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Coleção Estudos Espiritualistas

“Assim, quando o corpo mortal se vestir com o que é imortal e quando o que morre se vestir com o que não
pode morrer, então acontecerá o que as Escrituras Sagradas dizem: a morte está destruída; a vitória é
total”

(Paulo – Carta aos Coríntios 1 – Capítulo 15 – versículo 54).

Consciência crística
volume 3
(Estudo dos evangelhos canônicos)

Este livro contém textos de palestras espirituais realizadas por incorporação


pelo amigo espiritual JOAQUIM DE ARUANDA e organizados por FIRMINO
JOSÉ LEITE, MÁRCIA LIZ CONTIERI LEITE

ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL

R. Pedro Pompermayer, 13 – Rio das Pedras – SP

(19) 3493-6604

WWW.meeu.com.br

FEVEREIRO - 2012
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 4

Índice

 Objetivo do trabalho .................................................................................................... 5

 Sal da humanidade...................................................................................................... 7
 Relacionando-se com a vida ....................................................................................... 8

 Amor e paixão ........................................................................................................... 12

 O fermento dos fariseus ............................................................................................ 19

 Reforma íntima .......................................................................................................... 20

 A oração .................................................................................................................... 22

 Abandonar pai e mãe ................................................................................................ 33


 Aquele que vem do céu ............................................................................................. 34

 Olhando-se no espelho ............................................................................................. 38

 Carregando as cruzes diárias ................................................................................... 41


 Jesus e os três empregados ..................................................................................... 44

 A batalha pela consciência crística ........................................................................... 51

 Amem-se uns aos outros........................................................................................... 53


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 Objetivo do trabalho

O objetivo deste trabalho é entendermos o caminho crístico que leva a Deus e com isso
entendermos também aquilo que é chamado de „consciência crística‟.

Podemos definir consciência crística como o conjunto de valores sobre as coisas deste
mundo que Cristo possuía. Aquele que alcança a „consciência crística‟, ou seja, que possui os
mesmo valores que ele possuía passa, então, a ver as coisas sob o mesmo prisma que ele via.

Por isso, o objetivo deste trabalho é estabelecer esse prisma nos mais diversos aspectos
da vida humana. Estabelecida estas bases, o ser humanizado pode, então, promover a sua
mudança, ou seja, entender as situações da vida como Cristo entendia.

Este estudo nem seria necessário, pois se Cristo é o amor em ação, o Verbo, bastaria
apenas ao ser humanizado trocar todas as múltiplas interpretações que têm das coisas do mundo
pelo amor. Se ele ao invés de ver bom e mau ou certo e errado nos acontecimentos da vida e visse
apenas amor, já teria alcançado a mesma visão que Cristo tinha das coisas.

Viver com a consciência crística é viver com o amor. O problema é que os seres
humanizados não conhecem o amor que Cristo pregou. Mas, por que o ser humanizado não
conhece o amor que Cristo pregou?

O amor crístico é algo universal. Ele é vivenciado dentro de verdades universais. Estas
verdades não estão presentes na visão humana das coisas porque os seres humanizados vivem
um mundo relativo, ou seja, vivem um mundo que é regido por valores individuais e transitórios que
são fundamentados pelo egoísmo, no amor a si mesmo acima de tudo.

Sendo assim, o que precisamos fazer é destruir as idéias humanas sobre o amor de Cristo.
Na verdade, Cristo nos ensinou o que é amar através de ensinamentos, mas os seres
humanizados interpretam estes ensinamentos a partir de suas próprias verdades que, como já
disse, são individuais, transitórias e fundamentadas no amor a si mesmo acima de tudo.

Em resumo, o objetivo deste estudo é desmistificar os ensinamentos de Cristo como


conhecidos pelos seres humanizados. Falo em desmistificar porque cada ser humanizado
interpretando o amor crístico por seus valores criou mitos que são formados por falsas verdades.
Fez isso porque, coadunando a verdade universal com suas próprias verdades, ou seja, dizendo
que ele está „certo‟, cada ser humanizado eliminou a necessidade de sua própria mudança.

Coadunando a verdade universal com suas próprias verdades, cada ser humanizado
coloca Cristo ao seu próprio serviço, coloca os ensinamentos como elementos para corroborar a
sua própria intenção. Transformou o amor crístico em algo humanitário e não universal.
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Transformou algo que é fundamentado principalmente no doar-se em alguma coisa onde acima de
tudo possa receber individualmente, ganhar.

Alterando o sentido dos ensinamentos crísticos, o ser humanizado transformou Cristo em


um ser mágico que possa auxiliá-lo a alcançar seus desejos. Os reis da antiguidade tinham sempre
ao seu serviço um grupo de mágicos. Estes homens eram utilizados pelo rei nos momentos onde
ele precisava de ajuda para alcançar seus objetivos individuais, Fazendo „porções mágicas‟,
previsões de futuro ou agradando aos deuses, os mágicos eram considerados como elementos
importantes para que o rei alcançasse seus propósitos individuais. Foi isso que a humanidade fez
com Cristo, seus ensinamentos e amor.

O ser humanizado transformou Cristo num mago da corte onde ele é o rei e seus
ensinamentos e amor como instrumentos da sua vitória individual. Dentro dessa visão, Cristo,
então, ficou incumbido de fazer mágicas (milagres) para que o rei humano possa alcançar suas
vontades, ganhar sempre...

Repare. Ninguém vai a Cristo perguntando o que quer que seja feito por ele; todos vão a
ele pedindo que realize o que cada um quer. Por isso afirmo que Cristo para o mundo humano
passou a ser o mágico da corte onde o ser humanizado é o rei.

Por isso o objetivo deste trabalho é desmascarar esta visão. Isso é preciso porque não foi
esta a missão de Cristo. Ele não veio a este mundo para servir ao ser humano, mas sim a Deus. É
através do seu serviço a Deus que Cristo serve ao ser humano.

Nesta missão ele serve ao ser humano, mas não como instrumento para alcançar o que
cada um quer ou gosta, mas para mostrar o caminho para se chegar a Deus. Ele não veio para
fazer o que cada ser humanizado quer, mas para ensiná-lo a respeitar a vontade de Deus („seja
feita a Vossa vontade assim na Terra como no céu‟).

É preciso mudar muita coisa a respeito da compreensão que o ser humanizado tem de
Cristo. Por exemplo: a passividade e candura de Cristo. Onde está a passividade em quem pega o
chicote para meter nas costas daqueles que estão contra a lei de Deus? Onde está a candura
naquele que diz aos seus apóstolos: „vermes, até quando vou ter que agüentar vocês‟? Ou ainda
naquele que chama os que pensam diferente dele de hipócritas?

São essas coisas que precisamos desmistificar. Cristo foi cândido sim, mas com uma
candura espiritual. Isso quer dizer que ele é cândido com o espírito no mundo espiritual, mas não
com o ser humano no mundo material. Para o ser humano, vendo-se sem misticismo as passagens
bíblicas, podemos afirmar que ele não era cândido, pois brigou, ofendeu e bateu em diversos seres
humanizados. Fez isso não por maldade ou porque não tinha amor por eles, mas porque sabia que
esta era a forma necessária para auxiliar estes seres a reencontrar-se com Deus.

Cristo não poderia estar ao lado da humanidade, ou seja, a serviço de suas vontades e
desejos individualistas ou do seu amor a si próprio porque ele sabia que esta forma amar separa o
ser do Todo. Por isso ele não poderia ter vindo para servir à humanidade como os seres
humanizados interpretam este serviço. Aliás, na verdade, ele veio para destruir a humanidade que
o ser vive e que o afasta do Todo.
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Ele não veio destruir a humanidade fisicamente, acabar com o mundo, mas sim no sentido
da visão humana sobre as coisas do mundo, a visão que premia o individual em detrimento do
Todo. Ele veio fazer isso porque sabe que apenas quando o ser universal destruir a humanidade
que toma quando vem à carne pode vivenciar a plenitude de sua própria espiritualidade.

É neste sentido que este trabalho pretende desmistificar os ensinamentos de Cristo. Não
estamos aqui para acabar com Cristo, dizer que ele nunca existiu, mas sim para retirar da
compreensão de seus ensinamentos os valores que o ser humano atribui (valores que premiam o
bem individual) e devolver a eles o sentido do caminho para a união ao Todo.

Jesus Cristo aconteceu na matéria carnal. Os fatos que a humanidade conhece através da
bíblia quase todos são realidades, mas a interpretação que a humanidade dá aos ensinamentos
dele é falsa. É a respeito dessa falsidade que se pauta este trabalho.

É sobre este aspecto que realizaremos este trabalho. Vamos ler diversos versículos dos
chamados evangelhos canônicos e mostrar o que realmente Cristo ensinou e o que o ser
humanizado entende que ele ensinou.

 Sal da humanidade

Vocês são o sal para a humanidade; mas se o sal perde o gosto, deixa de ser
sal e não serve para mais nada. É jogado fora e pisado pelos que passam.

Para que serve o sal no mundo humano? Para temperar a comida... Sendo isso verdade,
podemos então compreender o que Cristo quis dizer: os seres humanizados são o tempero para o
mundo. Mas, como também falou o mestre, se o tempero não tempera mais é jogado fora.

Saiba disso: você é o tempero para o mundo e precisa temperá-lo. Os outros são os
temperos para o mundo e precisam colocar sabor na sua vida.

O que seria da sua vida sem a ação do outro? Insossa, sem sabor... O que seria da sua
vida sem aquele que lhe trai ou lhe dá carinho? O que seria da sua vida sem aquele que lhe
abandona ou lhe faz companhia? O que seria da sua vida sem aquele que lhe critica e o que lhe
elogia? Marasmo...

É a ação do outro que cria o sabor da vida, que cria a existência. Somente quando alguém
age na sua vida lhe dá a oportunidade de viver.

Portanto, agradeça tudo a Deus. Agradeça por quem lhe abandona e por quem lhe faz
companhia, pois se os outros estivessem sempre com você, a vida seria parada, monótona, não
teria o ritmo que ela tem. Ela seria um marasmo... É exatamente esta alternância de situações
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constantes na existência que dá o sabor a ela. Se você tivesse apenas alguém que lhe bajulasse,
risse de suas piadas a existência não teria sabor, ficaria cansativa.

Imagine se sua existência fosse dia a pós dia durante cinqüenta ou sessenta anos fazendo
a mesma coisa? Que cansaço daria, não? Pensar a mesma coisa todo dia, viver a mesma
realidade diariamente: que coisa insossa, sem sabor... São as alternâncias da vida que mexe com
a rotina e quando isso acontece existe um sentido na vida.

Por isso agradeça tudo a Deus. Agradeça por aquele que lhe acusa, pois ele acaba com a
rotina dos que só concordam com você. Agradeça a Deus por aqueles que lhe agridem porque
eles acabam com a rotina daqueles que só sabem bajular. Agradeça por aquele que lhe abandona,
pois ele acaba com a rotina de estar todo dia ao lado da mesma pessoa.

Se você não tivesse um agressor não saberia valorizar quem lhe defende. Se não
houvesse quem lhe abandonasse, não saberia valorizar quem permanece ao seu lado. Veja a
importância daqueles que fazem a sua cruz. Eles também são o sal da sua vida.

Por isso diga: louvado seja Deus que cria uma maravilhosa engrenagem chamada vida
humana e a trabalha com todos os elementos necessários para você bem viver. Na hora que você
se conscientizar disso, o agressor continuará agredindo, o caluniador continuará caluniando, quem
foi embora continuará longe, mas você jamais estará sozinho ou se sentirá caluniado ou agredido,
pois estará com Deus.

 Relacionando-se com a vida

Jesus disse: o Reino do céu é como o dono de uma plantação de uvas que saiu
de manhã bem cedo para contratar trabalhadores para a sua plantação. Como
era o costume, ele combinou com eles o salário de uma moeda de prata por dia
e mandou que fossem trabalhar na sua plantação. Às nove horas, saiu outra
vez, foi à praça do mercado e viu ali alguns homens que não estavam fazendo
nada. Então disse: vão vocês também trabalhar na minha plantação de uvas e
eu pagarei o que for justo. E eles foram. Ao meio dia e às três horas da tarde
fez a mesma coisa com outros trabalhadores. Eram quase cinco horas da tarde
quando o dono da plantação voltou à praça. Viu outros homens que ainda
estavam alie perguntou: por que vocês estão o dia todo aqui sem fazer nada? É
porque ninguém nos contratou, responderam eles. Então ele disse: vão vocês
também trabalhar na minha plantação. No fim do dia, ele disse ao
administrador: chame os trabalhadores e faça o pagamento, começando pelos
que foram contratados por último e terminando pelos primeiros. Os homens que
começaram a trabalhar às cinco horas da tarde receberam uma moeda de prata
cada um. Então os que foram contratados primeiro pensaram que iam receber
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mais, porém eles também receberam uma moeda de prata cada um. Pegaram o
dinheiro e começaram a resmungar contra o patrão, dizendo: Estes homens
foram contratados por último e trabalharam somente uma hora, mas nós
agüentamos o dia todo debaixo deste sol quente. No entanto, o pagamento
deles foi igual ao nosso. Aí o dono disse a um deles: escute , amigo, eu não fui
injusto com você. Você não concordou em trabalhar o dia todo por uma moeda
de prata? Pegue o seu pagamento e vá embora. Pois eu quero dar a este
homem, que foi contratado por último, o mesmo que dei a você. Por acaso não
tenho o direito de fazer o que quero com o próprio dinheiro? Ou você está com
inveja somente porque fui bom com ele?

Cristo está afirmando que o reino do céu é como o dono da plantação de uva desta
parábola. Vamos tentar entendê-la, então...

O reino do céu neste caso é o próprio Universo: tanto aquele que os seres humanizados
chamam de espiritual como o de material. No Universo esta é a realidade: cada trabalhador da
seara do Senhor é contratado por Deus para executar um trabalho e Ele paga a cada um aquilo
que foi combinado. Esta é uma realidade universal da qual ninguém pode fugir: ninguém recebe
mais do que outro, mas sim o justo, ou seja, aquilo que foi contratado antes da encarnação.

Os trabalhadores da parábola são como as pessoas mais velhas que acham que deveriam
receber mais do que têm porque já estão encarnados há muito tempo. Mas, isso não é real. Deus
não dá a cada ser olhando tempo de encarnação, mas sim o justo, aquilo que foi contratado entre
o Pai e o ser antes da encarnação.

Esse é o fundamento da Causa Primária. Durante estes anos de estudo estamos falando
em Deus Causa Primária e os seres humanizados que nos ouviram chegaram a imaginar que Deus
dá a cada um segundo a Sua vontade, mas isso é irreal, é ilusão. Deus dá a cada um aquilo que
foi contratado antes da encarnação.

Sabem de uma coisa? Deus não tem livre arbítrio. Ele não pode escolher o que dar a cada
um. Precisa dar aquilo que foi acertado, não importando quanto tempo se está na roda de
encarnação ou quanto tempo se está encarnado.

Para Deus, vale aquilo que foi contratado antes da encarnação e Ele dará exatamente isso,
não importando quanto tempo ou trabalho o ser já fez. Esta idéia é muito importante para que
possamos compreender uma coisa muito interessante.

Ora, se Deus dá a cada o que foi contratado antes da encarnação, de que adianta ao ser
humanizado (o espírito encarnado) pedir alguma coisa a Deus?

Sabe, vocês não têm noção de como as pessoas se relacionam com Deus. Já trabalhei em
um centro espírita e pude verificar que a maioria das pessoas que buscam a Deus só o faz para
pedir algo a favor dela ou contra outra pessoa. São pessoas que se não recebem se desiludem e
aí passam a desacreditar em Deus, na entidade, ou a casa, igreja, centro, dizendo que estes locais
não prestam. Mas, apesar destas pessoas se dizerem cristãs, elas não leram a Bíblia. Afirmo isso
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porque aí está a informação de Cristo: o dono da plantação paga exatamente o que foi contratado
antes do serviço.

Portanto, é muito importante se conhecer este ensinamento de Cristo para se ter a


consciência que, depois de humanizado, de nada adianta pedir algo a Deus. Aliás, quando
estudamos o Pai Nosso eu lembro que vimos o seguinte texto: „Não sejam como eles, pois o Pai já
sabe o que vocês precisam, antes de pedirem‟.

Os seres humanizados precisam começar a conviver com esta realidade. Por quê? Porque
aquele que pede comprova que não tem fé, pois condiciona sua entrega à realização dos seus
desejos. Este é o grande problema de pedir: quem pede espera receber e quem tem esta
pretensão falta com o elemento fundamental da elevação espiritual que é a fé.

O ser humanizado que insiste em pedir não pode nem dizer que desconhecia o
ensinamento, pois Cristo nesta parábola é bem claro. Quando o dono fala com os empregados
revoltados, diz: você acha que tenho que agir do jeito que você quer, tenho que lhe dar de acordo
com aquilo que você acha que merece? Não, Deus não tem que dar ao ser humanizado o que ele
acha que merece, pois acordou com o ser antes da encarnação o pagamento pelo seu trabalho.

Mas, por que este ser acha que merece mais? Ele acha que deve receber mais porque
acha que o outro trabalhador contratado por último está ganhando mais. A idéia de que o outro
está ganhando mais é apenas na verdade do ser humanizado, pois ninguém recebe mais: todos
ganham o que foi acertado individualmente.

Só isso já bastaria para a compreensão de que o ser humanizado não deve pedir nada
além daquilo que recebe. Mas, Cristo é mais direto. Ele diz que o dono da plantação fala àquele
que quer receber mais do que o combinado: você está com inveja... Sim, quem pede a Deus aquilo
que não recebe da vida está com inveja do outro. Demonstra que queria ganhar mais do que o
próximo: isso é inveja...

Portanto, através desta parábola de Cristo, podemos ver bem claramente a história que
cada um recebe aquilo que foi acordado antes da encarnação.

Mas, nesta parábola ainda há mais. Vamos continuar lendo-a.

E Jesus terminou dizendo: Assim, aqueles que são os primeiros serão os


últimos e os últimos serão os primeiros.

Nesta parábola há dois ensinamentos. O primeiro afirma que cada um recebe o pactuado e
um segundo que nasce da revolta de sentir-se passado para trás. Na primeira parte falamos do
pedir, nesta segunda vamos falar da imaginária justiça justa que cada ser humanizado acha que
tem, mas que na verdade é uma expressão do egoísmo.

O que o ser humanizado acha justo não o é, pois esta justiça é calcada em cima dos seus
desejos e paixões. Portanto, é um egoísmo.
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No caso desta parábola, aqueles que foram contratados primeiro achavam que deveriam
receber antes e que isso seria justo. Mas, como diz o dono da plantação: eu pago o valor pactuado
na hora que acho que devo pagar e você não deve dizer quando fazer isso...

Aí Cristo conclui o ensinamento dizendo: aquele que acha que deve ser o primeiro será o
último e aquele que está por último será o primeiro no reino do céu. Vamos entender isso...

Neste ensinamento Cristo não está falando da ordem de recebimento, mas do anseio de
querer receber primeiro. Ele está dizendo: aqueles que querem receber primeiro serão os últimos
no reino do céu e aqueles que não se preocupam em receber antes, esses receberão primeiro.
Este é o ensinamento de Cristo e se ele é uma forma de amar, precisamos compreende isso
perfeitamente.

O que é o anseio de querer ganhar, de querer receber antes dos outros? Egoísmo. O ser
se humaniza justamente para se libertar do egoísmo. Todos encarnam para se libertar do egoísmo.
Se isso é verdade, aquele que dá asas ao egoísmo é quem não aproveita a encarnação como
instrumento da elevação espiritual.

É por isso que ele é o último no reino do céu. Como pode receber antes se não realizou a
reforma íntima? Reforma íntima trata-se exatamente disso: o ser humanizado reformar o seu
interior que é predominantemente egoísta.

Não estou falando de ser egoísta como mau ou coisa feia. Estou falando de uma
característica de um ser humanizado. Todo espírito humanizado é por natureza egoísta, pois parte
sempre do eu, dele mesmo. Tudo que ele trabalha mentalmente é fruto de desejos, de paixões e
de posses que são expressões do egoísmo.

Repare no que você pensa. Veja se não há esta lógica no seu raciocínio, ou seja, tudo que
você acredita está certo e tudo o que você quer merece receber. O que você pensa sempre
espelha o que quer e não querer o que não quer. O que você pensa que acredita sempre está
certo e o que os outros falam sempre está errado.

É isso que o ser humanizado precisa entender. Pouquíssimos aceitam aquilo que não
querem sem expressar a sua dor por isso. Pouquíssimos aceitam libertar-se de querer ganhar para
dar ao outro o direito de também receber.

Saiba de uma coisa: a vitória de um ser humanizado é a derrota de outro. Isso porque não
existe dois seres que queiram a mesma coisa com a mesma intensidade (gênero número e grau) e
no mesmo momento. Todo pensamento do ser humanizado fundamenta-se em querer o que quer,
na hora que quer e com a intensidade que quer e com isso não dá ao próximo o direito de querer,
de ter a sua vontade satisfeita.

É isso que Cristo está ensinando quando fala que o primeiro no reino da terra será o último
no do céu. Ou seja, aquele que anseia em ganhar, em receber, em ter prazer, em ser reconhecido
como uma pessoa certa, inteligente, bonita e aquele que luta para receber o elogio, será o último a
receber no reino do céu. Isso acontece porque não trabalharam o seu egoísmo e dão asas a ele
vivenciando a ansiedade que a personalidade humana cria.
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Agora aquele que, apesar dos pensamentos desejarem, não ansiar por ganhar, ou seja,
não revolta-se e não luta para exigir da vida que ela lhe pague mais e antes dos outros, esse será
o que mais receberá no reino do céu. Isto porque esse fez a sua reforma íntima, alcançou a sua
evolução espiritual e amou a Deus acima do seu desejo e amou o desejo do próximo tanto quanto
amou o seu.

 Amor e paixão

Mas eu digo a vocês que estão me ouvindo: Amem os seus inimigos e façam o
bem para aqueles que odeiam vocês. Desejem o bem para aqueles que os
amaldiçoam e façam orações em favor daqueles que maltratam vocês.

Hoje, vamos falar sobre a questão do amar... Não um amar qualquer, mas o amar como
Cristo ensinou: o amar universalmente.

Em outras vezes já me perguntaram muitas vezes sobre a questão de amar. Por isso hoje
vamos tentar deixar bem claro o que é o amor universal, aquele que é absoluto, e que não é
entendido pelos seres humanizados.

Já neste primeiro texto do estudo de hoje encontramos um direcionamento para este amor
quando Cristo diz: ame os seus inimigos e faça o bem aos que odeiam vocês. Este é um parâmetro
estabelecido pelo mestre para que o amor exista... Mas, não é assim que os seres humanizados,
mesmo os religiosos, amam...

Quando o ser humanizado ama, o faz de uma forma relativa. Ou seja, para o mundo
carnal, o amor é compreendido como um sentimento que se deve ter por algumas pessoas que,
dentro do critério do ser humanizado, são julgadas como merecedoras de recebê-lo.

O amor humano é relativo, porque dentro desta seleção que o ser humanizado faz, ele
descobre outros que não devem ser amados... Ou seja, o ser humanizado imagina que há pessoas
que são merecedoras de receber o amor e outras que não são...

Interessante isso... Interessante porque o julgamento que determina quem merece ou não
ser amado é feio pelo próprio ser humanizado, como se ele tivesse a competência para julgar o
próximo...

O amor que Cristo ensina, o universal, é um sentimento que extrapola julgamentos ou


motivos para existir. O amor crístico é aquele que não vê quem está recebendo este sentimento;
não se preocupa se quem está recebendo merece ou não.

O amor universal ama indiscriminadamente... O amor universal ama incondicionalmente...


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Eis aí, portanto, um detalhe sobre o amar: ele é uma atividade sem interlocutor e sem
receptor específico. Quem quer amar universalmente não pode amar a alguém específico e nem
amar porque, como, quando ou onde.

O amor universal é aquele sentimento que o espírito dedica ao Universo, ou seja, a todos
os elementos existentes e o faz o tempo inteiro e não apenas em momentos onde julgue que este
sentimento deva existir.

Participante: Estava falando com uns amigos e eles disseram que existiam
diversos tipos de amor. Eu ouvi e depois fui pegando as palestras anteriores e
as li. Posteriormente lhe fiz diversas perguntas e vi que existe apenas um amor
verdadeiro: o amor universal, o amor de Cristo. Vi também que existe o pseudo-
amor, aquele que é baseado no ego, ou seja, a paixão. O que você acha deste
raciocínio?

Perfeito... Só, por favor, não acredite que existem diversos amores ou diversos tipos de
amor, nem que seja sobre o título de pseudo-amor.

Como vimos anteriormente, só uma coisa é Absoluta e, por isso, só ela pode ser chamada
de Real. Sendo assim, só existe um Amor que merece este título: aquele ensinado por Cristo. O
resto são paixões geradas pelo ego e que são rotuladas com o nome de amor.

Amor e paixão: esta é a diferença que eu quero colocar no que você falou.

Só existe um amor: as paixões são ilusões, irreais. Como isso, porém, não quero dizer que
ter paixões é algo “errado”, já que elas são inerentes ao ser humanizado.

Ter paixões não é “errado”. Agora chamá-las de amor e, com isso, dizer que existem
diversos tipos de amor é vivenciar o relativo como absoluto. Isto não lhe leva a lugar nenhum no
sentido da elevação espiritual.

Portanto, é exato o que você está falando. Aliás, foi por causa de suas perguntas que
escolhi para hoje o tema amor e paixões. Vamos desmistificar a questão do amor.

Hoje vamos começar a compreender que existe um único amor que não é nada do que os
humanos chamam de amor. Aliás, por muitas vezes o amor crístico fere as condições de amar que
são criadas pelos seres humanizados.

Quando Cristo diz que você deve amar o seu inimigo, por exemplo, ele está dizendo: não
tenha paixão pelo seu amigo, porque se tiver, ou seja, for apaixonado por uma amizade, não
conseguirá amar o inimigo... Mas, ser amigo é uma das condições para amar que os humanizados
impõem, não é?

Este é o aspecto que a humanidade não entende sobre o amor. Alguns seres humanizados
querem amar o inimigo como Cristo ensinou, mas querem fazê-lo mantendo separados os amigos
dos inimigos, ou seja, querem viver de forma igual paixões positivas e negativas.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 14

Isso é impossível. Eles acabam amando a paixão positiva e não desejando a paixão
negativa.

Por isso é preciso acabar com algumas hipocrisias a respeito do amor. Quem ama, ama a
todos e o tempo inteiro. Quem ama apenas alguns momentos e apenas alguns elementos, tem
paixões e não amor...

Desejem o bem para aqueles que os amaldiçoam e façam orações em favor


daqueles que maltratam vocês. Se alguém lhe der um tapa na cara, vire o outro
lado para ele bater também. Se alguém tomar a sua capa, deixe que leve a
túnica também. Dê sempre a qualquer um que lhe pedir alguma coisa; e,
quando alguém tirar o que é seu, não peça de volta.

O amor – preste bem atenção nisso – não cria propriedades individuais...

O amor verdadeiro não gera propriedades para quem ama. Não o faz sentir-se proprietário
daquele ou daquilo que ama.

O amor Real, o Universal, o de Cristo, não gera posse... Isto porque a posse em si já é um
condicionamento da existência do amor. Com isso encerrou-se o caráter universal deste
sentimento que os humanizados chamam de amor. O amor que contém expresso em si posses
não é amor, mas paixão.

Quem ama de verdade, de Realidade, não possui o objeto desse amor. Mas, o que é
possuir? É querer definir o destino e a ação do objeto ou pessoa possuído...

A posse sob o objeto material se traduz por paixões como estas: é minha casa, tem que
estar arrumada do jeito que eu quero... É meu carro tem que estar sempre funcionando e não pode
bater... É minha televisão, toda vez que apertar o botão tem que funcionar.

A posse sobre os outros ocorre quando, a partir da paixão, o ser humanizado espera do
outro atitudes que ele quer receber... Ou seja, espera que o seu amigo, marido, mulher, parentes,
lhe seja fiel...

A posse leva o ser humanizado a esperar que as outras pessoas concordem sempre com
ele e estejam preocupadas em fazer aquilo que ele gosta, quer ou acha “certo”. Isto não é amor e
se você diz que ama essas pessoas, isso é ilusão: você não ama, mas tem paixão.

O amor universal não cobra nada de ninguém. O amor universal pelos objetos existe
quando elas funcionam, quando estão do jeito que o ser humanizado queria que estivessem. O
amor universal com as pessoas não exige comportamentos ou atitudes pré-estabelecidas e
esperadas para existir.

É isso que está, vamos dizer assim, por trás deste comentário de Cristo...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 15

Vocês estão cansados de ler o ensinamento que diz que tem que se amar o inimigo, mas
ainda não entenderam que o simples fato de terem amigos prova que não amam ninguém, mas só
a vocês mesmos.

Só amam a si mesmo porque condicionam o amor ao atendimento que esta pessoa ou


objeto faz às suas condições pra amar... Amam quem lhes satisfaz e enquanto esta satisfação
acontecer. Quando a pessoa ou objeto não mais estiver realizando seus desejos positivos ou lhe
ajudando a escapar dos seus desejos negativos, você não vai mais querer saber dela, não mais a
amará...

Como disse, hoje queremos desmistificar esta questão de amor. Para isso vou lhes dar um
conselho: parem de dizer eu lhe amo... Isto é falso.

Parem de achar e imaginar que são bonzinhos e amam os outros, porque isso é falso. O
amor que imaginam que dão é apenas uma sensação. É um amor racional, um amor
fundamentado em paixões. Na verdade, tais sensações existem para que o ser possa provar a si
mesmo que ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo...

Esqueçam... Esqueçam que amam alguém para não viverem a hipocrisia que Cristo falou
dos professores da lei. Declarem expressamente que não amam ninguém, porque, nesta hora,
pode ser que comecem a amar o Universo.

Façam aos outros a mesma coisa que querem que os outros façam a vocês.

Esta é a base do amor universal. Amar universalmente é dar o que você espera receber...

Você quer receber carinho dos outros? Dê carinho a todos...

Você quer receber amizade dos outros? Dê amizade a todos...

Quer receber compreensão dos outros? Compreenda a todos...

Sabe por que? Ouça o que Cristo diz...

Se vocês amam aqueles que os ama, por que esperam alguma recompensa
divina? Até as pessoas de má fama amam os que têm amor por elas. E se
vocês fazem o bem somente àqueles que lhes fazem o bem, por que esperam
alguma recompensa divina? Até as pessoas de má fama fazem isso. E se vocês
emprestam somente para aqueles que vocês acham que vão lhes pagar, por
que esperam alguma recompensa divina? Até as pessoas de má fama
emprestam aos que tem má fama, para receberem de volta o que emprestaram.
Ao contrário, amem os seus inimigos e façam o bem a eles. Emprestem e não
esperem receber de volta o que emprestaram e assim vocês terão uma grande
recompensa divina e serão filhos do Altíssimo Deus.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 16

Sabe, se você só quer compreender quem diz que ama, como espera que Deus lhe
compreenda? Se quer dar carinho apenas àqueles que quer, como espera que Deus lhe dê
carinho?

Saiba de uma coisa: dar carinho a quem se ama é mais fácil do que fazer coco de cócoras.
É simples, é um prazer. Não há nisso nenhuma doação...

Por isso afirmo: o fundamento que gera a existência da universalidade no amar é a


doação... Para você entender o amor universal é preciso compreender isso: não se pode falar em
amor universal sem doação de verdades, posses, paixões e desejos...

Se você está apegado apenas àquele que retribui o seu apego, o que espera? O que
espera de Deus, do Universo, se você é individualista? Quem escolhe a quem se apegar, o que
espera do Universo, que é universalista e não separa elementos “bons e maus”, “certos ou
errados”?

Esse é o fundamento universal do amor crístico que precisa ser bem compreendido. Tudo
que existe na Realidade do Universo é universalista e, por isso, vive em equanimidade com tudo e
com todos...

Chamar paixão de amor, ou seja, chamar egoísmo – porque a paixão é fundamentada no


egoísmo – de amor, é hipocrisia. Saiba de uma coisa: o egoísmo, ou seja, tudo que se baseia
numa condição individual, é a antítese do amor universal.

Amar a tudo e a todos de uma forma indiscriminada. Amar doando-se sem esperar
retribuições: isso é atividade de espírito. Já a atividade do ser humano é amar apenas aquele que
ele quer. Na verdade é apenas dizer que ama, porque na realidade o que nutre pelo próximo é
uma paixão...

O ser humanizado ama apenas aquele lhe puxa o saco, que primeiro faz o carinho para
depois receber, que primeiro lhe presta o serviço. Já o ser universal ama antes de qualquer coisa
que o outro faça. Estas são as diferenças básicas entre a paixão que vocês chamam de amor e o
Amor Crístico, o Universal.

Participante: O que você chama fazer a vontade do próximo é o que acabou de


ser lido?

Sim, é servir ao próximo. Fazer a vontade do próximo é estar sempre à disposição do


próximo.

Agora, volto a repetir uma coisa: eu não falo de atos. Outro dia me perguntaram: e se o
outro quiser que eu vá matar alguém... Tenho que servi-lo? Eu respondi: com relação ao ato, Deus
dirá o que acontecerá. Agora internamente, sentimentalmente, você tem que estar sempre à
disposição do outro.

Participante: Explique-me melhor a sua afirmação que diz que o ato do meu
inimigo é o amor de Deus em ação. Como o meu inimigo é a presença de
Deus?
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 17

Veja... Você não é um ser humanizado, não tem vida e, por isso, não participa de atos.
Você é um espírito que tem uma existência eterna. Aquilo que você chama de atos humanos, na
verdade, fazem parte desta existência, mas não com os valores que representam agora para você,
mas como provações da sua caminha espiritual.

Ou seja, o ato do seu inimigo desta vida carnal é o seu carma, é uma provação. Por quê?
Porque o ato do seu inimigo trabalha justamente esta questão da paixão.

O que é ser seu inimigo? É ser uma pessoa que não satisfaz as suas vontades... O que é o
ato que ele pratica? São atitudes que não satisfazem os seus desejos...

Como já estudamos, o desejo, a vontade e a paixão são elementos carmaticos, ou seja,


são provas. Assim, quando o seu inimigo lhe faz alguma coisa, está criando uma oportunidade
para você vencer seus desejos, paixões, posses e com isso vencer o seu egoísmo. Como
resultado disso, se alcança a elevação espiritual.

Costuma se dizer que a ação do seu inimigo é um presente de Deus, fruto do amor do Pai,
porque é a oportunidade para o espírito realizar o objetivo da encarnação. Se não houvesse estas
provas, não haveria encarnação e nem elevação espiritual.

Então, o ato do inimigo é uma dádiva de Deus porque é a oportunidade do trabalho. Mas, o
ato do amigo também, pois ele mexe com paixões, vontades e desejos iguais ao ato do inimigo.

Na verdade, o que você precisa se libertar é da paixão – do amar porque, do não amar
porque – e alcançar o amor que Cristo ensinou e que é incondicional e universal.

Repare que para mudar a sua compreensão do ato do seu inimigo (de “mal” para fruto do
amor de Deus) só alterei uma coisa: a sua forma de ver. Não alterei em nada o acontecimento, ou
seja, não mudei a ação. Ou seja, utilizei a livre opção (livre arbítrio) que o Espírito da Verdade
ensina.

NOTA: Na resposta à questão 851 de O Livro dos Espíritos, o Espírito da


Verdade afirma que os acontecimentos da vida ocorrem de acordo com a
escolha feita pelo espírito antes de encarnar. Apesar disso, afirma ainda o
mentor de Allan Kardec, o ser universal continua, no tocante às provas morais e
tentações, livre para escolher entre o bem e o mal.

No nosso caso, o amigo espiritual não alterou a ação porque ela é uma
decorrência dos gêneros de provas escolhidos pelo espírito, mas mudou a
visão, ou seja, a forma sentimental como encarar a situação.

Para o humano a felicidade está na satisfação material, prazer. Por isso ele precisa
adequar as ações às suas vontades e paixões para ser feliz. Quando os acontecimentos não
coincidem com o que o humano “acha”, o ato do inimigo transforma-se em “ruim”, “mal”.

Já para o espírito, a realização está na boa execução de suas provações. Por isso o ato do
inimigo passa a ser bom, ótimo e perfeito para quem quer se elevar.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 18

Façam isso porque Ele também é bom para os ingratos e maus. Sejam bons,
assim como o Pai de vocês é bom.

No Evangelho de Mateus, tem um trecho interessante.

Vocês sabem o que foi dito: “Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos”.
Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês
para que vocês se tornem filhos do Pai que está no céu. Porque ele faz o sol
brilhar sobre os bons e os maus e dá chuva tanto aos que fazem o bem como
aos que fazem o mal. Se vocês amam somente aqueles que os amam, porque
esperam alguma recompensa de Deus? Até os cobradores de impostos amam
aqueles que os amam. Se vocês falam somente com os seus amigos, o que é
que fazem de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos em
amor, assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu. (Evangelho de
Mateus – Capítulo 5 – versículos 43 a 48).

Ou seja, Cristo afirma que a dádiva de Deus necessária para a vida está à disposição
daqueles que você considera bom assim como os que você considera mau... Já repararam nisso?

Com este ensinamento, Cristo está nos mostrando a característica do amor de Deus: ser
igual para todos... Deus ama a todos de uma forma igual.

Juntando o que está em Mateus (“sejam perfeitos em amor, assim como é perfeito o Pai de
vocês”) tudo a respeito do amar fica compreendido. Ou seja, compreende-se que não dá para
amar ao próximo de uma forma não universal. Por quê? Porque Deus ama a todos de uma forma
universal e se o ser humanizado aspira entrar no Reino do Céu precisa praticar este amor.

Esta é a palavra importante para se entender o amor: ser perfeito no amar como Deus é
perfeito em amar. Amar não aceita imperfeições, porque quando o amor é imperfeito, ele não
existe. Transforma-se numa paixão, ou seja, num elemento de provação, uma ilusão do qual
precisa se libertar.

Então, mais um ensinamento interessante sobre o amor ensinado por Cristo: ame como
Deus ama a todos. Ame universalmente...

Encerrando esta questão, quero apenas dizer que, amar universalmente, dentro da única
compreensão que vocês podem ter, é não amar como amam hoje... Vocês são incapazes de gerar
este amor universal, porque o ego agirá, como instrumento de provação que é, sempre criando
condições.

Apesar disso afirmo uma coisa: vocês são capazes de reconhecer a existência do
condicionamento... Os seres humanizados podem não saber amar universalmente, mas são
capazes de identificar as paixões, ou seja, as razões para amar.

Por isso lhes digo: libertem-se destas paixões que vocês estarão amando como Cristo
disse que deve se amar...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 19

 O fermento dos fariseus

Jesus disse: cuidado com o fermento dos fariseus e Herodes. Eles ouviram o
que o mestre falou e disseram: ele está dizendo isso porque não temos pães.
Jesus ouviu e disse: porque vocês estão discutindo por não terem pão. Não
sabem e não entendem o que eu disse? Por que são tão duros para entender
as coisas? Vocês têm olhos e não enxergam; tem ouvidos e não escutam? Não
se lembram dos cinco pães que eu reparti para cinco mil pessoas? Quantos
cestos cheios de pedaços vocês recolheram? Será que ainda não entendem?

O que será que cristo quis dizer quando mandou tomar cuidado com o fermento dos
fariseus e de Hipócrates? Para isso vamos ter que falar um pouco destes personagens. Os fariseus
eram um partido político, ou seja, uma facção religiosa da Judéia de então. Eles foram muito
criticados por Cristo porque eram religiosos que cobravam dos seus seguidores posturas rígidas e
obediência irrestrita, sem jamais amar de verdade. Já Herodes era o rei de Israel daquele tempo e
também um fariseu.

A partir daqui podemos entender que Cristo está alertando aos seres humanizados que
eles devem cuidado com o fermento daqueles que gostam de exigir que seus ensinamentos
(verdades e paixões) sejam contemplados. Mas, o que é o fermento de cada um? O fermento é o
que faz a massa crescer, tomar forma. Levando isso para o objetivo de Cristo (ensinar a viver com
uma consciência crística), podemos entender que o mestre está falando aos seres humanizados
da sua forma de viver, daquilo que é a essência da vida de cada um.

Dito isso podemos entender o que o mestre está ensinando neste trecho: não louvem a
Deus apenas pelas coisas que lhe satisfaça...

Os seres humanizados, quando acontece algo que ele gosta, que lhe satisfaz, louva a
Deus agradecendo o acontecimento. Mas, quando isto não ocorre, ou seja, quando acontece o que
não lhe satisfaz, não louva ao Senhor.

Mas, porque Cristo cita as vezes em que ele fez a multiplicação dos pães? Para dizer que
ele pode por fermento à massa que quiser... Com isso está ensinando aos seus seguidores: se
você possuir a consciência crística (amar universalmente a todos e a tudo) este fermento fará o
pão multiplicar-se, ou seja, fará com que os momentos chamados de ruins sejam considerados
como „bons‟.

O que acontece a quem só põe o fermento dos fariseus, ou seja, aquele que faz a vida ter
sentido somente quando está satisfeito em seus desejos quando ela não reflete estas vontades?
Chora, sofre, cai em depressão, se amargura... Por que estes não louvam a Deus neste momento
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 20

se Ele é o mesmo que fez acontecer as coisas consideradas boas? Porque estão apegados na
busca do ganhar e de ter o prazer o sempre...

Deus não pode ter duas caras, ou seja, dar o que você considera bom e mau. Ele é
imutável, por isso só pode gerar uma única coisa. Mas, mesmo assim os seres humanizados
continuam achando momentos bons e maus. Por quê? Porque estão apegados às suas verdades e
vontades que dão valor aos acontecimentos do mundo.

É isso que Cristo está ensinando. O ser humanizado precisa desapegar-se dos seus
valores para não se alimentar (viver) com alimento (vida) feito a partir do fermento dos fariseus (a
vontade individualista). Libertando-se disso, este ser pode, então, louvar a Deus em todos os
momentos de sua existência e assim alcançar a sua elevação espiritual.

 Reforma íntima

Ai de vocês, professores da Lei e fariseus, hipócritas! Pois lavam o copo e o


prato por fora, mas por dentro estes estão cheios de coisas que vocês
conseguiram pela violência e pela ganância. Fariseu cego! Lave primeiro o copo
por dentro e então a parte de fora ficará limpa também!

Primeiro vamos entender as palavras de Cristo. Ele afirmou: lavam o copo por fora, mas
não por dentro. O que quer dizer isso? Na vida do ser humanizado o que é lavar o copo por fora?
Vou dar um exemplo para podermos entender o que quero dizer. Os seres humanizados varrem e
tiram pó de um cômodo da casa. Com isso eles embelezam o mundo exterior. Mas, quando fazem
isso por obrigação, por vaidade, para mostrar aos outros que bela casa têm, não vêem que estão
sujos por dentro...

De nada adianta, no sentido da elevação espiritual, o ser humanizado varrer um chão


apegado aos seus desejos, às obrigações da sociedade, por desejo que ele esteja limpo. Este ser
humanizado ainda está sujo por dentro porque tem vontades e leis.

O ser humanizado não vê que quando faz uma coisa para alcançar o prazer (varro porque
eu gosto de ver varrido) „suja‟ o chão com esta sensação. Tudo que é feito visando um benefício
próprio suja e polui o mundo.

Aquilo que é limpo por obrigação, para satisfazer desejos individuais suja logo; ainda não
repararam nisso? Por que isso acontece? É Deus lhe perguntando: varreu a sala por varrer ou na
esperança que ela fique limpa, ou seja, apegado à idéia que o seu querer prevaleça?

Veja bem. Cristo está nos ensinando que o ser humanizado não deve se preocupar com o
seu exterior, ou seja, como que está fazendo, mas que deve estar sempre preocupado em limpar-
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 21

se a cada momento, ou seja, retirar todo o individualismo com o qual se vivencia os


acontecimentos da vida.

Isso serve para tudo. O ser humanizado deve participar de qualquer ação onde
aparentemente seja o agente de uma ação fazendo por fazer e não para, porque ou como. Ele
deve fazer por fazer, sem saber por que está fazendo, sem saber o que esperar do que está
acontecendo. Deve varrer a sala apenas com a consciência de que está praticando esta ação, sem
esperar que ela fique limpa ou não.

Pergunta: E seu eu fizer para agradar a outro que gosta daquilo feito de tal
forma?

Você me pergunta isso porque imagina que agir assim é fazer pelo próximo, mas não vê
que por sua parte aí está presente a vaidade, a soberba, a busca do elogio, a busca do
reconhecimento... Quer mais?

Não existe isso de fazer por amor, pois o amor humano ainda é composto por
individualismo. O que o ser humanizado precisa para alcançar a consciência crística é fazer por
fazer. Tem um ensinamento de Buda que podemos usar para entender essa passagem: a atenção
plena... Este mestre dizia assim: quando você estiver lavando louça, esteja lavando louça. Só
isso... Se enquanto estiver lavando louça alguém perguntar como se faz isso, para que está
fazendo este ato ou o que vai acontecer do que está sendo feito, o ser humanizado que quer ter a
consciência crística deve só responder: não sei... É isso que Cristo está nos ensinando.

O professor da lei não vive assim. Ele quer varrer a sala de uma determinada forma e
esperando um determinado resultado porque ele sabe o que é sala limpa. Para esses, tenho uma
pergunta: como andará a sua saúde espiritual?

As expressões (as paixões, os desejos, a vontade de ganhar sempre, a busca do prazer, a


procura pelo reconhecimento e pelo elogio) podem ser chamadas de energias negativas, como
vocês entendem no planeta este elemento. Sendo isso verdade, posso dizer que aquele que só se
preocupa com a limpeza externa e não com a interna está seriamente doente, pois tem um câncer
(o egoísmo) do qual não está tratando.

Sabe, não adianta nada passar creme na cara se não passá-lo na mente, na consciência.
Não adianta nada dar banho no corpo se não banhar o interior. O ser humanizado acha que depois
de fazer suas necessidades fisiológicas tem que lavar a mão, mas ninguém lava a mão para se
livrar as bactérias (energia negativa) que saem depois de vivenciar um acontecimento apegado às
suas paixões e desejos.

Sabem qual o coco que sai pelo coração? A crítica, o ensinar o certo, o querer obrigar o
próximo a ser do jeito que vocês acham certo... Depois que faz as necessidades o ser humanizado
lava as mãos, mas depois que despeja pelo coração estes excrementos não lava o coração, não é
mesmo?

Quis aproveitar este ensinamento de Cristo para lhes lembrar disso: cada vez que forem ao
banheiro o importante não é lavar a mão, mas o coração. Os seres humanizados precisam se
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 22

preocupar não com a beleza do corpo físico, mas sim com o seu íntimo. Reparem: os seres
humanizados fogem da velhice fazendo plásticas e outros procedimentos, mas por mais que fujam,
ela sempre chega.

É preciso encarnar a realidade da vida. É preciso começar a se preocupar com a limpeza


interna e com a saúde interna e não só com a aparência e saúde externa. Como já tinha dito,
aquele que busca a consciência crística precisa se preocupar em viver para dentro, em viver para
si mesmo. Precisa começar a se preocupar em lavar-se.

Lavar-se é acabar com as obrigações, com as leis, com as regras; acabar com aquilo que
tem ser feito na hora e forma que você acha que deve ser feito. Esse é o banho que todo ser
humanizado tem que tomar a cada momento para não ter câncer.

 A oração

Você sabe rezar o Pai Nosso? Será que sabe mesmo? Vamos ver como Jesus nos
ensinou esta oração.

Antes de transmitir o texto da oração Jesus ensina “como orar”.

“Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de
pé nas casas de oração e nas esquinas das ruas para serem vistos por todos.
Lembrem-se disto: eles já receberam toda a recompensa. Porém quando você
orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que não pode ser
visto. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa”.

O primeiro aviso é bem claro: para se orar não há necessidade de se estar em uma igreja
nem em um lugar específico. Você pode orar em qualquer lugar.

Mas, não faça isso na frente dos outros para mostrar o quanto você é religioso, mas faça
dentro de você mesmo. A oração não deve sair da boca, mas sim do coração. Existe a
necessidade de se rezar com sentimentos e não com palavras.

Orar não é dizer palavras certas, mas é viver em oração. É reagir a cada situação da vida
com sentimentos positivos (o amor). Agindo dessa forma, o ser estará falando com Deus
constantemente e receberá as recompensas por haver ultrapassado as provas da encarnação.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 23

“Nas suas orações, não fiquem repetindo o que já disseram, como fazem os
pagãos. Eles pensam que Deus os ouvirá porque fazem orações compridas.
Não sejam como eles, pois o Pai já sabe o que vocês precisam, antes de
pedirem”.

Jesus afirma: você não precisa pedir nada, não precisa dizer a Deus o que quer, pois Ele já
sabe antes mesmo que você o que é necessário para a sua vida. O Pai não está preocupado em
satisfazê-lo materialmente, mas sua missão é proporcionar a cada um as situações necessárias
para a evolução espiritual.

Se orar é viver em oração, você não deve “querer” nada nesta vida, pois Deus lhe proverá
de tudo o que necessita para viver, sempre pensando no que for mais útil para a sua evolução
espiritual. Todo o pedido feito na oração que busque a satisfação pessoal não poderá ser
recompensado se não for útil à elevação espiritual.

Mesmo que você faça orações com palavras, nunca peça a Deus nada, pois Ele sabe
melhor do que você é que é bom para a sua vida espiritual. Ele não se preocupa com o ser
humano (estado temporário do espírito), mas sim com a sua existência eterna como espírito.

É com esta visão que Deus dá as coisas na vida de cada um, ou seja, os acontecimentos
que compõem esta vida. Sua preocupação é apenas com a evolução do espírito que é eterno e
imortal. Pedir qualquer coisa é querer governar a nossa vida e afastá-la de Deus.

Portanto nunca ore incluindo “me dá”, “faça isso por mim”: a oração não é para isso. Ela é
para falar com Deus, demonstrar o amor a Ele e não querer que nossos desejos sejam satisfeitos,
pois Ele sabe melhor que cada um o que é necessário.

Mesmo quando você orar com sentimentos positivos não espere que Deus vá satisfazer os
seus desejos. O Pai dá a cada segundo, novas chances de evolução e não situações para serem
gozadas no prazer material.

A recompensa de Deus aos filhos não é a satisfação das suas vontades individuais, mas
proporcionar a cada um as situações necessárias para a evolução espiritual.

Quando você vive sem amor, o que Deus lhe dará será uma recompensa equivalentes ao
seu sentimento. Quando um ser falha em uma prova de sua encarnação é necessário que Deus,
por sua Justiça e Amor, promova mais uma chance de evolução.

Ao falhar em determinada prova, o ser gerou um débito e, por esse motivo, a próxima
situação deverá espelhar não só o tema da prova, mas ainda será acrescida da expiação desse
débito.

Quando você sente ódio, raiva, crítica, ganância, poder, não está orando, não está vivendo
uma vida em oração. A recompensa, ou os fatos da vida, que Deus dará por sua vida em oração
baseia-se no sentimento que você utiliza a cada segundo de sua vida.

Quem ama não se exibe para os outros, não deixa a mão direita saber o que a esquerda
está fazendo. Todo espírito deve levar uma vida em oração, mas dentro de si e não exibindo suas
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 24

conquistas. Isto é soberba e não amor e por isso a recompensa (próxima situação de vida) será
uma prova mais difícil.

“Portanto, orem assim”:

Jesus não diz orem com estas palavras, mas orem desta forma. Se entendermos que
devemos viver uma vida em oração, ao mostrar a forma da oração Jesus nos ensina como viver.

Desta forma, podemos entender que Jesus não transmitiu na oração do Pai Nosso as
palavras para serem ditas, mas um conjunto de princípios que devem ser seguidos para se viver
ligados a Deus para que se receba a melhor recompensa para o espírito.

Portanto, o Pai Nosso não deve ser encarado como um grupo de palavras para ser dita,
mas sim como um conjunto de ensinamentos que nos levará a viver dentro do mundo de Deus,
dentro do amor.

É isto que vamos estudar hoje: qual a melhor forma de viver para se receber de Deus as
melhores coisas para a nossa evolução espiritual.

“Pai nosso”...

Para que sua existência seja uma oração constante, você terá que entender que Deus é
seu pai. Foi Ele quem lhe gerou e não a sua mãe ou seu pai biológico. Você não é fruto de uma
combinação biológica, mas sim um espírito gerado por Deus.

Tem que compreender que não é “obra” de Deus, mas um filho gerado com carinho. O ser
humano é uma obra, pois é composto de matérias, mas você, o espírito, é filho de Deus, fruto de
um amor Dele.

Portanto, para se viver como espírito nesta carne temos que tratar Deus como Pai e não
como Arquiteto, Sábio, Governador, etc. A Deus o filho deve amor, aos outros deve obediência.

Um pai nunca quer o sofrimento para seu filho, mas sempre procurar encontrar meios para
que ele progrida em sua vida. Da mesma forma Deus sempre coloca coisas na vida de um filho
para que ele progrida, não para que sofra, mesmo que aparentemente o filho não entenda desta
forma.

Quando o pai biológico obriga o filho a estudar, coloca-o de castigo após uma travessura,
sabe que o filho não compreende os reais motivos de suas atitudes, mas tem a plena convicção
que aquilo é o melhor para Ele. O filho não entende estas atitudes e acha que ele está sendo alvo
de autoritarismo, sofre porque vê a sua liberdade cerceada, mas quando cresce entende que
aquilo foi o melhor para ele.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 25

É desta forma que temos que encarar a vida. Quando as coisas não acontecem da forma
que queremos é Deus, nosso Pai, nos obrigando ao estudo do amor e às vezes sendo obrigado a
nos colocar de castigo. Entretanto, Ele não faz isso para o nosso “mal”, mas objetiva a evolução, o
crescimento espiritual. Quando evoluímos espiritualmente, vemos que isso é uma verdade.

Mas Ele não é só nosso Pai, mas de todos os espíritos do Universo: “Pai nosso”. Jesus
mostra claramente que temos que entender que todos os espíritos do Universo são filhos de Deus
e, por isso, não devemos esperar privilégio algum sem que tenha antes havido o devido
merecimento.

Pai nosso quer dizer que todos têm direito de receber as coisas de Deus e não só você.
Quer dizer que todos no Universo são orientados por Deus para que passem pelas situações que
podem lhe trazer mais rapidamente a elevação espiritual. Desta forma, você não pode se arvorar
em dono da verdade e querer ditar o que é “melhor” para a vida dos outros, nem exigir que eles se
mudem para o que imagina ser o “melhor” para a sua vida.

Se você tivesse um filho, gostaria que lhe ensinassem como educá-lo? Deus também não
gosta daqueles que querem ensinar aos seus filhos como agir. Quando você julga uma pessoa,
dizendo que ela está errada, busca assumir a paternidade dela, passando a frente de Deus.

Isto não são palavras para serem declamadas, mas entendimento para se viver a vida. É
preciso abster-se da posição de dono do mundo, de chefe da família, para entregar de volta a
Deus o comando das coisas.

Não adianta rezar as palavras “Pai nosso”, sem agir a vida sabendo que você é apenas um
filho desta família onde há um Pai que comanda a casa. Não adianta se postar de joelhos apenas
falando estas palavras, enquanto não entender que o outro não é seu subordinado, mas um irmão
que obedece apenas a Deus.

“... que estás no céu”,

O céu não é um lugar físico, mas um estado de espírito. Quem está no céu é aquele que
por só utiliza sentimentos positivos alcança a felicidade universal. A soma de todos os sentimentos
positivos é o amor universal. Portanto, quem está no céu é aquele que reage a todos os
acontecimentos com o amor universal.

Jesus ensina no Pai Nosso que você tem um Pai que é repleto de amor para dar. Não
adianta dizer estas palavras, mas sim viver com esta verdade.

Assim sendo, Deus não pode causar “mal” (situações de sofrimento) para você. Se Ele é o
Pai, o Comandante de todas coisas, todas as situações estão embasadas no amor: este deve ser o
seu entendimento sobre as coisas da vida.

De que adianta você rezar se vive achando que existem coisas que são “más”, que lhe
causam sofrimento? Você diz que o Pai está no céu, mas age de forma como se Ele estivesse no
inferno, que fosse capaz de gerar sentimentos negativos.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 26

Na verdade é você quem julga que as coisas são “erradas” porque elas não satisfazem os
seus desejos. Mas, você não é o dono do mundo, o Pai da família, como então quer dizer como as
coisas devem ser nesta casa?

O pai biológico não faz tudo o que o filho quer, mas sempre pensa no que é “melhor” para
o seu futuro quando o guia. Da mesma forma, Deus não provê o que você acha “melhor”
(satisfatório), mas lhe dá o que precisa para aprender e evoluir-se espiritualmente.

A vida humana é igual à vida espiritual: o problema é saber quem é o pai e quem é o filho.

É isto que Jesus está ensinando. Orientando cada um a viver sua existência com a
consciência de que tudo que acontece na vida foi o Pai que determinou que fosse daquela maneira
e que é o melhor para o espírito.

Orar não é viver com as mãos postas o dia inteiro, mas alcançar a consciência que esta é
a casa de Deus, que moramos nela e que Ele é nosso Pai. Saber que esta casa tem como
fundamento o amor universal entre o Pai e os filhos e que, portanto, tudo que acontece objetiva a
sua felicidade e não a punição. Viver com a consciência da transitoriedade dessa vida e que ela é
apenas uma parcela de tempo da existência infinita do ser.

Tudo que lhe acontece foi providenciado por Deus pensando nessa existência infinita.

“que todos reconheçam que seu nome é santo”.

Os santos são aquelas pessoas que não cometem “erros”, ou seja, praticam atos com
sentimentos negativos. Portanto, quando na oração é dito santificado seja o nome de Deus, quer
dizer que Ele nunca “errará”. É isto que Jesus está ensinando.

Você tem que viver sem descobrir “erros” nos outros, nas situações e objetos, pois tudo
que existe é Ele que faz. Tudo que acontece é perfeito na sua forma, porque Deus é a Inteligência
Suprema do Universo, a Justiça Perfeita e o Amor Sublime.

Enquanto você encontrar “erros” na ação divina estará negando essa elevação suprema de
suas propriedades. Assim, não adianta rezar porque a oração não é a palavra, mas o sentimento
que sai do coração.

“Venha o Teu reino”

Existe aí um pedido do espírito: que Deus o deixe participar do Seu reino. Todo espírito
vem à carne para buscar o reino de Deus, onde existe o amor e a felicidade. O espírito não vem a
Terra para fazer o que ele quer (satisfazer-se), mas sim para buscar participar do reino de Deus
através da comprovação de que é capaz de ter somente amor dentro de si.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 27

Você não veio aqui para fazer o que quer, mas para participar do reino de Deus, ou seja,
viver com amor. A vida na carne é uma busca constante de provar a Deus que se é capaz de viver
no Seu mundo e, por isso existe a necessidade de se viver todos os momentos da vida com esta
consciência.

Enquanto você quiser ser ou fazer coisas apenas baseando-se na sua vontade, nos seus
desejos, você não participará do reino de Deus, pois o amor, único sentimento que nos leva a este
reino, exige que haja igualdade entre todos. Para participar do reino de Deus precisamos alcançar
a universalidade, eliminando o individualismo.

Para se ter amor é necessário aceitar que os outros façam aquilo que “querem”, sem que
se veja nestes fatos “erros”. Não existe julgamento no mundo de Deus, pois o Pai concede o livre
arbítrio aos seus filhos.

É necessário que você compreenda que veio a essa matéria carnal nesse planeta
unicamente para provar que é capaz de amar. Cada um dos espíritos que encarnam no planeta
Terra o fazem somente para realizar essa prova e nada mais é preciso para se viver esta vida.

Todas as outras coisas que você valoriza (direito, posse, soberba, certezas) não existem: é
você que cria cada um desses valores de acordo com os sentimentos que usa. Quando utilizar
somente o amor descobrirá que nada mais é preciso, pois ele completa você, lhe dá todo o direito,
toda a posse que necessita, o orgulho correto e a certeza de viver no reino de Deus.

Para que querer ter a certeza de tudo, está “correto” sempre, se a única perfeição do
Universo é Deus? Basta apenas amar ao Pai para descobrir todas as verdades do Universo.

Querer ter razão sempre é como diz o sábio no livro Eclesiastes: pegar o vento com a mão.
Se você quiser pegar o vento com as mãos ele lhe escapará por entre os dedos. Da mesma forma,
a razão que você imagina ter sobre um assunto sempre lhe escapará, pois os fatos alteram-se
constantemente e o que hoje era de uma forma, amanhã não mais será.

Enquanto você quer pegar todas as razões esquece-se de viver e a vida passa no meio
dos seus dedos. Depois, quando fica velho se pergunta: o que eu fiz da minha vida? Onde estão
as verdades que defendi o tempo inteiro? Todas elas mudaram e você ficou sem nada.

Se você amar, se viver a vida amando sem procurar ter razões, agarrará a vida e se sentirá
na velhice pleno, cheio, feliz, pois o amor traz a felicidade.

Existe uma passagem no Evangelho de Tomé, o Dídimo, onde Jesus afirma que o homem
sábio é igual a um pescador que ao puxar sua rede encontra muitos peixes pequenos e um
grande. Ele separa o grande para si e joga fora todos os outros.

Nestas palavras Jesus afirma que você deve procurar o que mais lhe dá felicidade, o que
mais lhe completa e só o amor pode dar isso. Você tendo o amor não precisa de mais nada, nem
amar. Se tiver qualquer outro sentimento, alimento que não sacia a sua fome espiritual estará
sempre necessitando de mais alimentos.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 28

Quando você tem raiva de uma pessoa, necessitará sempre alimentá-la com mais motivos.
Quando só esta pessoa não mais bastar, estará procurando motivos em outra, depois outra.
Sempre você estará achando “erros” em todos que lhe aparecem na frente para poder alimentar
este ódio.

Com a posse é a mesma coisa: quando você possui uma coisa, necessita sempre de outra
mais. Nunca atingirá a satisfação com as coisas que tenha.

O amor traz a verdadeira satisfação por si mesmo. Quem ama não precisa de mais nada:
de razão, de verdade, de certeza, beleza: não precisa de nada. Só amor satisfaz completamente.

É desta forma que Jesus lhe conclama a viver na oração do Pai Nosso: venha a nós o
vosso reino. Trata-se de um pedido que o espírito deve fazer sempre: deixe-me participar deste
amor, me dê este amor para viver.

Mas, como Jesus avisou logo no início do texto, Deus lhe dá recompensas de acordo com
a oração feita. Assim sendo, o amor é a recompensa por uma vida de oração. Não adianta só
pedir: existe a necessidade de agir, com amor, para poder participar do reino de Deus.

“Que a Tua vontade seja feita aqui na Terra como é feita no céu”.

Não adianta você rezar pedindo a Deus que seja feita a Sua vontade assim na Terra como
no céu: tem que aceitar quando o Pai age dessa forma. Quando as coisas acontecem na vida,
você considera que foi quem fez, quem realizou o ato: como então pede que seja feita a vontade
de Deus?

Tudo o que lhe acontece é vontade de Deus e deve ser enxergado desta forma: isto é viver
em oração. Não é a outra pessoa que lhe ofende porque quer (pratica atos pela vontade dela), mas
faz desta forma porque Deus mandou que ela fizesse: foi a vontade do Pai e não da pessoa.

É o Pai, o dono da casa, quem comanda todos os seus filhos para interagirem-se
praticando atos que os outros e quem pratica precisam e merecem passar ou fazer. Deus só deixa
que a Sua vontade ocorra no universo para que a Justiça Perfeita nunca seja quebrada.

Mas viver em oração não é pensar nisso só nos momentos onde imagina que não tenha
controle da situação, mas a todos os momentos. Você pede a Deus que seja feita a Sua vontade,
mas só aceita que Ele opere quando você se sente incapaz.

Deus tem que estar presente em qualquer ato, por menor que seja. Uma topada provoca
dor, que é um sofrimento, portanto, precisa da autorização de Deus para que isto aconteça, pois
você pode não merecer esta dor.

Tudo que qualquer um consiga fazer na sua frente é comandado por Deus, pois só pode
acontecer a você o que mereça (positiva ou negativamente). Entretanto quando alguém faz alguma
coisa que você não acha certa, imagina que ela fez por livre e espontânea vontade. Neste
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 29

momento você parte para o revide, para a agressão, ou fecha-se no sofrimento: qualquer das duas
formas estará ofendendo a Deus, pois não viu o ato como da vontade Dele.

Se Deus ordenou que a pessoa fizesse determinado ato, ela serviu apenas de
intermediário entre você e a vontade do Pai. Quando parte para o revide, está revidando contra
Deus. Quando não reage, mas sofre, sente-se injustiçado, acusa Deus, causador do fato, de
injusto.

Viver orando “seja feita a vossa vontade” é não encontrar “erro” em nada que acontece
porque tudo é originado Nele. Admitindo que Deus causa tudo em sua vida, não haverá
necessidade de sofrer, pois sabe que se trata do seu Pai tentando ensinar-lhe, com amor, para que
cresça espiritualmente.

Na verdade você reza por toda uma vida dizendo que “seja feita a vossa vontade”, mas
quer ter vontade própria. Seja feita a sua vontade, desde que seja o que eu queira: mesmo que
não sejam estas as suas palavras, esta é a sua forma de viver.

Quando Ele se atreve a fazer o que não queria parte para agressão: “porque esqueceu de
mim”, “olha como estou sofrendo”, “onde está o Senhor que não vem me ajudar”.

Viver em oração é ter a consciência de que tudo que acontece é obra Dele. Isto é viver
rezando: isto é rezar. Não adianta ajoelhar-se em frente de imagens, postar as mãos: não é isto
que Deus quer de seus filhos. Ele sabe que apenas aqueles que viverem em oração, com esta
visão sobre as coisas, alcançarão a evolução espiritual.

Orar é viver em oração, é viver dentro dessas verdades universais: não existe outra forma
de orar a Deus. Para que procurar determinados lugares (igrejas, centros, cultos) se Deus está em
todos os lugares, principalmente dentro de você mesmo.

Isto não quer dizer que você não possa ir a uma igreja e rezar para um santo e conseguir
uma graça. O que estamos afirmando é que não é necessário fazer isso. Se você for a uma igreja
e orar com fé, certamente receberá a graça: não pela oração, mas pela fé. Receberá pelo
merecimento.

Fé é entrega absoluta a Deus com amor (confiança) e é isto que Jesus ensinou. Pelo amor
que você dedicou e pela entrega que fez nas mãos do Pai poderá encontrar o auxílio Dele, mas se
depois disto voltar a viver dentro da independência, nova adversidade surgirá.

Deus dá a cada um de acordo com as suas obras. Quando você coloca o amor em prática,
recebe amor; quando coloca qualquer outro sentimento, recebe o mesmo. Para merecer que o Pai
lhe dê a felicidade sempre, é necessário viver com amor, ou seja, viver em oração.

“Dá-nos hoje o alimento que precisamos”.

Se você vive em oração sabe que o alimento que abastece diariamente a sua mesa não é
conquistado pelo seu poder monetário, mas provem de Deus. Seja uma mesa farta ou um cardápio
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 30

minguado, todo alimento que sustenta o corpo físico é dado por Deus visando a elevação espiritual
de cada um.

Quando falamos em alimento não devemos nos ater apenas a comida, mas tudo aquilo
que ali-menta o corpo físico. Aí devemos incluir as posses materiais, os bens, as roupas. Enfim,
todos os elementos materiais que um ser tem a sua disposição são dados pelo Pai.

Porque, então, alguns têm muito e outros pouco? Porque existe seres que vivem no fausto
e outros passam necessidade? A resposta a essas perguntas é a Justiça Suprema e o Amor
Sublime.

Para dar a cada filho o que ele necessita para a sua existência, Deus age visando colocar
à sua disposição instrumentos que serviam para a realização das provas individuais. Se o espírito
necessitar de vencer o excesso, ter sentimentos que promovam a universalização dos bens
materiais, Deus disporá ao ser grande quantidade. No entanto, se a sua prova for aprender a
receber, Deus promoverá a penúria. Somente com a dependência de outros o ser aprenderá essa
lição.

Dessa forma, não há governo responsável pela “fome”, mas Deus que dá a cada um de
acordo com a sua necessidade. Os governantes que não promovem a “justiça social” são apenas
instrumento de Deus para promover a Justiça divina. Também não há patrão explorador, que
remunere mal seu empregado: apenas instrumentos para a vontade de Deus.

Além do mais, se Deus é o Senhor do universo, a empresa não é do ser humano, mas
propriedade de Deus emprestada para o ser humano como instrumento de sua prova. Se você
está trabalhando nela é porque o real patrão (Deus) o escolheu e ali colocou, pois é o que
necessita para receber o maior salário que pode existir: o amor.

Os sentimentos são alimentos para o espírito. Assim, quando Jesus nos ensina que
devemos viver com a crença de que Deus nos dá todos os alimentos, também o amor nos será
dado pelo Pai. Ninguém pode lhe dar sentimento algum a não ser Deus.

Aquele que imagina que o filho, o esposo, a mulher ou o marido pode lhe dar sentimentos
apenas reza e não vive em oração. Quem depende de um ser humano para se sentir amado é
porque ainda não encontrou a Fonte universal dos sentimentos: Deus.

O Pai enviará esses sentimentos (alimento) ao filho de acordo com o seu merecimento.
Trata-se de uma forma de pagamento pelos trabalhos prestados. Aquele que vive em um mundo
onde Deus é a Causa Primária de todas as coisas receberá um “salário” maior, mas aquele que
vive em um mundo onde o próximo é o seu inimigo, causador de sua infelicidade, receberá um
“salário‟ compatível com a sua “produção”.

Quando se vive em oração, pedindo a Deus que proporcione o alimento necessário para a
existência, volta-se a existência na busca de “render” mais para Deus. A esses serão supridas as
suas necessidades. Mas, quando se vive imaginando que é capaz de conquistar o alimento, a vida
não proverá as necessidades de cada um.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 31

Portanto, você deve buscar viver em harmonia com o universo, agindo exclusivamente com
o amor universal, para que receba todos os alimentos que lhe sustentará. Apenas dizer essas
palavras não garantirá o sustento.

“Perdoa as nossas ofensas como também perdoamos os que nos ofenderam”.

Pedir a Deus que “perdoe as nossas ofensas” é uma redundância. O Pai não pode acusar
um filho de nenhum dos seus atos físicos porque é Deus quem idealiza e comanda a execução de
cada ato (Causa Primária). Não pode também acusar o filho pelos atos espirituais (escolha de
sentimentos para reagir a acontecimentos) porque concedeu a cada um o livre-arbítrio, ou seja, a
liberdade da prática desses atos.

O perdão que Jesus nos ensina a pedir não é a Deus, mas aos nossos semelhantes.
Quando o ser promove um ato que fira os conceitos do próximo (ofensa), gera uma situação onde
esse poderá escolher sentimentos negativos para reagir. É por ter merecido se transformar no
instrumento de Deus para essa prova para o próximo que Jesus nos aconselha a pedir o perdão ao
seu irmão.

Quando pedimos perdão ao nosso semelhante não estamos implorando por clemência,
mas que o nosso ato não seja entendido como “errado”. É da consciência que cada ato é
planejado e comandado pelo Pai de acordo com o merecimento e necessidade dos envolvidos que
nasce o perdão. Somente essa consciência pode levar ao perdão, ou seja, a não acusação de
“erro”.

Assim, quando Jesus nos diz que devemos pedir perdão por nossas ofensas, concita-nos a
implorar ao próximo que não veja “erro” em nossos atos, mas que os receba como justos e
necessários. Só assim ele poderá recebê-los com amor. Quando isso acontecer nos banharemos
nesse sentimento e não nos tornaremos, futuramente, merecedor de servir de instrumento a Deus
para novas situações negativas para os outros.

Entretanto, a oração ensinada por Jesus não termina com o pedido de perdão para nossos
atos, mas coloca essa forma de agir na dependência de também nós perdoarmos o próximo. Para
que possamos receber amor dos outros é necessário que também os amemos. Tudo que o espírito
recebe de Deus é conquistado pelo merecimento.

Enquanto o ser não reagir a todos os acontecimentos sem ver “erros” nas ações do
próximo, não poderá ser colocado por Deus para praticar atos na frente daqueles que podem
reagir com amor. Enquanto sua reação for com sentimentos negativos o espírito merecerá ser
colocado face àqueles que utilizam esses mesmos sentimentos.

De nada adianta ao ser orar pedindo perdão a Deus por seus atos enquanto não viver a
vida perdoando aqueles que contraiam os seus desejos.

“E não nos deixes cair em tentação”.


Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 32

Apenas aquilo que desejamos e não temos é que se transformam em tentações. Se não
desejarmos ou já possuirmos, a tentação não existirá.

Quando oramos pedindo a Deus que não nos deixe cair em tentações, estamos implorando
ao Pai que não nos deixe desejar nada. O desejo nasce da vontade individualista de cada um.
Para acabar com o desejo precisamos compreender que já temos tudo o que necessitamos.

Deus provê a cada filho com todos os instrumentos necessários para a sua evolução. Se
você possui um palacete é porque aquilo lhe é útil, mas se reside em uma choupana é porque
Deus sabe que ela é o instrumento perfeito que você necessita.

Aquele que deseja o que não tem à sua disposição não consegue bem utilizar o
instrumento que Deus dispôs.

Você reza a Deus diariamente pedindo a Ele que não lhe deixe querer nada além do que
tem, mas o faz sempre pedindo algo mais. Quer saúde, dinheiro, proteção: tudo isso você já tem
na justa e necessária medida.

Viver em oração é saber que já possui tudo o que precisa para ser feliz. Desejar qualquer
outra coisa é ceder as tentações. Todas as coisas no universo que você não possui são tentações,
ou seja, objetos que não lhe servem como evolução espiritual. Desejá-los, apenas, já é cair na
tentação.

“mas livra-nos do mal”

Quando o ser prepara-se para a vida carnal está cônscio de toda a realidade espiritual. É
com bases nessa consciência que ele escreve a sua vida carnal. Pede situações que possam
auxiliá-lo a elevar-se espiritualmente participando de toda a glória celeste. Louva a Deus pela
chance que lhe é oferecida e compromete-se a se aplicar no sentido de executar todas as provas
que se dispôs.

Quando se prende à matéria densa os valores de sua consciência alteram-se e o desejo e


o individualismo nascem. Com isso a sua busca se altera. Se antes do nascimento o ser quer
participar da glória celeste agora busca a satisfação.

Dentro desses parâmetros, podemos perguntar: o que é “bem” ou “mal”? Para o ser
desencarnado o “bem” será tudo aquilo que lhe servir como instrumento para participar do reino de
Deus, mas quando encarna, o “bem” será tudo aquilo que contentar os seus conceitos.

Quando pedimos a Deus para nos livrar do mal, fazemos com a consciência de
encarnados, mas Deus entende com a consciência espiritual. Desta forma, o que é “mal” para nós
não o é para Deus.

Sabe porque você que reza não alcança a sua satisfação? Porque pede a Deus na oração
que não a promova. Quando você reza pedindo ao Pai que o livre do mal está dizendo a Ele que
não satisfaça os desejos de sua consciência material.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 33

Viver em oração é viver com essa consciência. Tudo que nos acontece é obra de Deus
como instrumento para nossa elevação. Foi fruto de nossa própria requisição quando ainda
tínhamos como objetivo à glória divina.

 Abandonar pai e mãe

Aquele que quer me seguir não pode ser meu discípulo se não me amar mais
do que o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as
suas irmãs e a si mesmo.

Ser discípulo de Cristo é ser amoroso. Ou melhor, já que vocês nem sabem o que é o amor
crístico: é não ser egoísta. Quem vive desse jeito, sem ser egoísta, é aquele que está de posse da
sua consciência espiritual, já que toda consciência humana é, por natureza, egoísta. Portanto, ser
discípulo de Cristo é ser espírito na carne.

O mestre sabia da condição humana dos seres universais, ou seja, sabia da natureza
egoísta da personalidade humana e por isso colocou um caminho para vivenciar os
acontecimentos do mundo de uma forma amorosa: é preciso que o ser humanizado ame a sua
espiritualidade acima o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas
irmãs e a si mesmo. Vamos conversar sobre isso...

No Bhagavad Gita Sri Krishna ensina que o caminho para a realização espiritual nesta vida
é a vivência dos acontecimentos deste mundo em louvor a Deus. Neste trecho, Cristo diz a mesma
coisa com outras palavras...

O que o mestre diz é que se a sua família lhe faz ficar contra Deus, contra a sua
espiritualização, abra mão dela; se os seus amigos lhe fazem ficar contra Deus, abra mão de suas
amizades; se os seus inimigos lhe fazem ficar contra Deus, abra mão de suas inimizades. Isso
porque só entra no reino do céu aquele que for mais fiel do que a fidelidade: ensinamento de
Cristo.

O que quer dizer isso que acabei de afirmar? Como pode a sua família, os seus amigos ou
os seus inimigos lhe colocarem contra Deus? É simples... Quem vive em Deus, com Deus e para
Deus alcança o estado que chamamos de felicidade incondicional, ou seja, não é feliz porque, para
que, quando, como ou onde. Ele é feliz e ponto final. Sendo assim, quem sofre interferências no
seu relacionamento com Deus é aquele que causa a condicionalidade à sua felicidade.

Portanto, se o ser humanizado precisa que sua filha lhe ligue, esteja ao seu lado,
preocupe-se com ele ou necessita que ela seja uma „boa filha‟ para que ele seja feliz, esta filha
está interferindo no relacionamento deste ser com Deus. Portanto, para ser cristão ele deve
abandoná-la. Não fisicamente: continue dando todo apoio que ela precisa, mas não a transforme
num elemento importante na existência dele. Se o ser humanizado precisa que o seu pai lhe dê
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 34

atenção e carinho para ser feliz, deve abandonar o seu pai para não perder a sua relação com
Deus.

É isso que Cristo está nos ensinando. Se os seus amigos são condicionadores de
felicidade, ou seja, lhe exigem determinadas atitudes para você e ele sentirem-se felizes, largue-
os.

Repare num detalhe: não estou falando de atos físicos. Estou dizendo abandonar
sentimentalmente. Estou falando em abandonar o sentimento de amizade, pois mais vale o ser
humanizado estar com Deus do que cercado de amigos; mais vale estar com Deus do que ter uma
família unida e estruturada.

Sei para os seres humanizados abrir mão destes sentimentos, mesmo para aqueles que
dizem buscar a elevação espiritual, é muito difícil. Se não conseguem fazer isso, pelo menos
abram mão dos sentimentos de inimizades que nutrem

Todo ser humanizado, mesmo aquele que diz amar a todos, ainda mantém inimigos.
Quando falo de inimizade não estou falando de inimigos declarados, mas simplesmente daqueles
que não concordam com o ser, mesmo nas coisas pequenas. O ser humanizado precisa se libertar
destas inimizades porque ao valorizar a rusga, a discussão e a tentativa de provar que está certo
ele está perdendo Deus na sua existência.

É isso que Cristo está ensinando. É preciso que o ser humanizado se quiser alcançar a
consciência crística, abra mão daquilo que lhe condiciona a felicidade, que são as suas posses,
paixões e desejos que envolvem outros seres humanizados.

A paixão por uma filha, por exemplo, que gera determinados desejos, faz o ser
humanizado perder Deus na sua existência. A paixão por um pai ou uma mãe que gera no ser
humanizado determinadas vontades (a esperança que ele o trata de determinada forma) é o que
afasta o ser de Deus. O sonho da vitória sobre o inimigo impondo a ele uma derrota é o que afasta
o ser que se diz buscador de Deus.

É por isso que Cristo diz que quem quiser o seguir, ou seja, alcançar a consciência crística,
ser cristão, deve abandonar seus parentes e seus amigos.

 Aquele que vem do céu

Aquele que vem do céu é o maior de todos e quem vem da Terra é da Terra e
fala das coisas terrenas. Quem vem do céu está acima de todos.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 35

O ser humano necessita para compreensão da existência carnal, alterar a sua atuo visão.
Hoje se imagina um corpo físico que nasce da união carnal entre dois seres. Este corpo que se
forma e aparece (nasce) desenvolver-se-á e, um dia, irá parar de funcionar (morte).

Para aqueles que não acreditam em Deus, neste momento, chegará o fim total; para os
outros, haverá um fim desta forma de existência (material) para o início de outra: espiritual. Em
qualquer das crenças, o ser humano imagina que ocorrem duas existências separadas: material e
espiritual. Esta é a compreensão até daqueles que acreditam na reencarnação, pois não
conseguem “ver” nos acontecimentos desta “vida” o reflexo dos atos de outras.

É por esta auto visão que os seres humanos buscam apenas a satisfação material, ou seja,
construir a sua “vida” de tal forma que ela produza “frutos” materiais. Estes “frutos” sem sempre se
referem a objetos, mas sempre terão que produzir uma satisfação pessoal, ou seja, trazer uma
felicidade individual, independente da felicidade dos outros.

Quando o ser humano compreender que ele não “nasce” nem “morre” junto com a matéria
carnal, poderá, então, encontrar Deus, ou seja, participar da felicidade universal e não buscar a
satisfação pessoal.

O espírito é eterno: existia antes do “nascimento” e continuará existindo após a “morte”. A


vida carnal é apenas um lapso da vida espiritual. A matéria carnal é um “traje” que o espírito
“veste” para uma determinada tarefa específica. Durante a existência carnal o espírito continuará a
ser o mesmo de antes e depois da encarnação. Terá as mesmas capacidades e a mesma
“essência” que fora da carne.

Quando o ser humano se conscientizar desta verdade buscará participar da felicidade


universal e não mais satisfazer suas próprias “vontades”. Neste momento ele será superior, não
porque é melhor, mas porque estará “mais perto” de Deus.

Ele fala daquilo que viu e ouviu, mas ninguém aceita a sua mensagem.

O objetivo de uma encarnação (trabalho do espírito na carne) é purificar os sentimentos


que possui, ou seja, alterar o individualismo (negativo) para universalismo (positivo). Isto ele
consegue nutrindo apenas o amor universal frente aos acontecimentos da vida. Podemos, então,
chamar a vida carnal de uma “prova” para o espírito.

Cada um possui determinados sentimentos que precisa alterar e, por este motivo, possui
provas específicas para estes sentimentos. Os acontecimentos da vida de um espírito na carne são
individualizados de acordo com os sentimentos que ele precisa alterar. Foi isso que Jesus ensinou
quando disse que cada um tem a sua própria cruz para carregar.

O espírito fora da carne é cônscio daquilo que precisa reformar. Por esta “consciência” ele
participa da elaboração do seu “Livro da Vida”, ou seja, determina os acontecimentos da sua
próxima vida carnal. Pede e programa os acontecimentos com a intenção de suportá-los com o
amor universal (fé) e assim purificar-se.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 36

As situações da vida são, portanto, provas pedidas pelo próprio espírito e não apenas
determinados por Deus. Ao vencê-las, o espírito participará da felicidade universal. Esta felicidade
é alcançada quando o todo espiritual fica feliz. Um espírito que consiga purificar-se traz a felicidade
coletiva à espiritualidade, pois este é o objetivo da existência espiritual. Quando o espírito
encarnado busca as realizações materiais está causando “sofrimento” ao todo espiritual, pois deu
vazão a sentimentos negativos.

A fome é uma situação de vida material, ou seja, uma prova pedida pelo espírito durante a
sua existência carnal. Passar por ela sem “ranger de dentes” ou murmúrios contra Deus
(reclamações) é reagir a este acontecimento com amor: alegria, compaixão e igualdade. Reagir à
fome com estes sentimentos é falar do que “viu” e “ouviu” antes de encarnar, ou seja, mostrar que
conhece o sentido da sua vida.

Quem aceita a sua mensagem dá prova de que Deus é verdadeiro.

Quando o espírito encarna existe um “artifício” no corpo humano que o impede de utilizar a
sua memória espiritual, ou seja, de lembrar-se do objetivo de sua vida. Isto ocorre para que ele
utilize a “fé”.

Ter fé é acreditar completamente em algo e, a partir desta crença, alcançar uma confiança
absoluta e irrestrita na ação do objeto da sua fé. Ter fé em Deus é acreditar e confiar na ação dos
Seus atributos (Causa Primária, Inteligência Suprema, Justiça Perfeita e Amor Sublime). Viver com
fé é dar um testemunho autêntico desses atributos.

Para que o espírito consiga reagir aos acontecimentos com o amor universal é preciso que
ele acredite nos atributos de Deus e confie na ação deles na sua vida carnal.

Para se viver com alegria independente do acontecimento, é preciso compreender a ação


de Deus. É necessário que se veja o comando de Deus na forma de todos eles (perfeição)
objetivando a Justiça Perfeita (dar o que merece) e o Amor Sublime (não como pena, mas como
ensinamento para evolução).

A compaixão pelos outros só será alcançada quando o espírito não mais “sentir”
sofrimentos, ou seja, não se sentir ferido ou magoado pelos outros. Enquanto reagir com estes
sentimentos terá que se “defender” agredindo. A compaixão só será alcançada quando o espírito
entender que ninguém pratica algo contra ele, mas Deus utiliza os outros como “mensageiros” de
ensinamentos que objetivam o crescimento espiritual deste.

É na fé na ação de Deus que o espírito pode encontrar a igualdade: dar a cada um o que
merece. Não existe ninguém que tenha uma vida completa de satisfações pessoais: sempre
haverá situações de sofrimento. Na consciência da distribuição igualitária das provas o espírito
pode ver que a cada um é dado de acordo com suas obras. Portanto, quando chega o seu
momento de passar por situações de sofrimento não há uma injustiça, mas uma igualdade.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 37

Aquele que se vê como espírito e busca a elevação espiritual compreende a ação de Deus
sobre as coisas e acaba com o seu “entendimento” sobre elas. Poderá, então, viver com o amor
universal, exemplificando o significado da “vida material” para os outros espíritos.

Tendo apenas fé (crença e confiança) na vida material, no que “compreende” das coisas, o
espírito continuará sendo um ser humano e continuará a viver para a sua satisfação pessoal.

Aquele que Deus enviou diz as palavras de Deus porque Deus dá do seu
Espírito sem medida.

É pela fé na “ação” de Deus sobre as coisas da vida que o espírito pode alcançar o amor
universal. A reforma íntima, tão comentada como necessária para a evolução espiritual, é “alterar a
essência dos acontecimentos”: ao invés do espírito entendê-los como “erro”, “injustiça” e
“sofrimento”, enxergar a ação dos atributos de Deus.

É preciso que o espírito busque a “cegueira”, ou seja, não “veja” mais as coisas para que
viva com o amor universal. No entanto, esta “cegueira” não será dada como dádiva por Deus, mas
precisa ser alcançada pelo esforço individual do espírito. Por isto Jesus nos ensinou que devemos
vigiar sempre nossas atitudes? Mas, de onde vêm os atos? O que é que cada um “vê”?

“Ver” alguma coisa é perceber formas e analisá-las com os conceitos que o espírito possui.
Sempre que uma forma é percebida, o espírito promove um raciocínio, ou seja, analisa a
percepção (pensa-mento). Esta análise é influenciada pelos conceitos existentes.

Existem dois tipos de “pensamento”: espiritual e material. O primeiro, que acontece no que
é conhecido como “inconsciente”, o espírito “escolhe” (livre arbítrio) um sentimento para reagir ao
percebido. No segundo (material), este sentimento se “materializa” em histórias (pensamento) que
servirão como “argumentos” materiais para o ato.

Exemplificando. Quando um espírito percebe uma outra pessoa ele busca os sentimentos
conceituais sobre ela: gosto ou não, ela é agressiva ou não, é “amiga” ou não. A partir destes
sentimentos ele “verá” todos os atos já praticados por aquela pessoa que ele tenha conhecimento
(“viu” ou “soube”). Sempre que uma percepção é recebida o espírito pratica o raciocínio espiritual e
recebe o raciocínio material.

O Espiritualismo Ecumênico Universal vem ensinando que o raciocínio material


(pensamento) é intuído pelos espíritos fora da carne por ordem de Deus. Eles não foram
desenvolvidos pelo próprio espírito, mas “recebidos” pela intuição. No entanto o raciocínio material
sempre refletirá o sentimento escolhido pelo próprio espírito.

Se a escolha do sentimento antecede o pensamento, o ato não é gerado realmente pelo


pensa-mento material, mas sim pelo sentimento que o espírito escolhe e que serve de base para a
“história” que Deus manda transmitir.

Para a promoção da reforma íntima, devem ser alterados os sentimentos que se nutrem
pelas pessoas, objetos e situações. É esta alteração que levará a Deus a transmitir “histórias”
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 38

diferentes. A vigilância pedida por Jesus para que aconteça a reforma íntima deve, portanto, ser
nos sentimentos que um espírito “escolhe” para reagir aos acontecimentos da vida.

No entanto, o espírito não “conhece” os sentimentos e altera a essência deles para que
haja uma satisfação pessoal e não a felicidade universal. Um filho diz que ama a mãe, mas isto é
impossível. O verdadeiro amor prega a igualdade entre todos e o filho sempre considera seus
“pais” superiores aos outros seres humanos. O amigo diz que “chama atenção” de outro para o
próprio bem deste. Na verdade “esquece” que utiliza os seus próprios “valores” (conceitos) para
determinar o que é “certo”. Ter a compaixão (ser amigo) é dar a cada um a liberdade de se “achar”
certo.

Os sentimentos positivos do universo levam o espírito a viver no reino de Deus, ou seja,


alcançar a felicidade universal e a igualdade plena, que não permitem a existência da satisfação
pessoal (sofrimento).

Como então promover a reforma íntima, se o espírito não “sabe” como vigiar seus
sentimentos? Vigiando os pensamentos. Se o raciocínio material (pensamento) é apenas uma
materialização do sentimento e este o espírito “compreende”, aí está o campo para a mudança. Ela
deverá, então, ser feita questionando o seu raciocínio: se ele está de acordo com os ensinamentos
passados pelos Mestres.

 Olhando-se no espelho

Ai de vocês, professores da lei, fariseus, hipócritas, pois são como túmulos


caiados e brancos que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios
de ossos de mortos e de podridão. Por fora parecem boas pessoas, mas por
dentro estão cheios de mentiras e pecados.

Sim, os seres humanizados parecem túmulos. Por fora aquela beleza, aquela postura de
religioso segurando seus crucifixos e santinhos, mas por dentro só tem vermes, podridão. De que
adianta embelezar o corpo se ele fede...

O corpo humano, mesmo que vocês não sintam, fede à distância, pois é matéria sem luz.
Ele é podridão, mas os seres humanizados dão tanto valor a ele.

É difícil ouvir falar de alguém se apaixonar por um homem ou por uma mulher pelo seu
interno, não é mesmo? Se o interno não for bonito sempre haverá um preconceito que afastará o
ser humanizado dessa outra pessoa.

Reparem uma coisa: tudo o que estamos vendo nos ensinamentos de Cristo tem como
mote a busca interior. Saibam que a conquista da consciência crística não passa em momento
algum por qualquer coisa exterior ao próprio ser humanizado.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 39

Portanto, os professores da lei, ou seja, aqueles religiosos que dizem entender o


ensinamento do mestre realmente são hipócritas, pois eles ainda estão apegados ao mundo
exterior. Até hoje eles continuam usando os ensinamentos do mestre para mudar o exterior, ou
seja, a forma de agir das pessoas. Utilizam-se dos seus púlpitos para falar clamar aos céus que
proteja a vida do ser humano para que ele tenha sempre dinheiro, saúde, que seus sonhos e
desejos se realizem, etc.

Eles dizem que entendem o ensinamento, mas, então, porque continuam conclamando os
fiéis para buscar Deus apenas para agir no mundo exterior enquanto Cristo disse que o problema
não está por fora, mas por dentro dos seres humanizados.

Quem aqui reza a Deus para agradecer a doença? Quem reza para agradecer o
desemprego, a fome, as críticas e perseguições?

Muitos podem achar que estou pegando pesado demais, mas lembrem-se do que Cristo
falou: será que você terá coragem de ver o seu interior refletido no espelho? Olhar-se no espelho e
ver-se de verdade é ter a coragem de assumir que o errado é você e não o outro, ou seja, assumir
a realidade que quem está errado é você ao dizer que o outro está errado. Apesar de Cristo ter
ensinado este olhar para dentro, os seres humanizados quando se encontram frente ao reflexo do
seu interior (meditam sobre as coisas do mundo) projetam uma imagem que querem ver (se acham
certos) e se apegam a ela. É esse ver na realidade quem você é que Cristo conclama através dos
seus diversos ensinamentos.

Deixe-me fazer uma pergunta: quando alguém faz uma coisa errada? Quando você diz que
está errado. Aprendam: ninguém faz nada errado. Mesmo que alguém faça alguma coisa que seja
contrária a uma lei, quando ele faz se acha certo, pois achou certo ir contra a lei. Mesmo quando
alguém faz algo contra seus princípios ou verdades, ele está certo, pois naquele momento ele
achou certo ir contra essas coisas. Na verdade quando um ser humanizado diz que outro está
errado, foi ele que colocou erro onde não existia.

A partir disso pergunto: quando você vai olhar no espelho e dizer que o errado é você que
diz que ele está errado. Ele, não importa o que esteja fazendo, está certo, porque para fazer
qualquer coisa achou antes certo fazer aquilo.

Desmistificar Cristo é isso: é falar da reforma interna que cada um tem que fazer. Só
quando isso é alcançado é que podemos dizer que estamos seguindo o mestre. Quem ainda se
relaciona com Cristo pedindo a ele para não deixar as rugas aparecerem, para segurar o outro
carro para não bater no seu, ainda não alcançou o caminho que leva à consciência crística.

De nada adianta se religar a Deus na busca da realização da sua verdade. Eu tenho uma
triste notícia para os seres humanizados: Deus não está aqui para satisfazê-los. Ele não é escravo
do ser humanizado (aquele que existe só para satisfazer as vontades de outros). Ele é o Senhor do
Universo.

Sobre esta posição de Deus e do ser humanizado Paulo fala algo interessante: enquanto o
filho for apenas filho do Dono, tem que fazer o que o Pai quer. O filho não tem poder decisório
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 40

sobre a fazenda enquanto o Pai for vivo. Só depois que Ele morrer é que o filho pode assumir a
fazenda e fazer o que quiser dela.

Mas, o Pai não faz o filho obedecer as suas ordens por prepotência, por sentir-se superior.
Ele faz isso pensando no bem da fazenda. Quando o Pai coloca o filho para trabalhar na fazenda
do jeito que Ele acha certo, o filho está aprendendo o caminho que fará a fazenda continuar
próspera.

Os seres humanizados precisam aprender a conviver com a realidade que todos são filhos
de Deus e que moram na casa Dele. O problema é que os seres humanizados habitam na casa do
Pai, mas querem mandar nela. Querem dizer como ela deve ser organizada, como deve ser limpa,
como deve ser administrada.

Pobre Pai... Foi Ele que arou a terra pela primeira vez, foi Ele que trabalhou a vida inteira
para dar sustento aos seus filhos, foi Ele que organizou tudo o que existe, mas o filho quer sempre
mudar, inovar e mudar tudo de lugar.

Apenas para deixarmos bem claro o assunto, pergunto: você quer ser independente de
Deus?

Participante: Não, não quero...

Mentira, você quer sim... Todo ser humanizado quer ser independente de Deus e a prova
disso é que sempre encontram coisas erradas na cada Dele (na vida, no planeta) que querem
mudar.

Pois bem, se quer se tornar independente de Deus eu lhe digo: comece fazendo o seu
próprio oxigênio. Sabe, é muito fácil você se alimentando do oxigênio que Deus cria querer mudar
o mundo Dele. É muito fácil reclamar que o ar está poluído enquanto ainda se encontra oxigênio
para respirar...

Essa é a realidade da vida que Cristo está ensinado. Os seres humanizados recebem tudo
de Deus. O que seria do ser humanizado se não houvesse o sopro (a animação) de Deus a cada
instante para manter-se vivo? Sem esse sopro o ser humanizado não seria nada: seria apenas
carne que apodreceria rapidamente como ocorre com aqueles onde o sopor não está mais
presente (morte física).

Cada vez que o ser humanizado respira, fala, anda, pensa ou percebe algo, Deus soprou
aquela animação para ele. Nada daquilo que o ser humanizado está tão habituado a fazer que nem
mais pensa como faz, seria possível se não fosse o sopro de Deus. O ser humanizado recebe tudo
de Deus, mas se acha no direito de dizer a Ele como deveria fazer as coisas.

Incongruente o ser humanizado, não? Mas, essa é a verdade. É por isso que Cristo chama
os seres humanizados de professores da lei, hipócritas. Pior: o ser humanizado recebe tudo de
Deus e além de não perceber isso chamam os enviados do Senhor (Cristo, os mestres, mentores,
santos) para mudarem o que Ele faz...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 41

Repare: o ser humanizado, além de lutar contra Deus, chama aqueles que são submissos
ao Senhor para formarem um exército para lutar contra o Senhor. Quando o ser humanizado
chama Cristo para curar a sua doença, o mestre olha para ele diz: filho, foi meu Pai quem lhe deu
esta doença; você acha que vou lutar contra ela? O ser humanizado chama Cristo para lhe tirar da
pobreza, mas será que vocês acham que ele, que têm a consciência de que não cai uma folha da
árvore sem que o Pai faça cair, vai lutar contra ela?

Para vivermos com Cristo de uma forma desmistificada, como nos propusemos neste
trabalho, temos que dizer que o ser humanizado deve pedir a ele que o auxilie para passar pelo
que Deus está fazendo e não para que ele combata o Pai para retirar a cruz do seu ombro. É pedir
ao mestre que nos carregue no colo nesse momento e não que lute contra Deus para mudar o
caminho.

O que estamos falando é diferente do que move a multidão que se arrasta atrás de Cristo
hoje nos templos, nas casas de orações, nas igrejas ou nos centros. Eles sempre buscam o mestre
presos ao eu, à sua vontade individual. Ninguém vai a estes lugares para pedir a Cristo que lhe dê
mais situações de sofrimento. Todos vão lá pedir para si, para seu próprio benefício e o resto das
pessoas do mundo que se danem. Se numa multidão que estiver na busca de Cristo o ser
humanizado for o único abençoado tendo sua vontade atendida, achará aquilo uma maravilha. E o
resto das pessoas que também estavam ali procurando? Ah, elas podem esperar...

Cristo não está à disposição dos seres humanos, mas sim dos espíritos para auxiliarem a
estes na sua elevação. Se para isso é preciso que o ser humanizado passe por situações de
sofrimento, é isso que o mestre fará.

Compreender as coisas desta forma é que é ter a consciência crística. Não acredita? Ouça
Cristo fala momentos antes de ser preso e veja se não é o que estou dizendo:

Sinto agora uma grande aflição. O que vou dizer? Direi: Pai, livra-me desta hora
de sofrimento? Não! Pois foi para isso que eu vim. Pai, glorifica o teu nome em
mim...

Sei que o que estou dizendo contraria profundamente tudo o que vocês ouviram até hoje
sobre consciência crística, sobre a ação de Cristo. Até hoje sempre ouviram que ele está de
prontidão para satisfazer as suas vontades, os seus desejos, para lhe defender dos seus inimigos,
mas não é esta a realidade que ele ensinou.

Quem tem a consciência crística não se preocupa em mudar a sua vida, mas sim o jeito
como se vivencia a vida que tem. Para se alcançar esta consciência é preciso começar a olhar o
seu interior no espelho e não viver externamente a si...

 Carregando as cruzes diárias


Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 42

Quem não carregar a sua cruz e não me seguir não pode ser meu discípulo.

Para se tornar um discípulo de Cristo, segundo os ensinamentos do mestre, é preciso amar


a sua consciência espiritual acima de qualquer coisa deste mundo, como já vimos. Agora ele
coloca outra condição: pegar a sua cruz e segui-lo. Esta é uma informação muito interessante que
precisamos entender.

Será que Jesus Cristo foi crucificado pelos romanos? Para responder a esta pergunta vou
buscar o auxílio do apóstolo Paulo. Ele diz assim: Cristo entregou-se à cruz. Sendo isso verdade,
temos que compreender que Cristo não foi crucificado, mas entregou-se à cruz.

Esta visão é muito diferente da outra. A primeira hipótese, ser crucificado, nos leva a
compreender que houve uma ação externa que criou o episódio da crucificação. Já na segunda,
encontramos uma motivação interior: entregar-se à cruz. Esta é uma coisa que a humanidade
precisa parar para pensar.

Se formos ler a Bíblia, vamos encontra em diversos momentos, inclusive antes do


nascimento de Jesus, a informação – e se ela é por parte dele existe a confirmação – de que Jesus
Cristo será crucificado. Ou seja, o futuro acontecimento da crucificação é uma realidade conhecida
pelo mestre e prevista antes dele vir à carne. Portanto, aqueles que participaram do teatro da
crucificação achavam que estavam fazendo alguma quando na realidade não estavam fazendo
nada: apenas estava acontecendo o que já era previsto e aceito pelo próprio Jesus e designado
por Deus.

Lendo o livro Apocalipse da Bíblia, encontramos a cerimônia da posse de Cristo como


Governador Geral do planeta. Nesta passagem encontramos o seguinte texto:

Quem é digno de quebrar os selos e abrir o livro?...

Então um dos lideres me disse: não chore. Olhe! O Leão da tribo de Judá, o
descendente do rei David, conseguiu a vitória e pode quebrar os sete selos e
abrir o livro. ...

Os anjos cantavam: Tu és digno de pegar o livro e de quebrar os selos, pois


foste morto na cruz e, por meio da tua morte, compraste para Deus pessoas de
todas as tribos, línguas, nações e raças.

Nesta cerimônia, que aconteceu muito antes da primeira encarnação no planeta já está,
então, prevista a vitória do Cordeiro (Cristo) sobre a morte na cruz. Isso prova, definitivamente, que
a crucificação não foi uma atitude decretada por Pilatos e conduzida pelos soldados romanos, mas
algo que já estava previsto muito antes da encarnação Jesus Cristo.

Cristo entregou-se à cruz: este é o conhecimento fundamental sobre a crucificação para


quem busca a consciência crística. Quem busca vivenciar os acontecimentos do mundo como o
mestre os vivenciou precisa estar consciente que ninguém julgou, crucificou ou matou Jesus Cristo,
mas que o mestre entregou-se amorosamente a este processo.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 43

Este mesmo Cristo que se entregou à cruz nos diz: se você não pegar a sua cruz... O que
quer dizer isso? Se você não entregar-se à sua cruz e seguir Cristo, não poderá ser seu discípulo,
ou seja, viver os acontecimentos do mundo com a mesma consciência que ele viveu.

É claro que nos dias de hoje não se fala mais em prender ninguém na cruz, mas todo ser
humanizado vivencia momentos de crucificações. Estes momentos, figurativamente falando, são
aqueles onde o ser humanizado vivencia o que não gosta, quando é passado para trás, quando é
criticado, vilipendiado e agredido. Fazendo esta figura, podemos entender o ensinamento do
mestre neste trecho dos evangelhos canônicos.

Cristo ao afirmar que para ser seu discípulo é preciso pegar a sua cruz e segui-lo, está
criando uma condicionalidade para que o ser humanizado possa alcançar a consciência crística.
Esta condicionalidade afirma que é preciso que o ser humanizado que alcançar a felicidade precisa
entregar-se aos seus momentos de sofrimento e de contrariedade.

Aquele que quer fugir desses momentos, que quer que eles acabem, não tem condições
de ser discípulo de Cristo. Aquele que reza a Deus pedindo que afaste a sua doença ou que
termine com os momentos onde ele é agredido ou caluniado, não tem condições de se tornar um
discípulo de Cristo. Aliás, nas próprias bem aventuranças Cristo diz:

Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia
contra vocês por serem meus seguidores. Fiquem alegres e contentes, porque
está guardada para vocês uma grande recompensa no céu. Pois foi assim
mesmo que perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.

Reparem como Cristo fala nas bem aventuranças: quando, ou seja, no exato momento
que...

Esta é uma grande verdade: sem as situações de desgosto o ser humanizado não tem
condições de fazer a reforma íntima. Sem entregar-se – reparem que não estou falando em
causar, mas entregar-se – e vivenciar até o último gole do cálice que o Pai lhe oferece, o ser
humanizado não consegue chegar ao reino do céu.

É isso que Cristo mais uma vez está ensinando. Não adianta o ser humanizado querer fugir
das suas cruzes diárias, não adianta dizer que os outros o crucifica; é necessário que o ser
humanizado ser entregue às suas cruzes.

Mas, Cristo fala mais ainda. Ele diz que é preciso pegar a sua cruz e segui-lo, ou seja,
vivenciar estes momentos num estado paz, felicidade e harmonia com o mundo e consigo mesmo.
Para se conseguir a consciência crística não basta apenas passar pelas situações de sofrimento,
mas é preciso vivenciá-las da mesma forma que o mestre as vivenciou. Como ele vivenciou a
crucificação: Pai, louva o seu nome através de mim...

Portanto, este é o ensinamento completo: carregue a sua cruz, ou seja, não fuja dos seus
momentos de sofrimentos, mas ao vivenciá-los faça louvando a Deus (em felicidade plena) e não
sofrendo. Aliás, esta informação também está em O Livro dos Espíritos: alcança a perfeição aquele
que vivencia a sua encarnação (vida humana) sem ranger de dentes...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 44

Fiz toda a introdução neste assunto abordando a entrega de Cristo à cruz para que a
humanidade pare de culpar os romanos ou o clero judeu, os ricos e poderosos da morte do mestre,
pois ninguém crucificou Cristo. E falei do ensinamento para que vocês entendam que se não
entregarem-se às suas cruzes diárias ao invés de ficar rezando a Deus pedindo que ele afaste de
vocês esse cálice, não conseguirão atingir à elevação espiritual, entra no reino do céu ou qualquer
nome que queiram dar.

 Jesus e os três empregados

Este texto é muito importante porque traduz o real sentido da prova que o espírito faz
quando encarna nesta matéria densa no planeta Terra.

Os espíritos que estão no processo de encarnação no orbe do planeta Terra encontram-se


realizando esta prova há muito tempo, mas não conhecem o seu real sentido. Agora que a prova
final aproxima-se, é importante deixar bem claro que provação é esta que o espírito tem que
realizar.

Há sete mil anos os espíritos encarnam para provar alguma coisa. Este texto é sobre esta
prova. Ele explica o que o espírito vem fazer na carne.

Jesus continuou:

O Reino do céu será como um homem que ia fazer uma viagem. Chamou os
seus empregados e os pôs para tomarem conta da sua propriedade. E lhes deu
dinheiro de acordo com a capacidade de cada um: ao primeiro deu cinco mil
moedas de prata, ao outro duas mil; e, ao terceiro, mil. Então foi viajar. O
empregado que tinha recebido cinco mil moedas saiu logo, fez negócios com o
seu dinheiro e conseguiu outras cinco mil. Do mesmo modo, o que havia
recebido duas mil moedas conseguiu outras duas mil. Mas o que tinha recebido
mil, saiu, fez um buraco na terra e escondeu o dinheiro.

Depois de muito tempo, o patrão voltou e acertou as contas com eles. O


empregado que tinha recebido cinco mil moedas chegou e entregou mais cinco
mil, dizendo: “O senhor me deu cinco mil moedas. Olhe, aqui estão outras cinco
mil que consegui ganhar”.

“Muito bem, empregado bom e fiel”, disse o patrão. “Você foi fiel e negociante
com pouco dinheiro, por isso vou por você para negociar com muito. Venha
festejar comigo!”
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 45

Então o empregado que havia recebido duas mil moedas chegou e disse: “O
senhor me deu duas mil moedas. Olhe, aqui estão mais duas mil que consegui
ganhar”.

“Muito bem, empregado bom e fiel”, disse o patrão. Você foi fiel negociando
com pouco dinheiro, por isso vou por você para negociar com muito. Venha
festejar comigo!”

Aí o empregado que havia recebido mil moedas chegou e disse: “Eu sei que o
senhor é um homem duro: colhe onde não plantou e junta onde não semeou.
Fiquei com medo e por isso escondi o seu dinheiro na terra. Veja, aqui está o
seu dinheiro”.

“Empregado mau e preguiçoso!”, disse o patrão. “Você sabia que colho onde
não plantei e junto onde não semeei. Por isso você devia ter depositado o meu
dinheiro no banco e, quando eu voltasse, o receberia com juros”.

Depois virou-se para os outros empregados e disse: “Tirem o dinheiro dele e


dêem ao que tem dez mil moedas. Porque aquele que tem muito receberá mais
e assim terá ainda mais; mas quem não tem, até o pouco que tem tirarão dele.
E joguem fora, na escuridão, o empregado inútil. Ali ele vai chorar e ranger os
dentes”.

Esta história é muito conhecida como a “parábola dos talentos”. Ficou conhecida assim
porque em algumas traduções da Bíblia a moeda é citada pelo seu nome da época: talento.

Cristo conta na história que um senhor foi viajar e deu a três empregados algumas posses.
Na sua ausência, dois deles multiplicaram estas posses, enquanto que o terceiro escondeu o que
recebeu, com medo do patrão e assim não conseguiu ter mais do que tinha antes.

A interpretação conhecida deste texto é a de que devemos valorizar as coisas que Deus
nos deu, para voltarmos ao mundo espiritual com mais posse do que viemos. Isto está correto, mas
o que Deus nos deu antes da encarnação? O que precisamos devolver multiplicado? Vamos
buscar entender este aspecto...

Tudo que Cristo ensinou quando encarnado faz parte da “Boa Nova” que ele veio trazer ao
planeta. Mas, o que é esta “Boa Nova”? O amor!

No fundo de tudo o que Cristo fala está o amor. Portanto, o tesouro que o mestre cita nesta
história não poderia ser outro a não ser o amor.

Deus deu a cada um de nós, seus filhos (espíritos), um pouco de Seu amor, para que
tomemos conta deste bem espiritual, enquanto Ele está “viajando”. Ele espera que coloquemos
este amor para “render juros” e não que o guardemos enterrado para entregá-lo na mesma
proporção que recebemos...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 46

É isto que Cristo explica nesta parábola e esta é a prova que os espíritos fazem quando
vem à matéria carnal no planeta Terra: colocar o amor para render. Mas, como é que um
sentimento pode gerar “lucros”?

Quando um espírito sente (“gasta”) um sentimento, recebe mais do Universo dele mesmo.
Portanto, quando o espírito coloca o amor em prática, ele o faz render, o multiplica.

Quando você “gasta” o amor que Deus lhe deu, aumenta a quantidade de amor que tem
dentro de você. Esta é a prova que o espírito veio fazer na carne: “gastar” o amor (amar) para
poder ter mais amor dentro de si na hora de voltar ao Pai.

Mas, o que acontece diariamente com os espíritos na carne? Gastam este amor que Deus
lhes deu ou economizam para não ficar sem ele?

Na verdade, os seres humanizados pegam o amor que receberam do Pai antes da


encarnação e o enterra, gastando o sentimento do julgamento, da ofensa, da briga, da crítica aos
outros... Agindo desta maneira, não gastam o amor e, por isso, não obtém lucros para o patrão.

Aliás, amar verdadeiramente é a última coisa que os espíritos humanizados pensam em


fazer, porque acham que serão considerados “bobos”, que só irão sai perdendo se amarem a tudo
e a todos.

Estes quando chegam no mundo espiritual menos denso – que nesta parábola é
configurada pela volta do “senhor” – afirmam: “Olha, eu fui bom. Todo amor que o Senhor me deu
está aqui de volta: não gastei nada”. Acontece que Deus não quer o amor que colocou sob sua
guarda de volta no justo valor, mas o quer aumentado.

Para aquele que não gastar o amor que recebe do Senhor, acontecerá como descrito na
história: será “atirado no escuro, onde existe o ranger de dentes”. O que será que Cristo quis
dizer? O que é “ranger de dentes”?

O ser universal range os dentes quando está em sofrimento. Neste texto, então, através de
uma de suas comparações, Cristo afirmou: aquele que não aumentar pela utilização o amor que
Deus colocou sob sua guarda será enviado para um lugar onde existe sofrimento.

Em que lugar, densidade, existe no Universo o sofrimento? Por causa da característica


negativa do sofrer, posso afirmar que ele só existe na densidade da matéria carnal, ou seja, só
existe para o espírito enquanto ele se imaginar como a identidade humana que vive.

Não estamos falando de dimensões de habitação de espírito, mas sim de auto visão. O
sofrimento existe não no planeta Terra ou em qualquer plano espiritual específico, mas somente
para aqueles que se vêm separados de Deus.

Os espíritos que saem da carne e vão para a densidade conhecida como “umbral” – lugar
que para os seres humanizados é o de sofrimentos – ainda se imaginam como “vivos”, ou seja,
dentro das personalidades que viveram quando na carne. É por isso continuam a sofrer e não por
estarem no umbral.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 47

O sofrimento, portanto, é decorrência de uma visão humana que o espírito tem de si


mesmo e não determinado por um lugar específico onde vive.

A partir desta compreensão, podemos começar a entender as palavras de Cristo: aquele


que não multiplicar o amor que Deus coloca sob a sua guarda vai viver na carne, ou seja,
continuará no processo de encarnação, no processo de vivenciar personalidades humanas.

Sei que não é esta a compreensão que muitos têm deste texto, mas sempre foi esta a lição
que Cristo. As demais interpretações que foram feitas dele não atingiram esta verdade porque não
levaram em conta o fundamento da “Boa Nova”: o amor.

Já falaram que o talento era a doação e muitos saíram correndo e compraram as coisas
para dar aos outros com o sentimento de auto proteção, ou seja, reservar seu espaço no coração
de Deus... Entretanto, esqueceram-se do amor na hora de doar!

Já traduziram o talento como os trabalhos mediúnicos e muitos espíritos colocaram-se à


disposição da espiritualidade para realizar este trabalho, não por amor, mas para que o Senhor
ficasse satisfeito com eles... Mas Deus não quer as coisas feitas por interesse, mas em tudo quer o
amor.

Chegaram a estas conclusões porque não compreenderam que Cristo ensinou que o único
talento que um espírito deve possuir é o amor, pois só ele fará com que todas as vivências da
encarnação sejam realizadas dentro da “Boa Nova”.

Deus quer que os espíritos gastem o talento que Ele lhes entrega ajudando o seu
semelhante, porque somente o amor pode ajudar o outro a obter a alegria de viver. Não adianta
dar um cobertor sem o amor, porque o cobertor pode aquecer o corpo, mas o “frio” da alma
continuará. Não será o cobertor que irá acabar com a tristeza (frio) que está no coração de quem o
recebe.

É isto que Cristo quis dizer e é isto que precisa ser colocado em movimento no planeta: o
amor. Entretanto, este amor deve ser o universal, de Deus e não o que a humanidade classifica
como amor.

O amor de Deus é fundamentado na felicidade. Portanto, o primeiro trabalho de um espírito


na carne é levar a alegria para todos aqueles que sofrem, pois quando fizer isso, estará
multiplicando o amor.

Este, quando voltar ao Pai, poderá dizer: “O Senhor me deu cinco mil, mas eu negociei e
trouxe dez mil”. Aí Deus responderá: “Empregado bom, você trabalhou bem com pouco amor e
trouxe lucro. Por isso vou colocá-lo agora para trabalhar com muito, com muito amor”.

Vocês falam muito que para ter amor é preciso ter paz, mas Cristo não disse que trouxe a
espada e não a paz? Podemos então concluir que Cristo não trouxe o amor? Claro que sim...

Portanto, para amar não é indispensável à presença da paz. Aliás, a expressão máxima do
amar é alcançada justamente quando não há paz. Por isso Cristo ensinou: se você só ama o seu
amigo, que vantagem acha que tem? Até os pagãos fazem isso...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 48

Amar não é só “passar a mão na cabeça de todos”, relevar. Amar é mostrar o sentimento
negativo que a pessoa está usando, sem gritos, sem brigas, sem ofensas, aceitando se o outro
não concordar.

Isto é amar: manter a alegria sempre. Para se viver neste estado feliz a primeira coisa a se
fazer é jogar fora a tristeza. Aquele que cultivar a tristeza será levado para o “lugar escuro onde há
ranger de dentes”, pois ele gosta disso e não porque o Pai o condenou a isso.

Não será Deus que irá castigá-lo: o Senhor apenas fará o que o espírito gosta. Você não
gosta de tristeza? Então será colocado onde e com quem gosta: com os tristes.

Outro elemento do amor divino: a compaixão, ou seja, a consciência do sofrimento que


pode se causar ao outro. Não o sofrimento que pode ser causado pelo que se fala, mas, na maioria
das vezes, quando se cala.

Ter compaixão pelos outros não é calar-se e fingir que tudo está certo, mas falar. Falar
mostrando o não amar que o irmão está utilizando para vivenciar os atos e não apontando os atos
errados.

Mas, o que é não amar? São todos aqueles sentimentos que machucam alguém, que
fazem os outros se sentirem melhores ou piores. Sendo assim, apontar erros não é amar, mas
omitir-se e não falar também não é. Trabalhar demais não é ter amor, mas ficar parado no ócio
também não é.

A compaixão exige o equilíbrio entre os sentimentos, exige a equanimidade. Exige que


você trabalhe, mas que guarde o sétimo dia para Deus, que você tenha um dia para Ele.

Não... Não estou falando do rito de algumas igrejas evangélicas, mas sim do que Cristo
ensinou.

O que o mestre ensinou é que o sétimo dia não deve ser um dia para viver dentro da igreja
ou em casa em frente à televisão. Deve ser um dia para Deus, ou seja, um dia para o amor. Melhor
ainda: um dia para a felicidade.

Quem tem compaixão de si e dos outros vive pelo menos um dia na semana onde luta para
não criticar ou julgar os outros, para não elogiar ou rebaixar alguém. Com isso está guardando o
sétimo dia ao Senhor, pois está vivendo-o dentro da essência espiritual.

É esta a compaixão que será necessária alcançar: a consciência de fazer todas as coisas
dentro de sua exata medida, gerando felicidade e não criando obrigações, seja para si ou para os
outros.

Quanto ao não amor dos outros, o ser humanizado deve apontar a sua utilização (“neste
momento você não amou”), mas não criar desentendimentos: “viu como você não presta, como
não faz nada certo...”
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 49

Para que a verdadeira compaixão exista é preciso que o ser humanizado mostre o não
amor com amor, ou seja, não aponte erros. Para isso é necessário não julgar, ou seja, não utilizar
leis que criem o certo e o errado...

Não se deve mostrar aos outros as suas infrações às leis de Deus, mas, sim praticá-las!
Quando você briga com alguém (vivencia o acontecimento com o sentimento de raiva) porque ele
não cumpriu a lei de Deus, também está quebrando essa mesma lei, pois não amou o outro.

Como cobrar o que não é praticado? Que exemplo nós podemos dar com este tipo de
sentir para os outros se espelharem?

O amar passa necessariamente pela doação da razão a quem não está amando...

Doar a razão é aceitar que o outro tenha uma verdade diferente da sua. É ter a consciência
de que ele está certo, pois vivencia os acontecimentos com base em seus próprios parâmetros de
verdades.

Por isso afirmo que ter compaixão não é acabar com o sofrimento da pessoa, mas ter a
consciência de que ela está sofrendo. Não é corrigir o outro, mas compreender que ele não está
amando universalmente, ou seja, dando a cada um o direito de ser e pensar diferente...

Até hoje, quando se fala em “ter compaixão”, a idéia é de que deviam ser adotadas duas
posturas: a primeira de omissão – “calo-me sobre o fato para não aumentar a dor dele” – ou ainda
– “calo-me porque esta pessoa me é querida e não quero feri-la”. As pessoas que agem desta
forma tornam-se cúmplices no erro dos outros, pois passam a aceitar o que está sendo feito como
“certo”.

Isto não é amor, mas desamor. Nesta forma de proceder leva-se em conta apenas o
sofrimento que se poderia causar neste momento com a “chamada de atenção”, mas esquece-se
do sofrimento maior que este ser terá futuramente.

Saiba de uma coisa: você foi colocado na frente dela para alertá-la e proporcionar-lhe uma
chance de ter sentimentos mais adequados à lei de Deus. Se você coloca este alerta com amor,
sem críticas ou brigas e a pessoa não aceita, posteriormente Deus colocará no caminho dela outra
pessoa que não a avisará com amor, mas com o mesmo sentimento negativo no qual ela está se
banhando...

“Quem com ferro fere, com ferro será ferido...” Isto é verdade, mas antes que aconteça,
Deus sempre dá uma primeira chance.

Sei que estou falando bastante sobre o tema, mas o que deve ficar bem claro é o seguinte:
deve-se alertar sobre o sentimento e não sobre o ato.

Não adianta você dizer que o outro é agressivo, pois ele se defenderá dizendo que está
apenas “reagindo ao mundo”, à agressão que imagina ter sofrido. O que pode ajudar não é alertá-
lo que ele é um agressor, mas mostrar que a raiva que está sendo vivenciada no momento da
agressão é um não amor, pois não possui em si a compaixão e a felicidade.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 50

A segunda postura que o termo “compaixão” desperta é que devemos sofrer o sofrimento
dos outros junto com eles. Muitas pessoas acham que para demonstrar compaixão é necessário
ser solidário na dor: isto é uma mentira.

Se o sentimento é uma coisa que se transmite aos outros, quando uma pessoa está
sofrendo não se pode levar para ela mais sofrimento e sim alegria. Transmitir sofrimento para
quem está sofrendo não é compaixão, mas aumentar este sofrimento.

Portanto, para amar e assim colocar o bem que Deus depositou em sua confiança para
render juros, o espírito deve viver com felicidade e compaixão. Mas, para que estas posturas sejam
alcançadas, é necessário haver a igualdade, ou seja, o espírito não deve sentir-se pequeno ou
agigantado perto de outro.

O espírito deve tratar a todos como seus iguais, não importando onde esteja ou quem seja.
Para isso ele deve ser humilhar sem se humilhar.

Para os seres humanizados existe muita confusão entre humilhação e humildade. Por isso
muitos se humilham dizendo que com isso estão sendo humildes.

Mas, Deus não quer que o espírito se humilhe a nenhum outro e nem a Ele mesmo. O Pai
quer que o filho tenha a humildade de não se achar melhor que os outros, ou seja, a humildade de
doar a razão.

Aliás, depois de tantos ensinamentos trazidos pela coletividade espiritual, acho que já está
na hora dos seres humanizados não mais se acharem melhores do que qualquer um, não?

Saiba: não existe nada que você possa comprar com dinheiro que salve o seu futuro
espiritual. Se comprar um foguete e for viver fora da Terra para ver se escapa do desencarne,
Deus o achará e o destino inexorável acontecerá... Se construir um buraco profundo no chão para
se esconder, ali também chegarão os efeitos do que tem que acontecer...

Nada que seja comprado com dinheiro pode evitar o encontro do empregado mau e
preguiçoso (aquele que não põe o amor para render juros) como seu Senhor. Este encontro
sempre acontecerá e este empregado sempre encontrará os efeitos do ato de não ter colocado o
bem deixado pelo Senhor com ele...

Estes efeitos só não vão encontrar aqueles que tiverem o amor, aqueles que estiverem
alegre, que souberem usar a compaixão e que viverem a igualdade, ou seja, não se humilharem
nem se ufanarem.

Este é um alerta importante nos dias de hoje, porque a volta do Senhor está próxima. O
orbe terrestre vive hoje dias de espera do retorno do Senhor, como está profetizado no Novo
Testamento bíblico. Ou seja, está próximo a hora de prestarmos contas daquilo que nos foi
confiado...

Sei que muitos não acreditam nestas profecias, mas não foi só Cristo que falou das coisas
que acontecerão na transformação deste planeta, mas todos os enviados de Deus falaram na
mudança dos tempos. A transformação do planeta está descrita na bíblia, tanto pelos profetas
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 51

como pelos apóstolos, mas também faz parte dos ensinamentos de Buda, Kardec e Krishna.
Portanto, é uma informação universal.

Para poder continuar existindo nesta nova era que nascerá, é preciso que o espírito
aprenda a viver. Para isso é preciso que compreenda que viver não é estar habitando uma carne,
mas sim existir no reino de Deus.

Para que um espírito se considere vivo é preciso que ele entenda que, estando aprisionado
em uma massa mais densa (corpo humano) ou menos densa (perispírito), deve existir no Reino do
céu. Para isso é preciso que ele apenas ame...

Por isso afirmo: existem muitos “mortos” que estão vivos e muitos “vivos” que estão
mortos.

Para se viver no reino de Deus é necessário que se aprenda a viver o amor universal em
toda a sua amplitude: felicidade, compaixão e igualdade. Para isso é fundamental que se entenda
todas as lições de Cristo à partir da essência da “Boa Nova”.

Voltando ao texto, podemos então entendê-lo melhor, com o código certo para decifrá-lo.
Nesta parábola está se falando do retorno do espírito à frente do Senhor, ou seja, do tão
comentado “julgamento” que se processa quando o ser universal desliga-se da personalidade
humana que vivenciou durante certo tempo. Esse julgamento é que irá determinar se o espírito irá
“viver” (continuar no Reino do céu) ou “morrer” (voltar ao ciclo de encarnações, para o lugar escuro
onde existe ranger de dentes).

Quando sair da carne Deus irá perguntar a cada um: “Dei a você amor. Quanto você tem
de amor? A mesma quantia? Então irá para o lugar de ranger de dentes”.

Para se fugir deste destino é necessário que se multiplique o “capital” dado por Deus e isto
só acontecerá quando você usar muito, muito mesmo, o amor.

Foi isto que Cristo ensinou nesta história.

 A batalha pela consciência crística

Se um rei que tem dez mil soldados vai partir para combater outro que vem
contra ele com vinte mil, ele senta primeiro e vê se está bem forte para
enfrentar o outro. Se não fizer isso, acabará precisando mandar mensageiros
ao outro rei, enquanto este ainda está longe, para combinar condições de paz.
Jesus terminou dizendo: Assim nenhum de vocês pode ser meu discípulo se
não deixar tudo o que tem.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 52

O rei, neste caso, é o ser universal; a guerra deste ser é contra a sua humanidade (os
desejos, as paixões e as posses). Para este ser Cristo ensina: se você sente que os seus desejos,
paixões e posses são muito mais fortes do que a sua determinação em buscar a Deus, pense,
reflita e trace um plano de batalha contra essas coisas... Se não fizer isso, durante a batalha terá
que render-se a elas...

Render-se já seria um ato desonroso, mas repare em como Cristo fala. Ele diz: você será
subjugado pelo inimigo.

Ser discípulo de Cristo, ou seja, alcançar a consciência crística, é um trabalho imenso para
o ser humanizado. Ninguém consegue alcançar tal estado de espírito simplesmente indo ao centro
ou a igreja. Ninguém o consegue simplesmente fazendo orações ou praticando a caridade
fundamentada em objetos materiais (comida, agasalho, etc.). Para se alcançar a consciência
crística é preciso exercer uma verdadeira batalha contra o ego, a personalidade humana, você...

Esta batalha como já foi falado diversas vezes, não se trata de uma guerra para subjugar a
personalidade humana, mas sim para libertar-se das paixões, desejos e posses que ela cria.

Para esta batalha, assim como para qualquer outra coisa, o ser humanizado precisa estar
preparado. Neste caos, no entanto, a necessidade da preparação é muito mais imprescindível. Por
que afirmo isso?

Para responder a esta pergunta, faço outra: quem é, analisando friamente a questão, o
conjunto de seus desejos, paixões e posses? Você mesmo... Você é o conjunto daquilo que
acredita, que quer para si e que diz que é seu...

Portanto, é preciso um planejamento muito grande por a luta é contra você mesmo. Contra
os seus desejos, as suas paixões e as suas posses. É preciso realmente um planejamento muito
grande para esta luta por que ela é contra você mesmo e contra tudo aquilo que diz acreditar,
querer e que é seu...

Justamente pela luta para alcançar a elevação espiritual ser contra si mesmo é que o
Bhagavad Gita, livro máximo dos hindus, relata a luta de Arjuna contra seus próprios parentes
consangüíneo. Sim, a luta pela elevação espiritual é contra os seus parentes, os seus amigos, os
seus inimigos, não querer carregar a sua cruz, ou seja, tudo que já falamos até aqui.

Por isso, é premente que cada ser humanizado trace planos para a sua batalha. Sem eles,
dificilmente conseguirá a vitória. Conhecendo o que é a derrota nesta batalha, acho que a
premência de se fazer planos fica bem clara.

Se tudo o que falamos até aqui é a vitória na batalha pela elevação espiritual, qual, então,
é a derrota? É o acreditar em você mesmo... É o acreditar que o que você acha verdadeiro é
assim, é acreditar que realmente quer o que deseja, é acreditar que aquilo que está sob sua
guarda é seu... Ou seja, é ser quem você é hoje... A batalha é difícil e precisa ser cuidadosamente
planejada porque se não o for você continuará sendo quem é e com isso não conseguirá a
consciência crística...
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 53

É por isso que Cristo afirma que o ser humanizado que não planeja a sua batalha
avaliando bem o seu inimigo é subjugado por ele. Se você não planejar bem a sua batalha será
subjugado por você mesmo, pela personalidade humana que agora acredita ser.

Isso é busca da elevação espiritual: lutar contra você mesmo. Para alcançá-la de nada
adianta ir à igreja ou ao centro, ler livros ou ficar presos em ensinamentos, mesmo que sejam os
meus. Não estou dizendo que você não deve fazer estas coisas. Como já disse, os atos não
importam... O que estou querendo dizer é que você precisa compreender que estas coisas são
apenas instrumentos que podem lhe auxiliar os seus planos de batalha e não realizações...

Ouvir-me, ler os meus ensinamentos diariamente, ir ao centro todas as quartas, à umbanda


as sextas e fazer entrega de cesta básica aos sábados e domingos não eleva ninguém. Se a
batalha decisiva contra a personalidade humana (você mesmo) não estiver sendo executado a
cada segundo da sua existência dentro de um pré-planejamento, nada será alcançado...

Portanto, se você quer alcançar a consciência crística primeiro decida o que quer. Depois
disso trace o seu plano para enfrentar você mesmo...

Participante: O que fazemos naqueles momentos que sentimos que perdemos a


batalha? Sentamos e choramos?

O que faz um general de um exército de exército quando perde uma batalha? Reagrupa as
suas forças e traça planos para uma nova batalha...

Sentar e chorar num canto são atitudes que podem ser comparadas ao ato de entregar a
bandeira branca. É aceitar a submissão...

Reagrupe suas forças, ou seja, realinhe os seus conhecimentos necessários para a guerra
contra a personalidade humana e esquematize uma próxima batalha. Só isso...

Vou lhe dizer uma coisa: se a cada derrota na guerra os generais sentassem para chorar
as derrotas ninguém vencia a guerra, pois todos morreriam afogados no oceano de lágrimas que
haveria.

 Amem-se uns aos outros

Para conversamos sobre a Bíblia hoje selecionei um discurso que Cristo faz aos apóstolos
depois que Judas retira-se da ceia. Ou seja, é a última instrução que Cristo dá aos seus apóstolos
antes da crucificação. Ele está no Evangelho de João, evangelho esse que é muitas vezes
esquecido, mas que contém grandes ensinamentos.

Vamos, então, ver este texto...


Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 54

Jesus disse: Eu sou a videira verdadeira...

O mestre se declara como a videira, mas quem é Jesus Cristo? Antes de entrarmos no
estudo, isso precisa ficar muito bem definido...

Jesus Cristo não é um homem ou um espírito, mas sim uma encarnação, uma vida
humana, uma personalidade que vivenciou uma vida humana. É assim que se deve tratar qualquer
mestre: uma encarnação que sirva de exemplo para aqueles que buscam aproximar-se de Deus.

Outro dia me perguntaram se Kardec tinha ego e eu respondi que não. Disse isso porque
Kardec é o ego com o qual um espírito viveu a vida carnal.

Se isso é verdade, Jesus Cristo também é o ego de um espírito. É uma encarnação, uma
vida carnal, nada mais do que isso...

Mas, veja bem: existe o espírito que você chama de Cristo? Existe... Mas ele não se
chama Cristo, não foi homem ou mulher, judeu ou romano e nunca foi o messias. Ele é apenas um
espírito igual a todos os outros: gerado à imagem e semelhança de Deus e que realiza a sua
progressão espiritual no Universo.

Quando vamos estudar na Bíblia os ensinamentos de Jesus Cristo, temos que ter isso em
mente, pois senão pode se cair na idolatria, o que nos afastará do Pai. Jesus Cristo é apenas uma
encarnação de um espírito, mas, é uma encarnação especial. Vamos entender isso...

Segundo João neste mesmo Evangelho, Jesus Cristo é o verbo (Capítulo 01 – versículo
01). O verbo, gramaticalmente falando, é a ação de uma frase. Sendo assim, podemos dizer que a
encarnação verbo (Jesus Cristo) é o exemplo de atividade para um espírito durante uma
encarnação.

O fato de ela ser um exemplo a ser seguido fica muito claro com outra palavra de Jesus
Cristo: eu sou o caminho, a verdade e a luz e ninguém chega a Deus a não ser através de mim.

Portanto, quando se estuda a Bíblia, ou seja, os ensinamentos que fizeram parte daquela
encarnação, nós temos que entender que aqueles ensinamentos são o sentido de transformar a
sua encarnação numa ação...

Mas, que ação foi praticada pela encarnação Jesus Cisto e que deve ser copiada por
você? O amar... A encarnação Jesus Cristo foi a ação do amor universal, do amor sublime...

A partir de agora, portanto, devemos compreender que durante este estudo não iremos
conhecer Jesus Cristo ou seus ensinamentos, mas sim compreender a ação amorosa, que se
posta em prática durante a encarnação, nos aproxima de Deus.

Por exemplo, quando ele diz “eu sou a videira”, não devemos, em nosso estudo, entender
que o ser humano ou espiritual Jesus Cristo é a videira, mas sim que a ação amorosa é a videira. A
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 55

árvore da vida não é o mestre, um ensinamento ou qualquer outra coisa, mas sim a ação amorosa,
a conjugação do verbo amar.

Esta é, então, a primeira compreensão deste estudo: iremos estudar a questão da


aplicação do amor durante a existência carnal para que ela fundamente a sua opção que lhe leva a
felicidade incondicional. É preciso se estudar isso porque sem essa ação, você jamais optará pela
felicidade incondicional.

Isso porque a antítese do amar universal em ação é a encarnação humana, ou seja, o


amor individualista e egoísta em ação. O amor humano não lhe deixa alcançar a felicidade
incondicional porque he prende ao dualismo do prazer e dor, já que fortalece as paixões e os
desejo.

Portanto, para aqueles que pensaram que iríamos estudar Jesus Cristo ou suas máximas,
afirmo que, na verdade, iremos buscar compreender como construir em nós esse amor universal.
Para teremos que entender como destruir em nós esse amor egoísta e individualista que só pensa
em si mesmo e o resto do mundo que se dane...

Agora podemos continuar nosso estudo...

... e o meu Pai é o lavrador.

O que é uma videira? Uma árvore. Mas, na Bíblia a árvore não é um vegetal...

Toda árvore citada na Bíblia deve ser compreendida como uma fonte de conhecimento.
Desde o livro Gênesis, quando Deus fala da árvore do conhecimento que fica no centro do Jardim
do Éden, este elemento sempre simboliza uma fonte de conhecimentos.

Se o mestre afirma que ele é a videira, isso, portanto, quer dizer que ele é a fonte de
conhecimentos para uma existência que leva a Deus. Se entendermos Jesus Cristo como o verbo,
como já dissemos, dizer que ele é a fonte de conhecimento da ação do amor durante a vida. Por
isso copiá-lo nesta ação leva a Deus.

Sendo assim, é justo dizer que nenhuma outra encarnação pode servir de espelho para
você. Nenhuma encarnação pode servir de exemplo porque elas não são o amor em ação.

Às vezes, quando as pessoas me perguntam como reagir a determinadas circunstâncias,


digo: tente imaginar como Cristo reagiria... Falo assim porque este é o exercício que precisamos
fazer transformar a vida carnal numa progressão em direção ao Pai.

Devemos seguir a única coisa que pode ser exemplo: a ação do amor. Qualquer outro
exemplo que você me cite, mesmo que humanamente seja considerado como sublime, não é a
videira, não é a árvore da vida.

Mas, neste pedaço do Evangelho de João que citamos, Cristo fala mais: ele diz que Deus é
o lavrador, ou seja, que o Pai é que sustenta a vida. Vamos ver esta afirmação, pois esta é uma
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 56

questão impar para quem quer colocar o amor em ação, ou seja, optar pela felicidade e o bem em
todos os momentos de sua existência carnal.

A vida não nasce ao acaso, ao léu. Ela não é fruto do encontro de um espermatozóide com
o óvulo nem do coco de um passarinho que tinha uma semente. Ela é criada e cultivada por
Deus...

Esta afirmação de Cristo vem de encontro àquela informação que já estudamos em O Livro
dos Espíritos que diz que Deus é Causa Primária de todas as Coisas. Sim, Deus é a Causa
Primária de todas as coisas porque é Ele que cuida da vida de cada um.

Cristo é a vida... O amor em ação é a vida, mas ele só nasce quando cultivada por Deus.

Aí está o primeiro grande ensinamento de nosso estudo, isso porque ninguém conseguirá
optar pelo bem, se não sentir a sua vida como obra de Deus.

Ontem estávamos conversando sobre outro tema e uma pessoa me disse: eu realmente só
entendendo o seu ensinamento se aplicarmos o preceito que diz que Deus é a Causa Primária de
todas as coisas. Se não aplicá-lo, nada faz sentido...

Realmente, você só vai me entender, ou melhor, só conseguirá optar por estar no bem, se
ver no que está acontecendo o fruto de um trabalho de Deus. Enquanto estiver aprisionado ao fruto
do trabalho de qualquer outro, não há como.

Isso porque não há como você conceber que outro ser humano, espírito, ou seja, outra
inteligência inferior igual a você aja sobre você, controle os acontecimentos de sua existência. Ver
a ação de uma inteligência inferior sobre você lhe dirigindo não lhe dá confiança, não lhe permite a
entrega absoluta...

Portanto, Jesus Cristo é o amor em ação, a fonte do conhecimento para a prática amorosa,
mas quem cultiva, quem ara a terra, semeia, rega e cuida da vida é Deus.

Não quero transformar este estudo num tratado religioso. Nosso objetivo é conversar de
forma prática, de forma aplicada à vivência de cada um durante a existência carnal.

Como prática disso que acabamos de ver, digo o seguinte: ninguém nos fala nada... Se
Deus é o agricultor, ou seja, quem cria a árvore da vida e toma conta dela, qualquer som que
ouçamos terá sido semeado, cultivado e germinado por ele...

Sendo assim, sentir-se ofendido, ou seja, viver o “mal” neste momento é não estar ligado
ao amor, a Deus e ao próximo. Só vive o “mal” quem coloca o próximo como o agricultor que cuida
da sua viseira, da sua vida.

Aí está a resposta para aqueles que me perguntaram como colocar em prática esses
ensinamentos: optando pelo bem... Isso porque optar pelo bem é optar por ver que a vida é
cultivada por Deus e não por outros espíritos, encarnados ou não.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 57

Participante: A gente até consegue fazer esta opção por um tempo, mas às
vezes tropeça...

Quando tropeçar uma vez, passe a viver o momento seguinte, continuando a tentar optar...

Esqueça os tropeços. Este ainda não é um mundo de Regeneração, mas sim de Provas e
Expiações, ou seja, de provar que estar disposto a buscar.

Mas, você tropeça uma vez e logo para de caminhar e fica chorando porque machucou o
dedão...

Participante; Como aqueles que não têm Jesus como guia vão segui-lo?

Amando como Jesus amou... Amando sem buscar para si, sem esperar resultados... Amar
por amar... É assim que se segue o exemplo de Jesus.

Veja. Todos os mestres amaram como Jesus, portanto, não importa que exemplo siga,
você sempre estará caminhando em direção a Deus quando optar pelo bem...

Sabe... Eu não estou no oriente. Se estivesse falando para egos daqueles povos, diria:
siga Buda...

Para cada povo há um mestre, mas todos seguiram o mesmo caminho: o amor
incondicional, a libertação do eu para amar. Não importa que mestre você cite, posso lhe provar
que o ensinamento deles, mesmo que não tenha estas palavras, se resume nisso.

Sendo assim, para você optar pelo “bem” deixe que Deus resolva isso, ou seja, que Ele
cultive como o espírito encarregado de ensinar o amor em ação no oriente fale. Vamos nos firmar
em Cristo, pois ele para nós, que somos cristãos, é nosso mestre.

Ele corta todos os galhos que não dão uva, embora eles estejam em mim.

Deus corta todos os galhos da videira que não dão uva, apesar deles estarem no amor.
Isso quer dizer que não basta conhecer o amor ou ter o amor: é preciso que o amor gere frutos
para que continuem vivos...

Este é um aspecto interessante da vida. Vocês acham que “bem” viver é quando se
alcança acúmulo de conhecimentos: quanto mais se vive, mais se conhece e, por isso, mais se
evolui.

Acontece que o simples acúmulo de conhecimentos não é sinal de evolução. Isso porque
enquanto o ser humanizado apenas conhece, mas não pratica o que aprende, torna-se um galho
que não dá frutos e, segundo Cristo, Deus cortará estes galhos da vida.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 58

Nós vamos falar neste estudo muito sobre destruir o “mal” para entrar no “bem”, mas a
partir do momento que se falar sobre qualquer coisa, é preciso que o ensinamento entre em
prática.

Participante: Como amar na prática?

Como se faz alguma? Só tenho uma resposta para lhe dar sobre isso: fazendo...

Não existe outra forma. Como se ama? Amando... Como se destrói a opção pelo “mal”?
Destruindo...

Esse é o caminho. Não há resposta diferente desta e ninguém pode lhe responder de
forma diferente disso, pois cada um ama da sua forma. Saiba de uma coisa: a única coisa que um
mestre pode dizer é onde se deve chegar, mas cada um precisa encontrar o seu próprio caminho
para caminhar.

Portanto, para amar, é preciso amar...

Não estou falando de amar a partir de seus próprios conceitos, mas estou dizendo que
cada tem a sua própria opção pelo “bem”. Ou seja, tem a sua própria forma de ver Deus como
Causa Primária de todas as coisas. O que quero dizer é que cada um opta pelo “bem” a partir de
uma motivação racional individual.

A forma como se destrói o “mal” ou se constrói o “bem” não importa... O importante é


sabermos que se tudo que conversarmos aqui for exclusivamente letra fria, ou seja, virar
conhecimento e no momento de vivenciar um determinado acontecimento não se transformar em
opção pelo “bem”, saiba que você será um galho futuramente cortado por Deus da videira.

Participante: O que quer dizer quando cita que o Pai cortará todo galho que não
dá fruto?

Que este galho será tirado da vida...

Não falo que este ser humano será morto... Não estou dizendo que uma encarnação será
encerrada... O que digo é que o galho que não dá fruto será tirado da glória de Deus.

Ou seja, este ser humanizado viverá como ser humano: preso aos seus afazeres diários,
às suas preocupações humanas, aos seus medos... Isso é estar morto, porque quem vive assim
está morto para Deus.

É isso que quero dizer.

Participante: Como amar se a pessoa que nós amamos não quer ser amada?

Participante 2: Todos querem ser amados...


Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 59

Desculpa, mas nem todos querem ser amados. Alguns querem ser idolatrados, outros
adorados e muitos querem ser paparicados. Agora amados de uma forma incondicional, isso
poucos querem...

Como amar quem não quer ser amado? Amando...

Eu falei no início que este amor é incondicional. Ou seja, ele se existe mesmo que o outro
você não queria ser amado por você.

Então ame, ame a todos, independente deles quererem ou não ser amado por você. Ame
mesmo que os outros não queiram ser amados e não espere nem que eles aceitem ser amados ou
que retribuam de alguma forma o seu o amor...

Participante: Como Jesus sabia que só ele era o caminho?

Espiritualmente falando porque ele é a inteligência mais evoluída deste do orbe terrestre.
Racionalmente falando porque esta verdade estava presente naquele ego.

Participante: Então podemos concluir que não é o Pai que irá nos cortar da
árvore, mas que é uma escolha de cada um sair da árvore?

Quem corta da árvore é o Pai, mas ele faz isso apenas para quem optou por não dar
frutos.

Na árvore da vida cada galho tem vida própria no sentido de optar em dar frutos ou não.
Deus cuida da árvore, mas cada galho tem a liberdade de amar ou não.

Quando você opta pelo “mal”, ou seja, por não amar, Deus corta o galho.

Participante: Ninguém poderia aparecer hoje dizendo ser o caminho?

Pode... Qualquer um pode aparecer afirmando ser o caminho, desde Deus faça isso
acontecer...

Mas isso não quer dizer que ele é o caminho, pois somente aquele que colocar o amor
incondicional em ação é o caminho... Respondo desta forma porque o caminho não é Cristo, mas o
amor em ação.

Participante: Mas este julgamento quem fará não será o ego?

Não... Será Deus através do seu ego. Não o ego em si...

Então, se tiver que cair nessa, ou se tiver que não acreditar e for realmente uma nova
encarnação caminho, Deus lhe dará a compreensão ou não...

Portanto, não se preocupe com isso...


Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 60

Mas ele poda os galhos que dão uvas para que fiquem limpos e dêem mais
uvas ainda.

O que é podar? Cortar alguns galhos para que a planta cresça com mais vigor. Ou seja,
renovar...

Com isso, nossa compreensão sobre a vida, aumenta. Sabemos que Deus cortar os galhos
que não dão frutos e agora aprendemos que Ele renova os galhos que dão frutos.

O que quer dizer isso? Quer dizer uma coisa que ainda estudaremos: quanto mais se
gastar desse amor, mais amor estará disponível para gastar, para amar...

Tem gente, como a parábola dos talentos fala, que economiza no amar. Ama apenas os
pobres, os sem saúde, os velhos no asilo. Isso é economia no amar.

Cristo disse que devemos amar a todos. Sendo assim devemos amar as crianças
abandonadas, mas também as que têm lar da mesma forma. Temos que amar os com saúde e os
sem com a mesma intensidade; temos que amar os velhos que moram em asilos ou os que estão
em casa de uma forma equânime.

Amar a tudo e a todos, a cada momento: essa é a única garantia que você terá de receber
esse amor sempre...

Veja, vou dizer uma coisa que talvez você ainda não tenha se dado conta: amor e
conhecimentos são as únicas coisas que quando mais se gasta, mais aumenta. Quanto mais ama,
mais amor você tem; quanto mais busca conhecimento, tem, e quanto mais dá, recebe, pois ouve
os conhecimentos dos outros.

Então, Deus retira os que não amam, mas renova, fortalece o amor daqueles que amam.

Vocês já estão limpos por meio do ensinamento que lhes tenho dado.
Continuem unidos comigo e eu continuarei unido com vocês; pois só podem dar
fruto se ficarem unidos comigo, assim como o galho dá uvas só quando está
unido com a planta.

Olha que grande ensinamento: vocês já estão limpos pelos ensinamentos que receberam
ao longo de suas existências... Sim, já estão...

Eu diria que a humanidade já tem hoje todos os conhecimentos necessários para a


evolução e por isso nenhum mestre mais precisa encarnar. Agora, precisam continuar limpos,
precisam continuar ligados ao amor amando...

Foi o que falamos agora a pouco: saber sem prática não vale nanada. É preciso praticar o
que se recebe.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 61

Ora, se você recebe a informação, que está na Bíblia, que diz que não é vantagem
cumprimentar apenas o seu amigo, é preciso, para continuar puro, amar o inimigo. Recebendo o
ensinamento que não deve julgar os outros (que atire a primeira pedra quem não tem pecado),
deve abster-se de julgar...

De nada adianta saber que isso está escrito na Bíblia, se na hora do acontecimento você
não pratica... O galho só dá frutos quando está ligado à árvore: você, como galho da vida
universal que é, só dará frutos, ou seja, só estará na árvore da vida, se continuar ligado à árvore.

Então nunca pare de amar: ame a tudo e a todos...

Participante: Há algum espírito no nível de evolução de Jesus que sirva de


exemplo.

Não... Só Ele é o exemplo.

É isso que dissemos agora pouco: nenhuma outra encarnação pode servir de exemplo
para você

Eu sou a videira e vocês são os galhos. Quem está em mim e eu nele, esse dá
muito fruto porque sem mim vocês não podem fazer nada. Quem não ficar
unido comigo será jogado fora e secará; será como os galhos secos que são
juntados e queimados. Se vocês ficarem unidos comigo e as minhas palavras
continuarem em vocês, receberão tudo o que pedirem. A glória do meu Pai é
conhecida por meio dos frutos que vocês produzem e assim vocês se tornam
meus seguidores. O meu amor por vocês é como o amor do Pai por mim;
portanto continuem no meu amor. Se obedecerem aos meus mandamentos,
vocês continuarão no meu amor, assim como eu obedeço aos mandamentos do
meu Pai e continuo no seu amor. Eu estou dizendo isso para que a minha
alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa.

Eu deixei a leitura correr porque já havíamos falado de tudo isso. Mesmo agora, quando
Cristo fala em ser feliz, já havíamos abordado este tema.

A felicidade de Cristo, que não é a felicidade deste mundo, está com você e em Cristo por
causa de Deus. Portanto, você só será feliz de verdade quando encontrar Deus, ou seja, quando
ver nos acontecimentos da vida a ação de Deus tomando como lavrador da planta.

O meu mandamento é este: amem uns aos outros como eu amo vocês.

Agora chegamos ao ponto principal desta conversa: amem uns aos outros como eu amo
vocês.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 62

Como Cristo amou, ou como a encarnação Cristo transmitiu o amor? De uma forma
incondicional.

Cristo nos ama incondicionalmente e nós devemos amar ao próximo incondicionalmente.


Mas, o que é amar incondicionalmente? Não amar porque, para que, como... É simplesmente
amar...

Perguntaram-me como se pode amar a pessoa que não quer ser amada por mim?
Superando esta condição. Esse é o incondicional deste amor...

Como atingir a incondicionalidade? Superando as condições para amar... Ninguém


consegue amar incondicionalmente sem antes superar as condições que ele tem para amar.

Eu amo fulano por causa disso... Desculpe, não ama, porque o amor verdadeiro é
incondicional. Você gosta, é outra coisa. Enquanto não superar a condição não estará no amor.

Eu não amo fulano por causa disso... Para amá-lo não é preciso que ele se mude, mas
que você supere a condição que você impõe para amar.

Mas como superá-la? Para vocês este é o problema...

É o que disse anteriormente: optando por não se submeter a esta condição. Optando por
não deixar esta condição influenciar os seus estados de espírito lhe levando para o “mal”.

Aquela pessoa me fez isso... Esta é uma condição que precisa ser suplantada para entrar
no amor universal. Esta é uma condição que precisa ser ultrapassada para se atingir o amor.

Então, aí está uma forma de fazer, uma forma de colocar este ensinamento em prática.
Agora, como disse anteriormente, cada um terá uma forma para suplantar estas condições...

Apesar disso, este é o caminho: suplantar condições para amar. Isso porque ninguém
entra no amor universal sem suplantar condições. Só quando você vence a condição entra na
incondicionalidade.

Não se ama verdadeiramente sem superar as condições para amar ou não... É a mesma
história que ainda estudaremos sobre aquela frase de Cristo: em verdade lhe digo que quem não
nascer de novo não verá o reino do céu.

Todos querem renascer do espírito e da água e entre no reino do céu. Mas ninguém nasce
sem antes morrer. Portanto, é preciso morrer antes para depois poder nascer de novo. Só que
ninguém quer morrer...

Isso é amar. Amar não é se entregar ou ter quaisquer posturas racionais a favor de
alguém... Amar é suplantar as condições que lhe leva a amar em alguns momentos e em outros
não.
Coleção Estudos Espiritualistas Consciência crística – vol. 3 página 63

O maior amor que alguém pode ter pelos seus amigos é dar a vida por eles.
Você são meus amigos se fazem o que eu mando.

O que é dar a vida por eles? Quando é que você se sente vivo? Quando está feliz, quando
tem prazer...

Dar a vida por eles é exatamente isso: deixar o outro se considerar o certo, o bom. Enfim,
deixá-lo considerar-se o que ele quiser se considerar...

O maior amor que alguém pode dar pelo outro é dar a ele o direito de pensar sobre si ou
sobre qualquer coisa o que quiser...

Amar não é ensinar nada, não é interferir no próximo. Amar é uma atitude passiva no
tocante à vida humana.

Amar é assistir ao outro vivendo com suas verdades, com suas paixões, com suas posses,
com sua busca da fama, sem que você se sinta obrigado a interferir nisso. Sem que você se sinta
obrigado a mudá-lo, sem que você veja nestas coisas um condicionamento ao “bom” ou “mal”.

Sabe, tem gente que diz que amaria uma pessoa se ela fosse de um determinado jeito.
Mesmo que esta pessoa mudasse, ele não amaria o outro, mas continuaria amando apenas a si
mesmo. Amaria a ele mesmo porque primeiro se preocupou consigo, com o que é importante para
si.

O amor é doação, é caridade e a doação maior que alguém pode fazer é doar a razão:
você está certo... Você acha que estou falando besteira, louvado seja Deus. Você está certo: eu
não tenho que lhe corrigir, que lhe mudar... Esta é uma expressão do amor que nos auxilia a
vencer as condições. Isto porque as vence quem doa ao outro o direito de ter as suas próprias
condições para ser feliz.

Abe de uma coisa: viver é um constante choque de opiniões, pois ninguém nunca faz o que
você quer nem acredita exatamente no que você crê. Para que? Exatamente para isso: para que
você exerça no grau máximo o amor que é dar ao próximo o direito de ser, estar, fazer e acreditar
no que ele quiser...

Vocês são meus amigos se fazem o que eu mando. Não chamo vocês de
escravos porque o escravo não sabe o que o seu dono faz; mas chamo de
amigos, pois tenho dito a vocês tudo o que ouvi do meu Pai. Não forma vocês
que me escolheram; pelo contrário, fui que os escolhi para que vão e dêem
muito fruto e que esses frutos não se estraguem. Assim o Pai lhes dará tudo o
que pedirem em meu nome. Portanto, isto é o que eu mando: Amem uns aos
outros.

Com isso encerramos nossa conversa de hoje...

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