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Manejo para Qualidade Do Solo PDF
Manejo para Qualidade Do Solo PDF
CURSO
COORDENADOR GERAL
Paulo Belli Filho
COORDENADORES REGIONAIS
Sung Chen Lin
Cristine Lopes de Abreu
Luiz Augusto Verona
Claudio Rocha de Miranda
Ademar Rolling
COMITE EDITORIAL
Edson Carlos Menezes Benites
Hugo Adolfo Gosmann
Sergio Roberto Martins
AUTORES DO CONTEÚDO
Jucinei José Comin
Paulo Emílio Lovato
Programa de Capacitação em
Gestão da Água
ISBN: 978-85-98128-76-4
CDU: 631.4
Correção Gramatical
Rosangela Santos e Souza
Impressão
Digital Máquinas Ltda.
(48) 3879-0128 - digitalcri@ig.com.br
O
Projeto Tecnologias Sociais para a Gestão da Água - TSGA iniciou
suas atividades em Santa Catarina apoiado pela Petrobrás, desde
o ano de 2007. Sua execução é realizada pela Universidade Fede-
ral de Santa Catarina – UFSC, em conjunto com a Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – EPAGRI e o Centro Na-
cional de Pesquisas em Suínos e Aves da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, CNPSA/EMBRAPA. As principais ações em desenvolvimento
na atual fase são:
Introdução.................................................................... 9
Introdução...................................................................... 11
Definição........................................................................ 11
Possibilidades e limitações................................................. 31
Rotação de culturas.......................................................... 39
Três agricultores.............................................................. 49
Referências bibliográficas........................................... 53
O
s números alarmantes das áreas com características físicas, quí-
micas e biológicas degradadas por diferentes processos, assim
como as perspectivas catastróficas que se apresentam, têm des-
pertado a consciência da sociedade como um todo, e da comunidade
científica, sobre a importância do solo para a qualidade ambiental. As-
sim, cada vez mais se tem dado importância para a relação do manejo
do solo e a sustentabilidade da agricultura, e por extensão do planeta.
1
Prof. Associado IV, Departamento de Engenharia Rural da UFSC. Dr. em Agronomia. E-mail: j.co-
min@ufsc.br
2
Prof. Associado IV, Departamento de Engenharia Rural da UFSC. Dr. em Ciências da Vida. E-mail:
paulo.lovato@ufsc.br
Introdução ANOTAÇÕES:
A
degradação dos solos é tão antiga quanto a agricultura estabeleci-
da. É um desafio para a humanidade enfrentar, pois reduz a capa-
cidade produtiva dos ecossistemas e afeta o clima global através
de alterações da qualidade da água e do balanço hídrico e da quebra dos
ciclos do carbono (C), nitrogênio (N), enxofre (S) e outros elementos.
Definição
É a diminuição da qualidade do solo causada pelo mau uso humano. Re-
fere-se à diminuição da produtividade devido a mudanças adversas nas
propriedades químicas, físicas e biológicas do solo. Em outras palavras,
refere-se à redução da capacidade potencial para produzir, em termos
qualitativos e quantitativos, ou das possibilidades de uso, como resulta-
do de um ou mais processos de degradação.
Erosão do solo: desprendimento ou arraste das partículas do solo por água, vento,
gelo ou outros agentes geológicos em taxas superiores Manejo paraformação
às de qualidade do
do solo 13
solo. Causa
perdas de nutrientes e de matéria orgânica, altera a textura e a estrutura do solo e diminui
Figura 2: Camada compactada na entrelinha de lavoura de tomate que limita a exploração
do perfil deErosão do solo:
solo pelas raízesdesprendimento ou arraste
(Foto: Jucinei José Comin).das partículas do solo por
água, vento, gelo ou outros agentes geológicos em taxas superiores às
Erosão do solo:do
de formação desprendimento ou arraste
solo. Causa perdas das partículas
de nutrientes do solo
e de matéria por água, vento,
orgânica,
gelo ou outros agentes geológicos em taxas superiores às de formação do solo. Causa
altera a textura e a estrutura do solo e diminui as taxas de infiltra-
perdas de nutrientes e de matéria orgânica, altera a textura e a estrutura do solo e diminui
as taxas deção e de armazenamento
infiltração de água (Figura
e de armazenamento de água3).(Figura
Por consequência, ocorre
3). Por consequência, ocorre
diminuição da produtividade
diminuição da produtividade das terras. das terras.
ANOTAÇÕES:
Figura 3:manejada
Figura 3: Parcela Parcela manejada
com ocom o sistema
sistema de de preparoconvencional
preparo convencional com
comero-
erosão hídrica
aparente à são hídrica
direita aparentede
(formação à direita
sulcos)(formação de sulcos)
em contraste comemparcela
contraste com parcela
manejada com o sistema
plantio direto à esquerda
manejada com o(Foto José
sistema Eloirdireto
plantio Denardin, EMBRAPA
à esquerda Trigo).
(Foto José Eloir Denardin,
EMBRAPA Trigo).
A erosão hídrica tem como causa inicial o impacto das gotas da chuva sobre a
superfície do solo descoberta, onde inicia a primeira fase da erosão, a desagregação. A
desagregação das partículas de solo em frações menores faz com que estas, ao se
acomodarem, A erosão hídrica
produzam tem como causa
o selamento inicial
superficial o impactodos
(obstrução dasporos
gotas edaformação
chuva de uma
sobre a superfície
crosta), resultando em taxas do solo
de descoberta,
infiltração onde
muitoinicia a primeira
reduzidas e fase da ero-
elevado escoamento
superficial. são,
Essea desagregação.
efeito dá origem à segunda fase do processo erosivo,
A desagregação das partículas de solo em frações o transporte das
partículas do solo. A terceira fase é a deposição, responsável pelo
menores faz com que estas, ao se acomodarem, produzam o selamento assoreamento dos rios,
barragens, baixadas, além de gerar poluição através de resíduos de agrotóxicos e
superficial (obstrução dos poros e formação de uma crosta), resultando
fertilizantes.
em taxas de infiltração muito reduzidas e elevado escoamento superfi-
cial.
Entre as Esse
causasefeito
da dá origem
erosão à segundafatores
envolvendo fase doambientais
processo erosivo, o trans- humanas,
e as atividades
se pode citar:
porte das partículas do solo. A terceira fase é a deposição, responsável
pelo assoreamento dos rios, barragens, baixadas, além de gerar poluição
através de resíduos de agrotóxicos e fertilizantes. 5
A
lguns processos de degradação do solo podem ser controlados, e ANOTAÇÕES:
todas as técnicas para aumentar a resistência do solo e/ou dimi-
nuir a ação desses processos denominam-se práticas conservacio-
nistas. Estas podem ser de caráter vegetativo, edáfico e mecânico, mas
elas resolvem apenas parcialmente o problema e devem ser utilizadas
simultaneamente.
Florestamento e reflorestamento
ANOTAÇÕES:
Algumas espécies que podem ser usadas no inverno são aveia (Avena
spp), azevém (Lolium multiflorum Lam), centeio (Secale cereale L.),
chícharo comum (Lathyrus sativus L.), ervilhacas (Vicia spp), fava (Vi-
cia faba L.), fava forrageira (Vicia faba L.), gorga (Spergula arvensis
L.), nabo forrageiro (Raphanus sativus L.), serradela (Ornithopus sativus
ANOTAÇÕES: Broth.) e tremoços (Lupinus spp) e no verão são caupi (Vigna sinensis
Endl.), crotalárias (Crotalaria spp), feijão de porco (Canavalia ensifor-
mis DC), guandu (Cajanus cajan (L.) Millsp), mucunas (Stizolobium spp),
sesbania (Sesbania spp), milheto (Pennisetum glaucum L.), sorgo (Sor-
ghum bicolor L.) e girassol (Helianthus annuus L.).
Culturas em faixas
Roçada
Cobertura morta
O uso de resíduos com relação C/N mais elevada, por outro lado, pos-
sibilita uma decomposição mais lenta dos resíduos e contribui para o ANOTAÇÕES:
aumento dos teores de matéria orgânica no solo e a liberação gradual de
nitrogênio e outros elementos para as culturas agrícolas. Já as legumi-
nosas possuem uma menor relação C/N e, por consequência, a liberação
dos nutrientes durante sua decomposição é mais rápida.
Quebra-ventos
Adubação verde
ANOTAÇÕES:
Adubação química
Adubação orgânica
Calagem
Plantio em contorno
Canais escoadouros
A
qualidade de um solo que interessa ao agricultor é, acima de
tudo, a capacidade de garantir bom crescimento e rendimento das
plantas e, por isso, o melhor critério de avaliação é a manutenção
de alto rendimento. No entanto, é necessário que haja uma avaliação
antes da produção. Características do solo podem ser obtidas por indi-
cadores como relevo (encosta, várzea), vegetação (presença de plantas
resistentes a pH baixo ou alumínio), pelo aspecto das plantas presentes,
ou ainda, pelo aspecto do próprio solo. Ao longo do tempo, foram sendo
desenvolvidas técnicas para uma previsão mais precisa, tendo destaque
as análises de atributos químicos do solo. Essas técnicas podem quantifi-
car alguns atributos “reais”, como pH em água, teor de matéria orgâni-
ca, textura, enquanto outros atributos dependem do método utilizado,
como é o caso de potássio (K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg), hidrogênio
(H) e alumínio (Al). Há, ainda, outros atributos que são indicadores, isto
é, apontam para um determinado nível de qualidade, e tal é o caso do
fósforo (P) e da acidez potencial.
A matéria orgânica
A matéria é medida
orgânica é medidapor
poruma
umadigestão
digestãoquímica
química (úmida) do solo,
(úmida) do solo, com
com que
produtos produtos
reagemquecomreagem
tudo que com tudoorgânico
é material que é domaterial orgânico
solo, simulando doqueima.
uma solo, Em
alguns casos, é feito um método colorimétrico, que é indireto, a partir de medições feitas
simulando uma queima. Em alguns casos, é feito um método colorimétri-
com diferentes solos em nível regional. O teor de matéria orgânica é usado para estimar a
disponibilidade de nitrogênio para as plantas. Calcula-se que cada 1% de matéria orgânica
no solo forneça 20 a 30 kg de N por hectare.
Para a determinação de K, P, Ca e Mg, usa-se uma solução ácida (solução de
32 Mehlich) para
PROJETO extrair esses
TECNOLOGIAS elementos
SOCIAIS PARA Ado solo. DA
GESTÃO NoÁGUA
caso de K, Ca e Mg, os ácidos da solução
de Mehlich deslocam esses cátions para a solução, que é usada, com distintos aparelhos,
para determinar suas concentrações. No caso do P, há uma estimativa a partir do que é
co, que é indireto, a partir de medições feitas com diferentes solos em
nível regional. O teor de matéria orgânica é usado para estimar a disponi-
bilidade de nitrogênio para as plantas. Calcula-se que cada 1% de matéria
orgânica no solo forneça anualmente 20 a 30 kg de N por hectare.
Do ponto de vista prático, o que interessa é que essas análises são usa-
das para fazer a recomendação de adubos e corretivos, como o calcário,
usando-se manuais para orientar a aplicação de adubos. Um dos mais an-
tigos é o Manual de Recomendações de Adubação e Calagem para o Rio
Grande do Sul e Santa Catarina, daqui em diante chamado de Manual.
É importante dizer que esses manuais não dispensam a necessidade de
uma orientação técnica, porque o histórico da área e outras informações
fornecidas pelos agricultores são importantes para definir o manejo da
fertilidade do solo.
ANOTAÇÕES:
A
matéria orgânica é fundamental em qualquer tipo de solo e em
qualquer parte do planeta, mas essa importância é ainda maior
em regiões tropicais e subtropicais. Isso ocorre porque, em nossos
solos, a maior parte da capacidade de fornecer nutrientes é propor-
cionada pela matéria orgânica. Também deve ser considerado que nas
regiões tropicais e subtropicais, ainda que a formação de materiais or-
gânicos a partir da fotossíntese seja maior que em regiões temperadas,
os processos de decomposição e degradação dos materiais também são
mais rápidos e mais intensos. Foi demonstrado que, num período de 5 a
15 anos, o solo perde metade da matéria orgânica após o início de seu
uso, o que leva décadas para acontecer em regiões temperadas.
É
a alternância regular de diferentes espécies vegetais no mesmo
local, seguindo princípios básicos. Dependendo da família botâni-
ca, a mesma espécie não deve ser repetida na área num intervalo
menor do que um a três anos (Figura 10). Os princípios que devem ser
levados em consideração para a escolha das culturas são: evitar plan-
tas da mesma família botânica; alternar espécies com diferentes ar-
quiteturas, sistemas radiculares e exigências nutricionais, usar espécies
com diferentes hábitos de crescimento; alternar espécies que exigem a
mesma mão de obra, equipamentos agrícolas e instalações em estações
diferentes (Figura 11). Na montagem do plano de rotação, devem-se al-
ternar plantas de interesse comercial com plantas capazes de promover
a conservação e a recuperação do solo.
ANOTAÇÕES:
b
Figura 12: Superfície do solo em parcela manejada com sistema de plantio direto (a), onde a
Figura 12: Superfície do solo em parcela manejada com sistema de plantio
fitomassa foi retirada para permitir a visualização dos agregados e em parcela manejada
direto de
com sistema (a),preparo
onde aconvencional
fitomassa foi
(b)retirada para permitir
com presença a visualização
de selamento dos
superficial (formação
agregados e em parcela manejada com sistema de preparo convencional
de crosta) decorrente do impacto das gotas da chuva (Foto: Jamil Abdalla Fayad, EPAGRI).
(b) com presença de selamento superficial (formação de crosta) decor-
Os efeitos benéficos nas propriedades químicas do solo são o aumento da matéria
rente do impacto das gotas da chuva (Foto: Jamil Abdalla Fayad, EPAGRI).
21
O sistema plantio direto pode ser definido como a semeadura das cul-
turas em solo com revolvimento restrito à linha de plantio ou cova,
com largura e profundidade suficientes para cobrir as sementes, onde
se mantém, na superfície do solo, uma camada de fitomassa (palha) ou
de vegetação para cobri-lo.
6.1.
Figura 13. Avaliação O que
daé qualidade
Agricultura do
Orgânica?
solo em Sistemas de Pastagens Manejados sob
Pastoreio Racional
Nos últimosVoisin
anos, (SP PRV)
ouve-se falar ecada
Sistemas ManejoPastagens
vez mais de
para qualidade do solo
Manejados
em produtos orgânicos,
45forma
de
ecológicos,
Convencional
naturais,(SPC) no período
biológicos, de inverno
biodinâmicos, (Solda et
agroecológicos e al.,
assim2014).
por diante. Em geral, isso faz
6
Agroecologia e
agricultura orgânica
N
os últimos anos, ouve-se falar cada vez mais em produtos orgâni-
cos, ecológicos, naturais, biológicos, biodinâmicos, agroecológi-
cos e assim por diante. Em geral, isso faz lembrar produtos obti-
dos sem o uso de venenos, adubos “fortes” ou outras coisas que possam
prejudicar a saúde de quem come o produto, de quem lida ou produz
esse alimento, e que a produção não causa dano ao ambiente. No en-
tanto, todas essas palavras podem ter significados bem diferentes, tanto
em termos legais, como nas concepções sociais e políticas envolvidas.
Três agricultores
Em um verão, faz alguns anos, tive a oportunidade de acompanhar um
profissional francês, que trabalha para uma certificadora europeia. Ele
veio para inspecionar lavouras de soja a ser exportada para a Europa.
Nas andanças pelos três estados do Sul, visitamos dezenas de produto-
res, praticamente todos pequenos produtores familiares, com áreas de
produção de soja entre um e quatro hectares.
O que sugiro para reflexão é que temos aí três agricultores: um com gran-
de potencial para se tornar “agroecológico”, um que já o é, e outro que
vai ser difícil converter. Mas essa é a realidade. Vamos fazer o quê: excluir
seu João de nosso esforço para que faça a longa e difícil transição para
uma nova agricultura e para um novo modelo de propriedade rural, ou
vamos abandoná-lo, como as instituições abandonaram Seu Zé Fermino,
o primeiro agricultor mencionado aqui? É preciso haver uma reflexão de
como políticas públicas (crédito, pesquisa, assistência técnica, infraestru-
tura,...) devem se articular com as atividades de ONGs, das instituições
de ensino, de pesquisa, para que haja a transição para a agroecologia.
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ANOTAÇÕES: