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Palmeira Guimarães
A VIDA
em V
DE DUDA
Autor: J. Palmeira Guimarães
A Vida de Buda
A história que eu vou contar
aconteceu realmente
h á quase 26 séculos
em um país do Oriente.
Se alguém quiser comprovar
é bastante consultar
os livros de antigamente!
Ela é simultaneamente
história h u m a n a e sagrada
tem seus instantes dramáticos
como n u m a luta armada,
mas tem lances de ternura,
de alegria e de doçura
como nos contos de fada. 3
É um episódio profano
e ao mesmo tempo, Divino,
c a p a z de empolgar o santo
e comover o assassino,
terno — como uma canção,
doce — como uma oração,
vibrante — que nem um hino
É capaz de a p r o x i m a r
todos os filhos de Deus:
evangélicos, católicos,
muçulmanos ou judeus
e até os mais renitentes
que se proclamam descrentes,
pensando que são a t e u s . . .
540 anos
Antes da Era Cristã,
pleno jardim do p a l á c i o ,
O n z e horas da m a n h ã .
A bela rainha Maya
contempla os véus do H i m a l a i a
recostada em seu divã.
H a v i a se completado
o tempo da gestação.
A rainha, embevecida
na sua c o n t e m p l a ç ã o ,
nem viu que a tarde c h e g a r a
e, de seu ventre, brotara
o nobre filho varão!
A notícia se espalhou
por toda a terra indiana,
o povo foi convidado
e o grande rei S u d d h o d a n a
festejou com p o m p a e brilho
o nascimento do filho
durante toda a semana.
A c o r r e r a m visitantes
da í n d i a e de outros países,
trazendo ricos presentes
dos mais diversos matizes,
enquanto os pais da criança
riam, cheios de esperança,
imensamente felizes.
O a n c i ã o que, impassível,
fitava o céu, distraído,
ao ver o príncipe-herdeiro
levantou-se comovido
fazendo, em meio a orações,
oito genuflexões
saudando recém nascido.
Depois, pediu que a r a i n h a
pusesse o filho no colo
e cumpriu, em reverência,
um estranho protocolo:
curvado, as mãos estendidas,
por oito vêses seguidas
tocou a testa no solo.
Convocou-se ama-de-leite
por editais e por carta.
Uma princesa da corte
garantiu nutrição farta
para o príncipe indiano
que teve o nome profano
de Savarthasidh (Siddarta).
- 10 -
"Vós, veneranda r a i n h a ,
dareis à luz um menino
de ciência maravilhosa,
com um mandato Divino
q u e , se quiser, num s e g u n d o
poderá salvar o m u n d o
e transformar-lhe o destino!"
— Só Vísvamitra — disseram —
preenche o que desejais
e pode ensinar ao príncipe
todas as artes manuais,
as Ciências, as Escrituras,
as diferentes culturas
Idiomas e tudo o mais".
O rei a p r o v o u o nome
Visvamitra foi c h a m a d o ,
c o m p a r e c e u ao palácio
confessou-se muito h o n r a d o
e disse ao rei S u d d h o d a n a :
" J á na p r ó x i m a semana
começa o aprendizado".
Pela complexidade
da sentença que escolheu
Visvamitra estava crente
no raciocínio seu
que aquele jovem rapaz
jamais seria capaz
de ler o que ele escreveu.
E, como se n ã o bastassem,
essas provas eloquentes
ou como se alguém pedisse
demonstrações mais patentes,
interpretou a o r a ç ã o
à luz da Religião
em dez linguas diferentes!
Participava de jogos,
brincadeiras, distração.
Geralmente, era o primeiro
em q u a l q u e r competição,
mas o que mais lhe a g r a d a v a
era quando se isolava
sozinho, em m e d i t a ç ã o . . .
Tratava do mesmo jeito
príncipes e serviçais,
via a todas as pessoas
como se fossem iguais,
respeitava a todo m u n d o
e tinha um amor profundo
pelas plantas e animais.
Embora considerado
cavaleiro sem igual,
perdia corridas ganhas
simulando passar mal,
para poupar energia
ao cavalo em que corria
e não forçar o animal!
Mas, como a a m b i ç ã o h u m a n a
não deixa n i n g u é m em paz,
Suddhodana i m a g i n a v a
um plano bastante audaz,
u m a forma astuciosa,
u m a maneira engenhosa -
para envolver o rapaz.
A estratégia do rei
consistia em convidar
Siddarta para um passeio
em que pudesse mostrar
toda a extensão do reinado
e fazê-lo interessado
nas terras que iria h e r d a r . . .
O rei mandou p r e p a r a r
a mais bonita carruagem
e deu ordens pessoalmente
aos súditos e à vassalagem
p a r a que a comitiva
fosse saudada com V I V A
durante toda a passagem.
Feitos os preparativos,
a g u a r d o u com esperteza
um dia de p r i m a v e r a
cheio de sol e beleza,
de modo que o itinerário
tivesse c o m o cenário
o esplendor da Natureza.
Ao receber o convite,
Siddarta que só vivia
trancado em seus aposentos
e raramente saía,
beijou o pai com ternura
e partiu para a aventura
na inocência da alegria.
Siddarta se deleitava
contemplando a Natureza:
rios, terras, campos, flores
e toda a q u e l a beleza,
mas enquanto c o n t e m p l a v a
seu coração m e r g u l h a v a
n u m a profunda tristeza!
O rei a i n d a o esperou
durante mais de u m a hora,
depois, impacientou-se
devido a grande demora,
recomendou-o aos vassalos,
atrelou os seus cavalos,
despediu-se e foi embora.
Durante a meditação
um fato estranho ocorreu.
Se foi acaso ou milagre
ninguém garante - nem eu — :
durante uma tarde inteira
n ã o deu sol sob a m a n g u e i r a ,
a sombra n ã o se m e x e u ! . . .
Assim, o rei Suddhodana
V i u se.frustarem os planos
de interessar o menino
pelos tesouros profanos,
enquanto o tempo passava
e Buda se a p r o x i m a v a
de atingir dezoito anos.
O rei t i n h a convidado
a plebe e a realeza,
foi a festa mais bonita
que se viu na redondeza.
N u n c a em Kapilavastu
nem no território hindu
reuniu-se tanta beleza.
De seu p a l a n q u e real,
Siddarta a tudo assistia,
c u m p r i m e n t a v a as princesas
com n a t u r a l cortesia,
a todas dava u m presente,
..sorria amistosamente
e o desfile prosseguia.
Dezenas de senhoritas
j á haviam desfilado
sem que o jovem se mostrasse
por n e n h u m a interessado.
Eram todas muito belas,
porém por nenhuma delas
sentira-se apaixonado.
Q u a n d o terminou a festa
que foi um d e s l u m b r a m e n t o
Suddhodana não cabia
em si, de contentamento,
e foi ao rei Suprabuda
pedir pro seu filho, Buda,
Y a s o d h a r a em casamento.
S u p r a b u d a convocou
a Corte, amigos, parentes,
e recebeu S u d d h o d a n a
com honras e com presentes,
mas mostrou a Sua Alteza
que Yasodhara — a princesa —
j á tinha três pretendentes.
Suddhodana agradeceu,
mas regressou ao castelo
bastante desanimado,
a c h a n d o aquilo um flagelo
pensando que o seu rapaz
que era um amante da paz
não aceitasse o duelo.
A p e s a r das p r e c a u ç õ e s
e de t o d o o i s o l a m e n t o ,
Siddarta ouvia mensagens
t r a z i d a s na voz do v e n t o
e, sem sair da m a n s ã o ,
voava pela amplidão
nas asas do p e n s a m e n t o ..
Certa noite, ale acordou
durante um sonho profundo
e ouviu u m a voz dizer-lhe:
"SOU O VENTO VAGABUNDO,
VEM C O M I G O , P O R F A V O R ,
D E I X A O TEU NINHO DE A M O R ,
V A M O S V E R A D O R D O MUNDO!
" D E S P E R T A , F I L H O DE M A Y A ,
SAI DO TEU E S Q U E C I M E N T O ,
V Ê Q U E O C A M I N H O DA V I D A :
É I G U A L Z I N H O AO D O V E N T O :
SOLUÇOS, SUSPIROS .LUTA
G U E R R A S , TORMÉNTO.S; D I S P U T A ,
MISÉRIA, DOR, SOFRIMENTO!
"ENQUANTO DORMES TRANQUILO,
P R E S O A S U P O S T A S RAÍZES.
H Á T R I S T E Z A EM T O D A P A R T E ,
G U E R R A S EM D I V E R S O S PAÍSES,
F O M E EM T O D O S OS L U G A R E S .
D O E N Ç A EM T O D O S OS L A R E S ,
M I L H Õ E S DE HOMENS INFELIZES!
" T U A H O R A SE A P R O X I M A !
A B A N D O N A ESSA P R I S Ã O ,
RENUNCIA A H I E R A R Q U I A ,
R O M P E OS G R I L H Õ E S DA I L U S Ã O ,
VAI D E S C O B R I R A V E R D A D E
E DAR PARA A HUMANIDADE
A PAZ E A L I B E R T A Ç Ã O !
COMO P O D E S D E S C A N S A R
ENTRE A P A R E N T E S P O D E R E S
E TE D E I X A R S E D U Z I R
P O R ESSES F A L S O S P R A Z E R E S ,
TU QUE VIESTE PRA S A L V A R
E, P E L O A M O R , L I B E R T A R
DA D O R A T O D O S O S S E R E S ? ! "
Q u a n d o o vento silenciou
Siddarta teve a certeza
de sua nobre missão
e, com toda a sutileza,
c o m e ç o u a imaginar
um modo de n ã o m a g u a r
o c o r a ç ã o da princesa. .
Sempre q u e os dois conversavam
Ele lhe dava a entender
que embora a amasse bastante
era bom ela saber
que ele j á fora avisado
de que seria c h a m a d o
para u m mais alto dever!
Recolheram-se mendigos,
pobres, cegos, aleijados,
as ruas foram varridas,
os prédios todos lavados.
Doentes, feridos, leprosos
e até os homens, idosos
foram todos retirados.
As ordens de S u d d h o d a n a
eram sempre respeitadas:
as casas estavam limpas,
as avenidas lavadas,
as pessoas bem vestidas,
as ruas todas varridas
easpraçasembandeiradas
Tudo transcorria bem,
Siddarta estava contente
quando, de forma imprevista,
surgiu bem. na sua f r e n t e ,
um mendigo esfarrapado,
velho roto, esclerosado,
— um arremedo de gente!
C h a n n a e o príncipe a n d a v a m
q u a n d o surgiu, no caminho,
todo coberto de chagas
um c a m p o n ê s bem velhinho.
A peste o, tinha a t a c a d o
e o povo o t i n h a l a r g a d o
pra morrer ali, sozinho.
Quase morto, j á sem forças,
o ancião suplicava:
queria morrer em casa
onde a família o esperava.
Só encontrava indiferença,
porque a sua doença,
além do mais, contagiava..
A n t e o protesto de todos
inclusive seu criado,
Siddarta pegou o velho,
pôs nos ombros com c u i d a d o ,
levou-o à casa, correndo.
O velho acabou morrendo
mas antes foi confortado.
Recolheu-se em seu p a l á c i o
num sofrimento profundo,
meditou sobre a angústia
e a morte do m o r i b u n d o ,
vendo no acontecimento
a dor e o sofrimento
dos homens todos do mundo
Viu que a morte torna iguais
o pobre e o potentado
e o sofrimento nivela
o analfabeto e o letrado
que a riqueza a c a b a em ruína
e que o próprio amor termina
na perda do ser a m a d o !
R e n u n c i o u ao reinado,
hierarquia, propriedade,
esposa, fortuna, luxo,
para buscar a Verdade
e as origens da dor,
dedicar-se ao. puro amor,
libertar a h u m a n i d a d e !
Chamou, então, Yasodhara
apertou-a ao coração,
explicou-lhe as razões todas
de sua resolução
disse-lhe o quanto sentia,
mas que n ã o raais poderia
permanecer n a ilusão.
- " V O C Ê ME TEM DE D I R E I T O ,
MAS DE F A T O NÃO ME TEM.
SAIBA Q U E EU LHE A M O BASTANTE
LHE D E S E J O T O D O O BEM.
EU R E G R E S S A R E I P O R C E R T O ,
MAS SÓ V O L T A R E I L I B E R T O ,
P A R A SALVÁ-LA T A M B É M . "
Siddarta a b r a ç o u o a m i g o
e, sem querer ser severo,
olhou-o dentro dos olhos
e disse num tom sincero:
"PODES FICAR DESCANSADO,
T U D O ISTO J Á F O I P E N S A D O ,
É I S T O MESMO Q U E EU Q U E R O
" O A M O R Q U E , POR C O M O D I S M O ,
É C A P A Z DE SE P R E N D E R
À S C R I A T U R A S A QUE AMA
PRA DELAS T I R A R P R A Z E R ,
É UM SENTIMENTO EGOÍSTA.
FALSO, IMPURO, EXCLUSIVISTA,
Q U E DEVEMOS C O M B A T E R !
C U L T I V A R UM T A L A M O R
É SIMPLES H I P O C R I S I A .
AMO MEU PAI E A PRINCESA
MAIS DO Q U E A MINHA A L E G R I A .
J U S T A M E N T E P O R AMÁ-LOS
V O U P A R T I R , P A R A SALVÁ-LOS,
Q U A N D O EU V O L T A R , ALGUM D I A " .
Em torno de Rajagriha
— terras do rei Bimbisara
existem cinco montanhas,
são: Bipula, Baibhara,
Tapovan, Sailagiri
e, ao Leste, RatnagirL
Nesta, Siddarta ficara.
G e r a l m e n t e ao meio dia
sentava-se a meditar,
f i c a v a até m e i a noite
em vigília, sem p a r a r ,
l e v a n t a v a , o l h a v a a lua,
d e i t a v a na r e l v a n u a
até o sol o acordar.
J u n t o às m o n t a n h a s v i v i a m
uns estranhos ermitões,
faquires fanatizados
q u e , entre horríveis c o n t o r ç õ e s ,
seu p r ó p r i o corpo a ç o i t a v a m .
e- assim se automultilavam
commilmortificações
Certo dia, o: Senhor B u d a
tomado de c o m p a i x ã o ,
foi ao chefe dos faquires
e quis saber a razão
daquela exibição fútil,
d a q u e l e flagelo inútil,
e ouviu esta e x p l i c a ç ã o :
Depois, em meditação,
Buda poude perceber
este estranho paradoxo:
o desejo de viver
faz do h o m e m um suicida,
ou seja, é o apego à vida
que faz o homem morrer
Era o fio-da-meada
esta n o v a conclusão,
q u e r e n d o penetrar mais
no fundo dessa questão,
recolheu-se novamente,
voltou-se para o nascente
e entrou em c o n t e m p l a ç ã o .
A g o r a , só c o n t e m p l a v a ,
j á n ã o meditava mais,,
totalmente abstraído
dos sentidos materiais,
liberto das sensações,
dos sonhos, das emoções,
livre das ondas mentais»..,.
Um dia, Ele c a m i n h a v a
na planície, após o banho,
viu u m a nuvem de pó
que a c o m p a n h a v a um r e b a n h o
seguido de seus pastores,
e escutou uns estertores,
um certo- batido estranho.
Seguiu, de perto, as ovelhas,
apurou bastante o ouvido
até poder descobrir
de onde partira o gemido,
e notou um cordeirinho
desviado do caminho,
muito cansado e ferido.
Ao lado do borreguinho
saltitava um seu irmão,
enquanto sua m ã e berrava
na mais t r e m e n d a aflição,
sofrendo pelo destino
do filhote p e q u e n i n o
que agonizava no chão.
Despediu-se da m o n t a n h a
e seguiu em romaria,
disposto a ir com o cordeiro
aonde o rebanho iria,
a ovelha a fazer-lhe festa,
correndo pela floresta,
dando pulos de a l e g r i a . . .
Siddarta p o u d e sentir
nessa gratidão materna,
que v a l i a m u i t o mais
u m a atitude fraterna
de a m o r e c o m p r e e n s ã o
que um ano de r e c l u s ã o
no fundo de u m a c a v e r n a . . .
Ao meio-dia os pastores
p a r a r a m para a l m o ç a r .
Os carneiros, estrupiados,
trataram de se deitar.
Siddarta olhava os caprinos
temendo por seus destinos,
e resolveu perguntar:
"RESPONDEI-ME. I R M Ã O S P A S T O R E S ,
ONDE IDES E ONDE LEVAIS.
EM M E I O A O S O L INCLEMENTE
ESSES P O B R E S ANIMAIS.
NESSES C A M I N H O S P O E I R E N T O S ?
VEDE, E L E S E S T Ã O S E D E N T O S
E J Á NÃO S U P O R T A M MAIS!"
A t i n g i r a m a cidade
na hora do sol se pôr.
A p o p u l a ç ã o inteira
quis ver o estranho pastor
em cujos olhos brilhava
u m a luz que irradiava
compreensão, paz e amor.
D i z i a m uns: " É UM P R Í N C I P E
QUE A B A N D O N O U SEU I M P É R I O
E EMBRENHOU-SE NAS M O N T A N H A S ,
DEDICADO AO MONASTERIO".
Outros diziam: É UM SANTO,
e tocavam no seu manto,
com ar respeitoso e sério.
U m pastor f a l o u ao rei
q u e um h o m e m d e s c o n h e c i d o ,
h a b i t a n t e da m o n t a n h a ,
t i n h a o r e b a n h o seguido.
Tipo estranho — m e i g o e forte
e que s a l v a r a da m o r t e
um c o r d e i r i n h o ferido.
Q u a n d o o rei e n t r o u na sala
c o m e ç o u o ritual:
um sacerdote, q u e orava,
parou, pegou o p u n h a l
foi p a r a a cabra presa,
a, i n e r m e , indefesa,
sangrar o animal!
Um silêncio indescritível
tomou conta da platéia.
V o c ê que l ê esta história
pode fazer u m a idéia
do horror generalisado
que esse gesto inesperado
causou n a q u e l a assembléia!
— " P E R D O A I - M E MEU N O B R E R E I
POR INTERROMPER O OFICIO,
MAS N Ã O PUDE P R E S E N C I A R
O RITUAL DESDE O INÍCIO.
SEI Q U E NÃO A G I D I R E I T O ,
MAS EU NÃO TINHA O U T R O J E I T O
DE E V I T A R O S A C R I F Í C I O .
" V Ó S S A B E I S QUE A V I D A É F R Á G I L
T O D O S A PODEM T I R A R ,
E M B O R A NENHUM DE NÓS
TENHA O P O D t R DE A C R E A R .
A V I D A E UM D O M P R E C I O S O ,
DIVINO, M A R A V I L H O S O ,
QUE T O D O S Q U E R E M G O Z A R . . .
"ESSES C A R N E I R O S NOS O L H A M
A VÓS, A MIM, A O S P A S T O R E S ,
COMO A SANTOS, C O M O A DEUSES,
COMO A SERES SUPERIORES.
NO ENTANTO, Q U A N D O OS M A T A M O S
NÓS T O D O S NOS C O M P O R T A M O S
COMO S E R E S I N F E R I O R E S !
" O H O M E M QUE, NA A F L I Ç Ã O
D E SEUS MOMENTOS C R U C I A I S ,
SUPLICA A O S DEUSES CLEMÊNCIA
E J U R A NÃO P E C A R MAIS.
MATA ANIMAIS. I R M Ã O S SEUS,
ELE - QUE É I G U A L A UM DEUS
AOS O L H O S D O S ANIMAIS!
" P R O C E D E M DESSAS O V E L H A S
A L Ã E O P E L O MACIO
Q U E A Q U E C E M O S NOSSOS C O R P O S
NAS L O N G A S N O I T E S DE F R I O ,
SEU LEITE S A L V A AS CRIANÇAS,
Q U E C H O R A M , SEM E S P E R A N Ç A S ,
COM O E S T Ô M A G O V A S I O . . .
N Ã O S E R Á COM O S A C R I F Í C I O
DE UM A N I M A L I M O L A D O
Q U E OS DEUSES V I R Ã O S A L V A R
A NINGUÉM DE SEU P E C A D O .
UM DEUS QUE E J U S T O E CLEMENTE
N Ã O P O D E F I C A R CONTENTE
VENDO S A N G U E D E R R A M A D O !
" S E G U N D O ESSA L E I D I V I N A
T O D O S OS S E R E S C R E A D O S
D A R Ã O CONTA, P E S S O A L M E N T E ,
DOS A T O S C E R T O S E E R R A D O S
S E J A M PUROS OU I M P U R O S
E, ASSIM, T O D O S OS F U T U R O S
SÃO O F R U T O D O S P A S S A D O S !
" S E NINGUEM S A C R I F I C A S S E
E S S E S P O B R E S INFELIZES,
SE T O D O S COMESSEM F R U T O S ,
GRÃOS, FOLHAS, ERVAS, RAÍZES,
NÃO HAVERIA MAIS GUERRA.
R E I N A R I A P A Z NA T E R R A
TODOS SERIAM FELIZES".
Q u a n d o o p r í n c i p e Siddarta
interrompeu seu sermão,
toda a assembléia, em silêncio,
tributou-lhe a p r o v a ç ã o .
Então, o rei levantou-se
juntou as mãos e curvou-se
saudando-o como a um i r m ã o .
No o u t r o dia, Bimbisara
que era um rei muito correto
m o n d o u sua assessoria
elaborar um projeto
que ele transformou em Lei
Eis o que dizia o rei
no texto de seu decreto.
FICA, A PARTIR DESTA DATA,
DECRETADA A PROIBIÇÃO
NOS E S T A D O S E P R O V Í N C I A S
D E T O D A NOSSA N A Ç Ã O ,
D E SE M A T A R ANIMAIS,
SEJA PARA RITUAIS
OU PARA ALIMENTAÇÃO.
F o i c o n v e r s a r c o m os sábios,
p o n d e r o u suas verdades,
discutiu s e g u i d a m e n t e
co'as sete c e l e b r i d a d e s
sobre a p a r t e e x o t é r i c a
e toda a c i ê n c i a esotérica
dos Verias (4' e Upanixades (5)
A c h o u bastante p r o f u n d o
o q u e esse g r u p o e n s i n a v a ,
m a s n ã o era, e s s e n c i a l m e n t e ,
o que Siddarta buscava.
Despediu-se dos ascetas
sem as r e s p o s t a c o n c r e t a s
q u e a sua a l m a p r o c u r a v a
A c a d a iDStante sentia
q u e a busca não era v ã .
A t i n g i u o rio Ganges
um dia pela m a n h ã ,
as á g u a s se m i s t u r a v a m ,
pois dois rios se e n c o n t r a v a m
— o Mohafta e o Vilajan.
Q u a n d o o g r u p o foi-se embora
envolto em sua alegria,
Siddarta pôs-se a pensar
sobre o que a moca dizia:
"HARMONIA, AFINAÇÃO . . .
O QUE FALAVA A CANÇÃO...
O QUE A CÍTARA D I Z I A " . . .
C o m o expressar em palavras
de modo a ser entendido,
o estado em que a gente ouve
sem utilisar o ouvido,
enxerga sem a visão,
sente toda sensação
sem usar n e n h u m sentido?!
C o m o explicar uma L u z
que está sempre a i l u m i n a r ,
envolve a todos os seres,
clareia em todo lugar,
brilha em todos os sentidos,
mas somente aos escolhidos
é dado vê-la brilhar?!
V e j a m o s até q u e p o n t o
poderei, leitor a m i g o ,
sem falsear a v e r d a d e
n e m v a c i l a r n o q u e digo
mostrar o q u e o B u d a v i u ,
p e r c e b e u , o u v i u sentiu
e o q u e se passou consigo:
L o g o q u e Ele se sentou
u m sol i m e n s o o e n v o l v e u ,
todo o céu iluminou-se,
a t e r r a i n t e i r a tremeu.
Riram-se os deuses e os Devas
p o r é m Mara — o rei das trevas -
lá no inferno estremeceu.
M a r a sentia estar p r ó x i m o
o f i n a l de seu r e i n a d o ,
pois s e m p r e q u e um A v a t a r ' 7 )
se t o r n a um I l u m i n a d o ,
p r o v a q u e o diabo é i l u s ã o
e, ao v e n c e r a t e n t a ç ã o ,
desmoralisa o pecado.
J á na segunda vigília
foi enviada por M a r a
aquela q u e , para Buda
era a l e m b r a n ç a mais cara:
mandou-lhe u m a bailarina,
linda, explêndida, divina,
disfarçada em Yasodhara.
Mas B u d a identificou
n a q u e l a visão tão clara
que p r o c u r a d a envolvê-lo
na forma de Yasodhara,
mais um fruto da ilusão,
mais u m a : m a q u i n a ç ã o
da astúcía incirvel de Mara.
Quando Siddarta venceu
os pecados capitais
recolheram-se aos abismos
as legiões infernais
e Ele viu q u e inferno e céus
n ã o são mais q u e simples véus,
sonho, ilusão, nada mais!
Milhões de mundos r o d a n d o
à extrema velocidade,
se formando e se e x t i n g u i n d o
com u m a regularidade
capaz de causar espanto,
separados, e, entretanto,
Integrando u m a U n i d a d e ! . . .
As Q U A T R O N O B R E S V E R D A D E S
que iriam ser a semente
de sua Filosofia
vieram simultaneamente
puras, claras, cristalinas,
como emanações Divinas
p o u s a d a s na sua mente!
Primeiro, ele percebeu
que A D O R Ê A S O M B R A DA V I D A
e, aí, poude ver a D O R
claramente refletida
na face da Humanidade.
Era a Primeira Verdade
que ficava esclarecida.
Pensou na CAUSA DA D O R
e percebeu num lampejo
e, ao perceber, proclamou:
"Sim, é claro, agora eu vejo,
as dores que ao mundo afligem,
todas elas têm origem
nas sensações, no DESEJO!
Ê o caminho tortuoso
pontilhado de aflição,
mais, como tudo o que é duro
tem sua compensação:
é a Estrada que conduz
à Pas, à Verdade, à L u z
e à Verdadeira. União.
Finalmente, é a Grande V i a
pela qual a R a ç a H u m a n a
livre das superstições
caminhará soberana,
encontrará Liberdade,
vislumbrará a Verdade
e atingirá o Nirvana!
Atravessou a montanha
pregou em vários lugares
Escolheu cinco discípulos
na cidade de Benares,
Falou-lhes seguidamente
e os instruiu verbalmente
nas verdades basilares.
Na cidade florestal
permaneceu alguns dias
p r e g a n d o as Q U A T R O V E R D A D E S
e o Caminho de O I T O VIAS.
E n q u a n t o B u d a pregava
a cidade fervilhava
em constantes romarias.
Na mesma situação
se encontrava Yasôdhara
mandou vários emissários,
diversas cartas m a n d a r a .
Nem emissários nem carta,
todos a c h a r a m Siddarta,
mas nenhum só regrassara.
J u n t o ao J a r d i m dos Bambus
u m a grande multidão
c o n t e m p l a v a o Senhor B u d a
sentado em meditação.
O ministro aproximou T se,
sentou-se aos seus pés, curvou-se
e pôs-lhe a carta na mão,
Na hora em que o Senhor B u d a
voltou novamente a si,
leu a meusagem do rei
e falou para Udaiy:
"Ide e anunciai ao rei
que irei, certamente, irei
logo que eu partir daqui.
Ergueu p a v i l h ã o de flores
no portão Sul do reinado,
o c a m i n h o até o p a l á c i o
foi todo ele atapetado
de rosas, cravos, jasmim,
sândalo, lírio e alecrim
era u m Éden perfumando.
Para t o m a r o parcurso.
mais enfeitado e mais belo,
escolheu 100 bailarinas
que, vestidas cie amarelo,
d a n ç a r i a m num bailado
desde o p a v i l h ã o dorado
até o portão do castelo!
Yasodhara preparou-se
com todo esmero e cuidado
vestiu seu vestido de ouro
que h á muito estava guardado,
C h a m o u seu filho — R a u l —
e foi para o portão sul
esperar seu bem amado!
Q u a n d o Ele se a p r o x i m o u
à frente do povaréu,
a princesa, ainda em dúvida,
levantou-se, ergueu o véu
reconheceu-o e, por fim,
prostrou-se e ficou assim
como quem e n t r a . . . no céu!
Abraçou-o e. nesse a b r a ç o
percebeu um novo encanto,
u m a sensação diversa
da que antes sentira tanto:
não era o abraço do h o m e m
a quem as paixões consomem,
era o a b r a ç o do Santo.
Em vez da a r d ê n c i a e calor
daquela p a i x ã o voraz
que envolvia os seus abraços
h á sete anos atrás,
agora, apenas sentia
e m a n a ç õ e s de alegria,
vibrações de pura paz.
Num relance, Yasodhara
sentiu que sua ansiedade
transformou-se em um estado
de plena serenidade.
Naquele a b r a ç o tão casto
sentiu um amor bem mais vasto
porque era a m o r de verdade.
Q u a n d o Siddarta o avistou
lançou-lhe um olhar tão pleno
de bondade, de ternura,
tão divino, tão sereno,
com tanto amor o a b r a ç o u
que ali mesmo o rei parou
de destilar seu veneno.
Mesmo assim, ainda lhe disse:
" P o r que fizeste isto, filho?
Eu engalanei teu reino
com toda essa pompa e brilho
para gozá-lo contigo
e voltas feito um m e n d i g o
pobre, roto, m a l t r a p i l h o ? ! "
Buda c a m i n h a v a altivo
como em estado de G r a ç a .
Parou, contemplou o povo
c o m p r i m i d o em meio à praça
e disse ao rei: " E S C U T A I ,
ESTE MEU T R A J O , MEU PAI,
É O T R A J O DE MINHA R A Ç A ! "
- N Ã O V O S R E F I R O , MEU PAI,
MINHA L I N H A G E M M O R T A L ,
MAS A MINHA D E S C E N D Ê N C I A
INVISÍVEL, MAS R E A L ,
DOS BUDAS — ILUMINADOS —
OS A N T I G O S E O S P A S S A D O S ,
A MINHA E S T I R P E I M O R T A L !
«NAO, P R E T E N D O VOS, M A G U A R
NEM C A U S A R - Q U A L Q U E R D E S D O U R O ,
MAS ESTE MANTO A M A R E L O
— QUE É MEU Ú N I C O T E S O U R O —
É O TRIUNFO DA PUREZA
S O B R E AS P O M P A S E A R I Q U E Z A
D E Q U A L Q U E R I N P É R I O DE O U R O !
Q u a n d o B u d a silenciou
notou cora toda c l a r e z a
l á g r i m a s de c o m p r e e n s ã o
nos olhos de sua A l t e z a .
Caminhou transfigurado
C o n d u z i n d o o rei, de u m lado,
e, do outro, o f i l h o e a princesa.
Na fronte do Senhor Buda
brilhava uma aura lilás.
E assim entrou no palácio,
seus parentes logo atrás
e a partir daquele dia
todos entraram na Via
do Amor, da Luz e da Paz!
A p r i m e i r a dessas regras
se r e s u m e s i m p l e s m e n t e
em: NÃO MATAR OU FERIR
A QUALQUER UM SER VIVENTE.
Plantas, pedras e a n i m a i s
t ê m existências iguais
as existências da gente.
A s e g u n d a é: NÃO TOMAR
coisa alguma a ser algum
POR FRAUDE ou POR VIOLÊNCIA,
NÃO ROUBAR A HOMEM NEHNUM.
Se só possuis um c r u z e i r o
os milhões do m u n d o inteiro
vaiem menos q u e o teu UM . . .
A regra n ú m e r o três
para o h o m e m evoluir
é: FALAR SEMPRE A VERDADE
n ã o c a l u n i a r ou trair
j a m a i s a pessoa a l g u m a
sob hipótese n e n h u m a ,
em resumo: NÃO MENTIR! 90
A regra número quatro
preceitua e especifica:
EVITAR TODAS AS DROGAS
E TUDO QUANTO 1NT0XICA.
O corpo é um templo sagrado:
se ele está purificado
a alma se purifica.
Aos 77 anos
Buda — o exemplo da Virtude —
estava em K u s i n a r a ,
mesmo na Província de UDH
e previu seu desenlace
muito embora ainda gozasse
de absoluta saúde!
U m a certa madrugada
do A n o 620,
B u d a c h a m o u um discípulo
que foi seu ú n i c o ouvinte
e, num tom de voz bem suave,
naquele momento grave
lhe transmitiu o seguinte:
"Cumpriu-se a m i n h a missão
Dentro em p o u c o partirei
Vós e os vossos c o m p a n h e i r o s
Sabeis tudo o que ensinei.
Tomai meus ensinamentos
e pregai aos quatro ventos
A Estrada, a Verdade, a LEI"!
O monge saiu correndo
para avisar aos demais,
mas a alma do Senhor Buda
j á não era entre os mortais,
pairava em pleno Nirvana,
livre da cadeia humana,
nas regiões siderais!
—-—- FIM -
P u b l i c a d o com a C o l a b o r a ç ã o da
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA