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CONTOS INFANTIS

Helena Jefferson de Souza

Índice

Contos de Helena Jefferson de Souza

01. Mauricio - O Menino que virou Lagartixa

02. O Filho do Lenhador

03. Sonho de uma Menina pobre em Noite de Natal

04. As Princesas

05. Os Príncipes Gêmeos

Aulas de Dona Verinha (Vera Valéria de Souza Reis)

01. Aula de 02 de Julho de 1950

02. Os Três Presentes

03. Aula dos Pupilos

04. Aula de 06 de Maio de 1951

05. Preparativos para a Fundação Material

06. A Cachoeira Misteriosa

07. Aula de 05.08.1951

08. Branca de Neve e os Sete Gnomos

09. Os Quatro Reis do Baralho

10. O Milagre da Árvore da Vida

11. A Pombinha Sagrada

12. Notas sobre o Natal

13. Os Reis Magos

14. O Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda

15. A Estrela de Ricardo

16. Os Três Caminhos da Felicidade

17. Pan e a sua Flauta Encantada

18. A Lenda da Serpente e do Colibrí Irisiforme


19. Sistema Geográfico

20. A Porcelana do Rei

21. A Luz é a Alma

22. A Floresta Encantada

23. A Rosinha Chinesa

Contos de Maria de Lucena

24. Fantasia sobre as Vidas dos Gêmeos Espirituais

25. Outro Aspecto da Vida dos Gêmeos Espirituais - Krishna

26. Ceix e Alcione

01. Mauricio - O Menino que virou Lagartixa

Mauricio, sempre mau e invejoso, nem dormiu aquela noite, planejando nova maldade.
Na manhã seguinte, quando todos estavam ocupados, ele começou a quebrar a boneca
que sua irmã ganhara, mas, desta vez, a Madrinha que já previra isso e que se
escondera no quarto, logo apareceu e transformou o menino em uma lagartixa,
prendendo-o em uma estreita gaiola. Em seguida, chamando Mariazinha e sua mãe, a
Fada lhes disse:
- Mauricio está encantado numa lagartixa e ninguém lhe deve dar o que comer ou
beber, pois eu desejo que ele se torne tão bom quanto Maria. Só assim ele se
transformará. E dizendo isso, a Fada desapareceu como por encanto.
A mãe do garoto e sua irmã começaram a chorar, mas o menino, com uma voz muito
fininha, de lagartixa, lá de dentro da gaiola dizia: - Não chorem por minha causa
pois eu estou muito bem aqui!
Mas quando chegou a hora do almoço, ele começou a chorar pedindo água e comida,
porém a mãe, mesmo sofrendo, nada lhe deu e saiu do quarto. Mariazinha, penalizada,
tirou do bolso um pedaço de pão e o deu ao irmão. Este devorou o pão em um minuto e
pediu água, mas Mariazinha, não querendo mais desobedecer à sua Madrinha, não lhe
deu de beber. Mauricio, ou melhor, a lagartixa, gritou e esperneou mas de nada
adiantou tudo isso pois a Fada se postou ao lado da gaiola e não permitiu que
ninguém se aproximasse.
Assim se passou todo o dia. Já tarde da noite, a Fada perguntou ao menino: -
Mauricio, você está disposto a ser bom como sua irmã?
- Se a senhora me tirar daqui - balbuciou Mauricio - juro que serei bom para todos,
principalmente para Mariazinha...
Vocês, meus amiguinhos, não pensem que a Fada fez isto com Mauricio por maldade;
não, se ela assim procedeu foi com o único intuito de melhorar o menino, pois
somente com semelhante castigo é que Mauricio poderia modificar seu gênio.
Logo que Mauricio saiu da gaiola e tomou novamente a forma humana, apanhou a boneca
de pano e tornou a enchê-la. Depois colou a boneca de louça que ele havia quebrado.
Mariazinha estava contente, pois seu irmão agora era outro menino; do antigo não
existia mais nada. Os pais do garoto não cabiam em si de contentes e a felicidade
reinava naquele modesto lar.
Muitas vezes, meus amiguinhos, parece que nós, os mais velhos, praticamos maldades
com as crianças, mas é puro engano. Quando os pais castigam os filhos, a isto são
obrigados, mesmo que sofrendo, para que eles se tornem homens corretos e de
carater.
Se a Fada da Bondade que tudo via e sabia não houvesse castigado Mauricio, ele até
hoje seria um menino mau. Isso mostra, meus amiguinhos, que com Sabedoria e Bondade
sempre conseguimos bons resultados.
Que todos vocês sejam bons para seus pais, irmãos e amigos, é o que lhes deseja a
Fada da Bondade.

02. O Filho do Lenhador

Meus caros amiguinhos. Venho hoje novamente contar-lhes uma bonita história que,
espero, agradará.

Existia outrora um lenhador e sua mulher, que viviam muito felizes em companhia de
cinco filhos. O lenhador chamava-se Carlos, sua mulher Laura e seus filhos, pela
ordem: Mário, Margarida, Manoel, Mauro e Marcos. Eram todos muito felizes.
D. Laura e Margarida ficavam em casa enquanto o Sr Carlos e os filhos iam para a
floresta cortar lenha.
Agora é que vai começar a nossa história, pois todos os meninos devem saber que não
se deve cortar as árvores.
Certa vez em que todos os irmãos estavam na floresta e se preparavam para cortar um
belo carvalho, Marcos, o menor que contava 14 anos de idade, falou aos irmãos:
- Ontem tive um sonho horrível... e por isso estou com muito medo de cortar árvores
hoje.
Os irmãos logo quiseram saber qual havia sido o sonho de Marcos e pediram-lhe que o
contasse. - Sonhei - disse ele - que mamãe e papai eram duas árvores e que nós, sem
saber, íamos derrubá-las, mas ao primeiro golpe do machado, ouvi um gemido tão
horrível que fiquei apavorado, mas vocês, nada tendo ouvido, continuaram a dar
golpes nas árvores. Eu então gritei como um louco: “Vocês estão matando papai e
mamãe”. Comecei então a sentir uma dor horrível, como se vocês estivessem mesmo
cortando pedaços de nossos pais. Eu transpirava frio, ao mesmo tempo em que,
chorando, pedia a vocês não continuarem mas, em vão, vocês prosseguiam no trabalho
até que derrubaram as duas árvores. Eu já não agüentava mais ver papai e mamãe
naquele sofrimento e assim, soltando um grito, acordei, vendo mamãe ao meu lado,
assustada, sem saber o que havia comigo. Nada lhe contei do sonho que tivera mas,
meus irmãos, de hoje em diante não cortarei mais árvores. Sei que ganhamos nosso
sustento com o corte das árvores, mas temos que arranjar outro jeito...
Os irmãos de Marcos ouviam-no apreensivos, pensando em como resolver o problema.
Depois disso alguns dias se passaram, até que novamente chegou o dia de irem para a
floresta abater árvores. O pai, que nada sabia do sonho de Marcos, estranhou a
atitude de seus filhos que estavam tristes e cabisbaixos. Finalmente, Mário, o mais
velho, não se contendo contou ao pai o sonho de Marcos - razão da tristeza que
reinava entre eles.
Depois de ouvir com muita atenção o sonho de Marcos, disse o pai:
- Meus filhos, este sonho é um aviso para todos nós. Devemos interpretá-lo como
merece. Ele foi apenas para chamar a atenção que se continuarmos a derrubar
árvores, em breve tudo morrerá, porque são elas que vivificam o solo dando-lhes a
umidade. Se as florestas acabarem, a terra ficará seca, as fontes se extinguirão e
a vida tornar-se-á impossível. Portanto, de hoje em diante tomemos uma resolução
que, creio, será satisfatória. Cada árvore velha abatida será substituída, no mesmo
dia, por uma nova. Quando cortarmos uma árvore, plantaremos em seguida outra. Assim
resolveremos o problema em benefício da humanidade.
A medida que o Sr Carlos falava, as crianças foram criando alma nova e o véu de
tristeza que encobria os seus rostinhos, foi se dissipando e novamente a alegria
voltou a brilhar em seus olhinhos, como se tivessem saído de um grande pesadelo.
E o velho lenhador, vendo outra vez a felicidade voltar ao semblante dos seus
amados filhos continuou:
- Com o sonho de Marcos, vocês aprenderam uma grande lição; todo o ser tem vida e,
portanto, sofre. As árvores, por exemplo, respiram pelas folhas e pelas suas raízes
se alimentam; são as raízes que tiram da terra o alimento para as árvores. Mas, se
precisamos da madeira para a construção de nossas casas, para o fabrico de móveis,
para a lenha, como fazer?
- Procurando talvez árvores mais velhas, árvores que já estão no fim da vida, que
já cumpriram a sua missão no mundo - disse Manoel.
- Exatamente isso, meu filho - respondeu o pai - é isso mesmo que devemos fazer.
Com o plantio da árvore nova, passaremos para ela, por assim dizer, a vida da velha
árvore e assim não haverá sofrimento para aquela que já cumpriu a sua missão e que
deve ceder lugar a uma nova vida que, no fim, não deixa de ser ela mesma, em novo
corpo. Compreenderam?
- Compreendemos sim, papai! Como o senhor explica as coisas bem! Exclamaram em
uníssono os garotos.
- O sonho de Marcos, meus filhos, foi um sonho abençoado, porque nos ensinou
grandes verdades. E não seremos apenas nós que faremos isso. Vamos trabalhar no
sentido de espalhar esta nossa idéia para todo o mundo, a fim de que todos os
lenhadores da Terra façam também assim.
- Apoiado! Apoiado! gritaram os meninos entusiasmados. Não pouparemos sacrifícios
para espalhar o nosso ideal, para o bem de todos os seres da Terra.
E assim termino esta história, pedindo aos meninos para ajudarem o lenhador e seus
filhos, ensinando a toda a gente o que aprenderam.
Espero que vocês nunca se esqueçam do sonho de Marcos e cumpram fielmente o pedido
de divulgarem esta história, porque só assim poderei contar outras, na certeza de
que os meus conselhos estão sendo seguidos.

03. Sonho de uma Menina pobre em Noite de Natal

1a. Cena

Uma menina sentada em uma sala pobremente mobiliada, chora por ser Noite de Natal e
ela, por não ter pai, não ganhar nada de presente como as outras crianças. Cansada
de chorar, adormece. Sua mãe, sentada em um canto da sala, sofrendo mais do que a
filha, implora a Deus que algum vizinho se lembre da querida garota e lhe dê algum
presente, seja o que for, pois ela não tem dinheiro para comprar nada, por mais
insignificante que seja para a sua querida filha.
2a. Cena
(Sonho)

A cena passa-se em casa de família rica. A mesma menina, bem vestida, está junto à
uma linda árvore de Natal. Soam as doze badaladas da meia-noite e aparece Papai-
Noel.
Papai-Noel: - Que fizeste de bom este ano, linda menina?
Menina: - Eu estudei, passeei, brinquei, dei esmolas às crianças do hospital e
muitas outras coisas fiz, que não me lembro agora.
Papai-Noel: - Já que praticaste boas ações, eu te darei, como premio, esta linda
boneca.
A menina fica radiante com o belo presente, tanto mais que foi o próprio Papai-Noel
que lhe deu.O sonho continua e ela dirige-se à árvore,onde se acham outros
presentes a ela destinados.
Menina: - Que maravilha! Uma linda sombrinha, um rico vestido, pulseiras, anéis,
quantos presentes ganhei este ano!

3a. Cena

Novamente o quarto modesto, onde a menina pobre dorme. Sua mãe a desperta, fazendo-
a voltar à realidade. A menina chora por não ver nada do que sonhara. A mãe, porém,
a abraça e lhe diz:
- Filhinha, está aqui uma bondosa menina que quer muito falar contigo.
A menina pobre limpa o rosto, enxugando as lágrimas e entra em cena uma linda
garota que lhe diz:
- Papai e eu aqui viemos, queridinha, para lhe darmos os presentes que Papai-Noel
lhe mandou.
A menina pobre pensa que enlouqueceu, pois abrindo os embrulhos vê tudo com que
sonhara. Correndo para sua mãe, diz:
- Mãezinha, será verdade? Tudo isto eu estava sonhando quando a senhora me acordou.
Será que ainda estou sonhando, Mãezinha?
Pai da menina rica-entrando: - Não minha filha, não estás sonhando. De agora em
diante sua vida e a de sua mãe vão mudar.
Menina rica: - Como te chamas, queridinha?
Menina pobre: - Sonia. E tu, como te chamas?
Menina rica: - Eunice.
Menina pobre: - Uma menina tão linda como tu, só poderia ter também um bonito nome.
O pai de Eunice conversa com a mãe de Sonia e lhe faz uma proposta muito boa, que
sensibiliza a pobre senhora, que chora de emoção.
Menina pobre: - Por que choras, Mãezinha?
Mãe: - De emoção, minha filha! Este senhor e sua filha querem que vamos morar com
eles. Não te parece um sonho tudo isto, filhinha?
Pai da menina rica - pegando na mão de Sonia: - Queres ser também minha filha? Sei
que não tens ninguém a não ser tua mãe. Vem conosco para alegria de minha filha. De
hoje em diante, nem tu nem tua mãe passarão necessidades. Vamos para um novo mundo!
Sonia, batendo as mãozinhas de contente: - Que bom! Meu sonho tornou-se realidade.
Ainda existe um grande Pai para os pobres que tem fé - é DEUS.
Mãe, de mãos postas: - Deus ouviu meu pedido!

Cai o pano.

04. As Princesas

Era uma vez três princesas que viviam sozinhas em seu palácio, pois os pais já
haviam morrido. A mais velha das três chamava-se Elisa e era muito bonita; a
segunda, morena com seus cabelos pretos e olhos escuros chamava-se Maria e a
terceira que era loura e meiga como um anjo, a mãe lhe dera o nome de Angela.
Estas três princesas viviam muito bem em seu palácio. Todos as estimavam e eram
queridas pelos seus súditos.
No reino vizinho, também existiam três princesas, com a diferença que estas eram
muito más e odiadas por todos. Por isso as três princesas más invejavam muito as
lindas princesinhas que eram boas. As más chamavam-se: Mafalda, Alice e Jacira,
que, apesar de terem nomes bonitos, não faziam jus aos mesmos.
Mafalda tinha em seu palácio, uma torre que dava para o lado do palácio das
princesinhas que ela tanto invejava e a quem só pensava em fazer mal.
Certo dia, Mafalda chamou Alice e Jacira e combinou com elas fazerem uma campanha
contra Angela, a mais nova das princesinhas, e as duas irmãs concordaram logo com
Mafalda, pois morriam de raiva das três bonitas meninas.
Numa manhã de primavera, Angela levantou-se feliz e risonha, abriu a janela do seu
quarto para respirar o ar puro. No mesmo momento, Mafalda que espreitava da torre
do seu castelo, soltou um apito tão agudo que a princesinha desmaiou.
Suas irmãs, vendo que a menina não se levantava, foram ao quarto dela e então
tiveram a grande surpresa de vê-la dura como se estivesse morta. Chamaram logo o
médico da côrte, que a muito custo, conseguiu fazer Angela voltar a sí, mas a
pobrezinha desde aquele dia perdeu a audição. Ficou surda. Elisa e Maria não se
conformavam que sua pequena, tão linda e boa irmãzinha não ouvisse mais.
Angela que tocava maravilhosamente harpa, não podia mais fazê-lo, o que a fazia
sofrer muitissimo. Os sons que antes tirava do seu instrumento eram tão maviosos,
que todos que tinham a felicidade de ouvi-la tocar, diziam: “O nosso Anjo está nos
levando para o Céu”. Com a surdez da princesinha, nunca mais houve música no
castelo, o qual se tornou triste e sem vida.
Mafalda, quando soube que seu plano tinha surtido efeito, ficou radiante.Todos os
vizinhos queriam saber a causa da tristeza das princesinhas que antes eram tão
alegres, e foi assim que as irmãs perversas tiveram certeza que o seu plano
diabólico se realizara e que Angela estava surda para o resto da vida.
Dois longos anos se passaram sem que nada de melhor viesse alegrar a vida das três
irmãs bondosas, quando, um belo dia, apareceu no castelo um moço que dizia ser
capaz de curar a surdez da princesa. Elisa mandou logo entrar o jovem e lhe falou:
- Não sei quem é o senhor, mas se curar a surdez do nosso pequeno anjo, eu lhe
darei a minha parte da fortuna que herdei dos meus pais e irei pedir esmola para
viver, se preciso for.
Respondeu-lhe o rapaz:
- A sua parte não chega, quero também a da princesa Maria. Só sob esta condição
curarei a princesinha Angela.
As duas irmãs nada disseram ao mancebo, mas chamaram seus ministros e toda a côrte
e, em voz alta, para que todos as ouvissem, declararam:
- Se este senhor curar a nossa irmã, nós lhe daremos todos os nossos bens. Não nos
importa a fortuna, o que desejamos apenas é que Angela venha a ser como antes,
alegre e feliz, para nossa alegria também!
O desconhecido que morava numa cidade próxima, há muito que amava loucamente
Angela, e como sabia que só poderia curá-la se suas irmãs dessem uma prova de
renúncia, sacrificando tudo em favor da princesinha,urdiu aquele plano para salvá-
la.
Foi desse modo que Fabiano, assim se chamava o jovem, entrou no palácio e curou de
fato Angela. Uma vez isso feito, Fabiano deu-se a conhecer. Ele, ao contrário do
que se pensava, não era um simples aventureiro, mas um príncepe também. Elisa e
Maria choravam de alegria ao verem novamente a sua querida irmãzinha completamente
curada. Passada a emoção dos primeiros momentos, Fabiano pediu a Elisa a mão de
Angela e revelou toda a sua história.
Como é natural, Elisa recebeu com felicidade esse pedido, principalmente quando,
olhando para Angela, viu que esta também amava Fabiano.
- Minhas queridas cunhadas - disse Fabiano - dentro de dois meses Angela e eu
estaremos casados. Nós quatro viveremos felizes dentro deste castelo, que será
sempre das três lindas e bondosas princesas pois eu serei apenas o responsável
pelos vossos bens, o conselheiro fiel e o defensor da vossa felicidade.
Quando Mafalda e as irmãs souberam do acontecido, ficaram tão enraivecidas que
enlouqueceram e foram presas na mesma torre de onde haviam praticado a
perversidade.
Dois meses depois, com muita pompa, realizou-se o casamento da linda princesa com o
príncipe salvador. Viveram sempre imensamente felizes. Elisa e Maria adoravam o
cunhado, que fazia a irmã tão venturosa.
E assim termino esta história, lembrando a todos que a bondade sempre supera a
maldade.

05. Os Príncipes Gêmeos

Era uma vez um Rei e sua esposa, a Rainha, que tendo tudo para serem felizes,
entretanto não o eram, porque não tinham filhos.
Certa noite, porém, a Rainha teve um sonho que a deixou muito pensativa. Sonhara
que seria mãe de duas crianças: um menino e uma menina. Ela que se sentia muito
infeliz por não ter filhos, ficou radiante e contou ao marido o sonho que tivera e
ambos meditaram muito sobre este acontecimento.
Trataram, desde logo, de escolher os nomes que dariam às duas crianças e ficou
resolvido que o menino chamar-se-ia Osiris e a menina Isis.
Tempos depois nasceram as crianças gêmeas, isto é, um menino e uma menina, tal qual
a rainha havia sonhado. Os pais ficaram radiantes, tanto mais que os seus filhos
eram lindos. Todos os ministros e amigos do Rei, e até o povo, foram convidados
para compartilharem da alegria que reinava no palácio
Houve grandes festas e o Rei mandou distribuir presentes entre os pobres do seu
país. Todos desejavam muitas felicidades aos principezinhos. Os soberanos estavam
agora tão felizes que não desejavam que nenhum dos seus súditos fosse infeliz, de
modo que a felicidade era geral. Todos os que precisavam de alguma coisa ou tinham
alguma dificuldade a resolver, acorriam ao palácio, onde o Rei os atendia, dando-
lhes conselhos, como um verdadeiro Pai.
Sob essa atmosfera de felicidade, cresceram os dois herdeiros reais. Quando ambos
completaram sete anos, o rei reuniu seus ministros para deliberar sobre a educação
das crianças. E assim começou uma vida nova para os principezinhos, que logo se
adaptaram aos estudos, deixando sem saudades seus brinquedos, pois ambos tinham na
vida uma grande responsabilidade, pois um dia teriam que governar o país no lugar
de seus pais.
Quando Osiris e Isis completaram quinze anos de idade, os Reis, seus pais,
organizaram uma grande festa, para a qual foram convidados todos os da côrte e
também príncipes e princesas de outros países. A curiosidade era geral, pois a fama
da beleza e da cultura de Isis já corria por vários lugares e todos desejavam
conhecer a gentil princesa, que cativava a todos, não só pela formosura, como
também pela bondade.
No dia da festa, a princesa Isis estava com um lindo vestido branco, sapatos
prateados e um belo diadema sobre seus cabelos pretos. Quanto a Osiris, trajava uma
elegante roupa de brocado de ouro e estava deslumbrante em seu traje.
Entre os convidados, achava-se um príncipe que, mais audacioso que os outros,
diante da beleza de Isis, não se conteve e dirigiu-se ao Rei, e pediu a mão da
princesa em casamento. O Rei, entre alegre e triste, respondeu ao jovem que a sua
filha era livre para escolher o homem com quem se casaria e que, portanto, ele não
podia, sem consultá-la, dar-lhe uma resposta.
Diante disso o pretendente dirigiu-se diretamente a Isis e assim lhe falou:
- Minha linda princesa, se me desses a honra de desposar-me, eu seria o mais feliz
dos mortais.
A princesa que não sabia o que seu pai havia dito ao rapaz, respondeu-lhe que com
ele se casaria se o Rei o consentisse, mas sob a condição de prometer-lhe que seria
sempre tão justo e bom quanto o seu pai.
O príncipe Omar, pois este era o nome do jovem que se apaixonara por Isis, e que
era de fato o único príncipe que poderia desposar a princesa Isis, pois os seres
que zelam pela humanidade o haviam preparado para isso, assegurou à sua amada que
não mediria sacrifícios para vê-la sempre feliz e que, por isso, jurava-lhe que
tudo faria para que ninguém jamais o chamasse de injusto e mau.
Vamos agora olhar para o príncipe Osiris e ver o que se passa a seu redor. Várias
princesas conversavam animadamente com ele, mas os olhos do jovem estão presos a
uma só, por quem está perdido de amores. É uma donzela de cabelos loiros e olhos
azuis.
Os arautos do Rei, nesse intervalo, já anunciavam o noivado de Isis com o príncipe
Omar, e os convidados apressavam-se em cumprimentar os jovens noivos. A única
pessoa que estava um pouco triste era a Rainha. Com lágrimas nos olhos, beijou a
sua filha, estreitando-a contra o peito e desejando-lhe muitas felicidades.
Osiris, aproveitando a ocasião, dirigiu-se apressadamente ao seu pai dizendo-lhe:
- Meu pai, sentir-me-ia imensamente feliz se concordasse no meu casamento com a
princesa Emilia.
Estava Osiris acabando de falar com seu pai, quando a princesa Emilia deles se
aproximando, assim falou:
- Senhor, a felizarda serei eu, se consentirdes que Osiris comigo se case, pois
este também é o desejo de meu velho pai, que há muito nutre esta esperança.
O Rei não cabia em sí de contente, pois ele também fazia muito gosto neste
casamento, mas, como não queria influir na vontade de seu filho, jamais tocara
nesse assunto, deixando que Osiris resolvesse por sí mesmo. Assim, mandou também
anunciar o noivado de Osiris com Emilia, os quais foram saudados por todos os
presentes, no meio da mais viva alegria.
Os esponsais, tanto de Osiris, como de Isis, foram marcados para três meses depois.
Como vocês, meus amiguinhos, podem imaginar, grandes foram os preparativos para as
bodas dos Irmãos Gêmeos e à medida que se aproximava a data do casamento,
emissários dos reinos vizinhos chegavam trazendo ricos presentes dos seus senhores
e soberanos. O povo preparava-se também, enfeitando as ruas por onde deveria passar
o cortejo conduzindo os jovens noivos para a Igreja. Nunca se tinha visto
espetáculo mais bonito naquele país. A rua principal tinha sido coberta, ou melhor,
calçada, com pedras brilhantes amarelas, azuis e vermelhas, que luziam ao sol,
dando reflexos maravilhosos.
O Rei, pai do príncipe Omar, já se achava no palácio com sua futura nora e
conversavam sobre o jovem casal. Achava o Rei que Isis e Omar deveriam morar no seu
castelo, mas a princesa não queria abandonar seus pais. Resolveram, então, que
morariam seis meses em cada palácio. Isto é, metade do ano com o pai de Isis e
metade com o pai de Omar.
Para Osiris um problema também se apresentava, pois ele como príncipe herdeiro não
podia abandonar o seu país, embora a noiva, como era natural, desejasse morar com
seu velho pai. Depois, porém, de um acordo entre o pai de Osiris e o de Emilia,
ficou tudo resolvido da melhor maneira, pois a bondade e a sabedoria daquele
conseguiam tudo sem aborrecimento, e para o bem de todos. O pai de Emilia viria
visitá-la sempre que quisesse, hospedando-se no palácio de seu genro.
Resolvidas essas pequenas dificuldades, realizaram-se as núpcias dois dias depois,
com uma pompa jamais vista no país.
Osiris e Isis foram sempre felizes e tiveram muitos filhos, que eram o encanto e a
alegria dos avós. Nunca se viu felicidade igual no mundo.
Agora, meus amiguinhos, vejam porque eles foram sempre felizes; é que onde existe
amor e bondade, há sempre eterna felicidade.
Por isto é que termino esta história pedindo a todos que sejam bons, estudiosos e
amigos de seus pais e dos seus amigos.
Até sempre, pois voltarei para contar novas histórias.

Aula para os Pupilos


Vera Souza Reis

01. Aula de 02 de Julho de 1950

Hoje vou contar a vocês uma história que se passou na França, no século passado e
na qual todos nós tomamos parte, porque vivemos naquela época.
Numa carruagem que se dirige para Paris, viaja uma jovem princesa chamada Maria
Antonieta. Ela é filha de uma Rainha, a Rainha da Áustria, e vai à Paris
acompanhada de um grande séquito, para desposar o herdeiro do trono francês.
Como a viagem é longa, a comitiva resolve descansar um pouco no Castelo Taverney,
que fica à beira da estrada. Este castelo pertence à Família Taverney, que se
compõe do Marquês de Taverney, que é o chefe da família, de sua filha Andréia e
Felipe o filho mais velho. Além desses personagens, mora também alí um rapazinho
chamado Gilberto. Este rapazinho apareceu um dia no Castelo, sem que ninguém
soubesse a sua origem. Ele mesmo ignora quem sejam seu pai e sua mãe. É um bom
amigo da família Taverney e muito serviço tem prestado, porque os Taverney estão
arruinados; o velho Marquês perdeu toda a sua fortuna. Gilberto é muito dedicado.
Raro é o dia em que não sai para pescar ou caçar, para que a família Taverney tenha
alguma coisa para comer.
É neste castelo que a futura Rainha da França, Maria Antonieta, trava conhecimento
com um personagem que por alí também passava, chamado Conde de São Germano. O Conde
de São Germano era um grande Iniciado, como veremos mais adiante, e como tal tinha
poderes sobrenaturais. Sabia, por exemplo, prever acontecimentos futuros. Maria
Antonieta, ao saber disso, mostrou-se curiosa em saber alguma coisa sobre a sua
vida, depois que fosse Rainha. E assim, pediu a São Germano se podia dizer-lhe
alguma coisa a esse respeito. O Conde ordenou então que lhe trouxessem um copo
cheio de água, e olhando fixamente para ele, disse em voz alta:
- Sereis, de fato, Rainha de uma grande nação. A vossa resposabilidade, porém, é
enorme, porque é dever de todos os Reis cumprir devotamente a missão que lhes cabe
de governar um povo. Os Reis, quando são coroados, se comprometem perante Deus de
servir ao seu povo; fazem um juramento a Deus de zelar pela sua pátria e pelo seu
povo. Os Reis que rompem tal compromisso, estão sujeitos a um castigo muito sério,
porque é uma falta grave quebrar um juramento.
Assim falou São Germano, enquanto Maria Antonieta o escutava com toda a atenção. De
súbito, porém, a fisionomia de São Germano mudou e Maria Antonieta, percebendo que
ele ia calar, insistiu:
- Por favor, Senhor Conde, continue, não me oculteis nada.
- Já que pedís com tanta insistência - disse o Conde - prosseguirei. O que agora
vejo, princesa, é um instrumento que ainda não existe e que terá o nome de
“guilhotina”, porque será inventado por um homem chamado Dr Guilhotin.
- Mas que espécie de instrumento é esse e que tem ele a ver comigo? - indagou Maria
Antonieta, já com certa impaciência.
- É que... - balbuciou o Conde - é que nele perdereis a vossa bela cabeça, se não
souberdes reinar como uma verdadeira Rainha, digna desse nome.
Ouvindo estas última palavras, Maria Antonieta sentiu um arrepio percorrer-lhe o
corpo todo, e durante aquela noite, no velho solar da família Taverney, a jovem
princesa teve os mais terríveis sonhos.
Depois desse encontro, muitos anos se passaram. Maria Antonieta agora já é Rainha,
pois se casou com Luiz XVI, Rei de França.
Os sábios conselhos de São Germano não foram, porém, seguidos pelos soberanos.
Enquanto na Corte, os Reis e toda a nobreza se divertiam, o povo passava fome e
miséria. A Rainha só se preocupava com festas e divertimentos de toda a sorte.
Chegou, até, a construir, nos arredores de Paris, um palácio a que deu o nome de
Trianon, onde se realizavam as mais deslumbrantes festas e onde se gastavam rios de
dinheiro.
O Rei e a Rainha não estavam desempenhando bem o seu papel de governantes de um
povo. Assim, os Seres que velam pela Humanidade, os Adeptos da Boa Lei ou os
Adeptos da Fraternidade Branca, vendo a situação daquele país, reuniram-se em uma
grande assembléia e disseram:
- Precisamos evitar que o povo se revolte com o modo de proceder dos soberanos, que
só cuidam do seu bem-estar, dos seus divertimentos, sem ver as necessidades dos
seus súditos. Ainda é tempo de enviarmos um emissário àquela Corte, para mostrar
aos Reis que devem olhar mais para o seu povo, que devem dar-lhe meios para viverem
felizes, pois esse é o dever de todo o governante. Se eles, os Reis, ouvirem as
palavras do nosso emissário, talvez ainda se evite uma grande revolução que nós
vemos, já está se preparando.
Assim falaram os Adeptos da Boa Lei. Esses Seres que somente querem a felicidade de
todos os homens, sem distinção de raça ou religião.
Algumas semanas depois disso, apareceu, em Paris, o Conde de São Germano, aquele
mesmo que há muitos anos se encontrara com Maria Antonieta no Catelo Taverney.
Fazia bem uns vinte anos que Lorenzo Paolo Domiciani, pois este era o nome por
extenso do Conde, estivera na França, e quando apareceu pela segunda vez todos
ficaram admirados de ver que, apesar do tempo decorrido, o Conde se apresentava com
a mesma fisionomia jovem dos outros tempos, enquanto que as pessoas que haviam tido
contato com ele já estavam envelhecidas. Ninguém compreendia semelhante mistério e
todos olhavam-no, por isso, com certo respeito.
São Germano vinha agora acompanhado de sua esposa, jovem de rara beleza, loura,
olhos claros, chamada Lorenza Feliciani Domiciani. Tinha o casal sete filhos, um
dos quais teve um trabalho de grande importância nesta história que estou contando,
pois era aquele rapazinho chamado Gilberto, que vivia no Castelo Taverney, quando
São Germano, pela primeira vez, encontrara com Maria Antonieta. Gilberto,
justamente porque tinha uma grande missão a desempenhar, fora colocado, ainda
pequenino, naquele Castelo de nobres, sem que ninguém, nem mesmo ele, soubesse a
sua origem.
Lorenzo e Lorenza eram, pois, enviados da Fraternidade Branca, ou seja, de Agartha,
para salvar um Rei e uma Rainha que não tinham compreendido a missão que, por
herança, lhes coubera de governar uma nação.
Ao chegar o casal Lorenzo-Lorenza à França, vinham eles de um Colégio Iniciático no
Egito, no qual ele era Sacerdote e ela Sacerdotisa. O próprio nome deles indica
essa procedência, porque Lorenzo se chamava Paolo e Lorenza Feliciani. O P de Paolo
encobria que ele era um Sacerdote e o F de Feliciani indicava que ela era uma
Sacerdotisa, porque existe uma cruz chamada “Ansata”, que tem esse feitio quando é
usada pelo Sacerdote, tal como um P, e este feitio, quando é usada pela
Sacerdotisa, tal como um F. Portanto estes dois nomes - PAOLO e FELICIANI - era o
que chamamos de “Maya”, ou um véu que encobria a verdadeira origem do casal
Lorenzo-Lorenza. Era necessária essa “Maya”, porque se o Conde de São Germano e sua
esposa se apresentassem ao mundo dizendo que eram um Sacerdote e uma Sacerdotisa
Agartinos, ninguém os compreenderia. No entanto, os discípulos, aqueles que
conhecem certos símbolos, sabiam perfeitamente por esses simples nomes, com quem
estavam tratando, isto é, quem eram os Condes de São Germano. Assim, todos os seres
que vêm ao mundo cumprir uma missão para auxiliar a humanidade, são obrigados a
velar os seus verdadeiros nomes e a sua origem, para melhor poderem trabalhar pelo
mundo, porque os homens ignorando, na sua maioria, que os Seres da Fraternidade
Branca só querem ajudar sem visar qualquer vantagem, quando vêm surgir na Terra,
seres com determinados poderes superiores, ficam com medo de que eles venham tirar-
lhe as suas riquezas e o seu poder, e, geralmente, os perseguem e matam, como
fizeram com Jesus Cristo. Por todas essas razões é que esses grandes seres procuram
velar os seus nomes verdadeiros, usando nomes como esses de Lorenzo Paolo Domiciani
e Lorenza Feliciani Domiciani, que revelam aos discípulos, que pertencem a uma
Escola Iniciática, como a nossa por exemplo, quem são e o que vem fazer.
Agora que vocês já sabem a missão de Lorenzo e Lorenza, os quais surgiram num
momento aflitivo da história humana, com quem, aqui na Sociedade, vocês poderão
identificá-los? Quem são Lorenzo-Lorenza, atualmente?
Assim, esta história é uma parte da nossa história da nossa Obra, numa das nossas
últimas vidas.
São Germano mantinha boas relações com os nobres franceses e, assim, facilmente foi
introduzido junto aos monarcas, captando-lhes a simpatia, porque era um homem muito
agradável e, sobretudo, de grande cultura.
Sempre que havia reunião na Côrte, o Conde de São Germano e sua esposa eram
convidados, porquanto a presença deles era um prazer para todos. As roupas de ambos
eram elegantíssimas e as joias que Lorenza usava chamavam a atenção, não só porque
as pedras preciosas e o ouro tinham um brilho diferente das joias das outras damas
da côrte, como também pela maneira como eram confeccionadas. Os ourives de Paris
procuravam imitá-las mas nenhum, jamais, conseguiu fazer alguma coisa que lhes
igualasse. E isso para nós é fácil de compreender, porquanto as joias de Lorenza
eram da Agartha e os brilhantes, o ouro e as pedras preciosas de lá, são muito mais
belos do que os daqui da face da Terra.
Certa noite, uma rica carruagem puxada por dois belos cavalos brancos, cujos
arreios eram de ouro, os da direita, e de prata os da esquerda, parou no portão do
jardim do palácio real. A sentinela que se achava postada no portão indagou quem
vinha dentro e ao ouvir do cocheiro: - São os Condes de São Germano! -
imediatamente fez sinal para que entrasse. A carruagem era branca com frisos
dourados e, nas portinholas, via-se o brasão do Conde. Quando a carruagem chegou à
porta do palácio, o lacaio que ia na boléia, ao lado do cocheiro, vestido com uma
rica libré azul com galões dourados, apeou-se, vindo abrir a portinhola do carro.
Dele saltou o Conde que, num gesto elegante, deu a mão à Condessa, ajudando-a a
descer. E ambos, de braços dados, entraram nos salões reais.
Quando o arauto, batendo com o bastão, anunciou em voz alta: - Os Condes de São
Germano! - todos os olhares se voltaram para os recém chegados e eles, gentilmente,
cumprimentavam a um e a outro.
Naquela noite o casal Lorenzo-Lorenza estava realmente encantador. Lorenza trazia
um vestido azul de veludo e sobre os seus lindos cabelos cor de ouro, ostentava um
diadema onde, no centro, destacava-se uma pequenina meia-lua finamente cravejada de
brilhantes. Lorenzo trazia sobre a sua jaqueta de cetim amarelo, na altura do
coração, um emblema de ouro, do feitio de um sol com 32 raios de brilhantes. O
fulgor que irradiava daquelas duas joias era de ofuscar a vista.
E assim, de braços dados, chegaram até o trono real, onde respeitosamente
cumprimentaram os soberanos.
A Rainha, então, dirigindo-se a Lorenzo disse: - Há muito que os esperávamos. Será
que o Senhor Conde veio brindar-nos esta noite com algumas das suas maravilhosas
peças musicais?
A Rainha assim falava porque São Germano era conhecido como exímio violinista e as
suas músicas eram apreciadíssimas.
- Se essa é a vontade de Sua majestade - respondeu São Germano - sentir-me-ei
honrado em satisfazê-la.
Os lacaios apresentaram então a Lorenzo um violino, e ele empunhando o arco,
desferiu os primeiros sons de uma composição sua. À medida que os sons vibravam no
ar, os espectadores sentiam-se transportados para planos elevados, tal a natureza
daquela música que ouviam. Dir-se-ia uma música divina, executada pelos Anjos do
Céu.
Depois de uma pequena pausa, a Rainha, dirigindo-se a Lorenza, perguntou-lhe: -
Senhora Condessa, sabemos que possuis uma bela voz; seremos dignos de ouví-la?
A Senhora Condessa de São Germano, esboçando um sorriso de agradecimento,
respondeu: - Vossa Majestade é muito gentil. Dedico-me, realmente, à arte do bel-
canto, e se bem que nunca tenha cantado em público, será para mim uma grande honra
cantar perante tão seleta assistência. E, encaminhando-se para o cravo (instrumento
de cordas semelhante ao piano, que se usava naquela época), onde já a esperava o
Conde, que a acompanhou, Lorenza cantou uma romanza de autoria de São Germano. A
sua voz era de uma delicadeza e de uma pureza de sons, que agradou a todos. A letra
da música era tão bela e comovente, que os mais sensíveis não puderam reter as
lágrimas que lhe vinham aos olhos.
Foi uma noite agradabilíssima e aquela reunião nunca mais foi esquecida pelos que a
presenciaram.
De outra feita, estando São Germano e sua esposa entre um grupo de nobres, também
no palácio real, um certo Marquês, inimigo de Lorenzo, porque este lhe chamara a
atenção para um ato indigno por ele praticado, querendo ridicularizar o Conde,
disse-lhe: - Vós, que tudo sabeis, dizei-me alguma coisa sobre o meu futuro, visto
que sois muito hábil na arte adivinhatória!
São Germano, percebendo a malícia das suas palavras, respondeu: - Senhor Marquês,
nem sempre é agradável saber o futuro, mas já que pedís com tanta insistência,
posso fazê-lo. E olhando fixamente para ele, continuou: - Dentro de alguns anos
morrereis decapitado.
Ao ouvir tão terríveis palavras, todos se entreolharam, e o insolente Marquês,
zombando das palavras de São Germano, deu uma grande gargalhada. Passado algum
tempo, o Marquês morria da maneira trágica, prevista por Lorenzo.
Muitas e muitas vezes, os Condes de São Germano, desempenharam a missão que lhes
cabia, tiveram a ocasião de voltar ao palácio real para aconselhar aos Reis,
mostrando-lhes o dever que tinham de zelar pelo povo. Lembrou-lhes São Germano que
o Rei anterior, Luiz XIV, também por não ter-se integrado no seu papel de Rei,
preferindo os divertimentos ao trabalho de bem governar, tinha tido uma morte
horrível, sucumbido, depois de muito sofrimento, em consequência de uma doença -
varíola - que apanhara.
Os seus esforços, porém, foram inúteis, porque o Rei e a Rainha não ligaram muito
aos seus conselhos, de modo que a revolução que São Germano tanto quisera evitar,
estourou, tornando-se vitoriosa com a tomada de uma célebre prisão denominada
Bastilha. Já nessa época, existia a guilhotina, aquele aparelho que São Germano
vira dentro de um copo de água, no Castelo de Taverney - e que toda a nobreza nele
perdeu as suas cabeças. Poucos foram os que se salvaram. O Rei, a Rainha e toda a
família real tentaram fugir, mas quando o faziam, foram presos e depois também
decapitados.
Lorenzo e Lorenza muitas vezes eram substituídos por um outro casal perfeitamente
igual a eles, cujos nomes eram Cagliostro e Serafina. Como isso é uma passagem
oculta da vida desses misteriosos seres, muita gente, até hoje, confunde Cagliostro
com São Germano e Lorenza com Serafina. Há tempos exibiram um filme em que aparece
Cagliostro tendo por esposa Lorenza, quando isso é errado, porque Lorenza não foi a
esposa de Cagliostro e sim de São Germano. Além disso, naquele filme, como também
em alguns livros que por aí andam, apresentam Cagliostro como um homem mau, quando
isso também não é verdade. Cagliostro era uma criatura muito boa, que sempre
auxiliou os homens, pois sendo Ele um dos Membros da Fraternidade Branca, só podia
trabalhar pelo bem da humanidade. O que aconteceu, e daí a confusão que existe, é
que um homem muito mau, querendo atrapalhar o trabalho de Cagliostro, apresentou-se
na mesma época, com o mesmo nome de Cagliostro. Este sim, fazia coisas
prejudiciais, que comprometiam o verdadeiro Cagliostro. Os historiadores, porém,
ignoram este fato, daí atribuir-se ao verdadeiro Cagliostro coisas que eram
praticadas pelo falso Cagliostro. Em consequência disso, o verdadeiro Cagliostro
foi muito perseguido, chegando até a ser preso, em Roma, no Castelo de Sant’Angelo,
de onde conseguiu fugir, auxiliado por pessoas de grande influência que receberam
instruções para fazê-lo, e um dos que muito trabalhou para esse fim, isto é, para
tirar Cagliostro da prisão, foi um Príncipe chamado Rohan.
Quanto a São Germano, alguns anos depois, aquele seu filho Gilberto, que se tornou
um famoso médico, mas que ignorava quem era seu pai, desejando muito saber quem era
seu progenitor e onde se encontrava, teve notícias, por um velhinho com quem se
encontrara certo dia, de que o seu pai era uma criatura de grande valor e que
poderia ser encontrado em uma capelinha perdida em uma floresta da França; Gilberto
então pôs-se imediatamente a caminho e depois de muito andar, avistou, finalmente,
no meio do arvoredo, uma capela toda branca. Era a Capela do Espírito Santo. Entrou
e viu ali um velho frade de fisionomia bondosa, de longas barbas brancas, que a ele
se dirigiu, pois o frade sabia muito bem quem era Gilberto e o que ele queria.
Introduziu-o através de uma pequena porta que dava para uma escadinha que ia ter em
um subterrâneo. Gilberto desceu essa escada e foi dar a um santuário, onde,
deitado, como se estivesse morto, encontrava-se o seu pai, o Conde de São Germano.
Sobre o seu peito luzia uma estrela de cinco pontas, chamada Tetragramaton. Ele não
estava morto, como poderia parecer à primeira vista. Estava apenas dormindo um
longo sono, porque os seres da categoria de São Germano não morrem. Eles ficam
dormindo, uma vez terminada a sua missão num ciclo, até o dia em que tenham
novamente de acordar, para continuar o seu trabalho. Dormem como aquela Pincesa da
história da Rosa de Espinhos, que dormiu cem longos anos e, quando acordou, estava
tão jovem como no dia em que adormecera. Assim aconteceu com São Germano. Perto
dele, uma pombinha branca sustinha uma tabuleta de prata com os seguintes dizeres:
“Voltarei ao mundo em 1883 e aparecerei em terras distantes daqui, para continuar o
meu trabalho. E a promessa de São Germano de voltar em 1883 foi cumprida como
veremos na nossa próxima reunião.

02. Os Três Presentes


(Dezembro de 1950)

Era uma vez três irmãos que se chamavam Jano, B e Samuel. Quando esses
rapazes terminaram os seus estudos, o pai chamou-os e lhes disse: - “Meus filhos, é
chegado o momento de vocês porem em prática os conhecimentos que adquiriram durante
a infância e os bons exemplos que eu sempre procurei dar a todos os três. Vocês
agora são homens e devem correr o mundo, procurando auxiliar a humanidade, pois
todos nós vivemos unicamente para isso; para ajudar os que precisam do nosso
auxílio. Assim fazendo, vocês estarão servindo a Lei da Evolução ou a Lei de Deus,
que é a mesma coisa. Lei é o mesmo que Deus. Uns dizem Deus e outros, Lei. Eu
prefiro dizer Lei, a Grande Lei da Evolução, porque falar Deus dá a idéia de um
homem, quando Deus não é um homem, mas sim um conjunto de forças poderosíssimas.
Assim, quem trabalha em harmonia com a Lei, está no caminho do Bem e quem trabalha
contra a Lei está no caminho do mal”.
Os três irmãos, que eram muito unidos e compreendiam perfeitamente o que o seu pai
queria dizer com aquelas palavras, porque desde crianças haviam sido preparados
para trabalhar com a Lei de Evolução, responderam a uma só voz ao seu pai:
- Amanhã mesmo partiremos, papai!
O velho pai, que não esperava outra resposta dos seus filhos, pois os conhecia
muito bem. Abraçou-os com muito carinho e, no dia seguinte, depois de se despedirem
das pessoas da família, os três rapazes, empunhando o bastão de peregrinos,
partiram.
Durante alguns dias, os três irmãos andaram juntos. Finalmente, resolveram que cada
um tomasse um rumo diferente, mas como eram muito amigos e muito unidos, antes de
se separarem, fizeram um pacto, isto é, combinaram o seguinte: Todos os dias, as 6
horas da tarde, estivessem onde estivessem, trabalhando ou não, àquela hora todos
eles suspenderiam o que estivessem fazendo e, por cinco minutos que fosse,
procurariam unir-se mentalmente, pensando um no outro, fazendo o que se chama de
CORRENTE MENTAL (correntes são pequenos elos ligados uns aos outros e, assim, uma
corrente mental é o pensamento de várias pessoas ligadas entre sí, isto é, muitas
pessoas pensando em uma mesma coisa ao mesmo tempo). Desse modo, Jano, B e
Samuel combinaram que, para facilitar essa união de pensamentos, deveriam antes
pensar em um grande GLOBO AZUL com a palavra PAX que quer dizer união, sendo que
essas palavras em letras cor de ouro. Feito isso deveriam, então, pensar uns nos
outros, assim como no seu velho pai e nos seus parentes e amigos. Feita esta
combinação, que mais parecia um juramento, um compromisso entre eles, os três
jovens se separaram.
Jano dirigiu-se para a Arábia e foi ter a uma Fraternidade (fraternidade é o mesmo
que um colégio e templo ao mesmo tempo; colégio, porque lá se aprende os segredos
da natureza, e templo, porque nas horas apropriadas, depois dos trabalhos do dia,
os discípulos procuram harmonizar-se, unir-se com os seres elevados que dirigem os
destinos da humanidade). Como Jano era um rapaz muito correto e muito bom, captou
logo a simpatia dos colegas e, com o tempo, tornou-se uma pessoa de toda a
confiança dos Mestres e Sacerdotes que ali viviam. Certo dia, o Diretor da
Fraternidade mandou chamá-lo e disse-lhe:
- Vou encarregar-te de um grande trabalho, meu filho. É uma missão de grande
responsabilidade, mas não tenho dúvidas de que te sairás bem dela. Trata-se de
conduzir para um lugar distante daqui uma frasqueira contendo um precioso líquido -
“A Água da Vida”.
E, dirigindo-se para o Santuário, o Sacerdote apanhou a frasqueira, em volta de
cujo gargalo se viam fitas de várias cores.
- Longe daqui, lá para o Ocidente, continuou o Sacerdote, há um grupo de pessoas,
que também pertencem a um Colégio Iniciático como este nosso, e que está sendo
preparado para poder tomar esta preciosa Água, que dá a quem a toma, a
possibilidade de se iluminar, de se tornar sábio e puro.
E no dia seguinte, Jano partiu, levando consigo aquela preciosa frasqueira que
continha a “Água da Vida”, a Água da Imortalidade ou da Iluminação, que é a mesma
coisa, porque quem se ilumina torna-se imortal. As dificuldades que teve de vencer
não foram poucas. Para chegar ao porto onde devia tomar o navio, tinha primeiro
que atravessar um deserto enorme. Nesse deserto ele foi aprisionado por um bando de
malfeitores que pensavam possuir ele dinheiro. Depois de uma luta medonha, Jano foi
abandonado no deserto, todo ferido, com as roupas rasgadas e ensanguentadas, mas a
frasqueira ficou intacta. Depois de alguns dias, felizmente, passou por ali uma
caravana de mercadores que também se dirigiam para o porto e, vendo Jano naquele
estado, ardendo em febre, socorreram-no e levaram-no com eles. Foi assim que ele
conseguiu chegar até o porto onde tomou o navio que o devia conduzir ao seu
destino.
O segundo irmão, B , foi ter à India e lá se encontrou com um velho asceta
que vivia numa gruta. Depois de algum tempo em convívio com B , o velhinho
lhe disse:
- Há tempos, numa de minhas meditações, vi alguém que se aproximava de mim e a quem
eu entregava um LIVRO que me deram para guardar com todo o cuidado, a fim de que,
quando chegasse o tempo, fosse por sua vez depositado nas mãos de um Homem que
trabalha pela Humanidade, lá para as bandas do Ocidente. Pois bem,, continuou o
ancião, essa pessoa que eu vi nas minhas meditações era você B e,
portanto, vou encarregar-te de levares o Livro a quem deve ser entregue.
Assim falando, entregou-lhe o Livro e deu-lhe todas as instruções sobre o lugar
para o qual B devia dirigir-se.
Do mesmo modo que seu irmão, B teve que lutar com bandidos, não no deserto
mas no mar. O navio em que ele viajava foi assaltado por piratas que, ao verem o
cofre que B carregava, dentro do qual colocara o precioso Livro, pensando
que ali estavam guardadas preciosas joias e talvez até dinheiro, perseguiram-no de
todo o jeito, mas nada conseguiram, porque B defendeu-se valentemente e, por
fim, valendo-se dos seus poderes sobrenaturais, fez-se envolver numa nuvem de
matéria akáshica, desaparecendo assim aos olhos dos piratas, que nada mais vendo,
abandonaram o navio, podendo assim B , continuar sem mais perigo a sua
viagem.
Quanto ao terceito irmão, Samuel, dirigiu-se ao Tibet, lugar distante, também no
Oriente e, depois de muitas peripécias, atravessando montanhas cobertas de neve,
chegou a um mosteiro, onde durante muitos anos viveu entre os monges. Aprendeu ali
inúmeras coisas, inclusive línguas sagradas. Os monges gostavam imensamente de
Samuel, não só pela sua inteligência fora do comum, como também pelo respeito com
que ouvia e aceitava os bons conselhos daqueles santos homens. Os monges desse
mosteiro tinham também um tesouro de grande valor, que eles guardavam com todo o
respeito e carinho. Era uma chave de cobre, medindo 23 centimetros de comprimento e
que era dividida em sete escamas, tendo na parte superior um oito sem sentido
horizontal, um oito deitado, e na quarta escama o símbolo da Balança, signo de
Vênus. - “Esta chave tem um nome” - disseram os monges a Samuel - “ela chama-se
Chave de Púshkara”. Púshkara é o nome de um continente ainda desconhecido dos
homens, atualmente, mas onde florescerá uma civilização que será de uma Raça ainda
distante de nossos dias, mas para cujo aparecimento já se trabalha no momento. Além
do mais, Púshkara quer dizer “Mar de Leite ou Manteiga”. Ora, na Serra da
Mantiqueira (que muito lembra manteiga) em um lugar chamado São Lourenço, em terras
muito distantes daqui, foi fundada há poucos anos, uma Sociedade que trabalha
justamente para essa nova civilização de que te falei. São os seus fundadores dois
Seres a quem chamamos de GÊMEOS ESPIRITUAIS ou Henrique-Helena. Portanto, a esses
dois Seres é que esta chave deve ser entregue, pois a Eles pertence no momento.
Vamos, portanto, te encarregar de levares a Chave de Púshkara aos Gêmeos
Espirituais.
Samuel percebeu logo a grande responsabilidade que lhe cabia de transportar tão
precioso símbolo e, assim, preparou um estojo onde pudesse colocar a Chave, a fim
de que ela não sofresse nenhum dano. Da mesma maneira que os seus dois outros
irmãos, Samuel teve que vencer inúmeras dificuldades antes de chegar ao Brasil.
porque, como vocês devem ter percebido, era ao Brasil que os três irmãos se
dirigiam. Por diversas vezes encontrou malfeitores que o atacavam, pensando que ele
carregava dinheiro dentro do estojo, o qual carregava sempre debaixo do braço. Como
os seus irmãos, Samuel conseguiu também livrar-se de todos os bandidos e chegar
onde devia.
Durante todos esses longos anos em que os três irmãos haviam ficado separados,
todas as tardes, conforme tinham combinado, eles se punham em comunhão mental,
através do Globo Azul com a palavra PAX em letras cor de ouro, de maneira que entre
eles se estabeleceu uma corrente tão forte de pensamento, que com o decorrer do
tempo eles sabiam notícias uns dos outros somente pelo pensamento, como se
trocassem entre sí cartas. Assim sendo, todos os três sabiam onde cada um deles se
encontrava e o que estava fazendo, e sabiam também que todos os três estavam se
dirigindo para o mesmo lugar e que um dia se encontrariam novamente. E foi
justamente o que aconteceu. Depois de alguns meses, os três irmãos tiveram a
felicidade de se reunirem novamente, desincumbindo-se cada um da missão que lhes
havia sido confiada. Foi assim que a Frasqueira, o Livro e a Chave de Púshkara
chegaram às mãos dos Gêmeos Espirituais.
Ora, estes três personagens que nos trouxeram estes três presentes faz-nos lembrar
uma passagem da vida de Jeoshua Ben Pandira, pois quando Ele nasceu, três Reis, os
três Reis Magos trouxeram-lhe também três presentes, que depositaram no presépio,
ou Apta, que quer dizer: Lugar onde o Sol nasce. E Jeoshua ou Cristo, como é mais
conhecido, era de fato um Sol, ou melhor, um dos Sete Raios do Sol Central. A nossa
Obra é também um Sol que ilumina as mentes de todos os homens de boa vontade e, por
isso, o lugar onde os GÊMEOS SE ENCONTRAM é também chamado de APTA. Deste modo, na
história da nossa Obra também temos três irmãos que, na verdade, são três Reis que
vieram do oriente para o Ocidente, trazendo três preciosas dádivas ou presentes.
A Chave de Púshkara, durante sete anos ficou na Obra, com os Gêmeos Espirituais, e
tão grande era o seu poder, principalmente nas mãos do nosso Dirigente, do nosso
Mestre, que durante um ritual aqui realizado, quando o Mestre a erguia abençoando
os homens, uma jovem de 15 anos que tinha morrido e cujo enterro já se dirigia para
o cemitério, tendo o carro que conduzia o caixão sofrido uma pane, um desarranjo no
motor, o “chauffer”, foi obrigado a saltar e eis que ouvem pancadas surdas que
partiam de dentro do caixão. Como é natural, todos se acercaram, abrindo-o para ver
o que tinha acontecido. No mesmo momento, a jovem levantou-se... E assim, acabou-se
o enterro, porque a moça estava bem viva, “vivinha da silva”, como se costuma
dizer.
Este precioso símbolo, depois de ter ficado 7 anos na Obra foi conduzido aos mundos
subterraneos de Agartha e sabemos que lá essa Chave já abriu dois grandes portais.
Quanto ao livro e à frasqueira, ainda se encontram na Obra, estando presentemente
em São Lourenço. É um Livro antiquíssimo e todas as palavras, nomes de cidades,
etc, que tem a ver com a História da Obra, estão sublinhadas com lápis roxo, pois
foi um excelso Ser do Raio Planetário da Lua que o fez, como uma homenagem ao
trabalho dos GÊMEOS ESPIRITUAIS.
E a frasqueira também se encontra em São Lourenço, no Museu do Templo, com as suas
fitas multicores em volta do gargalo. Depois que um grupo de irmãos realizou um
determinado ritual, bebendo uma gota daquela preciosa Água Vital, o que sobrou
cristalizou-se no fundo da frasqueira, tomando a forma de um pequeno coração, o
que, aliás, pode ser visto por qualquer um de nós, quando for a São Lourenço.

03. Aula dos Pupilos


07.01.1951

Como vocês sabem, a nossa Obra foi fundada pelos Gêmeos Espirituais, mas para que o
Professor fosse preparado para isso, porque ninguém nasce sabendo, desde criança
que os Adeptos da Fraternidade Branca, aqueles Seres da Agartha, estavam sempre ao
seu lado, guiando-o e orientando-o. Entre essas criaturas que acompanharam o
Professor desde a sua infância, podemos citar um que era conhecido pelo nome de
Antonio Maceió, mas cujo verdadeiro nome é Akadir. Apesar de Antonio Maceió ser uma
criatura de alta estirpe espiritual, instalou uma oficina de ferreiro em Salvador,
capital do Estado da Bahia, onde vivia o nosso Mestre. Para o povo, Antonio Maceió
não era mais do que um modesto ferreiro, quando, na verdade, ele era e ainda é um
verdadeiro Rei. É muito curioso nós observarmos, nesses seres de grande valor
espiritual, a simplicidade de que são dotados e o pouco valor que dão ao poder e à
riqueza de que os homens tanto gostam. Para eles não existe orgulho, não existe
vaidade, quando se trata de cumprir a Lei, a missão que lhes foi confiada. Em
primeiro lugar eles colocam a sua obrigação. Assim, Antonio Maceió, ou Akadir, como
é o seu nome verdadeiro, sujeitou-se a passar por um modesto operário, apenas para
poder viver perto do pequeno Henrique, que mais tarde viria a ser o fundador da
nossa Obra. E por falar no desinteresse desses seres pelas coisas materiais, é bom
lembrar que o nosso próprio Mestre, se quisesse, poderia hoje ser um homem muito
rico e desfrutar de uma posição social muito grande, porque poderes não lhe faltam
para isso e, por mais de uma vez, grandes fortunas lhe foram oferecidas, se ele
deixasse de dirigir a Obra e fosse cuidar apenas da sua vida material. No entanto,
o Mestre sempre rejeitou toda e qualquer proposta que lhe foi feita, cuidando única
e exclusivamente da Obra, porque esta é a sua missão neste mundo. Jesus Cristo
também, certa vez, foi tentado pelo espírito do mal que lhe prometeu todas as
riquezas do mundo, se ele abandonasse a sua missão. Do mesmo modo, JHS recebeu,
também, idêntica proposta das forças do mal se se comprometesse a abandonar a
Obra. No entanto, tudo ele tem recusado apenas para trabalhar pela humanidade. Isso
é para vocês verem o espírito de renúncia desses Seres que nós chamamos de Os
Grandes Iluminados. Eles colocam sempre o seu dever e a sua obrigação de servir a
Lei acima de tudo.
Mas, voltemos a falar de Antonio Maceió. Era ele um homem que gostava imensamente
de crianças e até hoje se fala, na Bahia, dessa criatura estranha e bondosa. Uma
vez, estava ele com um grupo de meninos, no bairro onde morava e, querendo divertí-
los, disse: - “Vocês querem ver como a minha perna é um búzio?”Assim falando,
Antonio Maceió deu uma reviravolta e os pequenos viram que, de fato, a sua perna
era um búzio. Eram brincadeiras que ele fazia para distrair a criançada, como quem
faz mágica, porque, na realidade, Antonio Maceió possuía duas pernas perfeitas.
Outro ser que também preparou ambiente para a fundação da nossa Obra foi Josué
Mateus, ou Kadir. Exercia ele a profissão de carreiro, possuindo um carro de bois,
no qual trazia pedras de amolar e outros objetos. Muitas e muitas vezes apareceu em
São Lourenço com o seu carro de bois e conta-se que, as vezes, o povo o via
aproximar-se da cidade, vindo das bandas de Cristina, e que, de repente, carro, boi
e pedras, tudo desaparecia diante dos olhos estupefatos do povo. Josué Mateus morou
muitos anos em Silvestre Ferraz, preparando o advento da nossa Obra.
Terminada a sua missão, tanto Antonio Maceió, ou Akadir e Kadir, voltaram para os
seus verdadeiros lugares e hoje em dia estão desempenhando um papel muito
importante no mundo. Dentro de alguns anos, muito se falará nesses duas estranhas
criaturas que terão um papel de projeção na história dos homens.
Quando o Professor completou a idade de 15 anos, foi levado pelos Adeptos para o
Oriente, indo ter à India, em Srinagar, passando primeiro por Portugal. Na Índia,
ele conviveu com seres de grande valor espiritual, tendo ali se realizado rituais
importantíssimos, já se preparando, assim, o ambiente para a fundação da nossa
Obra. Sobre essa viagem falarei com pormenores em outra ocasião, porque há, também,
muita coisa a contar.
Em 1914, quando o Mestre tinha 31 anos de idade, teve que se mudar para o Rio de
Janeiro e 7 anos depois, no ano de 1921, foi aconselhado a ir a São Lourenço em
companhia de D. Helena. Quatro misteriosos Seres, quatro Grandes Adeptos
acompanharam os Gêmeos na sua primeira viagem a São Lourenço. Isto nos faz lembrar
aquela história do Colibri Irisiforme, daquele Rei que apelou para aqueles 4
pássaros sagrados. Nessa viagem, os Gêmeos também foram acompanhados por 4 Excelsos
Seres. Essas sublimes criaturas pouco falaram durante a viagem e, na cidade de
Itanhandú, duas delas saltaram. (Itanhandú, como Silvestre Ferraz, lugar onde viveu
Josué Mateus, faz parte do que chamamos um Sistema Geográfico, composto de 7
cidades em torno de uma oitava, que é São Lourenço).
Ao chegarem em São Lourenço, os Gêmeos Espirituais se hospedaram na Pensão São
Benedito, velho casarão existente no lugar onde hoje se ergue o nosso Templo. É
provável que alguns de vocês tenham conhecido esta casa, porque ela foi demolida
não faz muito tempo, há uns 3 anos mais ou menos, quando começamos a construção do
nosso Templo, na Vila Canaã, como é hoje chamado aquele lugar tão querido por nós.
Ali, na Pensão São Benedito, as forças da natureza rodearam Henrique-Helena,
produzindo diversos fenômenos, fazendo com que as cadeiras se mexessem sem que
ninguém as tocasse, o mesmo acontecendo com objetos e talheres; portas e janelas
abriam e fechavam misteriosamente. Objetos pessoais de D. Helena que ela havia
esquecido no Rio eram trazidos pelos ares para São Lourenço, e tudo isso além das
curas milagrosas que o Professor ali realizou. Pessoas doentes, paralíticas, que
saiam andando perfeitamente depois que o Mestre as tocava. Os antigos moradores de
São Lourenço se recordam de todos estes fatos e há um homem ainda ali residente, o
Sr Vivaldi, que é gratíssimo ao Professor por ele ter salvo a sua esposa, que se
achava entrevada em uma cama, havia muitos anos.
Quando Henrique-Helena saiam a passeio pelo parque, as rosas nas roseiras se
desfolhavam e as pétalas caiam sobre as suas cabeças.
Certo dia, os Gêmeos foram avisados de que deveriam ir à Montanha que fica
fronteira ao nosso Templo, Montanha essa que tomou o nome de Montanha Sagrada, e
que todos vocês conhecem, pois lá já foram, e, no dia 28 de Setembro daquele ano de
1921, Henrique-Helena sairam a cavalo em direção à Montanha. Ainda não haviam saído
do terreno da Pensão São Benedito, quando avistaram a porteira ou cancela da
Pensão, o Cavaleiro das Idades, montado em um corcel branco. Qual o seu nome? Akd.
aparecia-lhes, assim, como que a indicar o caminho que deviam seguir. Rumaram,
pois, em direção à Montanha e lá, entre duas árvores, cujos troncos ainda existem,
Akd. novamente lhes apareceu pela segunda vez. Continuaram a subir um pouco mais e,
de repente, os cavalos pararam e não quiseram mais seguir caminho. Os Gêmeos,
então, apearam e subiram a pé até encontrarem uma grande pedra parecida com um
altar. Sobre essa pedra colocaram uma vela, acenderam-a e, ajoelhando-se diante
daquele altar improvisado, prestaram o seu juramento de levar adiante a missão que
lhes era confiada. Nesse momento solene, o silêncio era completo. Dir-se-ia que a
natureza toda, reverente, homenageava os Dois Devapis, os Gêmeos- Espirituais ou
Henrique-Helena. Então, pela terceira vez,, o Cavaleiro Akdorge apareceu novamente
aos Gêmeos, agora, porém, no cimo da Montanha e com uma auréola refulgente de luz,
cujos raios se confundiam com os do Sol. Esse ritual ficou conhecido em nossa Obra
como a 1a. União Mística Nárada (Nárada é o nome de dois Seres Elevados que vieram
um do Sol e outro da Lua, há muitos milhares de anos, e como o Professor e D.
Helena são chamados de Sol e Lua, essa União Mística recebeu o nome de Nárada).
Foi portanto no dia 28 de Setembro de 1921 que teve lugar a fundação espiritual da
nossa Obra, na cidade de São Lourenço, na Montanha Sagrada, cujo nome é Moreb.
Enquanto isso se passava no Brasil, em São Lourenço, do outro lado do mundo, no
Oriente, na Mongólia, um ser que se chamava o Buda-Vivo e que até aquele momento
era o Chefe Espiritual da Humanidade, e era cego, recuperou a visão e mandou chamar
os seus Sacerdotes, dirigindo-se com eles para o seu Santuário Subterrâneo. Lá
mandou colocar uma grande tela branca, na qual se refletiu, como se fosse um
cinema, todo o ritual que se processava na Montanha Sagrada. Apontando os Gêmeos
ajoelhados diante do altar de pedra, prestando o seu juramento à Lei. Disse o Buda-
Vivo aos seus Sacerdotes: - “Aqueles que vedes são os meus sucessores. A Eles
passarei o madeiro pesado da minha missão”. Os tempos anunciados pelas sibilas e
oráculos já chegaram. Nosso ciclo já terminou. Desses dois Seres sairão aqueles que
vão fazer justiça e abençoar os homens. Precisamos carregar nossos livros, nossos
tesouros e nossa gente, porque outros virão tomar as nossas terras e tudo o que nos
pertence e acabar com as nossas tradições”.
Depois de proferir estas palavras, o Buda-Vivo deu as últimas instruções aos seus
Sacerdotes e saiu em peregrinação por aquelas terras, curando doentes e
ressuscitando mortos. Até os camelos do deserto ajoelhavam-se quando Ele passava.
Diz o povo do Oriente que o Buda-Vivo da Mongólia subiu aos céus em corpo, alma e
espírito, por ter sido bom e sábio. O que aconteceu, porém, não foi bem isso. O
Buda veio foi para o Ocidente, para o Brasil, e ficou morando no Templo da Pedra da
Gávea, que é um Grande Templo e uma das entradas para os mundos subterrâneos da
Agartha. Quanto aos livros e aos tesouros, foram para Pouso Alto, outra cidade que
faz parte daquele Sistema Geográfico de que falei a vocês.

P.S. O Sr Vivaldi ainda vive em São Lourenço e trabalha em uma banca do mercado.
04. Aula de 06 de Maio de 1951

Na aula passada, nós vimos que a nossa Sociedade foi fundada espiritualmente na
Montanha Sagrada de São Lourenço, no momento em que os Gêmeos Espirituais prestavam
o seu Juramento de servir à Lei e de salvar o maior número de homens que fosse
possível.
Vamos hoje ver porque esse Juramento foi feito numa Montanha e não em outro lugar
qualquer, e explicar também a razão desse ritual ser conhecido em nossa Obra pelo
nome de 1a. União Mística Nárada.
Todos os grandes movimentos espiritualistas sempre nasceram, isto é, sempre tiveram
o seu início em Montanhas. Senão, vejamos: Foi no Monte Sinai que um homem chamado
Moisés, que era o Manú ou Condutor do povo de Israel, recebeu as Tábuas da Lei ou
os Mandamentos da Lei de Deus, mandamentos estes que deviam ser seguidos por aquele
povo, para que ele fosse de fato o Povo Eleito de Deus. Nessa ocasião, Moisés ouviu
a Voz da Divindade, que partia de dentro da Terra e que se apresentou em forma de
Fogo, cujas labaredas falavam. Esse Fogo que falou a Moisés era o reflexo de Deus
na Terra, pois o Fogo é o símbolo do Espírito Santo. Várias vezes Deus tem se
manifestado aos homens em forma de fogo, em forma de labaredas.
Na história de Cristo, temos dois Montes importantes, um é o Monte Thabor. Cristo
se encontrava nesse monte com alguns discípulos e, de repente, estes viram que a
face, o corpo e as vestes do Mestre se iluminaram de uma luz puríssima. O Cristo
todo era como se fosse um facho de luz, e esse fato ficou conhecido na história do
Cristianismo como o da Transfiguração. O outro Monte que teve um papel importante e
triste na sua história, foi o Calvário ou Gólgota, onde os homens que não
compreenderam o seu papel no mundo, O crucificaram. Foi também numa Montanha que
Cristo pregou um dos seus mais importantes sermões.
Gautama, o Buda, também fez sermões em Montanhas.
Na antiguidade, as Montanhas, principalmente as que separavam um país do outro,
eram preferidas para se fazer sacrifícios aos deuses, levar-lhes presentes,
dirigir-lhes orações e erigir altares e templos em sua honra. Tácito, um grande
historiador dos tempos antigos, diz que, como as Montanhas estão próximas ao céu,
os deuses se acham em melhores condições de ouvir as orações que daí lhe dirigem os
homens.
Nas Montanhas é onde nascem, educam e manifestam-se os deuses aos homens.
Era também, numa Montanha, no Monte Salvat ou Monte da Salvação, que se encontrava
a Taça do Graal, que tanta ligação tem com a nossa Obra. Sobre a Taça do Graal
falarei a vocês em outra ocasião.
Outra Montanha que também é muito conhecida entre os teósofos ou ocultistas, é o
MONTE MERU. Diz a tradição que foi nesse Monte que surgiu o primeiro continente, o
primeiro pedaço de terra. Há vários nomes que designam Monte Meru, ou seja:
MONTANHA DE OURO, MONTANHA DOS DEUSES e CUME DE PEDRA PRECIOSA.Sobre esse Monte
Meru há uma lenda que diz estar a parte mais alta dele no céu, a sua parte do meio
na terra e a parte de baixo nos infernos... e que acima do seu cume existe uma
cidade, a Cidade de Deus, ou Brahmã, que é um outro nome que também quer dizer
Deus. Nós, no Ocidente, chamamos Deus, mas no Oriente, e principalmente na India,
Deus é conhecido pelo nome de Brahmã.
Há muitos anos atrás houve uma grande civilização, que se chamou a civilização
grega. Até hoje ainda existe muita coisa linda que nos foi deixada por essa
civilização, como: poemas, esculturas e inúmeras obras de arte. Pois bem, todos os
deuses gregos moravam em uma Montanha, moravam no Monte Olimpo, e Júpiter, que era
o Chefe ou o Pai desses Deuses, tinha por símbolo uma Águia, que é uma ave que mora
nas partes mais altas das Montanhas.
Os Getos (outro povo antigo), adoravam uma Montanha onde, diziam eles, morava seu
rei, e a essa Montanha chamavam eles de Montanha Santa.
No Oriente existe também o Monte Mória , onde outrora havia um Colégio Iniciático,
o Colégio dos Essênios, da seita de Nazar, seita esta a que pertencia Jesus Cristo.
Foi nesse Colégio Iniciático que Jesus viveu desde os 13 até aos 30 anos. Todos os
membros desse Colégio usavam os cabelos à altura dos ombros e, por isso, Jesus
Cristo usava os cabelos compridos até os ombros.
Aqui mesmo no Rio de Janeiro, bem perto de nós, existe também um lugar que nós
podemos chamar de sagrado, pelas inscrições que ali se encontram gravadas com
relação à história dos homens; é a Pedra da Gávea.
Os seres que dirigem espiritualmente os destinos dos homens, vivem sempre perto de
Montanhas e deixam escritos nelas muitas revelações ligadas à evolução da
humanidade. Em Portugal, por exemplo, na Serra de Sintra, existem inscrições
interessantíssimas, e quem as souber ler, pode ali conhecer a história ou, por
outra, uma parte da nossa história, da história da nossa Obra.
Estou explicando estas coisas a vocês, para que vejam a razão porque a nossa Obra
foi fundada espiritualmente em uma Montanha. Agora vocês compreendem porque se
chama de Montanha Sagrada a Montanha de São Lourenço. Tal como aconteceu a Moisés,
o Manu da raça Israelita, um Fogo também se ergueu da terra e falou aos Gêmeos
Espirituais; isso porque dentro dessas Montanhas chamadas Sagradas, se encontra
Deus, dentro dessas Montanhas, dizia eu, há sempre um FOGO MISTERIOSO QUE FALA. Mas
não são todos os que entendem a linguagem desse FOGO. Só os MANUS é que sabem
conversar com o FOGO SAGRADO. Os nossos Dirigentes, como são os Manus da 7a. Sub-
raça, entendem a linguagem desse Fogo. Foram estas as palavras que Eles ouviram na
Montanha Sagrada, naquele dia 28 de Setembro de 1921:
“Detende-vos aqui! Este é o lugar santificado pelos deuses invisíveis, os mesmo
que, doravante, guiarão teus passos pela grande Vereda da Vida... pela qual,
fatalmente, outros te hão de seguir!... Para os que não te compreenderem, este
“Fogo Misterioso”, que outro não é senão o da “Sabedoria Divina”,
continuará como o “Ígneo Elemento” que, pelo formidável metabolismo ocasionado
no seio da Mãe-Terra, converte-se em “Águas miraculosas” que curam ou aliviam
os sofredores do corpo, enquanto que o outro é o “Verbo Solar” ou Divino,
com que tantas outras privilegiadas bocas, no passado, no presente e no
futuro, curaram e curarão sempre os “doentes do Espírito”...

Depois de uma pequena pausa, a Voz que se erguia das Chamas, assim continuou:

“Toma as tuas ferramentas de obreiro do “Edifício Humano”, pois que dentro em


pouco dareis início à construção de um outro Edifício de grandeza inconcebível -
que os “Deuses Imortais” desejam seja Ele erguido neste privilegiado País,
que vai abrir uma nova página na História da Humana Civilização...”

Pelas palavras que vocês acabaram de ouvir, sabem agora quão importante é o
trabalho da nossa Sociedade. Agora vocês sabem que o nosso Mestre fundou esta
Sociedade porque recebeu Ordens Superiores para fazê-lo.
Um grande teósofo espanhol, grande estudioso de ocultismo, um homem muito sábio,
que escreveu livros de grande valor para o mundo, em uma carta que escreveu para o
Professor, disse que São Lourenço é a Capital Espiritual do Brasil. Creio que todos
sabem porque ele disse isto. É porque nas proximidades da Montanha Sagrada de São
Lourenço vivem os Adeptos, os Seres que ajudam os homens a evoluir, a se tornarem
sábios e bons.
Outro assunto que também quero explicar hoje é o significado da frase “UNIÃO
MÍSTICA” que foi o nome dado ao Juramento que os Gêmeos prestaram na Montanha
Sagrada, no momento em que a Sociedade era fundada espiritualmente.
Nárada é uma entidade, um ser, que muito tem a ver com as ações dos homens, com
tudo quanto os homens fazem, seja de bom ou de mal. Nárada possui um grande livro e
cada homem tem uma página nesse livro, com o seu nome escrito em letras de fogo.
Nárada também é conhecido na tradição oculta pelo nome de “Mensageiro”. Ora, eu já
expliquei há tempos, a vocês, que os grandes movimentos espiritualistas, como o
nosso, só surgem na terra quando a humanidade está fugindo do seu dever, quando a
humanidade está se desviando da Lei, está fazendo coisas contrárias à evolução.
A essa altura, nas páginas do Livro de Nárada, havia muito mais ações más do que
boas. As ações más tomavam linhas e linhas de cada página, enquanto que as ações
boas eram em número muito pequeno. À vista disto, a primeira medida dos Gêmeos foi
comprometer-se com Nárada de que os homens iam, daí por diante, evoluir, iam ficar
melhores. Para que isso acontecesse, os Gêmeos juraram que iam trabalhar muito, que
iam ensinar aos homens a maneira de eles ficarem sábios e, por conseguinte, bons.
Foi, portanto, um compromisso, um juramento que os Gêmeos fizeram e, por esse
motivo, tomou o nome de “União Mística Nárada”, porque nessa ocasião, Eles, os
Gêmeos, se uniram espiritualmente ou misticamente com Nárada, por meio do Juramento
do compromisso assumido.
Mas ao assumir este compromisso, os Gêmeos se responsabilizaram pelos homens, pelas
ações más dos homens; isto é, tudo de ruím que os homens fizessem daquele dia em
diante cairia sobre os Gêmeos. É por essa razão que tanto o Professor como D.
Helena sofrem tanto, estão sempre doentes. Eles somente ficarão sadios, somente
recuperarão a saúde física quando os homens se tornarem sábios e bons, quando os
homens evoluirem.
Ora, nós aqui na Sociedade, que sabemos de todas essas coisas, temos mais do que
ninguém a obrigação de evoluir, e como para evoluir é preciso estudar muito,
devemos todos fazer um grande esforço para frequentarmos as aulas, para aprendermos
as coisas que aqui se ensinam, para que os Gêmeos, que são os nossos Pais
Espirituais - porque trabalham somente pelo nosso bem, para que nós sejamos salvos
- voltem novamente a ter saúde e a felicidade que merecem.

05. Preparativos para a Fundação Material


(Aula de 03/06/1951)

Como vimos em outras aulas, a Fundação Espiritual da Sociedade deu-se no ano de


1921, aos 28 dias do mês de Setembro. Depois disso, passaram-se 3 anos, durante os
quais sucederam fenômenos os mais estranhos, ao redor do Professor e de sua
família. Bibelôs mexiam-se sozinhos, grãos de feijão, milho e arroz eram atirados
nas pernas das crianças e, certa vez, até um punhal apareceu no centro da sala e
começou a voar, como se fosse um animal alado, sem no entanto atingir qualquer
pessoa. Esses fenômenos eram de origem jina, quer dizer, eram provocados por forças
da natureza ou mesmo por pessoas que se encontravam em lugares distantes. Nenhum
deles era feito por almas ou por pessoas mortas e sim por entidades bem vivas. Na
nossa Sociedade nunca se fez evocação de almas de mortos, porque isso é contrário à
lei de evolução. A Teosofia ensina que nós não devemos atrair aqueles que já
morreram. Assim, tudo quanto acontecia naquela época e ainda hoje pode acontecer de
sobrenatural, nada tem a ver com almas do outro mundo, como se costuma dizer, mas
sim com seres vivos, seres de uma outra categoria mais elevada do que a nossa, que
procuram ajudar-nos, quer por meio de fenômenos sobrenaturais, como acontecia no
inicio da nossa Sociedade, quer por meio de ensinamentos, como acontece hoje.
Pois bem, foi assim que se passaram aqueles três anos que foram de 1921 a 1924.
Certo dia desse ano de 1924, a cristaleira da casa do Professor amanheceu fechada.
Procuraram a chave por todo o canto, indagaram se alguém a havia tirado, porém
ninguém sabia dela. De repente, depois de muito procurarem, alguém olhando para
dentro da cristaleira disse: “Olhem, vejam só onde está a chave!” Todos os
moradores da casa correram para ver onde estava a tão procurada chave. E, com o
maior espanto, viram que ela estava dentro da própria cristaleira e, ainda por
cima, dentro de uma compoteira que se achava tampada. A surpresa, como vocês podem
imaginar, foi geral. Todos olhavam espantados uns para os outros. Como é que tinham
fechado a cristaleira e colocado, ao msmo tempo, a chave dentro dela, em uma
compoteira fechada? Estava claro que aquilo não tinha sido feito por pessoa da casa
e sim por uma daquelas forças misteriosas que cercavam toda a família do Professor
Henrique. E, como sempre acontecia nessas ocasiões, chamaram logo o Professor para
desvendar aquele mistério. Vendo o alvoroço em que todos se encontravam, o
Professor acudiu logo ao chamado e chegando na sala, esboçou apenas um sorriso,
compreendendo logo do que se tratava. Era, no mínimo, algum aviso que lhe queriam
dar, pensou Ele. Que fez então? Ficou alguns minutos parado diante do móvel. O
silêncio era completo; todos estavam quietos, inclusive as crianças, que se podia
até ouvir uma mosca voar. De repente o Professor falou: - “Olhem, estão abrindo a
cristaleira, podem puxar a porta, ela já está aberta”. De fato, uma das pessoas
presentes adiantou-se e puxando levemente a porta esta se abriu com a maior
facilidade. Destamparam a compoteira e dela foi retirada a tão procurada chave. Mas
a surpresa de todos não terminou aí, pois havia ainda mais alguma coisa; havia ali,
junto à chave, um aviso, conforme havia previsto o Professor. Dizia o bilhete que
estava por baixo da chave: “Mude-se desta casa, vá para Niteroi”.
O professor Henrique, já habituado a esses fenômenos, porque sabia muito bem a
razão deles, não se surpreendeu com o bilhete misterioso e tratou logo de procurar
uma casa em Niteroi, conforme lhe tinha sido aconselhado.
E foi assim que alguns meses depois deste acontecimento, o Professor e sua família
mudava-se para Niteroi, indo residir à Rua Santa Rosa No. 426. Convém não nos
esquecermos do nome dessa rua, pois é muito significativo. Este nome “Santa Rosa”
ou “Rosa Santa”, além de muitos outros significados, nos faz lembrar de uma
Fraternidade ou uma Escola de Iniciação que existiu no século passado, de onde
saíram grandes homens, inclusive um célebre casal Lorenzo-Lorenza ou os Condes de
São Germano, que muita ligação também tem conosco, e sobre os quais já falei a
vocês em uma dessas histórias. Outro fato também que esse nome nos lembra é quando
um homem atinge uma grande perfeição espiritual e se torna um Adepto da Boa Lei.
Diz-se então que nesses homens desabrochou a Flor da Espiritualidade, a Flor dos
Santos, ou a Rosa Santa.
Assim, não nos esqueçamos do nome da rua em que se deu a fundação material da
Sociedade, como veremos a seguir. Duas coisas devemos saber bem: a primeira é a de
que a fundação espiritual foi na cidade de São Lourenço, na Montanha Sagrada; a
segunda, que a fundação material foi na cidade de Niteroi, na Rua Santa Rosa, 426.
Tanto São Lourenço como Niteroi estão no mesmo grau de latitude do Trópico de
Capricórnio, isto é, a 23ª. (Explicar o que é latitude). Esse número 23 também tem
uma grande influência em nossa Obra e uma razão de ser, como veremos em outra
ocasião. Aliás, tudo quanto acontece na Obra tem sempre uma razão de ser; nada,
aqui, ocorre por acaso, mas, sim, por causalidade; tudo obedece a uma causa bem
determinada. Costumamos mesmo dizer que tudo aqui é pesado, medido e contado. E
isso vocês mesmos verão com seus próprios olhos, à medida em que forem conhecendo a
História da Obra. Por esse motivo é que devemos sempre seguir os conselhos que
recebemos aqui, porque esses conselhos quando nos são dados já foram bem pesados,
medidos e contados e, portanto, são bons e certos e deles não devemos duvidar,
embora muitas vezes a nós nos parecem errados. Do mesmo modo que vocês seguem os
conselhos dos seus pais, porque são pessoas que tem mais experiência do que vocês e
sabem coisas que vocês ainda não conhecem, devemos também seguir os conselhos dos
nossos Pais Espirituais que, aqui na Sociedade, são os nossos Mestres e portanto
conhecem coisas que nós não sabemos, razão porque devemos respeitá-los e receber os
seus ensinamentos e conselhos, que são sempre para o nosso bem e nosso progresso.
Mas, voltemos à história da fundação material da Sociedade. Vamos ver como ela
começou. Em um domingo, dia do planeta Sol - e o Sol nos lembra logo luz,
claridade - um dos filhos do Professor convidou um seu amigo de nome Tenente
Collins para ir almoçar com ele, pois era dia de seu aniversário. O Professor não
conhecia o Tenente, era a primeira vez que os dois se viam. O Tenente tinha duas
filhas, uma chamava-se Osiris e outra Isis. Vão prestando atenção a esses nomes,
porque isso é muito importante, uma vez que Osiris quer dizer Sol e Isis quer dizer
Lua. E quando aqui falamos em Sol e Lua estamos nos referindo ao Pai-Mãe de todas
as coisas, a primeira dualidade que apareceu nos mundos da forma, o mesmo que Adão
e Eva, aquele primeiro casal que, dizem , foram os pais da humanidade.
Pois bem, quando o Tenente Collins e suas filhas entraram no jardim da residência
do Professor, viram sentado em um banco, um senhor respeitável, trajando roupa
branca, que trazia no dedo um anel com pedra verde. Pensando que aquele senhor
fosse um médico devido ao anel de pedra verde, o Tenente, apreensivo indagou: - “Há
alguém doente na família?” - “Não - respondeu o senhor de branco - não há ninguém
doente, entrem, entrem, que já estão esperando pelo senhor e suas filhas”.
Chegando ao interior da casa, depois dos cumprimentos e apresentações, pois era a
primeira vez que o Tenente ia à casa do Professor, ele indagou quem era aquele
senhor tão amável que estava lá fora e lhe dirigira a palavra. Na família ninguém o
conhecia e ignoravam mesmo que alguém estivesse sentado no banco de pedra do
jardim. Por isso, foram todos para fora ver de quem se tratava, mas quando ali
chegaram não havia pessoa alguma sentada no banco, nem tampouco viram alguém nas
proximidades. O Senhor respeitável que o Tenente tomara por um médico, havia
desaparecido misteriosamente. Era esse outro fato Jina que se dava na Obra,
porquanto aquele senhor que o Tenente vira no banco do jardim era um Adepto que se
desdobrara do lugar onde se encontrava (muito longe dali talvez) e se projetara
naquele local para receber o Tenente e suas filhas, dizendo-lhes gentilmente “...
entrem, entrem, que lá dentro já estão a sua espera”.
Voltaram então todos ao interior da casa onde daí a pouco foi servido um lauto
almoço. Depois desse almoço, o Tenente Collins disse ao Professor: - “Desejo
mostrar-lhe o poder que possuo de hipnotizar e por isso vou hipnotizar minha filha
Osiris”.
- “Peço-lhe que não faça isso agora - disse o Professor - essas práticas, após as
refeições são perigosas, podem até causar a morte de uma pessoa”.
- “Está bem - respondeu o Tenente Collins - mas espero que o senhor tenha a
oportunidade de ver um dia as minhas habilidades hipnóticas”.
-”Com muito prazer - falou o Professor - mas devo dizer-lhe que não é aconselhável
essa prática, o senhor poderia, se quisesse, experimentar a prática da
magnetização, isto sim, é outra coisa, pois não age sobre a vontade de outra
pessoa, mas transmite-lhe bons fluídos. Se o senhor possuir esse poder de
magnetizar, poderá fazer até curas interessantes”.
O Tenente Collins ficou satisfeito com aquelas explicações do Professor e a
conversa continuou sobre outros assuntos, também de ocultismo.
No entanto, o Tenente ficara impressionado com aquilo que lhe dissera o Professor e
passadas algumas horas ele voltou ao assunto, perguntando se poderia experimentar
magnetizar Osiris. O Professor não se opôs, dando-lhe até algumas instruções. De
repente, porém, Osiris escapou completamente ao controle do magnetizador. A sua
fisionomia transfigurou-se e ela começou a falar uma lingua estranha, em pâli,
conforme o Professor logo verificou. Descalçou-se e convidou o Professor a sentar-
se ao piano. Nesse meio tempo o Professor recebera uma mensagem dizendo que Osiris
estava sob a influência de uma Sacerdotisa Tibetana de nome Liziara e, por isso,
estava falando em pâli. A mensagem que ele recebera dizia no final: “É chegado o
momento”.
Atendendo ao convite de Osiris, o Professor dirigiu-se ao piano e executou, por sua
vez, uma linda música oriental, ao som da qual a moça começou a bailar
maravilhosamente.
Na próxima aula vamos ver o que significa aquele bailado e ainda os fatos que se
sucederam após aquele domingo tão cheio de coisas extraordinárias.
06. A Cachoeira Misteriosa
(Aula de 01.07.1951)

Era uma vez um rapazinho de 15 anos que foi passar as férias de Junho na Fazenda do
seu tio, que ficava perto de Pouso Alto, em Minas Gerais. Com ele foram alguns
companheiros seus, mais ou menos da mesma idade, de maneira que os rapazes se
divertiam muito, passeando a cavalo ou fazendo excursões a pé. Num desses passeios,
eles encontraram um homem que lhes chamou a atenção pela fisionomia bondosa que
possuía e, principalmente, pelo seu olhar tão sereno e puro. Era um tipo bem
diferente dos homens que eles costumavam encontrar ali pelas redondezas. Como é
costume no interior, o homem cumprimentou os rapazes amavelmente e continuou o seu
caminho. Quando o grupo chegou à Fazenda, começaram os meninos a trocar impressões
sobre aquela figura estranha que não lhes saía da mente.
- Ah! Já sei de quem vocês falam - disse um velho vaqueiro, de nome Maneco, que
estava ouvindo a conversa - É o Antonio, conhecido aqui entre nós como o Homem
Misterioso ou o Homem da Cachoeira Encantada.
Ao ouvirem estas palavras, os rapazes ficaram curiosos e pediram ao “seu” Maneco
para lhes contar a história de Antonio.
- Cuidado com ele, meninos, dizem por aí que ele é um homem sobrenatural, que
adivinha o pensamento da gente, e eu mesmo já o ví uma vez conversar com uma
siriema. E só vendo como o bichinho prestava atenção ao que ele dizia!
- Ora “seu” Maneco - disse um dos meninos - isso é fantasia!
- Não fale assim “seu” moço; juro pelo que há de mais sagrado no mundo que eu ví e
ouvi o que lhes estou contando, e ainda mais, o homem é tão misterioso que dizem
que ele mora dentro de uma cachoeira que tem lá pelas bandas do sítio do Zé Pedro,
e já houve quem o visse entrar pelas águas a dentro e se sumir...
- Histórias de quem não andava muito certo da cabeça - replicou o rapaz com
zombaria - imaginem só um homem entrando por uma cachoeira a dentro e morando
dentro das águas, como se fosse peixe.
Joãozinho que tudo ouvira com muita atenção, adiantou-se e falou: - Não zombem
assim do “seu” Maneco. Existe muita coisa encantada que nós ainda não
compreendemos, nem podemos explicar, mas nem por isso elas deixam de existir.
É que Joãozinho já lera muito e por isso sabia que as lendas e as histórias que
falam de bichos que conversam com homens e de seres que aparecem e desaparecem dos
nossos olhos, sem a gente saber como, tem fundo verdadeiro. E por isso ele disse:
- Pois olhe, eu acredito. Não é a primeira vez que ouço falar nessas coisas
misteriosas e, por isso, não duvido do que o “seu” Maneco está contando.
Quando Joãozinho acabara de pronunciar essas palavras, todos ouviram nitidamente o
canto de uma siriema.
- Estão ouvindo? perguntou “seu” Maneco; é o sinal dela.
- Dela quem? perguntaram todos.
- Da siriema que mora junto à cachoeira misteriosa e que conversa com Antonio.
Todos riram, menos Joãozinho. Ele não costumava caçoar daquilo que não conhecia.
Enquanto os companheiros faziam troça da história que “seu” Maneco lhes contara,
Joõzinho pensava no quanto a humanidade é ignorante, rindo de coisas que não
conhece. E desde esse dia, um desejo intenso de estudar e conhecer os segredos da
natureza se apossou dele.
As férias estavam já por terminar e Joãozinho não podia esquecer-se daquele homem
que o “seu” Maneco, o velho vaqueiro da Fazenda, tinha dito que se chamava Antonio.
- Já ví, alguma vez, aquele rosto - dizia de sí para sí Joãozinho - mas não sei
onde. De tanto pensar, de repente ele atinou.
-Ah! Já sei - exclamou - lembra muito São Miguel, aquele santo que tem uma espada
na mão, com a qual expulsou o demônio do Paraíso.
Quando Joãozinho era pequenino, muitas vezes ia com a sua mãe à Igreja e, enquanto
ela rezava, ele ficava olhando para os santos. São Miguel era o santo que mais lhe
impressionara, não só por ter sido ele o vencedor do demônio, do Espírito do mal,
como também pela sua fisionomia angelical.
- Que coisa esquisita - dizia Joãozinho - como Antonio se parece com São Miguel.
A história que “seu” Maneco relatara, havia impressionado muito Joãozinho e naquela
noite, ao adormecer, sonhou que Antonio estivera junto a ele, ensinando-lhe muita
coisa, mas ao acordar não se lembrava de mais nada.
Faltavam apenas dois dias para os rapazes regressarem e por isso foram dar um
passeio de despedida. Em dado momento, porém, o cavalo de Joãozinho empacou e não
havia meio de andar.
- Vão vocês andando, que daqui a pouco os alcanço - disse Joãozinho para os
companheiros.
De fato, alguns minutos depois, Joãozinho conseguiu que o seu cavalo galopasse
novamente, e ele, alegre e feliz, corria pelas matas, aspirando o ar fresco das
montanhas e sentindo aquele cheirinho gostoso de capim.
Não hvia andado uns dez minutos e eis que o caminho se divide em dois, um para a
direita e outro para a esquerda. Joãozinho, que tinha por hábito tomar sempre o
caminho da direita, por ali enveredou, mas os seus companheiros tinham justamente
tomado o caminho da esquerda, de maneira que ele se perdeu dos amigos.
Estava já disposto a voltar quando ouviu, bem forte e perto dele, o canto de uma
siriema. Lembrou-se então do que lhe ensinara “seu” Maneco e resolveu seguir na
direção do canto da ave, na esperança de se encontrar com Antonio. Andou durante
umas duas horas, até que foi dar a um lugar muito tranquilo, onde havia uma
frondosa árvore, muito copada, como a convidá-lo a se abrigar debaixo de sua
sombra. O sol ia alto e o dia estava quente, de sorte que Joãozinho resolveu apear-
se do cavalo e descansar um pouco sob aquela simpática árvore. O que mais agradou a
Joãozinho naquele lugar, foi uma bela cachoeira. Imediatamente toda aquela conversa
do “seu” Maneco lhe passou pela mente. Estaria ele, de fato, diante da cachoeira
encantada, dentro da qual, diziam, morava Antonio? Tudo levava a crer que sim, e
embora não houvesse ali pessoa alguma, ele sentia a presença de algum ser
invisível.
Como estava muito cansado, sentou-se debaixo da árvore e, embalado pelo murmúrio da
cachoeira, em poucos instantes adormeceu. Foi então que ele teve um sonho
maravilhoso; as águas se separaram, como se fosse uma cortina que se abria de par
em par e, lá dentro, ele viu distintamente um grande templo, no fundo do qual
erguia-se um altar todo de ouro maciço. No altar havia um anjo ladeado por dois
santos, o da direita vestindo um manto vermelho e o da esquerda um manto azul,
sendo que as vestes do anjo tinham um brilho dourado. No centro do templo, havia
uma trípode, de onde se elevavam as chamas do fogo sagrado e de onde subia um suave
perfume de sândalo que ali era queimado.
De repente, Joãozinho ouviu, bem claro, uma voz que dizia: - “Eu sou Mikael, Eu sou
o Anjo da Presença, o Anjo que fica mais perto do Trono de Deus”.
Começou a procurar de onde vinha aquela voz e percebeu que quem assim falava era o
Anjo de Vestes Douradas.
Joãozinho estava abismado com tanta coisa bela, quando ecoou no interior do templo
o som de um harmonium, tocando uma música maravilhosa. Nesse momento, o Anjo fez
menção de se dirigir a Joãozinho, mas quando ia começar a falar, Joãozinho
acordou...
Muito espantado, Joãozinho olhou para a cachoeira; as suas águas porém continuavam
a rolar lá do alto, muito brancas e lindas. O silêncio era completo, cortado apenas
pelo ruído das águas que caiam. O perfume de sândalo que ele sentira no sonho,
pairava no ar. Tudo ali era calma e sossego.
Joãozinho estava ainda sob a impressão daquele sonho maravilhoso quando, levantando
os olhos, viu a sua direita, um vulto. Olhou então de frente e reconheceu Antonio.
A sua comoção foi tão grande, principalmente depois do sonho que tivera, que
Joãozinho ficou como que pregado no chão, sem poder pronunciar uma palavra.
Passados porém alguns minutos, Joãozinho conseguiu vencer a sua comoção e
dirigindo-se respeitosamente a Antonio, perguntou-lhe:
- Fiz mal em vir até aqui?
- Ao contrário - respondeu Antonio - causa-me até muita alegria encontrar-me com
você, pois há muito que quero lhe falar, Joãozinho.
- Como é que o senhor sabe o meu nome?
- Eu sei o nome de todas as pessoas que moram nesta cidade e mesmo das que, como
você, vêm passar apenas alguns dias aqui.
Diante dessas palavras, Joãozinho não teve mais dúvidas de que se achava realmente
diante de uma pessoa fora do comum. Disse então em voz muito alta: - “Muita razão
tinha “seu” Maneco, quando nos disse que o senhor é um homem sobrenatural, que
conversa até com os animais”.
- Sim, realmente posso falar com os animais e também com as plantas, os ventos e as
águas, e isso porque me identifiquei com a natureza, porque me pus em harmonia com
ela.
- Mas isso é uma coisa extraordinária - disse Joãozinho, cada vez mais admirado -
quanto gostaria também de ser assim!
- Qualquer pessoa pode conseguir isso - respondeu Antonio - está ao alcance de
qualquer um. Para isso, porém, é preciso estudar muito, ser bom, não ter
pensamentos nem sentimentos maus para com ninguém e, o que é mais importante,
cumprir com os seus deveres. Esse é o primeiro passo, é a primeira coisa que se tem
a fazer para alcançar tão maravilhosos poderes.
- É um pouco difícil - disseJoãozinho.
- Não é tanto assim - respondeu Antonio - basta querer, mas querer com muita
vontade mesmo. Faça uma experiência.
- Vou tentar - disse Joãozinho - mas peço também a sua proteção, o seu auxílio.
- Se você se esforçar, será auxiliado, não tenha dúvidas.
Depois dessa pequena conversa, que valeu porém por uma grande aula, Antonio falou a
Joãozinho:
- Volte à Fazenda, mas não conte nada a ninguém do nosso encontro, nem da conversa
que tivemos. Sempre que precisar de mim, venha a este lugar. De hoje em diante você
será meu discípulo. Você, Joãozinho, terá um grnde trabalho no mundo, mas não se
esqueça: procure cumprir sempre com os seus deveres.
Dizendo essas palavras, Antonio abraçou Joãozinho e dele se despediu.
Joãozinho então montou seu cavalo e partiu. Quando chegou à Fazenda, os
companheiros que já haviam chegado havia muito tempo, indagaram por onde ele
andara, mas Joãozinho, fiel à sua promessa, nada disse do encontro que tivera com
Antonio.
No dia seguinte os rapazes voltaram para a cidade, mas todos os anos, nas férias,
Joãozinho se encontrava com o seu Mestre, ao pé da cachoeira misteriosa. Numa
dessas vezes, Joãozinho pediu a Antonio que lhe explicasse aquele sonho que tivera
com o Anjo do altar de ouro.
- Ainda é cêdo para lhe contar o que isso significa - disse Antonio - você precisa
estudar muito para poder compreender o significado verdadeiro desse sonho. No
entanto, posso adiantar que o Anjo que você viu é, de fato, o Anjo Mikael ou
Miguel, como é o seu nome em português. E as roupas dele tinham reflexos de ouro,
porque ele é o Anjo que representa o planeta Sol, cor de ouro. Por isso também que
o seu altar era de ouro, e o perfume do planeta Sol.
- Que pena eu ter acordado na hora em que ele ia me falar - disse Joãozinho -que
iria ele dizer-me?
- Não sei - respondeu Antonio - mas o certo é que você está sendo protegido por
ele, porque do contrário não teria esse sonho, que tem uma grande significação.
- Quer dizer então que devem existir outros seis Anjos espalhados pelo mundo, que
representam os outros seis planetas, não é? perguntou Joãozinho.
- Assim é - respondeu Antonio - e esses sete Anjos protegem e guiam as pessoas que
querem trabalhar pela humanidade, para que ela seja menos infeliz, para que não
haja doenças, nem guerras.
Esses encontros com Antonio se repetiam todos os anos. A conselho do seu Mestre,
Joãozinho estudara Medicina e se tornara um médico de fama, curando muita gente.
Ele era um bom médico, porque conhecia a natureza oculta do homem, que aprendera
com Antonio. Ele sabia que o homem não possui apenas este corpo, mas outros dois
ainda, e por isso levava vantagem sobre os outros médicos. Por outro lado,
Joãozinho era uma criatura tão boa que não havia quem não gostasse dele. Joãozinho
era o que nós chamamos de um Super-Homem ou um Adepto da Boa Lei. Tornou-se, graças
à sua convivência com Antonio, um homem útil à humanidade, levando alegria e
felicidade a muitos lares e ensinando a seus amigos aquilo que aprendera do seu
Mestre, cuja verdadeira identidade, que mais tarde ele veio a conhecer, jamais
revelou a quem quer que fosse, cumprindo, assim, o que havia prometido.

07. Aula de 05.08.1951

Depois daquele domingo de que falei a vocês, da visita do Tenente Collins e suas
filhas à casa do Professor, na Rua Santa Rosa, em Niteroi, e dos acontecimentos que
ali se deram naquele dia, ficou combinada uma nova reunião para o domingo seguinte.
Nesse domingo o número de pessoas presentes à reunião era bem maior, porque a
notícia do que se passara no domingo anterior se havia espalhado e muita gente
estava interessada em assistir também a esses fatos extraordinários.
A reunião iniciou-se com uma corrente mental (fazer uma corrente mental significa
dizer que um grupo de pessoas se reúna na mesma hora, pensando em uma mesma coisa;
os pensamentos dessas pessoas se juntam todos formando uma corrente. Dá-se o nome
de corrente, porque uma corrente é também formada de pequeninos elos, unidos ou
ligados uns aos outros. Assim, uma corrente mental são pensamentos ligados uns aos
outros. Vejamos agora qual a natureza dessas correntes mentais. Quando nos reunimos
para fazer uma corrente mental, quer aqui na Sociedade quer no Templo ou mesmo em
casa de um irmão, a finalidade é sempre alcançar todos os seres da Terra, levando-
lhes paz e felicidade, fazendo com que os nossos pensamentos alcancem a cada um. E
o melhor meio para atingirmos esse fim é mentalizarmos ou pensarmos em um grande
GLOBO AZUL com a palavra PAX em letras amarelas, cor de ouro. A palavra PAZ, além
do sentido de paz, também quer dizer UNIÃO. Desse modo, pensando na palavra PAX,
nós nos unimos pelo pensamento com todas as criaturas, desejando paz e felicidade
para elas. Por isso no mantran dos Pupilos da Obra, que o Mestre escreveu para
vocês, há um trecho que diz: “encantos que seduzem, numa Esfera de Anil”. Agora
vocês já sabem que Esfera de Anil é essa. É o Globo Azul das nossas correntes
mentais, com a palavra PAX. E esse Globo Azul chega até as pessoas a quem desejamos
bem, porque depois que ele é formado, sabem vocês o que acontece? Ele cria duas
asas, uma de cada lado, transformando-se assim num Deva que vai proteger toda a
humanidade. É por essa razão que todos os dias as 6 horas da tarde, os irmãos
residentes em São Lourenço se reunem no nosso Templo e realizam essa corrente
mental do GLOBO AZUL COM A PALAVRA PAX, a fim de proteger a humanidade inteira.
Qualquer um de nós, mesmo fora do Templo, em qualquer lugar que estejamos, podemos
fazer também essa corrente, as 6 horas da tarde. Todos os Adeptos do Mundo, todos
os Seres da Grande Fraternidade Branca, a essa hora, estão unidos pelo pensamento,
e assim só pode ser de proveito para nós fazermos essa corrente, porque estaremos
em comunhão com esses Excelsos Seres que são os Guias da Humanidade e que nos
protegem dos mil perigos a que estamos expostos diariamente. Esses Seres são os
nossos Anjos da Guarda).
Explicada esta parte, vamos continuar a nossa narrativa dos primeiros dias de
existência de nossa Sociedade. Assim, feita a corrente mental, começou a falar,
através do Professor, uma entidade que disse ser o Representante do Raio Planetário
da Lua. Ora, vocês já sabem que existem 7 Planetas Sagrados. Esses 7 Planetas são
os corpos de 7 Anjos que nasceram, ou surgiram, no princípio das coisas, daquele
Ser que nós chamamos de Deus e que representamos por aquele Triângulo com um Olho
no Centro, tal como se encontra em nosso Templo. Esses 7 Anjos são também chamados
“Espíritos Planetários”. As ordens que Deus dá aos homens, os ensinamentos que Ele
dá, só podem chegar através desses 7 Grandes Anjos. Por esse motivo é que se diz
que a palavra TEOSOFIA significa a Sabedoria dos DEUSES e não apenas de Deus. A
Sabedoria de Deus só pode chegar até nós através dos seus 7 Representantes ou dos 7
Anjos ou Espíritos Planetários e outros Dhyan-Choans. Muitos outros nomes existem,
ainda, mas isso vocês vão aprendendo com o tempo. Fala-se também que Deus se divide
para consumar o Supremo Sacrifício. É justamente o que acabei de dizer: Deus se
divide em 7 pedaços para chegar até os homens. Assim, cada um desses pedaços de
Deus tem a sua função. Assim, cada um desses pedaços de Deus ou cada um desses
Anjos tem a sua função, tem o seu trabalho, ensina aos homens uma coisa diferente
da dos outros. Guia os homens de um modo particular. Por exemplo, um orienta a
humanidade na arte, outro na maneira de se defender, outro ensina como desenvolver
a mente, os conhecimentos, outro como se deve dirigir um povo e assim por diante.
Cada um atinge a humanidade de acordo com a sua natureza particular. Obedecendo a
essa mesma Lei, nós vemos que as cores que existem na Terra são também 7; 3 cores
que nós podemos chamar de 3 Cores Mães, que são o Amarelo, o Azul e o Vermelho.
Dessas 3 cores é que surgem as outras 4, formando então o 7. É o mesmo que se dá
com aquilo de que falei antes a respeito de Deus. Ele como Causa Única de onde tudo
sai, é UM; apresenta-se porém como o TRIÂNGULO, portanto 3, e desse Triângulo saem
os 7 ANJOS. Na música também temos 7 notas. Existem no mundo 7 Montanhas Sagradas,
7 são os dias da semana. Tudo isso obedecendo aquele fato de Deus se dividir em 7
pedaços, para poder chegar até aos homens da Terra.
Ora, a Sociedade sendo a EXPRESSÃO MÁXIMA DA VONTADE DIVINA NA FACE DA TERRA, não
podia deixar de ser fundada, quer dizer, não podia deixar de tomar forma na Terra,
senão através desses 7 ANJOS OU ESPÍRITOS PLANETÁRIOS, que são os próprios
representantes de Deus, como já disse. Assim, o primeiro Anjo que veio e falou foi
o da Lua. Além de dar ensinamentos e falar sobre fatos que se iam passar no mundo,
contou a vida passada de muitas pessoas ali presentes, falando ainda sobre
acontecimentos que se iriam passar com essas pessoas, e curou doentes, colocando
sobre eles as suas mãos. Ao despedir-se, essa Entidade anunciou que no próximo
domingo deviam todos reunir-se ali novamente porque um outro Anjo viria, o Anjo de
Marte.
De fato, conforme havia sido anunciado, no domingo seguinte depois de feita a
corrente mental, começou a falar, através do Professor, um Ser que disse ser o
Representante do Raio Planetário de Marte. Uma das coisas importantes e
interessantes que ele disse foi o seguinte: “Trago uma Espada de Dois Gumes: um que
ama, outro que fere”. Ele dizia isso porque Marte é o planeta que tem a ver com o
aspecto combativo, no sentido de defesa. Os homens tem que saber como se defenderem
a fim de não serem mortos pelos que os atacam.
Assim, na ordem dos Planetas, os Anjos foram-se apresentando durante 7 domingos
seguidos. Depois de Marte, veio o de Mercúrio, depois Júpiter, depois Vênus, depois
Saturno e, finalmente, o Sol.
O domingo que coube ao Sol foi justamente o dia 10 de Agosto de 1924. O Anjo que se
apresentou nesse dia, como o Representante do Raio Planetário de Sol falou que esse
devia ser o dia escolhido para a fundação material da Sociedade, que nessa época
recebeu o nome de DHÂRANÂ. A palavra Dhâranâ quer dizer “DOMÍNIO DA MENTE”. Esse
primitivo nome dado à nossa Sociedade dizia logo qual seria o nosso trabalho
principal: o da Mente, do Mental e, portanto, de estudos. Ajudar a humanidade pelo
poder do nosso mental, dos conhecimentos mentais, dos estudos.
Os nomes desses Sete Anjos ou Espíritos Planetários, ou ainda Dhyan-Choans, vocês
já sabem, mas convém repetir: Gabriel - Lua; Samael - Marte; Rafael - Mercúrio;
Saquiel - Júpiter; Anael - Vênus; Cassiel - Saturno e Mikael - Sol.
Sete perfumes, sete pedras preciosas e sete metais correspondem a esses 7 Anjos e,
portanto a cada um dos dias da semana, como vamos ver:
Lua - 2ª feira - prata - incenso - ametista
Marte - 3ª feira - ferro - estoraque - rubi
Mercúrio - 4ª feira - mercúrio - mastique - topázio
Júpiter - 5ª feira - estanho - açafrão - rubina
Vênus - 6ª feira - cobre - mirra - safira
Saturno - sábado - chumbo - alecrim - esmeralda
Sol - domingo - sândalo - carbúnculo

Vamos agora ver porque a Sociedade foi fundada em Niteroi. Como vocês sabem, houve
uma ordem para que o Professor mudasse a sua residência para aquela cidade, sem no
entanto se dizer o porque dessa exigência. Dessa ordem vocês se lembram bem, foi
aquele aviso que apareceu dentro da cristaleira fechada. E o motivo dessa exigência
é que em Niteroi, há muitos e muitos anos, muito tempo antes de o Brasil ser
descoberto pelos portugueses, viveu um Rei bom e sábio, queridíssimo de seu povo
pela sua justiça e virtudes, chamado YETH-BAAL. YETH-BAAL era o que se pode chamar
um REI DIVINO e, portanto, era um Rei que muito tinha a ver com um daqueles 7
Anjos, porque se ele era Divino era porque tinha recebido de Deus a missão de ser
Rei e como para se receber uma ordem de Deus só é possível através de um dos 7
Espíritos Planetários, vê-se desde logo que Yeth-Baal era na Terra, um dos
representantes desses Raios Primordiais, dos 7 Primeiros Raios.
O seu próprio nome Yeth-Baal nos diz que ele estava ligado ao Raio Planetário do
Sol, e portanto, ao Anjo Mikael, porque Yeth quer dizer PRIMOGÊNITO ou Primeiro
Nascido, e Baal quer dizer DEUS. Assim Yeth-Baal em português, quer dizer, o FILHO
MAIS VELHO DE DEUS, o que nasceu primeiro e, como já vimos na nossa história
passada, o Anjo da Presença, o Anjo que fica mais perto de Deus, porque nasceu
primeiro, é justamente o Anjo Mikael.
Nessa época em que Yeth-Baal governava, Niteroi era uma grande ilha e a residência
do Rei e da Rainha, era no lugar que hoje conhecemos como Pedra da Gávea. Mas, como
sempre onde há uma representação da Divindade há também um Anjo Mau, um Espírito
das Trevas, querendo atrapalhar o trabalho do Bem e da Evolução, como vimos naquela
história da Atlântida, do lado oposto da Pedra da Gávea, em uma outra Montanha que
hoje tem o nome de Pão de Açúcar, residia o Anjo Mau.
Era costume de Yeth-Baal e sua esposa passearem pela baía da Guanabara em uma linda
barquinha azul, acompanhados sempre por um casal de fiéis servidores. Em um desses
passeios, em que o escravo ia conduzindo a barquinha, o Espírito do Mal que estava
à espreita, esperando uma oportunidade para perseguir o Rei e a Rainha, fez
levantar uma grande tempestade no mar, e a barquinha não podendo resistir aos
enormes vergalhões que se levantavam, afundou com todos os seus tripulantes. Mãos
bondosas, porém, recolheram os corpos do Rei, da Rainha e do casal de servidores e
levaram-nos para a sua residência, que desde esse dia foi transformada em um
túmulo. Lá ainda se encontram eles, inclusive a barquinha azul que tantas e tantas
vezes levara os reis a passear. Foi inspirado nesse fato que o nosso Mestre compôs
uma linda música chamada “Peregrino da Vida”.
Vejamos agora o significado da palavra Niteroi: Ela se deriva da palavra NISH-TAO-
RA, que quer dizer: “O Caminho Iluminado pelo Sol”, ou ainda, “O Caminho pelo qual
o Sol Espiritual iluminará a 7ª Sub-Raça”. Esse Sol Espiritual é a nossa Obra e a
7ª Sub-Raça é a nova civilização, as novas famílias, os homens, mulheres e crianças
que vão nascendo daqui para o futuro, substituindo estes homens que constituem a
raça atual, a civilização dos nossos dias, que pouco a pouco vai desaparecendo do
mundo. E quem prepara essa nova civilização, essa nova Raça, que é a 7ª Sub-Raça é
a Sociedade Teosófica Brasileira. Por isso podemos dizer com toda a convicção, com
toda a certeza que A S.T.B. é um SOL que ilumina a mente de todos os homens no
mundo que queiram fazer parte dessa nova civilização, de um mundo mais feliz, mais
tranquilo, como mesmo vocês cantam no seu mantran:
“Nós somos a semente da Raça do Porvir
A vida mais contente havemos de fruir”
08. Branca de Neve e os Sete Gnomos
(Aula de 02/09/1951)

Hoje vou explicar o sentido verdadeiro do conto “Branca de Neve e os Sete Gnomos”-
história esta que vocês mesmos vão contar aos seus amiguinhos por meio de teatrinho
de fantoches. É uma história já muito conhecida, mas vamos estudá-la sob o aspecto
oculto, teosófico ou iniciático, que é a mesma coisa. Vamos ver o que expressa cada
um dos personagens desse conto. Cada um deles é um símbolo e os teósofos como nós,
procuram sempre estudar os símbolos. Todas as histórias que existem são alegorias,
isto é, são maneiras de que se servem os seus autores para nos apresentar as coisas
abstratas, como por exemplo, o Bem, o Mal, o Amor, o Pensamento, a Vontade e outras
coisas mais que não tem forma, por meio de príncipes, princesas, fadas, animais,
árvores e até objetos. Um dos principais estudos da Teosofia é procurar conhecer o
Espírito das Coisas, dar vida às formas, aos símbolos, ver, enfim, através da nossa
Mente, da nossa Inteligência, o significado dos símbolos.
Quais os personagens de “Branca de Neve”? Temos em primeiro lugar a princesinha
Branca de Neve, depois a Madrasta, que é uma mulher muito má; o Escudeiro, os Sete
Gnomos (não Anões) e, finalmente, um Príncipe que é o Salvador.
A pessoa que escreveu esta história conhecia muito bem Ocultismo; era naturalmente
um Iniciado ou Teósofo, porque são perfeitos os símbolos de que se serviu para
expressar grandes verdades.
Para começar, vejamos o nome da Princesa - Branca de Neve. O que logo nos faz
pensar esse nome? O Bem, o que é Bom e, portanto, a Lei da Evolução, representada
na Terra pela Fraternidade Branca, pelos Adeptos Brancos. Mas, como não há Bem sem
o Mal, vejamos logo a figura da Madrsta, representando o Mal, os Anjos Maus que
tentam os homens, que perturbam a sua evolução. Quer dizer que a Branca de Neve e a
Madrasta são os símbolos do Bem e do Mal, dos Anjos Bons e dos Anjos Maus, da Magia
Branca e da Magia Negra. O Bem e o Mal são duas grandes forças que existem no Mundo
e que estão sempre lutando uma contra a outra. Podemos mesmo comparar essas duas
forças com a Luz e a Sombra. Onde há luz projeta-se a sombra. Assim, os Seres que
trabalham para o Bem, são chamados os Adeptos Brancos e os que trabalham para o
Mal, são chamados os Adeptos Negros.
Assim, nesta história, o Bem e o Mal estão representados ou simbolizados em Branca
de Neve e a Madrasta. Branca de Neve é a menina pura, boa e caridosa, que só faz
bem aos outros e todos gostam dela, até os bichinhos da floresta. Nenhum animal na
floresta a atacou quando ela foi abandonada pelo escudeiro, pelo contrário, todos
procuraram alegrá-la, cada um a seu modo, uns cantando, outros apanhando frutos
para ela comer.
A Madrasta é o tipo perfeito do Mal na Terra, daqueles anjos maus que só se sentem
felizes quando a humanidade se desvia da Lei de Deus, que é a Lei do Bem ou a Lei
da Evolução. A Madrasta sabe manejar as forças ocultas da natureza para praticar o
mal e é por isso que ela envenena a maçã, com que pensa matar a linda princesinha.
As gargalhadas que ela dá quando vê Branca de Neve estendida no chão, como morta,
são verdadeiramente diabólicas. Vê-se bem, aí, o Espírito do Mal, da Maldade.
Assim, o autor deste conto apresenta-nos a bondade da princesinha e a maldade da
Madrasta; quis mostrar que onde anda o Bem anda o Mal. Até a Vida de Jesus Cristo,
que foi um dos Sete Filhos de Deus, Aparece o Espírito do Mal tentando-o,
oferecendo-lhe o Mundo todo, se Ele deixasse de cumprir a sua Missão. E isso porque
Jesus Cristo era a Luz e o Demônio era as Trevas ou a Sombra.
No escudeiro que leva Branca de Neve para a floresta, nós vemos a LIBERDADE DE
AÇÃO, isto que, em Teosofia, se chama LIVRE ARBÍTRIO. É a liberdade que todo homem
tem de praticar o Bem ou o Mal. Todos nós podemos ser tentados a praticar uma ação
má ou errada, como por exemplo, deixarmos de ir à escola para ir ao cinema ou jogar
futebol, mas, como sabemos que isso não é certo, que vamos nos atrasar, que vamos
deixar de cumprir com o nosso dever, vamos prejudicar os nossos pais que fazem
sacrifícios para que nós estudemos, o que acontece? A nossa capacidade de
distinguir o que é certo do errado, nos manda ir à escola e não nos deixa cometer
um erro. Foi exatamente isso que fez o Escudeiro. Ele pensou e viu que se matasse
Branca de Neve, como lhe ordenara a Madrasta, estaria praticando um ato indigno,
estaria praticando uma ação má e criminosa, e por isso, ele decidiu por sua própria
vontade, usou daquela liberdade de agir de que falei há pouco, que é um direito de
todo o homem. Erra-se por ignorância, mas desde que se saiba, que se tenha
consciência do erro, devemos evitá-lo.
Neste conto tão interessante não faltaram sequer as Sete Colinas que a menina teve
que atravessar para chegar à residência dos gnomos. Essas Sete Colinas nos fazem
lembrar as Sete Regiões ou Cidades Sagradas que existem na Terra, onde moram
aqueles Sete Anjos Planetários, aqueles Sete Dhyan-Choans que auxiliaram na
construção da nossa Obra, vindo um de cada vez, durante 7 domingos seguidos. Dá-se
o nome de Sistema Geográfico a essas 7 cidades. Quando se fala de planetas, diz-se
um Sistema Geográfico, que são os Sete Planetas Sagrados, já conhecidos de vocês.
Quando se fala de cidades, diz-se de um Sistema Geográfico. Essa palavra Sistema
refere-se sempre a 7 coisas e mais uma no Centro. Assim, um Sistema Geográfico se
compõe de Sete Cidades e mais uma no Centro. Quem será capaz de me dizer os nomes
das Sete Cidades que formam esse Sistema Geográfico Sul-Mineiro e mais o nome da
Oitava, ou daquela que fica no Centro?
Outro símbolo é o espelho mágico, que responde às perguntas da Madrasta. Reparem
que ele diz sempre a VERDADE. Por isso ele representa a Voz da Consciência, a Voz
da Razão que todos nós ouvimos e que nunca mente, sempre diz a verdade, embora
muitas vezes não gostemos de ouvir essa Verdade, porque ela é desagradável para nós
na maioria dos casos, como era desagradável para a Madrasta, que não gostava de
ouvir alguém dizer que ela não era a mulher mais bela do mundo. O Espelho,
portanto, nesta história, é o símbolo da Consciência Humana, daquela que nunca
mente e sempre fala a verdade.
Agora vamos ver porque devemos chamar aos protetores de Branca de Neve de GNOMOS e
não anões, como geralmente se diz. Quem desconhece as leis ocultas da natureza
confunde esses dois termos, mas nós, teósofos, não podemos confundir um com o
outro, porque são duas coisas bem diferentes. Anão é um homem anormal, que não
cresce como os demais devido ao não desenvolvimento de uma glândula chamada
hipófise localizada na cabeça, ao passo que os GNOMOS são os Espíritos da natureza,
os elementais da terra; são eles os guardiões dos tesouros subterrâneos, do ouro,
da prata e das pedras preciosas que são encontrados dentro da terra. Eles são os
guardiões da floresta. É por isso que nesta nossa história, eles saiam todas as
manhãs, cada um com o seu instrumento que, por sinal, tem a conformação de um 7,
como por exemplo a enxada, a pá, a picareta, e iam trabalhar no seio da terra, nas
minas. Vocês todos conhecem a história escrita por D. Helena, Chamada “GOBI - O
Gênio da Floresta” e, assim, sabem que os Gnomos trabalham dentro da terra, porque
são os elementais GOBI é o Rei dos Gnomos, é aquele que governa os Gnomos. A água
também tem os seus elementais, do mesmo modo que o fogo e o ar. Os elementais da
água são chamados ONDINAS ou SEREIAS, quando se trata de água do mar; quando se
trata de água doce, como dos rios ou lagos, o seu nome é XANAS; do fogo são as
SALAMANDRAS e do ar as SÍLFIDES ou SILFOS.
Essas quatro ordens de seres chamados Gnomos, Ondinas, Salamandras e Sílfides, que
denominamos de elementais, são os seres que animam, respectivamente, os quatro
elementos: TERRA, ÁGUA, FOGO e AR. Podemos mesmo chamá-los de ESPÍRITOS DA
NATUREZA.
Quem nesta história representa a Lei da Evolução, a Lei de Deus, a Fraternidade
Branca ou os Adeptos da Boa Lei?
E a Lei da Involução, o Espírito das Trevas, os Anjos Maus, os Demônios?
E o Escudeiro, aquele que agiu por sua própria VONTADE, que decidiu por ele mesmo?
E o Espelho Mágico, que só falava a VERDADE, embora desagradando a Rainha Má? que
representa ele?
E as 7 Colinas, que são elas?
E os 7 Gnomos? Como podemos relacioná-los? Que estão eles representando?
Está faltando porém um personagem, um dos mais importantes desta história. Quem é
Ele? De quem ainda não se falou? do PRÍNCIPE do SALVADOR, daquele belo Príncipe que
com o seu grande Amor faz Branca de Neve voltar à vida. O Príncipe é o símbolo
perfeito dos grandes Salvadores da Humanidade, que, por amarem muito a Humanidade,
vem salvá-la. Mas salvá-la de que? Salvá-la das garras dos Anjos Maus, como
aconteceu na Atlântida. Todas as vezes que esses Anjos Maus vem à Terra, os homens
se afastam de Deus, se afastam da Grande Lei e é por isso que os SALVADORES DO
MUNDO, como por exemplo Jesus Cristo, aparecem também nessas ocasiões, para levar
os homens ao Caminho do Bem, ao Caminho que conduz novamente a Deus. Se eles não
amassem muito a humanidade, como o Príncipe amava Branca de Neve, eles não
deixariam o seu reino de paz e felicidade para vir sofrer aqui na terra com os
homens, a fim de salvá-los.
Nesta história vê-se a luta entre Branca de Neve e a Madrasta, ou a luta entre as
forças brancas e as forças negras, mas a Lei de Deus vence, porque Branca de Neve
não morre; ela apenas desfalece até que o seu Salvador lhe dá um beijo e ela
novamente volta à vida.
Esse beijo de amor traduz bem aquele AMOR UNIVERSAL que todos os Grandes
Iluminados, todos os SALVADORES sentem pela humanidade, pelos homens da Terra.
Jesus Cristo ou Jeoshua Ben-Pandira teve, também, esse Amor pelas criaturas
humanas, porque de fato Ele era um enviado de Deus para salvar os homens daquela
época. Gautama, o Budha, foi outro ser dessa mesma natureza. Ele abandonou as suas
riquezas terrenas, os seus palácios, pois era um príncipe, para poder conviver com
o povo e ensinar-lhe tudo quanto sabia, para que os homens não fossem ignorantes
das coisas divinas. Krishna, Kunaton e todos os Iluminados que ornam este salão,
foram enviados pelo Pai de todas as coisas, a fim de restaurar a Lei, o verdadeiro
Culto Divino, porque como ele mesmo disse certa vez: “Todas as vezes em que a Lei
declina, Eu me manifesto”. Isso quer dizer, que todas as vezes que os Anjos Maus
estão querendo vencer a grande batalha, que de tempos em tempos se trava entre eles
e os Anjos Bons, Deus envia um dos seus Filhos, para salvar a Humanidade e não
deixar que Ela morra. Do mesmo modo que o Príncipe salva Branca de Neve, os
Salvadores do Mundo salvam a Humanidade. E isso porque o Espírito do Mal não pode
vencer o Espírito do Bem. Só o Bem pode vencer, só uma Lei pode existir, como diz a
canção. E essa Lei é a Lei de Deus, representada na Terra pelos Adeptos Brancos,
pelos Anjos Bons.
Quando aparece na Terra um grande Iluminado e vence a grande luta contra o Espírito
das Trevas, o mundo todo vive um período áureo ou Idade de Ouro. Durante esse
tempo, todos são felizes, porque não há guerras, não há doenças, nada há de mau.
E é essa Idade de Ouro, essa era de paz e de felicidade, que a Sociedade Teosófica
Brasileira anuncía, com a vinda de um grande Ser de um grande Iluminado que é
conhecido como o CAVALEIRO DAS IDADES, porque virá montado em um belo cavalo
branco.

09. Os Quatro Reis do Baralho


(Aula de 07/10/1951)

Todos vocês conhecem um baralho de cartas e sabem que eles são formados de 4
naipes: Ouros - Copas - Paus - Espadas, tendo, cada um deles, dez cartas numeradas
de 1 a 10 e mais um valete, uma dama e um rei, ou príncipe, rainha e rei, formando
o que se chama uma côrte, ou então uma família como: pai - mãe - filho.
Hoje as cartas servem de divertimento, pois são utilizadas para jogar, para se
perder dinheiro, para levar um chefe de família à miséria, quando apostam todo o
dinheiro que tem, deixando os filhos passando fome. No entanto, quem inventou o
baralho não o fez para esse fim, pois as cartas foram feitas para estudo. Os
desenhos que nós vemos nelas são ensinamentos. Antigamente, não haviam letras para
se escrever, como hoje, de modo que os povos antigos, quando queriam transmitir as
suas idéias aos outros, faziam desenhos. É por essa razão que encontramos desenhos
esculpidos em certas montanhas, como por exemplo em São Tomé das Letras, na Pedra
da Gávea e em muitos lugares do Brasil e de todo o mundo. Nos velhos templos
egípcios vê-se também nos muros, uma porção de desenhos, todos eles contando a
história do seu país, os costumes dos seus povos, as ordens dos seus reis. Esses
desenhos chamam-se hieróglifos.
Há muitos e muitos anos, havia na terra um reino, cujo governador era um homem
muito justo e bom que havia nascido na Agartha. O povo, porém, não obedecia às suas
ordens e vivia sempre brigando. Houve tanta luta e desordem entre eles que um dia o
próprio rei foi assassinado. Os Deuses revoltados com tamanha injustiça, castigaram
então aquele povo, obrigando-o a andar pelo mundo a vida toda, sem nunca ter uma
pátria. Os descendentes desse povo errante são os ciganos que todos conhecemos.
Um grupo deles viveu durante algum tempo em um país da Europa chamado Boêmia, daí
serem também conhecidos pelo nome de Boêmios, mas a pátria deles não é lá. O nosso
Mestre os chama de Adeptos da letra C, porque a maioria das coisas com que eles
lidam se escreve com essa letra C. Por exemplo: eles gostam muito de cavalos, os
primeiros circos foram feitos por eles e, antigamente, sempre andavam em carros,
neles viajando de um país para outro. Aliás, esses carros eram onde moravam pois
eles não tinham casas como nós, pelo fato de terem sempre que viajar de um lugar
para outro. Era mais fácil se mudarem de uma terra para outra morando nos próprios
carros em que viajavam. A atração deles pela letra C é tão grande que, ainda hoje,
procuram sempre morar em lugares cujos nomes comecem com essa letra. No Rio, por
exemplo, a maioria dos ciganos mora em Catumbí e, em São Lourenço, havia um grupo
que morava na Vila Carneiro.
Uma das coisas que os ciganos trouxeram quando foram expulsos da sua terra, foi o
baralho de cartas. Eles sabiam muito bem interpretar os desenhos das cartas, pois
isso tinham aprendido do seu rei. Assim, os ciganos usavam essas cartas para ajudar
os outros. Quando, por exemplo, uma pessoa andava doente sem poder curar-se, ou os
negócios andavam mal, ou tinham quaisquer outras tristezas, os ciganos,
principalmente as mulheres, as ciganas, punham as cartas para essa pessoa e as
cartas, então, pela maneira como se apresentavam, iam contando, isto é, as ciganas
iam contando a essa pessoa o mal que a afligia e, ao mesmo tempo, ensinando o que
devia fazer para melhorar desse mal.
Mas como podiam essas ciganas ou cartomantes saber o que as cartas diziam? Pela
razão muito simples de elas conhecerem muito bem as figuras e de saberem o que
essas figuras queriam dizer. Elas sabiam que os 4 Reis são a representação de 4
Grandes Seres que trabalham junto dos homens, desde que os homens nascem até que
morrem. Assim, um tem a ver com o nascimento de todos os Seres da Terra, outro com
o momento da morte, outro com os seus atos (aquele Ser da Balança, que pesa as boas
e más ações) e, finalmente, outro com a inteligência, com o pensamento que todos os
homens possuem. Esses 4 Seres são chamados Kumaras. Para se saber qual o rei que
tem a ver com o nascimento, com a morte, com as ações dos homens ou com a
inteligência, deu-se a cada um uma cor ou um naipe. Assim, o naipe de ouros
pertence ao senhor da vida ou Manú, como é também o seu nome; o de copas ou taça,
aquele ser que guia os homens no momento da morte e que os conduz para os lugares
que devem ir depois que morrem. Assim como o senhor da morte guia os homens quando
eles deixam de viver, do mesmo modo o senhor da vida, ou Manú, é que escolhe a
família e o lugar onde a criança deve nascer; por isso é que ele se chama o Senhor
da Vida. O naipe de paus é daquele outro rei que toma conta das ações dos homens e
o de espadas é do rei que dá a inteligência ao homem, por isso o desenho da espada
quer dizer sabedoria, porque vem desse ser que é o rei da inteligência. Por isso
também que no nosso emblema, no emblema da S.T.B. há uma espada, querendo dizer que
a S.T.B. dá sabedoria, dá inteligência aos seus discípulos, aos seus alunos.
Agora vocês compreendem porque as cartomantes podem ajudar os outros por meio de um
baralho, porque as cartas com os seus desenhos, com os seus reis, rainhas, valetes
e demais números, vão mostrando o que está se passando com a pessoa que lhe
pergunta, que lhe pede uma explicação para os seus sofrimentos.. Se há um perigo de
morte, apresenta-se diante da pessoa que faz a consulta, uma carta do naipe que
corresponde ao Senhor da Morte. Se se trata de qualquer coisa com a vida, com os
negócios, é uma carta com o naipe de ouros, e assim por diante.
Justamente pelas cartas representarem as 4 Grandes Forças ou Potestades que
governam o Mundo é que não se deve usá-las para brincar, para divertimento e, pior
que isso, para tirar dinheito dos outros, como acontece com algumas pessoas que
preferem jogar cartas ao invés de trabalharem honestamente. Fazem do jogo uma
profissão, passam os dias sentados em botequins, bebendo e jogando, ao invés de
trabalharem e estudarem. Essas pessoas geralmente acabam muito mal, porque quando
não tem mais dinheito para jogar, tornam-se até ladrões e criminosos. Há casos de
filhos que matam até os pais por causa do jogo.
Mas já que estamos falando nesses 4 Reis que governam o mundo, vamos ver uma outra
coisa além dos baralhos, que também representam esses Reis. Quem já ouviu falar em
um enorme animal de pedra que se encontra na entrada do deserto, no Egito, chamado
ESFINGE? A Esfinge é um animal que tem cara de anjo, asas de águia, patas de leão e
ancas de touro. Foi outro modo de os povos antigos darem uma forma material aos 4
Grandes Reis, querendo com isso, dizer que eles eram tão perfeitos quanto o são os
anjos ou devas, como também lhes chamamos; que possuíam o poder de se elevar aos
mundos celestes, como a águia que voa e mora nas mais altas montanhas do mundo, que
tinham o poder do leão, chamado o rei dos animais e ainda que possuíam a força
física do touro, que trabalha na terra, para os homens, lavrando os campos.
No tempo em que a Esfinge falava (porque houve uma época em que ela falava), ela
dizia a toda a pessoa que perto dela passava: “Ou tú me decifras ou eu te devoro”.
O que ela queria dizer com essas palavras é que todo aquele que não frequentasse
uma Escola de Iniciação, como é, por exemplo, a S.T.B., jamais saberia da
existência dessas 4 Potestades e do Trabalho que Elas realizam, ajudando a
humanidade, e, por desconhecer tudo isso, ficava ignorante das coisas divinas e
cada vez mais se afastava de Deus. Pelo contrário, os que sabiam todos os segredos
e mistérios que cercavam essas 4 Grandes Criaturas, ligavam-se a Deus e, como
ligar-se a Deus é receber a sua Luz Puríssima, ficavam Iluminados. Daí o nome de
Iluminados que tem todos os homens que trabalham pela humanidade, obedecendo às
ordens dos 4 Reis da Terra. Ao contrário, os homens que, por vadiação ou por não
quererem estudar, nunca descobriram o segredo da Esfinge, eram comidos por ela,
isto é, desapareciam; ao invés de se iluminarem, se apagavam e se afastavam de
Deus. Quem se afasta de Deus, se apaga, fica sem luz, fica no escuro.
Por causa desses 4 Seres que governam o Mundo espiritualmente, é que na Terra tudo
obedece ao número 4. Quatro são os pontos cardeais: Norte - Sul - Leste - Oeste.
Pois bem, em cada um desses pontos cardeais, esses Reis colocaram os seus
discípulos mais estudiosos, fazendo as vezes deles mesmos. Assim, um está no Norte,
outro no Sul, outro a Leste e outro a Oeste. Em certas cerimônias na Igreja
Católica, o padre dirige o incensário para os pontos cardeais, saudando dessa
maneira, os 4 Grandes Senhores que tomam conta da Terra.
Por serem 4 os Reis que governam o mundo espiritualmente, o número 4 dá sempre a
idéia de governar, de mandar e por isso, em certos países, como por exemplo a
Inglaterra, até há bem pouco tempo os reis, ao serem coroados, tinham que se sentar
em uma pedra de 4 cantos, uma pedra quadrada, como quem diz que essas 4 Criaturas
são o pedestal, a base onde se assenta o Governo do Mundo.
No nosso Templo, na Vila Canaã, em São Lourenço, existe também uma Pedra Encantada.
A história dessa Pedra um dia vocês saberão. Pois bem, antes de essa Pedra ser
conduzida ao nosso Templo, o nosso Mestre teve que se sentar nela, o mesmo tendo
feito Akdorge.
Há diversas maneiras de se representar essas 4 Entidades, além das que já vimos,
isto é, dos baralhos de cartas e da Esfinge. Havia um homem muito bom chamado
Ezequiel, que viu esses Seres como se fossem 4 Anjos, que ele chamou de criaturas
viventes, que lhe apareceram cercados de labaredas de fogo, do qual saíam
relâmpagos. E Ele via os Anjos voarem tão depressa como se fossem raios no céu.
Ora, na História da nossa Obra, também esses 4 Seres tiveram um trabalho muito
importante. Quando o nosso Mestre tinha 15 para 16 anos de idade, teve que fazer
uma viagem de estudos ao Oriente, na India, na cidade de Srinagar (que como vocês
já sabem, quer dizer “Homens Serpentes” ou “Homens Sábios”). Antes porém, passou
por Portugal. Chegando à Capital daquele país, Lisboa, aconteceu uma coisa tão
séria, pondo em perigo a viagem que ele precisava fazer, que os seres que o
acompanhavam apelaram, isto é, pediram a ajuda daquelas Entidades. Assim, os 4 se
apresentaram, dois deles ficando em Portugal, em um lugar chamado Serra de Sintra,
presidindo a uma cerimônia importantíssima, enquanto os outros dois seguiram viagem
com o Mestre para Srinagar. Sempre que se trata de coisas que dizem respeito
diretamente à Terra, esses 4 Seres são chamados, tal como aconteceu naquela
História do Colibri Irisiforme, quando o velho rei chamou os 4 Pássaros Sagrados ao
se atirar na fogueira. Os 4 Pássaros daquela lenda são os 4 Kumaras.
Esses 4 Seres, embora sejam criaturas humanas, são de natureza bem diferente dos
homens comuns; são criaturas que quase não falam, não bebem água, nem se alimentam
e, no entanto vivem na Terra. É claro que vivem em lugares apropriados à sua
natureza, naquelas regiões sagradas que existem na Terra e só vêm para o convívio
dos homens nas ocasiões em que são chamados para prestar um auxílio necessário,
como aconteceu em Lisboa, Portugal, quando o Mestre por ali passou.
Conta o Mestre que ao chegarem a uma cidade de nome Goa, uma moça aproximou-se dos
viajantes, oferecendo-lhes água em um púcaro. Como é natural, todos beberam, menos
aqueles dois misteriosos seres que fizeram um sinal negativo com a mão, quando a
moça lhes ofereceu a água, como quem diz: - “Para vivermos, não precisamos de água,
nem de alimento”.
Vejam vocês quanta coisa pode-se aprender de um simples baralho de cartas, que foi
feito por alguém que conhecia muito bem a história da Terra em que vivemos e dos
homens que nela habitam. Quem inventou as cartas quis auxiliar os homens ensinando
todas essas coisas. É por isso que as pessoas que sabem disso, como nós, teósofos,
não devem utilizar conhecimentos superiores para brincar, porque isso é ruím,
atrapalha a vida da gente, obriga a fazer coisas contrárias ao que é direito. As
cartas devem servir para auxiliar os outros, como fazem algumas cartomantes, que
sabem bem o que elas querem dizer. Quem vive de jogo de cartas ao invés de se
ocupar com coisas úteis à sua evolução, está involuindo, está se afastando de Deus
e dos seus ensinamentos. Ao invés de se tornar um Iluminado, torna-se um ignorante,
um bôbo, chegando ao ponto de ser desprezado pelos amigos e pelos parentes, porque
se torna indesejável, um ser sem qualquer espiritualidade.

10. O Milagre da Árvore da Vida


(Aula de Novembro de 1951)

Há muitos anos vivia em uma cidade da India, um armador. Morava em uma bela casa
com um grande jardim, onde havia, no centro de um repuxo, uma estátua do deus
Apolo. A maior riqueza do armador consistia na sua filha, jovem de rara beleza, que
se chamava Iracy.
Desde pequenina o seu rostinho encantava a todos e daí ser também chamada de
“Bela”. Mas Iracy não era apenas bonita, era também muito boa, possuía um coração
grande. Todos que dela se acercavam recebiam sempre uma palavra de carinho e de
amizade.
Dizia-se mesmo que ela ficara assim tão linda e tão boa porque desde criança o seu
pai fazia com que ela depositasse, todos os domingos, um ramalhete de rosas aos pés
daquela estátua de Apolo que havia no jardim do seu palacete. E como Apolo é o deus
do Amor e da Beleza, o povo dizia que fôra ele quem lhe dera esses dons.
O pai de Iracy pertencia à uma família de nobres Portugueses e por isso ele tinha o
título de Barão. Em Goa, onde morava, todos os conheciam pelo nome de “Barão
Henrique”.
Iracy tinha sete primas mais ou menos da sua idade, moças também muito boas e que
eram as suas companheiras inseparáveis. Estavam sempre juntas. Elas se chamavam
Carmem, Consuelo, Madalena, Lúcia, Dolores, Maria e Ana.
Quando Iracy completou 15 anos de idade, o Barão Henrique foi avisado pelo seu
Mestre, pois ele era um Iniciado, isto é, era um homem que pertencia à Fraternidade
Branca, de que deveria fazer uma viagem com iracy e suas sete primas, para terras
muito distantes.
- Tende, porém, muito cuidado com Iracy - disseram-lhe os seus conselheiros. - Há
um príncipe mau que, como castigo de suas maldades, ficou com as feições de um
horrendo animal. Esse príncipe já viu Iracy e tão impressionado ficou com a sua
beleza que quer raptá-la.
Desde o dia em que recebeu esse aviso, o Barão Henrique ficou muito preocupado com
o futuro de Iracy. Desse modo, quando recebeu ordens de viajar com ela, ficou até
um pouco aliviado, indagando: - “Quem sabe se viajando para longe daqui, também nos
afastaremos do perigo que ameaça a minha filha?”.
Tranquilizado com essa idéia, começou a tratar do necessário para empreender tão
longa viagem. Finalmente, tudo pronto, partiram todos, embarcando no navio que os
devia transportar para bem longe das terras onde tinham vivido durante tantos anos.
Durante a viagem tudo correu muito bem. As moças eram muito prendadas, todas elas
tinham recebido uma educação primorosa: sabiam recitar bailar e cantar. Iracy
então, nem se fala, tinha uma voz lindíssima e durante muito tempo estudara canto.
Assim, durante a viagem se distraiam tocando piano e cantando, ou desenhando, pois
Iracy tinha sido aluna de um famoso Adepto, Ser de grande valor, que lhe ensinara a
pintar maravilhosamente.
A bordo vinham também uns ciganos, que executavam lindas músicas ao violino, pois
os ciganos são exímios violinistas, e dançavam também, de maneira que a viagem foi
bastante distraída.
O Barão, embora fosse um homem de recursos, não era, no entanto, um milionário, de
maneira que as despesas que fizera com a viagem o tinham deixado com pouco
dinheiro, além do mais, o seu trabalho estava parado, uma vez que ele estava
ausente, viajando. Andava preocupado com isso, porque o dinheiro que levara estava
se acabando, quando Iracy, percebendo a tristeza do pai, falou-lhe:
- Não se aflija tanto assim, querido pai, nós poderemos auxiliá-lo.
- Como? - perguntou o Barão, sorrindo.
- Dando concertos de canto ou piano - respondeu a moça.
- Poderíamos até organizar uma companhia teatral, levando peças históricas -
lembrou Consuelo.
- Ótima idéia - exclamaram as outras, batendo palmas contentes.
O Barão tão comovido estava com a dedicação das jovens, que nem sabia o que dizer.
Beijava e abraçava a todas elas, com ternura. Quando pode falar, disse: - Vocês são
mesmo uns anjos de bondade”.
Depois de muito escolherem, ficou finalmente assentado que a peça de estréia da
Companhia receberia o nome de Tim-Tim por Tim-Tim, seria a história de Ulysses, um
guerreiro grego da antiguidade, que ao voltar à sua Pátria após longa ausência,
naufraga o navio onde viajava, e ele, depois de muita dificuldade, consegue nadar
até uma ilha habitada por musas, que são mulheres fantásticas, inspiradoras das
artes. As musas seriam as moças, porém faltava o personagem principal que era
Ulysses. A bordo havia um rapazinho que se oferecera para representar o papel de
Ulysses, mas ele não tinha muito jeito. Como porém não havia outro, os ensaios iam
sendo feitos com ele mesmo, até que se conseguisse outra pessoa que pudesse
substituí-lo.
- Talvez ao desembarcarmos, encontraremos um jovem da minha idade para representar
comigo, não é papai? - perguntou um dia Iracy.
- E que tenha também uma boa voz - disse Madalena.
- Sim, porque ele tem que cantar um dueto comigo - falou Iracy.
-Tudo há de se arranjar do melhor modo possível - respondeu o Barão Henrique -
Temos porém que escolher um rapaz distinto, de boa família. Não quero que vocês
trabalhem com qualquer pessoa. Se não conseguirmos um rapaz educado, de boas
maneiras, vocês tenham paciência e representem mesmo com José, este era o nome do
rapazinho de bordo.
- Está bem papai - respondeu Iracy - O caso fica entregue ao senhor.
- Já sabia que a minha filha era uma menina ajuizada - disse o Barão satisfeito.
Ao desembarcarem, depois de procurarem por um hotel onde deixaram a bagagem, foram
à procura de um teatro. Depois de algumas dificuldades, conseguiram alugar um
teatro de nome “São José”. Antes da estréia, porém, tiveram, como é natural, que
fazer muitos ensaios. A esses ensaios ia sempre um velho amigo do Barão, chamado
Antonio Maceió, que levava consigo um jovem de nome Hélio. De tanto assistir a
peça, Hélio já sabia de cor todo o papel de Ulysses e estava doidinho de vontade
que o convidassem para representar, tanto mais que via o pouco jeito de José. José,
por sua vez, percebendo o interesse que Hélio estava tomando pelos ensaios, pois
não faltava nunca, resolveu um dia fingir-se de doente, para ver se assim dava
oportunidade a Hélio, de quem já se fizera amigo íntimo, de representar. E assim
fez. Pretextanto uma forte dor de cabeça, José faltou ao ensaio. Ora, Hélio que
estava ali firme, foi convidado para subir ao palco e cantar com Iracy.
O resultado foi o melhor possível, pois além de Hélio saber direitinho todo o papel
de Ulysses, tinha muito jeito para representar e também sabia cantar admiravelmente
bem. Quando Iracy e Hélio acabaram de cantar, todos aplaudiram, entusiasmados,
inclusive José, que aparecera depois que o espetáculo havia começado, para ver o
resultado da “peça” que pregara ao seu amigo. Hélio, compreendendo então qual tinha
sido a intenção de José, dando-lhe aquela oportunidade de representar, caiu nos
braços do seu amigo, agradecendo-lhe aquela prova de amizade.
Excusado será dizer que daí em diante Hélio ficou fazendo parte da Companhia “Tim-
Tim por Tim-Tim”, com grande satisfação do seu amigo José.
Tão grande foi a amizade que se estabeleceu entre Hélio e Iracy, que um dia o jovem
disse ao Barão que não mais pdoeria viver longe dela e que somente com ela se
casaria. Ao ouvir essas palavras, o Barão Henrique ficou muito contente, pois fora
avisado depois da sua chegada, que toda aquela viagem não tinha sido feita com
outro fim senão o de fazer com que os dois jovens se conhecessem, pois Hélio era a
única pessoa com quem Iracy podia casar-se.
- Teremos, no entanto, que voltar à India - disse o Barão a Hélio - Mesmo assim
estás disposto a acompanhar-nos?
- Naturalmente que sim - respondeu Hélio resolutamente.
Antes do regresso à India, Hélio e Iracy foram um dia dar um passeio de barca em
uma ilha chamada Itaparica. Estavam os dois na praia, olhando as águas do mar,
quando de repente uma grande onda se elevou e de dentro dela ouviu-se uma voz bem
clara dizendo:
- “Meus filhos, vocês vieram ao mundo para uma grande missão, mas por isso mesmo
tomem muito cuidado com as suas vidas, porque um grave perigo paira sobre as suas
cabeças. Vão e cumpram com o seu dever. Que a Lei possa ser cumprida nos seus mais
altos desígnios”.
Quando a voz emudeceu, a onda que se levantara e ficara parada, quebrou-se na areia
da praia e tudo voltou ao normal.
Muitos meses se passaram depois desse acontecimento e os personagens desta história
já estavam agora em Lisboa, Portugal, onde o Barão tivera que passar para tratar de
certos assuntos.
Ora, aquele príncipe mau que perseguia Iracy encontrava-se também ali. Passeava
ele, certa tarde, em uma carruagem quando, avistando Iracy na rua, ordenou ao
cocheiro que tocasse os cavalos mais depressa para alcançar a moça, a fim de roubá-
la. Ao ver porém a cara do príncipe, tão horroroso, mais parecendo uma fera do que
um homem, Iracy levou tamanho susto que caiu sem sentidos no meio da rua e os
cavalos, desenfreados, não podendo parar, passaram por cima do seu corpo. Vendo o
que sucedera, o príncipe fugiu com medo de que o prendessem, e a pobre moça ficou
no chão, dentro de uma poça de sangue.
Nesse momento, aquela Voz que se fizera ouvir de dentro da onda na praia, novamente
assim falou: “Esta moça não morrerá, para que possa cumprir a sua missão”.
Quatro homens altos e fortes pegaram Iracy e levaram-na para perto de uma Montanha
próxima, conhecida como a Serra de Sintra e juraram que não a abandonariam enquanto
ela não estivesse salva.
Todos os seres da Terra foram convocados para salvar Iracy da morte. Um velho
ermitão que passava os dias em longas e profundas meditações e que era tido como um
dos homens mais santos do lugar, também foi chamado para dar um conselho. Disse
ele: - “Num jardim que existe na cidade das Serpentes Sábias, existe uma árvore
milagrosa conhecida como a Árvore da Vida. É preciso retirar do seu tronco uma
fibra fina, porém resistente, que alí existe e com ela tecer 8 vestes. Quando as
vestes estiverem prontas, levem-nas aos seres que cuidam de Iracy, porque eles se
encarregarão de fazer o resto”.
Imediatamente foram enviados emissários à Cidade das Serpentes Sábias e retirada da
Árvore da Vida a fibra indicada pelo velho ermitão.
A fim de não perder tempo, cada dia uma das primas de Iracy fez uma veste, mas
faltava quem fizesse a oitava. Quem a faria? Havia uma certa dificuldade em se
encontrar alguém, porque além do mais, o ermitão recomendara que, para dar bom
resultado, essa oitava veste só deveria ser feita por uma moça que nunca tivesse
mentido.
Novamente os sábios se reuniram para resolver tão importante assunto e o mais velho
deles, que conhecia o mundo inteiro, lembrou-se de uma jovem chamada Lorenza, que
vivia em um país distante e que ele sabia nunca ter mentido em toda a sua vida.
Logo no dia seguinte, foram procurar Lorenza que, ao saber do motivo porque a
procuravam, prontificou-se a tecer a veste que faltava para completar as oito
pedidas pelo ermitão.
Uma vez prontas essas vestes, foram elas levadas aos guardiães de Iracy, que
pegaram 7 delas, pedindo que Lorenza ficasse com a sua na mão, até que fosse
chamada. Assim que os sacerdotes receberam as vestes, elas se transformaram em 7
lindos e fortes meninos, de cabelos encaracolados, que começaram a entoar
melodiosas canções. Iracy, que se achava deitada com os olhos fechados, como se
estivesse morta, pouco a pouco começou a abrir os olhos como quem desperta de um
longo sono. Nesse momento deram ordem para que Lorenza entrasse e vestisse em iracy
a roupa que ela fizera. Assim que a roupa foi vestida em Iracy, ela sentou-se na
cama e levantou-se. Estava completamente curada.
Algum tempo depois desse acontecimento, realizava-se o casamento de Hélio com
Iracy, dessa união nascendo um menino prodigioso, de rosto tão belo quanto o da
mãe, com cabelos louros e olhos verdes da cor das águas do mar.
Cumprira-se assim a missão de Iracy, que era a de ser mãe dessa criança. Esse
menino, quando cresceu, foi um grande Imperador. Tão sábio e justo era que todos os
povos da Terra seguiam os seus conselhos. Enquanto durou o seu longo governo, nunca
houve uma guerra entre as nações, porque para tudo ele arranjava uma solução, sem
necessidade de brigas. Todos os povos da Terra viviam felizes e contentes, porque a
primeira coisa que ele mandou fazer foi mandar prender aquele príncipe mau, aquele
de cara de bicho, que era o causador de todas as desgraças do mundo.
11. A Pombinha Sagrada
(Aula de 06/04/1952)

Vou contar hoje a história de uma pombinha encantada que vivia em um maravilhoso
lugar da terra e que salvou um Rei sábio e bom.
O nome desse Rei era Henrique e ele muito amado pelo seu povo. Acontece, porém, que
em um país vizinho ao seu, governava um outro rei cujo nome era Pluto. O Rei Pluto,
ao contrário do Rei Henrique, não era homem bom. Enquanto o Rei Henrique tudo fazia
para que o seu povo progredisse, o Rei Pluto tudo fazia para que o seu povo e os
povos das outras terras não progredissem, que ficassem ignorantes. Por isso, sempre
que podia o Rei Pluto procurava atacar o Rei Henrique.
Certa vez, esse rei mau vendo o progresso e a felicidade do povo vizinho, tomou um
avião e dirigiu-se para o país onde governava o Rei Henrique. Quando o avião
sobrevoava sobre o Palácio do Rei, ele jogou lá de cima uma caixa bem embrulhada em
papel. O Rei Henrique, percebendo que se tratava de uma armadilha para prejudicar
seus parentes e o próprio povo, não deixou que ninguém pegasse naquela misteriosa
caixa. Ele mesmo, o Rei, foi pessoalmente apanhá-la e queimou-a sem mesmo
desembrulhá-la. Desde esse dia porém, o Rei bom adoeceu e ninguém conseguia curá-
lo, nem descobrir a moléstia de que era vítima. Os médicos mais famosos da terra
foram chamados, mas nenhum era capaz de restituir a saúde daquele Rei.
Dia a dia o Rei piorava, e os seus filhos, pois ele os tinha e muitos, estavam
desesperados, sem saber o que fazer.
Uma tarde, estava o filho mais moço do Rei, chamado Heitor, muito triste, meditando
sobre o que podia fazer para minorar o sofrimento do pai quando sentiu que alguém
entrava no seu quarto. Voltou-se para a porta para ver quem era e eis que viu
diante de sí um homem muito idoso, trazendo na mão o bordão dos peregrinos, que
assim falou:
-Não fiques assim desesperado Heitor, sei um meio de curar o teu pai. Em um lugar
distante daqui, dentro de uma Montanha, existe um Santuário, ou melhor, uma cidade
encantada. Alí vive uma pombinha miraculosa que é capaz de tudo, até de restituir a
saúde ao teu pai.
- Que devo fazer para encontrar essa pombinha? - perguntou Heitor.
- Precisas, antes de tudo, ter muita coragem meu filho - disse o velhinho - Antes
de alcançares a Montanha onde vive essa avezinha, terás que enfrentar grandes
perigos. Um leão feroz procurará devorar-te, mas nõ deves ter medo. Tome este
violino e, quando a fera se aproximar de tí, toque uma música. Verás como o leõ
sairá correndo e te deixará em paz.
- Embora o momento não seja próprio para perguntas, porque tenho pressa em me
dirigir para o lugar onde mora a Pombinha, gostaria de saber porque o leão fugirá
de mim, só por eu executar uma música ao violino - disse Heitor.
- Fazes bem em perguntar - respondeu o velhinho - não devemos fazer as coisas sem
saber porque. Por isso vou te responder: não existe nenhum leão na terra que goste
do som do violino. Todos eles tem pavor desse som.
- Obrigado - disse Heitor - mas depois, quais são os outros obstáculos?
- Depois que te vires livre do leão - disse o ancião - passarás por uma floresta
habitada por mulheres muito belas, que procurarão fazer tudo para que não continues
o caminho. Elas te oferecerão muita coisa para comer e saborosos vinhos para beber.
Não dês, porém, ouvidos às suas palavras e nem aceites nada do que elas te
oferecerem. Siga sempre o teu caminho, sem olhar para elas.
- Assim o farei - disse Heitor - E depois, quando sair dessa floresta, encontrarei
a Montanha?
- Sim, depois disso verás surgir diante dos teus olhos uma maravilhosa Montanha. Lá
chegando, porém, vais encontrar ainda outro obstáculo. Duas serpentes surgirão à
tua frente, uma branca e uma negra. Elas são as guardiãs da entrada da Montanha e,
por isso, não vão te deixar entrar.
- Que farei então? - perguntou Heitor.
- Conversarás com elas.
- Eu, conversar com serpentes...? - disse Heitor muito espantado - Então as
serpentes falam?
- Naturalmente que falam, disse o velho, e eu vou ensinar-te a linguagem delas.
Dirás assim: “Ossi-Ossiá-Ossi”, e verás como elas se afastarão e deixarão você
passar. Arredarás então uma grande pedra que ali se encontra e entrarás no
Santuário.
- Agora - disse o velhinho - parta o quanto antes, se queres salvar o teu pai.
Logo na manhã seguinte, bem cedinho, Heitor chamou os seus irmãos e disse a eles o
que havia acontecido, e que dentro de algumas horas partiria em busca da Pombinha
milagrosa.
Dentro em pouco todos já sabiam do acontecido e algumas pessoas descrentes fizeram
caçoada de Heitor, não acreditando nas suas palavras. Aliás, entre os súditos do
Rei Henrique, não os seus parentes, pois estes o amavam muito e o respeitavam,
haviam alguns que, insuflados pelo Rei Pluto, embora que indiretamente, não davam
ao rei henrique o valor que ele de fato tinha, e pouco se incomodavam se o Rei
vivesse ou deixasse de viver.
No entanto, a vida do Rei Henrique era muito preciosa, não só porque ele era um bom
pai de família, como tambémporque, em virtude dos seus grandes poderes ocultos,
como a clarividência e a clariaudiência, por mais de uma vez ele salvara a vida do
seu povo, com o seu próprio sacrifício, como daquela vez em que apanhara caixa
caída do avião.
O Rei Henrique, além do mais, era o que se chama um Rei Divino, isto é, um Rei que
recebera de Deus a missão de zelar pelo seu povo. Quando ele foi coroado Rei, ele
prestou um juramento solene a Deus, o de defender o seu povo de todas as
perseguições do Rei Pluto e, coisa ainda mais importante, ele se comprometera
também a fazer todo o possível para que Pluto se regenerasse e deixasse aquela
mania de perseguir os povos que queriam evoluir e ser felizes.
Por essa razão é que o Rei Henrique não podia acabar com a vida de Pluto, embora
este muitas vezes tentasse tirar a vida do Rei Henrique. O que ele podia apenas,
era defender a sua terra e a sua gente e trabalhar no sentido de que Pluto se
tornasse também um Rei bom e estimado por todos.
Além daquele fato da caixa jogada do avião, e que continha venenos tão fortes que
faria morrer quem a pegasse, exceto o Rei Henrique, e foi por isso que ele fez
questão de apanhá-la, ficando, no entanto, doente, outras tentativas de
perversidade havia feito o Rei Pluto.
Uma ocasião estava o Rei Henrique conversando com os seus filhos, quando, de
repente, parando a conversa ele disse:
- Apressem-se meus filhos, e vão depressa ao cais do porto. É preciso que esse
carregamento não desembarque aqui, porque do contrário, estaremos todos perdidos.
Tratava-se de mais uma maldade do feroz inimigo. O carregamento a que se referia o
Rei Henrique eram uns caixotes enormes de cor preta, que vinham cheios de
micróbios, os mais terríveis, a fim de espalharem uma epidemia tremenda entre o
povo, causando a morte de muita gente.
Graças, no entanto aos poderes superiores do Rei Henrique, tamanha calamidade foi
evitada, porque os seus filhos, chegando a tempo no cais, evitaram que aqueles
caixotes caissem nas mãos de um bando que já estava à espera deles. Os filhos do
Rei conseguiram afastar os bandidos, dando-lhes um outro serviço, fazendo-se
naturalmente, passar por pessoas do próprio bando, e quando estavam sós,
apoderaram-se daquele carregamento e o lançaram ao fundo do mar.
No entanto, apesar da grande dedicação do Rei Henrique pelos seus súditos, salvando
a vida de milhares de famílias, muitos ainda criticavam o bondoso Rei e seus
filhos.
Heitor, porém, pouco se incomodou com a troça que dele faziam os indivíduos
ignorantes, e na mesma tarde seguiu a sua viagem.
Tal como o velhinho, que outro não era senão um desses seres bonsosos e sábios que
nós conhecemos pelo nome de Adeptos da Boa Lei, dissera, o primeiro obstáculo no
seu caminho foi o Leão feroz que procurou atacá-lo. Ele porém pegou o violino e
tocou uma música, cujo resultado foi o esperado; o Leão saiu correndo de perto de
Heitor e o deixou em paz. Um pouco mais adiante, Heitor penetrou em uma floresta
onde se achavam aquelas moças de que oAdepto falara. Seguindo os conselhos do
velhinho, Heitor não deu ouvidos às palavras daquelas criaturas e foi seguindo o
seu caminho. Quando chegou ao fim da floresta, viu então a Montanha que servia de
moradia à Pombinha Encantada. Dirigiu-se àquela direção mas, ao chegar ao sopé da
Montanha, duas Serpentes, uma branca e outra negra, quiseram saltar em cima dele.
Heitor lembrou-se daquelas palavras mágicas e disse em voz bem clara e em tom alto:
“Ossi-Ossiá-Ossí”. Era o mesmo que uma ordem. As serpentes abaixaram a cabeça e
deixaram Heitor passar, como quem pensa: - “Este rapaz conhece os nossos segredos e
a nossa linguagem e por isso, tem direito de penetrar nos nossos domínios”.
De fato, as palavras pronunciadas por Heitor queriam dizer: - “Saiam daqui, saiam!”
E as serpentes obedeceram.
Tal como dissera o Adepto, Heitor levantou a pedra e penetrou dentro da Montanha,
tendo o cuidado de, mesmo pelo lado de dentro, puxar a pedra, tapando assim a
entrada. Encontrou-se então em um compartimento dodo iluminado por uma brilhante
luz azul muito clara com reflexos prateados. A Pombinha Encantada alí estava,
pousada em um pedestal de prata. Embora heitor não conhecesse a linguagem dos
animais, a não ser aquelas palavras que o Adepto lhe ensinara para falar com as
cobras, quando ele entrou na Montanha, começou, como que por encanto, a entender
tudo quanto a Pomba lhe dizia no seu pipilar. Traduzido para a nossa linguagem
humana, eis o que a Pomba disse a Heitor: - “Benvindo seja, Heitor. Já sei o que
desejas de mim, e antes mesmo que chegasses aqui já fui ao Palácio do teu pai, o
bom Rei Henrique. Podes voltar para junto dele, pois os teus irmãos te esperam
ansiosos, para te contar a notícia do meu aparecimento no Palácio. De agora em
diante vocês vão entrar em uma nova fase de vida e a saúde do teu pai vai
melhorar”.
Heitor estava maravilhado com tal notícia e espantado, ele mesmo, de entender tão
bem a linguagem da Pomba.
Quis agradecer aquela simpática avezinha por aquela notícia tão alviçareira que ela
lhe dava, mas ficou mudo, sem saber como falaria. A Pombinha, porém, que era uma
Pombinha Encantada, leu no espaço o pensamento de Heitor, e disse: - “Nada tens a
agradecer, e diga aos teus irmãos que em breve mandarei a todos uma lembrança
minha”.
Depois disso, Heitor caiu em um sono profundo e não viu mais o que se passou.
Quando acordou, estava em uma cidade desconhecida para ele. Tratou então de saber o
caminho do Palácio onde morava e, depois de obter algumas informações, seguiu
viagem.
Quando chegou à sua terra, foi correndo para casa, onde os seus irmãos, aflitos, já
o esperavam, contando-lhe tudo que acontecera durante a sua ausência. Heitor
narrou-lhes também o que sucedera com ele, os obstáculos que vencera pra chegar à
Montanha Sagrada e a conversa que tiver com a Pomba.
De fato, depois da visita da Pomba, o Rei apresentou algumas melhoras e as pessoas
de sua família, principalmente os seus filhos, sentiram que estavam, eles mesmos,
diferentes, estavam mais inteligentes, compreendiam as coisas com mais clareza,
como se uma luz tivesse iluminado a mente deles.
Quatro dias depois da visita da Pomba, que era justamente o dia em que Heitor
chegara ao Palácio, estavam todos reunidos no grande salão, junto ao Rei, quando
viram entrar um homem muito pequenino, vom uma grande barba branca.
O homenzinho que outro não era senão um gnomo, ou um elemental da Terra; desses
seres que moram dentro das Montanhas e que cuidam das pedras preciosas e de todos
os metais que se encontram encrustrados nas Montanhas, dirigiu-se ao Rei e
depositou na sua mão um objeto, dizendo:
- “Eis um presente da Pombinha para os vossos filhos”. Em seguida desapareceu.
O Rei então abriu a mão e todos viram na sua palma um lindo ovinho branco. Era um
ovo da Pombinha Encantada.
- Eis o símbolo da Vida - disse o Rei aos seus filhos - Mandando este Ovo para
vocês, a Pombinha quis dizer que a minha Vida será mantida na Face da Terra, pois
dentro deste Ovo, como de todos os Ovos, existe o gérmen da Vida. Dentro de todos
os ovos existe isso que chamamos de Vida.
Percebendo porém o Rei que algumas pessoas não estavam compreendendo bem o que ele
queria dizer, deu um outro exemplo:
- Na Festa da Ressurreição de Cristo, conhecida como Páscoa, o que é que damos aos
nossos amigos de presente? Todos responderam: - Ovos de Páscoa!.
- Exatamente - disse o Rei - porque sendo a Páscoa a Festa do Renascimento,
portanto da volta de Jesus à Vida, nenhum outro presente melhor para significar
essa Vida do que Ovos, dentro dos quais se encontra o Princípio da Vida.
Depois desta explicação, todos compreenderam bem o significado do presente da linda
Pombinha Encantada, que foi guardado em um estojo de prata e colocado no Museu do
Palácio, juntamente com outras coisas preciosas que pertenciam ao Rei.

12. Notas sobre o Natal

Estamos às vésperas de uma grande festa que se chama NATAL. Que significa Natal?
Natal significa nascimento, e esta festa do Natal é a festa do nascimento de um Ser
que se chama Jesus ou Jeoshua Ben Pandira.
Quem foi Jesus? Era um menino igual aos outros? Não. Jesus era o que se chama uma
“criança privilegiada”, uma criança diferente das outras crianças, porque era Filho
de Deus. Digo “diferente”, porque Ele fazia muita coisa que o comum dos homens não
faz e que costumamos chamar de milagres. Mas não eram milagres que Jesus fazia,
porque milagre é uma coisa sobrenatural, ao passo que tudo que Ele fazia era uma
coisa natural, pois era um dom que Ele possuía, justamente por ser um “Ser
privilegiado”, ou um “Ser Divino”. Quando Jesus se tornou um homem, em virtude de
sua natureza divina, pôde curar doentes e ressuscitar mortos, apenas com o toque
das suas mãos e pelo poder da sua Palavra, pronunciando algumas frases que só Ele
conhecia.
Quando Ele estava para nascer, a sua Mãe, a Virgem-Maria, viu um Anjo descer do céu
e dizer-lhe que Deus A havia escolhido para ser a Mãe de uma criança Divina, e uma
criança Divina quer dizer, uma criança que é mandada por Deus. O Anjo que anunciou
à Virgem-Maria que Ela iria ser a Mãe dessa criança, chamava-se GABRIEL. Este Anjo
GABRIEL é o Anjo que acompanha as mulheres que, pelas suas virtudes, podem ser as
Mães de Seres Divinos, e assim, sempre que um Ser Divino está para nascer na Terra,
é o Anjo GABRIEL que anuncia o seu nascimento. Disse o Anjo que o seu filho seria
conhecido também pelo nome de EMANUEL, que significa “Deus Conosco”.
Ora, se é sempre esse Anjo que anuncia o nascimento de Seres Divinos, isso quer
dizer que, de quando em vez, um Ser Divino nasce na terra, e assim Jesus não foi o
único Ser Divino que habitou o mundo. Outros, antes dele, estiveram entre os
homens, procurando ensinar-lhes as Leis Divinas. Jesus foi o SÉTIMO FILHO DE DEUS
que desceu à Terra, e por isso é conhecido entre nós pelo nome de SÉTIMO BODISATWA,
isto é: Corpo Superior, e, superior dá a idéia de elevado, de Divino, e assim,
Bodisatwa pode também ser Corpo de Deus, Corpo da Divindade na Terra.
Mas será que Deus só manda os seus Filhos para cá e Ele mesmo nunca vem? Ele vem
sim, mas só depois dos seus Sete Filhos. Ora, se os Sete Filhos de Deus já vieram,
já moraram entre os habitantes do mundo, agora só falta vir o próprio Deus. O
nascimento de Jesus, ou o Sétimo Bodisatwa, foi há 1960 anos. Agora estamos nos
preparando para receber na Terra a Oitava Criança Divina e que será o próprio Deus
na Terra, com corpo, alma e espírito, e que será conhecido pelo nome de MAYTRÉIA. O
nascimento dessa criança chama-se também Avatara.
O Templo que nós, da Sociedade Teosófica Brasileira, construímos em São Lourenço, e
onde nos reunimos todos os anos em Fevereiro, é para receber essa Criança Divina ou
o Avatara Maytréia, ou ainda o Oitavo Filho de Deus. É, portanto, em honra a essa
Criança Divina, que existe o Templo de São Lourenço, que por sua vez, é também um
Oitavo Templo, como Oitavo é Maytréia; e como esse Templo foi inaugurado no mês de
FEVEREIRO, é em Fevereiro que festejamos esse acontecimento, como um novo
NASCIMENTO ou NATAL.
Templo - 24-21949.
Vejamos agora o que de mais importante existe atualmente no nosso Templo de São
Lourenço: A TAÇA, chamada a TAÇA DO GRAAL, e o que está dentro dessa Taça, antes de
vir para o nosso Templo, esteve em Sete Catedrais do Mundo: uma na Inglaterra,
outra na Bélgica, na Itália, no México, em Portugal, em Washington, nos Estados
Unidos da América do Norte, e, por último, na Catedral de Salvador, no Estado da
Bahia, no Brasil. Depois de permanecer nessas Sete Catedrais é que a Essência que
está na Taça do Graal veio para o nosso Templo em São Lourenço, que é o Oitavo
Templo, o Templo que vai receber a Oitava Criança Divina.
Assim, é preciso que nós amemos e respeitemos tudo quanto existe em nosso Templo da
Vila Canaã, porque tudo que ali se encontra é o resultado de um grande trabalho
feito por todas as Criaturas Divinas, por todos os Seres que antecederam a Jesus,
como Filhos de Deus que eram, por todos esses Seres sublimes que só vêm ao mundo
para ajudar a humanidade a se elevar até Deus, para que a humanidade se torne boa e
que todos se amem e se respeitem como irmãos que são. Por isso que no Museu do
Templo, vemos tantas coisas, como a imagem de um Buda, duas imagens: uma de Jesus e
outra de Maria e muitas e muitas outras coisas que um dia também vamos estudar,
para que vocês compreendam melhor porque elas estão alí, no Museu, como coisas do
passado, porque é nos Museus que se guardam as coisas que ficaram para trás, mas
que tem um imenso valor, porque é o trabalho de Criaturas Excelsas que nos ajudaram
a chegar até o presente, até os dias de hoje, até o Oitavo Templo, que é o nosso,
que abrigará a Oitava Criança Divina que se chamará MAYTRÉIA.
E referindo-nos à Oitava Criança Divina, é que nós cantamos no Mantran Búdico:
“Glória ao Buda em nosso Templo
Amitaba sai do Lôto que te encerra,
Nós, os Filhos de Brahmã,
Te trouxemos para a Terra”.
Este é um nome usado para qualificar um Oitavo Ser. Um Buda é sempre o resultado de
Sete Seres. É o fecho, é o fim de um determinado trabalho, que só se torna
completo, só está pronto, quando chega o Oitavo.
Amitaba é o mesmo Maytréia que, por enquanto está encerrado, está guardado em uma
certa região da Terra, chamada a Cidade das Águas Azuis e que no Mantran dá-se o
nome de Lôto, que é uma Flor Sagrada. Os Filhos de Brahmã somos nós, os discípulos
que, devidamente preparados, pelo nosso Mestre (Quem é o nosso Mestre?) concorremos
para que Ele, o Oitavo Filho de Deus venha à Terra e possa viver entre os homens,
para que a paz e a felicidade volte novamente a reinar no mundo. Mas, quando é que
Ele aparecerá entre os homens? Será já, já? Não! Isso ainda levará algum tempo. e,
provavelmente Ele será conhecido de nós antes que o resto do mundo o conheça. Essa
é a razão porque devemos nos preparar muito para esse acontecimento. Porque nós só
poderemos vê-lo quando estivermos bem preparados, quando formos muito bons e muito
sábios. Precisamos por isso, estudar e respeitar tudo quanto está no Templo, porque
o Templo será a casa dEle. É lá que nos encontraremos com Ele, quando chegar o
momento.
Mas, voltemos à história de Jeoshua, que é um meio de compreendermos também a
história do próprio Maytréia, que é, por assim dizer, a Chave de Oiro do grande
trabalho iniciado por outros Seres Divinos, cujo último foi Jesus.
Dizem que Jesus nasceu em uma estrebaria ou presépio, mas essa é uma maneira de se
dizer as coisas. Jesus nasceu naquela mesma cidade das “Águas Azuis”, uma cidade
afastada, protegido, onde só vivem criaturas perfeitas e que é o lugar onde sempre
nascem os Filhos de Deus, que também são sempre descendentes de reis, como foi
Jesus, que descendia do Rei David, um poderoso e sábio monarca, que era parente da
Virgem-Maria. Chama-se também ao presépio de APTA, que é o lugar onde se encontra a
Divindade na Terra. Assim, a estrebaria com a vaquinha e os carneirinhos, é o que
se chama um simbolismo ou uma representação de uma idéia, como veremos a seguir.
Por exemplo, a Vaca é um simbolismo ou uma representação da PALAVRA DE DEUS. Numa
língua chamada sânscrito, dá-se o nome de Vâch ao Som Divino ou à Palavra de Deus,
daí colocar-se uma Vaca no Presépio para dizer que a Palavra Divina está sempre com
Aquele que é o Filho de Deus. Isso quer dizer que onde está o FILHO DE DEUS está
também a VOZ DE DEUS, essa Voz que ensina que devemos ser bons, que devemos ser
estudiosos, que devemos ajudar uns aos outros, para que todo o mundo se torne igual
aqueles seres superiores, aqueles seres perfeitos que moram na Cidade das Águas
Azuis.
Quanto aos carneirinhos, representam eles uns outros seres que chamamos de Yokanans
ou Anunciadores. Os Yokanans nascem um pouco antes da Criança Divina e são Eles que
anunciam ao mundo o aparecimento dessa Criança Divina.
Não devemos cunfundir o Anjo Gabriel com os Yokanans. O Anjo Gabriel anuncia o
nascimento à Mãe, apenas, enquanto que os Yokanans anunciam a todo o mundo. O
Yokanan que anunciou a vinda de Jesus, dizia: - “Depois de mim vem Aquele que é
mais poderoso do que eu, diante do qual não sou digno de abaixar-me para desatar a
correia das sandálias. Eu vos batizei com água, mas Ele voz batizará com o Espírito
Santo”. - Com essas palavras, João Batista queria dizer que ele, João Batista,
usava para o batismo a água da terra, enquanto que Jesus batizaria ou consagraria
os homens com o elemento do céu, que é o Espírito Santo. João Batista, ou São João,
como é mais conhecido, é um Ser muito familiar a vocês, porque é no seu dia, 24 de
junho, que se armam as fogueiras, que vocês soltam balões e queimam estrelinhas,
rodinhas, chuveiros e outras coisas bonitas.
E a Estrela? Repararam vocês na Estrela que sempre aparece junto ao Presépio?
Lembram-se da “Estrela de Ricardo”? Onde morava o Anjo da Guarda de Ricardo? Pois
bem, se cada um de nós tem uma estrela, é muito natural que Jesus também tivesse a
sua Estrela, bem grande, um cometa com uma linda cauda, como vocês estão vendo.
No dia em que Jesus nasceu, aquela linda Estrela tornou-se visível aos homens da
Terra, como um sinal do nascimento da Criança Divina. Era o aviso que Deus mandava
aos homens para mostrar que o seu Filho havia nascido. Os primeiros que viram a
Estrela foram uns pastores que estavam no campo vigiando seus rebanhos. Depois,
foram os Reis Magos, Três Sábios muito estudiosos e que conhecem muito bem as
coisas do céu. Conhecendo todas as estrelas, viram logo que aquela Estrela era
diferente das outras, era uma nova estrela que ainda não aparecera no céu antes, e
por isso perceberam que um Ser Divino acabara de nascer e trataram de saber onde se
encontrava esse Ser, para adorá-lo, levando-lhe presentes. Um levou ouro, outro
levou incenso e o outro levou mirra.
Sempre que alguma coisa extraordinária acontece na Terra, como foi o nascimento de
Jesus, há um sinal no céu. Por isso, quando nasceu Aquele que, na Sociedade
chamamos de Professor, porque é Ele quem nos ensina todas essas coisas bonitas,
houve também uma grande CHUVA DE ESTRELAS, fato esse que foi visto por muita gente
e os jornais da época trazem essa notícia. Muitos sinais no céu nós ainda havemos
de ver, porque cada vez mais nos aproximamos do grande dia da vinda de Maytréia, ou
Avatara de Aquário, como também se chama.
Como disse no princípio, o Anjo Gabriel é que está sempre junto das criaturas puras
e boas que são as Mães das Crianças Divinas, e por isso na história de nossa Obra,
aparece também uma criatura muito bondosa chamada Dhiani Gabriel, como se fosse
aquele mesmo Anjo em forma humana, que ensinou música e pintura à Mãe de Maytréia,
a qual se chama ALLAMIRAH. Um homem muito evoluído, um grande Adepto, como nós
dizemos, certa vez mandou-nos uma mensagem dizendo que Allamirah era a maior de
todas as Marias. Agora que sabemos que Allamirah é a Mãe de Maytréia, podemos
compreender porque aquele Ser, a quem muito respeitamos, disse isso. De fato, a Mãe
da Oitava Criança Divina, que é a maior, a mais elevada de todas as outras que
vieram antes dela, tem que ser também a maior de todas as Mães. Podemos dizer que
Ela é a Mãe das Mães. E podemos dizer também que a nossa Mãe Espiritual é
ALLAMIRAH.
Agora vocês já sabem que o Templo de São Lourenço existe para acolher Maytréia, e é
Ele o Oitavo Templo do Mundo que guarda todo o mistério, todo o trabalho de muitos
e muitos milênios, dos grandes Seres que sempre são mandados por Deus para ajudar
os homens. Em um belo quadro que se encontra no Museu do Templo, podemos ver a
história desse grande movimento através dos séculos, até chegar aos nossos dias.
Vocês é que serão os companheiros dessa Oitava Criança Divina, por isso devem ir,
desde já, pensando muito nele, procurando vê-lo assim como se apresenta nesta
figura. Todas as noites, ao deitar e pela manhã ao levantar, devem imaginar que
estão vendo esta linda criança. Fazendo isso, sabem vocês o que acontece? Ele, do
lugar onde se encontra, ainda naquela Cidade Encantada das Águas Azuis, vai
sentindo que vocês estão pensando nEle e como Ele é todo-poderoso, Ele pode ver
vocês como se estivesse ao seu lado e fica assim conhecendo a todos, tão bem como
se vivesse entre vocês. Desse modo, quando Ele de fato vier para junto de vocês,
conhecerá a todos, sem exceção.
É bom mesmo que vocês pensem diariamente nEle, porque quando vocês forem ao Templo
de São Lourenço, estarão ainda mais perto e Ele ficará satisfeito quando vir que
estão se interessando por Ele e que querem ser os seus companheiros de trabalho,
quando forem crescidos.

13. Os Reis Magos

Vimos, na aula anterior, que Três Reis Magos vieram homenagear o Menino-Deus que
acabara de nascer. Vamos ver agora, meus amiguinhos, quem são estes Três
Personagens que sempre aparecem quando o Menino-Deus vem à Terra. Sim, porque vocês
já sabem que o Menino-Deus já tem nascido várias vezes.
Para começar vocês precisam saber que a Terra é povoada por quatro classes ou
categorias de seres, que se chamam “Hierarquias”. A palavra “hierarquia” se compõe
em hierós, que significa sagrado e arché que significa comando. Assim, hierarquia
quer dizer comando sagrado ou comando divino. Os chefes dessas hierarquias é que
ajudam os homens da terra; são eles que os amparam, que lhes dão conselhos, que os
livram, enfim, de grandes perigos. Quem são os chefes dessas hierarquias? São Reis,
são eles os Reis Divinos. Não devemos, porém, confundir esses Reis Divinos com os
reis terrestres, esses que são conhecidos como reis, como por exemplo, da Suécia,
do Egito, da Dinamarca ou de qualquer outro país. Estes últimos são reis terrestres
enquanto que os outros são Reis Divinos, porque são enviados por Deus.
Quatro são as hierarquias que trabalham na Terra e os seus nomes são: Kumaras, a
primeira; Agnisvatas, a segunda; Barishads, a terceira e Jivas, a quarta.
Acontece que as três primeiras hierarquias que são as dos Kumaras, Agnisvatas e
Barishads, já terminaram o seu período de evolução, isto é, já terminaram os seus
estudos e nada mais tem a aprender, por isso já tem o direito de ter o seu Rei.
Isso significa que existem na Terra 3 Grandes Reis, que outros não são senão os
Três Reis Magos.
Quem é então o Quarto Rei, o Rei da Hierarquia dos Jivas? O Rei dos Jivas ainda
está em formação, porque a Hierarquia dos Jivas ainda não completou o seu curso na
grande Escola da Terra. Os Jivas são essa humanidade que nós conhecemos, onde ainda
há gente ruím misturada com gente boa, porque não aprenderam direito a lição que os
outros lhes ensinaram. Somente quando todos os homens, isto é, todos os Jivas
estiverem mais ou menos equilibrados, quando aprenderem bem a lição, é que o Rei
dos Jivas poderá vir e ficar definitivamente entre os homens.Enquanto isso não
acontecer, o Rei dos Jivas só vem de vez em quando; e a isso é que se dá o nome de
Avatara. Ele virá tantas vezes quantas forem necessárias para ajudar os homens,
porém, não pode ainda ficar entre eles. Ele vem e volta até o grande dia da sua
vinda definitiva.
Ora, quando Cristo nasceu, porque Cristo é o Rei dos Jivas, como também o foi Buda,
os outros Três Reis, das outras hierarquias, vieram homenegeá-lo. Eles sempre
aparecem quando o seu Quarto Irmão vem à Terra. É uma homenagem que eles tributam
ao Rei dos Jivas.
Assim vocês ficam sabendo que Buda, Cristo e agora Maytréia, são uma única coisa.
De acordo com a época em que nasceu, tomam um nome diferente, mas de fato são
sempre a mesma pessoa.
Quem é portanto Maytréia? Ele é o Rei das Hierarquias? Por que não pode Ele ficar
já entre os homens e só de quando em vez pode vir à Terra por um período pequeno?
Quem sabe quais foram os presentes que os Reis Magos trouxeram para Jesus?
O primeiro deu-lhe OIRO, o segundo INCENSO e o terceiro MIRRA. Oiro representa o
Poder da terra, Incenso a Sabedora e Mirra a Imortalidade. Com isso, os Reis Magos
traziam os seus votos de que o Menino Privilegiado que acabara de nascer fosse
poderoso, sábio e conquistasse a imortalidade, isto é, ficasse sempre na mente e no
coração de todos os homens da terra, como aliás aconteceu. De fato, isso se
cumpriu, porque o Menino-Deus ou Jesus, foi um sábio. Pequenino ainda, com sete
anos de idade, apenas, ele discutia com os doutores e todos ficavam assombrados com
a sua inteligência. Mais tarde, quando se tornou um homem, mostrou que era poderoso
como um Deus, pois curava doentes e ressuscitava mortos e, depois, quando teve que
desaparecer da Terra, tornou-se um ser imortal, pois todos até hoje se lembram
dEle, da sua bondade e da sua sabedoria. Ele ainda vive no coração de todos os
homens bons.
Ora, aproxima-se agora o tempo em que Ele vai novamente viver entre os homens,
desta vez com o nome de Maytréia-Buda. Há muitos e muitos anos, seres de alta
espiritualidade, seres perfeitos, seres que fazem parte daquelas hierarquias que
tudo sabem, porque aprenderam bem a lição que a Terra lhes ensinou, trabalham para
a vinda de Maytréia. Um dos Seres que mais trabalhou para isso é aquele que nós
chamamos de O Mestre, ou o nosso Professor; por essa razão, de terras muito
distantes da nossa vieram também, certa vez, três personagens muito importantes
trazer-lhe três Grandes Presentes.
Um veio do Tibet, outro do Egito e o terceiro da América do Norte. O que veio do
Tibet trouxe uma pequena frasqueira contendo um precioso líquido preparado com
plantas da Agartha; o que veio do Egito trouxe um livro muito lindo e grande e o
que veio da América do Norte trouxe uma chave - a Chave de Púskara.
Grandes dificuldades tiveram que passar esses Três Excelsos Seres para poderem
chegar até o Brasil. Por mais de uma vez foram atacados por ladrões, que quiseram
roubar-lhes os objetos. Se não fosse a inteligência deles, teriam morrido, mas
conseguiram escapar e chegar aqui, sabe Deus como.
Esses presentes foram entregues ao nosso Mestre por dois motivos: Primeiro porque,
como disse, Ele foi o Ser que mais trabalhou para a vinda de Maytrëia; segundo,
porque esses objetos, todos eles vindos da Agartha, daquela Cidade Maravilhosa que
existe no interior da Terra, trouxeram para nós, os discípulos, vibrações muito
boas que nos ajudaram a tornar-nos melhores e mais inteligentes. Por exemplo, a
Chave de Púskara, além de ter servido para abrir Dois Grandes Templos onde vivem
criaturas muito importantes, trouxe aquelas boas vibrações da Agartha, tendo mesmo
o nosso Mestre tocado com Ela a fronte de todos os irmãos. As suas vibrações são
tão poderosas que, certa vez, quando o Professor em um ritual abençoava o mundo com
Ela, uma jovem que havia morrido e que ia ser enterrada, ressuscitou e batendo com
força no caixão em que se encontrava, fez parar o enterro e voltou novamente a
viver. Por esse fato, vocês podem calcular o poder benéfico dessa famosa Chave, que
não é uma Chave comum, mas cujo feitio é mais ou menos esse:

O Licor serviu para os Irmãos realizarem o que se chama Ritual Eucarístico. Cada um
tomava apenas uma gotinha em uma taça de água abençoada pelo Mestre, e esse Ritual
teve a propriedade de fazer com que ficássemos mais perto de nossos Anjos da
Guarda. Depois que se inaugurou o nosso Templo de São Lourenço e que para ele foi
levada a Taça do Graal, não mais houve necessidade daquele Ritual Eucarístico.
Sabem vocês o que aconteceu ao Licor? Foi secando sozinho e se transformou em um
pequeno coração, como ainda se pode ver no Museu do Templo, onde se encontra a
frasqueira. Aliás, esse Licor era mesmo um Licor Encantado, como todas as coisas
procedentes da Agartha, porque quando Ele era usado, nunca diminuía. Por mais que
se tirasse, Ele sempre ficava no mesmo lugar.
Quanto ao Livro, a história que ele contava tinha muito a ver com grandes
navegadores que também muito auxiliaram os Seres da Fraternidade Branca para que a
Obra se firmasse no Brasil; e a prova disso é que todas as palavras, inclusive
nomes de pessoas e cidades que se relacionam com a nossa história, foram grifadas a
lápis roxo.
Na vida de Buda há uma passagem muito interessante que nos fala dessas quatro
hierarquias que trabalham no mundo. Contam que certa vez, quando Buda meditava,
apareceram-lhe quatro gênios trazendo-lhe quatro Taças de Safira, as quais Ele
rejeitou; então os quatro gênios trouxeram-lhe outras Taças, desta vez não de
safira, que é uma espécie de pedra Azul, mas de uma pedra negra, e então Buda,
movido de compaixão As aceitou e, colocando uma dentro da outra, ordenou que se
tornssem Uma Só. E as quatro Taças se fundiram, tornando-se apenas Uma, vendo-se
porém quatro bordas bem distintas. (Nesse Cálice Buda aceitou alimento e, havendo
provado o que nEle continha, rendeu graças).
O fato de Buda ter recusado alimento nos cálices de safira e tê-lo aceito nos de
pedra negra, significa que os homens da terra, os Jivas, simbolizados na lenda pela
pedra negra, por não serem ainda perfeitos, é que devem pelo seu próprio esforço se
redimirem de todos os seus pecados, tornando-se perfeitos quanto seus outros irmãos
já redimidos, e então trabalharem em conjunto as quatro hierarquias, para a
felicidade de todos. Se o Buda tivesse aceito o alimento nos cálices de safira, a
felicidade seria apenas dEle, Buda, e para que Maytréia-Buda venha surgir e viver
no Brasil, Ele fez questão de mostrar que só poderia gozar dessa felicidade quando
os Jivas (os da pedra negra) se tornassem iguais às outras hierarquias.
Vemos, assim, que 4 é o número da Terra, e que o Rei da Terra chama-se Buda, Cristo
ou Maytréia; é sempre o Quarto Rei, por isso o seu planeta é Júpiter, que tem o
feitio de um 4.
14. O Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda

Há muito e muitos anos, o país que hoje conhecemos como Inglaterra, era conhecido
pelo nome de o Reino de Logres, sendo a sua Capital Camalot. Eram os seus soberanos
o Rei Arthur e a Rainha Genoveva.
Durante o reinado do Rei Arthur, coisas extraordinárias aconteceram no Reino de
Logres, pois ele fora avisado de que os Cavaleiros da sua côrte iriam ser
incumbidos de descobrir o lugar onde se achava a Taça do Graal, o Santo Graal, como
se diz. Para isso devia ele reunir os seus melhores Cavaleiros, os mais sábios e
valentes e organizar o que se chama uma Ordem, cuja única finalidade seria a
conquista do Santo Graal.
O Santo Graal é a Taça onde dois grandes amigos de Jeoshua Ben-Pandira, chamados
José de Arimatéria e Nicodemus, recolheram o sangue que jorrou do peito de Jesus,
na cruz, no Gólgota. Essa Taça de Ouro foi então guardada pelos Adeptos da Boa Lei,
em uma dessas Regiões Sagradas que existem no mundo e que só as pessoas que se
distinguissem pela sua inteligência e pelos seus dotes de caráter, poderiam ver.
Isso quer dizer que somente os Iniciados ou Adeptos tinham conhecimento dessa Santa
Relíquia e podiam, quando chegasse o momento, ir até onde Ela se encontrava.
Assim, o Rei Arthur reuniu toda a sua côrte e escolheu os Cavaleiros que deviam
fazer parte da Ordem, à qual deu o nome de Távola Redonda, porque ao se reunirem, o
faziam sentados à volta de uma mesa redonda. Era uma mesa enorme, pois ao seu redor
foram colocadas mais de cem cadeiras.
No dia em que o Rei Arthur reuniu os seus Cavaleiros para fundar a Ordem, notou que
por cima de cada cadeira ia aparecendo o nome de um Cavaleiro escrito em letras de
ouro. Todas as cadeiras tinham os seus nomes, com exceção de uma, sobre a qual não
havia aparecido nome algum. Cada vez que os Cavaleiros se reuniam na Távola
Redonda, esperavam sempre encontrar por cima da cadeira vazia, o nome do seu dono,
porém muitos anos se passaram antes que isso acontecesse. O Rei Arthur nada podia
fazer nesse sentido, ele não podia escolher por sua vontade um Cavaleiro para
aquela cadeira pois os cavaleiros eram escolhidos pela Lei, de modo que não havia
outro remédio senão esperar.
Entre os Cavaleiros, havia um que se distinguia pela sua bravura. Chamava-se
Lancelot do Lago e tinha um filho de nome GALAAZ, o qual foi criado em um mosteiro
e o pai recomendara aos seus professores que o preparassem para ser também um
Cavaleiro. O seu mestre era um velho ermitão que seguia rigorosamente os conselhos
de Lancelot quanto à educação de Galaaz e assim o menino recebeu uma educação
primorosa. Além disso, Galaaz era dotado dos mais puros sentimentos e possuía uma
inteligência fora do comum, causando admiração a quantos com ele conviviam.
Quando Galaaz completou a idade de 18 anos, que é a idade em que os jovens podiam
receber o título de Cavaleiro, uma jovem no mosteiro em que ele foi criado, foi ao
Castelo do Rei Arthur procurar Lancelot do Lago e convidá-lo para vir armar
Cavaleiro o seu filho.
Ao chegar ao mosteiro que ficava no meio de uma floresta, Lancelot foi introduzido
em um grande salão e pouco depois nele entrava a Abadessa, trazendo consigo Galaaz,
vinha acompanhada por quatro jovens.
Havia muito tempo que Lancelot não via seu filho, em virtude das ocupações que
tinha e que o obrigavam a constantes viagens, de modo que ficou maravilhado com o
semblante de Galaaz e com o seu porte de perfeito Cavaleiro, embora ainda não o
fosse.
A Abadessa cumprimentou Lancelot e depois disse: - Somente vós podereis armar o
vosso filho, ninguém mais é digno de tal coisa.
Então, Lancelot dirigindo-se ao seu filho perguntou:
- Galaaz, queres ser um Cavaleiro?
- Não há nada no mundo que eu mais deseje - respondeu o jovem - e, principalmente
receber tamanha honraria das vossas próprias mãos, pois só tenho ouvidoselogios a
vosso respeito e não há quem conheça a vossa lealdade e nobreza. A minha maior
aspiração é ser bom e leal cavaleiro, como vós o sois.
- Filho - disse Lancelot - se isso vos alegra, vos farei Cavaleiro e que Deus o
faça tão bom Cavaleiro quanto formoso sois.
Então Galaaz colocou-se diante de seu pai, com um joelho em terra, e por ele foi
consagrado Cavaleiro.
O Mestre de Galaaz, o velho ermitão que o educara, assistia comovido aquela
cerimônia simples, mas de grande valor, e não se contendo, exclamou em alta voz: -
Galaaz será o melhor Cavaleiro do mundo!
Depois disso, Lancelot teve que regressar ao Castelo do Rei Arthur, mas pediu a
Galaaz que fosse lá no dia seguinte, pois queria apresentá-lo ao Rei, à Rainha e a
toda a côrte.
O dia seguinte era dia de Pentecostes; nesse dia, todos os anos, acontecia sempre
alguma coisa extraordinária no Castelo. Logo pela manhã, Lancelot e mais dois
companheiros foram ao salão onde havia a célebre mesa redonda e qual não foi o seu
espanto quando viram escrito por sobre a cadeira sem dono, em letra de fogo, o
seguinte: “Hoje, dia de Pentecostes, 453 anos depois da morte de Jesus Cristo, esta
cadeira será ocupada pelo seu verdadeiro dono”. Ao verem isso, os três Cavaleiros
cobriram a cadeira com o manto de seda vermelha e nada disseram a ninguém, pois que
sabiam que há coisas que não se deve comentar.
O Rei e a Rainha tinham ido à missa e ao voltarem da Igreja dirigiram-se para a
sala de refeições, onde já se encontrava um grande número de Cavaleiros.
Nos dias de grandes festas religiosas, o Rei não gostava de comer antes que algum
acontecimento maravilhoso tivesse lugar. Um dos seus mordomos, chamado Keia, que
sabia desse costume real, lembrou ao Rei que sendo Dia de Pentecostes, não tardaria
a suceder alguma coisa maravilhosa.
- É verdade - disse o Rei Arthur - assim tem sempre acontecido durante o meu
reinado e assim acontecerá enquanto vivo for. Pelas grandes maravilhas que sucedem
na minha côrte sou conhecido como “O Rei Venturoso”.
Ainda bem o soberano não havia terminado e falar, quando entrou no salão um
escudeiro que, dirigindo-se ao Rei, assim falou:
- Senhor, eu vos trago a notícia mais maravilhosa desses últimos tempos!
- E qual é? - perguntou o Rei, ansioso por saber da nova.
- No rio que corre próximo ao castelo - disse o escudeiro - apareceu um bloco de
pedra, boiando como se fosse um pedaço de madeira. Nesse bloco de pedra está
fincada uma espada, e no ar, suspensa, a bainha dessa espada. Vários cavaleiros se
encontram lá, apreciando tamanha maravilha.
Imediatamente o Rei e todos os presentes se dirigiram para o lugar indicado pelo
escudeiro e, lá chegando, verificaram com os seus próprios olhos tudo quanto o
escudeiro narrara.
- Qual de vós - perguntou o Rei, dirigindo-se aos Cavaleiros - ousa retirar essa
espada misteriosa do bloco de pedra? Quem o conseguir, não só terá o direito de
guardar para sí a espada, como será considerado o melhor cavaleiro do mundo.
O silêncio era completo, ninguém ousava responder, pois a empresa não era tão fácil
assim como parecia à primeira vista.
- Nem vós, Lancelot - perguntou o Rei - vós que sois o melhor Cavaleiro da Távola
Redonda?
- Até agora fui o melhor Cavaleiro, mas de hoje em diante essa glória passará a
outro - respondeu Lancelot respeitosamente.
Os cavaleiros ficaram surpreendidos com as palavras de Lancelot, pois não havia na
côrte melhor Cavaleiro do que ele.
- Ignoro quem o seja - disse o Rei - até hoje não vi ninguém que fosse mais valente
do que vós e por isso acho que deveis experimentar.
- Não me sinto digno de pegar nessa espada - retrucou Lancelot.
O Rei Arthur, vendo que Lancelot não queria de modo algum fazer a tentativa,
ordenou a um sobrinho seu, de nome Galvão, que o fizesse.
- Vou tentar - disse Galvão - apenas para cumprir as vossas ordens, mas de antemão
sei que nada conseguirei, pois se Lancelot acha que não o pode, como poderei eu que
lhe sou inferior?
- Não importa - disse o Rei - faça porque assim o quero.
Galvão aproximou-se então da pedra e usando de toda a sua força, tentou retirar a
espada, mas em vão, a espada nem se mexeu.
- Como podes ver, senhor - disse Galvão - não sou digno de possuir esta espada.
Diante disso o Rei Arthur resolveu então esperar a chegada do Cavaleiro a que,
discretamente, se referia Lancelot do Lago, e voltou para o castelo, acompanhado
pelos Cavaleiros e esposas.
Nessa mesma tarde, quando os Cavaleiros e o Rei Arthur se reuniram na célebre Mesa
Redonda, todas as cadeiras estavam ocupadas pelos seus donos, o que nem sempre
acontecia, pois algumas vezes os Cavaleiros estavam em viagem e não podiam
comparecer. Naquele dia, porém, que era um dia importante por ser a Festa de
Pentecostes, todos ali estavam, com exceção, naturalmente, daquele Cavaleiro cujo
nome ainda não aparecera por cima da cadeira.
Um dos Cavaleiros lamentou que aquela cadeira ainda estivesse vazia, mas o Rei
Arthur ouvindo isso e lembrando-se do acontecimento da manhã, da espada que
aparecera no bloco de pedra, apressou-se a dizer:
- Tenho para mim que hoje aparecerá o dono desta cadeira.
O Rei nem bem havia terminado de falar e eis que todas as portas e janelas do
palácio se fecharam e um raio de luz fortíssima penetrou no salão, iluminando-o
totalmente. Os presentes olhavam uns para os outros, admirados diante de tamanha
maravilha e a surpresa era tão grande que não puderam pronunciar sequer uma
palavra. Todos estavam como que presos nos seus lugares sem poder levantar-se.
Apenas Lancelot e os seus companheiros, que na manhã daquele dia tinham visto o
aviso por cima da cadeira, sabiam que se aproximava o momento da chegada do
Cavaleiro esperado. De fato, alguns minutos depois viram no salão um jovem com um
colete de malha de metal e tendo nos braços uma proteção também de metal, como era
uso naqueles tempos. Na cabeça trazia um elmo (capacete de metal) onde se viam dois
escudos, um de cada lado, vermelhos. Atrás do jovem cavaleiro vinha um velhor
ermitão, que trazia sobre os ombros um manto, onde se via um escudo também
vermelho, igual ao que o rapaz trazia no elmo.
Ninguém podia entender por onde entrara o jovem, que outro não era senão Galaaz, o
filho de Lancelot do Lago, pois as portas e janelas estavam hermeticamente fechadas
e não se abriram para dar passagem ao rapaz. Ele aparecera ali como que por
encanto. Quanto ao ermitão que o acompanhava, não se deu o mesmo, todos o viram
entrar pela porta do grande salão.
Assim que Galaaz chegou ao centro do salão, disse em voz alta: - A Paz seja
convosco!
O ermitão adiantou-se e, chegando perto do Rei, falou:
- Eu lhe trago Galaaz, o Cavaleiro esperado, aquele que descende do Rei Davi e de
José de Arimatéia, a fim de dar início às aventuras que tem por fim a conquista do
Santo Graal.
Muito contente ficou o Rei com essa notícia e respondeu:
- Bendito seja o Cavaleiro que descende de tão alta linhagem!
- Senhor - disse o ermitão - em breve vereis a confirmação das minhas palavras.
De fato, alguns instantes depois o nome de Galaaz aparecia em letras de fogo, por
cima daquela cadeira vazia.
O ermitão colocou então sobre os ombros de Galaaz, uma capa de seda vermelha e o
mancebo sentou-se na cadeira que lhe pertencia.
Recuperando novamente a fala, os demais Cavaleiros, de pé, saudaram Galaaz.
O Rei Arthur então lembrou-se daquela cena da manhã e das palavras de Lancelot,
dizendo que a espada pertencia a outro Cavaleiro que, de posse dela, seria de fato
o melhor Cavaleiro do mundo e assim, na manhã seguinte convidou Galaaz para ir às
margens do rio para retirar a espada do bloco de pedra.
Lá chegando, na presença de toda a côrte, Galaaz sem fazer o menor esforço, com a
maior facilidade, pegou no punho da espada e retirou-a. Depois enfiou-a na bainha e
colocou-a na sua cintura.
-Agora - disse Galaaz ao Rei - já tenho a espada, mas ainda me falta o escudo.
- Amigo - disse o Rei - se Deus vos concedeu a espada, não tardará muito a vos
enviar o escudo.
Depois desses acontecimentos, ordenou o Rei que os Cavaleiros se reunissem no Campo
de Camalaot para um torneio, a fim de comemorar o fato de estar completo o número
de Cavaleiros da Távola Redonda.
Um grande acontecimento porém ainda estava reservado para aquele dia, como vocês
vão ver.
A noite, quando os Cavaleiros estavam reunidos no salão, eis que de repente ouviu-
se o ribombar de um trovão, tão forte, que fez estremecer o castelo. E novamente,
como acontecera na véspera, uma grande claridade inundou o salão e todos quantos
alí estavam foram banhados pela Luz do Espírito Santo. Uns olhavam para os outros
muito espantados, porque as suas fisionomias tinham-se transformado; estavam todos
muito formosos e bastante diferentes do que realmente eram. Enquanto isso
acontecia, viram entrar pelo ar, coberto por um veludo branco, a Taça do Santo
Graal. No mesmo momento, sentiu-se um perfume muito suave que se espalhou por todo
o salão. A Taça do Santo Graal rodeou a Mesa e depois desapareceu, da mesma maneira
como aparecera, sem que se visse como nem por onde.
Os Cavaleiros estavam maravilhados, principalmente o Rei Arthur, pois ele era o
primeiro Rei de Logres que tivera a felicidade de ver a sua côrte honrada com tão
excelsa presença, como era a do Santo Graal.
- Tudo isso está acontecendo - disse ele - porque agora se encontra entre nós o
melhor Cavaleiro do Mundo, que é Galaaz. Deus provou agora que vós sois o Cavaleiro
do Graal e que a Taça que contém o sangue de Jesus Cristo será encontrada por vós.
Como me sinto feliz Por sso ter acontecido durante o meu reinado. Amanhã mesmo
poderei partir à procura do Santo Tesouro.
De fato, na manhã seguinte os Cavaleiros iniciaram a Demanda do Santo Graal. Muitas
aventuras sucederam a eles antes que conseguissem encontrar o Santo Graal, mas
isso ficará para outras aulas, inclusive a história que conta como Galaaz, o
Cavaleiro puro, o Cavaleiro sem mácula, recebeu o escudo que lhe pertencia.

15. A Estrela de Ricardo

Ricardo era um menino inteligente e estudioso, mas tinha dois grandes defeitos, era
mau e teimoso.
Os seus pais, muito sofriam com isso e tudo faziam para que Ricardo se modificasse,
mas nada adiantava porque, além do mais, Ricardo era muito convencido e não
aceitava conselhos de ninguém. Tudo ele sabia melhor do que os outros.
- Se continuas assim - disse-lhe uma vez sua mãe - o teu Anjo da Guarda te
abandonará.
- Não acredito que algum Anjo olhe por mim - respondeu Ricardo com maus modos -
isso não passa de história para enganar os tolos.
Quer Ricardo acreditasse ou não no Anjo da Guarda, o fato é que ele o tinha, como
tem todas as pessoas, e ao ouvir a resposta de Ricardo, muito triste ficou, pois em
virtude do procedimento do menino, cada dia que se passava, diminuia o poder que
Ele tinha sobre Ricardo, porque cada ação má enfraquece um fio de ouro que nos liga
aos nossos Anjos da Guarda.
Ora, o Espírito do Mal ou o Anjo Mau, está sempre olhando para as pessoas a fim de
tomar conta delas quando se rompe aquele fio de ouro e um dia chegou perto do Anjo
da Guarda de Ricardo e lhe disse - Façamos ainda uma última tentativa - propôs o
Anjo da Guarda, e os dois combinaram procurar Ricardo e pô-lo à prova.
Foi assim que Ricardo viu, um dia, sentado na beira da calçada de uma rua por onde
passava, um velho cego, todo maltrapilho, pedindo esmolas. Ao seu lado via-se um
cãozinho branco, muito magro e com aspecto de que há muito não comia. Quando
Ricardo chegou perto dos dois, o cãozinho pôs-se a latir, como que chamando a
atenção dele para o cego, enquanto este, com uma voz sumida, pedia-lhe uma
esmolinha para matar a fome.
- Saia do meu caminho, cão imundo - bradou Ricardo mal-humorado - já não chega este
velho estorvando a minha passagem e ainda mais você a saltar sobre mim, sujando-me
a roupa!
E como o cão não arredasse do caminho e latisse ainda mais, Ricardo avançou sobre
ele com uma pedra para matá-lo. Mas, antes que isso acontecesse, ouviu-se um grande
estampido e uma nuvem densa envolveu todo aquele grupo. Quando Ricardo voltou a sí
do susto que tomara, viu diante dele um ser enorme, de asas negras, de cujos olhos
saíam faíscas de fogo. Quanto ao cãozinho branco, havia desaparecido.
- Ganhei a aposta - gritava aquela criatura horrível - Tu agora me pertences
totalmente. O Cãozinho que estava comigo outro não era senão o teu Anjo da Guarda
que, pela última vez, te quis colocar à prova. De agora em diante serei o teu
senhor. Tudo que te pertence, inclusive o teu dinheiro, as tuas roupas, os teus
livros, levarei para a minha morada, que fica muito distante daqui.
Ao ouvir tais palavras, Ricardo botou, instintivamente, a mão no bolso. A carteira
que estava cheia de dinheiro que colocara no bolso antes de sair, havia
desaparecido. Ele mesmo já não estava mais com a roupa nova que vestira há pouco.
As suas vestes estavam rôtas e sujas. Já não estava também na sua cidade. Como por
encanto, fora transportado para um lugar deserto onde não havia gente. Estava em
uma floresta escura, onde não havia um único habitante.
Só então Ricardo percebeu que havia sido castigado devido à sua maldade, mas agora
era tarde. Estava alí sozinho, em um lugar inteiramente desconhecido para ele, sem
um amigo, sem uma pessoa que o consolasse. O menino caminhou durante horas por
aquela floresta negra, até que por fim, cansado, sentou-se ao pé de uma árvore,
chorando desesperadamente.
Alguns minutos depois ouviu um barulho de folhagem e espiou para ver o que era,
pensando que fosse algum animal. Mas ao invés de um bicho, Ricardo viu um homem
muito pequeno, de longas barbas brancas, que vestia uma roupa cor de abóbora, o
qual parecia ter saído de dentro da árvore.
- Por que choras? - perguntou-lhe o recém chegado.
- Que adianta dizer-te a razão - disse Ricardo - se nada podeis fazer por mim?
-Não digas isso - falou o estranho personagem - Quem sabe se te posso ser útil?
- Mas afinal, quem és tu? - perguntou Ricardo - Pareces um anão, mas és um pouco
diferente de quantos anões tenho visto nos circos.
- De fato, eu Não sou um anão, e sim um gnomo.
- Gnomo? Que vem a ser isto? - perguntou Ricardo admirado.
- É uma categoria de seres que não fazem parte da raça humana. Os homens em geral,
confundem gnomos com anões. É um grande erro. Anões são homens aleijados, que não
cresceram por um motivo qualquer, ao passo que o tamanho natural dos gnomos é o
meu. Não existe gnomo com estatura maior do que a minha.
Vendo que Ricardo não estava compreendendo bem, o gnomo prosseguiu:
- Assim como há o reino mineral, ao qual pertencem todas as pedras e metais; o
reino vegetal do qual fazem parte as plantas; e o animal, ao qual pertencem todos
os animais, existe um outro reino chamado elemental da terra, e a este reino é que
nós, os gnomos, pertencemos. Nós somos os elementais da terra. Moramos dentro da
terra, cuidando das pedras preciosas, do oiro e da prata e também das plantas. Se
estas árvores que aqui vês são tão crescidas e frondosas, é porque os gnomos cuidam
das suas raízes.
- Ah, “seu” gnomo - disse Ricardo - o senhor nem falaria comigo se soubesse quanto
fui mau.
- Não penso que sejas assim tão mau quanto dizes - respondeu o gnomo - porque ao
menos já reconheces que fostes mau. Felizes dos que sabem que erram, porque já é
meio caminho para se corrigir.
Percebendo que o gnomo queria mesmo ajudá-lo, Ricardo contou em rápidas palavras o
que lhe acontecera e como viera parar naquela floresta, sem saber como.
- Não chores mais - disse-lhe o seu amiguinho- Ainda não está tudo perdido.
- Achas então que poderei ainda livrar-me do Anjo Mau e encontrar novamente o meu
Anjo da Guarda? - perguntou Ricardo já mais animado.
- Naturalmente que sim - disse o gnomo - mas, para isso terás que ter muita
paciência, porque vai levar algum tempo, e ser também um menino bom.
- Se eu ao menos soubesse onde mora o meu Anjo Bom!... suspirou Ricardo.
- Os Anjos da Guarda das crianças moram nas estrelas - falou o gnomo - Vai ser um
pouco difícil descobrires a estrela da morada do teu Anjo, porque como Ele está
muito triste, fechou todas as portas e janelas da sua casa, de maneira que não se
pode ver a luz que parte de dentro da Estrela.
Ricardo compreendeu então que para ele poder ver a luz da sua Estrela, era preciso
que o Anjo abrisse as portas e janelas da sua casa e Ele só faria isso quando
estivesse novamente contente, mas para Ele estar contente era preciso que Ricardo
fosse um menino bom, como disse o gnomo.
Assim, a partir daquele dia, Ricardo procurou ser bom. Os seus únicos companheiros
eram os animaizinhos da floresta, aos quais o menino auxiliava de todos os modos,
tratando-os também com carinho e bondade. Eles, por sua vez, ajudavam também
Ricardo, protegendo-o dos animais ferozes e trazendo-lhe frutos para que ele se
alimentasse.
Durante a noite, antes de dormir, Ricardo, na entrada da gruta que lhe servia de
habitação olhava o céu, na esperança de descobrir a sua estrela.
Eis que numa certa noite, após um dia de grande trabalho, em que salvara a vida de
um carneiro que ia se afogando no rio, Ricardo viu uma estrela brilhar com muita
intensidade, mais do que todas as que estavam à sua volta, e um facho de luz azul
se projetou na direção do menino, iluminando-o da cabeça aos pés. No mesmo instante
um lindo Anjo de grandes asas brancas apareceu ao seu lado e assim falou:
- Fostes tão bom durante estes últimos tempos, principalmente hoje, salvando a vida
de um pobre bichinho que ia morrer, que o Fio de Oiro que me liga a ti, pelo alto
da tua cabeça, cresceu novamente e chegou até a minha casa, que é a tua Estrela.
Por isso vim até aqui e posso outra vez ficar ao teu lado.
- O Anjo Mau não manda mais em mim?- perguntou Ricardo.
- Agora não - disse o Anjo - mas para que fiques de todo livre dele, deves apanhar
os objetos que te pertencem e que Ele levou para a sua casa. E dizendo isso, o Anjo
da Guarda mostrou a Ricardo um grupo de estrelas formando uma cruz.
- Aquele grupo de estrelas chama-se “Cruzeiro do Sul” - disse o Anjo - ali moram
alguns dos maiores Anjos da Côrte Celeste. Mas, perto, podes ver um lugar muito
escuro, onde não há o menor brilho? Esse lugar é o “Saco de Carvão” e é ali,
justamente, que mora o Anjo Mau.
- Mas como poderei ir até lá? - perguntou Ricardo - se não tenho asas para voar?
- Irás comigo - disse-lhe o Anjo. E segurando a mão de Ricardo levou-o pelo espaço
afora, até aquele lugar sombrio do céu. A medida que se aproximava do “Saco de
Carvão”, mais negro ele ainda ficava, mas quando o Anjo lá chegou com Ricardo,
houve uma súbita mudança e tudo ficou claro e iluminado e a luz era tão forte e
brilhante que o Ajno Mau ficou tonto e cego com tanta claridade. Desse modo,
Ricardo pode apanhar o que lhe pertencia, sem nenhuma dificuldade.
Quando os dois sairam do “Saco de Carvão”, este voltou a ficar escuro e triste como
antes, e o Anjo Mau, recuperando a vista, quis sair ao encalço de Ricardo, mas não
pode fazê-lo porque Ricardo agora estava protegido pelo seu Anjo da Guarda.
Na viagem de regresso à Terra, Ricardo caiu num sono profundo e nada mais viu do
que se passou. Quando acordou, viu-se novamente na sua cidade natal. Procurou
então, imediatamente a casa dos seus pais, que viviam muito tristes, pensando que o
seu filho havia morrido. Quando Ricardo contou o que sucedera e como conseguira
novamente unir-se ao seu Anjo da Guarda, eles abraçaram-no e beijaram-no cheios de
alegria e felicidade.
Excusado será dizer que Ricardo nunca mais foi um menino grosseiro e mau. Tratava
todos com respeito, principalmente as pessoas mais velhas, aceitando os seus
conselhos. Enfim, tornou-se uma criatura admirável e querida de quantos tinham e
felicidade de viver perto dele.

16. Os Três Caminhos da Felicidade

Era uma vez um pobre homem que tinha três filhos; muito lhe custou educá-los, mas
enfim o conseguiu. Quando já estavam crescidos, disse-lhes:
- Meus filhos, não posso de modo algum continuar a sustentá-los. Precisam pois ir
pelo mundo afora e aprender um ofício para que possam ganhar a vida.
Depois de lhes ter dado meio quillo de pão e um bom cajado, o pai despediu-se e
eles sairam juntos da cidade. Ao chegarem a uma encruzilhada, João, o mais velho,
disse aos irmãos:
- Separemo-nos aqui; cada um vai para um lado tentar fortuna. Daqui a sete anos, no
mesmo dia e à mesma hora de hoje, devemo-nos encontrar neste mesmo lugar.
Assim fizeram. O mais velho encontrou um velho de longas barbas brancas que,
sentado em um tosco banco de pedra no interior de uma gruta, lia com grande atenção
um livro muito grande. Com a aproximação do rapaz, o velhinho levantou os olhos do
livro, perguntando a João o que ele desejava.
- Estou à procura de um ofício - respondeu João.
- Se queres ficar aqui comigo - disse o velhinho - ensinar-te-ei todas as ciências
do mundo, e se fores de fato estudioso, dentro de alguns anos poderás tornar-te um
sábio.
- Este convite me agrada, - respondeu João - desde pequenino que tenho vontade de
estudar e se não o fiz é porque sou pobre. Aceito, portanto, a sua proposta e farei
tudo para corresponder a sua bondade, oferecendo-me de graça os seus conhecimentos.
João era um rapaz inteligente e assim, tudo quanto o velhinho lhe ensinava ele
aprendia com muita facilidade e dentro de poucos anos tornou-se um verdadeiro
sábio.
Miguel, o segundo dos irmãos, tinha, no intervalo, feito também conhecimento com um
homem que lhe perguntara para onde ia. Quando lhe respondeu que buscava um ofício,
o homem lhe disse:
- A minha profissão, meu filho, é ajudar os doentes, os pobres e as criancinhas.
Dedico toda a minha vida aos que sofrem e que precisam de um amparo, aos que
precisam de remédio, de alimento, e também de bons conselhos. Não faço outra coisa
senão isso. Se isso te agrada, podes ficar comigo e fazer o mesmo.
- Mas como é que o senhor consegue alimento e remédio para os pobres, se o senhor
não trabalha e não tem dinheiro para comprá-los? - perguntou Miguel.
- Não trabalho para ganhar dinheiro para mim - respondeu - trabalho procurando as
pessoas ricas e pedindo-lhes todas essas coisas para os que precisam. Nem imaginas
o trabalho que tenho, andando as vezes léguas e léguas, para arranjar um remédio ou
um pedaço de pão para levar para uma criancinha doente.
- Isso é uma coisa admirável - respondeu Miguel - e estou disposto a auxiliá-lo.
E assim, durante vários anos, Miguel ajudou o seu novo amigo, tornando-se com o
tempo, um verdadeiro santo, tão bom ele ficara, vendo a caridade que o seu mestre
praticava. Cada dia que passava, Miguel podia apreciar melhor o seu companheiro e,
com o tempo, a sua admiração por ele ia aumentando. Miguel que já era, por
natureza, um rapaz bondoso, com tão boa convivência tornou-se em breve um exemplo
de virtudes. Era incapaz de fazer uma maldade, por pequenina que fosse. Ele queria
bem a todos os seres da Terra, indistintamente, pobres e ricos, homens ou animais,
e não havia animal algum, por mais feroz que fosse, que o atacasse porque em seu
coração só havia bondade.
O terceiro irmão, Pedro, tinha um temperamento bem diferente dos outros dois. Não
gostava de estudar, nem nem tão pouco tinha um coração tão bom a ponto de
sacrificar a sua vida exclusivamente para a felicidade dos outros. Não que ele
fosse mau. Isso não. Pedro era também um rapaz de bons sentimentos. Possuía porém,
uma extraordinária força e grande capacidade de trabalho. Raramente Pedro se sentia
cansado. Carregava sozinho enormes pesos, sem demonstrar o menor sinal de fadiga.
Assim, muito admirado ficou quando, atravessando um bosque, viu um homem alto e
forte abraçado a uma gigantesca árvore, sacudindo-a a fim de arrancá-la do solo.
- Este parece ter mais força do que eu - pensou Pedro, parando em frente ao
desconhecido e esperando o resultado daquele esforço.
Com mais algumas sacudidelas o homem conseguiu, de fato, arrancar a árvore da
terra, e só então deu pela presença de Pedro, que continuava ali parado,
estupefato.
- Felicito-te pela tua extraordinária força - disse Pedro - Nunca pensei encontrar
alguém que tivesse mais força nos braços do que eu.
- Isso não é nada - respondeu o homem - Faço coisas ainda mais difíceis do que
arrancar uma simples árvore. É só querer.
- Ando à procura de uma profissão - falou Pedro - se consentires, ficarei ao teu
lado para desenvolver a força que já possuo. Além do mais, sou muito trabalhador e
poderei assim ser útil a ti.
- Concordo - respondeu o outro - mas desde já aviso-te que não conheço a palavra
preguiça e quem trabalha comigo também não pode ser preguiçoso.
- Não seja esta a dúvida - disse Pedro - trabalhar é comigo.
Durante o tempo todo em que Pedro trabalhou com o seu novo amigo, este não teve a
menor queixa dele, pois Pedro era de fato um rapaz trabalhador e também muito
valente. Com os exercícios que fazia diariamente, a sua força mais se desenvolveu,
chegando mesmo a carregar enormes blocos de pedras, como quem carrega uma folha de
papel.
Neste intervalo, os sete anos se passaram e, no dia marcado, os três irmãos
encontraram-se no lugar combinado. Abraçaram-se com alegria e voltaram para a casa
do pai. Depois de cada um ter contado o que lhe acontecera, o pai disse-lhes:
- Muito bem, vou experimentá-los para ver se as histórias maravilhosas que me
contam são verdadeiras; quero ver se vocês aprenderam mesmo tudo quanto dizem. Numa
montanha que fica a três dias daqui - disse ele aos rapazes - existem umas
inscrições numa linguagem desconhecida. Dizem que é o roteiro de um fabuloso
tesouro. É uma oportunidade de vocês demonstrarem as suas aptidões - terminou o
pai.
E assim, logo de manhãzinha no dia seguinte, os três se puseram a caminho. Grandes
foram os obstáculos que encontravam a todo momento, mas graças a força de Pedro,
que ora carregava os irmãos, quando eles já não tinham forças para andar, ora
removendo grandes blocos de pedra que lhes impedia a passagem, chegaram a um ponto
onde puderam divisar as famosas inscrições das quais falara seu pai. Mas, quando já
estavam bem perto, ouviram os grunhidos de lobos.
Miguel então se adiantou, sem o menor temor, e os seus irmãos viram uma coisa
extraordinária: os lobos que no primeiro momento haviam avançado como verdadeiras
feras, ficaram de repente mansos como cordeiros, e, acercando-se de Miguel,
lamberam-lhe pacificamente as mãos. Miguel então fez sinal a seus irmãos para
passarem e eles assim o fizeram, sendo seguidos por Miguel.
Ao chegarem finalmente, sãos e salvos ao lugar desejado, João pos-se logo a estudar
as inscrições e, no final de alguns dias, já as havia decifrado inteiramente. O que
elas apontavam era, de fato, o caminho a seguir para encontrar o tesouro. Sem
perder um instante, os três irmãos encaminharam-se para o local indicado, achando
dentro de um gruta, arcas repletas de oiro, prata, brilhantes e outras pedras
preciosas. Cada um deles carregou tanto quanto pode e voltaram para a casa paterna,
contentes e felizes.
Ao saber de tudo, disse-lhes o pai:
- Meus filhos, vocês devem ser sempre muito unidos. De que adiantaria a força de
Pedro, se Miguel com a sua bondade não tivesse amansado os lobos ferozes? E se não
fosse João, teriam vocês dois descoberto o tesouro, embora chegassem ao pé das
inscrições?
- Não - responderam os três - Se conseguimos alguma coisa foi porque trabalhamos
juntos.
- Por isso meus filhos, eu os aconselho a nunca se separarem e serem sempre muito
amigos.
Alguns anos depois disso, uma terrível doença assolou todo o país e o rei mandou
anunciar que aquele que debelasse o mal que estava matando quase toda a população
receberia, em troca, metade do seu reino.
- Eis uma ocasião para nos distinguirmos - disseram os três irmãos - Vamos por em
ação as nossas qualidades. E imediatamente os três começaram a agir. Miguel ia de
casa em casa saber quais os remédios e os alimentos que precisavam os doentes,
animando-lhes e dando-lhes conselhos. Pedro, com a sua grande capacidade de
trabalho e força física, não poupava esforços, transportando os doentes de um lugar
para outro e isolando a crianças e outras pessoas sãs do contato com os enfermos.
Enquanto isso, João procurava descobrir a causa da epidemia, o que conseguiu dentro
em pouco.
Enfim, graças aos três irmãos, em poucos meses não havia mais um doente no país e o
rei, satisfeito com o resultado obtido disse:
- Cumprirei a minha palavra. Darei metade do meu reino a vocês, para que a dividam
entre si.
Cada um ficou com um pedaço igual de terra e o povo escolheu os três irmãos para
serem os reis desses lugares. Cada um morava nos seus domínios, mas sempre
continuaram amigos como seu pai lhes aconselhara. Trabalhando em conjunto para a
felicidade dos seus súditos, que cada vez mais os estimavam e respeitavam.
Esta história nos ensina que só se alcança a verdadeira felicidade quando se é
Sábio, Bom e Trabalhador.
Cada um de nós deve ser ao mesmo tempo um João, um Miguel e um Pedro. Mas, como
conseguir isto? Estudando para desenvolver a inteligência, praticando boas ações e
querendo bem aos nossos semelhantes e não deixando que a preguiça tome conta de
nós. Realizando essas três coisas, todos nós podemos encontrar um tesouro e nos
tornarmos ricos; ricos de alegria, ricos de bondade, ricos de sabedoria, riqueza
essa que é a melhor que existe, porque não se acaba, não se perde, nem pode ser
roubada, uma vez que ela é guardada dentro de nós, no nosso coração e na nossa
cabeça.
17. Pan e a sua Flauta Encantada

Há muitos anos, na Grécia, vivia um pastorzinho de ovelhas, chamado Jacinto.


Era no tempo em que os deuses viviam na Terra, como de quando em vez acontece.
Moravam todos em uma Montanha chamada Olimpo e dali, as vezes, desciam para os
vales, para conversar com os homens que fossem dignos de tal coisa.
Todas as manhãs Jacinto levava o seu rebanho para as campinas e, enquanto os
animais pastavam ele ficava admirando a natureza e louvando a Deus por ter feito
tanta coisa bela como o céu, o sol, as estrelas, as flores, as cascatas, as árvores
e todos os seres vivos.
Certo dia em que ele estava absorvido nas suas meditações, sentado ao pé de uma
grande árvore, eis que ouve o som de uma flauta. Levantou-se e caminhou em direção
à música; depois de andar alguns minutos viu, sentado sobre uma pedra, um ser
estranho, meio homem e meio animal, pois tinha na cabeça dois cornos e da cintura
para baixo o seu corpo era de bode, o qual executava em uma flauta, a música que
Jacinto ouvira de longe.
Ao ver aquela figura estranha, Jacinto teve vontade de fugir, pois jamais vira uma
criatura tão esquisita, mas a música que ela tocava era tão melodiosa que Jacinto
ficou fascinado por ela e, raciocinando melhor, viu que uma criatura má jamais
poderia tocar uma música tão bonita e por isso perdeu o medo que tivera no primeiro
momento, e ali ficou.
O homem nem notou a presença de Jacinto e continuou a tocar a sua flauta. Jacinto
aproximou-se dele, com todo o cuidado para não perturbá-lo com qualquer barulho, e
ele não interrompesse a música. Passou-se assim mais ou menos meia hora. Por
fim,aquela criatura estranha parou de tocar e olhando Jacinto, perguntou-lhe:
- Quem és tu, que não tens medo de mim?
- Sou um humilde pastor de ovelhas; o meu nome é Jacinto - respondeu o rapazinho.
- És um rapaz valente - falou o homem - Tenho visto muito homem barbado fugir de
mim espavorido, e tu, uma criança ainda, fica-te aí como se me conhecesse há muito
tempo!
- Não vejo motivo para fugir de ti - respondeu Jacinto - embora tu tenhas, de fato,
uma figura bastante esquisita. Tocas tão bem, que não podes ser mau.
- Pelo que vejo, és um rapaz inteligente e que raciocina muito bem - disse o homem
- Quem julgas tu, então, que eu seja?
- Devo estar na presença de um Gênio - falou Jacinto.
- Sou alguma coisa mais do que isso, o meu nome é Pan - disse ele - O nome Pan
significa TUDO. Eu sou toda a Natureza. Eu sou o Senhor da Natureza.
- Se és o Senhor da Natureza - disse Jacinto - deves conhecer todos os seus
segredos.
- Assim é - respondeu Pan - E é tocando nesta flauta que converso com os animais,
com as plantas, com as pedras e as flores.
- Mas por que, Pan, tens um corpo tão feio? É para meter medo aos homens?
- Não, meu filho - respondeu Pan - Sendo eu Tudo quanto existe na Terra, posso
tomar qualquer forma, por mais absurda que pareça.
- Por que então escolheste esta forma e não outra mais bonita? - perguntou Jacinto.
- Isto de bonito ou feio, é coisa que não me interessa - respondeu Pan - porque o
que é bonito para um pode ser feito para outro e vice-versa. No entanto, esta forma
que eu tenho é a mesma dos primeiros Reis que governaram a Terra.
- Primeiros Reis? - indagou admirado Jacinto.
- Pelo que vejo, ignoras completamente o que se passou nesta Terra nos primeiros
anos do seu aparecimento e por isso eu vou instruir-te a este respeito. Os
primeiros homens deste Planeta Terra, como é natural, não tinham nenhuma
experiência e por esse motivo, no princípio foram orientados por uns reis de outros
planetas mais adiantados, que para cá vieram, a fim de ensinar-lhes o que eles não
sabiam. Esses Reis é que tinham esta forma que ainda hoje conservo.
- Ah! Agora compreendo - falou Jacinto - mas como é possível que ainda hoje, depois
de tantos milhões de anos, tens um corpo que foi de uma raça tão antiga?
- Há muita coisa estranha que os homens desconhecem e esta é uma delas - falou Pan
- São os segredos da Natureza, guardados zelosamente pelos sábios e santos. Um dia
compreenderás melhor como isso é possível.
Satisfeito com essas explicações, Jacinto deixou de fazer perguntas, demonstrando
porém grande desejo de tocar uma música na flauta, chegando mesmo a pedí-la
emprestada. Pan, porém, respondeu-lhe que aquela flauta só podia ser tocada por
quem fosse iniciado nos segredos da Natureza, porque do contrário, poderia causar
grandes perturbações ao Mundo, como: enchentes, tempestades e até tremores de
terra.
Vendo o espanto que se desenhava no semblante do rapaz, Pan explicou que dentro
daquela Flauta estavam guardadas Sete Notas Sagradas, que eram a própria palavra de
Deus, a qual havia criado todos os universos, e daí o perigo de fazer vibrar essa
Palavra por quem não estivesse em harmonia com toda a Natureza.
- Se fizeres, porém, tudo quanto te mandar, poderei um dia emprestar-te esta flauta
- disse Pan.
- Naturalmente que farei - respondeu Jacinto.
- Três são as condições exigidas - falou Pan - A primeira é correr mundo; a segunda
é te alimentares apenas de frutos e leite e a terceira é fazer bem a todos, amigos
e inimigos, defendendo os fracos e não permitindo que se cometa qualquer injustiça
em tua presença. Estás disposto a isto? - perguntou Pan.
- Estou! - falou Jacinto.
- Além do mais - acrescentou Pan - precisas ter grande força de vontade para não
fracassar, porque serás muito perseguido e muita gente te tomará por louco.
- Farei o possível para vencer - respondeu Jacinto.
- Está bem, vá e sê feliz! Dentro de três anos, a contar de hoje, estarei aqui à
tua espera.
Logo na manhã seguinte, bem cedinho, Jacinto deixou a sua casa e foi correr mundo,
tal como mandara Pan, tendo o cuidado de se alimentar apenas de leite e frutos.
Durante todo o tempo da viagem, Jacinto viveu exclusivamente para auxiliar os seus
semelhantes, não se preocupando com a sua pessoa, pensando apenas nos outros, de
modo que ao terminar o prazo fixado por Pan, havia ele evoluído muitíssimo,
tornando-se quase um santo.
- Agora sim - disse Pan, ao ver Jacinto novamente - vejo brilhar na tua fronte a
luz da pureza. Estás em harmonia com a natureza e poderás tocar nesta flauta sem
que haja o menor perigo.
E naquele mesmo dia Pan começou a ensinar Jacinto como tocar a sua flauta que, como
vocês já viram, não era uma flauta comum, e sim uma flauta encantada, capaz de
produzir as coisas mais impossíveis. No fim de alguns meses, Jacinto sabia manejar
o instrumento como um verdadeiro mestre.
Entusiasmado com o progresso do seu discípulo, Pan fez uma flauta igualzinha à sua,
com os mesmos poderes, e deu-a de presente a Jacinto que, de posse dela, conversava
com os animais, com as flores, com as árvores, com as pedras, com as águas, enfim,
com toda a natureza.
Daquele dia em diante, Jacinto foi a criatura mais feliz do mundo, pois havia
conquistado o maior tesouro que se pode desejar na Terra, que é o conhecimento da
Palavra de Deus ou do Som Criador que fez surgir os mundos. Nada de mau pode
acontecer a quem conhece essa Palavra, porque ela nos defende e nos protege. Com
ela podemos curar doentes e realizar tudo quanto chamamos de milagres, abrir ou
fechar montanhas, enfim, as coisas mais impossíveis que se possa imaginar, mas para
isso é necessário estar preparado, tornar-se antes, bom e justo. Conhecer essa
Palavra vale mais do que possuir dinheiro ou jóias, porque o dinheiro e as jóias
podemos perder, ao passo que quem aprende uma vez a Palavra de Deus, nunca mais a
perderá, nem mesmo depois de morto.
18. A Lenda da Serpente e do Colibrí Irisiforme

Como disse a vocês na aula passada, nem todos os habitantes da Atlântida morreram.
Muitos deles foram salvos, isto é, foram conduzidos para lugares distantes, a fim
de que deles saísse um novo povo. Sempre que um país ou uma região qualquer está
fadada a desaparecer da face da Terra, como aconteceu na Atlântida, aparece um
homem que se chama Manu, e o Manu então conduz os homens bons, aqueles que são
fiéis à Lei, para lugares seguros, lugares que não são atingidos por cataclismas. O
povo que é salvo chama-se a SEMENTEIRA DA NOVA CIVILIZAÇÃO, porque deles, das suas
famílias é que vão nascendo a gente que formará, com o tempo, uma nova raça, um
novo povo. E o lugar seguro para onde essa SEMENTEIRA é conduzida, geralmente fica
em regiões altas, em Montanhas. A palavra MANU, portanto, quer dizer o condutor de
um povo, o guia de um povo; é o chefe, aquele que orienta um determinado número de
homens que são os ELEITOS, que quer dizer escolhidos e isso porque o Manu escolhe
os homens, as mulheres e as crianças que são dignos de pertencerem à sua família e
que vão constituir o seu povo.
Hoje vou contar a vocês a história de um povo descendente dos Atlantes, isto é, um
punhado de gente que não foi destruída, porque naturalmente era gente boa, que
cumpria os seus deveres e respeitava as leis divinas. Esse povo chamava-se Pipiles
e habitava a América Central, um lugar que hoje é conhecido por República do
Salvador. Como todos os povos da Terra, os Pipiles tinham também um Rei, ou melhor,
Manu, cujo nome era Quetzalcoatl.
Havia uma lenda de que Quetzalcoatl antes, muito antes de ser o Manu daquele povo,
havia alí aparecido sob a forma de uma SERPENTE IRISIFORME, isto é, uma Serpente de
Sete Cores.
As sete cores dessa Serpente são as mesmas dos planetas sagrados, aquelas sete
emanações de Deus, como já aprendemos em outras aulas e assim vocês podem
compreender porque a lenda diz que Quetzalcoatl, quando pela primeira vez apareceu
na Terra, apresentou-se sob a forma de uma Serpente de 7 cores.
Quetzalcoaltl, sendo um Manu, era portanto um enviado de Deus, e sendo um enviado
de Deus, ele se mostrou, no início, antes de tomar forma humana, uma forma de
homem, com todas as características desse Deus ou dessa Entidade Superior que ele
representava na Terra e por isso, apareceu como Serpente, que é o Símbolo de
Sabedoria, daquele que tudo sabe que é Deus, e como as 7 cores são as 7 primeiras
emanações de Deus e que nós conhecemos como os 7 Planetas Sagrados ou os 7 Filhos
de Deus.
Para que vocês possam compreender melhor, vamos exemplificar: - Aquele Ser que nós
chamamos de Deus, e que podemos representar por um Triângulo com um Olho no centro,
quando precisa descer dos seus mundos celestes para a Terra, divide-se em 7
Pedaços, cada um desses Pedaços toma uma cor, que são as 7 cores que nós já
conhecemos: laranja, violeta, vermelho, amarelo, púrpura, azul e verde. Esses 7
Pedaços ou 7 Raios são os seus 7 Filhos. Ora, a Serpente Irisiforme ou a Serpente
de 7 Cores, quer dizer: “Deus manifestado nos seus 7 Filhos, cada Filho
representando uma das cores da pele da Serpente”. Isso aconteceu no início mas
depois, quando houve necessidade de ficar junto dos homens, junto do povo para
guiá-lo, orientá-lo como Manu, então a Divindade tomou uma forma também humana.
Agora não mais como Serpente, mas como um homem, um Rei, cujo nome era
QUETZALCOATL.
Aliás, se traduzirmos para a nossa lingua a palavra ou nome KETZALCOATL, teremos o
seguinte: Ketzal que quer dizer tudo que designa as coisas iridiscentes ou tudo que
é formado de cores brilhantes, radiosas e Coatl que quer dizer cobra ou serpente.
Assim, o nome daquele Manu, ou seja, KETZALCOATL é o mesmo que Serpente de Cores
Brilhantes ou Irisiforme, ou ainda, Serpente das 7 Cores do Arco Iris.
Ainda hoje, em museus, encontra-se grande número de documentos da época em que esse
Manu viveu na face da Terra, que trazem um desenho representando uma Serpente
Ornada de Penas, que era o seu símbolo. Bem, agora que vocês já sabem a origem da
palavra KETZALCOATL, continuemos a história desse misterioso personagem, que foi
tão querido e respeitado pelo seu povo.
Contam que quando KETZACOATL ficou velho, um dia a Luz desceu dos céus e trouxe-lhe
um espelho para que ele olhasse a sua cara. Vendo o Rei que o seu rosto estava tão
feio, transformado pela velhice, a pele enrugada, ele ficou muito triste pensando
que em breve morreria, deixando o seu povo desamparado sem que alguém pudesse
suceder-lhe no trono. Ketzalcoatl não tinha medo de morrer, não era isso, o que ele
não queria era morrer antes de terminar a sua missão, o seu trabalho entre a sua
gente. Por esse motivo, meditou muito sobre o que devia fazer para recuperar a sua
mocidade de outrora e a sua capacidade de trabalho, tão necessárias ainda.
Ele sabia que em um lugar distante, a algumas léguas de onde morava, havia um
grande Lago de Águas Azuis formado pelas águas de uns rios encantados que, diziam
os sábios, desciam diretamente dos Céus, e para lá se dirigiu. O Lago de Águas
Azuis, também conhecido com o nome de Grande Espelho, porque nele se refletiam
todas as estrelas do céu, era um lago encantado que respondia às perguntas que se
lhe fizessem, dizendo sempre a verdade. Assim, ao chegar à beira do Lago,
Ketzalcoatl formulou esta pergunta:
- “Ó águas encantadas vindas do céu, dizei-me o que devo fazer para tornar-me
novamente jovem!”
As águas do lago, de costume mansas, encresparam-se levemente e uma voz de dentro
delas se fez ouvir: “Ó nobre Rei do Povo Pipiles, a tua intenção é a mais digna
possível e por isso, serás atendido na tua súplica. Suba à Montanha mais alta que
daqui se vê, aquela que quase toca o céu. Lá encontrarás 4 Pássaros Sagrados. Em lá
chegando, pinte o teu rosto com as 7 Cores do Arco Iris. Feito isto, faça uma
fogueira e nela se atire, mas tenha cuidado de realizar tudo isso na presença dos 4
Pássaros. É absolutamente necessário que Eles estejam presentes”.
Ketzalcoatl então subiu a Montanha, armou a fogueira, pintou o seu rosto com as
cores do Arco Iris e, ao entardecer, quando o Sol baixou no horizonte, os raios
caindo sobre o lenho, incendiaram-no e enormes labaredas se ergueram. Nesse
momento, Ketzalcoatl atirou-se na fogueira, como lhe ordenara a voz que ele ouvira
de dentro do Lago, rodeado pelos 4 Pássaros, e ali ficou alguns minutos. Quando
saiu da fogueira, o seu corpo não apresentava o menor sinal de queimadura; a sua
pele estava rija como a de um adolescente, o seu corpo todo havia readquirido o
vigor da mocidade. Entusismado com essa transformação, Ketzalcoatl exclamou:
“Ilamcuky, Ilamcuky, Ilamcuky”! - que quer dizer: “Eu sou Eterno na minha própria
velhice”!
Além dessa transformação, outra coisa interessante também aconteceu; Ketzacoatl
notou que a sua FACE estava como que dividida em duas; com o lado direito Ele via,
ouvia e sentia tudo que se passava no Céu, via os anjos e os ouvia cantar e falar,
e com o lado esquerdo Ele só via o que se passava na Terra, o que faziam e diziam
os homens. Por essa razão ficou também conhecido pelo nome de GÊMEO FORMOSO, porque
era como se Ele tivesse duas FACES. Desde então Ele passou a exercer duas funções,
isto é, a fazer dois trabalhos, um ligado ao Céu e outro à Terra; em virtude de sua
vista dupla ou gêmea.
Aquelas cores com que Ketzacoatl havia pintado o seu rosto transformaram-se em 7
pedras preciosas, assim que Ele se atirou na FOGUEIRA; transformaram-se do seguinte
modo: a cor verde virou uma esmeralda, a azul uma safira, a vermelha um rubi, a
violeta uma ametista, a amarela um topázio, a laranja um carbúnculo e a púrpura uma
rubina. Ketzacoatl em agradecimento à dedicação daqueles Pássaros, deu ao mais
velho a safira, ao segundo o rubi, ao terceiro a ametista e ao quarto a esmeralda.
Mas como eram sete as pedras, sobraram ainda três, sobraram o topázio, a rubina e o
carbúnculo. Ele guardou para si o carbúnculo e as outras duas pedras colocou em um
estojo forrado de seda, dizendo: “Os donos destas pedras ainda não estão
trabalhando no mundo e, por isso elas vão ficar aqui guardadas”.
Tendo recuperado a sua juventude de outrora, graças ao ritual da Fogueira, foi
possível a Ketzacoatl dirigir o seu povo durante um longo tempo ainda. Passados
muitos e muitos anos, quando Ele viu que os seus súditos estavam bem preparados,
graças ao que Ele lhes ensinara, e que podiam governar-se sozinhos sem a sua
interferência direta, subiu novamente a Montanha, chamou para junto de si os 4
Grandes Amigos, os 4 Pássaros Sagrados e transformou-se em um lindo Colibri
Irisiforme, que desapareceu por entre as nuvens, voltando para a sua Verdadeira
Morada Celeste, que fica muito além deste Céu Azul que nós vemos aqui na Terra.
Observações:

Recordar com as crianças, no trecho oportuno da história, as cores dos planetas e


dizer que as pedras preciosas que Ketzacoatl deu aos Pássaros e mais as outras
três, correspondem a esses mesmos planetas, a saber: Sol ou Terra - carbúnculo; Lua
- ametista, Marte - rubi, Mercúrio - topázio, Júpiter - rubina, Vênus - safira e
Saturno - esmeralda.
Explicar também:

a) Que Ketzacoatl guardou para ele a pedra que corresponde a Terra, porque ele
estava trabalhando diretamente com os homens, e portanto, a pedra que mais lhe
convinha era a que se relaciona com o mundo onde moram os homens, ou seja, a Terra;
b) Que a LUA que trouxe o espelho mostrando a sua velhice, porque a Lua que nós
vemos no céu é um resto da verdadeira Lua que se encontra por trás desse resto, e
assim representa a velhice;
c) Que o Lago das Águas Azuis ou do Akasha (que é Azul) pode ensinar-lhe como se
tornar novamente jovem, porque as suas Águas vinham do Céu, do Mundo da Sabedoria,
onde moram os Seres que tudo sabem;
d) Que o Colibri é também um símbolo dos Gêmeos Espirituais, como prova o fato de
em certa passagem da vida de nossa Obra, tendo D. Helena sido operada de
apendicite, a sua alma, ou os seus princípios vitais, terem tomado a forma de um
COLIBRI, o qual veio até junto ao Mestre e brincou com os lóbulos de suas orelhas
(o que é muito interessante e raro, porquanto o colibri é uma avezinha arisca que
jamais chega perto de alguém). E isso acontecendo em um momento que o Mestre estava
preocupadíssimo com a saúde de D. Helena, era como se o Colibri dissesse: “Não se
preocupe, estou passando bem, estou salva”! Notícia essa que foi confirmada alguns
minutos depois pelo telefone, dizendo que a operação correra bem e que D. Helena
estava fora de perigo.

19. Sistema Geográfico

No mês de Julho comemoramos, na Obra, o aniversário de 7 Homens muito evoluídos que


chamamos DHYANIS. Os 7 Dhyanis moram em sete cidades que ficam à volta de São
Lourenço, as quais formam o Sistema Geográfico Sul-Mineiro.
Além dos Dhyanis, outros seres também evoluídos e adiantados, verdadeiros anjos
bons, moram no Sistema Geográfico. As cidades que formam o Sistema Geográfico são:
Aiuruoca, Conceição do Rio Verde, São Tomé das Letras, Maria da Fé, Carmo de Minas,
Itanhandú e Pouso Alto.
Os Dhyanis e os seres que os acompanham não moram propriamente naquelas cidades mas
em cidades subterrâneas que ficam por baixo delas. Em cada uma dessas cidades
existe um Templo. O da primeira cidade é o Templo do Saber, da segunda, da Beleza,
da terceira, da Bondade, da quarta, da Pureza, da quinta, das Relíquias, da sexta,
da Ventura e da sétima, da Sublimação.
Ora, se embaixo daquelas cidades existe um Templo em cada uma delas, em baixo de
São Lourenço também não podia deixar de ter um Templo e esse Templo se chama
CAIJAH, e fica justamente sob o Templo da Vila Canaã. Em Caijah vive uma criança
muito linda de cabelos loiros e olhos verdes, que se veste sempre de branco, assim
como o Menino Jesus. Devido à presença dessa Criança e do Templo que fica em baixo
de São Lourenço é que os teósofos chamam São Lourenço de “A Capital Espiritual do
Brasil”.
Os Dhyanis nasceram todos no ano de 1900, de 1 a 7 de Julho, e assim estão
completando agora 61 anos de idade. As mães dos Dhyanis são pessoas também muito
adiantadas e evoluídas, e como são de tipos raciais diferentes, os seus filhos, os
Dhyanis, também tem tipos diferentes uns dos outros; uns tem tipo oriental, com
cabelos escuros e pele morena; outros são claros, de olhos azuis. Enfim, cada um
representa um tipo racial, como se fossem de sete raças diversas.
Como as Mães dos Dhyanis não podiam viver na face da Terra, uma vez que tinham que
morar na Agartha, os Dhyanis foram entregues aos cuidados de outros homens, que os
educaram como se eles fossem seus filhos. Esses homens que tomaram conta dos
Dhyanis são ainda mais evoluídos. Os Dhyanis eram os discípulos e os outros os
Mestres.
Os Dhyanis fizeram grandes estudos, mas cada um escolheu uma cousa diferente. Um,
por exemplo, estudou tudo que se relaciona com as artes, ou seja, pintura, música;
outro estudou medicina; outro engenharia; outro direito; outro química. Mas cada
uma dessas matérias eles estudaram bem a fundo, por isso o nosso Mestre os chama de
OS SETE DONS DA INTELIGÊNCIA, porque de fato tudo o que a inteligência humana pode
aprender, eles conhecem. O Mantran Búdico, música que tocamos muitas vezes aqui,
foi feita e oferecida a nós por aquele Dhyani que se dedicou as Artes, enquanto que
um Licor preparado com plantas e outras coisas vindas da Agartha, foi feito e
trazido para nós pelo Dhyani que estudou alquimía, Dhyani esse que se chama Antonio
José Brasil de Souza, enquanto que aquele outro do Mantran Búdico é Bento José
Brasil de Souza. Tem eles, como todos os demais, os nomes de Brasil, em homenagem à
Terra onde vivem e onde tem que desempenhar a sua missão; os nomes José e Souza, em
homenagem ao Professor, a quem eles muito respeitam e veneram. Quando o Professor e
D. Helena, os Gêmeos Espirituais, fundaram a nossa Obra na Montanha Sagrada de São
Lourenço, esses Dhyanis tinham justamente a idade de 21 anos, isto é, tinham
atingido a maioridade.
No nosso Templo em São Lourenço, no Museu, existem à volta de um Garrafão cuja
história um dia também será contada, 7 bandeiras de países diferentes. São as
bandeiras dos lugares onde moram os seres que tomaram conta dos Dhyanis. Os lugares
onde vivem esses Seres que foram os Tutores dos Dhyanis, chamam-se os 7 Postos do
Mundo.
Antonio José Brasil de Souza e Bento José Brasil de Souza são os dois primeiros
Dhyanis, a seguir vem Carlos José Brasil de Souza, Daniel José Brasil de Souza,
Eduardo José Brasil de Souza, Francisco José Brasil de Souza e Godofredo José
Brasil de Souza. Não são nomes difíceis de se guardar, pois seguem a ordem
alfabética. obedecendo ainda essa ordem alfabética de A a G, existe em nossa Obra a
seguinte frase:
A BRASA CAIU DO EMPÍREO FAZENDO GERMINAR HENRIQUE-HELENA, o que é muito
interessante, porque os Gêmeos Espirituais, ou Henrique-Helena, são homenageados
por nós no oitavo dia, isto é, no dia 8 de Julho.
Nessas cidades de que lhes falei do Sistema Geográfico, existem entradas para as
cidades subterrâneas. A essas entradas chamamos embocaduras. Naturalmente que essas
entradas ou embocaduras não são visíveis para qualquer pessoa. Elas ficam em
lugares afastados da cidade, perto das montanhas e nas florestas, as vezes perto de
cachoeiras. E foram abertas em épocas diferentes. Assim, temos a mais antiga:
Aiuruoca, aberta no ano 1000; depois Conceição do Rio Verde em 1200; São Tomé das
Letras em 1500 (ano da descoberta do Brasil); Maria da Fé em 1789; Carmo de Minas
em 1800; Itanhandú em 1883 (ano do nascimento do Professor) e Pouso Alto em 1934.
Essas cidades subterrâneas onde existem aqueles sete Templos, são verdadeiras
cidades encantadas e por isso não é de se estranhar que lá existam uns animais
muito sábios, possuidores de grande inteligência, que se chamam “totens”. Cada
cidade tem o seu “totem”. Assim, o de Aiuruoca é uma anta, de Conceição do Rio
Verde um jaguar, de São Tomé das Letras uma raposa, de Maria da Fé um veado, de
Carmo de Minas uma cascavel, de Itanhandú um lobo e de Pouso Alto uma siriema. São
Lourenço, como a cidade central do sistema, também tem o seu totem que é um javalí.
A propósito de javalí, vou contar-lhes um fato que se passou com um caçador chamado
Eugênio, que reside em São Lourenço. O que vou contar sucedeu justamente no ano de
1921, quando os Gêmeos Espirituais foram pela primeira vez à Montanha Sagrada.
Estava o caçador Eugênio caçando nos arredores da Montanha, quando deparou com uma
gruta estranha. Desejoso de ver o que havia ali dentro, ele penetrou no seu
interior e, qual não foi o seu susto quando viu ali alguns caetetus, mas que deviam
ser javalís, em atitude de quem estivesse conversando, sendo que entre eles havia
um maior do que os outros, o qual, segundo conta o caçador Eugênio, parecia ser o
chefe deles todos, tal a atenção que os outros davam a ele. Tão apavorado ficou o
caçador com aquele espetáculo, pois teve a impressão exata de que aqueles animais
não eram comuns, tal a expressão das suas fisionomias, que ele saiu correndo da
gruta, porém com a pressa que teve em fugir, deixou lá uma garrafa de querosene que
levara consigo.
Muitos anos depois deste fato, estando o caçador Eugênio conversando com uns Irmãos
da Sociedade, entre eles o Walter, filho do Professor, Vidal e um outro residente
em São Lourenço, Ural Prazeres, contou a eles o que vira e como achara aqueles
javalís esquisitos. Ora, esses Irmãos que sabiam ser o javalí o totem de São
Lourenço, mostraram desejo de ir àquela gruta da Montanha e, no dia seguinte pela
manhã, acompanhados do caçador Eugênio, para lá se dirigiram. Os javalís não
estavam lá, mas a garrafa de querosene ainda se encontrava no mesmo lugar. Essa
garrafa foi apanhada pelos Irmãos e hoje encontra-se também no Museu do nosso
Templo, em cujo gargalo vê-se uma pequenina ferradura, que é justamente do tamanho
da pata de um javalí e foi encontrada nos terrenos onde foi edificado o Templo da
Vila Canaã. Foi uma lembrança deixada alí pelo totem de São Lourenço para os Irmãos
da Sociedade.
Outra coisa também interessante que desejo contar a vocês sobre o Sistema
Geográfico são as bibliotecas que lá existem. Todos os livros do Mundo são levados
para lá. Como Aiuruoca é a cidade mais antiga, os livros mais antigos são guardados
alí. Pouco Alto, como é a mais nova, guarda os livros mais recentes. São todos
livros de grande valor, que contém ensinamentos preciosíssimos.
Agora que vocês já tem uma idéia do que seja um Sistema Geográfico, vou contar uma
lenda muito antiga que tem a ver com a primeira cidade desse Sistema Geográfico,
que é Aiuruoca.
Há muitos e muitos anos, a serra onde hoje existe a cidade de Teresópolis, bem
pertinho do Rio de Janeiro, chamava-se Itapira, que significa Pedra Inclinada ou
Montanha de Fogo. Ali viviam os Gurupiras, indios de grande valor, pois eram
descendentes dos Atlantes, e haviam sido salvos da catástrofe atlante, justamente
porque eram uma gente boa. O chefe dos Gurupiras chamava-se Guarantan. Ele tinha
uma filha de nome Abayu, que quer dizer “a de cabelos loiros”. De fato, Abayu era
uma jovem muito bonita, de pele clara, olhos azuis e tinha lindos cabelos cor de
oiro. Esta moça era a sacerdotisa da tribo e o seu renascimento fora anunciado à
sua mãe, Morira, por um Anjo ou Deva. Abayu havia sido escolhida pela Divindade
para ser a mãe do futuro chefe da tribo, o qual conduziria o seu povo para uma
região de fartura, paz e felicidade.
Açoce-Bu, o sacerdote da tribo anunciara a Guarantan que quando Abayu completasse a
idade de 16 anos, um Cavaleiro Celeste de nome Cabaru-Tupã, viria desposar a jovem,
para que desse casamento nascesse o futuro chefe da tribo.
Assim, toda a infância de Abayu foi cercada de um certo cuidado, porque segundo
anunciara o sacerdote Açoce-Bu, a jovem filha de Guarantan não era uma criatura
comum e por isso, tinha sido escolhida para ser a esposa do Cavaleiro Celeste e Mãe
de Mora-Morotin. Abayu era uma sacerdotisa do Templo, e por isso era ela quem
velava o Fogo Sagrado.
Acontece, porém, que ao sopé da Montanha onde habitavam os Gurupiras, nome esse que
significa “os que moram além da serra”, vivia um outro povo mau, que se dedicava a
feitiçaria e portanto não deveria durar muito tempo; era um povo que estava fadado
a desaparecer devido as maldades que praticavam os seus homens. Chamava-se esse
povo Caacupês, que quer dizer “os que moram por baixo da serra”. Nessa tribo havia
um feiticeiro chamado Bagé Baguá, que quer dizer o Feiticeiro da Lagoa. Bagé Baguá
sabia da grande felicidade que um dia iriam gozar os Gurupiras quando Mora-Morotin
atingisse a maioridade, isto é, quando completasse 21 anos de idade e, por isso,
levasse o seu povo para a terra da paz, da fartura e da felicidade e disse isso ao
filho do chefe da sua tribo a fim de que Mora-Morotin nascesse entre os Caacupês.
Mas para isso era preciso que Apiamira roubasse Abayu. E desde esse dia então, os
Caacupês começaram a se preparar para uma grande guerra, com o intuito de roubarem
a bela Sacerdotisa dos Gurupiras, a jovem Abayu.
Por outro lado, porém, o Sacerdote Açoce-Bu, que de tudo sabia, vigiava Abayu dia e
noite, para que nada de mau lhe acontecesse. Quando Abayu completou a idade de 16
anos, foi avisada por um Anjo que o seu noivo celeste Cabaru-Tupã, deveria chegar
dentro em breve e que no dia da sua chegada, uma grande luta se travaria entre as
duas tribos, dos Gurupiras e dos Caacupês.
Ao saber do sonho de Abayu, o Sacerdote Açoce-Bu avisou ao povo para que todos
estivessem preparados para o grande momento que se aproximava. De fato, alguns dias
depois desse sonho, o céu se cobriu de negras nuvens que pouco a pouco foram se
dissipando, deixando ver no firmamento três Arco-Iris, formando três círculos, em
cujo centro resplandecia o Cruzeiro do Sul. Era este o sinal da vinda de Cabaru-
Tupã, o Cavaleiro Celeste.
Guarantan, então, chamando toda a sua gente, ordenou que se formassem três círculos
com os guerreiros mais valentes da tribo, ficando ele, Abayu e o Sacerdote no
centro, aguardando os acontecimentos. De repente, línguas de fogo ergueram-se da
terra, como se fossem enormes fogueiras e grandes bolas nas cores amarelo, azul e
vermelho, saltavam de um monte para outro. Uma chuva de estrelas foi o aviso da
chegada de Cabaru-Tupã. E, como se tivesse caído do céu, apareceu no centro dos
três círculos da terra, bem diante de Abayu., o Cavaleiro Celeste, trazendo na Mão
direita uma espada de fogo. O seu cavalo era todo branco e os arreios de oiro.
Saltou os estribos e se ajoelhando diante de Abayu, tomou-lhe as mãos, beijando-as
respeitosamente. Em seguida, dirigiu-se a Guarantan, felicitando-o por ser o pai da
divina Abayu, e disse-lhe: - Tú és o tronco de onde vai surgir a nova raça, da qual
meu filho Mora-Morotin será seu guia. Eu sou o Filho de Tupã, do qual nascem todos
os seres da Terra.
Enquanto isso se passava, o Sacerdote Açoce-Bu, ajoelhado,, beijava a terra e o
povo radiante, gritava alegremente “Iaguabebê, Iaguabebê, Cabaru-Pararaga” que,
traduzido para a nossa língua significa: “Estrelas cadentes, estrelas cadentes, o
cavalo das nuvens, o cavalo das nuvens”.
Ora, os Caacupês, que tudo haviam presenciado, começaram desesperadamente a galgar
a serra, atirando as suas flechas envenenadas em direção dos Gurupiras. Foi então
que se travou uma luta terrível entre as duas tribos. O Cavaleirto Celeste,
brandindo a sua Espada de Fogo, ia vencendo os terríveis feiticeiros e, em dado
momento, ouviu-se um estrondo medonho que fez tremer a própria terra e grandes
pedras começaram a rolar montanha abaixo, matando os últimos guerreiros dos
Caacupês.
Cessada a luta, Cabarú-Tupã voltou para junto da sua noiva e começaram então os
preparativos para o casamento, cujas festas duraram sete dias.
Algum tempo depois, um acontecimento ainda maior verificou-se; o nascimento de
Mora-Morotin, que quer dizer o Puro, o Perfeito, Aquele que conduziria o seu povo
para uma região de paz, felicidade e fartura.
Acontece, porém, que Cabarú-Tupã, o Cavaleiro Celeste não podia continuar na Terra.
Depois do nascimento do seu filho Mora-Morotin, devia ele desaparecer e por isso,
depois de ter preparado a sua esposa para essa separação, foi embora, da mesma
maneira misteriosa pela qual aparecera.
Quando Mora-Morotin completou 21 anos, foi proclamado Chefe da sua Tribo. Reuniu
então toda a sua gente e avisou que em breve deveriam todos partir para um lugar
distante, onde havia fartura, paz e felicidade.
Foi assim que Mora-Morotin e seu povo chegaram a Aiuruoca, que na língua indígena
quer dizer “Buraco na Rocha” e em outra língua, em sânscrito, significa Lugar de
Luz (Ajur-Loka), alí se estabelecendo e fundando a primeira cidade do Sistema
Geográfico Sul-Mineiro. Ajur-Loka: Caverna da Luz, Boca Iluminada.
20. A Porcelana do Rei
Peça em 1 ato - com bailados
(adaptação de um conto de Malba Tahan)

Cenário

A ação passa-se na China, no palácio real. Vê-se a sala do trono onde o Rei,
cercado de mandarins, discute assuntos importantes. Do outro lado do salão, vê-se
um grupo de homens idosos conversando com o sábio filósofo Confúcio. Gentís
senhoras alegram o ambiente com a sua graça e beleza, enquanto palestram com certa
discrição. Nas paredes veem-se belos quadros e ricas tapeçarias, onde predominam
figuras de dragões alados, de cores vivas e brilhantes. Em cima de pequenas mesas e
dentro de vitrinas, acham-se os mais belos objetos de arte, trabalhados em marfim e
porcelanas finíssimas. Dois lindos vasos dourados, de porcelana, estão colocados em
um móvel próximo ao trono.

REI - Afastando-se dos mandarins dirigindo-se a Confúcio:


“Dizei-me, ó honrado Confúcio, como deve agir um magistrado? Com extrema
severidade, a fim de corrigir e dominar os maus, ou com absoluta benevolência, a
fim de não sacrificar os bons?”

CONFÚCIO - Conservando-se, a princípio em silêncio, em profunda reflexão e


depois, dirigindo-se a um servo:

“Traga dois baldes de água; um com água fervendo e outro com água gelada.

- O servo retira-se a fim de buscar o que foi pedido. Os presentes


entreolham-se em silêncio. Instantes depois, volta o servo com as vasilhas de água
e coloca-as perto de Confúcio.

CONFÚCIO - Dirigindo-se ao servo:


“Traga aqueles dois vasos dourados - o servo obedece - Agora enche
esses vasos com a água que acabas de trazer, sendo um com água fervendo e outro com
água gelada.”

- O servo prepara-se para obedecer a ordem de Confúcio, mas não chega a


cumprí-la, porque ouve-se um certo burburinho no salão e o Rei, indignado, dirige-
se ao sábio, com ar estupefato:

REI “Que loucura é esta, ó venerável Confúcio! Quereis destruir essas obras
maravilhosas? A água fervendo fará, certamente, arrebentar o vaso em que for
colocada; a água gelada fará partir o outro.”

- Confúcio não responde, mas toma uma das vasilhas e mistura as águas;
primeiro a fria e depois a quente. Com a mistura, enche os dois vasos. O Rei e os
mandarins, bem como todos da côrte , observam, atônitos, a atitude singular do
filósofo. Confúcio, indiferente ao assombro dos presentes, aproxima-se do Rei, e
então fala:

CONFÚCIO “A alma do povo, ó Rei, é como um vaso de porcelana, e a justiça do Rei


é como a água. A água fervente da severidade ou a gelada da excessiva benevolência
são, igualmente, desastrosas para a delicada porcelana; manda pois, a Sabedoria e
ensina a Prudência, que haja um perfeito equilíbrio entre a severidade com que se
pode castigar o mau e a benevolência com que se deve educar e corrigir o bom.”

21. A Luz é a Alma

Temos todos um corpo e uma alma, não é verdade? O corpo é formado de membros
diversos: cabeça, braços, tronco, pernas, etc. No interior desse mesmo corpo temos
os orgãos: o cérebro, o coração, com o seu constante ti-tac, temos as veias por
onde corre o sangue, e muitos outros orgãos mais. Tudo isso se chama a parte física
da criatura, ou seja, a matéria. Por sobre o corpo vestimos as roupas e assim, fica
o corpo escondido. Pois bem, irmãozinhos, além desse corpo que é a nossa parte
material, a nossa aparência física, temos todos uma alma que dentro de nós habita e
que é o nosso verdadeiro Eu ou Ego.
Alma essa que já morou em outros corpos, que deles se libertou no momento da morte,
que outra coisa não é senão uma diferente forma de vida em outros planos; mais
tarde explicaremos a vocês o que são os planos. Diremos agora, apenas, que planos
são como que outros mundos. Pois bem, essa alma que abandona o corpo quando cessa a
vida física, volta mais cedo ou mais tarde, a reencarnar-se. Reencarnação
significa, como vocês estarão compreendendo, a volta de uma alma em um novo corpo.
É, por exemplo, como a mudança de uma pessoa de uma casa para outra. A pessoa que
se muda é a mesma, apenas a casa é diferente, e isto porque a habitação primitiva
não serve mais, por essa ou aquela razão e muitas vezes por estar velha e
estragada. Do mesmo modo, quando o corpo fica velho ou atacado pelas enfermidades
que não mais pode vencer, vem então a morte e a alma, que continua viva - pois que
é eterna e imortal - vai para outros planos, voltando depois a habitar o novo corpo
em uma criança que nasce.
O Que é alma? - perguntarão vocês - A alma que mora dentro de nós, é como a luz que
ilumina as nossas moradas, sendo ainda o próprio sopro que alimenta a nossa vida.
Essa luz que ilumina as casas faz com que possamos ver tudo quanto as mesmas
contém. Durante as horas do dia, temos a luz do sol e de noite, a iluminação
artificial, a elétrica, usada agora. Assim também a alma pode ser comparada a uma
luz intensa que ilumina a nossa mente - parte interior da cabeça na qual mora o
Pensamento - e essa luz faz com que possamos conhecer os nossos defeitos e
qualidades, corrigindo pouco a pouco os primeiros e sempre procurando aperfeiçoar
os últimos.
Mas para que a alma possa viver desperta dentro de nós, para que não fique
adormecida, como aquela princesa de um bonito conto de fadas que vocês por certo
conhecem, é preciso que cuidemos dela, que a alimentemos por meio de bons
pensamentos, bons sentimentos e boas ações, do mesmo modo pelo qual cuidamos de uma
planta a fim de que ela possa crescer, dar flores e frutos.

A minha meditação:

“Seja o melhor possível, aquilo que você é.”


22. A Floresta Encantada

Em uma graciosa casinha, na orla da Floresta Negra (Alemanha), vivia a família de


um carpinteiro. Sua filhinha cantava o dia inteiro e enchia a casa com o seu riso e
brincadeiras. Chamava-se Rainho de Sol.
- Mulher - disse o carpinteiro um dia - faz tempo que o meu serrote está mudo,
porque não tenho sequer uma tábua para fazer um banquinho. Se não trabalho, não
ganho dinheiro para comprar a madeira que preciso e, sem madeira, como posso
trabalhar?
A mulher suspirou profundamente.
- Que problema! - disse - Não sei o que fazer! Não temos mais nem uma migalha de
pão...
- Mas eu poderia encontrar a solução - continuou o carpinteiro - neste bosque há
faias, pinheiros, carvalhos... Poderia ir abatê-los...
- Oh! não, por favor, não vá! - pediu a esposa - No bosque há gnomos e sílfides,
duendes invisíveis e bruxas... Eles aprisionam os que penetram no seu reino... Não
vá, porque eu não voltarei a vê-lo! - E a pobre mulher caiu em prantos.
Coragem - consolou-a o marido - Você vai ver que nada me acontecerá. E não chore
tão alto para que Raio de Sol não a ouça...
Na manhã seguinte ao despontar da aurora, o carpinteiro foi se afastando de sua
casinha adormecida, e não percebeu uma pequenina figura vestida de rosa que o
seguia à distância. Era Raio de Sol que, na noite anterior, havia escutado a
conversa em torno dos terríveis perigos da floresta, e seguia o seu papai,
furtivamente, para protegê-lo.
O carpinteiro caminhava a largos passos e Rainho de Sol corria penosamente atrás
dele. À medida que penetravam na floresta, a pequenina, exausta, caminhava cada vez
mais lentamente e ia ficando para trás. Seu pai já não era mais do que um pontinho
que aparecia e desaparecia por entre as árvores.
Agora já não via mais o papai, e Rainho de Sol chamava-o chorando. Mas na escuridão
da floresta, respondia-lhe apenas o canto do cuco. O Carpinteiro estava longe
demais para ouvir a voz de Rainho de Sol e avançava sob o teto verde das grandes
árvores.
Finalmente viu um pinheiro imponente, como jamais vira, com tronco reto e grosso e
uma copa frondosa que se refletia na água escura do lago. O carpinteiro levantou o
machado e deu um golpe. Do tronco ferido saiu um estranho gemido, mas o homem não
lhe fez caso. Os golpes do machado reboavam firmes e ritmados, no silêncio da
selva.
Ao escutar o ruído do machado contra o pinheiro, Rainho de Sol deixou de chorar e
ficou à escuta. Logo, com o coraçãozinho saltando loucamente, pôs-se em marcha, o
ruído dos golpes haveria de guiá-la até onde estava seu papai.
Enquanto isso o carpinteiro continuava seu trabalho quando, de repente, a um golpe
mais forte, saiu do tronco um grito. O carpinteiro parou com o machado no ar. O
coração batia-lhe violentamente.
- Quem... quem é? - perguntou com voz trêmula.
- Sou a fada dos bosques - respondeu uma voz muito doce e sentida - Não posso
impedí-lo de que me corte o tronco, mas lembre-se de que ao ferí-lo, fere a mim
também...
E do tronco ferido caíam grandes gotas de resina, brilhantes como lágrimas de
âmbar. O homem baixou o machado sem dizer palavra.
Aproximou-se de outra árvore; precisava encontrar madeira. Levantou o machado para
golpear, mas baixou-o logo, suspirando. E se alí fosse a morada de outro habitante
da floresta? Já não tinha coragem de abater outra árvore.
As machadadas que haviam guiado Rainho de Sol até seu pai, cessaram. A menina
principiou a correr desesperadamente e chegou, por fim, à clareira.
O carpinteiro, de pé, ao lado do pinheiro encantado, estava pensando
melancolicamente que teria de voltar para casa com as mãos vazias.
Então e menininha, com um grito de alegria, abriu os bracinhos e correu para o pai.
Mas nao viu a água do lago entre as touceiras de altos arbustos, e nela caiu.
O carpinteiro deu um grito e correu em socorro da sua filhinha, mas ficou preso no
lodo do lago.
Então, lentamente, o soberbo pinheiro baixou um enorme ramo até a água e segurou a
menininha pelo vestido.
O carpinteiro agarrou sua filhinha com o coração transbordante de gratidão pela
fada do bosque que havia assim retribuído a sua bondade, e voltou para casa.
Com a pequena nos ombros, apareceu todo sorridente na porta da casinha e gritou
para a esposa, que correu ansiosa ao seu encontro:
- Que importa o dinheiro, se com Rainho de Sol temos um tesouro mil vezes mais
precioso.

23. A Rosinha Chinesa

Em uma linda tarde de primavera, uma pequena chinezinha chegou da escola, chorando.
A mamãe, muito aflita, perguntou-lhe porque chorava. Que havia acontecido?
- Eu não quero mais me chamar Rosinha! Não gosto mais do meu nome.
- Mas por que, filhinha?
- É que eu e as minhas coleguinhas estávamos brincando no recreio da escola,quando
uma delas lembrou-se de perguntar a cada uma qual era a sua flor preferida... e eu,
naturalmente respondí que era a que trazia meu nome... Rosa. Elas então puseram-se
a rir da minha resposta, dizendo que justamente a rosa era a flor mais feia, pois
era toda cercada de espinhos, e que a gente machuca sempre a mão quando quer pegar
uma rosa da roseira. É por isso que eu não quero mais me chamar Rosinha!...
- Não chores mais, filhinha, enxugue as lágrimas, tome o seu lanchinho e, como
ainda é cêdo, a mamãe vai dar um passeiozinho com você, e contar porque lhe pus o
nome de Rosinha.
Rosinha enxugou as lágrimas, tomou seu lanche e foi com sua mamãe passear.
A mãe de Rosinha levou-a por um caminho que muito pouca gente fazia. Esse caminho
levava a um bosque e esse bosque era chamado “O Bosque do Castelo Misterioso”.
Quando entraram no bosque, Rosinha avistou ao longe o misterioso castelo e,
chegando mais perto, Rosinha viu que ele era todo cercado de roseiras. Eram todas
rosas brancas, mas, olhando melhor, Rosinha viu que bem no meio haviam rosas
vermelhas.
Rosinha parou, maravilhada... Nunca vira rosas tão bonitas.
- De quem é esse castelo, mamãe?
- Eu a trouxe aqui justamente para contar sobre isso: Há muitos e muitos anos
habitava neste castelo um Rei muito bom e corajoso, com a Rainha, também muito
bondosa e querida. Tinham eles uma graciosa e bonita filhinha, a meiga princezinha
MEI-LING, que quer dizer “Vida Bela”.
- A princezinha era a felicidade e a alegria do reino e, quando ficou moça, logo
apareceram muito príncipes que queriam casar-se com ela.
- O Rei estava em apuros para decidir sobre a escolha do príncipe que devia fazer a
felicidade de MEI-LING e do seu povo.
- Certo dia, teve o Rei uma feliz idéia, um plano para conhecer a coragem e bondade
dos príncipes. Disse que a princezinha iria ficar afastada 5 anos, pois precisava
fazer uma viagem e, quando passasse esse tempo, eles poderiam voltar e MEI-LING
faria a sua escolha.
- Os príncipes partiram para voltarem somente após 5 anos, mas a princezinha não
foi viajar, não!... ficou no castelo.
- O Rei mandou então, que o jardineiro plantasse em volta de todo o castelo,
roseiras silvestres, essas que possuem grandes e aguçados espinhos.
- E os anos foram passando... os príncipes esperando... e as roseiras crescendo e
enchendo-se de grandes e belas rosas brancas, até que, decorridos os 5 anos, chegou
uma tarde ao castelo, o primeiro príncipe.
- Era garboso e belo, montado no seu lindo cavalo com arreios de ouro e pedras
preciosas.
Perguntou então aos soldados que montavam guarda ao castelo, se podia ser recebido
pela princezinha.
- Nobre príncipe - respondeu-lhe um dos soldados - estais vendo aquela cerca de
espinhos e rosas silvestres? Só por alí poderá passar quem pretender chegar à
presença da princezinha. O nosso querido Rei partiu há algumas semanas para uma
caçada, levando consigo todas as chaves do castelo. Não sabemos quando será o seu
regresso.
E lá dentro, no lindo quartinho cor-de-rosa, MEI-LING, os lábios sem sorrisos e os
olhos com lágrimas, porque não podia sair para os seus passeios nestas manhãs de
primavera!
O Rei, por sua vez, ordenou a todos deste reino que não cortassem nem magoassem as
roseiras tão floridas, nesta risonha manhã de primavera... Quem terá a coragem de
se arriscar e ferir as mãos e rasgar as vestes nesta cerca de espinhos?
- Se á assim - respondeu o príncipe desapontado - partirei novamente sem ver a
princezinha, e voltarei quando souber do regresso do Rei. As minhas mãos de
príncipe, nobres e delicadas, e as minhas luxuosas roupas, não permitem que eu
procure passagem nesta cerca de espinhos. Adeus!...
E lá se foi o príncipe, depois de dar mostras de covardia, orgulho e mau coração.
Como o primeiro, muitos outros príncipes vieram e logo partiram, depois de terem
sempre dado a mesma resposta; que não podiam machucar as mãos e rasgar as roupas.
Entretanto, dentro do castelo o Rei, a Rainha e a meiga princezinha, continuavam
aguardando a chegada de um novo príncipe que fosse mais nobre e corajoso,
arriscando-se a passar pela “cerca de espinhos” que circundava o castelo e, assim,
chegar até onde estava MEI-LING (Vida Bela), a mais linda flor do castelo... Até
que um dia, chegou ao castelo mais um príncipe.
TSING-CHING era o seu nome, que quer dizer: “Puro Ouro”.
Era belo e garboso como os outros que por alí tinham estado, mas em uma coisa ele
era diferente; os olhos refletiam toda a bondade de seu coração.
Ao perguntar pela princezinha, ouviu dos guardas a mesma resposta, mas dos seus
lábios saíram as seguintes palavras:
- Pois bem... passarei pela cerca de espinhos. Sei que irei ferir minhas mãos e
rasgar minhas vestes, mas pequeno será para mim esse sacrifício, uma vez que
receberei como prêmio o coração de MEI-LING, a quem desejo restituir o sorriso e a
alegria. Um príncipe corajoso e nobre não teme os espinhos das roseiras, e nem os
espinhos da vida. Não se acovarda diante de uma dificuldade ou perigo - continuou
ele.
E decidido, cheio de entusiasmo, TSING-CHING foi, com suas mãos de príncipe, com
cuidado para não magoar as rosas, abrindo caminho para o jardim do castelo.
Suas mãos sangravam, doloridas, e a medida que o sangue gotejava sobre as rosas
brancas, estas iam-se transformando em rosas vermelhas... Rosas que formaram para
sempre aquele “tufo” escarlate que sobressaía dentre as rosas de neve da cerca de
espinhos.
Suas vestes estavam quase em farrapos, e seu rosto todo ferido. Mas ele continuava
resoluto, até que conseguiu vencer os espinhos... e penetrar no maravilhoso jardim
onde, já na porta do castelo o esperavam o Rei, a Rainha e a mimosa MEI-LING, que
correu ao encontro do bravo TSING-CHING, procurando tirar alguns espinhos que ainda
se achavam em suas mãos.
O brilho dos seus olhos e o sorriso dos seus lábios refletiam toda a alegria do seu
coraçãozinho, que ia agora pertencer ao nobre e valente príncipe.
E foi assim que, graças aos “espinhos da roseira”, o príncipe TSING-CHING casou-se
com MEI-LING, depois de haver demonstrado sua coragem, bondade e nobreza, três
qualidades que formam a beleza de um coração.
O Rei e a Rainha foram morar com TSING-CHING e MEI-LING em outras terras, mas o
castelo antigo foi doado pelo bondoso Rei ao velho jardineiro, que havia cuidado
com tanto carinho do seu jardim e principalmente das roseiras silvestres.
Recomendou-lhe porém, antes de partir, que nunca arrancasse aquelas roseiras que
alí deviam ficar para sempre, com suas perfumadas rosas brancas e vermelhas e com
seus espinhos, para que lembrassem a todos que a VIDA É FEITA DE ESPINHOS E ROSAS,
DE RISOS E LÁGRIMAS; que todos, uma vez vencidos os espinhos, podem conquistar uma
vida melhor (Iniciação).
Mais tarde o jardineiro morreu, muita gente tentou arrancar as roseiras silvestres,
mas em vão. No dia seguinte, lá estavam elas, verdes e viçosas, ostentando suas
lindas e perfumadas rosas e seus aguçados espinhos.
Contos

Maria de Lucena

24. Fantasia sobre as Vidas dos Gêmeos Espirituais

1ª Vida - Época Lemuriana

“A Esfinge”

Antes de o Mundo ser Mundo existia a Luz

Deus, um dia, vendo tudo quanto já havia formado, sentiu que faltava alguma coisa:
ERA O HOMEM.
Criou-o então, em forma de LUZ, usando para isto o SEU PRÓPRIO HÁLITO. Tinha,
porém, de dar-lhe um corpo físico.
E sendo a Terra habitada por animais, o homem deveria ter uma forma semelhante a
estes.

Foi quando o Senhor criou a Esfinge

Em uma manhã radiosa de Sol, quando os habitantes da floresta despertaram


assombrados, viram, em um recanto do deserto, entre palmeiras, uma figura
gigantesca e que possuía o corpo de animal assim como eles. Era dotada de cabeça
humana, cujos olhos de um negro profundo, irradiavam uma luz vivíssima. Dos Anjos,
ela possuía as asas; e, nesse instante, os animais, os pássaros e toda a natureza
quedaram-se em silêncio.

A Esfinge, como se recitasse uma Profecia, disse:

“Eu sou aquele que voltará sempre. Tenho de vocês, a aparência. A LUZ habita em
mim. Dos pássaros tenho as asas que me erguem aos espaços, em busca de meu PAI”.
E os animais, os pássaros e as próprias palmeiras ouviam a ESFINGE que falava.
Continuando, ela disse:
- “E, a noite, quando o céu fica cheio de estrelas, um diálogo se estabelece entre
nós”.
Do alto da abóbada infinita, descia em uma escada de estrelas, UM RAIO DE LUZ. E a
ESFINGE, em êxtase, fechava os olhos e meditava!... - “Senhor, por que não me
libertas desta forma? Por que não me crias à TUA SEMELHANÇA?...”
E Ele respondeu: - “PORQUE EU SOU AQUELE QUE NÃO TENDO FORMA, SOU SEMELHANTE A
TUDO. SEM TER VOZ, FALO EM TODOS OS RUÍDOS. SEM CHORAR, ESTOU EM TODAS AS LÁGRIMAS!
E, UM DIA, VOLVERÁS À TERRA EM OUTRA FORMA, E SERÁS PARTIDA EM DOIS”.

Uma noite, a LUZ que habitava na ESFINGE desdobrou-se em mais quatro raios. E na
Terra, em forma exótica, foram representados.
Foi quando surgiram os quatro Centauros

Um tomou como símbolo o LEÃO que é a força; outro o TOURO a resistência; a ÁGUIA
majestosa, símbolo da força pela inteligência, da realização pela vontade, coube ao
terceiro. Por último, veio o ANJO, CUJAS ASAS ELE DERA À PRÓPRIA ESFINGE NO SEU VÔO
ASTRAL.
Assim viviam os habitantes da floresta com a ESFINGE e seus quatro filhos, os
CENTAUROS.
E então, um novo animal surgiu entre eles: O HOMEM!...
Muitos anos foram passados. Um dia desobedeceram a DEUS. Aqueles que assim
procederam, tiveram o castigo merecido e os homens que representavam as sementes do
bem, para que o SENHOR permanecesse na face da Terra, quase desapareceram, ficando
desta forma tão poucos, que a LUZ, para não se apagar de todo, VOLTOU AO REGAÇO
PATERNO.

Outro Aspecto da Vida dos Gêmeos Espirituais - Badezir

O Oriente havia-se transformado em um mundo de maldades e profanação. A Semente


Divina teria, portanto, que se transportar para o Ocidente, onde transformar-se-ia
em homens bem formados, de espírito reto e coração bondoso. O Mal, porém,
espreitava, aguardando o momento propício para mais uma vez os destruir.
Foi, então, que um grande Rei e sua esposa vieram habitar uma parte do Ocidente
onde, em uma linda baía muito azul, cercada de grandes montanhas, escolheram o seu
novo lar. Tinham como companheiro um homem de estatura hercúlea que, embora fosse
escravo, não sofria humilhações próprias de sua condição.

???????

À tarde, quando o sol declinava e as estrelas começavam a pontilhar o céu, saem


Badezir, a esposa e o escravo em uma pequena embarcação, atravessam a baía e vão
ter a um lugar onde eles recebem, através dos Devas, a Palavra Divina.
Em um dos morros que emoldurava tão belo recanto, estava o Gênio do Mal que,
espreitando o casal divino, arquitetava um plano sinistro, com o qual pretendía
destruí-lo.

???????

A tarde morria lentamente. As primeiras estrelas vinham bordar o céu de um azul


profundo. Voltava então do passeio costumeiro, Badezir e seus dois companheiros; de
repente, como se enorme monstro adormecido no fundo das águas despertasse,
levantando-se abruptamente um dorso e volve-se o oceano em ondas gigantescas.
Transforma-se tal qual um animal enfurecido, tendo as mãos em garras e envolve a
pequena embarcação, que sossobra.

???????

Acalma-se o monstro! Sorri satisfeito! Tinha destruído o Bem! Havia arrastado, para
o fundo do abismo, os corpos onde a semente do Senhor germinaria!

???????

No íntimo de outra montanha gigantesca, repousa os corpos sem vida, como um


protesto ao mal. E o escravo, transformado em gigante de pedra, vela pelo passado à
espera do futuro.

???????

Quem fitasse, naquela mesma noite o infinito, veria que duas estrelas tinham
aparecido na abóbada celeste, mais brilhantes que as outras, e ao seu redor,
círculos de luz formavam as suas próprias auréolas, pois que as Essências Divinas
tinham regressado ao seio paterno.

???????

Ó tu, que passas ignorante do que houve, para um pouco e escuta o silêncio que
envolve essa montanha!... Talvez distingas, no sibilar do vento, a tragédia que ela
encerra.

25. Outro Aspecto da Vida dos Gêmeos Espirituais - Krishna

Sofria a India de uma grande convulsão de sentimentos. Ódio, terror, ambição e


maldade viviam na alma daquela gente.
Os Reis negros, produto de uma mistura de raças, filhos da Luz, tinham como única
crença a magia negra.
E foi no meio desse povo que Deus, para mostrar sua magnitude, fez nascer um anjo
em forma de mulher - DEVAQUI.

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Existia em Madurá, cidade poderosa, com seus monumentos e palácios, um Rei


possuidor de um coração duro e egoísta, cujo nome era Cansa. Esse Monarca tinha
como esposa uma mulher de rara beleza, mas de alma tenebrosa, que se chamava
Nixcumba e era filha do grande feiticeiro Calanemi. Ambos cultuavam Cali, a deusa
da morte e devastação, espalhando desta forma, o terror e escravizando os homens. A
justiça e a bondade tinham desaparecido com os nobres filhos de Pându, os Reis
Solares, que eram guiados pelos sábios.
Os raros descendentes desses justos Reis, haviam-se refugiado entre os Anacoretas,
gente da raça branca, dotados de vontade intensa, de um grande poder de adivinhação
profundo, vivendo no mais íntimo das florestas, onde cultuando o Sol e as verdades
Divinas, governavam a Alma da India.
Cansa, como todos os Reis negros, filhos da Lua, tinha como culto a magia negra, e
como ídolo, a Deusa Cali e suas infernais serpentes, com as quais ele atrerrorizava
o seu povo, conseguindo o domínio sobre os outros Reis, ficando assim, senhor de
Madurá. Da sua união não havia descendentes, o que feria a vaidade e a ambição de
ambos.

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Grande movimento festivo se processava na cidade. Nixcumba e o seu esposo queimam


perfumes na fogueira sagrada. Muitos são os sacrifícios. Os sacerdotes invocam o
grande Véruma. O casal anseia por um filho. Nixcumba, desafiando os próprios
Deuses, lança a sua fórmula mágica. Espanto!... Horror!... Os sacerdotes,
aterrorizados, clamam... Deus não ouviu a tua voz. Continuarás estéril e maldita!
Cansa, tendo na face estampado o próprio mal que pratica, exclama: - Quem será a
mãe do Senhor do Mundo?...
Nesse instante, uma jovem de celestial beleza, tendo na brancura dos trajes a
pureza da sua virgindade, aproximou-se do fogo. Por sua vez, também queimou
perfume, desejando o filho esperado, o Senhor do Mundo.

???????

Seria Devaqui, a irmã do Rei Cansa, quem daria ao mundo o Enviado do Senhor.
Desde esse momento, não foi outro o propósito de Cansa e Nixcumba senão o de
exterminá-lo, esquecendo-se porém, que ela, como eleita do Senhor, teria a sua
excelsa proteção. Traçaram desde aquele instante, o plano sinistro. Ela deveria
morrer... Todos os guardas, por isto, foram avisados e as grandes muralhas
guardadas. Os Deuses, no entanto, enviam à Terra um Ser em forma de luz, para
amparar Devaqui contra a ira do irmão.
Pela madrugada, os guardas assombrados veem os muros fenderem-se e a jovem ser
transportada para fora da cidade, internando-se na densa floresta, conduzida pelo
enviado do Senhor.
Um ódio terrível, mesclado de medo, perturba a alma de Cansa, que deseja, com mais
ardor ainda, a morte de sua irmã.
Longas horas se passaram e a bela Devaqui caminhava sempre. As flores, os animais,
as próprias árvores pareciam formar em seu redor, uma imensa e intransponível
barreira, como se enorme mão espalmada detivesse a marcha do mal. Uma paz profunda,
um encanto celestial invadiram toda a natureza. No meio do emaranhado de troncos
surgiu, ante os seus olhos, um lago cujas águas tinham, como suas pupilas, a cor
azul dos céus.. Cisnes delizavam mansamente. Ao chegar no meio dos ascetas, o velho
Vasixta, o Rei dos Anacoretas, vendo-a diz:
- Aquela será a mãe de todos nós, porquanto dela nascerá o espírito que deve
regenerar.
Desde então, a eleita do Senhor passou a morar entre seus bons amigos.

???????

Devaqui vagava pela floresta, tranquila. Meditando, acercou-se de uma fonte onde os
lotos floresciam, sonhando com os mistérios de Deus. Em seus sonhos ouve cânticos
de amor estranho.
Um dia, quando mais belo estava o céu, as fontes calaram-se, as flores curvaram-se
em reverência; desceu do infinito, restando as nuvens, um raio de luz. Era o Filho
do Senhor que vinha habitar o seio materno, o próprio Sol que habitaria entre os
homens. Assim, vivendo um sonho que era a própria realidade, estava Devaqui, quando
acercando-se dela, disse-lhe o chefe dos Anacoretas:
- Cumpriu-se a vontade dos Devas. Tu concebeste na pureza do coração e no Amor
Divino. Virgem e Mãe, nós te saudamos. Um Ser nascerá de ti, que será o Salvador do
mundo. Mas teu irmão Cansa procura-te para te fazer sofrer com o fruto tenro, que
trazes em teus flancos. É preciso fugir-lhe. Os nossos irmãos te guiarão até os
pastores que moram nas fraldas do Monte Meru, sob cedros odorantes, no ar puro do
Mivavant. Lá darás ao mundo o teu Filho Divino e chamá-lo-as Krishna, o Sagrado.
Mas, que ele ignore sempre a sua origem e a tua; que tu nunca lh’a descubras. Vai
sem temor, que nós velaremos por ti.

???????

Uma paz profunda reinava na casa de Nanda, o velho amigo dos Anacoretas. Os
pastores recolhiam o gado e os carneiros bailavam em busca do calor materno. Toda a
natureza em suspenso aguardava algo divino que se desenrolaria dentro em breve. E
foi aí, no mais profundo dos mistérios, que Devaqui deu ao mundo o seu pequeno
Krishna.
Mais uma vez o Filho do Senhor habitaria entre os homens. Ninguém sabia da origem
de Devaqui e seu Filho Divino. Desta forma nasceu Krishna, entre pastores, de sua
Mãe radiosa.
Correram os anos e Krishna, adolescente, vê-se separado abruptamente de sua mãe e
uma profunda tristeza invade-lhe a alma. Sai então a procurá-la, internando-se no
bosque próximo, pensativo, triste, sentindo-se infeliz e, cansado, adormece sob uma
frondosa árvore.
Em um sonho maravilhoso, vê Krishna sua mãe, radiosa de beleza; toda ela era uma
aurora de luz. Uma túnica de estrelas caia-lhe dos ombros envolvendo-lhe
carinhosamente o corpo. Os seus olhos de um azul profundo, pareciam mais azuis
ainda. Krishna deslumbrado, com o coração em festa e esquecido de tudo, sorria para
a própria divindade que tinha ante sí. Depois ela toda se transformou em uma só Luz
dourada, cintilante, e Krishna sentiu que aquela Luz se perdia no espaço, vindo
mergulhar em seu próprio peito, penetrando-lhe a alma, diluindo-se, confundindo-se,
integrando-se nele próprio. Compreendeu então Krishna, que sua Mãe Divina era a
outra metade do seu Ser. Era Ele próprio em seu outro aspecto. Soube desde logo, a
sua própria origem. Despertando, ainda sentia os olhos deslumbrados pela visão. E
nunca mais chorou a ausência de sua Mãe radiosa, agora, quando mais do que nunca
ela se integrava nele, pois o Sol já não estava mais partido em dois!

26. Ceix e Alcione

Vocês sabem o que é Alcione? Alcione é uma ave muito parecida com a pomba, mas que
vive na beira da praia. Quando um barco ou navio se aproxima da terra, os alciones
começam a voar sobre eles. Alcione não quer dizer somente isso, é também o nome de
uma estrela. Como vocês sabem, no céu todas as estrelas tem nome. Por exemplo: Há
grupos de estrelas que chamamos de “constelação” como a de Centauro, de Touro, as
Três Marias e Cruzeiro do Sul. Quem é que não conhece o Cruzeiro do Sul? É um grupo
de cinco estrelas, 4 formam uma cruz e a 5ª fica mais ou menos no meio. Alcione
também pertence a um grupo de estrelas, de nome Plêiades. É a estrela mais
brilhante desse grupo. Pois bem, comecemos a nossa história.
Há muito, muito tempo, em uma cidade muito longe daqui, vivia um moço chamado Ceix
que era casado com uma moça de nome Alcione. Os dois eram muito felizes, mas no
momento havia uma coisa que preocupava Ceix; haviam-lhe dito que alguma coisa não
muito boa iria lhe acontecer.. Ceix estava tão preocupado que um dia disse à
esposa:
- Alcione, não posso mais viver nessa incerteza; ouví dizer que em uma cidade longe
daqui, tão longe que é preciso atravessar o mar, há o famoso Oráculo de Apolo e
estou disposto a consultá-lo.
Alcione não queria que Ceix fizesse essa viagem porque era muito longa e perigosa;
procurou então convencê-lo a não partir. Ceix, porém, não se deixou persuadir, mas
prometeu voltar o mais depressa possível, e deu início aos preparativos para a
viagem. Na hora da despedida, tão grande era a dor que Alcione sentia, pois era a
primeira vez que se separava do marido, que ao dizer adeus, desmaiou. Quando
recuperou os sentidos, divisou o navio que se afastava ao longe.
O navio de Ceix já tinha feito metade da viagem, quando as ondas começaram a ficar
furiosas e a crescerem, desabando uma terrível tempestade.
- Depressa, recolher as velas - gritou o piloto. Mas as suas palavras mal se
ouviram, tal era o barulho feito pelo vento.
Uns corriam para tirar a água que entrava no navio, outros tapavam os buracos
feitos no casco, enquanto as vagas ficavam cada vez mais furiosas. O capitão do
navio não sabia mais o que tinha a fazer, que ordens dar.
O céu foi ficando cada vez mais escuro e só se via a claridade dos relâmpagos.
Todos estavam desesperados; uns clamavam aos Deuses, outros choravam, pensando nos
filhos e pais que tinham deixado em terra. Ceix só pensava em Alcione. Nesse
momento o mastro caiu, arrebentando o leme e o navio, sem governo, foi para o fundo
do Oceano. Enquanto isso, Alcione contava os dias que faltavam para o esposo
chegar. Preparou os vestidos mais bonitos, não esquecendo de queimar perfumes aos
Deuses, principalmente à Deusa Hera, que também poderemos chamar de Minerva, e de
implorar que lhe trouxesse o esposo são e salvo. Hera viu todas essas coisas com
tristeza e, chamando Íris, a mensageira dos Deuses, disse:
- Corre, vai a Corte do Deus Sono e diga-lhe que, através de um sonho, faça com que
Alcione venha a saber o que está-se passando com Ceix.
Íris tomou as suas vestes de cores do Arco-Íris e, montada em um pássaro, voou até
os rochedos, onde havia uma gruta enorme e profunda. No fundo da caverna reinava o
Deus do Sono. Nesse reino não há luz, é sempre noite, tudo é silêncio, não se ouvem
latidos de cães, nem voz humana. Percebe-se apenas o murmurar suave e adormecedor
de um ribeiro, que fica na entrada da gruta. Na margem do ribeirinho, brotam
inúmeras ervas aromáticas, com perfume que entontece e provoca sono. Nesse reino
não há nem uma porta que range, tudo é silêncio completo. A porta de entrada está
sempre aberta. No interior da gruta há um leito ou cama de ébano, todo coberto de
macias almofadas. Alí descansa o Deus Sono; em seu redor ficam os mil vultos de
seus filhos: os sonhos.
Assim que Íris penetrou na caverna, esta se iluminou com o brilho de suas vestes. O
nosso tão conhecido Deus (Sono) ergueu as pálpebras cansadas e abaixou-as de novo.
Acenou com a cabeça, sonolento, impulsionou o corpo para a frente, apoiou-se no
braço e disse:
- Que mensagem trazes, ó cintilante Íris?
Rapidamente a mensageira dos Deuses explicou a razão da sua vinda, saindo o mais
depressa que pode daquele reino escuro, porque se alí ficasse muito tempo, também
dormiria. Logo que ela saiu, o Deus Sono escolheu, entre todos os seus mil filhos,
Morfeu, para cumprir a ordem divina. Morfeu, tomando a forma de Ceix, voou com asas
silenciosas através da noite, e chegou ao quarto onde Alcione dormia e, por meio de
sonho, contou-lhe tudo.
Depois do sonho, Alcione acordou e, compreendendo tudo começou a chorar. O dia já
clareava quando ela foi para a praia, olhando o mar para ver se encontrava o corpo
do amado esposo. Vocês sabem que o mar devolve tudo o que não lhe pertence? Quem
sabia disso? Bem, mas continuemos com a história: Alcione olhava para aquela
imensidão, até que ao longe divisou um vulto que as ondas foram trazendo para a
praia, e que ela reconheceu como sendo Ceix. Alcione entrou na água e disse:
- Já que morrestes, leva-me contigo também.
Ela sentiu-se então levantar como se fosse um pássaro e pousar, soluçando, sobre o
corpo de Ceix. Ele, como se tivesse ouvido os seus lamentos, voltou à vida
novamente e transformou-se em um pássaro também.
E foi assim que apareceram essas aves brancas como a neve, que chamamos de Alcione.
Mesmo hoje, se vocês viajarem de navio ou de barco, poderão ver essas aves brancas,
sempre unidas.

F I M

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