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Web Art: Lorena Dantas
Projeto RECânone & NESC (UFRN). Texto escrito pelo PhD David Mwambari
(1) publicado no dia 15–04–2020, no site de notícias Al Jazeera. Traduzido
por: Ana Gretel Echazú B. Revisado por: Chirley Mendes & Tatiana Shirasaki.
Com autorização do autor.
A
“marca” de Ocidente está a sofrer do que muitos vêem como uma
resposta “lenta e aleatória” dos governos ocidentais ao surto da
COVID-19. À medida que o epicentro da pandemia se deslocou da China
para a Europa e agora para os Estados Unidos, a fraqueza dos sistemas
neoliberais e neocoloniais ocidentais começou a ganhar destaque.
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Quando os países africanos iniciaram o cancelamento dos voos dos antigos
países coloniais e a colocar os seus cidadãos em quarentena, o mito da
invencibilidade ocidental desmoronou-se, juntamente com o seu corolário
de que só o Sul Global é suscetível de sofrer de epidemias infecciosas. Na
verdade, foi talvez a arrogância e a ilusão de grandeza ocidental que
inicialmente zeram com que muitos governos da Europa e da América do
Norte não levassem oportunamente a sério o surto da COVID-19.
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Trabalhadoras de fábrica iniciam a produção de equipamento de protecção individual para trabalhadores
locais que se encontram na linha da frente da saúde, encomendada pelo governo ganês em Acra, em 10 de
Abril, 2020 [Reuters/Francis Kokoroko via Al Jazeera]
S
obre o continente africano tem-se uma visão banal que foi informada
por lentes humanitárias coloniais, missionárias e antiéticas reduzindo
todo um continente de 54 países a uma única história que é, como pouco,
ignorante e, no pior dos casos, maliciosa. Existem debilidades inegáveis em
muitos sectores dos Estados e economias africanos, incluindo a área dos
sistemas de saúde, mas isso não signi ca que não haja infra-estruturas ou
serviços, nem preparação, resiliência, criatividade, conhecimento local ou
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inovação utilizados em tempos normais que possam também serem
utilizados em tempos de emergência.
As
e os africanas(os) já se vêem a si próprias(os) de forma diferente,
começando a desa ar rapidamente os velhos e cansados tropos
relativos a surtos contagiosos com os que foram historicamente
estigmatizados. Mas o trabalho de descolonização não deve parar apenas
no nível da retórica.
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Embora esta nova crise possa ser outro momento de desa o para os povos
africanos, depois de a epidemia ter terminado, o continente terá a
oportunidade de se tornar mais autónomo e auto-su ciente, uma vez que o
Ocidente estará concentrado na sua própria sobrevivência. Assim, terá a
oportunidade de se libertar da exploração própria das relações neocoloniais
que o assolam.
I
sto deve acontecer paralelamente à renegociação de vários acordos
comerciais com entidades estrangeiras que visam extrair recursos
africanos e acabam tornando aos mercados africanos dependentes das
importações estrangeiras.
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Ao mesmo tempo, outros acordos comerciais dentro e fora do continente
devem ser acelerados. Por exemplo, este será um grande momento para
começar a aplicar os acordos da Zona de Comércio Livre de África
(AfCFTA), uma idéia inicialmente proposta por dirigentes pan-africanistas
que sonhavam com um continente que começasse por fazer comércio
dentro das suas próprias fronteiras, sem dar prioridade aos seus antigos
países coloniais.
Os
nanciamentos estrangeiros devem ser gradualmente substituídos
por nanciamentos nacionais provenientes da tributação, do
repatriamento de fundos e de novas exportações de valor mais elevado.
Isso signi cará também que os países africanos terão de deixar de importar
“salvadores” estrangeiros para ajudar a resolver os problemas africanos. O
continente tem su cientes talentos locais e peritos instruídos em casa e na
diáspora para enfrentar os desa os em diversos domínios e eles o farão
certamente melhor do que os estrangeiros, porque, ao contrário deles,
conhecem muito bem o contexto e as especi cidades de cada local.
T
al postura permitiria aos países africanos não só utilizar as
competências locais, mas também desenvolvê-las e eventualmente
voltá-las para fora do país. Neste sentido, é importante abrir espaços de
cooperação intra-africana, especialmente no contexto da atual pandemia.
Os países da África Ocidental que desenvolveram conhecimentos
importantes para lidar com os surtos de Ébola podem ajudar outros países
do continente a melhorar as suas respostas nacionais frente à COVID-19.
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Com uma revisão econômica e focalização oportuna nos talentos locais, os
países africanos poderão então avançar para o desenvolvimento do seu
setor social. A melhoria dos sistemas de saúde deve ser uma prioridade
máxima, assim como o estímulo ao crescimento da biotecnologia e das
indústrias farmacêuticas locais.
T
udo isto faz parte de um processo de descolonização que há muito
tempo devia ter sido feito. Na verdade, há muito que o povo africano
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está pronto a embarcar nele, mas tem cado à espera de suas elites políticas
que, lamentavelmente, estão defasadas.
2 claps
WRITTEN BY
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