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Conselho Naneditorial
Esta é uma história para ser lida numa noite fria – daquelas em
que, antes do cantar do primeiro galo, a capota dos Chevettes já
se cobriu de geada. Uma história para ser lida ao pé de um
fogolare, sobre cuja chapa de ferro se assam pinhões e se prepara
a polenta. Uma história para ser lida à luz de uma velha lamparina
de querosene, tomando uma caneca de graspa ou um copo de
vinho colonial.
Não se trata, portanto, de um livro qualquer, para ser lido em
qualquer ocasião. É antes um livro circunscrito a um espaço e
dirigido a um leitor que preencha requisitos – ou seja, um Nane
Tamanca raiz.
Pode que este rimance não agrade pelo estilo – e aí estarei de mal
a pior. Então, restará ao leitor lançar o livro ao fogo, sem peso na
consciência nem prejuízo financeiro, porque, distribuído
gratuitamente, não lhe custou nem um fiorim. E se isso de fato vier
a acontecer, a culpa será totalmente minha, porque nunca tive
pretensões intelectuais ou literárias. Sempre achei supérfluas as
coisas do espírito.
Assim, se este livro não tocar pelo conteúdo e pelo estilo, não se
acanhe em dar cabo dele, seja para aquecer a chapa do fogolare,
seja para quebrar o gelo da casinha de banho, seja para dar um
descanso temporário ao sabugo da latrina.
J.P.
I.
Se os heróis deste rimance
gêmeos fossem univitelinos
no útero teriam brigado
e vindo ao cu do mundo
não pelo vão da vagina
mas por um furo no umbigo.
E se eles irmãos não são
muito menos univitelinos
por que se hostilizam tanto
como se personagens fossem
da sagrada escritura
ou de romance machadino?
Pra conhecer as circunstâncias
da ronha entre os bambinos
limpe o leitor as suas lentes
antes frite bem a polenta
lance mão da fantasia
e encha um copo de vino.
II.
Esta história principia
num tempo muito antigo
quando o Nane Tamanca
durante o dilúvio
inventou a polenta
e semeou dois bambinos.
Quem quiser saber mais
como obrou o Destino
esta leitura pare agora
busque A lenda da polenta¹
escrita com maestria
no livro que eu mesmo assino.
E agora que já temos
o assunto introduzido
à história vamos de fato
dos galetos briguentos
que desde a casca do ovo
se declaram inimigos.
Comeu um pedaço
de scodeguim
ficou engasgado
com pedra no rim.
Caiu do trono
quebrou a costela.
Tantas fez o Nane
que foi pra fivela.
Fim
Geniologia do Autor
Foi Prêmio Mortita Cárter, Polentzer, Nane que Faz, Ignóbel e Méscola
de Ouro. Em 2012, foi campeão de arremesso de polenta e, em 2014,
classificou-se para as seminifinais das “Olimpiadas” Coloniais de
Polentawood D.C. É campeão interplanetário de corrida de saco e
prova da Cuccagna. É membro vitalício do Arrotary Club e possui in
vitro uma amostra da terra do lote em que seu umbigo foi enterrado
logo após o nascimento.
A revolta do moinho
30/07/2019 Por Adriana Antunes