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ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO­REVOLUCIONÁRIA
MIKHAIL V. FRUNZE :
A ARTE PROLETÁRIA DA INSURREIÇÃO SOCIALISTA
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
 

A Insurreição : Regras
Fundamentais
 
[1]
FRIEDRICH ENGELS
 
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Rochel von
Gennevilliers
Fevereiro 2005 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific­
socialism.de/ArteCapa.htm
 
 
“... Não se encontra no Sr. Dühring nenhuma palavra no sentido de que
a violência desempenha, porém, ainda um outro papel na história,
um papel revolucionário, no sentido de que, segundo as palavras de Marx,
ela é a parteira de toda velha sociedade que se encontra grávida de uma nova,
no sentido de que ela é a ferramenta com a qual o movimento social se impõe
e formas políticas fossilizadas e enrijecidas são destroçadas.
Apenas com suspiros e gemidos, o Sr. Dühring admite a possibilidade de que,
para a derrubada da economia de exploração, talvez seja necessária a violência.
Lamentavelmente, pois todo emprego de violência, segundo ele,
desmoralizaria aquele que dele lançasse mão.
E tudo isso tendo em conta o elevado ascenso espiritual e moral
que foi o resultado de toda revolução vitoriosa !
E isso também na Alemanha, onde um embate violento,
que o povo, em verdade, pode ser forçado a impulsionar, teria, no mínimo,
a vantagem de mitigar o servilismo, penetrado na consciência nacional,
decorrente da humilhação da Guerra dos Trinta Anos.
Esse modo de pensamento de pregador  – insosso, insípido e impotente –
possui a pretensão de impor­se no Partido mais revolucionário
que a história veio a conhecer ?”
[2]
Friedrich Engels 
 
Ora,  a  insurreição  é  uma  arte,  exatamente  como  a  guerra  ou
qualquer outro tipo de arte.
A insurreição submete­se a certas regras cuja inobservância conduz
à ruína da parte que é por ela responsável.
Essas regras – conclusões lógicas, extraídas da essência das partes
e  das relações com  as  quais  se  tem  de  lidar  em  um  tal  caso,  –  são
tão claras e tão simples que a curta experiência do ano de 1848 levou
a que os alemães se tornassem bastante familiarizados com elas.
 
Em  primeiro  lugar,  não  se  pode  jamais  jogar  com  a
insurreição,  caso  não  se  esteja  firmemente  decidido  a
assumir todas as conseqüências do jogo.
A  insurreição  é  um  cálculo  com  grandezas  altamente
indeterminadas  cujos  valores  podem­se  modificar,  a  cada
dia.
As  forças  do  adversário  possuem  todas  as  vantagens  da
organização,  da  disciplina  e  da  autoridade  tradicional,
situadas do seu lado.
Não  sendo  possível  confrontá­las  com  forte  superioridade,
o resultado é a derrota e a aniquilação.
 
Em  segundo  lugar,  tendo­se  uma  vez  tomado  o
caminho  da  insurreição,  há  de  se  agir  com  a  maior
resolução e assumir a ofensiva.
A  defensiva  é  a  morte  de  toda  e  qualquer  insurreição
armada.
Essa  última  já  resulta  perdida,  ainda  mesmo  antes  de  ter
medido suas forças como as dos inimigos.
 
Surpreende teu adversário, enquanto as forças por ele
detidas   encontram­se ainda dispersas;
 
Providencia,  diariamente,  a  obtenção  de  novos  êxitos,
ainda que sejam tão pequenos ;
 
Mantém do teu lado a superioridade moral que o êxito
inicial da insurreição te concedeu ;
 
Arrasta  os  elementos  vacilantes  para  o  teu  lado,  os
quais  seguem  sempre  o  impulso  mais  forte  e  sempre
se alinham do lado mais seguro ;
 
Força  teus  inimigos  a  recuarem,  antes  mesmo  que
possam reunir suas forças ;
 
Para  usar  as  palavras  de  Danton,  o  maior  mestre  de  tática
revolucionária conhecido até o presente momento :
   
“De  l’audace,  encore  de  l’audace,  toujours  de
l’audace!”
(Audácia, mais audácia e ainda sempre mais audácia!)
[3]

 
 
Então, a Assembleía Nacional Constituinte deveria ter agido assim,
com vistas a escapar da certeira ruína que a ameaçava ?
Ela  havia,  sobretudo,  de  ter  concebido  claramente  a  situação  e  se
convencido de que não existia mais nenhuma outra opção senão a de
se  submeter  incondicionalmente  aos  Governos  ou  colocar­se,  sem
qualquer  reserva  e  sem  qualquer  hesitação,  do  lado  da  insurreição
armada.
Em segundo lugar, devia ter­se posicionado, publicamente, em favor
de  todas  as  sublevações  que  já  haviam  eclodido,  conclamando  o
povo,  por  todos  os  lados,  a  recorrer  às  armas  para  a  defesa  dos
representantes  da  nação  e,  além  disso,  declarar  como  fora­da­lei
todos  os  príncipes,  ministros  e  todos  os  demais  que  ousassem  se
opor ao povo soberano, representado por seus mandatários.
Em  terceiro  lugar,  cumpria  ter  destituído,  imediatamente,  o
Representante do Império Alemão, criar um Poder Executivo forte,
ativo  e  implacável,  convocar  para  se  dirigirem  a  Frankfurt  tropas
insurrecionais,  encarregadas  de  sua  imediata  proteção  e,  assim,
fornecer,  concomitantemente,  um  pretexto  jurídico  à  expansão  da
insurreição,  aglutinando  todas  as  forças  colocadas  à  sua  disposição
em um todo cerrado.
Em  suma  :  utilizar,  rapidamente  e  sem  qualquer  vacilação,  todos  os
meios  disponíveis  para  o  fortalecimento  de  sua  própria  posição  e
enfraquecimento daquela detida por seu adversário.
Em  face  de  tudo  isso,  os  democratas  virtuosos  da  Assembléia  de
Frankfurt fizeram, precisamente, o oposto.
Não satisfeitos com o permitir que as coisas seguissem o seu próprio
curso, esses homens piedosos foram tão longe em sua resistência a
ponto de reprimir todos os movimentos insurrecionais em preparação.
Isso foi realizado, por exemplo, pelo Sr. Karl Vogt, em Nuremberg.
Ficaram  assistindo  como  as  insurreições  da  Saxônia,  da  Prússia­
Renana  e  da  Vestfália,  eram  esmagadas,  colocando­se  a  seu  lado
apenas com necrológios e protestos sentimentais contra a brutalidade
desapiedada do Governo Prussiano.
Mantiveram  uma  correspondência  diplomática  secreta  com  os
insurgentes,  no  Sul  da  Alemanha,  tomando  todos  os  cuidados,
porém, para não os apoiar com uma declaração aberta.
Sabiam  que  o  Representante  do  Império  Alemão  encontrava­se
metido debaixo de uma mesma coberta com os Governos e, assim,
dirigiram­se  a  ele,  que  não  se  havia  movimentado,  por  nenhum
minuto,  com  a  exigência  de  que  se  opusesse  às  intrigas  desses
Governos.
Os  Ministros  do  Império,  velhos  conservadores,  escarnearam  de
cada  uma  das  sessões  dessa  assembléia  impotente  e  essa  última
permitiu ser por eles escarneada.
E  quando  Wilhelm  Wolff,  um  deputado  da  Silésia  e  redator  da
“Neuen Rheinischen Zeitung(Nova Gazeta Renana)”, conclamou­a
a  declarar  como  fora­da­lei  o  Representante  do  Império  Alemão,
denominado­o,  justamente,  como  primeiro  e  maior  traidor  do
Império,  foi  vaiado  pela  indignação  corajosa  e  virtuosa  desses
revolucionários democratas !
Em suma : eles continuaram a parlamentar, a protestar, a proclamar,
a declarar, sem jamais terem tido a coragem ou a compreensão para
agirem.
Entrementes,  os  seus  inimigos,  as  tropas  dos  Governos,
aproximaram­se,  mais  e  mais,  enquanto  seu  próprio  Poder
Executivo,  o  Representante  do  Império  Alemão,  conspirava,
avidamente, com os Príncipes Alemães, visando à sua mais rápida
eliminação.
Assim, essa assembléia desprezível perdeu, por si mesma, todos os
indícios de respeito.
Em  relação  aos  insurgentes  que  se  levantaram  em  sua  defesa,
permaneceu ela inteiramente indiferente.
E  quando,  finalmente  –  tal  como  veremos  ­,  conheceu  seu
vergonhoso  fim,  morreu,  sem  que  seu  declínio  desonroso  viesse  a
merecer a mais ínfima consideração.    
 
 
ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO­REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE
ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS­INTERNACIONALISTAS
DEDICADOS À FORMAÇÃO
DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS REVOLUCIONÁRIOS
 
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA­REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU ­ SÃO PAULO ­ MUNIQUE – PARIS
 
 

[1]
  Cf.  ENGELS,  FRIEDRICH.  Revolution  und  Konterrevolution  in  Deutschland  (Revolução  e  Contra­
Revolução na Alemanha) (08.1851 – 09.1852), especialmente Capítulo XVII : Der Aufstand (A Insurreição)
(Agosto  de  1852),  in:  Marx  und  Engels  Werke  (Obras  de  Marx  e  Engels),  Vol.  8,  Berlim  :  Dietz  Verlag,
1960, pp. 95 e s.  Anote­se que o presente texto, traduzido aqui para a língua portuguesa e todos os demais
materiais escritos que compõe o livro de Engels em destaque constituem o resultado de uma coletânea feita a
partir de seus artigos jornalísticos, publicados no jornal norte­americano „New­York  Daily  Tribune“,  entre
1851 e 1852. Os títulos atribuídos a esses diversos artigos que, posteriormente, vieram a compor o livro de
Engels em referência foram elaborados por Eleanor Marx­Aveling, filha de Karl Marx, visando à realização
da publicação dessa obra em língua inglesa, em 1896.      
[2] Cf. IDEM. A Subversão da Ciência do Senhor Eugen Dühring (Setembro de 1876 ­ Junho de 1878) in :
Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. XX, Berlim : Dietz Verlag, 1962, pp. 169 e s.
[3]
 Assinalo que as palavras em destaque foram pronunciadas por Georges­Jacques Danton (1759 – 1794),
em 2 de setembro de 1792, no quadro do encerramento de seu histórico discurso, proferido, nessa data, junto
à sessão Assembléia Legislativa. Danton objetivava conclamar o povo francês a mobilizar­se para a guerra a
ser  travada  contra  o  Sacro  Império  Austro­Prussiano  que,  desde  20  de  abril  de  1792,  encontrava­se  em
estado  de  beligerância  com  a  França  Revolucionária.  O  novo  avanço  das  tropas  monárquico­
intervencionistas, comandadas pelo Herzog  von  Braunschweig  (Duque  de  Brunswick)  (1735 – 1806),  era
inspirado  pela  ambição  de  colocar  termo  à  propagação  das  idéias  burguesas­revolucionárias  em  toda  a
Europa  monárquico­feudal  e  restaurar  Luís  XVI  sobre  o  trono  da  França. Após  o  discurso  de  Danton,  o
povo  francês  sublevado  executou  implavelmente  “Os  Massacres  de  Setembro”  e,  a  seguir,  em  20  de
setembro  de  1792,  conquistou,  sob  o  comando  dos  Generais  Kellermann  e  Dumouriez,  grandiosa  vitória
sobre  as  tropas  monárquico­invasoras,  em  Valmy.  No  dia  seguinte  à  Canhonada  de  Valmy,  reuniu­se  em
Paris uma nova assembléia – denominada Convenção – que, superando a antiga Assembléia Legislativa –
proclamou  a  Abolição  da  Monarquia  Francesa  e  deu  nascimento  à  Primeira  República  da  história  da
França. Por proposição de Danton, passaram, em 22 de setembro de 1792, todos os atos públicos da França
a serem datados de “Primeiro Ano da República”.      

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