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ATIVIDADE DE ANÁLISE (COLOCAÇÃO PRONOMINAL)

TEXTO 1

A SOCIEDADE DAS PESSOAS PERFEITAS


Para espectadores do Big Brother, não basta ser legal, decente e preocupado com os outros

Não é a primeira edição em que o Big Brother mostrou que tem o poder de provocar mais
discussões sobre temas importantes como racismo, machismo, desigualdade, falta de empatia e de
conexão com os novos tempos do que muito curso de sociologia. Tenho cá pra mim que haja um
impacto em parte da sociedade que acompanha o programa e se vê exposta a temas quase sempre
ignorados por conveniência. Mas uma sociedade não se transforma sem que seja convidada a rever
seu próprio comportamento.

Muitos de nós têm sido confrontados por dilemas e por questões morais colocadas por meio do
comportamento dos participantes. Sua natureza humana seria um prato cheio para uma conversa
entre os filósofos Hobbes e Rousseau. O inglês acreditava que o homem é essencialmente mau, que
não sabe viver em sociedade e precisa de um Estado autoritário. Já o francês defendia que o
homem é naturalmente bom, a sociedade é o que o corrompe.

Tirando a família Bolsonaro e seus apoiadores que deixariam até Hobbes chocado por sua má
essência, estou mais com Rousseau. E, apesar de os confinados acabarem sendo separados pelo
púbico entre os bons e os maus, arrisco dizer que a maioria das pessoas não é só uma coisa ou
outra. O que confirmou a impressão que tive em outras edições, e também na de agora, que para os
espectadores não basta ser legal, decente, preocupado com os problemas dos outros e do mundo, a
exigência subiu de patamar: é preciso ser perfeito.

Alguns dos remanescentes da casa, muito celebrados por suas virtudes, enfrentaram acusações na
reta final. Racismo, machismo, exploração de desgraça alheia. Mas quem é perfeito? Quem
aguentaria passar meses dentro de uma casa com câmeras e microfones desnudando todas as
pequenas imperfeições, os menores deslizes, os preconceitos que todos temos. Sim, porque, quem
tem coragem de dizer que não tem preconceitos?

As melhores pessoas têm defeitos. As mais bem-intencionadas erram. Ninguém que se comporta
de maneira exemplar a maior parte do tempo deveria ser execrado ao não corresponder vez ou
outra com as expectativas de terceiros. Assim como é ingênuo atribuir apenas boas qualidades aos
indivíduos que levantam bandeiras sociais. Com exceção dos sociopatas, nenhum de nós é só mau
ou só bom o tempo todo. O que nos diferencia é que alguns de nós tentam melhorar para que a
sociedade como um todo seja um lugar melhor, enquanto tem gente que perdeu o bonde e precisa
correr atrás.

A sociedade das pessoas perfeitas só existe na cabeça daquelas que estão ainda mais longe dessa
utopia.

Mariliz Pereira Jorge


Jornalista e roteirista de TV.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo. Divulgado em: 28/04/2020.

1 Após a leitura global do texto 1, segundo Mariliz Pereira, existe a sociedade das pessoas perfeitas?
Qual a tese defendida por ela?
2 O texto é uma crônica e tenta analisar o comportamento humano a partir do cenário de uma disputa
de um reality show, Big Brother Brasil. Há uma discussão que traz à tona uma polêmica sobre o
comportamento humano: o ser humano é preconceituoso. Vocês concordam com esta afirmação?
Discuta com base em alguma situação vivida ou mesmo do mundo artístico (filme, série, livro que você
tenha consumido nesse período de quarentena).
3 Encontre no texto trechos onde acontecem o uso de pronomes pessoais oblíquos átonos e indique
qual o tipo de colocação pronominal presente no trecho (próclise, ênclise e mesóclise).
4 Em todos os casos do uso do pronome oblíquo átono, a autora se preocupou em utilizá-lo de acordo
com o que é exigido na norma padrão? Justifique.
5 Tendo em vista a análise que você fez na questão anterior, a escolha da autora por atender (ou não)
à norma padrão tem relação com o suporte onde o texto foi publicado (lugar onde foi publicado o
texto) e com o propósito comunicativo da autora? Justifique sua resposta.

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