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1 INTRODUÇÃO À HIDROLOGIA
Hidrologia é a ciência que trata da terra, sua ocorrência, circulação e distribuição, suas
propriedades físicas e químicas, e suas reações com o meio ambiente, incluindo suas
relações com a vida.
Engenharia hidrológica é uma ciência aplicada. Ela usa princípios hidrológicos na
solução de problemas de engenharia provenientes da exploração dos recursos hídricos.
Fundamental para:
· Dimensionamento de obras hidráulicas
· Aproveitamento de recursos hídricos
- aproveitamentos hidroelétricos – 92% da energia produzida no país;
- abastecimento urbano – 75% da população do Brasil estão em áreas urbanas;
- irrigação – problema de escolha do manancial;
estudo de evaporação e infiltração,
- navegação – obtenção de dados e estudos sobre construção e manutenção de canais
navegáveis.
- drenagem – estudo de precipitações, bacias de contribuição e nível d´água nos
cursos d´água.
- regularização de cursos d´água – estudo das variações de vazão.
· Controle de inundações – previsão de vazões máximas
· Controle e previsão de secas
- estudo das vazões mínimas
· Controle de poluição
- vazões mínimas de cursos d´água, capacidade de reacração e velocidade
2 CICLO HIDROLÓGICO
O ciclo hidrológico pode ser representado pela chamada Equação do Balanço Hídrico,
que em geral está associada a uma bacia hidrográfica. Essa equação é dada por:
P – EVT – Q = DR (2.1)
Introdução à Hidrologia 2-5
onde:
P – total precipitado sobre a bacia em forma de chuva, neve, etc., expressa em mm;
EVT – peradas por evapotranspiração, expressa em mm;
Q – escoamento superficial que sai da bacia. É normalmente dado em vazão média ao
longo do intervalo (por exemplo m3/s ao longo do ano);
DR – variação de todos os armazenamentos, superficiais e subterrâneas. É expresso
em m3 ou em mm.
Este assunto será visto mais adiante, com detalhes, após ter conhecido os conceitos de
precipitação, evapotranspiração e escoamento superficial.
Introdução à Hidrologia 3-6
- É a área geográfica na qual toda água de chuva precipitada escoa pela superfície do
solo e atinge a seção considerada.
Sinônimo: bacia de contribuição, bacia de drenagem.
- Uma B.H. é necessariamente definida por um divisor de águas que a separa das bacias
adjacentes.
Figura 3.5
A figura da página seguinte mostra uma planta com o divisor de uma bacia hidrográfica.
Introdução à Hidrologia 3-8
Figura 3.6
Área de drenagem
É a área plana (projeção horizontal) inclusa entre seus divisores topográficos. A área é o
elemento básico para o cálculo das outras características físicas. A área de uma B.H. é
geralmente expressa em km2. Na prática, determina-se a área de drenagem com o uso de
um aparelho denominado planímetro, porém pode-se obter a área com uma boa precisão,
utilizando-se o “método dos quadradinhos”.
Cabe relembrar aqui a utilização de escalas. Por exemplo, se estivesse trabalhando com
um mapa na escala 1: 100.000:
1 cm no mapa equivale a 100.000 cm ou 1.000 m ou 1,0 km, na medida real.
1 cm2 equivale a 1,0 x 1,0 =1,0 km2.
Supondo que a escala do mapa fosse 1:50.000:
1 cm no mapa equivale a 50.000 cm = 500 m = 0,5 km real.
1 cm2 = 0,5 x 0,5 = 0,25 km2.
Forma da Bacia
A forma da bacia influencia o escoamento superficial e, conseqüentemente, o hidrograma
resultante de uma determinada chuva.
Dois índices são mais usados para caracterizar a bacia: índices de compacidade e
conformação.
Introdução à Hidrologia 3-9
Número de ordem
A classificação dos rios quanto à ordem reflete o grau de ramificação ou bifurcação
dentro de uma bacia.
Os cursos d´água maiores possuem seus tributários que por sua vez possuem outros até
que chegue aos minúsculos cursos d´água da extremidade.
Geralmente, quanto maior o número de bifurcação maior serão os cursos d´água; dessa
forma, pode-se classificar os cursos d´água de acordo com o número de bifurcações.
Numa bacia hidrográfica, calcula-se o número de ordem da seguinte forma: começa-se a
numerar todos os cursos d´água, a partir da nascente, de montante para jusante,
colocando ordem 1 nos trechos antes de qualquer confluência. Adota-se a seguinte
sistemática: quando ocorrer uma união de dois afluentes de ordens iguais, soma-se 1 ao
Introdução à Hidrologia 3-10
rio resultante e caso os cursos forem de números diferentes, dá-se o número maior ao
trecho seguinte.
Figura 3.6
Declividade do álveo
A velocidade de um rio depende da declividade dos canais fluviais. Quanto maior a
declividade, maior será a velocidade de escoamento; neste caso, os hidrogramas de
enchente terão ascensão mais rápida e picos mais elevados.
DH
I eq = (3.5)
L
onde: DH – diferença entre as cotas do ponto mais distante e da seção considerada;
L – comprimento do talvegue principal.
2. Pelo método de “compensação de área”: traça-se no gráfico do perfil longitudinal,
uma linha reta, tal que, a área compreendida entre ela e o eixo das abcissas (extensão
horizontal) seja igual à compreendida entre a curva do perfil e a abcissa.
A1 = A2
DH ´×L 2 × ATR
ATR = Þ DH´ =
2 L
DH ´ 2 × ATR 2 × ATR
I eq = Þ I eq = Þ I eq =
L L×L L2
Introdução à Hidrologia 3-11
0, 385
æ L2 ö
t c = 57ç ÷ (3.8)
çI ÷
è eq ø
onde: Ieq – declividade equivalente em m/km;
L – comprimento do curso d´água em km.
2. Fórmula de Picking
1
æ L2 ö3
t c = 5,3ç ÷ (3.9)
çI ÷
è eq ø
onde: L – comprimento do talvegue em km;
Ieq – declividade equivalente em m/m.
Introdução à Hidrologia 3-12
Exercício-exemplo 3.1:
Desenhar o perfil longitudinal do talvegue principal da bacia abaixo e determinar a
declividade equivalente, utilizando o método de “compensação de área” e da média
harmônica. Determinar também o tempo de concentração para duas declividades.
650
600
550
Cota (m)
500
450
400
350
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000
Comprimento (m)
e)
78 + 28
A2 = ´ 17.800 = 943.400 m 2
2
128 + 78
A3 = ´ 10.800 = 1.112.400 m 2
2
178 + 128
A4 = ´ 22.700 = 3.473.100 m 2
2
228 + 178
A5 = ´ 10.300 = 2.090.900 m 2
2
249 + 228
A6 = ´ 9.200 = 2.194.200 m 2
2
2 ´ Atot 2 ´ 9.987.600
I eq = = = 0,0029 m/m ou 2,9 m/km
L2 83.200 2
400 - 372 28
I1 = = = 0,0023 m/m
12.400 - 0 12.400
450 - 400 50
I2 = = = 0,0028 m/m
30.200 - 12.400 17.800
500 - 450 50
I3 = = = 0,0046 m/m
41.000 - 30.200 10.800
550 - 500 50
I4 = = = 0,0022 m/m
63.700 - 41.000 22.700
600 - 550 50
I5 = = = 0,0049 m/m
74.000 - 63.700 10.300
621 - 600 21
I6 = = = 0,0023 m/m
83.200 - 74.000 9.200
2 2
é ù é ù
ê ú ê ú
L 83.200
I eq =ê n ú =ê ú = 0,0028 m/m
ê Li ú ê 12.400 + 17.800 + 10.800 + 22.700 + 10.300 + 9.200 ú
êå I ú ê 0,0023 0,0028 0,0046 0,0022 0,0049 0,0023 úû
ë i =1 i û ë
Introdução à Hidrologia 3-15
650
600
550
Cota (m)
500
Perfil longitudinal
Compens. área
450 Média harm6onica
400
350
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000
Comprimento (m)
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
4 PRECIPITAÇÃO
4.1 Conceito
Figura 4.1
Introdução à Hidrologia 4-17
Figura 4.2
Figura 4.3
Introdução à Hidrologia 4-18
- Quantifica-se a chuva pela altura de água caída e acumulada sobre uma superfície
plana.
- A quantidade da chuva é avaliada por meio de aparelhos chamados pluviômetros e
pluviógrafos.
- Grandezas características das medidas pluviométricas:
· Altura pluviométrica: mediadas realizadas nos pluviômetros e expressas em mm.
Significado: lâmina d’água que se formaria sobre o solo como resultado de uma
certa chuva, caso não houvesse escoamento, infiltração ou evaporação da água
precipitada. A leitura dos pluviômetros é feita normalmente uma vez por dia às 7
horas da manhã.
· Duração: período de tempo contado desde o início até o fim da precipitação, expresso
geralmente em horas ou minutos.
· Intensidade da precipitação: é a relação entre a altura pluviométrica e a duração da
chuva expressa em mm/h ou mm/min. Uma chuva de 1mm/ min corresponde a uma
vazão de 1 litro/min afluindo a uma área de 1 m2.
4.4.1 Pluviômetros
Figura 4.4
Introdução à Hidrologia 4-19
4.4.2 Pluviógrafos
Os pluviógrafos possuem uma superfície receptora padrão de 200 cm2. O modelo mais
utilizado no Brasil é o de sifão. Existe um sifão conectado ao recipiente que verte toda a
água armazenado quando o volume retido equivale à 10 cm de chuva.
Os registros dos pluviógrafos são indispensáveis para o estudo de chuvas de curta
duração, que é necessário para os projetos de galerias pluviais.
Existem vários tipos de pluviógrafos, porém somente três têm sido mais utilizados.
Pluviógrafo de caçambas basculantes: consiste em uma caçamba dividida em dois
compartimentos, arranjados de tal maneira que, quando um deles se enche, a caçamba
bascula, esvaziando-o e deixando outro em posição de enchimento. A caçamba é
conectada eletricamente a um registrador, sendo que uma basculada equivale a 0,25 mm
de chuva.
Figura 4.5
Pluviógrafo de peso: Neste instrumento, o receptor repousa sobre uma escala de pesagem
que aciona a pena e esta traça um gráfico de precipitação sob a forma de um diagrama
(altura de precipitação acumulada x tempo).
Figura 4.6
Introdução à Hidrologia 4-20
Figura 4.7
4.4.4 Pluviogramas
Figura 4.8
4.4.5 Ietogramas
Os ietogramas são gráficos de barras, nos quais a abscissa representa a escala de tempo e
a ordenada a altura de precipitação. A leitura de um ietograma é feita da seguinte forma:
a altura de precipitação corresponde a cada barra é a precipitação total que ocorreu
durante aquele intervalo de tempo.
Os postos pluviométricos são identificados pelo prefixo e nome e seus dados são
analisados e arquivados individualmente.
Os dados lidos nos pluviômetros são lançados diariamente pelo observador na folhinha
própria, que remete-a no fim de cada mês para a entidade encarregada.
Antes do processamento dos dados observados nos postos, são feitas algumas análises de
consistência dos dados:
Introdução à Hidrologia 4-22
Como os dados são lidos pelos observadores, podem haver alguns erros grosseiros do
tipo:
- observações marcadas em dias que não existem (ex.: 31 de abril);
- quantidades absurdas (ex.: 500 mm em um dia);
- erro de transcrição (ex.: 0,36 mm em vez de 3,6 mm).
No caso de pluviógrafos, para verificar se não houve defeito na sifonagem, acumula-se a
quantidade precipitada em 24 horas e compara-se com a altura lida no pluviômetro que
fica ao lado destes.
b) Preenchimento de falhas
Pode haver dias sem observação ou mesmo intervalo de tempo maiores, por impedimento
do observador ou o por estar o aparelho danificado.
Nestes casos, os dados falhos, são preenchidos com os dados de 3 postos vizinhos,
localizados o mais próximo possível, da seguinte forma:
1æ N N N ö
Px = çç x PA + x PB + x PC + ÷÷ (4.1)
3è NA NB NC ø
A figura abaixo mostra um exemplo de aplicação desse método, no qual a curva obtida
apresenta uma mudança na declividade, o que significa que houve uma anormalidade.
Define-se como semestre úmido os meses de outubro a março e semestre seco os meses
abril a setembro (figura 4.10).
åh
i =1
i
h= (4.3)
n
onde h é chuva média na bacia;
hi é a altura pluviométrica registrada em cada posto;
n é o número de postos na bacia hidrográfica.
Este método só é recomendado para bacias menores que 5.000 km2, com postos
pluviométricos uniformemente distribuídos e a área for plana ou de relevo suave. Em
geral, este método é usado apenas para comparações.
Figura 4.11
3º. Este procedimento é realizado, inicialmente, para um posto qualquer (ex.: posto B),
ligando-o aos adjacentes. Define-se, desta forma, o polígono daquele posto.
Figura 4.12
Introdução à Hidrologia 4-26
åAP
i =1
i i
P= (4.4)
A
onde h é a precipitação média na bacia (mm);
hi é a precipitação no posto i (mm);
Ai é a área do respectivo polígono, dentro da bacia (km2);
A é a área total da bacia.
Isoietas são linhas indicativas de mesma altura pluviométrica. Podem ser consideradas
como “curvas de nível de chuva”. O espaçamento entre eles depende do tipo de estudo,
podendo ser de 5 em 5 mm, 10 em 10 mm, etc.
O traçado das isoietas é feito da mesma maneira que se procede em topografia para
desenhar as curvas de nível, a partir das cotas de alguns pontos levantados.
Descreve-se a seguir o procedimento de traçado das isoietas:
1º. Definir qual o espaçamento desejado entre as isoietas.
2º. Liga-se por uma semi-reta, dois postos adjacentes, colocando suas respectivas alturas
pluviométricas.
3º. Interpola-se linearmente determinando os pontos onde vão passar as curvas de nível,
dentro do intervalo das duas alturas pluviométricas.
Figura 4.13
åP ×A
i =1
i i
P= (4.5)
A
onde h é a precipitação média na bacia (mm);
hi é a média aritmética das duas isoietas seguidas i e i + 1;
Introdução à Hidrologia 4-27
Solução:
a) Traçado dos polígonos de Thiessen
Introdução à Hidrologia 4-28
åAP
i =1
i i
P=
A
Solução:
Pi – altura pluviométrica média entre duas isoietas ou uma isoieta e divisor de água (mm);
Ai – área da bacia entre duas isoietas consecutivas (km2);
A = SAi – área total da bacia (km2).
åAP
i =1
i i
P=
A
Para completar o cálculo, é necessário determinar as áreas Ai e A.
- Limite superior: 24 h ® para durações maiores que este valor, podem ser utilizados
dados observados em pluviômetros.
- N º de intervalos de duração citado anteriormente ® fornece pontos suficientes para
definir curvas de intensidade-duração da precipitação, referentes a diferentes
freqüências.
- Série de máximas intensidades pluviométricas:
· série anual ® constituída pelos mais altos valores observados em cada ano. (mais
significativa).
· série parcial ® constituída de n maiores valores observados no período total de
observação, sendo n o nº de anos no período.
i
P=F= (Fórmula de Kimbal)
n +1
Para i = 3 ®
3
F= = 0,09375
31 + 1
1 1 1
T= = = \ T @ 10,67 anos
P F 0,09375
Introdução à Hidrologia 4-32
As curvas de intensidade – duração podem ser definidas por meio de uma equação da
seguinte forma:
A
P= (4.5)
(t + B ) n
onde:
P = probabilidade de um valor extremo X ser maior ou igual a um dado valor x;
T = período de retorno;
y = variável reduzida de Gumbel.
Introdução à Hidrologia 4-33
Figura 4.15
A relação entre a chuva média na área e a chuva num ponto tende a diminuir à medida
que a área cresce, conforme mostra o ábaco do U.S Weather Bureau.
Introdução à Hidrologia 4-34
Figura 4.16
Exercício-exemplo 4.3:
Calcular a intensidade da chuva para seguintes condições: cidade de São Paulo, período
de retorno de 50 anos e duração de 80 minutos.
3462,7.T 0,172
Equação da chuva intensa para cidade de São Paulo: i =
(t + 22)1,025
i=?
T = 50 anos;
t = 80 minutos.
3462,7.50 0,172 6786, 4
i= = = 59,3 mm/h
(80 + 22) 1, 025
114,5
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
5 EVAPOTRANSPIRAÇÃO
5.1.1 Conceitos
Perda por evaporação (ou por transpiração) é a quantidade de água evaporada por
unidade de área horizontal durante um certo intervalo de tempo.
Intensidade de evaporação (ou de transpiração) é a velocidade com que se processam as
perdas por evaporação. Pode ser expressa em mm/hora ou em mm/dia.
O calor radiante fornecido pelo Sol constitui a energia motora para o próprio ciclo
hidrológico.
e) Pressão barométrica
A influência da pressão barométrica é pequena, só sendo apreciada para grandes
variações de altitude. Quanto maior a altitude, menor a pressão barométrica e maior a
intensidade de evaporação.
f) Outros fatores
Além desses fatores, pode-se citar as influências inerentes à superfície evaporante, a
saber: tamanho da superfície evaporante, estado da área vizinha, salinidade da água,
umidade do solo, composição e textura do solo, etc.
c) Atmômetros
· Evaporímetro Piché
É constituído por um tubo cilíndrico de vidro, de 25 cm de comprimento e 1,5 cm de
diâmetro. O tubo é graduado e fechado em sua parte superior; a abertura inferior é
obturada por uma folha circular de papel-filtro padronizado, de 30 mm de diâmetro e de
0,5 mm de espessura, fixado por capilaridade e mantido por uma mola. O aparelho é
previamente enchido de água destilada, a qual se evapora progressivamente pela folha de
papel-filtro; a diminuição do nível d´água no tubo permite calcular a
taxa de evaporação.
O processo de evaporação está ligado essencialmente ao déficit
higrométrico do ar e o aparelho não leva em conta a influência da
insolação, já que costuma ser instalado debaixo de um abrigo para
proteger o papel-filtro à ação da chuva. A relação entre as
evaporações anuais medidas em um mesmo ponto em um tanque
Classe A e um do tipo Piché é bastante variável. Os valores médios
dessa relação estão compreendidas entre 0,45 e 0,65.
· Atmômetro Livingstone
É essencialmente constituído por uma esfera oca de porcelana porosa de cerca de 5 cm de
diâmetro e 1 cm de espessura; ela é cheia de água destilada e se comunica com uma
garrafa contendo água destilada que assegura o permanente enchimento da esfera e
permite a medida do volume evaporado.
Introdução à Hidrologia 5-41
d) Método de Penman
Esse método baseia-se em complexas equações teóricas, porém é de aplicação prática
muito simples graças ao ábaco da figura 5.3. A evaporação potencial é obtida aplicando-
se a seguinte equação:
E = E1 + E2 + E3 + E4 (5.2)
onde:
E1 = f(t, n/D)
E2 = f(t, n/D, Ra)
E3 = f(t, h, n/D)
E4 = f(t, u2, h)
t = temperatura média (°C)
n = número real de horas de sol (insolação) (h)
D = número máximo de horas de sol/dia (h) (ver tabela)
Ra = radiação incidente na atmosfera (cal/cm2/dia) (ver tabela)
u2 = velocidade do vento a 2 metros do solo (m/s)
As tabelas e o ábaco seguintes são usados para resolução da equação.
Tabela 2.2 -
Introdução à Hidrologia 5-42
Tabela 2.3 -
Utilização do ábaco:
1 – Obtenção de E1: Na parte do ábaco referente a E1, marcar os valores nos eixos
respectivos de t e da relação n/D; unir os dois pontos por uma reta e ler o valor de E1 no
seu eixo.
2 – Obtenção de E2: Na parte do ábaco referente a E2, marcar os valores nos eixos
respectivos de t e da relação n/D; unir os dois pontos por uma
reta e marcar o valor auxiliar a1 no eixo a1. Unir, por uma reta, o valor de a1 com o valor
de Ra marcado no respectivo eixo e ler o valor de E2 no seu eixo.
3 e 4 – Obtenção dos valores de E3 e E4. Agir de maneira análoga ao item 2.
b) Cálculo da população que poderia ser abastecida com esta água (E = 6,0 mm)
a
æ 10 × t ö
ETP = f ×1,6 × ç ÷ (5.3)
è I ø
onde:
ETP = evapotranspiração mensal ajustado, em cm;
f = fator de ajuste em função da latitude e mês do ano;
Introdução à Hidrologia 5-44
Os valores obtidos pela fórmula de Thornthwaite são válidos para meses de 30 dias com
12 horas de luz por dia. Como o número de horas de luz por dia muda com a latitude e
também porque há meses com 28 e 31 dias, torna-se necessário proceder correções. O
fator de correção (f) é obtido da seguinte forma:
h n
f = × (5.6)
12 30
onde:
h = número de horas de luz na latitude considerada;
n = número de dias do mês em estudo.
b) Método de Blaney-Criddle
Este método foi desenvolvido em 1950, na região oeste dos EUA, sendo por isso mais
indicado para zonas áridas e semi-áridas, e consiste na aplicação da seguinte fórmula para
avaliar a evapotranspiração potencial:
Figura 5.4 – Relação entre ETR e ETP para cultura de ciclo curto.
Tabela 5.5 – Coeficientes de cultura “Kc”.
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
E5.1 A evaporação real mensal de uma região é da ordem de 100 mm. Supondo
consumo per capta de 200 l/hab/dia, com a água perdida por evaporação em um
reservatório de 6 km2 de área, poderia abastecer, durante um mês, uma cidade de:
a) 10.000 habitantes;
b) 100.000 habitantes;
c) 30.000 habitantes;
d) 300.000 habitantes.
Introdução à Hidrologia 6-48
6 INFILTRAÇÃO
6.1 Introdução
Grandezas características:
1) Capacidade de infiltração – é a quantidade máxima de água que um solo, sob uma
dada condição, é capaz de absorver na unidade de tempo por unidade de área. Geralmente
é expressa em mm/h.
Introdução à Hidrologia 6-49
Infiltrômetro:
b) Método de Horton
onde F é a quantidade infiltrada (ou a quantidade que iria infiltrar se houvesse água
disponível), em mm.
Introdução à Hidrologia 6-51
140
120
80
60
40
20
0
0 1 2 3 4 5 6
Tempo (horas)
Tabela 6.2 – Valores de CN (“curve number”) para diferentes tipos de solo (Condição
II de umidade antecedente).
EXERCÍCIOS-EXEMPLOS
Solução:
Solo tipo B: f0 = 200 mm/h; fc = 12 mm/h; k = 2 h-1
Potencialidade de infiltração:
F = fc × t +
1
( f 0 - f c ) × (1 - e - kt ) = 12t + 1 (200 - 12 )(1 - e -2t ) = 12t + 94 × (1 - e -2t )
k 2
t = 1 Þ F = 12 x 1 + 94 x (1 – e-2x1) = 93,3 mm
t = 2 Þ F = 12 x 2 + 94 x (1 – e-2x2) = 116,3 mm
t = 3 Þ F = 12 x 3 + 94 x (1 – e-2x3) = 129,8 mm
t = 4 Þ F = 12 x 4 + 94 x (1 – e-2x4) = 142,0 mm
t = 5 Þ F = 12 x 5 + 94 x (1 – e-2x5) = 154,0 mm
Procedimento de cálculo:
Coluna 3 ® Calcular com a equação de F, conforme mostrado acima;
Coluna 4 ® Fazer a diferença entre a potencialidade de infiltração (F) do instante atual e
a do instante anterior;
Coluna 5 ® Comparar os valores da coluna 2 com os da coluna 4 e preencher com o
menor deles;
Coluna 6 ® Fazer a diferença entre os valores da chuva (coluna 2) e os da potencialidade
de infiltração em cada intervalo de tempo (coluna 5).
30
Chuva infiltrada
25
Altura pluviométrica (mm)
Chuva execdente
20
15
10
0
1 2 3 4 5
Tempo (h)
Introdução à Hidrologia 6-55
6.2 Para a mesma chuva do exercício 6.1, calcular a chuva excedente utilizando o
método de Soil Conservation Service (SCS). Adotar o valor 70 como número de
curva (CN).
Solução:
Procedimento de cálculo:
Coluna 3 ® Acumular a chuva de cada intervalo de tempo;
Coluna 4 ® Calcular a partir da chuva acumulada, conforme mostrado abaixo:
25400
S= - 254
CN
( Pac - 0,2 × S ) 2
Pe ac = para Pac > 0,2.S
Pac + 0,8 × S
25400 25400
S= - 254 = - 254 = 108,9 mm
CN 70
30
Chuva infiltrada
25
20
15
10
0
1 2 3 4 5
Tempo (h)
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
7 ESCOAMENTO SUPERFICIAL
Grandezas características
Fig. 7.2
Chama-se de fluviográfico o posto que registra continuamente a variação do nível d´água.
O aparelho utilizado para registrar o N.A. chama-se limnígrafo ou fluviógrafo e o gráfico
resultante é denominado limnigrama ou fluviograma. O esquema de um posto
fluviográfico pode visto na Figura 7.3 abaixo.
Fig. 7.3
Introdução à Hidrologia 7-59
Fig. 7.4
Existem várias maneiras para se medir a vazão em um curso d´água. As mais utilizadas
são aquelas que determinam a vazão a partir do nível d´água:
- para pequenos córregos: calhas e vertedores;
- para rios de médio e grande porte: a partir do conhecimento de área e velocidade.
Introdução à Hidrologia 7-60
7.3.1 Vertedores
São mais utilizados os vertedores de parede delgada, de forma retangular com contração
completa e forma triangular. As fórmulas que relacionam o nível e a vazão são as
seguintes:
- Vertedor retangular: Q = 1,84 × L × H 1,5 (L e H em m, Q em m3/s)
L
- Vertedor triangular: Q = 1,42 × H 2, 5 (H em m, Q em m3/s) – Equação válida para q = 90°
H
q
æ h + hi +1 ö
Si = ç i ÷ × li
è 2 ø
Fig. 7.5.
A vazão total da seção do rio é obtida pelo somatório das vazões parciais:
n
Q = å qi
i =1
I. Método gráfico
7. Determinar o coeficiente angular dessa reta, fazendo-se a medida direta com uma
régua; o valor do coeficiente angular é a constante b da equação da curva-chave;
8. Da intersecção da reta traçada com a reta vertical que corresponde a (h-h0) = 1,0
resulta o valor particular de Q, que será o valor da constante a da equação.
100
Vazão
10
1
0,1 1 10
h-h0
c
Na figura acima, b = tga = e a @ 8,0.
d
Apesar desse método ser um processo matemático, não dispensa o auxílio de gráfico na
determinação do parâmetro h0. Portanto, aqui vale também os quatro primeiros passos
descritos no método gráfico.
Rescrevendo a equação da curva-chave: Q = a × ( h - h0 ) b
Linearização aplicando logaritmo: log Q = log a + b.log (h-h0)
A equação acima é do tipo Y = A + b.X
onde: Y = log Q, A = log a e X = log(h-h0).
b=
å X ×Y - n × X ×Y
i i
åX -n× X i
2 2
A = Y - b× X
Exercícios propostos:
E7.1 Calcule a vazão no posto Santo Antonio de Alegria (prefixo 4C-002) a partir dos
dados de medição mostrados na tabela.
Dados: Equação do molinete – V = 0,2466.n + 0,010 se n £ 1,01
V = 0,2595.n + 0,005 se n > 1,01
Introdução à Hidrologia 7-65
8 BALANÇO HÍDRICO
Conforme visto no Capítulo 2, Ciclo Hidrológico, para avaliar a quantidade da água que
entra e sai de um sistema, no caso bacia hidrográfica, utiliza-se a Equação do Balanço
Hídrico, representada por:
P – EVT – Q = DR (8.1)
onde:
P – total anual precipitado sobre a bacia em forma de chuva, neve, etc., expressa em mm;
EVT – perda anual de água por evapotranspiração, expressa em mm;
Q – altura média anual da lâmina d´água que, uniformemente distribuída sobre a bacia
hidrográfica, representa o volume total escoado superficialmente na bacia. Pode ser
expressa em mm, m3/s ou l/s;
DR – variação de todos os armazenamentos, superficiais e subterrâneos. É expresso
em m3 ou em mm.
Quando o período de observação é de longa duração (um ou mais anos), pode-se
considerar que DR é nulo ou desprezível face aos valores de P e Q. Dessa forma, a
equação 8.1 pode ser rescrita como
P – EVT = Q (8.2)
EXERCÍCIOS-EXEMPLO
8.1 Uma barragem irá abastecer uma cidade de 100.000 habitantes e uma área irrigada
de 5.000 ha. Verificar, através de um balanço hídrico anual, se o local escolhido para
a barragem tem condições de atender à demanda, quando esta for construída.
Informações disponíveis:
- área da bacia (Ab) = 300 km2;
- precipitação média anual (Pm) = 1.300 mm/ano;
- evapotranspiração total (EVT) para situação com a barragem pronta = 1.000/ano;
- demanda da cidade = 150 l/(hab. x dia);
- demanda da área irrigada = 9.000 m3/(ha x ano).
Introdução à Hidrologia 8-67
Solução:
Volume precipitado: VP = 1.300 x 10-3 x 300 x 106 = 390 x 106 m3
Volume perdido por evapotranspiração: VEVT = 1.000 x 10-3 x 300 x 106 = 300 x 106 m3
Volume escoado: VE = VP – VEVT = (390 – 300) x 106 = 90 x 106 m3
Demanda da cidade: VDC = 100.000 x 150 x 10-3 x 365 = 5,475 x 106 m3
Demanda da área irrigada: VDI = 5.000 x 9.000 = 45 x 106 m3
Demanda total: VDT = (5,475 + 45) x 106 = 50,475 x 106m3
VE > VDT \ Atende à demanda.
8.2 Uma bacia hidrográfica de 25 km2 de área recebe uma precipitação média anual de
1.200 mm. Considerando que as perdas médias anuais por evapotranspiração valem
800 mm, determinar a vazão média de longo período na exutória, em m3/s.
Solução:
Volume precipitado: VP = 1.200 x 10-3 x 25 x 106 = 30 x 106 m3
Volume perdido por evapotranspiração: VEVT = 800 x 10-3 x 25 x 106 = 20 x 106 m3
Volume escoado: VE = VP – VEVT = (30 – 20) x 106 = 10 x 106 m3
Transformando volume escoado em vazão:
10 ´ 10 6
Q= \ Q = 0,317 m3/s
365 ´ 24 ´ 3.600