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Universidade Candido Mendes - UCAM

Pós Graduação em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho

Zilanda Barcelos Dália

A TERCEIRIZAÇÃO NA ATIVIDADE PRINCIPAL DA EMPRESA


TOMADORA DO SERVIÇO E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E
DAS CONDIÇOES LABORATIVAS

Professora Mestre Priscila Jorge Cruz Diacov

Rio de Janeiro

2020
Universidade Candido Mendes - UCAM

Pós Graduação em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho

Zilanda Barcelos Dália

A TERCEIRIZAÇÃO NA ATIVIDADE PRINCIPAL DA EMPRESA


TOMADORA DO SERVIÇO E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E
DAS CONDIÇOES LABORATIVAS

Professora Mestre Priscila Jorge Cruz Diacov

Trabalho de Conclusão apresentado ao


curso de pós graduação em direito do
trabalho e processo do trabalho,
oferecido pela Universidade Candido
Mendes - UCAM, como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista,
sob a orientação da Prof.ª Mestre Priscila
Jorge Cruz Diacov.

RIO DE JANEIRO
2020
Termo de Aprovação

Aluno: Zilanda Barcelos Dália

Título: A Terceirização Na Atividade Principal Da Empresa


Tomadora Do Serviço E A Precarização Do Trabalho E Das
Condições Laborativas

Trabalho de Conclusão apresentado ao


curso de pós graduação em direito do
trabalho e processo do trabalho,
oferecido pela Universidade Candido
Mendes - UCAM, como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista,
sob a orientação da Prof.ª Mestre
Priscila Jorge Cruz Diacov.

RIO DE JANEIRO, 22 de Fevereiro de 2020 .

Banca examinadora:

_________________________________________
Professor (a) orientador (a)

_________________________________________
Professor (a) convidado (a)

_________________________________________
Professor (a) convidado (a)
A TERCEIRIZAÇÃO NA ATIVIDADE PRINCIPAL DA EMPRESA
TOMADORA DO SERVIÇO E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E
DAS CONDIÇOES LABORATIVAS

1
Zilanda Barcelos Dália
Acadêmico do Programa de Pós-graduação lato sensu “Direito do
Trabalho e Processo do Trabalho” da Universidade Candido Mendes -
UCAM.

Resumo
O presente artigo concerne a discussão acerca da terceirização da atividade
principal da tomadora de serviços e suas consequências jurídicas, especialmente no
que tange a precarização das condições de trabalho. O ordenamento jurídico não
possuía norma específica em relação a matéria até o surgimento das Leis n.
13.429/2017 e 13.467/2017, sendo assim, a questão da terceirização baseava-se
única e exclusivamente no entendimento da jurisprudência, consolidado na súmula
331 do Tribunal Superior do Trabalho, que tratava como ilícita a terceirização de
serviços na atividade fim, reconhecendo-se o vínculo diretamente com o tomador do
serviço. Contudo, com o advento da Reforma Trabalhista, a terceirização em
qualquer atividade passou a ser admitida, contanto que sejam respeitados todos os
requisitos legais. Portanto, a proposta deste artigo consiste em reconhecer e debater
os pressupostos que autorizam a terceirização dos serviços na atividade final da
empresa tomadora, os recursos para a garantia dos direitos sociais e dos
trabalhadores, bem como elucidar sobre possíveis retrocessos que podem levar a
condições de precarização do trabalho. Ademais, o artigo em apresso trata sobre as
possíveis soluções aptas a viabilizarem a terceirização dos serviços sem que a
precarização do trabalho seja uma consequência automática. Por fim, conclui-se que
existem mecanismos possíveis que garantem a terceirização dos serviços finais da
empresa em harmonia com condições de trabalho justas e decentes.
Palavras Chave: Palavras-chave: Terceirização na atividade principal da tomadora
de serviços; Marco regulatório; Garantias; Precarização

Abstract
The following arcticle is about the discussion that surrounds the outsourcing of the
service provider main activity and its legal consequences, particularly when it comes
to precarious working conditions. The legal system did not have and specific law
about the subject until the Laws 13.429/2017 and 13.467/2017 appeared. The
outsourcing issue was based only on the jurisprudencial understanding, consolidated
in the precedent 331 of the Superior Labor Court, and it treated the outsourcing of
services as and illicit activity, and used to recognize a link directly with the service
provider. However, with the labor laws reform, the outsourcing of any kind of
activities became admited, as long as all the legal requirements are respected.
Therefore, this arcticle proposal consists in recognizing e debating the requirements
that authorize this outsourcing, the resources that guarantee the social and the
workers rights, as well as elucidate about possible regressions that may lead to
precarious work conditions. Still, the following arcticle is also about the possible
solutions to eventual problems with the service outsourcing, in order to avoid the
precarious work as an automatic consequence. In conclusion, it will be shown that
there are possible mecanisms that ensure that the outsourcing of a company’s final
services stays in harmony with fair and decent work conditions.

Keywords: Brasilian Outsourcing In a Main Atcivities of the Service Taker;


Regulatoring Mark; Labor guarantees; Work conditions precariousness;

1 advzilanda@gmail.com
4

INTRODUÇÃO:
O presente trabalho propõe uma discussão acerca de um dos temas mais
relevantes da intitulada Reforma Trabalhista (Lei n. 13.467/2017), que se refere a
possibilidade da terceirização dos serviços na atividade principal da empresa
tomadora, prática que era considerada ilícita até então.
A doutrina conceitua a terceirização como sendo o modo de gestão
empresarial que objetiva a redução de custos, através da descentralização de parte da
atividade empresarial delegada a terceiros, possibilitando a concentração empresarial
em suas atividades precípuas1.Trata-se de um fenômeno global 2 que se mostra cada
vez mais presente nos diferentes seguimentos da cadeia produtiva mundial, uma vez
que tal descentralização já se tornou essencial ao sistema capitalista – visto que “as
empresas já não tem como reunir dentro de si todas as etapas do ciclo produtivo (...)”3,
sendo incapazes de produzir tudo sozinhas (Pastore, Pastore; 2015).
PASTORE4 aponta que o crescimento do fenômeno da terceirização ocorre,
principalmente, pelo fato da empresa deixar de ser o centro da pirâmide e passar a
focar nos interesses do consumidor, com o objetivo de promover a competitividade, e
ainda a melhora na qualidade dos serviços.
Os dados do Ministério do Trabalho e Emprego, obtidos em 2013 5, mostram
que aproximadamente 11,8 milhões de trabalhadores formais eram terceirizados.
Recentemente, dados recentes coletados em pesquisa realizada pelo Sindeprestem
em agosto de 20146,mostram que cerca de 14,3 milhões de trabalhadores atuavam no
mercado de trabalho como terceirizados, número este que corresponde a 32,5% da
totalidade de trabalhadores do país. As mesmas pesquisas ainda demonstram que as
empresas terceirizadas eram responsáveis por 98% da atividade empresarial no país e
bem como pelo aumento do PIB de 25,72% em 1993 para 35,85% em 2012 7. Na
Administração Pública, só no âmbito federal, em 2013, cerca de 222 mil trabalhadores

1
Segundo CARELLI (2014, p. 58), o fenômeno da terceirização não está vinculado ao Direito do Trabalho, nem
mesmo é um instituto pertencente ao Direito. Vincula-se, sobretudo, a outras áreas do conhecimento, como a
Economia e a Administração de Empresas.
2
Ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, na liminar concedida da Ação Direta de
Constitucionalidade 48 (MC/DF)
3
Idem, ibidem
4
PASTORE, PASTORE
5
FIESP/CIESP. Nota Técnica – Terceirização. Disponível em <http://www.terceirizacaosim.com.br/wp-
content/uploads/2015/05/cartilha-nota-tecnica-regulamentacao-terceirizacao.pdf>. Acesso em 04-06-2015.
6
Disponível no endereço eletrônico www.sidesprestem.org.br
7
Saulo, p. 59
eram terceirizados8.

Por todo o exposto, é evidente que a terceirização é um caminho inevitável, já


que se tornou ferramenta fundamental para a economia e para o mercado de trabalho
do país. Entretanto, há um importante debate jurídico-social acerca da terceirização ter
como consequência a precarização das condições de trabalho, e a diminuição dos
direitos trabalhistas, que foram conquistados a partir de anos de lutas sociais.
Nesta esteia, o intuito deste artigo é trabalhar com possíveis soluções que
garantam a implantação da terceirização na atividade principal em favor das empresas,
garantindo a proteção dos direitos e garantias dos trabalhadores, e lhes
proporcionando condições dignas de trabalho. Para tanto, serão identificados os
requisitos legais para tal terceirização; maneiras que viabilizem as garantias dos
direitos sociais dos trabalhadores e das condições do trabalho, em consonância com o
nosso ordenamento jurídico.
Para tanto, será traçado o cenário que antecedeu a legalização da
terceirização, elucidando-se as disposições que foram trazidas pelas Leis n.º.
13.429/2019 e 13.427/2017 que alteraram a Lei nº. 6.019/74. Finalmente, em
considerações finais, o artigo traz a conclusão de que existem sim mecanismos que
possibilitam a conciliação entre a terceirização e a garantia de um trabalho digno.

1. A TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE PRINCIPAL DA


EMPRESA TOMADORA DO SERVIÇO NO BRASIL: histórico,
marco regulatório e requisitos legais:

8
PASTORE, p. 117.
Em 1993, foi editado o Enunciado 331 9, no qual foi pacificada a admissão da
terceirização no Direito do Trabalho, mas apenas para a contratação de serviços de
vigilância, conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à
atividades-meio de empresas interpostas, desde que ausentes a subordinação jurídica
direta e a pessoalidade na execução dos serviços.
De acordo com o referido Enunciado, as empresas prestadoras do serviço
seriam a responsáveis pelo pagamento das verbas trabalhistas e pela garantia da
manutenção dos direitos e obrigações oriundas do contrato de trabalho, e a empresa
tomadora ficaria responsável pela a fiscalização do cumprimento da lei, sob pena de se
tornar responsável subsidiário no caso de descumprimento contratual, por culpa in
elegendo e in vigilando.
Logo, o entendimento era no sentido de que, para que a terceirização fosse
considerada lícita, os serviços delegados aos terceirizados deveriam ser meramente
periféricos, instrumentais, ou ainda especializados, e não deveria existir a
subordinação direta do tomador de serviços e pessoalidade na execução da tarefa.
Em casos que fugissem da regra jurisprudencial, era declarada a ilicitude; ou
seja, os serviços eram inseridos na atividade-fim do tomador de serviços, configurando
fraude à lei, e, portanto, caracterizada estava a relação jurídica própria de vínculo
empregatício, reconhecendo-se o vínculo do emprego diretamente com o tomador de
serviços e a declarando a responsabilidade solidária entre as empresas (contratada e
contratante).
Não obstante a adoção do referido posicionamento acerca da terceirização, o
TST, ao editar a Súmula, não definiu de forma consolidada o conceito de atividade- fim

9
Súmula nº 331 do TST - CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE (nova redação do item IV e
inseridos os itens V e VI à redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011
I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o
tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).
II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os
órgãos da Administração Pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988).
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de
20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do
tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade
subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual
e conste também do título executivo judicial.
V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas
condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de
21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de
serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações
trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada.
VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas decorrentes da condenação
referentes ao período da prestação laboral.
e nem mesmo de atividade-meio10, o que, na prática, gerou grande insegurança jurídica
por contas das diversas interpretações feitas pelos Tribunais do país.
Nesse sentido, em 16.05.2014, o Supremo Tribunal Federal, reconheceu a
repercussão geral em sede constitucional, pela relatoria do Ministro Luiz Fux, aduzida
no Agravo em Recurso Extraordinário (ARE 713.211), tratando sobre questões
inerentes a terceirização, nos moldes de súmula 331 do TST, principalmente no que
tange a ausência de definição dos conceitos de atividade-meio e atividade-fim.
Na referida decisão, o Ministro Relator enfatiza que a utilização de uma
interpretação genérica sobre a terceirização, que tem como embasamento unicamente
a interpretação de jurisprudências, pode interferir no direito fundamental da livre
iniciativa, pois afirma que “existem milhares de contratos de terceirização de mão de
obra nos quais subsistem dúvidas quanto a legalidade”11.
Deste modo, em um cenário de debates calorosos acerca dos contornos da
prática da terceirização trabalhista, foi promulgada a Lei n. 13.429/2017, com o intuito
de conferir legalidade à terceirização no Brasil, modificando os artigos 1º, 2 º, 4º, 5º, 6º,
9º, 10, bem como o parágrafo único do art. 11 da Lei n. 6.019/1974, nos seguintes
tópicos: determinação do conceito de trabalho temporário e as suas proposições de
implementação; delimitação do conceito de empresa de trabalho temporário, empresa
tomadora de serviços, e de trabalhador temporário; definição das condições de
funcionamento das empresas de trabalho temporário e seus registros junto ao
Ministério do Trabalho e Emprego; requisitos do contrato de prestação de serviços de
trabalho temporário e as responsabilidades legais; e prazo de validade do contrato
temporário e condições para a inexistência do vínculo de emprego, ademais da
responsabilidade subsidiária do tomador do serviço.
O referido diploma legal também acrescentou os artigos 4º-A, 4º-B, 5º-A, 5º-B,
19-A, 19-B e 19-C, que, em suma, tratam dos seguintes temas; as condições de
funcionamento da empresa prestadora de serviços; : definição do conceito de empresa
prestadora de serviços a terceiros, além da previsão da possibilidade de
subcontratação dos serviços; conceitua as partes envolvidas na terceirização bem
como as condições para a execução da prestação de serviços; a não aplicabilidade
das alterações em questão aos contratos de vigilância e transporte de valores, que
deverão obedecer a legislação especial; determina os requisitos do contrato de

10
Para BARBOSA e SILVA (2015), a dificuldade de se definir o conceito de atividade-fim e atividade meio decorre da
dinâmica das técnicas de administração de empresas, ressaltando que a diferença entre ambas é tênue, e
pertencente à esfera da decisão do administrador e não da Justiça do Trabalho.
11
Indicar a decisão
prestação de serviços e as responsabilidades legais e prevê a possibilidade de
adequação à lei dos contratos em vigência, se houver concordância entre as partes.
No entanto, em novembro de 2017, foi promulgada a intitulada “Reforma
Trabalhista” (Lei n. 13.427/2017), em resposta às expectativas da categoria
empresarial. No que tange à terceirização, a mudança legislativa estendeu a
autorização da delegação de atividades à empresas terceirizadas, definindo-a como
sendo “a transferência feita pela contratante da execução de parcela de qualquer de
suas atividades à contratada para que esta a realize”12, também acrescentando à Lei n.
6.019/74 o art. 4º-A.
Com a extensão do conceito da terceirização no país, encerrou-se também o
debate que existia entre os conceitos de atividade-fim e atividade-meio, tendo em vista
que a nova Lei admite a delegação de parte de qualquer atividade da empresa
tomadora.
Todavia, a terceirização das atividades da empresa tomadora somente é
considerada lícita, se observadas as exigências previstas na Lei n. º 6.019/74 com
redação dada pelas Leis n. 13.429/2017 e n. 13.467/2017, sob pena de se considerá-la
como ilícita.
Um das alterações mais relevantes trazidas pela alteração legislativa, é a que
determina que a capacidade econômica da prestadora de serviços deve ser compatível
com a sua execução. E para tanto a lei apresentada os seguintes parâmetros: a) até 10
empregados, capital social de R$ 10.000,00; b) entre 10 e 20 empregados, o capital
social deverá ser de R$ 25.000,00; c) entre 20 a 50 empregados, o capital social
deverá ser de R$ 45.000,00; d) empresas prestadoras de serviços que possuam entre
50 a 100 empregados deverão ter o capital social de R$ 100.000,00; e) e aqueles que
tiverem mais de 100 empregados, R$ 250.000,00 de capital social.
Há ainda a previsão no sentido de que os sócios ou titulares da empresa
prestadora de serviços, no últimos dezoito meses que antecederam o início da
prestação do serviço terceirizado, não podem ter prestado serviços à empresa
contratante enquanto empregado ou trabalhador sem vínculo, com exceção aos
titulares ou sócios que forem aposentados.
Ademais, é determinado o prazo de dezoito meses para que a empresa
prestadora de serviço possa admitir o empregado que foi demitido da empresa

12
MABEL, Sandro. Projeto de lei nº 4.330/2004. Disponível em <<http://www.camara.gov.br/
proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=4BE653A20494BD0CE6A74251B2ED01EE.
proposicoesWeb2?codteor=246979&filename=PL+4330/2004>>.
contratante. Os dezoito meses são contados a partir da data da demissão do
empregado.
As legislações em estudo asseguraram garantias importantes em relação a
implementação da terceirização como, por exemplo, o local adequado para a prestação
do serviço, a equiparação das condições de trabalho entre os trabalhadores das
empresas contratada e contratante. Em relação ao salário, há a previsão que as
empresas contratada e contratante possuem a faculdade de ajustar os salários entre os
empregados do tomador de serviço e os empregados terceirizados de forma equânime.
Deve-se ressaltar que para que se garanta a licitude da terceirização, de
acordo com nova legislação, tanto a empresa prestadora de serviços quanto a
tomadora, deverão, além dos requisitos já mencionados, garantir que, no texto do
contrato, conste expressamente claro e definido a natureza e objeto da prestação de
serviços, nos termos do art. 5º-B c/c art. 5º-A, §1º, da Lei n. 6.019/74, com redação
dada pela Lei n. 13.429/2017; prazo e valor. Ademais, os requisitos contidos no artigo
3º da CLT13, os quais que configuram o vínculo empregatício, (pessoalidade, a
habitualidade, a onerosidade e, especialmente, a subordinação), não podem existir na
relação entre empregador terceirizado e tomador de serviços.
A lei ainda determinou como subsidiária a responsabilidade do contratante, ao
contrário do que previa o projeto Lei nº. 4.330/2004, de iniciativa do Deputado Federal
Sandro Mabel, segundo o qual as empresas participantes da terceirização eram
solidariamente responsáveis

3. TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE PRINCIPAL DA


EMPRESA TOMADORA DO SERVIÇO NO BRASIL E
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E DAS CONDIÇÕES
LABORATIVAS:

Questão muito importante, e que tem trazido relevantes debates no


Direito do Trabalho, é a de que a terceirização tem como consequência uma serie de
prejuízos ao trabalhador, principalmente no que diz respeito à precarização das
condições de trabalho. Vale ressaltar que essa questão já era prevista e debatida
quando apenas se admitia a terceirização da atividade meio, antes da promulgação
das Leis n.º 13.429/2017 e n. 13.467/2017, intituladas como “Lei da Terceirização” e
“Reforma Trabalhista”.
13
Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a
empregador, sob a dependência deste e mediante salário
Nesse sentido, precarizar significa tornar algo escasso, com pouca
estabilidade, é reduzir; diminuir 14. Quando falamos em precarização do trabalho e das
condições laborativas nos referimos, à redução dos direitos e das garantias do
trabalhador.

Segundo CARELLI (2014)15, a precarização do trabalho consiste na


diminuição de direito dos trabalhadores terceirizados, quando comparado com os
trabalhadores contratados diretamente pela empresa tomadora do serviço, o aumento
do risco de acidentes de trabalho em razão da deterioração do ambiente laboral, menor
preocupação com as questões ambientais e a perda do poder de organização coletiva
dos trabalhadores.
Existem seis formas de precarização do trabalho segundo DRUCK (2011) 16,
sendo a primeira delas se caracteriza pela instabilidade da inserção do trabalhador e
pelas desigualdades sociais, que refletem em altas taxa de desemprego e na
informalidade, o que gera a ausência de proteção social e trabalhista, tendo como
consequência uma significativa quantia da mão de obra sujeita a níveis baixos de
rendimento e produtividade; grande rotatividade no emprego; alto nível de
discriminação em consequência das latentes desigualdades dentre diferentes grupos.
DRUCK indica ainda, como segunda forma de precarização, uma exigência
exacerbada do trabalhador, volume de trabalho intensificado e exigência de metas
inalcançáveis do trabalhador. A terceira forma de precarização, seria a segurança e a
saúde no trabalho, em razão de uma gestão que desrespeita as regras e informações
sobre as medidas de proteção e os riscos, e não realizam o treinamento necessário,
aumentando o índice de acidentes de trabalho. Como quarta forma, há a insegurança
do trabalhador, que vive constantemente sob ameaça da perda do emprego e a perda
individual e coletiva do trabalhador. Como quinta forma, temos a dificuldade de
organização sindical e o enfraquecimento das formas de luta e representação dos
trabalhadores; e por último, o descarte e a condenação do Direito do Trabalho.
As pesquisas realizadas sobre o tema dão conta que o fator principal de
precarização está na diferença salarial entre empregado direto e terceirizado. Dados do
DIEESE/CUT17, demonstram que os terceirizados recebem salários 24,7% menores
que empregados diretos. Os dados indicam também que o empregado terceirizado tem

14
Dicionário
15
CARELLI, pg; 124
16
DRUCK, Maria da Graça. CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. spe 01, p. 37-57, 2011
17
http://www.cut.org.br/system/uploads/ck/files/Dossie-Terceirizacao-e-Desenvolvimentolayout.pdf
sua jornada estendida num percentual de 7,5%; além da grande rotatividade nos
postos de trabalho, uma vez que o contrato tem durabilidade de cerca de 2,8 anos
contra 5,8 anos de trabalhadores diretamente contratados pelas empresas tomadoras.
Também existe a diferença na jornada de trabalho, pois, enquanto os empregados
contratados diretamente pelos tomadores de serviço têm média de 40 horas semanais
de trabalho, os trabalhadores terceirizados trabalham 3 horas a mais, mesmo sendo
menos remunerado18.
Por se tratar de atividade ilícita até o marco regulatório, as pesquisas não
mostram dados referentes à terceirização de atividade principal da empresa
tomadora do serviço. No entanto, não há como não deduzir que as consequências
podem ser iguais ou piores.

3. TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE PRINCIPAL DA


EMPRESA TOMADORA DO SERVIÇO E TRABALHO DIGNO

Somente através de uma mudança radical de paradigmas em relação ao


consumo e ao modo de produção de forma global, seria possível eliminar a prática da
terceirização da atividade principal no mercado de trabalho.
No entanto, as mudanças legislativas demonstram que o país está longe de
qualquer mudança positiva para esse sentido. Com a reconfiguração do contrato de
trabalho, trazida pelo Marco Regulatório, as empresas tomadora deslocam o vínculo da
relação jurídica, que antes existia diretamente com o trabalhadora, para um terceiro (o
prestador de serviço), e, deste modo, flexibilizando as relações trabalhistas. Conforme
Leciona BARROSO19 há “descaracterização do modelo padrão de relação de trabalho,
mediante subcontratações e a intermediação de empresas”, também chamado de
contrato atípico20.
Portanto, faz-se necessário uma atuação estatal voltada para a implementação
de políticas públicas especializadas para a proteção da integridade e dos direitos do
trabalhador intermediário garantindo, dentre outros, a responsabilidade solidária das

18
http://www.cut.org.br/system/uploads/ck/files/Dossie-Terceirizacao-e-Desenvolvimentolayout.pdf Dados
extraídos da RAIS de 2013, elaborados pela DIEESE/ CUT em 2014
19
SOCORRO, p. 116
20
RODRIGUES, Maria Beatriz (2014). Trajetórias de vida e de trabalho flexíveis: o processo de trabalho pós-
Braverman. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/cebape/v12n4/1679-3951-cebape-12-04-00770.pdf. Acesso
em 20.05.2018.
empresas, a igualdade de tratamento com os trabalhadores diretos e a garantia da
acesso sindical coletivo.
Todavia, evidente que as empresas, no geral, são resistentes a este tipo de
política pública, tendo em vista a premissa de que o Estado deve intervir o menos
possível na iniciativa privada, senão amparados no art. 170 da Constituição da
República21.

De tal modo, tais políticas públicas seriam essenciais para a promoção do


trabalho decente, acompanhadas de fiscalizações mais frequentes promovidas pelos
órgãos públicos. O incentivo fiscal, seria o estímulo necessário para as empresas que
desejem fazer uso da terceirização como forma de administração de seus negócios,
em razão da carga tributária nacional, em especial para as empresas que treinam os
trabalhadores, capacitando-os para a especialização da atividade. A promoção de
negociações e acordos coletivos, com participação dos entes sindicais, com o fim de se
evitar a extinção do sindicalismo, além da concessão de incentivo fiscal às empresas
que promovem negociações coletivas. A criação de órgãos que cuidem dos
trabalhadores de cada setor de serviço, garantindo a proteção dos direitos de acordo
com a especialização dos serviços, bem como a fiscalização em relação à finalidade do
serviço contratado.
Somente através de uma mudança radical de paradigmas em relação ao
consumo e ao modo de produção de forma global, seria possível eliminar a prática da
terceirização da atividade principal no mercado de trabalho.
No entanto, as mudanças legislativas demonstram que o país está longe de
qualquer mudança positiva para esse sentido. Com a reconfiguração do contrato de
trabalho, trazida pelo Marco Regulatório, as empresas tomadora deslocam o vínculo da
relação jurídica, que antes existia diretamente com o trabalhadora, para um terceiro (o
prestador de serviço), e, deste modo, flexibilizando as relações trabalhistas. Conforme
21
Art. 170 - ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente
de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.
Leciona BARROSO22 há “descaracterização do modelo padrão de relação de trabalho,
mediante subcontratações e a intermediação de empresas”, também chamado de
contrato atípico23.
Portanto, faz-se necessário uma atuação estatal voltada para a implementação
de políticas públicas especializadas para a proteção da integridade e dos direitos do
trabalhador intermediário garantindo, dentre outros, a responsabilidade solidária das
empresas, a igualdade de tratamento com os trabalhadores diretos e a garantia da
acesso sindical coletivo.
Todavia, evidente que as empresas, no geral, são resistentes a este tipo de
política pública, tendo em vista a premissa de que o Estado deve intervir o menos
possível na iniciativa privada, senão amparados no art. 170 da Constituição da
República24.
De tal modo, tais políticas públicas seriam essenciais para a promoção do
trabalho decente, acompanhadas de fiscalizações mais frequentes promovidas pelos
órgãos públicos. O incentivo fiscal, seria o estímulo necessário para as empresas que
desejem fazer uso da terceirização como forma de administração de seus negócios,
em razão da carga tributária nacional, em especial para as empresas que treinam os
trabalhadores, capacitando-os para a especialização da atividade. A promoção de
negociações e acordos coletivos, com participação dos entes sindicais, com o fim de se
evitar a extinção do sindicalismo, além da concessão de incentivo fiscal às empresas
que promovem negociações coletivas. A criação de órgãos que cuidem dos
trabalhadores de cada setor de serviço, garantindo a proteção dos direitos de acordo
com a especialização dos serviços, bem como a fiscalização em relação à finalidade do
serviço contratado.

22
SOCORRO, p. 116
23
RODRIGUES, Maria Beatriz (2014). Trajetórias de vida e de trabalho flexíveis: o processo de trabalho pós-
Braverman. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/cebape/v12n4/1679-3951-cebape-12-04-00770.pdf. Acesso
em 20.05.2018.
24
Art. 170 - ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente
de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.
No que concerne aos salários, importante especificar que para que sejam justos os
parâmetros para apuração do quantum decente, deve ter por base a categoria
profissional de cada trabalhador, e a especificidade

CONCLUSÃO:

O fenômeno da terceirização se arraigou na sociedade globalizada de maneira


que, atualmente, não se imagina um modelo de gestão que possibilite são extinção ou
alteração.
Diante de tal realidade, ainda que o ordenamento jurídico se encarregue da
normatização das relações jurídicas criadas dentro de cada setor produtivo, cabe a
sociedade se ajustar à realidade do mercado de trabalho. Impedir ou proibir que o
fenômeno da terceirização se desenvolva pode trazer desastrosas consequências ao
mercado de trabalho e à economia nacional, senão em razão da própria globalização.
Todavia, faz-se necessário a criação de mecanismos aptos a proteger os
trabalhadores, de maneira a evitar a precarização das condições de trabalho e
desrespeitos às leis, com a implementação de incentivos fiscais que visem à
qualificação e e à educação do trabalhador, somado à mecanismos de fiscalização
especializada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, criando ainda recursos para
atuação mais unificada dos sindicatos.
Destaque-se que a terceirização da atividade principal da tomadora de serviços
não tem como fim último a intermediação de mão-de-obra, uma vez que, por não se
tratar de finalidade da lei – porque se estaria diante da fraude – por certo é que a
execução de parcela de serviços ainda que dentro dos objetivos sociais da empresa
deve ter como norte a especialização da atividade, com o intuito de agregar valor ao
serviço e/ou produto destinado ao consumidor final, para tanto valendo-se tão somente
de empresas de prestação de serviços qualificadas e especializadas,
comprovadamente.
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