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Vozes da Literatura

Brasileira
Um Diálogo Essencial
Material Teórico
Literatura e sociedade brasileiras: onde uma começa,
onde outra termina?

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Malu Rangel

Revisão Técnica:
Profa. Dra. Geovana Gentili

Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
Literatura e sociedade brasileiras: um
percurso de formação

• O que é literatura? Para que existe a literatura?

Nesta unidade, estudaremos o modo como se conectam a sociedade


de um país e a literatura que nele é produzida. Como os autores
apreendem o país de sua época, como traduzem a realidade em que
vivem? Como tal entendimento está formalizado em suas obras?
Veremos alguns aspectos do contexto histórico e cultural em que
as obras são produzidas, buscando entender como as estruturas
sociais se refletem nessa produção artística e como se forma, em
suma, a literatura de uma nação.

Para que você possa apreender de modo adequado o conteúdo desta disciplina, é muito importante
realizar o seguinte percurso:

a) Leitura da contextualização;

b) Leitura do material teórico (esta leitura deve ser feita várias vezes destacando os principais conceitos
ou as definições contidas no texto, bem como procurando compreendê-las por meio dos exemplos);

c) Realização da atividade de sistematização;

d) Consulta o material complementar fornecido e/ou visita os sites sugeridos;

e) Leitura da bibliografia da unidade, especialmente a que se encontra na biblioteca virtual da


Universidade;

f) Contato com o tutor para esclarecer dúvidas ou mesmo expor suas ideias a respeito do assunto.
Lembre-se, você está seguindo uma disciplina na modalidade a distância, mas isso não significa
estar sozinho nesse processo: o diálogo é a forma mais produtiva de ensino e de aprendizagem. É
preciso compreender, ainda, que o estudo deve ir além dos conteúdos disponibilizados nos textos da
unidade. A melhor forma de fazer isso é consultar a bibliografia indicada.

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Unidade: Literatura e sociedade brasileiras: um percurso de formação

Contextualização

“O Brasil não é para principiantes”. Lendária ou não, a frase atribuída ao músico e compositor
Tom Jobim (1927 – 1993) – ele mesmo, por sinal, um dos mais sensíveis artistas que procurou
entender o país em sua obra – dá ideia do tamanho do problema crítico que é interpretar o
Brasil; ou, em outras palavras, apreender a realidade brasileira, com suas múltiplas faces, com
suas disparidades sociais e históricas, com sua posição periférica no cenário mundial (tanto
econômico como cultural), não é fácil.
Traduzir esta realidade (ou estas realidades), então, é uma tarefa para poucos. Como fazer
para que o poético, a singeleza, as belezas, a marginalidade, a pobreza, o atraso (que não se
contrapõem, mas se misturam em nosso cotidiano) resultem em obras artísticas? Ou, no caminho
inverso, que obras artísticas lancem luz sobre o tempo histórico em que são produzidas?
Nesta primeira unidade, vamos justamente tentar pontuar tais questões, focando nossa
atenção na literatura que foi – e é – produzida no Brasil. Qual o seu percurso de formação?
O que tal percurso revela da realidade em que foi elaborado? O que escapa a ele? É possível,
enfim, nos dias de hoje, pensar em obras literárias que condensem imagens e certezas do que é
nosso país? Ou elas mostram justamente as fraturas do nosso cotidiano?
Há muitas perguntas. Prepare-se, então, pois vamos tentar respondê-las!

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O que é literatura? Para que existe a literatura?

Ser capaz de responder a estas perguntas, vocês devem imaginar, tirou o sono de muitos
autores, críticos e filósofos – sem medo de generalizar, poderíamos dizer que isso aconteceu desde
Aristóteles até os pensadores da atualidade. Afinal, o que é a Poética se não, majoritariamente,
uma tentativa de entender minuciosamente a arte e a literatura de seu tempo?

A Poética, provavelmente registrada entre os anos 335 a.C. e 323 Figura 1: Aristóteles
a.C., é um conjunto de anotações das aulas de Aristóteles sobre
o tema da poesia e da arte em sua época, pertencentes aos seus
escritos acroamáticos (para serem transmitidos oralmente aos seus
alunos) ou esotéricos (textos para iniciados).
Tais cadernos de anotações serviam de guia para o professor Aristóteles,
com temas destinados a ser desenvolvidos em suas aulas. Praticamente
tudo que se conservou de Aristóteles faz parte das obras acroamáticas.
A Poética é o primeiro escrito conhecido que especificamente busca
analisar determinadas formas da arte e da literatura, sendo também um
registro de como era a arte grega em seu tempo. Fonte: Wikimedia commons

O interessante é, como veremos ao longo desta unidade, que tal tentativa de entendimento se
desdobra em outras questões e problemas que, se não explicam totalmente o que é a literatura,
e o motivo de ela existir, acabam por mapear nada menos do que a função da arte tanto no que
concerne ao indivíduo quanto ao meio social e histórico em que ele vive.

Figura 2: Walter Benjamin Walter Benedix Schönflies Benjamin (1892-1940) nasceu em


uma família judaica, filho de Emil Benjamin e Paula Schönflies
Benjamin, comerciantes. Na adolescência, participou do
Movimento da Juventude Livre Alemã, de tendência socialista.
Em 1915, conheceu o filósofo e historiador Gerschom Gerhard
Scholem, de quem se tornou grande amigo. Após estudar
filosofia na Universidade Freiburg im Breisgau, doutorou-se
pela Universidade Bern, em 1919, com a tese O conceito de
crítica de arte no romantismo alemão. Com a ascensão
do Nazismo, Benjamin, já abalado por dificuldades materiais,
exilou-se em Paris, em 1935. Com a invasão da França pelos
alemães nazistas, em 1940, Benjamin juntou-se a um grupo de
refugiados que tentava fugir pelos Pireneus. Detido na fronteira
Fonte: Wikimedia commons
pela polícia espanhola, que ameaçou entregar o grupo à Gestapo,
Benjamin suicidou-se. No dia seguinte à sua morte, contudo, as
autoridades permitiram a passagem do grupo.

Walter Benjamin viveu e produziu grande parte de sua obra no período entre as duas Grandes
Guerras Mundiais, estudou como a arte, em suas mais diversas representações – e, especificamente,

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Unidade: Literatura e sociedade brasileiras: um percurso de formação

com interesse muito especial por parte do filósofo, a literatura – era capaz de mostrar tanto
como a sociedade já não era mais capaz de fornecer narratividades, memórias e anseios que se
transformassem em experiências, salvando os indivíduos do mecanicismo do mundo capitalista que
se anunciava, como de, revelar, ela mesma, a própria literatura, certa reconstrução que salvaria a
sociedade da desagregação e do esfacelamento.

Walter Benjamin é considerado um dos mais importantes pensadores modernos.


Em vida, seus escritos não alcançaram repercussão, embora ele já fosse respeitado
em alguns círculos, conseguindo o estímulo decisivo de filósofos como Ernst Bloch
e Theodor W. Adorno. Adorno, aliás, responsável pela edição póstuma das obras
de Benjamin, considerou-o antes de tudo como um filósofo que teria tentado
subtrair-se ao pensamento classificatório, filosofando contra a filosofia. Entre seus
ensaios destacam-se “As afinidades eletivas de Goethe”, “Sobre alguns temas em
Baudelaire”, “Teses sobre a filosofia da história”, “Paris, capital do século 19” e “A
obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”.

Vamos ler um pouco as palavras deste pensador, cujos textos, escritos em meados dos anos
1930, continuam muito atuais, e certamente nos ajudarão na tentativa de responder as duas
perguntas que fizemos lá no início.

Em uma de suas belas passagens sobre a importância da literatura contra a ferocidade do


capitalismo, Benjamin fala sobre o escritor francês Marcel Proust (1871-1922). Segundo o crítico
alemão, Proust, em suas famosas memórias, que são a base da obra Em busca do tempo
perdido, não faz simplesmente relembrar os acontecimentos, “mas subtraí-los às contingências
do tempo em uma metáfora”.

Façamos uma pausa aqui. Vamos com calma, pois o assunto é difícil! Seguindo o pensamento
de Benjamin (e não vamos nos esquecer da tentativa de entender a importância da literatura!),
Proust não apenas escreveu memórias, mas intentou uma busca: ele buscou as analogias e
as semelhanças entre o passado e o presente. Assim, seus livros não trazem uma volta ao
passado, mas a presença do passado no presente e, por conta disso, o presente em si mesmo
reconfigurado. Essa busca do narrador acaba, assim, ficando mais forte do que o próprio tempo
– e por isso, mais do que lembrar ou evocar o passado, vai além da temporalidade e a transforma
em metáfora, em matéria literária. Releia agora, depois dessa explicação, a frase do filósofo
que destacamos acima: Proust não só relembra os acontecimentos, o que faz é subtraí-los às
contingências do tempo em uma metáfora. Está justamente aí um dos poderes da literatura: o
que mais poderia ir além do próprio tempo?

Vale a pena lermos um pouco mais do que Walter Benjamin escreveu sobre Marcel Proust. O
trecho, a seguir, é de um ensaio de 1929, intitulado A imagem de Proust.

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Marcel Proust nasceu no bairro de Auteil, em Paris, a 10 de julho Figura 3: Marcel Proust
de 1871, em meio aos bombardeios da guerra franco-prussiana.
Seu pai, Louis Proust, era um grande cirurgião e professor de
medicina, e sua mãe, Jane Weil, era de uma família burguesa judia
parisiense. Criança de saúde frágil, Marcel estudou primeiramente
no Liceu Condorcet, frequentado por filhos de famílias ricas. Aos
nove anos, manifestou a doença que o perturbaria até a morte:
a asma. Fez um ano de serviço militar, chegou a se matricular na
Escola de Direito e na Escola de Ciências Políticas, mas acabou
por se licenciar em Letras na Sorbonne. Em 1895, trabalhou
como voluntário na Biblioteca Mazzarine (a mais antiga biblioteca
pública da França). No início da década de 1890, flertou com o
jornalismo, fundando a revista Le Banquet e publicando alguns
textos em outros periódicos, como La revue blanche. Fonte: Wikimedia commons

Os primeiros textos de Proust – pequenos relatos e poemas em prosa – foram reunidos


com prefácio de Anatole France sob o título de Les plaisirs et le jours (O prazer
e os dias), em 1896, e lhe valeram a reputação de ser um escritor “mundano”. Em
1895, Proust iniciou, sem no entanto terminar, um vasto romance autobiográfico,
Jean Santeuil (publicado postumamente, em 1952), considerado um esboço
daquela que seria sua grande obra, À la recherche du temps perdu (Em busca do
tempo perdido).

A morte do seu pai, em 1903, fez tornar-se mais assídua a presença de Proust nos círculos da
sociedade parisiense; já a da sua mãe, em 1905, fê-lo afastar-se das atividades sociais. Ambas
perdas foram cruciais na vida do escritor. Após uma temporada em uma casa de saúde, devido
sobretudo às crises asmáticas que lhe obrigavam a uma quase total reclusão, Proust instalou-
se no apartamento dos pais, no Boulevard Haussmann, onde mandou preparar o seu famoso
quarto com paredes revestidas de cortiça para reduzir a propagação de ruídos.
Os esboços do que viria a ser Em busca do tempo perdido se multiplicaram. Em 1908,
ele redigiu as páginas que seriam o verdadeiro início do romance, embora ainda hesitasse
quanto à forma a ser dada ao projeto. A partir de 1909, ele projetou o início e o fim do livro: o
último capítulo do último volume foi escrito imediatamente após o primeiro capítulo do primeiro
volume. Tudo o que há no meio foi escrito depois.

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Unidade: Literatura e sociedade brasileiras: um percurso de formação

Em 1912, ele tentou, novamente, ser publicado. Tinha setecentas páginas datilografadas, intituladas
Le temps perdu (O tempo perdido), que representavam, aos seus olhos, metade do ciclo romanesco.
Três editoras francesas, entre as quais a reputadíssima Gallimard, cujo editor era então o também
escritor André Gide, recusaram o romance, até que Bernard Grasset o aceitou, mas somente se
pudesse ser custeado pelo próprio autor. Nessa época, Proust vivia acontecimentos que perturbariam
a sequência do romance e fariam nascer o “ciclo de Albertine” (ou seja, A prisioneira e A fugitiva -
Albertine desaparecida, introduzidos por Sodoma e Gomorra), um bom terço de Em busca do
tempo perdido que não estava previsto inicialmente. Trata-se da morte acidental, no verão de 1913,
de Alfred Agostinelli, que partilhava do apartamento de Proust na qualidade de motorista e que fizera
nascer no escritor um intenso ciúme – sentimento esse que seria explorado em vários pontos de Em
busca do tempo perdido, e mais especificamente, na parte intitulada No caminho de Swann.

A editora Gallimard, reconhecendo seu erro de avaliação, convenceu Proust a abandonar


seu primeiro editor e recomprou os direitos para publicar No caminho de Swann, assim como
À sombra das raparigas em flor, que foi impresso durante o armistício e colocado à venda
em junho de 1919. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) deu sua contribuição à literatura
e mais especificamente ao livro de Proust: durante o decorrer do conflito, o lado cômico e
romanesco, às vezes até mesmo rocambolesco, foi muito desenvolvido, e a homossexualidade
tornou-se um dos assuntos principais do livro.
Proust tornou-se um escritor conhecido e reconhecido, sobretudo depois que À sombra das
raparigas em flor ganhou o prêmio Goncourt, em novembro de 1919. Seus últimos anos de
vida foram de intensa luta contra a doença e contra a ameaça de morte. Mas ele não abandonou
suas febris atividades boêmias e literárias, publicando ainda Pastiches et mélanges (1919),
que reúne textos e prefácios. Proust foi nomeado Cavalheiro da Legião da Honra e chegou a
pensar na Academia Francesa de Letras, enquanto uma nova geração de escritores o admirava
como um grande mestre: Jean Cocteau, Jean Giraudoux, François Mauriac, entre outros. Ele
queria publicar de uma só vez todo o restante de Em busca do tempo perdido, mas O
caminho de Guermantes, o terceiro dos sete volumes, foi publicado em duas partes em
1920 e 1921, sendo a segunda delas seguida da primeira parte de Sodoma e Gomorra.
Proust escreveu, também, vários artigos de crítica sobre Flaubert (1920) e Baudelaire (1921).
A segunda parte de Sodoma e Gomorra é publicada em abril de 1922, quando Proust teria
confiado à Celeste (sua célebre governanta, que cuidou dele até a morte) a escrita da palavra
fim. Não conseguiu terminar de revisar as provas de A prisioneira; ditou, apenas, algumas
alterações para Celeste.

Morreu em 18 de novembro daquele mesmo ano de 1922, de uma gripe não


tratada que evoluiu para uma pneumonia. Albertine desaparecida e O tempo
reencontrado apareceriam em 1925 e 1927, respectivamente. Como resultado de
um ciclo de mais de vinte anos entre o início da redação e o término da publicação
do romance, tem-se uma obra estruturalmente simétrica, que seria reverenciada
pelas gerações que seguiram como um dos pilares do modernismo. O próprio
Proust comparava Em busca do tempo perdido a uma catedral gótica que,
vista de baixo, parece estender-se para cima infinitamente, e o crítico norte-americano Edmund Wilson
comparou o romance a uma sinfonia. O crítico ainda chamou o romance de Proust de “a maior
representação literária da nossa época” e salientou, naquela que é, segundo ele, “a grande obra da
autocriação”, “a crença no poder da arte disputar com o tempo”. Harold Bloom considera que Proust e
seu Em busca do tempo perdido desafiam o poder shakespeariano de representação de personagens
e faz notar que as personagens proustianas, assim como as de Shakespeare, resistem a qualquer
tentativa de redução psicológica. “A grande força de Proust, entre tantas outras, é a caracterização:
nenhum romancista do século XX pôde igualar seu rol de personalidades vívidas”, afirmou.

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Os treze volumes de A la recherche du temps perdu, de Marcel Proust, são o resultado
de uma síntese impossível, na qual a absorção do místico, a arte do prosador, a verve do
autor satírico, o saber do erudito e a concentração do monomaníaco condensam-se numa obra
autobiográfica. Já se disse, com razão, que todas as grandes obras literárias ou inauguram um
gênero ou o ultrapassam, isto é, constituem casos excepcionais. Mas esta é uma das menos
classificáveis. A começar pela estrutura, que conjuga a poesia, a memorialística e o comentário,
até a sintaxe, com suas frases torrenciais (um Nilo da linguagem, que transborda nas planícies
da verdade, para fertilizá-las), tudo aqui excede à norma. Que esse grande caso excepcional
da literatura constitua ao mesmo tempo a maior realização literária das últimas décadas é a
primeira observação, muito instrutiva, que se impõe ao crítico. As condições que serviram de
fundamento a essa obra são extremamente malsãs. Uma doença insólita, uma riqueza incomum,
e uma disposição anormal. Nem tudo na vida é modelar, mas tudo é exemplar. Ela atribui à
obra literária mais eminente de nossos dias seu lugar no coração do impossível, no centro e ao
mesmo tempo no ponto de indiferença de todos os perigos, e caracteriza essa grande “obra de
toda uma vida” como a última, por muito tempo. (BENJAMIN, 1994, p. 37).
Estão aí, neste pequeno trecho, muito “do que é a literatura?” e muito do “para que existe a
literatura?”, vocês perceberam?
Vejam só: de um jeito bonito e emocionante, até de certa maneira lírico, o crítico reconhece
na obra de Marcel Proust uma forma que dá forma (com o perdão da repetição proposital!) à
própria vida. Pois não foi isso que ele quis dizer ao falar que os pequenos acontecimentos de
um cotidiano podem não interessar por si mesmos... Mas quando colocados exemplarmente
em uma obra literária bem formalizada (de novo esta palavra! Daqui a pouco veremos porque
estou insistimos em repeti-la...), eles ganham força e dão impulso, também, à própria obra.
Leia de novo o trecho final para ver se ficou claro: Uma doença insólita, uma riqueza incomum,
e uma disposição anormal. Nem tudo na vida é modelar, mas tudo é exemplar. Ela atribui à
obra literária mais eminente de nossos dias seu lugar no coração do impossível, no centro e ao
mesmo tempo no ponto de indiferença de todos os perigos, e caracteriza essa grande “obra de
toda uma vida” como a última, por muito tempo.
Assim, vida e obra alimentam-se, tempo histórico e literatura conjugam-se, um explicando
o outro, um dando sentido ao outro. Só quando este jogo formal dá certo, é que conseguimos
alcançar uma obra literária daquelas – uma obra literária que faz diferença. Ou repetindo as
palavras que Benjamin usou no trecho que lemos, “obras que constituem casos excepcionais”.
Por falar em obra literária e em vida, precisamos lembrar de outro crítico importante, também,
coincidentemente, alemão: Erich Auerbach (1892-1957). Se vocês estão se perguntando algo
como: “Ei, esta não é uma Unidade de Literatura Brasileira?”. Tenham calma! É que para entender
o que acontece no Brasil, nos dias de hoje e também lá no começo do que chamamos de “nossa
literatura”, precisamos passar por alguns temas maiores, retomando o que alguns críticos escreveram
não especificamente sobre seus países, mas sobre a literatura como um sistema que explica a própria
estrutura, e também o tempo histórico em que foi produzida, para assim ultrapassar a si mesma e à
história sem, entretanto, esquecê-las. Convencidos? Então vamos adiante.
Como íamos dizendo, Erich Auerbach escreveu textos bem bonitos, e um de seus livros, talvez o
principal, chamado Mimeses: a realidade exposta na literatura ocidental, fala justamente
desta relação entre literatura e vida que Walter Benjamin percebeu na obra de Proust – e que vem
movendo a nossa busca por respostas às questões iniciais da unidade, vocês se lembram, não é?

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Unidade: Literatura e sociedade brasileiras: um percurso de formação

Neste Mimeses, publicado em 1946, Auerbach investiga a condição humana, e a entende como
algo histórico, ou melhor dizendo, que surge da história. A condição humana, portanto, seria algo
que se altera ao longo do tempo. O esforço de análise de Auerbach está justamente em revelar
essa historicidade, e, na mesma medida, revelar a condição humana tal como ela se apresenta
em diferentes épocas e situações. Para realizar esta tarefa, o crítico se vale da literatura: ou seja,
é a partir da literatura, sempre andando conjuntamente com a história, que Auerbach procurará
pesquisar a condição humana. Como os indivíduos fixam suas próprias imagens nas obras que
produzem ao longo do tempo? Como isso caracteriza, para além da literatura, mas também a
alimentando, uma visão histórica e social de um determinado período? Uma importante questão
para refletirmos.
O filósofo Theodor W. Adorno (1903-1969), um dos fundadores da Escola de Frankfurt, cujos
participantes tentavam, grosso modo, entender a sociedade pós Segunda Guerra da Alemanha
a partir das teorias marxistas, defendeu, ao longo de um de seus livros mais importantes, o
Teoria estética, que a obra de arte se apresenta como antítese da sociedade. O que isso
quer dizer? Vejamos: construída à luz da conjuntura política e social de sua época, toda obra
de arte é um reflexo do mundo real, contendo, tal qual “o mundo lá fora”, suas contradições e
seus antagonismos. Vejam que bonito: a obra de arte leva adiante, em sua forma, um mundo
autônomo, independente. Ao mesmo tempo, carrega características do mundo exterior, que
a faz, como é a própria História, um poço de trivialidades, representando algo frágil que, a
princípio, ela não é. Nas palavras de Adorno:
Que as obras de arte, como mônadas sem janelas, “representem” o que elas
próprias não são, só se pode compreender pelo fato de que a sua dinâmica
própria, a sua historicidade imanente enquanto dialética da natureza e do
domínio da natureza não é da mesma essência que a dialética exterior, mas se
lhe assemelha em si, sem a imitar. A força produtiva estética é a mesma que a
do trabalho útil e possui em si a mesma teleologia; e o que se deve chamar a
relação de produção estética, tudo aquilo em que a força produtiva se encontra
inserida e em que se exerce, são sedimentos ou moldagens da força social.
O caráter ambíguo da arte enquanto autônoma e comment c’est fait social
faz-se sentir sem cessar na esfera da sua autonomia. Nessa relação à empiria,
as forças produtivas salvaguardam, neutralizado, o que outrora os homens
experimentaram literal e inseparavelmente no existente e o que o espírito dele
bania. (ADORNO, 1970, p. 15).

Agora, depois de termos passado pelos termos gerais que situa a obra de arte em seu tempo social
e histórico, podemos nos perguntar: como tudo isso aconteceu (e segue acontecendo) no Brasil?
Para situarmos esta pergunta (Mais uma, vejam lá! É melhor se acostumar: já reparou que
todo pensamento crítico parte de perguntas, mais do que de certezas?), vamos seguir o sistema
proposto pelo crítico literário Antonio Candido para entender a formação da literatura brasileira.
Partiremos, justamente, do livro de Candido intitulado Formação da literatura brasileira
(Momentos decisivos 1750-1836). Neste livro, o intento é estudar a formação da literatura
brasileira, com suas características específicas que, por conta disso, não pode ser considerada
igual às demais. Ou seja: a literatura brasileira, por mais que tenha tentado na época de seu
surgimento – que, como veremos, diz respeito também ao surgimento de uma nação – imitar a
literatura europeia, nunca pode realmente fazê-lo. Nossa literatura diz respeito à nossa nação em
formação, e dela tira seus artefatos, suas dádivas e suas lacunas. Assim, de acordo com Candido:

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Cada literatura requer tratamento peculiar, em virtude dos seus problemas
específicos ou da relação que mantém com outras. A brasileira é recente, gerou
no seio da portuguesa e dependeu da influência de mais duas ou três para
se constituir. A sua formação tem, assim, caracteres próprios e não pode ser
estudada como as demais, mormente numa perspectiva histórica, como é o caso
deste livro, que procura definir ao mesmo tempo o valor e a função das obras.
A dificuldade está em equilibrar os dois aspectos, sem valorizar indevidamente
autores desprovidos de eficácia estética, nem menosprezar os que desempenharam
papel apreciável, mesmo quando esteticamente secundários. [...]
Há literaturas de que um homem não precisa sair para receber cultura e
enriquecer a sensibilidade; outras, que só podem ocupar uma parte da sua vida
de leitor, sob pena de lhe restringirem irremediavelmente o horizonte. Assim,
podemos imaginar um francês, um italiano, um inglês, um alemão, mesmo um
russo e um espanhol que só conheçam os autores de sua terra e, não obstante,
encontrem neles o suficiente para elaborar a visão das coisas, experimentando
as mais altas emoções literárias.
Se isto já é impensável no caso de um português, o que se dirá de um brasileiro?
A nossa literatura é galho secundário da portuguesa, por sua vez arbusto de
segunda ordem no Jardim das Musas [...] Os que se nutrem apenas delas são
reconhecíveis à primeira vista, mesmo quando eruditos e inteligentes, pelo
gosto provinciano e falta do senso de proporções. Estamos fadados, pois, a
depender da experiência de outras letras, o que pode levar ao desinteresse e até
menoscabo das nossas. Este livro procura apresentá-las, nas fases formativas,
de modo a combater semelhante erro, que importa em limitação essencial da
experiência literária. Por isso, embora fiel ao espírito crítico, é cheio de carinho e
apreço por elas, procurando despertar o desejo de penetrar nas obras como em
algo vivo, indispensável para formar a nossa sensibilidade e visão de mundo.
(CANDIDO, 2000, p. 9).

O sociólogo e crítico literário Antonio Candido (1918-2017) é, sem Figura 4: Antonio Candido
dúvida, um dos mais importantes intelectuais brasileiros. Ler seus
livros é um exercício inesquecível, tanto pelos lindos textos em si, ao
mesmo tempo profundos e bem explicados, em um louvável esforço
de crítica e estilo, como pela experiência de, depois da leitura,
poder entender um pouco mais sobre literatura e sobre nosso país.
Além dos livros que o crítico publicou (dentre os quais destacamos
Formação da literatura brasileira, Literatura e sociedade,
Vários escritos, Na sala de aula, A educação pela noite e
outros ensaios, Iniciação à literatura brasileira), Candido
deu inúmeras entrevistas, sempre enfatizando como a literatura
precisa ser vista como uma arma poderosa, capaz de conscientizar os Fonte: Wikimedia commons
indivíduos a construir uma sociedade mais justa e humanitária, sem
desigualdades econômicas e sociais. Vejam algumas das entrevistas logo abaixo. Caso queiram,
compartilhem os livros e as entrevistas com os colegas no Fórum: um pensamento calcado na
premissa de que a arte faz cidadãos críticos e, por isso, menos propensos a construir sociedades
nas quais uns podem mais que os outros, como o desenvolvido por Antonio Candido, não pode
ser esquecido. Um de seus textos mais famosos – na verdade, uma de suas falas – é “O direito
à literatura”. Nele, o crítico expõe com clareza e beleza os motivos pelos quais a literatura deve
ser um direito inalienável, tal qual são a comida e a moradia.

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Unidade: Literatura e sociedade brasileiras: um percurso de formação

Explore
• O direito à literatura:
https://goo.gl/eLeKrg.
• Antonio Candido indica 10 livros para conhecer o Brasil:
https://goo.gl/ZExWiF.
• “O socialismo é uma doutrina triunfante”:
https://goo.gl/ubEN9T.
• Entrevista com Antonio Candido, Revista Brasileira de Ciências Sociais:
https://goo.gl/Bh4XqM.
• “O direito à literatura no século XXI: uma homenagem a Antonio Candido”:
https://goo.gl/jGRt3C.
• Entrevista de Antonio Candido concedida na FLIP (Festa Literária de Paraty) em 2011:
https://goo.gl/9286GY.

Por isso, entender a literatura brasileira é entender a sociedade brasileira. Vamos repetir muito
esta ideia ao longo da disciplina: estudar um autor é estudar um pouco de sua biografia e de seu
lugar no mundo; saber do estilo literário, das influências culturais de sua época e, nunca, nunca
esquecer a sociedade, a política e a economia de seu tempo – tais componentes exteriores à obra
nela penetram e, se não são restringem o sentido da obra e sua intenção artística, certamente
os modificam.
Poderíamos, para entender a literatura brasileira ou, antes, estabelecer um método crítico, seguir
a linha de pensamento de Antonio Candido, e tentar não apenas entender as perguntas que nos
fizemos no começo da aula (vocês lembram quais são?), mas desdobrá-las para a realidade brasileira.
Ficaríamos assim: de onde veio nossa literatura? De que ela nos serviu, e de que ela nos serve?
Bem, para Antonio Candido, literatura e sociedade não podem ser entendidas como dois
campos que se relacionam de forma paralelística: de maneira diversa, diz o crítico, é preciso
“averiguar como a realidade social se transforma em componente de uma estrutura literária,
a ponto dela poder ser estudada em si mesma; e como só o conhecimento desta estrutura
permite compreender a função que a obra exerce” (CANDIDO, 2006, p. 9). O autor afirma,
mais adiante, que obra, fatores sociais e psicológicos, quando funcionam em conjunto, são
como agentes da estrutura, alinhados entre os fatores estéticos íntimos à obra. Dizendo de
outra maneira: “A análise crítica, de fato, pretende ir mais fundo, sendo basicamente a procura
dos elementos responsáveis pelo aspecto e o significado da obra, unificados para formar um
todo indissolúvel, do qual se pode dizer, como Fausto do Macrocosmos, que tudo é tecido num
conjunto, cada coisa vive e atua sobre a outra” (CANDIDO, 2009, p. 14).
Vamos aprofundar um pouco esse posicionamento crítico para então voltarmos, definitivamente,
para o percurso formativo de nossa literatura que, vale já dizer, resultou, em meados do século
XIX, nas obras maduras de Machado de Assis. Segundo Candido:

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Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas
visões dissociadas; e que só a podemos entender fundindo texto e contexto
numa interpretação dialeticamente íntegra, em que tanto o velho ponto de vista
que explicava pelos fatores externos, quanto o outro, norteado pela convicção
de que a estrutura é virtualmente independente, se combinam como momentos
necessários do processo interpretativo. Sabemos, ainda, que o externo (no caso,
o social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento
que desempenha um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se,
portanto, interno. (CANDIDO, 2009, p.13).

Mais adiante, vamos mostrar como Candido aplica seu pensamento teórico em um dos mais
importantes textos de nossa literatura – Senhora, de José de Alencar – que, como veremos um
bocadinho mais adiante, será um dos responsáveis pelo surgimento e amadurecimento de um
autor como Machado de Assis.

Mais uma dica de método e de análise crítica: sempre que vocês


perceberem algo, lerem, pesquisarem e elaborarem um conceito teórico
é preciso “provar que ele funciona”, por assim dizer, no objeto de
estudo. Voltem sempre ao conto, ao romance, ao poema, à canção,
depois daquele estalo de Eureka! que costuma dar na gente quando
estudamos. É dos objetos de estudo que se deve partir, e para eles
que devem se voltar às questões e percepções críticas. Tal qual, vejam
lá, Antonio Candido faz ao analisar uma passagem de Senhora: o
crítico coloca no romance suas percepções teóricas, provando que elas
funcionam dentro da obra.

Ao analisar esse romance, Candido chama atenção para como o livro, de saída, apresenta
dimensões sociais evidentes (vocês imaginam quais poderiam ser? Vejam lá: a referência
a lugares, a descrição de modos e costumes; as manifestações típicas de uma classe social
descritas no livro, que mostram um modo de vida entre o burguês e o patriarcal). Porém,
de acordo com o crítico, mesmo essas dimensões sociais devem ser matizadas, já que no
próprio romance elas ganham um peso específico: a compra feita por Aurélia, que é nada
mais, nada menos, do que a compra de um marido. Ao desnudar esse tipo de ação, e com
ela compor o centro da narrativa, o autor faz mais do que criticar uma prática: insere o ritmo
da compra e da venda na estrutura do romance: é traço fundamental, trançando o enredo,
a ação e a composição dos personagens. Assim, nas palavras do crítico:
Se, pensando nisto, atentarmos para a composição de Senhora, veremos que
repousa numa espécie de longa e complicada transação, — com cenas de avanço
e recuo, diálogos construídos como pressões e concessões, um enredo latente de
manobras secretas, — no correr da qual a posição dos cônjuges se vai alterando.
Vemos que o comportamento do protagonista exprime, em cada episódio, uma
obsessão com o ato de compra a que se submeteu, e que as relações humanas se
deterioram por causa dos motivos econômicos. A heroína, endurecida no desejo
de vingança, possibilitada pela posse do dinheiro, inteiriça a alma como se fosse
agente duma operação de esmagamento do outro por meio do capital, que o
reduz a coisa possuída. E as próprias imagens do estilo manifestam a mineralização

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Unidade: Literatura e sociedade brasileiras: um percurso de formação

da personalidade, tocada pela desumanização capitalista, até que a dialética


romântica do amor recupere a sua normalidade convencional. No conjunto, como
no pormenor de cada parte, os mesmos princípios estruturais enfermam a matéria.
Referindo esta verificação às anteriores, feitas em nível mais simples, constatamos
que se o livro é ordenado em torno desse longo duelo, é porque o duelo representa
a transposição, no plano da estrutura do livro, do mecanismo da compra e venda.
E, neste caso de relações que deveriam pautar-se por uma exigência moral mais
alta, a compra e venda funciona como verdadeira conspurcação. Esta não é
afirmada abstratamente pelo romancista, nem apenas ilustrada com exemplos,
mas sugerida na própria composição do todo e das partes, na maneira por que
organiza a matéria, a fim de lhe dar uma certa expressividade.
Quando fazemos uma análise deste tipo, podemos dizer que levamos em conta
o elemento social, não exteriormente, como referência que permite identificar,
na matéria do livro, a expressão de uma certa época ou de uma sociedade
determinada; nem como enquadramento, que permite situá-lo historicamente;
mas como fator da própria construção artística, estudado no nível explicativo e
não ilustrativo. (CANDIDO, 2009, p. 16).

Diálogo com o Autor

Vamos relembrar o enredo de Senhora, e também quem foi o seu autor, José de Alencar?
O enredo do livro, de maneira genérica, refere-se à seguinte trama: Aurélia Camargo, filha de uma
pobre costureira e órfã de pai, depois de perder seu irmão apaixonou-se por Fernando Seixas –
homem ambicioso - a quem namorou. Este, porém, desfaz a relação, movido pela vontade de se
casar com uma moça rica, Adelaide Amaral, e pelo dote ao qual teria direito de receber. Passado
algum tempo, Aurélia, já órfã de mãe também, recebe uma grande herança do avô e ascende
socialmente. Passa, pois, a ser figura de destaque nos eventos da sociedade da época. Dividida entre
o amor e o orgulho ferido, ela encarrega seu tutor e tio, Lemos, de negociar seu casamento com
Fernando por um dote de cem contos de réis. O acordo realizado inclui, como uma de suas cláusulas,
o desconhecimento da identidade da noiva por parte do contratado até as vésperas do casamento.
Ao descobrir que sua noiva é Aurélia, Fernando fica muito feliz, pois, na verdade, nunca deixou de
amá-la. A jovem, porém, na noite de núpcias, deixa claro: “comprou-o” para representar o papel de
marido que uma mulher na sua posição social deve ter. Se vocês puderem, vale ler ou reler o livro
todo, que pode ser baixado gratuitamente da internet. A trama é muito bem escrita, os personagens
delineados e o cenário, ricamente descrito – um romance, no melhor sentido do termo e do gênero!

16
Explore

O livro está disponível em: https://goo.gl/ydMJeY.


Para saber mais sobre o autor, um de nossos mais importantes romancistas, acesse sua biografia
completa (e também sua biografia) no site da Academia Brasileira de Letras: https://goo.gl/ghk7Sj.

Vamos, agora, voltar ao nosso ponto inicial: como se fez o primeiro percurso formativo de nossa
literatura? Ainda de acordo com Antonio Candido, voltando ao eixo que o autor explicita em
Formação da literatura brasileira, a configuração de um sistema literário brasileiro acontece
em meados do século XVIII. É quando, inclusive, ocorre certa articulação entre os homens
cultos da colônia, “acertando o passo com a Filosofia das Luzes, o que se ligou de certo modo à
transformação estética conhecida em Portugal e no Brasil sob o nome de Arcadismo” (CANDIDO,
1999, p. 29). Vale dizer, como explicita Candido, que o Arcadismo no Brasil é concomitante a uma
grande mudança política e econômica: a passagem do eixo político e econômico para o sul do país.
O movimento literário do Arcadismo nasce, portanto, em clima de grande efervescência política.
Tanto que muitos de seus membros são processados, presos e desterrados devido à posição política
contrária ao governo português, como acontece com o grupo de poetas árcades mineiros.

Esse é, como vemos, um momento de amadurecimento para todo o Brasil, especialmente


esteticamente e politicamente. De acordo com as palavras de Antonio Candido:

Esse momento é de amadurecimento para todo o Brasil, que finalmente


adquire um contorno geográfico bem próximo do que tem hoje e vê núcleos
de povoamento se espalharem por todas as regiões, embora a população fosse
rala e continuasse concentrada no litoral e adjacências. Esse amadurecimento
se reflete na quantidade de homens cultos que atuaram aqui e na Metrópole,
– sacerdotes, naturalistas, administradores, matemáticos, poetas, publicistas, –
formando o primeiro grande conjunto de brasileiros capazes de ombrear com os
naturais de Portugal. (CANDIDO, 1999, p. 30).

Assim, as manifestações literárias daquele momento, como as empreendidas por José de Santa
Rita Durão (1722-1784), que escreveu “Caramuru” (1781), e também por Basílio da Gama (1741-
1795) com o poema “Uraguai” (1795), foram tentativas conscientes de valorizar temas nacionais
(como o enaltecimento dos índios na luta contra os ataques estrangeiros). Tal valorização foi
posteriormente reconhecida pelos românticos como fonte da poesia nacional, como vocês já
estudaram; os poetas árcades dos quais falávamos acima também foram influenciados por tais
tendências ilustradas, nacionalistas e, a seu modo, liberais. Sobre os árcades, vale dizer, conforme
percebe Antonio Candido, que já nasce em suas obras a noção de uma identidade nacional

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Unidade: Literatura e sociedade brasileiras: um percurso de formação

diferente daquela imposta pela metrópole. As descrições da paisagem local, por exemplo, feitas
por Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) e calcadas nos modelos de poesia clássica, já mostram,
implicitamente, o que em Machado de Assis atingirá a forma completa, e guiará nosso processo
de formação literária: o atraso local é evidente quando colocado diretamente em comparação
aos modelos clássicos do centro do mundo. Assim, segundo Candido:

Nos sonetos e nas éclogas [de Cláudio Manuel da Costa], surpreendemos uma
curiosa impregnação da natureza rochosa de sua região natal (a das minas de
ouro), que se infiltra no modelo virgiliano, compondo uma espécie de diálogo
implícito entre colônia e metrópole, barbárie e civilização. Isso apareceria de
forma explícita no poema épico “Vila Rica” (c. 1773), onde narra o encontro
das culturas e a vitória da ordem civil sobre a confusão dos aventureiros à busca
de ouro. (CANDIDO, 1999, p. 32).

Notem que a formação da literatura nacional, para Antonio Candido, começa justamente no século
XVIII por conta desta tomada de consciência de nossa condição de colônia e, ao mesmo tempo, pela
busca por uma identidade nacional que levaria, noves fora, à emancipação política, econômica e
cultural. Pensamentos e produção, precisamos ter em mente, feitos por e para a elite local.

Toda essa produção é de fato marcada pelo requinte das elites, e historicamente
importa como maneira de confirmar a preeminência social dos grupos cultos da
Colônia, já impacientes com a prepotência de Portugal e interessados nos movimentos
revolucionários dos Estados Unidos e da França. (CANDIDO, 1999, p. 33).

Colônia, metrópole; barbárie, civilização. Vocês acham que todo esse intervalo e toda essa
diferença entre mundos seriam resolvidos com a independência política e, de certo modo,
econômica do Brasil em 1822 – já tendo passado pela vinda da Família Real Portuguesa em
1808 e, com isso, por uma aceleração do ritmo do progresso, inclusive intelectual? Já seria o
caso de perguntar aqui: para quem estava sendo feita essa independência (assim como notou
Candido: por quem e para quem era feita nossa literatura?)?

Obviamente, como vocês devem ter percebido, não é possível simplificar: a sociedade que se
formou no Brasil, desde os tempos de colônia, foi se constituindo em meio não apenas ao atraso
característico de uma colônia quando comparada à metrópole (que, por sua vez, também era de
economia frágil quando comparada aos outros países da Europa), mas de um território que fazia
do atraso uma característica constitutiva de si próprio. Entre elite branca e escravos negros, havia
uma massa de homens livres e pobres (brancos, mestiços, negros) que lutavam pela sobrevivência
e formavam uma sociedade com regras próprias e bem específicas. Para ilustrar com um exemplo:
vocês se lembram do romance de Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um sargento de
milícias, publicado em 1852, que se passava “no tempo do rei”? É justamente este o quadro.

Vejam um trecho de Memórias de um sargento de milícias e, se tiver tempo,


leiam o livro todo, disponível em: https://goo.gl/jX7hta

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Ainda hoje existe no saguão do paço imperial, que no tempo em que se passou
esta nossa história se chamava Palácio del-rei, uma saleta ou quarto que os
gaiatos e o povo com eles denominavam o Pátio dos Bichos. Este apelido
lhe fora dado em consequência do fim para que ele então servia: passavam
ali todos os dias do ano três ou quatro oficiais superiores, velhos, incapazes
para a guerra e inúteis na paz, que o rei tinha a seu serviço não sabemos se
com mais alguma vantagem de soldo, ou se só com mais a honra de serem
empregados no real serviço. Bem poucas vezes havia ocasião de serem eles
chamados por ordem real para qualquer coisa, e todo o tempo passavam
em santo ócio, ora mudos e silenciosos, ora conversando sobre coisas do seu
tempo, e censurando as do que com razão já não supunham do seu, porque
nenhum deles era menor de 60 anos. Às vezes acontecia adormecerem todos
ao mesmo tempo, e então com a ressonância de suas respirações passando
pelos narizes atabacados, entoavam um quarteto, pedaço impagável, que
os oficiais e soldados que estavam de guarda, criados e mais pessoas que
passavam, vinham apreciar à porta. Eram os pobres homens muitas vezes
vítimas de caçoadas que naquele tempo de poucas preocupações eram o
objeto de estudo de muita gente.

E é neste cenário que a literatura brasileira vai se formando: juntando ideais liberais e projetos
de emancipação com o cotidiano de colônia, ex-colônia de economia escravocrata, liderada por
uma elite branca rodeada por uma massa de escravos e de homens livres e pobres. Em um lugar
tão cheio de realidades díspares como o Brasil, qualquer tentativa de importar um modelo de
literatura – assim como um modelo de sociedade – soaria falsa, em desatino com o entorno,
artificial, fora do lugar. Um pouco como Pestana, o personagem do conto “Um homem célebre”,
de Machado de Assis, que tenta de todas as maneiras compor sonatas, sinfonias, réquiens –
obras que o levariam à imortalidade – mas de seu piano só saem saltitantes polcas. Pestana
representa, alegoricamente, o descompasso entre o popular e o erudito, mostrando, com a
insistência com que o maxixe sai de suas composições, a presença indelével da escravidão e da
mestiçagem em nossa sociedade (WISNIK, 2003, p.14)

Para Pensar
Vale a pena ler “O homem célebre”. O conto, na íntegra, encontra-se disponível neste
endereço: https://goo.gl/k4sgkB.
Depois de ler, tente fazer uma resenha crítica, colocando alguns elementos discutidos por aqui.

Aqui vai um trecho do conto:

[...] Veio o café; Pestana engoliu a primeira xícara, e sentou-se ao piano. Olhou para o retrato
de Beethoven, e começou a executar a sonata, sem saber de si, desvairado ou absorto, mas
com grande perfeição. Repetiu a peça; depois parou alguns instantes, levantou-se e foi a uma
das janelas. Tornou ao piano; era a vez de Mozart, pegou de um trecho, e executou-o do
mesmo modo, com a alma alhures. Haydn levou-o à meia-noite e à segunda xícara de café.
Entre meia-noite e uma hora, Pestana pouco mais fez que estar à janela e olhar para as estrelas,
entrar e olhar para os retratos. De quando em quando ia ao piano, e, de pé, dava uns golpes
soltos no teclado, como se procurasse algum pensamento; mas o pensamento não aparecia e

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Unidade: Literatura e sociedade brasileiras: um percurso de formação

ele voltava a encostar-se à janela. As estrelas pareciam-lhe outras tantas notas musicais fixadas
no céu à espera de alguém que as fosse descolar; tempo viria em que o céu tinha de ficar vazio,
mas então a terra seria uma constelação de partituras.
[...]
Às vezes, como que ia surgir das profundezas do inconsciente uma aurora de ideia; ele corria
ao piano, para aventá-la inteira, traduzi-la em sons, mas era em vão; a ideia esvaía-se. Outras
vezes, sentado ao piano, deixava os dedos correrem, à aventura, a ver se as fantasias brotavam
deles, como dos de Mozart; mas nada, nada, a inspiração não vinha, a imaginação deixava-se
estar dormindo. Se acaso uma ideia aparecia, definida e bela, era eco apenas de alguma peça
alheia, que a memória repetia, e que ele supunha inventar. Então, irritado, erguia-se, jurava
abandonar a arte, ir plantar café ou puxar carroça; mas daí a dez minutos, ei-lo outra vez, com
os olhos em Mozart, a imitá-lo ao piano.
Duas, três, quatro horas. Depois das quatro foi dormir; estava cansado, desanimado, morto;
tinha que dar lições no dia seguinte. Pouco dormiu; acordou às sete horas. Vestiu-se e almoçou.
– Meu senhor quer a bengala ou o chapéu-de-sol? perguntou o preto, segundo as ordens que
tinha, porque as distrações do senhor eram frequentes.
– A bengala.
– Mas parece que hoje chove.
– Chove, repetiu Pestana maquinalmente.
– Parece que sim, senhor, o céu está meio escuro.
Pestana olhava para o preto, vago, preocupado. De repente:
– Espera aí.
Correu à sala dos retratos, abriu o piano, sentou-se e espalmou as mãos no teclado. Começou
a tocar alguma coisa própria, uma inspiração real e pronta, uma polca, uma polca buliçosa,
como dizem os anúncios. Nenhuma repulsa da parte do compositor; os dedos iam arrancando
as notas, ligando-as, meneando-as; dir-se-ia que a musa compunha e bailava a um tempo.
Pestana esquecera as discípulas, esquecera o preto, que o esperava com a bengala e o guarda-
chuva, esquecera até os retratos que pendiam gravemente da parede. Compunha só, teclando
ou escrevendo, sem os vãos esforços da véspera, sem exasperação, sem nada pedir ao céu, sem
interrogar os olhos de Mozart. Nenhum tédio. Vida, graça, novidade, escorriam-lhe da alma
como de uma fonte perene.
Em pouco tempo estava a polca feita. Corrigiu ainda alguns pontos, quando voltou para jantar;
mas já a cantarolava, andando, na rua. Gostou dela; na composição recente e inédita circulava
o sangue da paternidade e da vocação. Dois dias depois, foi levá-la ao editor das outras polcas
suas, que andariam já por umas trinta. O editor achou-a linda.
– Vai fazer grande efeito.
Veio a questão do título. Pestana, quando compôs a primeira polca, em 1871, quis dar-lhe um
titulo poético, escolheu este: Pingos de sol. O editor abanou a cabeça, e disse-lhe que os títulos
deviam ser, já de si, destinados à popularidade, - ou por alusão a algum sucesso do dia, - ou
pela graça das palavras; indicou-lhe dois: A lei de 28 de Setembro, ou Candongas não fazem
festa.
– Mas que quer dizer Candongas não fazem festa? perguntou o autor.
– Não quer dizer nada, mas populariza-se logo.
Pestana, ainda donzel inédito, recusou qualquer das denominações e guardou a polca; mas
não tardou que compusesse outra, e a comichão da publicidade levou-o a imprimir as duas,
com os títulos que ao editor parecessem mais atraentes ou apropriados. Assim se regulou pelo
tempo adiante.

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É justamente este descompasso, muito sutil e profundamente percebido por Machado de
Assis, que faz de sua obra o ponto de chegada de um período da literatura brasileira: justamente
aquele que Antonio Candido considera como sendo o percurso formativo de nossas letras, e do
qual falamos até aqui. Assim, de modo insistente, como tópico que perpassa toda sua obra, o
escritor denuncia a presença da escravidão, e toda a disparidade que o modo de agir e estar em
uma sociedade escravocrata traziam ao se chocar com hábitos e poses supostamente liberais (e
imitados da Europa). Deste modo, Machado de Assis denuncia, também, o lugar daquele Brasil
do século XIX. Na verdade, um lugar fora de lugar, onde se imita, mas não se pratica, fielmente,
o liberalismo. Roberto Schwarz, que percebeu esta característica na obra de Machado de Assis,
explica com clareza o cenário em que a obra do escritor foi escrita:
Toda ciência tem princípios, de que deriva o seu sistema. Um dos princípios da
Economia Política é o trabalho livre. Ora, no Brasil domina o fato “impolítico e
abominável” da escravidão.
Este argumento – resumo de um panfleto liberal, contemporâneo de Machado
de Assis – põe fora o Brasil do sistema da ciência. Estávamos aquém da realidade
a que esta se refere; éramos antes um fato moral, “impolítico e abominável”.
Grande degradação, considerando-se que a ciência eram as Luzes, o Progresso,
a Humanidade etc. Para as artes, Nabuco expressa um sentimento comparável
quando protesta contra o assunto escravo no teatro de Alencar: “Se isso ofende
o estrangeiro, como não humilha o brasileiro!”. Outros autores naturalmente
fizeram o raciocínio inverso. Uma vez que não se referem à nossa realidade,
ciência econômica e demais ideologias liberais e que são, elas sim, abomináveis,
impolíticas e estrangeiras, além de vulneráveis. “Antes bons negros da costa
da África para felicidade sua e nossa, a despeito de toda a mórbida filantropia
britânica, que, esquecida de sua própria casa, deixa morrer de fome o pobre
irmão branco, escravo sem senhor que dele se compadeça, e hipócrita ou
estólida chora, exposta ao ridículo da verdadeira filantropia, o fado de nosso
escravo feliz”.
Cada um a seu modo, estes autores refletem a disparidade entre a sociedade
brasileira, escravista, e as ideias do liberalismo europeu. Envergonhando
a uns, irritando a outros, que insistem na sua hipocrisia, estas ideias – em
que gregos e troianos não reconhecem o Brasil – são referências para todos.
Sumariamente está montada uma comédia ideológica, diferente da europeia. É
claro que a liberdade do trabalho, a igualdade perante a lei e, de modo geral,
o universalismo eram ideologia na Europa também; mas lá correspondiam
às aparências, encobrindo o essencial a exploração do trabalho. Entre
nós, as mesmas ideias seriam falsas num sentido diverso, por assim dizer,
original. A Declaração dos Direitos do Homem, por exemplo, transcrita em
parte na Constituição Brasileira de 1824, não só não escondia nada, como
tornava mais abjeto o instituto da escravidão. A mesma coisa para a professada
universalidade dos princípios, que transformava em escândalo a prática geral
do favor. Que valiam, nestas circunstâncias, as grandes abstrações burguesas
que usávamos tanto? Não descreviam a existência – mas nem só disso vivem
as ideias. Refletindo em direção parecida, Sérgio Buarque observa: “Trazendo
de países distantes nossas formas de vida, nossas instituições e nossa visão do
mundo e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável
e hostil, somos uns desterrados em nossa terra”. Essa impropriedade de nosso
pensamento, que não é acaso, como se verá, foi de fato uma presença assídua,
atravessando e desequilibrando, até no detalhe, a vida ideológica do Segundo
Reinado. Frequentemente inflada, ou rasteira, ridícula, ou crua, e só raramente

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Unidade: Literatura e sociedade brasileiras: um percurso de formação

justa no tom, a prosa literária do tempo é uma das muitas testemunhas disso.
(SCHWARZ, 2000, p. 14).

“Estar fora de lugar”, nos dias de hoje, conta com especificidades diferentes: o lugar do Brasil na
conjuntura mundial se modificou, mas não se alterou de todo. Para entender a posição do Brasil
no eixo dos países ricos, detentores do capital, é preciso levar em conta toda sua história – e daí
perceber como as desigualdades e as opressões aqui parecem mais profundas. Algo que a literatura,
com seu olhar minucioso e crítico, denuncia, como ainda vamos estudar. Mas agora, fiquemos com
as percepções de Machado de Assis sobre o seu tempo, tão bem refletidas em sua obra.

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Material Complementar

O universo de formação de uma literatura – e também a própria literatura de uma nação – são
temas fascinantes e capazes, inclusive, de nos levar a outros textos, canções, filmes e obras de
artes plásticas que, de alguma maneira, ajudam a explicar não apenas a literatura, mas o nosso
próprio cotidiano. Refletir criticamente sobre a literatura e sobre as artes (além de se deixar levar
pela beleza e pela emotividade que provocam as verdadeiras obras de artes) é entender melhor
o nosso tempo, humanizar-se e lutar por uma sociedade mais igualitária.
É muito importante que você explore o portal e aprofunde seus estudos.

Indicamos que você consulte:

ADORNO, Theodor W. Posição do Narrador no Romance Contemporâneo. (trad. Jorge de Almeida).


In: Notas de literatura I. São Paulo, Duas Cidades/ Editora 34, 2003. p. 55-63.

ANDRADE, Mário. Aspectos da literatura brasileira. São Paulo, Martins, s/d.

ANDRADE, Oswald. Do Pau-Brasil à Antropofagia e às utopias. Rio de Janeiro, Civilização


Brasileira, 1978.

ARANTES, Paulo. Sentimento da dialética na experiência intelectual brasileira. Rio de


Janeiro: Paz e Terra, 1992.

______. O paradoxo do intelectual. In: Ressentimento da dialética. São Paulo, Paz e Terra, 1996.
p. 21-63. 1993. p. 123-129.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1976. 14ª ed.

______. Brasil: tempos modernos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

LUKÁCS, Georg. Teoria do romance (trad. José Marcos M. de Macedo). São Paulo: 34 Letras,
2000.

______. Narrar ou descrever? Trad. Giseh Vianna Konder. In Ensaios sobre literatura. Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 1965. p. 43-94.

MICELI, Sérgio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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Unidade: Literatura e sociedade brasileiras: um percurso de formação

Referências

ADORNO, T. W. “Posição do narrador no romance contemporâneo”. In: Textos Escolhidos.


São Paulo: Abril, 1980. (Col. “Os Pensadores”)

--------------------. “Palestra sobre lírica e sociedade”. Trad. de Jorge de Almeida. In: Notas
de Literatura I. Duas Cidades/Ed. 34, 2003, pp. 65-90.

BENJAMIN, W. “O narrador”. In: Obras Escolhidas I. SP: Brasiliense, 1987.

-------------- “O autor como produtor”. In: Walter Benjamin. São Paulo: Ática, 1985.

------------ “Sobre alguns temas em Baudelaire”. In: Obras escolhidas (Vol. III). Charles
Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1989.

-------------- Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo, Brasiliense, 1995.

BOSI, A. “Literatura na era dos extremos”. In: Rodapé. Crítica de Literatura Brasileira
Contemporânea no. 2. São Paulo: Nankin, 2002.

CANDIDO, A. Na sala de aula. Caderno de análise literária. São Paulo, Ática, 2002.

-----------------. O discurso e a cidade. São Paulo, Duas Cidades, 2004.

Referência Bibliográfica (Disponível para consulta)

BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 47. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

BRAIT, B. (Org.) Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2006. (E-book)

BRAIT, B. A personagem. 8. ed. São Paulo: Ática, 2006. (E-book)

BRAIT, B. Literatura e outras linguagens. São Paulo: Contexto, 2010. (E-book)

CÂNDIDO, A. Na sala de aula: caderno de análise literária. 8. ed. São Paulo: Ática, 2000.
(E-book)

GOTLIB, N. B. Teoria do conto. 11. ed. São Paulo: Ática, 2006. (Coleção princípios). (E-book)

LUKACS, G. A teoria do romance. São Paulo: Editora 34, 2003.

SCHWARZ, R. Ao vencedor as batatas. 5. ed. São Paulo: Editora 34, 2003

SOUZA, R. A. Teoria da literatura. 10. ed. São Paulo: Ática, 2006. (Série Princípios). (E-book)

24
Anotações

25
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