Você está na página 1de 8

Notas para um diagnóstico da sociedade contemporânea

RAFAEL BIANCHI SILVA*

Resumo
O objetivo desse artigo é realizar um breve diagnóstico da sociedade
contemporânea. Compreende-se que cada contexto histórico constrói um
entendimento acerca das possibilidades de ação dos indivíduos na rede social, o
que torna fundamental a compreensão do modo de vida hegemônico ao qual
somos submetidos e que mantemos em nossas práticas cotidianas. Para tanto,
partimos da análise do momento atual realizada por Zygmunt Bauman, a partir
do conceito de sociedade líquido-moderna. Pontua-se como elementos trazidos
pelo autor a crise institucional, o imperativo do movimento, o fracasso da
concepção moderna de progresso e a fragilidade vincular a partir da condição
de instabilidade vivenciada.
Palavras-chave: Contemporaneidade; Diagnóstico do Presente; Subjetividade;
Sociedade Líquido-Moderna.

Notes for a diagnosis of contemporary society


Abstract
The objective of this paper is to realize a brief analysis of contemporary
society. It is understood that each historical context builds an understanding of
the possibilities of action of individuals in the social network, which makes it
critical to understanding the hegemonic way of life to which we submitted and
maintain in our daily practices. To this end, we start with the analysis for the
present moment performed by Zygmunt Bauman, from the concept of liquid-
modern society. It is highlighted as evidence brought by the author the
institutional crisis, the imperative of the movement, the failure of the modern
conception of progress and weak link from the condition of instability
experienced.
Key words: Contemporary times; Diagnostic of the Present; Subjectivity;
Liquid-Modern Society

*
RAFAEL BIANCHI SILVA é doutorando em Educação (Unesp/Marília), psicólogo da
Secretaria da Assistência Social da Prefeitura de Londrina.

10
1. A Sociedade social distintas e, cabe insistir,
Contemporânea em Debate mutantes”. Porém, observa-se que cada
época e contextos social constrói formas
O objetivo desse texto é construir de
de vida que são disseminados ao longo
forma breve um diagnóstico da
da rede social de forma a ser possível
sociedade contemporânea de forma a
observar certos traços hegemônicos.
compreender as bases dos modos de
vida e consequentemente, da Esta formatação está pautada, ao mesmo
subjetividade presente no contexto tempo, ao que Bauman (2009a) chama
atual. Parte-se do pressuposto de que de “agenda de opções”, ou seja, o
cada momento histórico traz consigo espectro de alternativas que nos
elementos que apontam possibilidades oferecem ao longo da vida. Como
para a atuação dos indivíduos dentro da afirma o autor, “toda eleição implica
rede social, entendida como “[...] são ‘eleger entre’, e raras vezes quem elege
lugares de fluxo – de poder, de capital, pode decidir o conjunto de opções
de informação – processo que tem disponíveis (p.81). Porém, ainda há
substancialmente deixado de estar outro dispositivo de limitações
sujeito a limitações espaciais ou chamados de “código de eleição”.
temporais [...]” (BAUMAN, 2009a, Trata-se “[...] das regras que indicam ao
p.59). indivíduo porque deve preferir uma
Toda cultura deve transmitir um opção em detrimento de outras e quando
certo repertório de modos de a sua escolha tem sido acertada ou não”
experiência de si, e todo novo (p.81).
membro de uma cultura deve
aprender a ser pessoa em alguma Dessa forma, a partir disso, podemos
das modalidades incluídas nesse afirmar que cada sociedade constrói um
repertório. [portanto] em qualquer modelo hegemônico de vida, indicando
caso, é como se a educação, além possibilidades e restrições, e por outro
de construir e transmitir uma lado, necessita pensar em métodos para
experiência objetiva do mundo direcionamento dos sujeitos envolvidos
exterior, construísse e transmitisse
de forma a atingir os fins previamente
também a experiência que as
pessoas têm de si mesmas e dos
delimitados. Enquanto o primeiro ponto
outros como sujeitos (BUJES, remete a ideia de sociedade de
2002, p.167, grifo do autor). consumo, o segundo nos leva para a
discussão da sociedade de controle (que
Como bem afirma Gallo (2010, p.239, pelos limites desse trabalho, não serão
grifo nosso), “cada modo de produção, aqui discutidos em sua especificidade).
cada sistema de dominação, para se
perpetuar, busca ser, além de modo de O modelo societário ao qual estamos
produção de bens materiais, modo de envolvidos e auxiliamos em sua
produção de subjetividade”. manutenção implica transformações
Isso nos leva a ideia de modo de radicais no modo de organização social
subjetivação, ou seja, a forma com que seja nas chamadas relações de objeto ou
o sujeito tem de existir. Conforme entre as relações entre sujeitos. Isso se
indica Mansano (2009a, p.114), “[...] os deve a uma mudança na configuração
modos de subjetivação podem tomar as no próprio sistema capitalista que além
mais diferentes configurações, sendo de ser um sistema de produção, passa a
que estas cooperam para produzir ser um sistema de vendas e de mercado
formas de vida e formas de organização (DELEUZE, 1995).

11
Uma característica importante para a ser promovida. Isso se deve a partir da
compreensão do funcionamento social é estrutura de mercado que para manter-
o excesso, seja de objetos, tecnologias, se em funcionamento necessita de um
informações, mensagens e imagens. O duplo dispositivo. Primeiro, é
excesso oculta, ainda que necessário que existam pessoas que
momentaneamente, o que um olhar mais comprem os produtos que são ofertados
crítico e menos anestesiado pela e, mais do que isso, o divulguem
concepção de vida que defende a ideia enquanto bem a ser alcançado.
de abundância. Conforme afirmam Segundo, para que tais produtos sejam
Caniato e Nascimento (2010, p.28), concebidos, fabricados e distribuídos, é
“[...] o exagero produz a escassez: é fundamental a existência de uma
porque poucos têm demais que muitos quantidade de pessoas que “[...] em
sofrem com a falta; em outras palavras, busca de trabalho precisam ser
é o mesmo processo a produzir o adequadamente nutridas e saudáveis,
excesso que gera a privação”. acostumadas a um comportamento
disciplinado e possuidoras das
Por essa razão, tem-se a sensação,
habilidades exigidas pelas rotinas de
talvez mais do que nunca, que vivemos
trabalho dos empregos que procuram”
um momento de intenso malestar,
(p.15).
paradoxal pelo fato de que de que nosso
contexto oferta possibilidades de Para colocar em andamento tal caráter
prazeres instantâneos. Ao mesmo formativo são necessárias instituições
tempo, vincula-se a ideia de felicidade a que conferem ordem e disciplina e,
aquisição de objetos e a capacidade de dispositivos de controle disseminados
participar de grupos cada vez mais de maneira difusa na sociedade, gerando
restritos vinculados ao poder de compra, mudanças na formação humana e o que
ainda que existam opções cada vez mais entendemos sobre o que é ser sujeito no
acessíveis às diferentes camadas sociais contexto histórico vigente. A família e a
e o respectivo poder aquisitivo. escola são a porta de entrada para esse
Nesse sentido, encontramos uma nova modelo formativo e, para tanto, passam,
variável à questão da privação: não em um primeiro momento a discipliná-
apenas demarca a falta pelo excesso lo a tal modo de vida. Porém, como
(observada na relação diretamente consequência de tais procedimentos,
proporcional da aquisição de bens e encontramos a internalização da norma
sensação de que há sempre algo a mais e o assujeitamento em relação aos
que deve ser adquirido) como também códigos de conduta esperados ao
amplia a distância entre aqueles que indivíduo em formação.
detêm um poder aquisitivo capaz de
Em síntese, no contexto da sociedade de
adquirir uma ampla gama de produtos e
consumo, o controle passa a ser mais
serviços e aqueles que parecem estar
difuso e não centralizado; é interno e
fora de tais possibilidades, condição
não mais exterior e materializado em
própria derivada do modo de produção
um agente disciplinar. Formam-se
capitalista.
novas redes de controle não mais
Bauman (2008a) discute que a relação identificadas a um poder central, o que
vida e consumo com a seguinte gera uma mudança da posição esperada
premissa: somos, ao mesmo tempo, ao indivíduo a essa nova condição. “[...]
promotores das mercadorias que Vemos, assim, a construção de um
consumimos e a própria mercadoria a modo de subjetivação em que o

12
indivíduo, em larga medida, sai da Esse atravessamento interior mobiliza o
condição de obediente e dócil para indivíduo a atender às demandas
assumir a condição de “participante institucionais, desejando-as ao mesmo
ativo e responsável” em uma rede ampla tempo em que sofre as duras
e complexa de controle [...]” consequências de tal posicionamento.
(MANSANO, 2009b, p.46). Se o processo de formação para o
trabalho foi um dos imperativos da
Assim, mais do que um controle sociedade disciplinar moderna, o
exterior, a construção do que se é e do estabelecimento de uma sociedade
que se pretende ser, passa a ficar sob movida não pela produção, mas pelo
controle do próprio sujeito que modula consumo, necessita de outro tipo de
a proximidade ou não dos traços subjetividade. “É necessário ‘produzir’
esperados. Esse processo, de certa todo o tempo, e ao alto custo, novos
maneira, formata um estilo de vida que consumidores guiados pelo desejo. Em
precisa – quase imperativamente – ser efeito, na produção de consumidores se
próximo dos traços esperados pela consome uma parte intoleravelmente
sociedade em que este ser encontra-se substancial dos custos totais de
inserido. A manutenção de tais traços distribuição, distribuição e
deve ser continuamente analisada por comercialização [...]” (BAUMAN,
cada um dos membros de nossa 2008b, p.226).
sociedade, formando uma rede de
vigilância contínua, integrada e [...] estamos diante de um sujeito
permanente. que não é mais necessariamente
marcado pela disciplina, mas pelos
Assim, encontramos, de um lado, a signos, imagens e imperativos
sensação de intensa solidão e de outro, a publicitários, por meio dos quais ele
dificuldade de estar e permanecer em se inscreve no universo das
contextos que implicam contato e trocas mercadorias, acreditando ser
com diferentes, o que está intimamente possível “comprar” afeto, bem-
estar, autoestima, respeitabilidade,
ligado à sensação de medo, traço
enfim, atributos que em outros
disseminado no contexto societário tempos históricos eram acessíveis
vigente, que oferece a tais encontros por meios distintos, como os laços
sensações cada vez mais difusas e sociais, por exemplo (MANSANO,
ambivalentes quanto aos efeitos por eles 2009b, p.76).
causados.
A consequência direta de estar imerso
Para exemplificar tal mudança no modo nessa rede de controle e
de subjetivação presente dentro de interdependência entre os agentes
nossa lógica societária, Deleuze (1995, sociais é a sensação de fluidez. Têm-se
p.249-250) aponta para a passagem da a sensação de que se perdeu o ponto de
empresa moderna enquanto substituta referência ao qual os indivíduos
da fábrica, pontuando que na lógica seguiam ao longo de suas vidas
atual institui-se “[...] entre os indivíduos previsíveis e racionalmente
uma rivalidade interminável a um modo
disciplinadas. Como efeito subjetivo,
sano de competição com uma
Deleuze (1995, p.251) aponta que “[...]
motivação excelente que contrapõe um
o homem da disciplina era um produtor
indivíduo a outros e atravessa a cada um
descontínuo de energia, porém o
deles, dividindo-os interiormente [...]”.
homem do controle é ondulatório,

13
permanece em órbita, suspendido por exposição dos indivíduos aos caprichos
uma onda contínua”. dos mercados de mão-de-obra e de
mercadorias inspira e promove a divisão
Uma das formas de compreender tal
e não a unidade” (BAUMAN, 2007,
processo é através do conceito de
p.9).
“mundo líquido-moderno” desenvolvido
por Bauman em diversos momentos de Tal divisão é camuflada pela
sua obra, mas que neste artigo será “comunidade”, tomada na sua
analisado a partir de cinco pontos característica de ser um local
fundamentais discutidos pelo autor no pretensamente sem espaço sem
livro “Tempos Líquidos” (2007). É o conflitos, no qual é possível sentir-se
que veremos a seguir. em casa, sem riscos ou perigos. O
2. Sociedade Líquido- grande problema é que existe uma
Moderna diferença entre a comunidade real e
aquela desejada.
O primeiro traço característico da
sociedade contemporânea na proposta Há um preço a pagar pelo privilégio
de “viver em comunidade” — e ele
analítica de Bauman é a observação de
é pequeno e até invisível só
que as organizações sociais não enquanto a comunidade for um
conseguem manter a condição de sonho. O preço é pago em forma de
“rigidez”, ou seja, se dissolvem e se liberdade, também chamada
decompõem de forma rápida, muitas “autonomia”, “direito à auto-
vezes, não havendo tempo suficiente afirmação” e “à identidade” [...]
para o próprio estabelecimento dentro alcançar a comunidade, se isto
de sua nova configuração de mundo. ocorrer, poderá em breve significar
Como uma das consequências disso, perder a liberdade [...] (BAUMAN,
encontramos a a sensação vivida pelo 2003, p.10).
indivíduo de que seu projeto de vida Vemos um elemento importante sobre
deve ser tomado dentro de uma os laços humanos: eles não refletem a
dimensão privada, passível de variação segurança de tempos antigos. Por isso,
e flexibilidade ao longo do tempo. subjetivamente torna-se compreensível
Como derivação desse traço, a realização de sacrifícios pessoais em
encontramos o segundo ponto que prol da sensação de leveza que os rumos
consiste na separação entre um poder comunitários podem fornecer. Por outro
central e a dimensão política lado, a formação dos grupos
materializada na ausência de um comunitários também fornece as bases
controle político que seja capaz de para a construção de “guetos”, ou seja,
controlar as incertezas da vida, torna-se espaços de segregação da diferença,
por fim, menos relevantes a dinâmica da retroalimentando o processo de
vida comum. fragilidade dos laços sociais.
Terceiro ponto. Em decorrência da Por esta razão, Bauman (2009b, p.100)
perda de referência de um projeto aponta que a comunidade é “[...] a
coletivo, os vínculos sociais passam a última relíquia das antigas utopias da
ser constituídos pela concepção boa sociedade; denota o que sobra dos
fantasmática de “comunidade”. Os laços sonhos de uma vida melhor
humanos que se constituíam como rede compartilhada por vizinhos melhores,
de segurança são transformados em todos seguindo melhores regras de
razão de medo e incerteza. “A convívio [...]” e para mantê-la, ainda

14
que enquanto concepção ou fantasia, valor em si mesmo. Não se trata apenas
será necessário o desenvolvimento de de locomover-se, como também, ir
uma série de dispositivos de segurança e rápido. Assim, “progresso” não se trata
vigilância 24 horas “[...] para manter os mais do fim, mas sim, do próprio
estranhos fora dos muros e para caçar os processo de “progredir”, ou seja, ir em
vira-casacas em seu próprio meio” frente ainda que não se saiba muito bem
(BAUMAN, 2003, p.22). para onde ir.
Quarto ponto. Se os laços e as Aqui chegamos a um problema para
referências passam a ser locais e uma sociedade movimentada pela
difusos, vemos uma mudança ordem e previsibilidade: os sinais que
significativa na própria noção de indicavam a trilha parecem estar meio
História que ganha uma dimensão de difusos. Por essa razão, “a marcha deve
curto prazo e uma concepção seguir adiante porque qualquer ponto de
fragmentária. Ao longo do século XX, chegada não passa de uma estação
as experiências de vida foram temporária [...]” (BAUMAN, 1999b,
progressivamente perdendo o sentido p.18).
social já que não garantem utilidade
enquanto suporte à reflexão sobre os Em nosso modelo societário, a
possíveis problemas futuros. velocidade do consumo dita a
velocidade da vida. Como afirma Lasch
Como bem indica Bauman (2009b, (1990, p.22), “[...] as mercadorias são
p.119), “[...] a modernidade é o tempo produzidas para o consumo imediato
em que o tempo tem história”. A lógica [...]. Elas se desgastam mesmo quando
racionalizada defendeu a ideia de que não são utilizadas, uma vez que foram
esse tempo possuía uma lógica projetadas para ser ultrapassadas por
seqüencial e, portanto, dentro dos ‘novos e aperfeiçoados’ produtos,
parâmetros da ciência moderna, movida modas mutáveis e inovações
pela relação causa-efeito. “Era a tecnológicas”.
rotinização do tempo que mantinha o
lugar como um todo compacto e sujeito A cada novo passo tem-se a sensação de
a uma lógica homogênea [...]” que é necessário refazer o caminho de
(BAUMAN, 2009b, p.124). aprendizagem do processo. Construímos
uma cultura do esquecimento, na qual,
No contexto moderno, o “progresso” foi abandonar “[...] informações defasadas
visto como possuindo uma intima e o rápido envelhecimento de hábitos
relação com o controle: seja de pode ser mais importante para o
processos, seja de pessoas. Controlar a próximo sucesso do que a memorização
produção, controlar os movimentos, de lances do passado [...]” (BAUMAN,
tornar o espaço previsível. Ao mesmo 2007, p.9). O ritmo da velocidade é
tempo, tal ideal trazia consigo a ideia de proporcional a intensidade do
liberdade: quanto maior o saber acerca esquecimento, sendo a lentidão é
dos processos, maior o grau de entendida como morte social, ou seja, é
manipulação dos eventos esvaziada de sentido.
incompreensíveis da vida, o que geraria
potencialmente maior liberdade. Quinto ponto e último ponto. O
“progresso” torna-se sinônimo de
O problema é que a novidade entendida dúvida e incerteza. Se as esferas do
como motor para um pretenso progresso Estado, da História, dos laços sociais
passa a ser vista como portador de um não podem garantir um rumo certo para

15
a felicidade e bem-estar a vida social, caminhos percorridos pela subjetividade
cabe então aos próprios indivíduos se humana.
responsabilizarem em resolver os
Ao mesmo tempo, em contextos de
dilemas gerados por circunstâncias
fragilidade vincular, vemos como
voláteis e constantemente instáveis em
necessário o desenvolvimento da
que são inseridos nas relações
capacidade de tomar os encontros
cotidianas.
enquanto lugares de enfrentamento de
uma lógica homogeneizantes, que
Passamos a desenvolver tecnologias
dificulta o exercício da alteridade e das
para estruturar o caos, o imprevisto.
trocas elementos presentes na relação
Somos, então, formados subjetivamente
com o outro.
para fugir ao incerto e a qualquer sinal,
nos deparar com o medo. O nascimento Considera-se assim, a construção de
da cidade moderna, dentro dessa lógica, espaços no qual seja possível pensar os
tem como função primeira o elementos por nós aqui indicados de
afastamento dos traços incertos a partir forma a potencializar novas
da manipulação dos agentes configurações vinculares capazes de
naturalmente condicionantes daquela oferecer modos do reconhecimento
realidade. como sujeito a partir da inclusão e
participação de outros, construindo um
Mas como nos afastar, se é próprio da lugar aonde sejam discutidos questões
realidade resistir às formalizações que a comuns, favorecendo a reflexão
estruturam dentro de certa previsão e analítica do mundo a nossa volta.
controle? Um dos caminhos de resposta
Dessa forma, a análise da
nos aponta ao imperativo de flutuação
contemporaneidade acaba por
indicado anteriormente somado agora
potencializar a construção de novas
com a questão do medo. Como aponta
práticas no campo psicológico de forma
Bauman (2009b, p.13) “[...] os sólidos
a ampliar as possibilidades de atuação a
são modelados apenas uma vez. Manter
partir das demandas atuais a nós
a forma dos fluídos requer muitíssima
endereçadas. Espera-se que assim, seja
atenção, vigilância constante e um
possível minimizar os efeitos nocivos
esforço perpétuo...e inclusive nesse caso
de nosso modelo societário de forma a
o êxito não é, nem muito menos,
favorecer sobrevivência da própria
previsível”.
sociedade pela construção em conjunto
3. Considerações finais da arte do bem viver.

O caminho percorrido neste artigo


Referências:
buscou pontuar algumas características
referentes à sociedade contemporânea. BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca
por segurança no mundo atual. Rio de
Consideramos que tal análise é Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
fundamental para compreendermos
melhor os caminhos vivenciados pelos _______. Tempos Liquidos. Rio de Janeiro:
Zahar, 2007.
sujeitos na relação com o mundo e com
os outros, fundamento para a _______. Vida para Consumo: A
constituição subjetiva. Vimos que tal Transformação das Pessoas em Mercadorias.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008a.
contexto, pautado pela necessidade de
manutenção em movimento, coloca-nos _______. En Busca de la Politica. Buenos
Aires: Fondo de Cultura Economica, 2009a.
desafios para o entendimento dos

16
_______. Modernidad Líquida. Buenos Aires: GALLO, Silvio. Educação: entre a subjetivação
Fondo de Cultura Económica: 2009b e a singularidade. Educação, Santa Maria, v.
35, n. 1, p. 229-244, maio/ago. 2010.
_______. Amor Líquido: Acerca de la
Fragilidad de los Vínculos Humanos. Buenos MANSANO, Sonia Regina Vargas. Sujeito,
Aires: Fondo de Cultura Econômica, 2009c. subjetividade e modos de subjetivação na
contemporaneidade. Revista de Psicologia da
BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Governando a
UNESP, v. 8, p. 110-117, 2009a.
subjetividade: a constituição do sujeito infantil
no RCN/EI. Pro-Posições (Unicamp), _______. Sorria, Você Está Sendo
Campinas (SP), v. 13, p. 163-175, 2002. Controlado: Resistência e Poder na Sociedade
de Controle. São Paulo: Summus Editorial,
DELEUZE, Giles. Conversaciones (1972–
2009b.
1990). Versão E-Book. Éditions de Minuit,
París, 1995.

17

Você também pode gostar