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FACULDADE MAURICIO DE NASSAU

CURSO ENGENHARIA CIVIL


DISCIPLINA: FUNDAMENTOS DA GEOLOGIA
PROF. DR. IDNEY CAVALCANTI DA SILVA
INTEMPERISMO DAS ROCHAS E FORMAÇÃO DOS SOLOS - AULA 05
INTRODUÇÃO

Ao longo da história o solo tem sido um elemento bastante familiar ao homem, que dele
sempre dependeu para satisfazer as suas necessidades básicas de locomoção, abrigo e
alimentação. Assim, os conceitos de solo são quase tão variados quanto as atividades
humanas que nele se desenvolvem. Quando o homem estava no estágio de caçador não
tinha por que cogitar a natureza do solo. No fim do século XVIII e começo do século XIX, os
geólogos deram atenção ao solo como produto do intemperismo de rocha.
Em 1880, na Rússia, Dokuchaeu revolucionou a concepção dos solos, pois reconheceu que a
gênese dos solos, a complexa interação de inúmeros fatores além da rocha originária,
incluindo tambémo clima, os organismos, a topografia e o tempo transcorrido sob a ação
desses fatores. Entretanto, não chegou-se ao entendimento atual do perfil do solo, e do
relacionamento entre seus horizontes ou camadas horizontais diferenciadas. Siristeu (1867-
1927) modificou as classes e introduziu o conceito de solos zonais e posteriormente ( 1927 )
Marbust ( Apud. Popp,1988 ) deu desenvolvimento à classificação chamada americana,
reformulada em 1938 e 1945.
Importante também são as informações de Jenny ( 1941), que considera o relevo como um
dos fatores de formação do solo, além do clima, material de origem, organismos e tempo,
ou seja, o solo resultou da ação do clima e dos organismos sobre o material de origem, no
relevo, durante um determinado tempo. Na nossa concepção, nada de novo, pois é igual a
tese de Dokuchaeu, existindo hoje várias classificações: americana, russa e francesa. Assim é
que dentro deste contexto, no Brasil, utilizou-se os estudos dos solos através da
metodologia americana e francesa por várias anos, até que em 2000 num esforço conjunto
da EMBRAPA e de Universidades foi publicado o estudo dos nossos solos.

FATORES DE FORMAÇÃO DO SOLO (PEDOGÊNESE)

O solo como conhecemos é resultado da ação do clima, da biosfera e do relevo na rocha


mãe (protólito) ao longo do tempo decorrido. A origem do material que forma o solo pode
ser proveniente de rochas ígneas, metamórficas ou sedimentares. O relevo pode influenciar
de forma significativa, no transporte e deposição das partículas, assim como no próprio
desgaste ou intemperísmo da rocha, pois define a área da superfície de contato da mesma
com o meio ambiente. O relevo acaba por influenciar na zona de exportação, na remoção e
transporte do material, na zona de passagem e na zona de acúmulos.
O clima atua com a variação de temperatura, uma das responsáveis pelo intemperísmo físico;
com a precipitação pluviométrica e consequente atuação do escoamento superficial e
contato dos minerais que constituem a rocha com a água, o que possibilita uma série de
reações químicas que acarretam no íntemperísmo da rocha; com o vento, que além do
transporte do material, ajuda a promover o desgaste da rocha com o atrito da superfície da
mesma com partículas menores levadas pelo vento e o polimento dos grãos desagregados,
influenciando no arredondamento e esferacidade dos mesmos.
Os organismos vivos influenciam nas reações bioquímicas que causam o intemperísmo. Da
mesma forma, a cobertura vegetal, além de influenciar nas reações bioquímicas, atuam
diretamente no retardo ou aceleração das ações erosivas no solo e até mesmo na
desagregação física promovida pelas raízes das plantas. Por fim o tempo marca os estágios
dos processos e está diretamente ligado a maturidade do solo, ou seja, a quantidade de
horizontes formados.
Em síntese: O solo é um indivíduo tridimensional e independente da paisagem. Representa
ele a resultante da ação ativa do clima e
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dos organismos sobre o material de origem, durante determinado espaço de tempo em
determinado relevo.
O solo é tridimensional, pois possui volume dado pelas duas dimensões superficiais, que lhe
conferem uma área superficial, e por uma dimensão vertical, que lhe confere profundidade.
Este volume é limitado acima pela atmosfera, lateralmente por áreas geladas, rochosas,
águas profundas, enfim por tudo que não constitua solo, e, abaixo, estende-se até um limite
ainda não estabelecido precisamente, sobre o qual há muita polêmica. Consideraremos a
rocha consolidada como limite inferior do solo.
Os solos além de volume, apresentam também anisotropia, isto é, suas propriedades físicas,
químicas e mineralógicas, assim como suas características morfológicas, não são idênticas
em todas as direções, fatos esses que se traduzem no aparecimento dos vários horizontes
componentes dos perfis dos solos – anisotropia vertical e na existência de solos diferentes
entre si – anisotropia horizontal.
Apesar dessa individualização, os solos não se apresentam como entidades discretas na
paisagem, claramente separadas umas das outras, como entre as espécies animais e
vegetais, mas sim transicionando, entre si, gradativamente, sendo raramente encontrados
limites abruptos entre eles. Assim, apresentam-se formando um contínuo na paisagem,
onde diferentes solos, apesar da individualidade, apresentam algumas características iguais
ou muito semelhantes, entre si. Isso possibilita agrupa-los em classes homogêneas segundo
determinadas características e, portanto, ordena-los de acordo com normas elaboradas, que
possibilitam a classificação.
Em resumo, o solo do ponto de vista pedológico, é considerado como um sistema disperso
constituído ao longo do seu perfil, de três fases: sólida, líquida e gasosa. A fase sólida é
pouco variável, enquanto as fases líquida e gasosa variam constantemente, de acordo com
as interferências atmosféricas. As fases líquidas e gasosa ocupam os poros do sistema
disperso que constitui o solo, compondo assim a sua porosidade total, e são essencialmente
interdependentes, variando sempre em função inversa uma da outra.

INTEMPERÍSMO

A porção externa e superficial da crosta é formada por vários tipos de corpos rochosos que
constituem o manto rochoso. Estas rochas estão sujeitas a condições que alteram a sua
forma física e composição química. Onde os fatores responsáveis pela alteração, ou seja
meteorização, são provocados por agentes de ordem física, química e biológica, agindo
isoladamente ou em associação.
Duas fases são importantes no processo de meteorização, a física e a química, que são a
desintegração e a decomposição, respectivamente. A desintegração é a ruptura das rochas
inicialmente em fendas, progredindo para partículas de tamanho menores sem no entanto,
haver mudança na composição. Já a química poderemos destacar os seguintes aspectos:
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Hidrólise
Os íons da água combinam-se com os compostos, formando novas substâncias.
Ex. Feldspatos são pouco estáveis e sofrem a ação desse ataque.

Hidratação
Certos minerais podem adicionar moléculas de água à sua composição formando novos
compostos. Como conseqüência, os minerais têm os seus volumes aumentados.

Oxidação
Os minerais se decompõem pela ação oxidante do O2 e do CO2.

Ex. Minerais que possuem íons de Fe+3 ( Pirita, Micas e Olivinas ). Quando a Pirita é oxidada,
o Fe+2 passa a Fe+3 forma Limonita liberando enxofre que combinando com água produz
ácido sulfúrico.

Carbonatação
É um processo de decomposição por CO2 , contido na água ( colóides ) forma pequena
quantidade de ácido carbônico. Exemplo:

CALCÁRIOS, DOLOMITOS, GIPSO, FELDSPATOS, MICAS etc. SÃO SUSCEPTÍVEIS DE


LIXIVIAÇÃO.
Quando o CO2 escapar, o bicarbonato de cálcio precipita formando os grandes depósitos de
rochas ( calcita, dolomitas, gipsitas etc ) e em particular as estruturas das cavernas calcáreas.

PERFIL DO SOLO

Conforme as rochas se intemperizam, os horizontes ou as camadas se diferenciam entre si. A


parte superior, mais intemperizada do perfil do solo, corresponde aos horizontes A+B, e
denomina-se sólum. Regolito é o matéria inconsolidado de rochas intemperizadas, de
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qualquer material de origem, que recobre extensas áreas da superfície terrestre. Veja o
esquema a seguir:

O perfil de solo é o conjunto de horizontes e/ou camadas no sentido vertical, desde a


superfície até o material de origem ( rocha matriz ).

CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DOS SOLOS

Em 1999 a EMBRAPA publicou o Sistema Brasileiro de Classificação de Solo, estruturado em


6 níveis, definidos num mesmo nível de generalização ou abstração.
No 1º Nível ocorrem 14 Ordens: Alissolos, Argissoos, Cambissoos, Chernossolos,
Espodossolos, Gleissolos, Latossolos, Luvissolos, Neossolos, Nitossolos, Organossolos,
Planossolos, Plintossolos, Vertissolos.

No 2º Nível ocorrem as Subordens que contemplam a coloração do horizonte subsuperficial,


onde adjetiva-se o matiz do solo no estado úmido de:
Vermelho – 10R ou 2,5YR
Vermelho-amarelo – 5YR
Amarelo – 7,5YR ou 10YR

No 3º Nível ocorrem os Grandes Grupos, que consideram a condição química subsuperficial


( eutrófico, distrófico, ácrico e aumínico ).

No 4o Nível ocorrem os Subgrupos - identificam solos intermediários ou típicos.

No 5º Nível a Família – leva em consideração a condição química ( saturação por bases,


saturação por alumínio, o caráter aniônico, o carácter alofânico, as casses de reação do sôo
e o teor de ferro não contempado anteriormente), a condição física (distribuição de cascalho
e concentrações no perfil, a constituição esquelética do solo, a profundidade dos horizontes
A + B e adensamento), a mineralogia (tipo de horizonte A).

No 6º Nível a Série – são considerados os dados químicos (matéria orgânica, trofismo), os


dado morfológicos ( textura, estrutura, cor, consistência ) e os dados granulométricos
( textura ).
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Tabela – Elementos formativos dos solos e seus significados

Quanto à constituição da fase sólida, o solo pode ser denominado de orgânico ou mineral.
ORGÂNICO: < 20% de matéria orgânica, sendo 11,5% de carbono total.
MINERAL: > 20% de matéria orgânica e menos de 11,5% de carbono total.

FRAÇÕES DO SOLO

Partículas unitárias e maiores de 0,20 mm de diâmetro é chamada de esqueleto do solo.

FRAGMENTOS
A) Matacões - maior que 200 mm de diâmetro.
B) Calhaus – entre 200 e 20 mm de diâmetro
C) Cascalhos – entre 20 e 2 mm de diâmetro
Para caracterizar a textura do solo, considera-se a terra fina seca ao ar (TFSA), que passa na
peneira de 2,0 mm.

ESCALAS DE FRAÇÕES DO SOLO


As mais importantes são a do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Escala
Americana ) e a de Atterberg ( Escala Internacional ).
Limite superior – 2,00 a 0,20 mm
(areia grassa)
Limite intermediário – 0,20 a 0,02
mm (areia fina)
Limite intermediário – 0,02 a 0,002
(limo ou silte)
Limite final - < 0,0022 (argila)

ATIVIDADES DAS PARTÍCULAS DO SOLO

A grande maioria das reações que se processam no sistema água-solo-planta são fenômenos
de superfície, dependentes das partículas existentes no solo. Assim sendo:
Areia – partículas inativas no solo.
Limo – já apresenta certa atividade de superfície.
Argila – é a parte ativa do solo, é a sede dos fenômenos físico químicos.
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A quantidade e o tamanho das partículas distribuídas no solo diferem a sua textura que é
uma característica praticamente estável.O arranjo dessas partículas no solo, em agregados,
sob diferentes formas, tamanho e grau de desenvolvimento, difere a sua estrutura, que é
uma característica instável.

TEXTURA DO SOLO

É feita de dois modos:


Análise textural realizada em laboratório
Testes de campo, através do tato (inconveniente).

ESTRUTURA DO SOLO

O tipo de estrutura do solo é determinado pela forma e arranjamento que apresentam os


agregados ou elementos estruturais:
Quatro são os tipos fundamentais: laminar, prismática, colunar, blocos angulares, blocos
sub-angulares e granular.

Em classificação de solos é comum a existência de uma adjetivação nome do solo, quanto a


sua riqueza ou pobreza em nutrientes ou, pelo menos que dê uma idéia sobre sua fertilidade.
As expressões usadas são: distrófico, eutrófico, ácrico, alumínico.

CÁLCULOS ANALÍTICOSINTERPRETAÇÕES

Soma de bases ( SB )
É a soma de cálcio ( Ca2+ ) , magnésio (Mg2+), potássio ( K+ ) e sódio ( Na+ ).

CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS (CTC)


É a soma de bases ( SB ) + alumínio ( Al3+ ) + hidrogênio ( H+ ) a pH 7 ( CTC ou T)

GRAU DE SATURAÇÃO DE BASES ( V )


Divisão do SB pela CTC
A interpretação do índice V é importante porque, conforme o valor, o solo pode ser
eutrófico ou distróico.

SATURAÇÃO POR ALUMÍNIO ( m )


Quando elevada, e ao mesmo tempo é alto o teor de Al3+ extraível, atesta o caráter
alumínico.
m = Al3+ SB + Al3+ x 100

RETENÇÃO DE CÁTIONS ( RC )
A retenção de cátions ( RC ), se for 1,5 cmolc/kg de argila e ao mesmo tempo o valor de pH
KCl > 5, ou o pH positivo ou nulo, certifica o caráter ácrico, e é assim definida:
RC = SB + Al3+ % de argila x 100

É de grande importância relembrar que os termos eutrófico, distrófico, alumínico e ácrico


são relativos ao horizonte diagnóstico de subsuperficie B ou, na ausênia, ao horizonte C; ou
no horizonte A nos Neossolos Litólicos ou Regoíticos.
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DISTRÓFICO
Em uma amostra de solo, os cátions de Alumínio e Hidrogênio são maiores que a soma das
bases (Cálcio, Magnésio, Potássio e Sódio). Sendo que o Alumínio ocupa menos de 50% da
capacidade de troca.

EUTRÓFICO
Em uma amostra de solo, os cátions de Cálcio, Magnésio, Potássio e Sódio (bases) ocupam
mais de 50% da capacidade de troca.

( 1 ) Para ser ácrico há necessidade do valor de retenção de cátions ser 1,5 Cmolc
kg-1 de argila e ser atendida pelo menos uma dessas condições: pH KCl ( 1 N ) 5, ou
ainda se pH for positivo ou nulo.

A Condutividade elétrica do extrato de saturação, tradicionalmente expressa em


mmhos/cm, com a adoção do SI, a condutividade elétrica passou a ser expressa em
Siemens por metro ( S/m ). Contudo, a magnitude do valor não foi alterada, ou seja,
mmhos/cm=mS/cm=dS/m.

A Tabela a seguir, quanto a salinidade e sodicidade dos solos, os limites de classes


apresentados servem apenas de referência, já que há diferenças no comportamento
das culturas com relação à acidez, à salinidade e a disponibilidade de nutrientes.

Para acidez, adotam-se as seguintes classes de interpretação do pH em água.

Tabela . Classes de interpretação para pH em H2 O.


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EXERCÍCIOS

1. Quais os fatores de formação dos solos? Como cada um deles influencia?

2. De que o solo é constituído? Quais as fases e como elas são distribuídas no sistema
disperso?

3. Descreva possíveis horizontes de um solo com suas particularidades texturais e


composicionais.

4. Elabore o check list para classificação dos solos a partir do conteúdo estudado. (Ponto
Extra)

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