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A seguinte recensão foi realizada a partir do livro: GORDON, Thomas – Os


Judeus do Papa: O Plano Secreto do Vaticano que Salvou Milhares de Judeus no
Holocausto. Alfragide: Casa das Letras, 2012.

O livro de Gordon Thomas, os judeus do Papa, tenta mostrar principalmente


qual é a razão pela qual o Papa não condenou ao nazismo, o que até hoje é muito
criticado. Sendo que a não condenação do nazismo significou ajudar, duma forma
secreta, a milhares de judeus. O livro está escrito em dezassete capítulos os quais
integram cinco partes do mesmo.

Gordon Thomas não se limita a narrar os factos que estritamente serviram de


ajuda direta aos judeus, mas repassa antes a vida do Papa Pio XII (Eugénio Maria
Giuseppe Pacelli), das pessoas mais próximas e de quem de alguma forma estiveram
fortemente involucrados em situações de ajuda ou prejuízo para os judeus. Sendo assim
no primeiro capítulo se aborda a forma como Pacelli chegou ao “poder”, como diz o
autor, mostrando que não era tido como um dos favoritos, por não ser a personagem
mais política do Vaticano naquela altura. Assim narra com muitos detalhes, excessivos
em alguns pontos, a forma em que foi consolidado o grupo de cardeais para a eleição do
novo Papa. O ponto que mais ressalta o autor é que o Papa tinha várias amizades judias
antes de ser Papa, e a preocupação do então cardeal Pacelli pelos judeus, especialmente
pelos Judeus de Roma que se encontravam no gueto e pelos do Terceiro Reich, lugares
onde já tinha trabalhado anteriormente.

Gordon Thomas faz abundantes críticas e descrições como, por exemplo, no


segundo capítulo onde por momentos a leitura parece colocar no primeiro plano à irmã
Pasqualina que ajudava a Pacelli. Mas é de ressaltar o facto de que novamente o autor
sublinha o facto de o Papa antes de sê-lo não tinha nenhuma tendência antissemita,
antes pelo contrário, sempre procurou o bem-estar do povo judeu. O autor coloca como
um facto importante a viagem aos Estados Unidos, onde, o então cardeal faz discursos
contra o nazismo e o comunismo e apaga as vozes de padres com tendências
antissemitas.

O Terceiro capítulo foge muitíssimo do título, pois o título fala de decifradores


de códigos dos quais o autor fala somente em dois parágrafos e duma forma que parece
quase um tema sem importância. Por seu lado o quarto capítulo, “decisão na piazza
venezia”, está muito bem titulado pois todo o capítulo baseia-se na decisão de Itália
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participar na guerra e como os embaixadores foram viver para o Vaticano em busca de


segurança.

A segunda parte, chamada a Tempestade que se aproxima, em quatro capítulos


narra muito bem a forma como o nazismo toma posse de Roma. É de destacar nesta
parte a saída do Papa do Vaticano, quando o bombardeio da parte dos aliados, antes da
demissão de Mussolini e a rendição da parte de Itália, o qual levou ao nazismo a tomar
posse de Roma. Nestes quatro capítulos aparece com grande relevo, e através do qual o
Papa Pio XII ajuda aos judeus, monsenhor O´Flaherty, o qual se move com grande
perícia com o único intuito de ajudar. Verdadeiramente os judeus de Roma nesta parte
não estão em grande perigo, pois ainda as leis alemãs antissemitas não foram aplicadas,
mas no Vaticano se sabia que era somente questão de tempo para fazer uma perseguição
sistemática. O capítulo não mostra uma atuação direta de Pio XII, mas deixa entrever
que todas as decisões humanitárias passavam sempre pelas suas mãos antes de ser
postas em prática.

A terceira parte consta somente de três capítulos. Em primeiro lugar é de


ressaltado o plano falido de sequestrar ao Papa, depois o facto central desta parte e que
acho de muita pertinência nomeá-lo é a ajuda do Vaticano com 15kg de ouro para evitar
que Kappler comece uma anunciada perseguição. O Vaticano ajudou sem nenhuma
preocupação dizendo que podia ser pago em qualquer momento. Houveram também
várias ajudas a particulares através de Pasqualina a qual adquiriu uma conta no banco do
Vaticano somente para ajudar com roupa e comida aos refugiados nos mosteiros,
conventos e hospitais da cidade. Nos diversos refúgios foram dados locais para a
celebração do culto judaico, desta forma vemos que o Papa previu uma certa ajuda
espiritual além da material. Esta parte conclui com a iminência da Judenaktion para a
qual veio para Roma o especialista Danneker, um homem sem dúvida despiedado.

A quarta parte do livro está formada de quatro capítulos, esta narra as horas mais
escuras dos judeus em Roma, isto é, a Rusga. Esta parte começa por narrar os
preparativos finais para realiza-la tendo em conta as dificuldades que atravessou e as
tentativas por parte da Igreja para ser evitada. O acontecimento marcante desta parte é o
facto de conseguirem salvar perto de 250 pessoas da rusga, devido a serem filhos de
famílias mistas. Gordon Thomas narra duma forma acertada a impotência do Papa ao
ver que quase mil judeus eram levados para os campos de concentração sem poderem
fazer mais nada do que aquilo que já tinham feito. O autor mostra como a mensagem de
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Natal, ainda que considerada insuficiente por parte do presidente Roosevelt, era o
máximo que podia fazer o Papa, pois se denunciava publicamente aos nazis, teria que
faze-lo também com os bolcheviques. Esta parte termina com o ambiente de tensão
entre os embaixadores no Vaticano, principalmente dos aliados, e o Vaticano pelos
contínuos bombardeios ilegítimos as propriedades protegidas pela neutralidade da
Igreja.

A última parte, titulada Libertação, consta somente dois capítulos. O primeiro,


nomeado Viver com Deus e o diabo, narra o ataque da Resistência a um pelotão de
polícia alemão, o qual ficou marcado na história de Roma, pois a represália da parte dos
alemães, era matar a trinta por cada soldado que morreu, mas devido a impossibilidade
de realizar esta massacre, o número viu-se diminuído a 10 por cada alemão morto.
Assim mais de trezentos presos foram assassinados. Finaliza o capítulo com o destino
dos envolvidos nesta situação. O último capítulo do livro, titulado Consequências, narra
os acontecimentos subsequentes ao massacre das fossas Ardeatinas, o sofrimento do
Papa. Este capítulo termina com a libertação de Roma, através do general Clark, isto é,
a saída dos judeus dos seus refúgios do Vaticano, dos mosteiros e conventos. Gordon
Thomas culmina o seu livro repassando a situação pós-guerra dos militares,
embaixadores, e judeus mais destacados do seu livro.

O livro mostra claramente como no Vaticano foram escolhidos os momentos


chave, para calar ou falar, para agir ou esperar, sempre em função daquilo que se pode
fazer contra aquilo que gostariam de fazer. Aparece claramente como falsa a acusação
ao Papa de ser um antissemita, embora estas sejam as últimas palavras do livro, as quais
aparecem como uma crítica e não como uma afirmação. Certamente podemos afirmar
que o Papa fez aquilo que podia e da melhor forma, o qual com grande subtilidade e a
grandes traços recolhe Tomas Gordon, sem necessidade de louvar, nem adular, mas
simplesmente com a narração pura dos factos, no que eu considero um bom livro por
estar isento de juízos de valor, com respeito aos factos históricos.

Fabián Jacob Álvarez Tello

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