Cainha, Il Piccolo,
já em trajes de esquisso
mandou forjar um globo
encurtar o cetro
banhar em ouro a coroa
e reformar o cortiço.
 
Como amigo da onça
deu um bote no Vice
cortando-lhe as asas
quebrando-lhe o bico
- tudo de forma tal
que nunca mais o visse.
 
E encastelou-se Il Piccolo
na torre de marfim
porquanto esta história
como a de Shehera Sade
chegará às 1001 estrofes
ou nunca terá fim.
XX.
 
Além do bote no Abel
o infame Caim
para o próprio deleite
quis a feira sem livros
as galerias sem arte
as bancas sem pasquins.
 
Fez de si e para si
o único caminho
achando que a vida
obra casual do Destino
lhe fora presenteada
por ser ele o Escolhido.
 
Foi, pois, a Soberba
o grande cassino
que dias lhe deu de glória
mas que lhe fez a cova
com sete palmos de fundo
e vista pro Maligno.
XXI.
 
Encurtar histórias
não é praxe do Joanim
mas tudo acaba um dia
como o vinho e o torresmo
o salame de metro
e a tigela de pudim.
 
E se você quer mesmo
da trama saber o fim
recorde que o delegado
andava no encalço
do picollo perfeito
com artes de Pangolim.
 
Pois foi o arguto Pasúbio
que ao desmando pôs fim
lançando a sentença
que desde então é lei:
“Quem não quer comer pasto
que não semeie capim”.
XXII.
 
Mas o que hoje é feito
dos dois canarinhos
- Nane Hábil e Cainho -
que pisavam nos calos
trovejavam na tribuna
tricotavam o Destino?
 
O primeiro, mais esperto,
vazou do trampolim
antes de o penico secar
e hoje se faz de casto
lembrando a fada encantada
do pó de pirlimpimpim.
 
Já o outro, o Cainho,
voltou à vadiagem
à antiga pabulagem
aos roubos de melancia
à caça de perdizes
à sabotagem de moinhos.
XXIII.
 
Ao cabo de tudo, ao fim,
na Terra da Cocanha
os bambini não se cansam
de cantar de roda
na Praça Dantes Pena'gora
a canção que diz assim:
 
Lá vem o Nane
fuça aqui, fuça acolá.
Lá vem o Nane
para ver no que-que dá.
 
O Nane Cainho
quebrou o caneco
sujou a cozinha
bateu no Maneco.
 
Pulou da tribuna
no pé da Madonna
levou piparote
criou hematoma.

Comeu um pedaço
de scodeguim
ficou engasgado
com pedra no rim.
 
Caiu do trono
quebrou a costela.
Tantas fez o Nane
que foi pra fivela.
Fim
Geniologia do Autor

Joanim Pepperoni é PhD em Etnomilhografia, Carunchologia,


Arqueologia de Sabugos, Cosmogonia de Milharais, Cronologia de
Moinhos, Estratigrafia de Tulhas, Sedimentologia de Polenta,
Densitometria de Farinha, Ph de Pipas, Água para Vinhos,
Nanetecnologia, Genética de Perdizes, Mescolosinestesia, História
Geral do Polentariado, Sabugologia, Topografia de Parreiras, Pátina de
Matusalém, Panelaços na varanda, Bovid-17 etc.

Foi Prêmio Mortita Cárter, Polentzer, Nane que Faz, Ignóbel e Méscola
de Ouro. Em 2012, foi campeão de arremesso de polenta e, em 2014,
classificou-se para as seminifinais das “Olimpiadas” Coloniais de
Polentawood D.C. É campeão interplanetário de corrida de saco e
prova da Cuccagna. É membro vitalício do Arrotary Club e possui in
vitro uma amostra da terra do lote em que seu umbigo foi enterrado
logo após o nascimento.

Em 2013, arremessou contra o público o seu primeiro livro, A


fantástica máquina de ensacar berros, que rendeu entrevistas,
fotografias e a indicação para o Prêmio Perdigon de Literatura.

Em 2014, trouxe à luz a aventura épica intitulada Viagem à roda do Rio


Tegão – seguida de "A lenda da polenta" –, que recebeu o Prêmio
Jabotei.

Em 2015, o opúsculo Dom Chiqote foi campeão de vendas na Feira do


Livro de Polentawood, tendo sido, inclusive, xerocado e distribuído
gratuitamente por um grupo de fãs.

Em 2016, pariu a obra A revolta do moinho, comédia composta por


cinco atos violentos, a qual foi encenada pelo grupo de teatro Coletivo
Enredo. Sucesso absoluto de público, mas zero de bilheteria.

Considera-se um cientista brilhante em odisseia pela Terra da


Cocanha, com o propósito de compreender essa civilização exótica
equilibrada no alto de uma montanha de farinha de milho. Para sua
glória pessoal, nunca vendeu nenhum exemplar de livro.

Com esta obra, de lançamento aéreo, é candidato aos prêmios The


Man Bocó Prize, National Bocó Award e Francesco Kafta.
 
Contato por e-milho: joanimpepperoni@gmail.com
A Cocanha do autor

Joanim e a Cocanha: entrevista


2013 Por Luis Erbes

Novidade na Terra da Cocanha: entrevista


2013 Por Marcos Fernando Kirst

Um épico satírico da Cocanha


07/03/2016 Por Germano Weirich

A desautomatização da linguagem da Cocanha:


entrevista satírica com Joanim Pepperoni, PhD
2017 Por Vitor Cei & André Tessaro Pelinser

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25/07/2019 Por Marcelo Munhol

A revolta do moinho
30/07/2019 Por Adriana Antunes

Entrevista com Joanim Pepperoni


2018 Por Joanim Farofa e Pepe Caruncho

“Castigat ridendo mores”: o humor costumbrista nas


páginas do periódico "A encrenca" (1914-15), de
Caxias do Sul
2019 Por Liliana Cainelli Cambruzzi Ferretti

DA ROLT, Clóvis. O martírio da Santa Feia: uma leitura


sobre a rejeição ao monumento de Nossa Senhora do
Caravaggio, em Farroupilha-RS. Curitiba: Editora CRV,
2019, 260p.

Nova obra de Joanim Pepperoni só em versão digital


12/04/2020 Por Marcos Fernando Kirst
O autor com sua faixa presidencial

O autor sendo aclamado pelo grupo de teatro Coletivo Enredo


antes da apresentação da peça A revolta do moinho

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