Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Neves - Vantagem Competitiva Das Cidades e Apoio A Mpes - Formulação2
Neves - Vantagem Competitiva Das Cidades e Apoio A Mpes - Formulação2
Introdução
Uma vez que as ações que compõem os planos têm natureza variada, é necessário distinguir
assuntos que exijam linhas de ação distintas; diferenciar o que depende de ação combinada de
parceiros do que não depende; saber o que deve ser executado antes como pré-condição para
outras ações; e perceber quando é preferível se manter dentro de limites pré-existentes ou
quando é melhor trabalhar na sua ampliação.
- reservar parte dos recursos para ações estruturantes, isto é, que criem condições
futuras para o desenvolvimento das atividades de maior potencial;
1
- estudar a possibilidade de ampliação dos mercados (incluindo-se o mercado
internacional), considerando as exigências de qualidade, capacitação, tecnologia e
volume de produção que tal incremento acarretaria.
Existem pelo menos quatro problemas possíveis relacionados com as questões de abrangência
e estruturação das ações de apoio a micro e pequenas empresas:
Embora seja possível lançar mão de diversas providências em várias frentes ao mesmo tempo
sem que exista muita conexão entre elas (e isso é certamente melhor do que não implementar
ação alguma), o desejável para maximizar o resultado possível é que as providências formem
um todo orgânico, isto é, estejam organizadas de forma coerente com determinados objetivos,
práticas, condições e meios. Faz-se necessária a existência de um projeto de desenvolvimento,
no qual a sinergia das ações provoque um efeito conjunto superior à soma de seus efeitos
considerados individualmente, isto é, deve-se evitar a dispersão dos esforços.
Não há dúvida que iniciativas implementadas somente em razão de seu caráter social podem
gerar benefícios importantes. No entanto, se elas forem fragmentadas e esparsas, e se não
estiverem voltadas para o aumento da capacitação competitiva da cidade ou região, só
acidentalmente permitirão obter o melhor resultado possível em termos de fortalecimento da
estrutura produtiva que alternativamente se teria com otimização do uso de recursos e geração
duradoura de benefícios. Considerando que o desenvolvimento da economia local como um
processo --movimento dotado de dinamismo – verifica-se que tais ações não são
necessariamente as mesmas que capacitariam a região para competir em mercados
crescentemente exigentes, cada vez mais competitivos e não raro internacionalizados.
Uma estratégia de boa qualidade supõe ações amplas, e não pontuais, como elementos de um
sistema em constante movimento. Geralmente se trata de operar em várias frentes,
complementares, que devem ser trabalhadas de forma orgânica, isto é, como um conjunto
coerente e bem estruturado. Para isso, é preciso visualizar o quadro inteiro do processo de
evolução econômica local. A concepção das ações deve considerar a forma como elas se
influenciam mutuamente, sua finalidade direta e os objetivos a alcançar. Em outras palavras, a
2
estratégia deve assumir a forma de um conjunto dotado de um sentido e convergência, ao
invés de ser um aglomerado de ações.
Clareza de objetivos
Embora não bastem para garantir a boa qualidade de uma estratégia, ter objetivos claros e
precisos é um passo importante nesse sentido. Tê-los é condição necessária para que as
ações convirjam e a orientação do conjunto possa ser bem direcionada. Planos com objetivos
claros poderão ou não chegar a bons resultados; planos com objetivos mal definidos
dificilmente permitirão chegar a algum lugar.
1
SEBRAE-SP. Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor: guia paulista 2003-2004. São Paulo: Engenho da
Imagem, 2005, pp-65-67.
3
Muitas vezes as ações têm de se vincular a várias frentes, mas nunca de forma desordenada
ou independente. Outra vantagem de ter objetivos definidos com clareza é poder evitar
dispersão de recursos e duplicidade de esforços.
A dificuldade em definir os objetivos com clareza é proporcional à sua importância; boa parte
dessa dificuldade tem a ver com a natureza da tarefa: estabelecer objetivos significa fazer
escolhas que podem eventualmente vir a se mostrar erradas e ter conseqüências de difícil
reversão. Mesmo assim, ou apesar disso, é preferível fixar objetivos honesta e claramente, já
que a alternativa significa elaborar um plano que terá, no final, duvidosa utilidade.
Flexibilidade
4
dotados de flexibilidade dão aos agentes melhores condições de adaptação; eles devem dar às
entidades uma melhor posição para poder fazer escolhas futuras, e jamais funcionar como
elemento engessador das ações.
O trabalho e análise que antecede a formulação torna necessário, como ponto de partida, um
diagnóstico bem feito. Um trabalho honesto e profundo de levantamento de ameaças,
oportunidades, pontos fortes e pontos fracos poderá evitar problemas futuros, ao servir de
fundamento para a orientação da estratégia. Trata-se de situar o ponto de partida (“onde
estamos”) para então refletir sobre a natureza e a magnitude do avanço pretendido (“aonde
queremos chegar”). Ligando esses dois pontos, a estratégia nada mais é que o caminho a
seguir para que tal avanço se concretize. Para isso é necessário contar com boas informações
e o auxílio de especialistas (assessores ou outros) especializados nos temas estratégicos do
município2.
2
Referimo-nos aqui a especializações produtivas (turismo receptivo, agricultura orgânica, produção de
laticínios, apicultura, etc.) mas também a temas transversais (tecnologia, capacitação profissional,
poluição, etc.), conforme a necessidade.
5
Tendo em vista que o processo de implementação é contínuo, o trabalho de diagnosticar a
realidade não se esgota com a formulação. Ele deverá ser renovado regularmente, para que se
possa atualizar o conhecimento relacionado com o ambiente e com os agentes envolvidos no
processo, antecipando mudanças e promovendo as correções necessárias.
Os interesses locais devem se combinar de forma equilibrada. Planos estratégicos têm maiores
chances de se sustentar a médio e longo prazos quando se respeitam os interesses legítimos
dos atores locais, isto é, quando eles participam da escolha de objetivos e da avaliação dos
caminhos possíveis para os atingir. Para isso, é preciso criar espaços para consulta, discussão
e manifestação permanente (fóruns, encontros, palestras sobre temas de interesse comum) e é
importante criar mecanismos pelos quais os agentes possam participar dos processos de
formulação, implementação da estratégia e acompanhamento dos resultados.
Por envolver diversos agentes sociais, a construção e a implementação da estratégia assumem
um caráter político. Os elementos da estratégia devem ser negociados politicamente, cabendo
a quem participa compreender e gerir a lógica interna dessas negociações. Tal fato transforma
os fóruns de discussão da estratégia em campos de luta, nos quais a produção de conflitos e
disputas ideológicas é natural, uma vez que os agentes envolvidos tentam criar as melhores
condições possíveis para si próprios.
Apesar do exercício do poder ser um tema não raro associado a formas de ação condenáveis
do ponto de vista ético, cabe referir a possibilidade construtiva de trabalhar para que se tenha
um jogo político legítimo, baseado em interesses defensáveis. Os atores sociais diferem no que
diz respeito a seus papéis, agendas e objetivos, capacidade de organização em coalizões ou
alianças; mas deve-se esperar que procedam, em face de cada escolha, ao cálculo racional de
vantagens e desvantagens individuais; o fato de terem seus objetivos particulares é natural, e
tais objetivos geralmente podem ser mantidos dentro de certos limites que não prejudiquem o
conjunto ou o processo de negociação. Cada agente tem sua própria capacidade de ceder e
negociar, cabendo considerar essas diferenças e também os elementos que possam contribuir
unificar as ações, ou ao menos fazer convergir as decisões.
Dimenstein3 cita o exemplo da cidade mineira de Santa Rita do Sapucaí, para ilustrar a
importância de combinar esforços da prefeitura (por exemplo, cedendo galpões para
incubadoras), entidades de apoio a empresas como o Sebrae (que fornecem orientação técnica
e gerencial) e os governos estadual e federal (que no caso contribuem com recursos
financeiros), de forma a disseminar ilhas de inovação nos ramos da eletrônica e
3
Dimenstein, Gilberto – O maravilhoso Brasil de Maria das Graças. Folha de S. Paulo, 21/11/2004.
URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2111200424.htm. Consulta feita em 10/02/2006.
6
telecomunicações. Naquela cidade, como resultado de cinco décadas de investimento no
ensino de eletrônica e de telecomunicações, consolidou-se um parque de alta tecnologia. Nele,
a oferta de profissionais especializados, embora seja grande, mostrou-se por certo tempo
insuficiente para dar conta das necessidades das empresas que ali se instalaram.
Articular é estabelecer conexões e contribuir para que essas conexões funcionem bem.
Projetos que requerem interação de diferentes agentes com papéis distintos geralmente
necessitam de que ao menos um desses agentes esteja preparado para uma função
específica: a de aglutinar esforços e contribuir para a sua melhor orientação, garantindo que a
participação de todos ocorra da maneira esperada e contribuindo para que operem (bem) em
conjunto, evitando atuações isoladas ou divergentes.
Este papel aglutinador requer capacidade de enxergar o todo, facilidade de acesso aos
diferentes agentes, autoridade para o exercício de crítica e autocrítica permanentes, disposição
conciliadora, capacidade de entender a realidade e uma postura flexível para buscar novos
caminhos quando os inicialmente concebidos não se mostram satisfatórios. A gestão do
conjunto deve superar o elementar e
Embora o agente articulador não esteja acima dos demais, ele exerce um papel que é
basicamente de coordenação. A formação de vínculos baseados em confiança é um processo
gradual, que exige sensibilidade e capacidade de negociar de forma que leve a acordos
satisfatórios para todos os envolvidos. Requer também a capacidade de perceber esforços que
eventualmente estejam sendo conduzidos de maneira fragmentária, e que criativamente
poderiam ser revistos quanto à sua forma.
Projetos de médio ou longo prazos estão sujeitos a certo desgaste no que se refere à
motivação dos envolvidos, causada por inércia, divergência de interesses, falta de
acompanhamento ou mesmo dificuldades em envolver os agentes de forma a provocar sua
ação. Cabe ao articulador provocar a ação de pessoas e instituições, estimulando conexões
que dificilmente ocorreriam sem esforço proativo. Trata-se de criar espaços de discussão e
oportunidade para debate e troca de idéias, porém é mais que isso: trata-se de monitorar o
funcionamento do conjunto e perceber chances de promover maior cooperação e convergência
na direção dos objetivos estabelecidos, e não em outra. Além disso, freqüentemente valores e
interesses contrapostos favorecem o surgimento de conflitos que têm de ser cuidadosamente
conduzidos.
7
Um grupo formado por representantes das diversas entidades para construir uma estratégia
conjunta provavelmente será formado por pessoas com personalidades, visão de mundo,
habilidades e grau de especialização distintos, além de objetivos próprios – em alguma medida
divergentes ou mesmo excludentes. Para que a tarefa conjunta seja bem sucedida, essas
pessoas terão de estar fortemente comprometidas com as metas comuns, dispostas a fazer
concessões e a se apoiar mutuamente, colaborando quando possível e sendo capazes de se
comunicar com clareza e de forma franca.
8
medidas corretivas e compensatórias. O acompanhamento deve ser feito durante a
implementação, e a tempo de adotar providências necessárias, e não depois.
Quanto mais claras e específicas forem as metas estabelecidas e os aspectos que permitirão
aferir a competitividade, mais fácil será fazer a verificação sistemática. Trata-se de mensurar o
desempenho4, compará-lo com o pretendido e adotar as providências corretivas para que se
chegue aos resultados esperados. O coração do processo de monitoramento reside na boa
qualidade e estruturação do conjunto de informações disponíveis, que por sua vez dependem
da existência de sistemas de apoio projetados de forma a atender esta necessidade.
É útil que exista uma equipe voltada para as tarefas de planejamento e também de
monitoração da estratégia (uma equipe de assessores, um conselho consultivo ou uma
secretaria), que seja capaz de entender a finalidade e a natureza dos problemas locais,
conhecedora dos agentes e das possibilidades de ação ligadas a eles, de forma tal que o
acompanhamento possa se associar a providências concretas que contribuam para obter
melhores resultados.
Considerações finais
4
Em sentido amplo, trata-se de avaliar meios e procedimentos empregados, os resultados imediatos e suas
conseqüências, qualidade, eficácia e grau de satisfação das pessoas a quem se dirigem os esforços.
5
Qualitativo é aquilo que exprime as qualidades (propriedades, atributos ou condições) do objeto
considerado, em contraposição a quantitativo (numérico).
9
É importante que as ações planejadas componham um todo organicamente estruturado,
coerente e com o grau de amplitude adequado à geração do melhor resultado possível. Além
disso, objetivos a atingir e metas parciais devem ser estabelecidos com clareza tal que facilitem
o entendimento, a comunicação e a aferição dos resultados. A possibilidade de obter
informações em fluxo praticamente contínuo sugere que hoje tais aferições possam ser feitas
com certa regularidade e maior freqüência do que antigamente, ao longo da implementação da
estratégia e em tempo de rever a orientação conforme a necessidade.
Estratégias são construídas em um contexto político, com atores que agem racionalmente na
defesa de seus interesses, preferências e conveniências. Tal fato torna importante o papel de
aglutinar suas atuações, coordenando esforços e fortalecendo vínculos, evitando problemas de
desgaste das relações, divergências e ausência de motivação.
10