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Óleos de corte - Metalurgia e Metalomecânica

I ntrodução Nos óleos solúveis em água, os elementos óleo e água têm


funções diferentes em função do processo de maquinação por
arranque da apara.
Na indústria da maquinação por arranque da apara é utilizado um
material composto - fluído de corte utilizado na sua maioria no Portanto, nas operações de arranque da apara mais profunda, a
estado liquido. As principais funções do fluído de corte são a concentração será mais rica em óleo para permitir melhor
refrigeração, lubrificação das superfícies, proteção contra oxidação lubrificação, por outro lado, nas operações de retificação e
(ex:materiais ferrosos) e limpar a superfície da peça a maquinar. acabamento superficial, a solução está mais enriquecida com
água para favorecer a refrigeração.
Nos centros de maquinação o fluído de corte é armazenado num
reservatório que alimentará através de uma bomba, a zona de O fluido de corte pode estar nos três estados físicos: sólido
maquinação e a ferramenta de corte, efetuando a refrigeração e (grafite, bissulfeto de mobilidênio), gasoso (Ar, CO2 e N ) e líquido
por fim retomará até ao reservatório através dos canais da mesa (mais amplamente utilizado) e está dividido em três grupos:
de trabalho e tubos de escoamento. ! Fluídos de corte integrais - tratam-se óleos minerais
Para que a ferramenta não atinja uma temperatura elevada o (derivados de petróleo), óleos graxos (de origem animal ou
fluido de corte atuará como refrigerante (na dissipação do calor) vegetal), óleos sulfurados (enxofre) e clorados (cloro) que são
e na redução da geração de calor (lubrificação). Este processo agentes EP (Os agentes EP (extrema pressão) são à base de
permitirá: enxofre, cloro e fósforo. São aditivos que reagem
quimicamente com a superfície metálica e formam uma
! Reduzir o atrito entre ferramenta e a superfície de corte;
película que reduz o atrito);
! Detergência - expulsão das aparas/limalhas geradas no
processo de corte; ! Fluídos de corte emulsionáveis ou solúveis - são fluidos de
! Melhoria do acabamento da superfície maquinada; corte em forma de emulsão composto por uma mistura de
! Refrigeração da máquina-ferramenta óleo e água na proporção de 1:10 a 1:1000. A sua
composição é à base de óleos minerais (40 a 80%), óleos
graxos, emulsificados, agentes EP (enxofre, cloro, fósforo ou
cálcio) e água.
! Fuído de corte semi sintético - A sua composição é à base de
óleos minerais (<40%) óleos graxos, emulsificados, agentes
EP (enxofre, cloro, fósforo ou cálcio) e água.
! Fluído de corte químico ou sintético (0% óleo mineral) - não
contêm óleo mineral em sua composição, formam soluções
transparentes (boa visibilidade no processo de corte).
Composto por misturas de água e agentes químicos (aminas
Figura 1 - Alimentação com óleo de corte no processo de fresagem
e nitritos, fosfatos e boratos, sabões e agentes umectantes,
A refrigeração torna-se mais evidente que a lubrificação quando o glicóis e germicidas).
fluído de corte é constituído numa emulsão com a base de água,
no entanto, a eficiência do fluido de corte em reduzir a
temperatura, diminuirá com o aumento dos parâmetros de corte
(velocidade de corte e profundidade de corte). Esta situação
poderá dar origem ao choque térmico e desgaste da ferramenta.

A lubrificação permitirá maior estabilidade térmica e maior


precisão (exatidão dimensional, de forma e qualidade superficial).

Figura 3 - Óleos de corte sintéticos (esquerda), semi-sintético (ao


centro) e emulsionáveis (direita)

As elevadas temperaturas influenciam a qualidade do trabalho


efetuado dando origem às seguintes situações:
! Diminuição da vida útil da ferramenta;
! Aumento da oxidação da superfície da peça e da ferramenta;
! Aumento da temperatura da peça, provocando dilatação,
erros de medidas e deformações.

Perante estes cenários, o surgimento dos fluidos de corte,


conferiram melhorias nos processos de arranque da apara
permitindo alcançar valores maiores de velocidade de corte,
Figura 2 - Influência dos óleos solúveis nas diferentes operações favorecendo uma maior produção de peças. Também por sua
de maquinação por arranque de apara vez, o surgimento de novos materiais de corte (metal duro,

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cerâmicas, ultra-duros “PCB” e “PCD”) capazes de maquinar ! Concentração
materiais com altíssimas velocidades de corte, por outro lado os " Concentração muito baixa (pouca quantidade de óleo):
valores de temperaturas geradas aumentaram na região de Possível ataque por microorganismos
corte devido a um grande atrito entre a peça e a ferramenta. " Concentração muito alta (excesso de óleo): Consumos
elevados e alta possibilidade de formação de espuma.
Aditivos utilizados nos fluídos de corte

Os aditivos acrescentam propriedades especiais aos fluidos de


corte. Os aditivos mais usados são:
Antiespumantes evitam a formação de espuma que
! Antiespumantes:
poderia impedir a boa visão da região de corte e
comprometer o efeito de refrigeração do fluido;
Anticorrosivos protegem a peça, a ferramenta e a
! Anticorrosivos:
máquina-ferramenta da corrosão (são produtos à base de Figura 5 - Concentração obtida no refratómetro
nitrito de sódio);
! PH
Antioxidantes têm a função de impedir que o óleo se
! Antioxidantes:
deteriore quando em contato com o oxigênio no ar; " 8,8 a 9,7 IDEAL - Baixo risco de desenvolvimento de
microrganismos.
Detergentes reduzem a deposição de iôdo, lamas e borras
! Detergentes:
" 8,5 a 8,7 ATENÇÃO - Aproximação da zona ácida.
(composto de magnésio, bário, cálcio, etc);
" < 8,5 PERIGO - Elevado risco de corrosão e de
Emulgadores são responsáveis pela formação de
! Emulgadores:
desenvolvimento de microrganismos.
emulsões de óleo na água;
Biocidas substâncias ou misturas químicas que inibem o
! Biocidas:
crescimento de microorganismos;
EP para operações mais severas de corte, eles
! Agentes EP:
conferem aos fluidos de corte uma lubricidade melhorada
para suportarem elevadas temperaturas e pressões de
corte, reduzindo o contato da ferramenta com o material.

As características dos tipos de fluidos mais comuns presentes


nos fluídos de corte são:
! Prevenção da corrosão
! Resistência às bactérias e fungos
! Baixa formação de espuma Figura 6 - Valores de PH
! Boa filtrabilidade
! Compatibilidade com óleos estranhos ! Presença de bactérias e odor - Os óleos solúveis são um meio
! Compatibilidade com os materiais das máquinas de cultivo para o crescimento de microorganimos como
bactérias, fungos e leveduras. Os utilizados na maquinação
contêm ingredientes que facilitam o crescimento
microbiológico:
" Nitrógeno, oxígeno, fósforo, água;
" Bactérias presentes na água. No caso dos óleos semi-
sintéticos a concentração é mais baixa.

Figura 4 - Óleo de corte na superfície de trabalho

Uma Emulsão ou Solução é composta por:


! 2 a 10 % de Fluído de corte
! 90 a 98% de ÁGUA

Manuseamento e manutenção dos fluídos de corte Figura 7 - Formação microbiológica

A qualidade e a produtividade estão dependentes do uso correto ! Coloração


dos fluidos de corte nos processos de maquinação. Por outro " Reação de óleo solúvel com metal amarelo
lado, se não forem manipulados e tratados corretamente, eles (cobre e latão).
podem ser nocivos para a saúde e ao meio ambiente e reflectir-se " Em caso de reação com aluminio provocará
nos custos operacionais. oxidação e pontos azuis na peça.
Alguns problemas típicos verificados na análise aos fluídos de
corte são: Figura 8 - Óleo de corte utilizado

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! Corrosão - Com baixas concentrações, a Grande parte dos fluidos possui componentes que podem
reduzida quantidade de óleo em emulsão causar, além do impacto ambiental, doenças ao ser humano,
provoca em paragens, corrosão dos portanto, o contacto do fluido com o trabalhador pode ser direto
equipamentos. Com maiores concentrações ou através de vapores, névoa ou subprodutos formados durante
de óleos solúveis de baixa qualidade, e óleos a maquinação. As consequências mais comuns são:
de guias baratos, dá lugar a picaduras de ! Problemas de pele (irritações, dermatites, erupções);
oxidação.
! Doenças pulmonares (asma, bronquite, pneumonia, fibroses,
redução da capacidade respiratória);
Figura 9 - Corrosão das guias
! Câncer (pele, reto, cólon, bexiga, estômago, esôfago,
pulmão, próstata, pâncreas).
Na amostra seguinte estão representados quatro óleos de corte:
Aos futuros profissionais da metalurgia e metalomecânica que
nos processos produtivos recorrem ao uso de fluídos de corte é
importante estarem sensibilizados para a correta utilização dos
óleos de corte e identificar problemas e tomar medidas de
manutenção preventiva, com a finalidade de evitar acidentes de
trabalho, doenças profissionais, redução de resíduos, redução
de custos e paragens de produção.

Agradecimentos especiais ao representante Rui Costa da empresa


ENRIEL, pelos elementos bibliográficos fornecidos e pela
oportunidade de beneficiar da demonstração no dia 12 de julho de
2018, aos formandos do 3º ano do Curso Técnico/a de Maquinação
de Programação CNC, do Núcleo de Amarante do CENFIM.
Figura 10 - Aspeto de óleos solúveis de corte

! A amostra da esquerda apresenta um óleo contaminado, que


contém fungos.
! A segunda amostra a partir da esquerda, apresenta um óleo
contaminado, resultante dos processos de maquinação de
metais amarelos (latão ou cobre) que conferem a cor mais
escura.
! O terceiro exemplo evidencia um óleo solúvel que apresenta
uma pelicula de óleo lubrificante dos barramentos ou guias do
equipamento de maquinação, que se misturou com o fluído de
corte e ficou depositado no tanque. Este fenómeno pode ser
corrigido com a colocação de um SKIMMER. Esse
equipamento permitirá:
" Remover até 90% dos óleos de guias que caem nos
tanques retornando a emulsão ao depósito;
" Rápida montagem com base magnética;
" Pequenas dimensões, utilizável em quase todas as
máquinas CNC.
Figura 12 - Fluídos de corte - 12 de julho - Núcleo de Amarante

Bibliografia de Apoio:
INICIAÇÃO AOS FLUIDOS PARA MECANIZAÇÃO - Rui Costa ENRIEL

Figura 11 - Skimmer
José Neto - Engenheiro Mecânico - ISEP - Instituto Superior de
! Na amostra da direita, é um óleo solúvel em bom estado Engenharia do Porto / Técnico de Formação do CENFIM - Núcleo do
de conservação. CENFIM de Amarante

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