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Há em nós um fluxo que nos leva, mas que é tal, no entanto, que só temos a impressão
segura de segui-lo se somos nós mesmos que o fazemos brotar.
Assim, a vocação é uma resposta a um apelo mais íntimo do meu ser, sem que nada o
substitua, venha da minha própria vontade ou das solicitações que recebo do exterior.
Ela não é inicialmente mais do que uma potência que me é oferecida, o caráter original
de minha vida espiritual é o de consentir fazê-la minha. Ela se torna, então, minha
verdadeira essência.
Pode-se falhar em sua vocação por falta de atenção para descobri-la ou de coragem para
realizá-la. Mas não se a descobre se se esquece que cada um tem a sua e que lhe cabe
também encontrá-la. E não se a realiza se não se sacrifica a ela todos os objetos
habituais do interesse e do desejo.
A vocação não se distingue por nenhuma marca extraordinária que seja o sinal de nossa
eleição: e ela permanece invisível, se bem que ela transfigure os mais humildes
miseráveis da vida cotidiana.
E porque ela é o sentimento de um acordo entre o que temos que fazer e os dons que
recebemos, é que ela é para nós, uma luz e um suporte. Com ela, cada um nasce para a
vida espiritual, cada um cessa de se sentir isolado e inútil.
Assim, ela não nos dispensa, como se poderia pensá-lo, de querer e de agir: ao
contrário, ela carrega nossos ombros com um imenso fardo; ela deve nos tornar
sempre prontos para aceitar qualquer nova obrigação, sempre prontos em nos
comprometer sem jamais esperar.
(O Erro de Narciso)
Louis Lavelle
“Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor,
com que lhe será restituído o sabor?
Para nada mais serve senão para ser lançado
fora e calcado pelos homens”.
(Mateus, 5,13)