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PARADIGMA SOCIAL NOS ESTUDOS DE

USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO:

relato de pesquisa
abordagem interacionista

Caros Alberto Ávila Araujo*

RESUMO O objetivo deste texto é aproximar a discussão de Rafael


Capurro sobre o “paradigma social” da Ciência da Informação
com os avanços recentes no campo dos estudos de usuários
da informação. Como resultado dessa aproximação, defende-
se o desenvolvimento de uma “abordagem interacionista”
para o campo. A viabilidade de tal proposta é discutida e
avaliada a partir do exame dos resultados de pesquisa de
cinco dissertações de mestrado defendidas recentemente e
debatidas à luz de categorias e conceitos de autores ligados
às abordagens interacionistas e sócio-culturais da Ciência da *
Doutorado em Ciências da Informação
Informação e das ciências humanas e sociais. pela Universidade Federal de Minas
Gerais, Brasil. Professor adjunto da
ECI/UFMG, doutor em Ciência da
Palavras-chave: Estudos de usuários da informação; Paradigma social; Ciência Informação.
da Informação; Abordagem interacionista. E-mail: casalavila@yahoo.com.br

1 INTRODUÇÃO partir de sua incorporação por essa tradição


e por estas tendências. Como resultado desse
Em 2003, na conferência de abertura diálogo, propõe-se a ideia de uma “abordagem
do Enancib (Encontro Nacional de Pesquisa interacionista” de estudos de usuários, que seria
em Ciência da Informação), Rafael Capurro capaz de promover a ligação entre esses dois
apresentou uma discussão sobre os paradigmas conjuntos de conhecimentos.
da Ciência da Informação (CI). Tal trabalho Como forma de ir além de uma discussão
teve grande impacto na área, tanto no Brasil puramente teórica, sobre os conceitos e
como no exterior, constituindo-se numa princípios relativos a esta abordagem, são
referência fundamental sobre as diferentes discutidos ainda neste texto alguns dos
formas de se conceituar a informação e resultados de cinco dissertações de mestrado
conduzir as pesquisas na área (MARCIAL et recentemente defendidas no Programa de Pós-
al, 2007; ARAÚJO, 2010; SILVA, 2006; VEGA- Graduação em Ciência da Informação da UFMG,
ALMEIDA et al, 2009). que espelham, de alguma forma, as tentativas
Para além de sua importância para a área que vêm sendo feitas nesta instituição para fazer
como um todo, também tal discussão é relevante dialogarem as questões propostas por Capurro
para as diferentes subáreas ou temáticas com os conceitos e a teoria dos estudos de
específicas do campo. Uma destas áreas, a de usuários. Embora as cinco pesquisas relatadas
“estudos de usuários da informação” (também não tenham tido a intenção de apresentar uma
denominada, em alguns contextos, “estudos abordagem nova, neste artigo pretende-se
de comportamento informacional”), é o objeto identificar, nelas, exemplos e elementos que
deste artigo. Pretende-se aqui discutir em que apontam para as possibilidades de construção
medida o conceito de informação proposto pelo de uma nova abordagem, abordagem essa que,
“paradigma social” identificado por Capurro seguindo a linha argumentativa deste artigo,
pode dialogar com a extensa tradição e com as .poderia ser designada como “abordagem
tendências atuais de estudos de usuários da interacionista de estudos de usuários da
informação e que implicações podem surgir a informação”.

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Caros Alberto Ávita Araujo

2 O QUADRO DE REFERÊNCIA: com o conceito de informação, inaugurando uma


PARADIGMAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
perspectiva de estudos cognitivos da informação
à qual se filiaram diversos autores como
Em sua argumentação sobre os paradigmas Ingwersen e Vakkari, entre outros.
da CI, Capurro (2003) defende a ideia de que a Ainda de acordo com Capurro, nas duas
CI nasceu em meados do século XX com um últimas décadas estaria emergindo no campo da
paradigma físico, o qual foi criticado por estudos CI um terceiro paradigma, chamado “social”,
que deram lugar a um modelo cognitivo, tendo que buscaria superar algumas limitações
este, também a partir de determinadas críticas, presentes nos dois primeiros. Neste terceiro
conduzido a um terceiro paradigma, identificado modelo, o sujeito não é visto como um ser
como pragmático e social. isolado, destacado de relações sociais e de
Assim, para Capurro, o primeiro conceito um contexto sócio-cultural mais amplo, nem
de informação da CI foi um conceito físico, entendido apenas como um ser cognoscente, que
elaborado a partir da Teoria Matemática da se relaciona com o mundo apenas preenchendo
Comunicação de Claude Shannon e Warren “pedaços” de conhecimento àquilo que já possui
Weaver. Em tal perspectiva, a informação é na mente. Em oposição a essa forma (cognitiva)
entendida como um fenômeno objetivo, com de compreensão, a informação é vista como uma
existência independente dos sujeitos e dos construção social, algo que é definido no terreno
contextos, algo possível de ser transmitido tal da ação concreta de sujeitos em ações recíprocas
como é de um ponto a outro num processo (isto é, interações), tal como no contexto das
de comunicação. Aplicado primeiramente “comunidades discursivas”. Conforme Capurro,
na CI nos estudos de Information Retrieval, tal são representantes dessa terceira visão autores
modelo conduziu a pesquisas buscando analisar como Frohmann (que articula, para a análise da
as propriedades objetivas e externamente informação, a Pragmática de Wittgenstein e a
observáveis e mensuráveis da informação. O teoria do discurso de Foucault), Hjorland (com
estudo da informação nesta perspectiva buscava a sua Análise de Domínio), Brier (com o estudo
o estabelecimento de leis gerais sobre o seu da Cibersemiótica, resultado de uma imbricação
comportamento e determinar as condições para entre a CI e a Semiótica) e o próprio Capurro, a
a sua transferência eficaz entre os diferentes partir de aproximações com a Hermenêutica.
sujeitos que a produzem e a utilizam.
A este modelo seguiu-se uma abordagem
cognitiva. Embora tenha uma primeira inspiração
3 OS ESTUDOS DE USUÁRIOS DA
nos trabalhos de Paul Otlet, que promoveu INFORMAÇÃO
uma distinção entre o conhecimento e seus
O campo relativo aos estudos de
registros materiais em documentos, essa forma
usuários da informação ocupa historicamente
de se estudar a informação só tomou corpo em
um espaço importante no âmbito da Ciência
finais da década de 1970. Para sua conformação
da Informação, possuindo uma larga tradição
científica, foi essencial a fundamentação
de pesquisas empíricas e acumulação de
filosófica de Karl Popper, que distinguia na
conhecimentos teóricos (BAPTISTA, CUNHA,
realidade a existência de três “mundos”: o físico,
2007; PINHEIRO, 1982). A origem desses estudos
formado pelos objetos físicos da natureza; o
remonta à Universidade de Chicago, onde na
da consciência, formado pelos pensamentos
década de 1930 foram realizados os primeiros
humanos; e o do conhecimento objetivo, isto é,
estudos com usuários de bibliotecas voltados
aquele composto pelos elementos da consciência
para a identificação de hábitos de leitura e
humana transformados em objetos físicos.
para o potencial socializador da biblioteca –
O “mundo três” consiste, justamente, nos
posteriormente conhecidos como “estudos de
elementos do “mundo dois” transformados em
comunidade” (LEITÃO, 2005).
algo do “mundo um” – mas, por sua natureza
Em pouco tempo, percebeu-se o potencial
distinta dos elementos do “mundo um”,
que pesquisas com usuários possuíam para a
constituem um mundo à parte. No campo da
avaliação das fontes de informação disponíveis
CI, autores como Belkin e Brookes associaram
e dos serviços oferecidos pelas bibliotecas. Dessa
a ideia de “conhecimento objetivo” de Popper

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Paradigma social nos estudos de usuários da informação

forma, o tema “estudos de usuários” passou realização de pesquisas empíricas que geravam
a servir como instrumento de diagnóstico e apenas indicadores de taxas de usos de fontes
vinculou-se de forma significativa à temática da de informação e correlações com perfis sócio-
“avaliação de coleções”, constituindo-se portanto demográficos e ocupacionais dos usuários.
mais em estudos de “uso” do que propriamente Essa também foi a avaliação de Lima
de usuários (FIGUEIREDO, 1979). (1994), para quem o campo de estudos de
Contudo, uma “nova linha de estudos usuários desenvolveu-se a partir de duas teorias
surgiu no fim da década de 40, mais precisamente subjacentes, o Funcionalismo e o Behaviorismo,
em 1948, durante a Conferência da Royal Society que conduziram a duas grandes limitações. Em
que focalizou a maneira como os cientistas e alguns casos, o usuário era “funcionalizado”, isto
técnicos procedem para obter informação, ou é, tomado apenas como um atributo funcional
como usam a literatura nas suas respectivas em um sistema de informação; em outros, um
áreas” (FIGUEIREDO, 1994, p. 26). Na avaliação ser passivo que apenas respondia a estímulos
de alguns autores, trata-se justamente do externos a ele. Em sua conclusão, o autor
momento em que os estudos deixam de ser de colocava a necessidade de se ter “alternativas
usuários de bibliotecas e passam a ser de usuários metodológicas” para o campo dos estudos de
da informação (CHOO, 2003; RABELLO, 1980). usuários da informação.
Conforme Figueiredo (1994), os estudos Apenas dois anos depois deste apelo,
daí em diante se desenvolveram em três fases: Ferreira (1996) introduzia, no Brasil, uma
num primeiro período (de 1948 a 1965), foram nova perspectiva de estudos de usuários da
estudados cientistas das ciências naturais e informação. Tratava-se do chamado “paradigma
engenheiros; num segundo período (de 1965 a alternativo”, denominação criada por Dervin
1970), tecnólogos e educadores; e num terceiro e Nilan (1986) para agrupar os trabalhos
período (ao longo da década de 1970), cientistas desenvolvidos por diferentes pesquisadores
sociais e dirigentes da administração pública. como Belkin, Ellis, Kuhlthau, Wilson e muitos
Apesar de algumas diferenças, as três fases outros, além da própria Dervin, que apresentava
possuíram em comum o uso de questionários uma nova proposta de estudo oposta ao chamado
para a coleta de dados e métodos estatísticos para “paradigma tradicional” em vigor até então.
a tabulação de resultados, buscando correlacionar Apesar de suas várias diferenças, estes
dados de perfil com aspectos do comportamento autores compartilhavam de um mesmo modelo
informacional (fontes de informação utilizadas, de comportamento informacional, que pode ser
tipos de necessidade de informação, tipos de uso assim resumido: um usuário, diante da ausência
da informação, entre outros). Na avaliação da de determinado conhecimento para prosseguir
autora, os resultados encontrados foram bastante com sua linha de ação (lacuna informacional ou
contraditórios, embora algumas generalizações “estado anômalo de conhecimento”, na expressão
tenham sido formuladas, como o “princípio do de Belkin), se vê compelido a buscar informação
menor esforço”, segundo o qual os usuários em alguma fonte ou sistema. Várias pesquisas
tendem a usar a informação mais fácil de ser buscaram então estabelecer os diferentes passos
obtida (mais acessível) em detrimento daquela de deste processo, ou as diferentes formas de se
maior qualidade ou confiabilidade. perceber a lacuna informacional, ou as relações
Como indica Rabello, o campo de estudos entre tipos de percepção de lacuna informacional
de usuários desenvolveu-se, da década de 1940 e as estratégias adotadas para a busca de
ao final da década de 1970, praticamente “ao informação. Tais estudos também ampliaram o
acaso” (1980, p. 93), isto é, apenas com aplicações universo empírico dos estudos de usuários, até
de questionários sem uma efetiva preocupação então dominado por estudos sobre cientistas e
teórica, uma vez que, no campo, “colocou-se o engenheiros, englobando também estudos de
método sempre antes do problema” (1980, p. comportamento informacional em ambientes
62). A autora aponta que importantes autores educacionais, empresariais e de saúde.
do campo, como Brittain, Paisley, Menzel e A informação nessa perspectiva deixa
Toterdall atentavam, já na década de 1960, para de ser entendida enquanto documento ou item
a importância dos estudos buscarem uma maior informacional usado/acessado pelos usuários
fundamentação teórica para além da constante e passa a ser definida em termos de sua relação

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com o conhecimento – ou melhor, com a ausência Também Godbold (2006) buscou


de conhecimento. Informação passa a ser construir um modelo geral de “comportamento
entendida como algo capaz de alterar os estados informacional” aliando distintas contribuições
cognitivos dos sujeitos, dando-se, a partir daí, – no caso, os quatro modelos propostos por
especial atenção às maneiras como os indivíduos Wilson entre os anos de 1981 e 1999 e o modelo
percebem seus estados de lacuna cognitiva e sense making de Dervin desenvolvido a partir
as estratégias utilizadas por eles para buscar e de 1983 e aperfeiçoado em 2000. O objetivo da
usar as informações de que necessitam. Neste autora foi o de ampliar os modelos propostos
tipo de abordagem, as maneiras (ou “tipos”, para que se pudesse incorporar novas dimensões
como colocaria Weber) dos usuários perceberem do problema, como a multi-direcionalidade
suas lacunas é considerada uma variável mais do processo e as múltiplas estratégias levadas
importante para explicar seu comportamento a termo pelos usuários. Assim, o processo
informacional do que as variáveis sócio- de busca e uso da informação deixaria de ser
demográficas. compreendido numa perspectiva linear (com
A partir de finais da década de 1990, novos etapas e seqüências previamente estabelecidas e
estudos e perspectivas desenvolvidas no campo encadeadas) e o usuário como ser ativo construtor
dos estudos de usuários começaram a tentar dos diferentes caminhos e possibilidades.
conciliar as duas tradições de estudos, buscando Outro autor que deve ser destacado é
superar as tendências que ora viam o usuário Wilson, que vem, ao longo das últimas três
como nulo, totalmente determinado pelo seu décadas, aprofundando a discussão teórica
pertencimento a um perfil sócio-demográfico sobre o campo, inclusive propondo uma
(como na abordagem tradicional), ora viam o nova denominação, que vem aliás sendo
usuários como ser isolado, dotado de critérios bastante adotada: “estudos de comportamento
únicos (totalmente individuais) para julgar a informacional”. Conforme Wilson (2002), existe
informação, sentindo e definindo isoladamente neste campo de estudos uma certa confusão
na sua mente algo como “necessidade de entre os conceitos de metodologia e método,
informação” (tal como na abordagem alternativa). uma vez que muitos pesquisadores usam o
Diversos autores buscaram superar esse desafio termo “metodologia” quando, na verdade,
aliando, por um lado, todo o conhecimento estão lidando com os métodos, os instrumentos
acumulado nas décadas anteriores, no campo metodológicos (de coleta de dados, de análise
dos estudos de usuários, com as questões e dos dados) escolhidos. Em sua avaliação, essa
problematizações surgidas mais recentemente na confusão é fonte de alguns problemas para o
teorização sobre o conceito de informação na CI. campo, pois a metodologia é anterior ao método
Entre as iniciativas advindas deste esforço e mais fundamental do que ele, pois é ela que
destacam-se, entre outros, o “modelo geral de provê o quadro filosófico para a realização dos
uso da informação” proposto por Choo (2003) estudos e a escolha dos métodos.
a partir da interligação entre as categorias de Para Wilson, tomar uma posição
parada de situação estabelecidas por Dervin, metodológica é localizar-se num determinado
de uso da informação propostas por Ellis, com ponto de vista sobre a realidade. Para o
as etapas do processo de busca de informação positivista, por exemplo, a posição metodológica
identificadas por Kuhlthau e as dimensões é que os fatos do mundo representam objetos
situacionais apontadas por Taylor. Seu objetivo reais, existentes em si mesmo independente do
foi o de estabelecer um modelo geral de como observador, enquanto que para o fenomenólogo
as pessoas sentem falta, buscam e usam a o mundo (ou o mundo que ele escolhe explorar)
informação, considerando as etapas ou ciclos do é um mundo de significados intersubjetivamente
processo (necessidade, busca e uso) inseridos construídos. Assim, Wilson argumenta que é
num ambiente de processamento da informação preciso dar o devido crédito para os estudos
(constituído de estruturas cognitivas e até então conduzidos no campo, de natureza
disposições emocionais) e num ambiente externo positivista, na medida em que, produzindo
(meio profissional ou social). A importância seus questionários, identificando taxas de
dos contextos concretos em que ocorrem os uso da informação e realizando correlações
fenômenos é, assim, ressaltada por Choo. estatísticas com dados de perfil, esses estudos

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Paradigma social nos estudos de usuários da informação

encontraram algo sobre a realidade, conduziram 4 INTERAÇÃO: CONCEITO-CHAVE PARA OS


a algum conhecimento sobre o comportamento ESTUDOS DE USUÁRIOS
informacional. Ao mesmo tempo, deixaram “a
descoberto” outros elementos – e é para dar conta O objetivo deste texto é aproximar os
destes elementos que o autor defende a utilização avanços recentes no campo de estudos de
da Fenomenologia, recorrendo, como suporte usuários, exemplificados acima com as teorias
teórico, ao pioneiro da aplicação dessa corrente de Choo, Golbold, Wilson, Tuominen, Talja e
filosófica ao campo das ciências humanas e Savolainen, com a proposta de um “paradigma
sociais, Alfred Schutz. social” apresentada por Capurro e compartilhada
Para Wilson, na Fenomenologia busca- por autores como Hjorland, Frohmann e Brier.
se estudar como o fenômeno humano é Nos dois grupos de contribuições, cada um a
experenciado na consciência humana, com seu modo, certos elementos comuns emergem: a
ênfase na compreensão da experiência de natureza social e coletiva do uso da informação;
mundo das pessoas em sua situação concreta. seu enraizamento num contexto concreto da
Como nossa experiência de mundo, aquilo em experiência; o caráter ativo do usuário em sua
que os nossos pensamentos sobre o mundo relação com a informação; a natureza cognitiva,
são baseados, se dá com e através dos outros, mas não só, do processo de busca e uso da
então a nossa experiência é intersubjetiva. informação.
Para Wilson, intersubjetividade é o conceito Mais do que apontar dicotomias, a
fundamental para o desenvolvimento de uma tendência de todos os estudos parecem apontar
abordagem fenomenológica do comportamento para sua integração dinâmica, para a indicação
informacional, abordagem esta capaz de transpor de que os fenômenos estudados são, ao
os limites alcançados tanto pela abordagem mesmo tempo, uma coisa e a outra – como vem
“tradicional” como pela “alternativa”. Seguindo sendo, aliás, reivindicado pelas perspectivas
a linha fenomenológica, Wilson postula uma contemporâneas que defendem o paradigma da
fidelidade ao estudo do fenômeno tal como complexidade nas ciências humanas e sociais
ele é vivido – o que significa compreendê-lo no (MORIN, 1987). Nesse sentido, “interação”
contexto vivo das pessoas vivendo na situação parece emergir como o conceito-chave de uma
concreta de interações com outras pessoas. nova abordagem para os estudos de usuários
Numa linha bastante próxima, Tuominen, capaz de integrar os avanços realizados nas
Talja e Savolainen (2005) propuseram uma discussões contemporâneas do estudos de
perspectiva calcada no construcionismo social usuários e de comportamento informacional com
para o estudo do comportamento informacional, o paradigma social da CI.
buscando entender, por meio da ideia de Interação significa “ação recíproca”. O
“construção”, como os usuários são ativos no conceito põe em relevo o fato de uma ação
processo de escolher, determinar os sentidos ou influência exercida por algo ser também
e usar as fontes de informação; e, por meio da afetada por esse algo. Pensando nas questões em
ideia de “social”, enfatizar o caráter coletivo, discussão aqui, teríamos que, numa perspectiva
determinado no seio das interações, desse interacionista, o usuário não é totalmente
processo. Um destes autores, aliás, já vinha, determinado pelo contexto no insere, nem é
anos antes, propondo, em estudos empíricos, totalmente isolado ou alheio a ele; a determinação
a aproximação dos estudos de comportamento que o contexto exerce existe, é real, mas não é
informacional aos conceitos fenomenológicos de mecânica nem absoluta, é interpretada e alterada
Schutz (SAVOLAINEN, 1995). pelo sujeito. O mesmo vale para o significado
Diversos outros autores e tendências da informação: ele não está totalmente dado
poderiam ser aqui elencados para a pelo documento material, pelos elementos que
caracterização dos estudos atuais, mas não compõem a “mensagem”, nem é dado totalmente
serão citados dados os limites destes artigo. As pelo usuário – o sentido da informação é
contribuições apontadas acima são, contudo, resultado tanto de determinações da informação
suficientes para dar um panorama do que se tem como “coisa” quanto das estratégias cognitivas
pensado e para se promover a discussão proposta operadas pelo usuário na interpretação dessa
neste texto, apresentada no tópico a seguir. “coisa”. Igualmente, o usuário é social, mas

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isso não significa nem que ele seja totalmente uma “abordagem interacionista”, que é uma
determinado pelo coletivo, nem isolado deste: aproximação que está sendo feita apenas neste
ele é ao mesmo tempo construtor desse coletivo texto).
(o coletivo é construído pelos sujeitos concretos É curioso perceber que as cinco dissertações
que pertencem a ele) e também construído por escolhidas possuem objetos empíricos bastante
ele. E, por fim, acessar e usar informação é tanto incomuns no campo da CI – o que, a nosso ver,
uma ação cognitiva quanto, também, uma ação não representa uma coincidência. Antes, esses
emocional, cultural, contextual – o usuário não é novos objetos empíricos representam novos
apenas uma “mente cognitiva”, mas o é também. desafios de compreensão da realidade, que
O conceito de interação parece assim ser colocam em evidência os limites explicativos dos
capaz de superar algumas dicotomias que têm, modelos teóricos existentes e apontam para a
historicamente, marcado o campo: sujeito ativo/ necessidade de evoluções das teorias.
sujeito passivo, significado na mensagem/na É importante ressaltar que, neste texto,
mente do usuário, usuário cognitivo/emocional não se tem a pretensão de apresentar um
e cultural. Uma perspectiva interacionista volta- resumo das dissertações, embora elas sejam
se para a percepção da dimensão reciprocamente minimamente apresentadas. Trata-se, aqui, de
referenciada dos fenômenos e dos elementos que uma leitura bem particular, destacando apenas
o compõem. Estudar os usuários da informação alguns aspectos dos resultados encontrados e
e seu comportamento informacional é, ao mesmo confrontando-os com pressupostos da nossa
tempo, ver o usuário é determinado pelo social proposta de abordagem interacionista. Alguns
mas também como não é totalmente alheio a ele; dos autores, teorias e conceitos utilizados para
ver que o significado da informação está lá no se problematizar, neste artigo, aspectos das
documento mas também é recriado pelo usuário; dissertações não estão nas próprias dissertações.
e assim sucessivamente. Pelo contrário, o movimento deste texto foi
Resolver tais questões no plano teórico, justamente o de inserir alguns autores clássicos
contudo, ainda é insuficiente. Afinal, é preciso que das ciências humanas e sociais que desenvolvem
uma discussão teórica, novas problematizações temas relacionados com aqueles problematizados
e conceitos, possam ser efetivamente usados pela abordagem social da CI, de modo a lançar
e aplicados nas pesquisas concretas e possam luz sobre as potencialidades explicativas
realmente contribuir para uma melhor desta abordagem para o campo dos estudos
compreensão dos fenômenos estudados. Nesse de usuários da informação na direção de uma
sentido é que, para evidenciar com mais clareza nova abordagem dos estudos de usuários – a
o que significa fazer uma pesquisa de usuários abordagem interacionista.
numa abordagem interacionista, optou-se, aqui, Os cinco estudos apresentados a seguir
por analisar pesquisas concretas realizadas com foram desenvolvidos como pesquisas de
usuários da informação. mestrado e defendidos entre 2008 e 2010. São
estudos sobre comportamento informacional
5 CINCO ESTUDOS DE USUÁRIOS de prostitutas, fãs de histórias em quadrinhos,
bailarinos, presidiários e ouvintes de rádio.
NO PARADIGMA SOCIAL
Para encaminhar a discussão sobre os 5.1. O estudo das profissionais do sexo
avanços obtidos no campo de estudos de usuários
e sua relação com os paradigmas identificados Todos os fenômenos humanos e sociais são
por Capurro, isto é, para evidenciar como já conhecidos, interpretados, pelos sujeitos que os
se poderia dar, na prática, uma “abordagem experenciam, pelo senso comum, e naturalizados
interacionista” de estudos de usuários, optou-se pela força do hábito. Um dos maiores desafios
por apresentar alguns resultados de pesquisas do pesquisador da área de ciências humanas
empíricas efetivamente realizadas e recentemente é, justamente, libertar-se das categorias de
concluídas, todas elas voltadas, de alguma pensamento já instituídas no momento de
forma, para o movimento de conciliar os estudos analisar algo.
de usuários com o paradigma social da CI A primeira pesquisa a ser analisada neste
(ainda que nenhuma delas tenha se referido a artigo diz respeito justamente a esta questão.

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Paradigma social nos estudos de usuários da informação

Trata-se da pesquisa de Ronaldo Silva (2008) campo, contudo, foi revelador em termos de
sobre as práticas informacionais das profissionais subverter as expectativas iniciais da pesquisa
do sexo da Zona Boêmia de Belo Horizonte. e da ordem de importância dos diferentes tipos
Tratou-se de uma pesquisa que, a partir de de informação com as quais as profissionais do
observação do ambiente e da realização de 13 sexo se relacionavam. Foram estabelecidos, após
entrevistas com prostitutas que trabalhavam o trabalho de campo, quatro eixos de análise:
em hotéis localizados na rua Guaicurus, buscou informação sobre questões trabalhistas, sobre
analisar as fontes de informação utilizadas legislação penal, sobre saúde e sobre o cotidiano.
por elas, os critérios para suas escolhas e os Em relação à informação sobre trabalho,
diferentes usos efetivados. Para a realização percebeu-se um grande desinteresse das
da pesquisa, além do referencial teórico profissionais entrevistadas, ou seja, não há por
calcado nas ideias de McGarry sobre o contexto parte delas uma necessidade de informações
dinâmico da informação, foram utilizados sobre esse assunto. Tal resultado contradiz
conceitos da Antropologia da Informação, do tanto os discursos oficiais do poder público
Interacionismo Simbólico e da Etnometodologia, quanto aquele das associações profissionais das
além de extensa revisão de literatura sobre a prostitutas. No âmbito desses dois discursos, é
temática da prostituição e os diversos aspectos freqüente a defesa da legalização da profissão,
(morais, políticos e de saúde, entre outros) a ela pois isso significaria uma série de vantagens:
relacionados. possibilidade de férias, décimo-terceiro salário,
A primeira questão relativa a essa pesquisa fundo de garantia, previdência social. Além
é a da própria legitimidade da escolha do objeto disso, ajudaria a melhorar as condições em que
empírico. O estigma que cerca as praticantes o trabalho é exercido (higiene, espaço físico)
desta atividade – a prostituição – muitas vezes e, principalmente, poderia minimizar riscos
prolonga-se do ambiente social para o ambiente freqüentes como a violência física a que são
científico, deslegitimando a validade de estudos normalmente submetidas as profissionais do
que as tenham como objeto empírico – como sexo. Olhando assim, desse modo, a questão,
relatado por Araújo (2008). Pois a escolha deste pode parecer inaceitável o comportamento das
objeto de estudo teve exatamente a intenção prostitutas. Contudo, é preciso situar a postura
provocadora de questionar o campo da CI, delas no quadro de sua experiência cotidiana,
tradicionalmente voltado apenas para contextos pois é no contexto concreto que as ações ganham
institucionalizados de produção e uso da sentido.
informação (o ambiente de ciência e tecnologia Na verdade, as profissionais do sexo
ou o ambiente empresarial). têm um grande receio de serem percebidas
É importante destacar esse fato, pois, como socialmente como tais, e de sofrerem os efeitos
mostra um importante estudo de Becker (1977) do estigma que cerca a profissão. Nesse sentido,
sobre o desvio social (sobre os estigmatizados legalizar-se profissionalmente seria uma ameaça
socialmente), o desvio não é uma qualidade a seus projetos de vida. Além disso, a prostituição
do ato cometido por uma pessoa, mas é criado é sempre vista como uma experiência temporária,
socialmente, é uma conseqüência da aplicação, uma atividade transitória, o que também diminui
pelos outros, de determinadas normas a um a importância de sua legalização. Uma outra
sujeito tido como transgressor. Ao buscar estudar razão diz respeito aos ganhos concretos: a
as prostitutas, não só a atividade de rotulação avaliação comum é que se ganha mais no regime
por parte da sociedade é identificada, mas informal, sem a necessidade de pagar impostos,
também essa mesma atividade por parte do meio do que se houvesse legalização.
científico que se julga desinteressado, neutro e Assim, o que a princípio poderia ser uma
acima das questões de julgamento moral. lacuna informacional (ausência de conhecimento
O trabalho de Silva voltava-se, no início, sobre algo) e um “defeito” de não identificação
apenas para o estudo da informação em saúde, ou compreensão dessa lacuna é, na verdade, uma
especificamente a questão da disseminação elaboração muito singular dessas profissionais,
de informações sobre as doenças sexualmente que passa por desconstruir o discurso “oficial”
transmissíveis (DSTs), e sua importância na e não perceber as questões trabalhistas como
prática dessas profissionais. O trabalho de uma lacuna. Mais importante ainda: não se trata

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da repetição de um discurso produzido num riscos, mas optam por correr esses riscos. Ou seja,
“outro lugar”. Essa visão é construída por meio as informações recebidas são interpretadas, são
de uma série de interações estabelecidas entre reelaboradas, para a construção de uma linha
elas e outras pessoas, como advogados, clientes, de ação coerente com determinadas concepções
pessoas da própria família e fontes formais de e objetivos. Isso mostra como os indivíduos,
informação. E no contexto e no cruzamento das por um lado, são modelados pelos grupos aos
diferentes informações recebidas e coletadas há quais pertencem, mas também buscam guardar
uma reelaboração que passa a não considerar, certa distância, ganhar um espaço entre aquilo
pois, as questões trabalhistas como uma lacuna, que são verdadeiramente e aquilo que os outros
como uma necessidade de informação a ser gostariam que eles fossem, tal como ensinou
satisfeita. Goffman (1999) em seu clássico estudo sobre a
Assim também as questões legais, tidas realidade dos manicômios.
num primeiro olhar como possivelmente O último eixo analisado na pesquisa
prioritárias dadas as questões criminais que diz respeito às questões cotidianas. E aqui
cercam a prática (prostituir-se no Brasil não é evidencia-se claramente o caráter dinâmico da
crime, mas explorar as prostituição sim) também informação. Sendo um universo que sofre uma
não é tida como relevante, principalmente grande condenação moral, trata-se de um campo
porque, no universo da “prática” profissional, pautado por uma série de discursos implícitos.
existem já arranjos e interpretações levadas a Os anúncios de serviços, por exemplo, não
cabo por todos os atores envolvidos (policiais, são explícitos quanto ao teor da atividade de
clientes, donos de hotéis e as próprias prostitutas) prostituição, mas são assim compreendidos pelas
que torna desnecessário, do ponto de vista profissionais do sexo, graças a um conjunto de
delas, investimento de trabalho na busca por conhecimentos socialmente partilhados, embora
informações sobre esse assunto. implícitos. O mesmo ocorre em relação às normas
Outro eixo analítico do trabalho de atuação dentro dos hotéis. O hotel não é,
constituiu-se das questões sobre saúde. E “oficialmente”, responsável pelas atividades
curiosamente, embora se pense que há uma das prostitutas, ele apenas cobra uma diária
grande necessidade de informação sobre doenças pelo quarto. Contudo, há uma série de questões
sexualmente transmissíveis, essa não foi a que específicas (preço mínimo a ser cobrado, uso de
mais se destacou. As profissionais entrevistadas drogas no quarto, normas de segurança) que
disseram e demonstraram conhecer muito sobre são transmitidas às profissionais pelas outras
o assunto, sobre os métodos preventivos e os profissionais.
comportamentos adequados do ponto de vista Entre elas, forma-se também uma rede
médico. Dois comportamentos se destacaram, informal de informações sobre os mais variados
contudo. Um deles, o fato de muitas profissionais assuntos. Mas uma forma muito útil no trabalho
usarem o preservativo nas relações sexuais de cotidiano é a troca de informações sobre clientes,
trabalho, mas não o usarem nas relações afetivas, sobretudo clientes agressivos ou que fazem
com maridos e namorados. Tal ação é entendida propostas de sexo sem proteção. Normalmente
como uma forma de distinguir os tipos de tais clientes são “denunciados” por gritos pelos
relação nas quais elas se vêem envolvidas. Outro corredores que funcionam como alerta às demais
é o caso de prostitutas que, sabendo dos riscos, profissionais do hotel, o que funciona também
praticam relações sexuais sem proteção em casos como inibidor para as ações de clientes tidas
excepcionais, em que algum cliente assim solicita, como inadequadas.
mediante um grande acréscimo no valor do
programa.
5.2 Os super-heróis das histórias em
Ambos os casos, de prostitutas que não
se protegem nas relações sexuais, poderiam ser quadrinhos
identificados como comportamentos “errados” O segundo estudo a ser analisado é a
e, nesta perspectiva, pensaria-se que falta pesquisa de Rubem Ramos (2008) sobre leitores
informação, falta transmissão de informação. de histórias em quadrinhos de super-heróis. Por
Não é o caso. Elas possuem a informação sobre meio da realização de entrevistas com 20 fãs de
as doenças e as formas de prevenção, sabem dos super-heróis das editoras Marvel e DC Comics

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Paradigma social nos estudos de usuários da informação

contactados em diferentes pontos de leitura de autores que ressaltam as potencialidades


(bancas, gibitecas, sebos), Ramos teve por objetivo e riqueza de recursos dessa produção
entender como se processam, por meio do hábito (provenientes de outros grupos sociais). Mais
de leitura, a aquisição de conhecimentos e o do que buscar conferir a “correção” da visão de
incremento da vida cotidiana através da reflexões um ou outro grupo, o importante em termos
sobre o conhecimento adquirido e do exercício científicos é analisar o que se passa entre os
da atividade imaginativa. Para tanto, buscou diferentes grupos, isto é, verificar as relações
articular uma reflexão sobre a leitura como entre eles. Afinal, é no âmbito das relações que
hábito e como gosto, além de suas vinculações os significados são produzidos. A existência
com a vida cotidiana dos leitores. dessas diferentes posições relaciona-se com o que
A pesquisa começa traçando a maneira Bourdieu (2007) chamou de formas de distinção
como esse tipo de literatura é normalmente social, em que relações sociais desiguais no
interpretada, tanto pelo senso comum como por plano material expressam-se e reforçam-se no
trabalhos científicos. De um lado, é tida como plano das práticas culturais, instaurando gostos
uma literatura de massa, simples, pobre, com legítimos, tomados como superiores, sofisticados,
pouco ou nada a oferecer, mero passatempo, e outros como vulgares, populares. Tais formas
recreação, que teria como efeito uma experiência evidenciam a dimensão relacional dos fenômenos
alienante, um escapismo. De outro lado, uma sociais, mostrando que as relações sociais não
literatura positiva, cheia de conhecimentos, têm apenas uma dimensão objetiva (riquezas,
imagens, idéias, e que levaria à reflexão, à posses materiais) mas também uma dimensão
obtenção de novos conhecimentos. Num ou simbólica – na qual se manifestam, entre outros,
noutro caso, evidencia-se uma concepção a informação.
de que o sentido da informação já está dado Entre as razões apontadas pelos leitores
(as histórias em quadrinhos são uma coisa, para justificar a predileção por esse tipo de
ou outra) e sobretudo seus efeitos também informação, encontra-se, afinal, o tema do
estão determinados por essas definições: o entretenimento. Mas ele não é entendido como
empobrecimento ou o enriquecimento da uma fuga, uma alienação da realidade; antes,
experiência dos leitores. As duas visões anulam, como ato positivo de lazer, relaxamento, dotado
justamente, o papel de sujeito do usuário da de uma dimensão lúdica. Assim, os entrevistados
informação, que é quem, afinal, vai determinar falam da mesma característica usada para criticar
o sentido da informação e, a partir dos mais as histórias em quadrinhos (o entretenimento) mas
variados usos, indicar os “efeitos” da leitura, num outro quadro de sentido, em que o prazer
que não incidem mecanicamente sobre ele mas não se opõe à qualidade da experiência, nem a
são, antes, elaborações suas (portanto, não aparente “facilidade” de leitura seria sinônimo de
seria adequado falar em “efeitos” mas sim em pouca atividade reflexiva. O que se observa é o
“apropriações” ou “usos”). contrário, quando se percebe o orgulho com que os
Uma abordagem calcada no paradigma entrevistados falam de seus gostos e preferências,
social da CI, antes de tudo, desconfiaria de a desenvoltura com que descrevem personagens e
interpretações que atribuíssem de antemão relatam as narrativas. Nesse processo, identificou-
o sentido dessas histórias de super-heróis, se pelo menos duas grandes atitudes reflexivas. A
independente do sentido coletivo (para primeira é a observação dos super-heróis vivendo
determinado grupo) que elas tenham ou dos situações reais (sofrendo preconceitos, sendo
critérios (artísticos, linguísticos, literários, etc) incompreendidos, estando diante de dilemas)
utilizados para avaliá-las. semelhantes às situações cotidianas vivenciadas
É curioso se destacar isso, pois grande pelos leitores. Observar as reações dos heróis
parte da dissertação busca exatamente lhes fornece modelos de comportamento, não a
desconstruir o discurso que tem as histórias em serem mecanicamente seguidos, mas sobre os
quadrinhos como material pobre culturalmente, quais se pode pensar e ponderar, comparando
infantil, polarizado entre divisões simplistas de distintas linhas de ação. A segunda é a constante
bem e mal e com personagens estereotipados mistura entre personagens do “bem” e do “mal”,
(críticas provenientes de um grupo social provocando uma problematização sobre ética,
“elitista”). Para tanto, são buscados argumentos responsabilidade, bondade e justiça.

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Caros Alberto Ávita Araujo

Hoggart (1977), em seu clássico estudo A segunda questão tem a ver com a
sobre a “cultura do pobre”, identificou muito dinâmica de sentido (a “cadeia semiósica”),
bem a maneira como a cultura burguesa via a na qual os usuários atuam não só na condição
cultura das classes operárias, julgando-a pródiga de leitores dos vídeos, mas também como
e imprevidente, ao gastar muito dinheiro para produtores de novos vídeos a partir de
uma festa, endividar-se para comprar um carro ou algumas interpretações bem singulares. Um
permitir que as filhas usassem roupas provocantes. vídeo, possuidor de determinados elementos
O autor identificou, em seu trabalho, a presença, sim, e significados, motivava a construção de um
destes comportamentos. Mas o que ele contradiz na novo vídeo a partir de algum elemento de
pesquisa é a interpretação destes comportamentos sentido, que por sua vez motivava um novo, e
por parte da classe burguesa, que os analisava de assim sucessivamente foi se construindo uma
fora, de um outro sistema de valor, assumindo uma verdadeira cadeia de signos e de significação.
postura muito pouco científica que é o etnocentrismo Essas duas questões evidenciam com
de classe, isto é, julgar os valores de uma outra muita clareza como a informação não é um
cultura com base em valores da sua própria cultura. pacote pronto, fechado em si mesmo, que possa
ser transportado sem modificações de um ponto
a outro (tal como postula o paradigma físico). A
5.3 Bailarinos e suas vídeo-cartas
categoria de “semiose” usada por Andrade a partir
A pesquisa de Graziela Andrade (2008) teve da Semiótica de Peirce (2000) serviu exatamente
como objeto o corpo como suporte de informação, a esse propósito: mostrar como os significados
articulando referenciais teóricos sobre arte e sobre mudam, vão se transformando. Isso se dá com
tecnologia, além de conceitos da Semiótica de mais nitidez no fenômeno estudado, primeiro
Peirce para entender a informação enquanto signo. pelo caráter aberto da significação (os significados
O objeto empírico foi o processo de produção do de uma dança são mais abstratos, polissêmicos,
espetáculo de dança “Imagens deslocadas” do do que os de um texto escrito ou do que de uma
grupo Movasse. Esse processo de produção deu-se informação em linguagem verbal); segundo, pela
da seguinte forma: cada um dos quatro bailarinos obrigação dos bailarinos em, ao assistir a um
do grupo fazia, isoladamente, pequenos vídeos vídeo, produzir uma nova coreografia a partir
(as “vídeo-cartas”) registrando seus movimentos de algo que perceberam ou identificaram nos
improvisados, em diferentes ambientes. Estes vídeos ao quais acabavam de assistir. Usando o
pequenos vídeos eram postados num website de dispositivo da “crítica genética”, que busca ver a
forma que um bailarino assistia a um vídeo e, a gênese de uma obra de arte, a autora encontrou
seguir, produzia o seu, e assim sucessivamente, essa gênese justamente no fluxo informacional,
até um total de 32 vídeos. Além de analisar os nos vários repasses, apropriações e interpretações
vídeos, a pesquisadora entrevistou os bailarinos de informações inscritas em corpos que tomaram
e acompanhou, ainda, a construção coletiva do lugar nas ações do grupo Movasse.
espetáculo, em que os 32 vídeos foram analisados, Assim é que, entre os vários resultados
organizados e traduzidos numa montagem que encontrados, destacam-se aqueles ligados à
contou ainda com a participação de figurinista, polissemia. Em um caso curioso, uma das vídeo-cartas
iluminador, sonoplasta e cenografista. O espetáculo sugeriu, a dois diferentes bailarinos, separadamente,
estreou em 2007, e também foi analisado. a ideia de água, embora nada objetivamente
A primeira questão importante para relacionado com água compusesse a cena filmada.
os estudos de usuários nesta pesquisa diz Em outro momento, todos os bailarinos perceberam
respeito ao conceito mesmo de informação. Os a ideia de “estar espremido”, isto é, apertados
movimentos corporais, os gestos, é que são a fisicamente em um ambiente delimitado, em uma
“escrita”, o “conteúdo” da informação. Mais do das vídeo-cartas, mas cada um traduziu de uma
que tratar-se de informação não verbal, a dança maneira diferente, em um ambiente diferente, essa
implica ainda em se ter o próprio corpo como o sensação. Não se trata de coincidências, pois existe, ali
suporte da informação. No caso, são movimentos na evidência material, certos traços que limitam, ainda
criados espontaneamente, improvisados, na que amplamente, o sentido.
confluência dos fluxos informacionais, e não pré- Em outro caso, um dos bailarinos postou
determinados. um vídeo em que dançava no alto de uma

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Paradigma social nos estudos de usuários da informação

montanha. O vídeo seguinte foi produzido Conforme apontado por Silva, a


em meio ao trânsito de carros numa cidade, penitenciaria é um tipo muito particular de
pois a necessidade da bailarina em questão instituição – a que Goffman (1999) denomina
era promover um contraste entre a ideia de “instituição total”. Tal como os asilos psiquiátricos,
amplitude e de restrição. Noutro caso, um conventos e instituições militares, caracterizam-
bailarino escolheu propositalmente um coreto se por serem locais onde os indivíduos dormem,
para interagir com os vários elementos do trabalham e têm lazer no mesmo espaço, ou seja,
ambiente: a pintura e as formas do coreto, as há um cerceamento e isolamento dos indivíduos,
pessoas passando ao redor, os carros na praça. além de grande controle sobre sua rotina de ação.
Paralelamente a todos esses processos, Contudo, tal como postulado por Goffman (1999),
existe uma vivência coletiva, uma partilha de o estudo deste tipo de instituição (fenômeno
sentidos (do grupo com a sociedade, entre os “extremo”) antes de representar uma forma única,
membros do grupo) que os levam a reconhecer de distinta, de relações sociais, representa apenas
forma aproximada certos elementos da realidade. uma manifestação mais clara, evidente, “gritante”
Tal como postulado pelo Interacionismo de fenômenos que acontecem em outros locais
Simbólico, agimos com base nos significados institucionalizados, tais como a família, a escola
dos objetos do mundo, e esses significados são ou a empresa. Entender o que se passa numa
construídos coletivamente (BLUMER, 1980). No “instituição total” é verificar a lógica de eliminação
caso, a experiência no mundo da dança possui da subjetividade dos sujeitos, suas estratégias de
algumas definições partilhadas sobre certos se contrapor a uma total dominação e também
significados ou um leque de significados para os de “jogar o jogo” para daí adquirir benefícios,
tipos variados de movimentos de um bailarino. De as adaptações secundárias que ocorrem no
toda forma, no plano de uma atividade artística e interior destas instituições (trocas de mercadorias
sensórea, esse tipo de racionalização não é feita, ou proibidas, pequenas ações clandestinas, etc), os
seja, a apropriação e o uso da informação seguem esquemas de privilégios, recompensas e punições.
uma lógica muito diferente de um processo Mas todas essas características ocorrem, de formas
mentalista de cognição baseado no preenchimento diferentes, nas demais instituições.
de lacunas de conhecimento. Cada nova O mesmo raciocínio vale para o estudo
performance é, antes de tudo, uma expressão de das práticas informacionais. Entender a lógica
um sentir, de uma percepção, que se expressa sem informacional no interior das prisões permite
a mediação do intelecto, no plano de uma nova pôr em evidência práticas que acontecem em
ação em que, espontaneamente, a escrita se faz diversos outros meios institucionalizados como as
sem a mediação de um suporte material exterior empresas e escolas. O principal deles, identificado
aos sujeitos – mas sim no seu próprio corpo, antes na pesquisa de Silva, é a existência de um código
mesmo da formulação de um “pensar”. de conduta entre os presos, invisível, não falado,
mas vigente e regulador de todas as atividades,
inclusive as sanções e punições levadas a termo
5.4 Estudando os presidiários
pelos próprios encarcerados. Desde temas
O outro estudo foi realizado por Marcos proibidos (sobre crimes, por exemplo) até a
Silva (2008), sobre a população carcerária da forma de se comunicar (os novatos devem ficar
Penitenciária José Maria Alkmin, no município em silêncio) ou hábitos a serem observados (não
de Ribeirão das Neves, em Minas Gerais. O se levantar da mesa de refeições até que todos
objetivo do autor foi entender como ocorrem as tenham terminado) são informações transmitidas
práticas informacionais dos presidiários, unindo implicitamente, por gestos, expressões faciais,
para isso o referencial teórico do Sense making pequenos sons. A sua inexistência formal e a
para o estudo das construções de sentido das forma fluida de serem transmitidos podem trair a
informações com o da Etnometodologia para a importância desse tipo de informação: tais códigos
análise das rotinas do ambiente prisional. Para são centrais para a sobrevivência do presidiário no
a realização do trabalho, foram entrevistados 14 ambiente carcerário.
presidiários de diferentes perfis, desde aqueles Outro fator importante observado diz
condenados a maior tempo àqueles com penas respeito ao fator “credibilidade” das fontes
mais curtas. de informação. É quase unânime entre os

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Caros Alberto Ávita Araujo

entrevistados a desconfiança dos advogados, rádio como um sistema de informação e os ouvintes


que na visão deles estariam interessados como usuários, num desenho que parecia indicar
apenas no dinheiro. Também instituições de um processo em que os usuários necessitavam de
justiça (corregedorias, tribunais) são vistas com determinadas informações, determinados dados
desconfiança, por não terem na visão deles um da realidade, e recorreriam ao rádio para suprir
“real” interesse em ajudar os apenados. Perante essa lacuna. Mas logo no início das leituras e antes
uma compreensão de injustiça (de que foram mesmo do início do trabalho de campo, tal visão já
presos injustamente, ou por serem inocentes da estava descartada, sobretudo pela percepção de que
acusação ou, sendo culpados, por serem vítimas escutar rádio era uma “paixão”, isto é, de que havia
das desigualdades sociais que os levaram ao uma forte dimensão emotiva envolvida na escolha
crime), paira sobre os presidiários uma grande deste meio, muito mais do que por uma emissora
desconfiança em relação a todo tipo de discurso ou um tipo de conteúdo específico. Buscou-se ao
“oficial” – tanto da justiça quanto do sistema longo do trabalho substituir uma visão “cognitiva”
prisional e, até mesmo, dos meios de comunicação do uso da informação por uma abordagem
de massa, vistos como órgãos que distorcem “compreensiva”, recorrendo-se a alguns autores,
as informações sobre os próprios presidiários entre os quais Geertz e Maffesoli, para a seguir
(por exemplo, em coberturas sobre rebeliões em reconstruir a própria ideia de “uso da informação”.
prisões). A família e os colegas de prisão são vistos Em termos metodológicos, uma referência
como as fontes de informação mais confiáveis essencial residiu na noção da “descrição densa”
em relação aos diversos assuntos sobre os quais desenvolvida por Geertz (1978), segundo a
precisam de informação – sendo o principal deles qual o estudo da ação humana deve incluir,
o de cunho jurídico, notadamente o levantamento forçosamente, a observação dos comportamentos
da progressão da pena e os direitos dos presos. mas também a apreensão dos significados,
Entre os achados da pesquisa está também para os sujeitos que os praticaram, destes
a verificação da existência de um outro circuito comportamentos. Buscar entender o significado
de informações (sobre o qual é muito difícil obter que “escutar rádio” tinha para os usuários
relatos) relacionado com práticas criminosas entrevistados foi fundamental para reformular os
(sobre como proceder, sobre armamentos, etc), pressupostos do problema colocado. E assim, para
que justifica o uso da expressão “faculdade do responder ao que leva os usuários à relação com
crime” para se descrever o que ocorre no interior o rádio, foram elaborados oito eixos de respostas:
dos presídios. Assim, se no âmbito formal (das a dimensão de companhia e afeto; a emoção; a
emissoras de rádio e TV colocadas à disposição identificação; a imaginação; o aprendizado; a
dos presos, dos livros e revistas constantes do interação; a agilidade e mobilidade; o hábito.
acervo da biblioteca) predominam informações Assim, embora “aprender algo” ou
sobre direito penal, religião e atualidades, “receber a notícia” sobre algum fato do mundo
relacionadas ao desejo de “recuperação” do tenha aparecido como parte da resposta, tal
preso, no circuito informal circulam muitas dimensão possui um peso muito reduzido em
informações relacionadas ao “aprimoramento relação a outros fatores, sobretudo a busca de
no crime”. A existência de tal circuito evidencia companhia, a interação, a concretização de
principalmente que, mesmo no âmbito das um laço, uma ligação. O rádio é então visto
instituições mais totalizantes, algo escapa ao e qualificado às vezes como “companheiro”,
controle – o que, na visão de Goffman, representa “amigão” e até “namorada”. A relação com o
antes uma função dentro destes sistemas: aliviar rádio se cerca, pois, de uma dimensão emotiva
os sofrimentos, atenuar as tensões, evitar a (de afeto pelo “companheiro”, de associação
propagação de um grande conflito. a certos estados de humor, ao bem estar) e
é sobretudo da ordem da sociabilidade, das
relações que não querem outra coisa senão se
estabelecer como relação, com um fim em si
5.5 Ouvintes assíduos de rádio
mesmo (SIMMEL, 1983). Daí que, muitas vezes,
A última pesquisa comentada aqui é a de os ouvintes não se lembram de determinadas
Marina Pessoa (2010) sobre ouvintes assíduos de notícias em particular, determinados fatos que
rádio. A intenção original da pesquisa era estudar o tenham “preenchidos lacunas cognitivas”. Sendo

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Paradigma social nos estudos de usuários da informação

da ordem da sociabilidade, trata-se de uma 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS


relação onde inexistem fins práticos, onde se
busca justamente e apenas o estar-junto, a ligação Muito se poderia extrair ainda das
pelo prazer da ligação (MAFFESOLI, 1998). dissertações analisadas, bem como dos autores
Entende-se, assim, o rádio muito mais do de estudos de usuários aqui apresentados.
que como um meio de transporte, de transmissão Outros autores poderiam ser convocados para
de informações. Antes, é um proporcionador de problematizar as questões apresentadas, ou
recriações e exercício de imaginação, além de se mesmo os autores aqui presentes poderiam
constituírem como fontes de interações diversas. ter seu pensamento mais explorado. Enfim,
Há, ainda, na experiência de se escutar rádio, muito se há por dizer, discutir, argumentar e
algo de hábito, de comportamento rotineiro, que problematizar no campo de estudos de usuários.
faz parte da vida dos usuários. Essa característica, Neste texto, contudo, optamos por nos
somada à anterior, coloca o uso da informação circunscrever a um objetivo bem delimitado:
radiofônica tanto na ordem das ações afetivas aproximar a discussão de Capurro e dos autores
quanto das ações tradicionais no quadro dos tipos do “paradigma social” da CI com os avanços
de ação social propostos por Weber (1979) – o que recentes no campo de estudos de usuários e
descaracteriza essa prática como uma ação racional, de comportamento informacional tendo, como
seja ela orientada para fins ou para valores. resultado dessa aproximação, o desenho de
Portanto, escutar rádio tem, para uma possível “abordagem interacionista” para
os usuários, uma dimensão criativa, uma o campo. O uso de exemplos concretos de
dimensão coletiva/social e também uma pesquisa buscou avaliar as reais possibilidades
dimensão existencial ligada ao cotidiano. Sua de realização de pesquisas nesta linha, com
natureza afetiva faz com que não seja explicada suas implicações no âmbito da definição do
racionalmente a natureza dessa ligação por objeto, do uso de conceitos e das estratégias de
parte dos sujeitos entrevistados. A riqueza dos coleta e análise dos dados.
aspectos relacionados com a ação de escutar Espera-se que, com isso, se tenha dado
rádio supera, em complexidade, a ideia de uma um passo importante para a consolidação e o
ação utilitária motivada para a busca por um avanço do campo de estudos de usuários em
dado para uma tomada de decisão ou superação uma profunda articulação com as tendências
de uma anomalia de conhecimento. contemporâneas da pesquisa em Ciência da
Informação.

SOCIAL PARADIGM IN INFORMATION USERS STUDIES:


interactionist approach

Abstract In this article we bring the discussion of Rafael Capurro on the “social paradigm” of Information
Science with recent advances in information users studies. As a result of this dialogue, we propose
the development of an “interactionist approach” to the field. The feasibility of such a proposal
is discussed and evaluated based on the examination of search results from five master thesis
discussed with categories and concepts of authors linked to interactionist and socio-cultural
approaches in Information Science and in the humanities and social sciences.

Keywords: Information users studies; Social paradigm; Information Science; Interactionist approach.

Artigo recebido em 18/04/2011 e aceito para publicação em 25/03/2012

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Caros Alberto Ávita Araujo

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