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2º semestre de 2019
Belo Horizonte - Novembro de 2019
RESUMO
O planejamento dos sistemas de transportes urbanos se baseia em conhecer a estrutura e forma
dos deslocamentos da população na malha urbana em dias úteis. O propósito é entender a
relação entre as viagens, suas características, e os elementos que as produzem. Este
entendimento é criado por Pesquisas Origem e Destino Domiciliar que, na Região
Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) é realizada a cada dez anos, sendo a última realizada
em 2012. A irregularidade do crescimento demográfico e a incapacidade de se criar políticas
públicas que atendam adequadamente a demanda por transporte conduziu à precariedade da
circulação urbana, causando a crise da mobilidade, intensamente vivida pela população nas
últimas décadas, cuja evidência vem sendo, desde então, a ineficiência dos serviços de
transporte público coletivo. É relevante nesse aspecto, investigar acerca das condições de
mobilidade dos aglomerados urbanos da cidade. Este artigo tem como objetivo analisar como
a instalação periférica de aglomerados populacionais e a concentração de atividades
econômicas interferem na mobilidade da população, tendo como base as Pesquisas de Origem
e Destino de 2002 e 2012. Em Belo Horizonte, é importante avaliar a influência da alta taxa de
motorização nos sistemas viários, a fim de mitigar os problemas de congestionamento e
interferência no transporte coletivo. A representação do fluxo de viagens entre regiões ou
municípios permite conhecer a relação entre essas regiões e o padrão de deslocamentos da
população. Na cidade de Belo Horizonte, como ocorre nas principais metrópoles brasileiras, o
aumento no uso de modalidade de transporte individual (motorizadas) vem trazendo vários
prejuízos às condições de acessibilidade e mobilidade da população, principalmente para
aquelas residentes nas periferias, as quais apresentam precariedades na provisão de meios de
consumo coletivo. Por fim, discutir a permanência de um padrão de dependência entre centro e
periferia, que tende a criar e manter longos deslocamentos é uma oportunidade para se repensar
os caminhos da gestão urbana de transportes, nem sempre tratados de maneira integrada.
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1. INTRODUÇÃO
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Fonte: BHTrans (2017).
Já os bairros com maior concentração de unidades de projetos não residenciais
aprovados foram: Buritis, Estoril, Santa Lúcia, Padre Eustáquio, Santa Efigênia, Savassi,
Lourdes, Santo Agostinho e Barro Preto (figura 03). O bairro Buritis consta em primeiro lugar
nos dois critérios, pois, foi a região que mais cresceu nos últimos anos na cidade, tanto sua
população residente quanto o número de atividades econômicas (BHTRANS, 2017).
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Fonte: BHTrans (2017).
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particulares em detrimento ao transporte coletivo. Em Belo Horizonte, o número de veículos
particulares passou de 837.714 veículos no ano de 2007 para 1.568.830 veículos em dezembro
de 2014 (aumento de 87%). A relevância desses valores é constatada quando comparados com
a taxa de crescimento da população que foi de 4,6% no mesmo período, representando um
significativo crescimento na taxa de motorização da cidade (BHTRANS, 2017).
A indústria automobilística é importante para a economia do País, mas em função do
crescimento da taxa de motorização, é necessário minimizar os impactos decorrentes, por meio
de investimentos em infraestrutura, na adoção de medidas restritivas ao uso do transporte
individual e de incentivo ao uso do transporte público, sem, no entanto, interferir no direito à
propriedade do veículo. As políticas públicas de mobilidade urbana devem estimular o
transporte público em suas diversas modalidades, de modo a atrair o usuário do transporte
individual (BHTRANS, 2017).
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Fonte: BHTrans (2017).
Uma análise da taxa de motorização por regional de Belo Horizonte permite conhecer
onde o sistema viário sofre mais influência do uso excessivo de automóveis e identificar assim,
onde podem ser tomadas medidas a fim de mitigar os problemas de congestionamento e
interferência no transporte coletivo. A figura 05 apresenta a taxa de motorização por região, de
acordo com os dados das pesquisas OD de 2002 e 2012. A regional Sul possui o maior índice
(0,46 veículos por habitante), enquanto os menores índices são das regionais Norte (0,22) e
Venda Nova (0,22). As que mais sofreram aumento da motorização no período foram as
regionais Barreiro (93%) e Venda Nova (85%) (BHTRANS, 2017).
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Nas pesquisas OD de 2002 e 2012 constam os vários meios de transporte informados
pelos respondentes. Porém, para facilitar a apresentação da divisão modal, tais modos foram
agrupados nos modos considerados principais: coletivo, individual e não motorizado
(BHTRANS, 2017).
A figura 06 abaixo mostra a participação anual de modal observada nessas diferentes
pesquisas, com base na média em dias úteis de cada modo de transporte. Percebe-se uma
tendência de crescimento do número de viagens pelos modos individuais a partir de 1992, e
uma queda expressiva do modo coletivo desde a pesquisa OD de 1982. O modo não motorizado
teve variação para baixo em 2002 e recuperação em 2012 (BHTRANS, 2017).
O tempo médio dos deslocamentos diários em dias úteis, com origem e destino em
Belo Horizonte, é apresentado na figura 07. Os tempos de deslocamento viários são diretamente
influenciados pelos congestionamentos registrados nas vias urbanas. O tempo médio de viagem
pelo modo coletivo aumentou 64% entre os anos de 2002 e 2012, chegando a pouco mais 59
minutos; o segundo maior aumento foi o do modo individual, que passou de 18,6 minutos em
2002 para 30 minutos em 2012 (BHTRANS, 2017).
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Fonte: BHTrans (2017).
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trabalho, que apresentou maior número na região sul da cidade e pelo fato de a região ter sido
a que recebeu o maior número de aprovações de projetos tanto residencial quanto não
residencial desde o ano de 2008 (BHTrans, 2017).
As regionais Venda Nova e Norte são as que recebem os menores números de viagens
destinadas a elas, pois, há nestas regiões, alguns bairros com características dos chamados
“bairros dormitórios”, que leva uma parcela dos seus residentes a buscar diariamente,
oportunidades de trabalho, estudo e outros serviços em outras áreas da cidade (LOBO;
CARDOSO, 2018).
Excluindo a regional Centro, a maior troca da capital é o par Pampulha-Noroeste, com
5,33% das viagens, conforme figura 09 abaixo:
Conforme a figura 11, o terceiro maior fluxo verificado é para o modo coletivo, entre
as regiões Nordeste e Centro na parte da manhã (BHTRANS, 2017).
Figura 11 – Fluxo de transporte coletivo por ônibus entre regiões por período do dia
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3.6 Participação do transporte público por ônibus e velocidades operacionais de
acordo com regiões de Belo Horizonte
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interfere negativamente na velocidade média do transporte coletivo. (LOBO; CARDOSO,
2018).
Quanto à distribuição espacial, nota-se que nas regionais Nordeste, Leste e Barreiro,
predominaram a utilização do ônibus (figura 12 A) nas viagens diárias. Importante destacar as
características peculiares do hipercentro de Belo Horizonte, onde ainda é elevada a participação
dos deslocamentos por ônibus. A alta concentração de atividades de comércio e serviços atraem
um grande fluxo de pessoas (trabalhadores, estudantes, consumidores, comerciantes, etc.),
principalmente em função da configuração viária de Belo Horizonte que tem os principais
corredores viários com origem na área central (LOBO; CARDOSO, 2018).
A figura 12 (B) mostra a média de velocidades dos ônibus nos bairros das regionais.
As regionais Nordeste, Leste, Barreiro e Norte, apresentam alguns bairros que abrigam
populações, majoritariamente de baixa renda, fato que auxilia no entendimento de um uso mais
intenso dos ônibus, comparando aos demais modos de transporte (LOBO; CARDOSO, 2018).
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Já a Regional Barreiro, também apresenta características semelhantes às regionais
Venda Nova e Norte no tocante aos aspectos que justificam tanto a saída diária de pessoas para
outras regionais da cidade quanto a atratividade de consumidores de outras áreas. A região do
Barreiro conta com empresas siderúrgicas, se firmando como um importante polo gerador de
viagens (LOBO; CARDOSO, 2018).
Em relação à mobilidade do transporte realizado por ônibus, que pode ser medida em
razão da velocidade dos deslocamentos, pode-se observar que as médias de velocidade são
inferiores na porção central e aumentam à medida em que se desloca para os extremos norte e
sul da capital, apresentando velocidades médias acima de 18,39 km/h, especialmente nas
regiões de Venda Nova, Barreiro e Nordeste (LOBO; CARDOSO, 2018).
Portanto, parece haver relação direta entre a distância da região até o núcleo urbano e
a velocidade dos deslocamentos. Os bairros mais distantes do centro apresentam trajetos mais
longos, guiados por grandes corredores viários que inicialmente, apresentam velocidades
médias maiores mas, à medida em que se aproximam da área central ficam sujeitos aos
congestionamentos que diminuem a velocidade do deslocamento (LOBO; CARDOSO, 2018).
No caso específico das regionais Venda Nova e Norte, no período da execução da
Pesquisa OD de 2012, as principais vias que as ligam com a área central da capital de davam
pelas avenidas Cristiano Machado e Presidente Antônio Carlos que embora ainda não estivesse
inaugurado o sistema BRT, já eram beneficiadas com pistas exclusivas para ônibus, fator que
contribuiu para um aumento da velocidade dos ônibus. A Regional Barreiro, embora não
contasse com o mesmo recurso de faixas preferenciais, era atendida por linhas troncais de
ônibus que ligavam diretamente com a área central da cidade, sem realizar ações de embarque
e desembarque ao longo da avenida Amazonas, o que tornava as viagens mais rápidas,
comparativamente às linhas chamadas paradoras (LOBO; CARDOSO, 2018).
Por fim, ainda que os dados mostrados neste trabalho estejam sujeitos a
aperfeiçoamento e atualização, eles permitem promover discussões sobre o atual modelo de
planejamento urbano e de transportes predominantes na cidade e, dessa maneira, conhecer as
desigualdades sociais originadas a partir da predominância do uso do automóvel como o meio
preferencial de transporte (LOBO; CARDOSO, 2018).
4. CONSIDERAÇOES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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