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na década de 1980.
Nas entressafras da cana-de-açúcar,
os proprietários dos engenhos procura-
vam aproveitar a força motriz e a mão-
de-obra para a fabricação de farinha de
mandioca, item obrigatório da culinária
caiçara.
O auge da crise econômica de Vila
Bela da Princesa, bem como do Litoral
Norte, ocorreu em 1929, com a quebra
da Bolsa de Valores de Nova York (EUA).
Com a situação beirando o caos econô-
mico, os representantes políticos dos mu-
nicípios do Litoral Norte começaram a
exigir providências das autoridades da
Província de São Paulo.
A resposta oficial só viria em 1933,
quando o presidente da Província de
São Paulo, Armando de Salles Oliveira,
numa prova de extrema insensibilidade,
chegou a propor que a população caiçara
deixasse o Litoral Norte, dirigindo-se para
o interior do Estado, onde seria recebida
“de braços abertos por seus irmãos do
planalto paulista”. Rótulo de antiga aguardente produzida em Ilhabela.
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UMA VIAGEM PELA HISTÓRIA DO ARQUIPÉLAGO DE ILHABELA
Tiribas.
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A biota da floresta
A Mata Atlântica que cobre as montanhas de
Ilhabela foi bastante degradada no passado, mas,
ao longo do tempo, conseguiu recuperar-se em gran-
de parte.
Dentre os principais animais silvestres ainda
existentes nas matas de Ilhabela, podemos destacar
a jaguatirica, a capivara, a paca, a cotia, o macaco-
prego, o gambá, a cuíca, o caxinguelê, o tatu, o preá,
a lontra, diversos tipos de cobras e o cururuá, uma
espécie endêmica de roedor, ou seja, que só existe
na Ilha de São Sebastião.
Dentre as inúmeras espécies de aves, podemos
citar o tucano, o papagaio, o periquito, o gavião-pega-
macaco, a araponga, o sabiá-coleira, o macuco, a
jacutinga, o jacu, o uru, a saíra-de-lenço, a saíra-
capitão, o periquito-da-vassoura, o sabiaúna, o sabiá-
laranjeira, o sabiapoca, o coleirinha, o canário-da-terra,
o bem-te-vi, o tiê-sangue, a juriti, o pixoxó, o pixorolê,
o bonito-canário, o uru, a maritaca, o terê e o siriri.
Dentre as árvores que compõem a mata, destacamos
o ipê-amarelo, o ipê-roxo, o ipê-branco, o jatobá, o
pau-d’arco, a quaresmeira, a palmeira jerivá, o manacá,
a peroba, a palmeira pati, o pau-jacaré, a paineira-
rosa, o guaperuvu, o pequeá, a embaúba, o cedro,
o pau-ferro, a canela e a árvore símbolo da Mata
Atlântica: o jequitibá-rosa.
Bromélias.
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Extinção do município e
as mudanças do nome
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arrecadação não era suficiente para arcar com
os gastos da própria administração. Assim,
por meio do decreto estadual no- 6.448, de 21
de maio de 1934, o interventor federal no
Pequeno rancho de canoas (caiçara).
Estado de São Paulo, Armando de Salles
Oliveira, extinguiu o município de Villa Bella,
que passou à categoria de distrito e foi anexado o movimento anti-Formosa. Após quatro anos
ao município de São Sebastião. de movimentação, o governo estadual cedeu aos
A extinção do município, entretanto, não apelos da população e, por meio do decreto-lei
perdurou por muito tempo. A revolta foi grande estadual no- 14.334, de 30 de novembro de 1944,
e o governo estadual, apenas sete meses depois, viu- determinou que a partir de 1o- de janeiro de 1945
se obrigado a elevar Villa Bella novamente à condição Formosa passaria a chamar-se Ilhabela.
de município, o que foi oficializado pelo decreto A partir da segunda metade da década de 1950,
estadual no- 6.884, de 5 de dezembro de 1934. a produção da cachaça começou a entrar em
Em 30 de novembro de 1938, o interventor declínio, sendo encerrada definitivamente em
federal no Estado de São Paulo, Adhemar Pereira meados da década de 1970.
de Barros, baixou o decreto estadual no- 9.775, Se a região se mostrava inviável do ponto de
determinando que, a partir de 1o- de janeiro de vista econômico, o pequeno porte das roças e do
1939, Villa Bella passasse a denominar-se Vilabela. plantio da cana-de-açúcar, a baixa densidade
Pouco mais de um ano depois, em 2 de abril demográfica, a dificuldade de acesso e o relevo
de 1940, o presidente da República, Getúlio Vargas, geográfico inóspito acabaram propiciando as con-
baixou o decreto-lei no- 2.140, determinando, sem dições favoráveis para que a natureza providen-
maiores justificativas, que seis governos estaduais ciasse, por seus próprios meios, uma significativa
providenciassem a mudança no nome de algumas recuperação do meio ambiente.
vilas e distritos, além de duas cidades, entre elas A natureza, por si só, repôs milhares de hec-
Vilabela, que deveria passar a chamar-se Formosa. tares da Mata Atlântica, que sofrera corte raso no
A ordem do governo federal foi imediatamente passado, às vezes até por mais de uma ocasião.
atendida por Adhemar Pereira de Barros, que, Hoje é possível encontrar fazendas cafeeiras
em 4 de maio de 1940, baixou o decreto estadual abandonadas com aspecto de “mata virgem”,
no- 11.069, formalizando a mudança no nome de tamanha a recuperação ambiental. Árvores de
Vilabela para Formosa. grande porte – com mais de cem anos de idade
O nome Formosa não agradou aos moradores e com quatro ou cinco metros de diâmetro –
da extinta Vilabela, mesmo porque fora imposto são encontradas onde antigamente existia um
pelo governo ditatorial de Getúlio Vargas. grande terreiro para secagem do café ou no
Depoimentos colhidos dão conta de que um interior do que sobrou dos alicerces da casa-
professor – Malachias de Oliveira Freitas – liderou sede da fazenda.
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A pesca
A pesca passou a ser uma importante ativida- Um dos mais importantes portos pesqueiros
de para a economia de Vila Bela da Princesa a de Vila Bela da Princesa ficava no distrito de
partir da década de 1920, quando começaram a Paranabi, no Saco do Sombrio, localizado no
chegar os primeiros imigrantes japoneses, que extremo sul da Baía dos Castelhanos.
introduziram diversas técnicas de pesca, muitas
delas artesanais e eficientes, como a pesca que
Cerco flutuante
emprega cercos flutuantes. Mas, de maneira geral,
a pesca era desenvolvida pelas comunidades O cerco flutuante é um aparelho de pesca em que
caiçaras para a própria subsistência, com poucos as redes formam um círculo para apanhar os peixes
moradores se dedicando à pesca profissional. A que entram na armadilha e não conseguem encontrar
principal atividade da grande maioria dos mora- a saída. Vários desses cercos ainda são encontra-
dos no arquipélago de Ilhabela.
dores, porém, era a agricultura de subsistência.
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Canoa-de-voga.
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Localização
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Ilhabela em números
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As comunidades
caiçaras tradicionais
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Espalhadas pelas ilhas de São Sebastião, dos
Búzios e da Vitória (sem dúvida um dos mais
belos trechos costeiros do Brasil), existem 18 nú-
cleos de comunidades tradicionais, onde cerca
de mil moradores vivem exclusivamente da roça
de subsistência e da pesca artesanal, cujo exce-
dente é comercializado. Vivem, assim, em condi-
ções muito parecidas com a de seus antepassados;
verdadeira “mostra viva” de uma cultura passa-
da, na definição dos estudiosos.
O linguajar é único, com palavras e termos
que não são encontrados em outros lugares, com Casa de pau-a-pique.
acentuado “sotaque” caiçara, na verdade uma he-
rança do português arcaico, onde vigora a acen- coberto por farinha de mandioca. Para os tempos
tuação diferente das palavras e a troca do “b” de vacas magras na pesca, os caiçaras garantem a
pelo “v” e vice-versa. mesa com o “peixe seco”, obtido por meio da
O modo de vida dos membros de algumas salga e da exposição ao sol.
das comunidades tradicionais também é único, A vida dessas pessoas não é nada fácil, pois,
ocorrendo às vezes o casamento entre parentes. em sua grande maioria, vivem em moradias muito
Para se ter uma idéia das diferenças culturais, simples, quase sempre sem banheiro, sem ener-
nos hábitos alimentares, por exemplo, o café preto gia elétrica, água encanada e telefone. Nessas co-
é adoçado com garapa e é acompanhado por munidades não existem cartão de ponto, ruas,
peixe moqueado e, quando é época, por abacate bares, médico, farmácia, aluguel, bicicletas, au-
tomóveis etc. Nem miséria. Muitas vezes, os
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Refúgio de
vida selvagem
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A Ilha de São Sebastião, a maior do município-
arquipélago de Ilhabela, apresenta um relevo
bastante acentuado, com destaque para os picos
do Baepi, com 1058 metros, o do Papagaio, com
1307 metros, e de São Sebastião, com 1379 metros.
Essas grandes formações constituem uma barreira
para os ventos carregados que vêm do mar. Por
essa razão, o clima da região é o tropical úmido,
com grande ocorrência de chuvas.
A Mata Atlântica que domina a Serra de Ilhabela
abriga dezenas de mamíferos, tais como o ma-
caco-prego, a capivara, a paca, a cotia, o caxinguelê
e a jaguatirica. O tucano, a maritaca, o tiê-san-
gue, o macuco, o gavião-pega-macaco, o jacu, a Sabiá-laranjeira.
araponga e a jacutinga, entre outros pássaros,
compõem a avifauna. Por serem desabitadas, algumas das ilhotas do
Algumas espécies são endêmicas (só existem arquipélago servem como refúgio para espécies
nesse ecossistema), como o cururuá, um roe- de aves migratórias, durante o intervalo de gran-
dor peludo que vive nas bordas da Mata Atlân- des jornadas que realizam todos os anos.
tica de Ilhabela. O Parque Estadual de Ilhabela foi criado em
O município de Ilhabela tem 348,3 km2 de 1977 e possui área de 27,025 mil hectares
área e é formado por um arquipélago composto (270,2 km2) – o que equivale a cerca de 77,6%
por nove ilhas, três ilhotas e duas lajes. do território do arquipélago. Tamanha abran-
gência garante a preservação permanente de um
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Beija-flor.
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Sanhaço-do-coqueiro.
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Jararaca. Bem-te-vis.
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