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ILICITUDE
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Sumário
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................3
1.1 CONCEITO.........................................................................................................................................3
1.2 RELAÇÃO ENTRE TIPICIDADE E ILICITUDE..........................................................................................3
1.2.1 Teoria da autonomia ou absoluta independência (Von Beling - 1906)..........................................3
1.2.2 Teoria da indiciariedade ou “ratio cognoscendi” (Maxer – 1915)..................................................3
1.2.3 Teoria da absoluta dependência ou “ratio essendi” (Mezger – 1930)...........................................4
1.2.4 Teoria dos elementos negativos do tipo........................................................................................4
1.3 ANTIJURICIDADE MATERIAL E FORMAL............................................................................................4
2 EXCLUDENTES LEGAIS E SUPRALEGAIS DE ANTIJURIDICIDADE..................................................................5
2.1 EXCLUDENTES DE ILICITUDE..............................................................................................................6
2.1.1 Estado de necessidade...................................................................................................................6
Requisitos objetivos (art. 24, CP):..................................................................................................................7
Requisito Subjetivo......................................................................................................................................10
2.1.2 Legítima Defesa............................................................................................................................11
Requisitos....................................................................................................................................................12
2.1.3 Estrito cumprimento de um dever legal (1 a parte do art. 23, III, CP)............................................16
Requisitos (Bitencourt)................................................................................................................................16
2.1.4 Exercício regular do direito (2a parte, art 23, III, CP)....................................................................17
2.1.5 Ofendículos..................................................................................................................................19
2.1.6 Consentimento do ofendido........................................................................................................19
3 EXCESSO PUNÍVEL..................................................................................................................................20
3.1 CONCEITO.......................................................................................................................................20
3.2 TIPOS DE EXCESSO..........................................................................................................................20
4 DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO..........................................................................................22
5 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA.......................................................................................................................22
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ATUALIZADO EM 26/04/20191
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONCEITO
Conduta típica não justificada, espelhando a relação de contrariedade entre o fato típico e o
ordenamento jurídico como um todo.
Para uma corrente, o segundo substrato do crime é a ilicitude, não podendo falar em
antijuridicidade. É sabido que na teoria geral do direito, “crime” constitui um fato jurídico. Assim, a expressão
“antijurídico” como elementar de um crime, causa contradição: crime é um fato jurídico e simultaneamente
antijurídico?
Para uma outra corrente, o segundo substrato do crime é a ilicitude (ou antijuridicidade). A
contradição apontada pela primeira corrente é apenas aparente, pois o termo antijuridicidade é usado
exclusivamente na teoria geral do crime, não se confundindo com a teoria geral do direito.
A tipicidade não tem qualquer relação com a ilicitude. Excluída a ilicitude, o fato permanece típico. Ex.: A
mata B em legítima defesa. Exclui-se ilicitude. Permanece o fato típico.
A existência de fato típico gera presunção de ilicitude. Há, portanto, uma relativa dependência.
Excluída a ilicitude, o fato permanece típico.
#OBS.: qual a diferença prática entre as teorias acima? Para a segunda teoria, como há presunção de ilicitude,
há inversão do ônus da prova nas descriminantes.
As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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A ilicitude é a essência da tipicidade numa absoluta relação de dependência. Excluída a ilicitude, exclui-
se o fato típico. Cria-se o tipo legal do injusto. O crime é o injusto culpável. Injusto = fato típico + ilícito. Ex.: A
mata B. Temos um fato típico, que só permanece como tal se também ilícito. Comprovada a legítima defesa, os
dois substratos desaparecem.
1.2.4 Teoria dos elementos negativos do tipo2
O tipo penal é composto de elementos positivos (explícitos) e elementos negativos (implícitos). Para
que o fato seja típico é preciso praticar os positivos e não praticar os negativos. Ex.: art. 121, CP:
Elementos positivos = matar alguém
Elementos negativos = estado necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal e
exercício regular de direito.
De acordo com a maioria da doutrina, o Brasil adotou a teoria da indiciariedade, isto é, provada a
tipicidade presume-se relativamente a ilicitude, provocando a inversão do ônus da prova quanto à existência
da descriminante.
#OBS.: quando o ônus da prova é da defesa não se aplica o “in dúbio pro reo”. Porém, com base em novo
entendimento da jurisprudência, a Lei nº 11.690/2008 alterou o art. 386, VI, CPP, definitivamente temperando
a teoria da indiciariedade.
Ficou a dúvida se o fato
Comprovado que o fato não
típico é ilícito. Ônus da
Comprovada a causa de ocorreu sob o manto de
defesa. Não se aplica “in
exclusão – o juiz absolve. descriminante – o juiz
dúbio pro reo”. Fundada
condena.
dúvida o juiz absolve.
“Podemos dizer que quando o agente pratica uma conduta típica a regra será que essa conduta
também será antijurídica. Contudo, há ações típicas que, pela posição em que se encontra o agente ao praticá-
las, se apresentam em face do Direito como lícitas. Essas condições especiais em que o agente atua impedem
que elas venham a ser antijurídicas. São situações de excepcional licitude que constituem as chamadas causas
de exclusão da antijuridicidade, justificativas ou descriminantes” (Greco)
Essas são excludentes genéricas, porque estão previstas na Parte Geral e são aplicáveis a todos os
delitos, mas existem as excludentes específicas que estão na Parte Especial e relacionam-se com delitos
específicos. A doutrina e a jurisprudência pátria vêm admitindo também a existência de causas supralegais de
exclusão da ilicitude.
Para Luiz Flávio Gomes, são as mais famosas causas justificantes. As previstas no inciso III (III - em
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito do art. 23, CP, estão migrando para a
tipicidade (aplicação da teoria da imputação objetiva: não há desaprovação da conduta se há uma norma do
ordenamento jurídico que permite, fomenta ou determina uma conduta – o que está permitido por uma
norma não pode estar proibido por outra).
ELEMENTOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS NAS CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE: “Os de ordem objetiva
são aqueles expressos, ou implícitos, mas sempre determinados na lei penal (ex.: “perigo atual”, “agressão
iminente”, etc.). Além dos referidos elementos objetivos, deve o agente saber que atua amparado por uma
causa que exclua a ilicitude de sua conduta, sendo este, portanto, o indispensável requisito de ordem
subjetiva”. (Greco)
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*Vale ainda destacar a lição de Prado: “As fontes das causas de justificação são: a lei (estrito
cumprimento de dever legal e exercício regular de direito), a necessidade (estado de necessidade e legítima
defesa) e a falta de interesse (consentimento do ofendido) (PRADO, 2008, p. 345).”, que já foi objeto de
cobrança na prova da DPE/AL, nos seguintes termos:
#CESPE: As fontes das causas de justificação são a lei, a necessidade e a falta de interesse.
Atenção: existem descriminantes na parte especial do CP, como por exemplo, o aborto permitido
(art. 128, CP), em legislação extravagante, a exemplo da Lei nº 9.605, bem como descriminante supralegal,
como o consentimento do ofendido.
#OBS.: Ilicitude genérica x específica (dentro do próprio tipo: “indevidamente”, “sem justa causa”).
A noção de estado de necessidade remete à ideia de sopesamento de bens diante de uma situação
adversa. Se há dois bens em perigo permite-se que seja sacrificado um deles, pois a tutela penal não consegue
proteger ambos. Existe divergência sobre se ele se trata de um DIREITO ou de uma FACULDADE. Hungria
defende que não há direito, já que não há dever contraposto. Entretanto, modernamente, entende-se que é
um DIREITO estabelecido entre o sujeito que pratica o ato em estado de necessidade e o próprio Estado que
tem o dever de reconhecê-lo. Em suma, é faculdade entre os particulares e direito perante o Estado (direito
subjetivo do réu).
Estado de necessidade
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois
terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Fundamento jurídico: reside no conflito de interesses diante de situação adversa. O agente atua
movido pelo espírito de conservação, de preservação de proteção do bem jurídico.
Risco atual
Causado por conduta humana, comportamento de animal ou fato da natureza. Pode ser causado
pelo próprio agente: suicida que se lança ao mar e furta embarcação para sobreviver.
#OBS.: e o perigo iminente é abrangido pelo estado de necessidade? Na legitima defesa, o legislador usou o
termo IMINENTE (já que a lesão pode ser atual e iminente). Daí, alguns acham quem houve um erro legislativo
e que deveria ser entendido (interpretação extensiva), como situação de perigo iminente. Na lei somente há o
atual, mas a doutrina majoritária e a jurisprudência admitem o iminente.
→ Estado de necessidade putativo: a situação de perigo é imaginária. Não exclui a ilicitude. A consequência
será explicada no ponto de descriminantes putativas. Em regra, erro de proibição – exclui culpabilidade, mas
em relação ao erro quanto aos pressupostos fáticos da excludente da ilicitude, há divergência. Prevalece a
teoria limitada – seria caso de erro de tipo, que exclui a tipicidade.
Que a situação de perigo não tenha sido causada voluntariamente (DOLOSAMENTE) pelo agente.
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1ª Corrente (prevalece tranquilamente): ser causador voluntário é ser causador doloso do perigo.
Conclusão: o agente que causa o perigo negligentemente pode alegar estado de necessidade (só não pode
alegar o causador doloso).
2ª Corrente: ser causador voluntário é ser causador doloso ou culposo do perigo. Masson.
Conclusão: o agente que negligentemente provoca o perigo também não pode alegar estrado de
necessidade. Tem como fundamento jurídico o art. 13, §2º, CP.
#OBS: Pode ser alegado o estado de necessidade por quem tenha praticado um delito culposo.
EXEMPLO: delito de trânsito cometido por alguém que esteja levando outrem para o hospital.
Salvar direito próprio (estado de necessidade próprio) ou alheio (estado de necessidade de terceiro).
Não pode ser usado o estado de necessidade para salvar o que seja ilícito. EXEMPLO: o traficante não
pode alegar estado de necessidade para salvar a droga
Se o agente tem o dever legal de enfrentar o perigo, não pode alegar o estado de necessidade
enquanto o perigo comportar enfrentamento. A ausência do dever legal de enfrentar o perigo não pode ser
levada às últimas consequências, já que o direito não exige o sacrifício extremo. Poderá o agente recusar-se a
uma situação perigosa quando impossível o salvamento ou o risco for inútil
1ª Corrente: por “dever legal” entende-se apenas aquele derivado de mandamento legal (13, §2º, “a”,
CP).
Conclusão: bombeiro tem dever legal de enfrentar o perigo, enquanto o salva-vidas de um clube não
tem dever legal, mas contratual.
2ª Corrente (majoritária): por “dever legal” entende-se dever jurídico de agir, abrangendo todas as
hipóteses do art. 13, §2º, CP (letras “a”, “b” e “c”) – lei, contrato ou se responsabilizou de alguma
forma. – DEVER DE AGIR.
Conclusão: bombeiro e salva-vidas de um clube tem o dever legal de agir.
O único meio para salvar direito próprio ou de terceiro é o cometimento do fato lesivo. se o caso
concreto permite o afastamento do perigo por outro meio (commodus discessus), por ele deve optar o agente.
Se para fugir do ataque do boi o agente pode pular a cerca, não está autorizado a matar o animal.
Diferentemente do que ocorre na legítima defesa.
Estado de necessidade defensivo : sacrifica-se bem jurídico do próprio causador do perigo. Sequer é ilícito
civil.
Estado de perigo agressivo: sacrifica-se bem jurídico de pessoa alheia ao perigo. Nesses casos existe a
obrigação de reparar o dano, assim como haverá também ação regressiva. Trata-se de um ato lícito que
gera o dever de indenizar.
Requisito Subjetivo
#OBS.: Exigindo a lei como requisitos o perigo atual, a inevitabilidade do comportamento lesivo e a não
razoabilidade de exigência do sacrifício do direito ameaçado, referindo-se às “circunstancias do fato ” não se
tem admitido estado de necessidade nos casos de crimes habituais e crimes permanentes.
#OBS.: Existe estado de necessidade simultâneo. Ex.: dois náufragos disputando o único colete salva-vidas.
#OBS.: dificuldades econômicas, estado de miséria não constituem estado de necessidade – STJ.
Outros exemplos:
Previsão legal (art. 24, II e art. 25, CP) – os requisitos objetivos se encontram estampados no mesmo
artigo:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Fundamento jurídico:
a) no prisma jurídico individual, é o direito que todo homem possui de defender seu bem jurídico.
b) no prisma jurídico social, o ordenamento jurídico não deve ceder ao injusto.
Ataque de animal - Não provocado: perigo atual → estado de necessidade (commodus discessus). Provocado
pelo dono: agressão injusta → legítima defesa (não há commodus discessus)
Requisitos
Agressão Injusta
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Conduta humana contrária ao direito, que ataca ou coloca em perigo bens jurídicos de alguém.
RESUMO: AGRESSÃO ILÍCITA (mas, não necessariamente ilícito penal. Basta a contrariedade com o
ordenamento jurídico), DOLOSA OU CULPOSA.
Para LFG a conduta humana pode ser dolosa ou culposa. Logo, é possível legítima defesa de agressão
culposa injusta. Q – Legítima defesa pode ser de agressão dolosa ou culposa.
Para a minoria, a agressão, para caracterizar legítima defesa, deve ser dirigida com destinatário
certo, pressupondo dolo. A agressão culposa é, na verdade, um perigo atual, autorizando estado de
necessidade.
#OBS.: agressão injusta não significa necessariamente fato típico. Ex.: reagir diante de um furto de uso.
[Agressão injusta x provocação]: “Somente a agressão injusta abre a possibilidade ao agredido de se defender
legitimamente nos limites legais, o mesmo não acontecendo com aquele que reage a uma provocação, pois
que responderá pelo seu dolo, não havendo exclusão da ilicitude de sua conduta”. Injusta provocação é causa
de diminuição de pena no homicídio – homicídio privilegiado.
#OBS.: é possível legítima defesa contra-ataque de inimputável, pois a injustiça da agressão deve ser
conhecida do agredido, não importando a consciência do agressor. No entanto, o agente deve ter maior
cautela ao reprimir a agressão injusta no inimputável, se tinha consciência desse fato. Deve fugir ao combate,
se possível.
*#OUSESABER: A legítima defesa pode ser invocada diante de agressão perpetrada por inimputável? SIM. A
legítima defesa, enquanto excludente da ilicitude, segundo substrato do conceito analítico de crime, deve ser
aferida objetivamente, de forma que a injustiça da agressão independe da capacidade de entendimento e
autodeterminação do indivíduo, pois a inimputabilidade constitui elemento da culpabilidade.
#OBS.: A proteção contra lesões corporais produzidas em situação de ataque epiléptico não pode ser
justificada pela legítima defesa, mas pode ser justificada pelo estado de necessidade.
#OBS.: É possível contra pessoa jurídica. Ex. funcionário de uma empresa escuta ofensas a sua honra, pelo
sistema de som. Para impedir a reiteração da conduta pode destruir o autor falante.
Atenção! Uma vez constatada a injusta agressão, o agredido pode rebatê-la não se lhe exigindo a fuga do local
(comodus discessus não é requisito da legitima defesa, mas do estado de necessidade). Para Roxin não se deve
conceder a ninguém um direito ilimitado de legítima defesa face à agressão de um inimputável, de modo que a
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excludente não se aplica a todas as situações, mas apenas naquelas em que a reação, o combate mostra-se
inevitável.
Quanto à existência da agressão, a legítima defesa se divide em real, quando o ataque existe
efetivamente, e putativa, quando o ataque é fantasiado.
A conduta humana agressiva pode ser provocada por ação ou por omissão. EXEMPLO: a omissão
pode ser praticada por um carcereiro que não coloca em liberdade pessoa que já tenha alvará de soltura do
seu conhecimento. Por outro lado, a agressão provocada por ação está associada à ideia de violência ou grave
ameaça, entretanto, ela pode ser praticada de forma sutil, sem esses elementos. EXEMPLO: furto com
destreza.
#OBS.: DESAFIO, DUELO, CONVITE PARA BRIGA não justificam a legítima defesa.
Atual ou iminente
Agressão atual é a que está ocorrendo, enquanto a agressão iminente está prestes a ocorrer.
Conclusão: não cabe legítima defesa contra agressão passada (vingança), nem futura e incerta, pois
se trata de mera suposição. Porém, se a agressão for futura + certa a sua ocorrência, se trata de legítima
defesa antecipada, sendo fato típico, ilícito, mas não culpável, pois caracteriza inexigibilidade de conduta
diversa.
Meios menos lesivos à disposição do agredido no momento da agressão, porém capazes de repelir o
ataque com eficiência. Encontrado o meio necessário deve ser utilizado de forma moderada.
#OBS.: Menos lesivo que esteja à disposição. Pode ser até desproporcional, dentro do universo que estava
disponível e era necessário.
Legítima defesa própria (in persona) ou legítima defesa de terceiro (ex persona).
#OBS.: Precisa de consentimento do terceiro? Apenas quando se tratar de bem disponível, se possível.
Na legítima defesa de terceiro, a reação pode atingir inclusive o titular do bem jurídico. Ex. agredir
drogado para que ele não morra de overdose quando está pretendendo suicídio.
#OBS.: É possível a legítima defesa do feto. Ex. policial que impede mulher de realizar aborto.
#OBS.: É possível a legítima defesa da pessoa jurídica. Ex. empresa sendo furtada. Pessoa agride ladrão e
espera polícia chegar.
Os bens jurídicos supra individuais, cujo portador é a sociedade (ex. fé pública, saúde pública,
segurança do tráfego) ou o Estado, como órgão do poder soberano (ex. segurança exterior e interior do
Estado, ordem pública, reto funcionamento da Administração Pública, da Administração da Justiça), não são
suscetíveis de legítima defesa. Somente quando o Estado atuar como pessoa jurídica serão seus bens jurídicos
(propriedade, p. ex.) suscetíveis de legítima defesa. A regra, portanto, é de que todos os bens sejam passíveis
de defesa pelo ofendido, à exceção daqueles considerados comunitários, desde que, para a sua defesa, o
agente não tenha tempo suficiente ou não possa procurar o necessário amparo das autoridades constituídas
para tanto” (Greco).
Existem determinados direitos que são imateriais ou incorpóreos, que não perecem. Como fica a
questão dos crimes contra a honra? prevalece o entendimento de que cabe a legítima defesa contra a honra
(direito constitucional), até mesmo porque o CP não faz restrição a direitos que podem ser defendidos. Mas há
que se ter moderação na reação. EXEMPLO: não se pode tolerar que alguém que xingou outrem, seja morto
pelo ofendido.
A honra pode ser: respeito pessoal (crimes contra a honra), liberdade sexual (estupro, ex.) e
infidelidade conjugal. Apenas no terceiro caso não pode ser utilizada a legítima defesa, pois a questão pode ser
resolvida de outras formas. Apesar de o CP não exigir a aplicação da proporcionalidade, a doutrina passou a
considerar a necessidade.
#OBS.: Legítima defesa com erro na execução? A – Agressor, B – agredido, C - atingido por B na repulsa a
injusta agressão de A.
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1ª Corrente (prevalece): o art. 73, CP manda considerar a vítima pretendida (A), não desnaturando a
legítima defesa.
2ª Corrente: não havendo reação contra o injusto agressor, atingindo um inocente, “B” alega estado de
necessidade.
o Legítima defesa agressiva ou ativa: pratica um fato previsto em lei
o Legítima defesa defensiva ou passiva: apenas se defende, sem praticar fato típico.
o Legítima defesa recíproca: pressupondo agressão injusta, não é possível duas pessoas
simultaneamente agirem uma contra a outra em legítima defesa.
o Legítima defesa sucessiva: é a reação contra o excesso do agredido.
o Legítima defesa culposa: é descriminante putativa. Legítima defesa putativa por erro de tipo evitável.
Ex. confunde B com pessoa que pretendia matá-lo.
o Legítima defesa autêntica ou real: afasta a ilicitude.
o Legítima defesa putativa: afasta a culpabilidade ou tipicidade, depende da teoria da culpabilidade
adotada.
o Legítima defesa subjetiva ou excessiva: é o excesso por erro de tipo inevitável. Ex. bate em B (de alto
porte) que desmaia. A não percebe e continua agredindo. B morre.
o Legítima defesa presumida: não é possível. A tipicidade gera presunção relativa de ilicitude, de forma
que o ônus de provar a excludente é do acusado.
o Legítima defesa real contra legítima defesa culposa (putativa) : a agressão é injusta.
o É possível também legítima defesa putativa de legítima defesa putativa – legítima defesa putativa
recíproca. Os dois imaginam que vão ser agredidos pelos outros e atacam.
o Não é possível legítima defesa contra estado de necessidade ou outra excludente real (não pode ser
encarado como agressão injusta). Assim, se dois náufragos se agridem pelo colete salva-vidas, ocorre
estado de necessidade x estado de necessidade, pois nenhuma das agressões é injusta.
o Legítima defesa real em face de legítima defesa subjetiva : há o excesso, que se configura como
agressão injusta.
o Legítima defesa em face de conduta amparada por excludente de culpabilidade : sempre possível.
Agressão de inimputável é um exemplo.
2.1.3 Estrito cumprimento de um dever legal (1a parte do art. 23, III, CP)
Conceito: o agente público, no desempenho de suas atividades, não raras vezes, é obrigado, por lei
(em sentido amplo), a violar um bem jurídico. Essa intervenção lesiva, dentro de limites aceitáveis, é justificada
pelo estrito cumprimento do dever legal. Ex.1: policial que emprega violência necessária para executar prisão
em flagrante de perigoso bandido. O estrito cumprimento do dever legal está previsto no art. 301, CPP, não
respondendo pela violência (necessária).
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Requisitos (Bitencourt)
Ex.: juiz, na sentença, emite conceito desfavorável quando se reporta ao sentenciado, não comete o crime de
injúria, pois atua no estrito cumprimento do dever legal.
#OBS.: “... de um dever legal...” → a expressão obrigação imposta por lei deve ser tomada em sentindo amplo,
abrangendo todas as espécies normativas.
#OBS.: trata-se de descriminante penal em branco, pois o conteúdo da norma permissiva (dever atribuído ao
agente) precisa ser complementado por outra norma jurídica.
#OBS.: o agente deve ter conhecimento de que está praticando a conduta em face do dever imposto por lei
(aspecto subjetivo).
#OBS.: para os adeptos da tipicidade Conglobante (A tipicidade conglobante é a tipicidade legal - para nós, a
tipicidade penal, só muda o nome - + antinormatividade). Para existir tipicidade não basta violar a norma, é
preciso violar o ordenamento jurídico como um todo), o estrito cumprimento do dever legal não serve como
causa excludente da ilicitude, mas da própria tipicidade.
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#OBS.: limites da excludente: se passar dos limites legais – excesso ou abuso de autoridade- agressão injusta –
legítima defesa.
#OBS.: crimes culposos: NÃO. A situação é resolvida no estado de necessidade. A lei não pode impor que o
agente atue com negligência, imperícia ou imprudência. Ex. bombeiro que com excesso de velocidade mata
pessoa na rua. A lei não autoriza isso, mas a situação é de estado de necessidade.
#OBS.: comunicabilidade da excludente: estende-se aos demais envolvido. Coautores e partícipes. Ex.
particular que auxiliar policial a arrombar a porta.
2.1.4 Exercício regular do direito (2a parte, art 23, III, CP)
Não existem tipos permissivos específicos explicando os requisitos objetivos do exercício regular de
direito e do estrito cumprimento do dever legal. Regular será o exercício que se contiver nos limites objetivos
e subjetivos, formais e materiais impostos pelos próprios fins do Direito. Fora desses limites, haverá o abuso
de direito e estará, portanto, excluída essa causa de justificação. O exercício regular de um direito jamais
poderá ser antijurídico”.
Costumes também? Frederico Marques diz que sim e cita, como exemplo, o trote acadêmico.
Conceito: compreende condutas do cidadão comum autorizadas pela existência de direito definido
em lei e condicionadas à regularidade do exercício desse direito.
Atenção: temos, nesse exemplo, caso típico de exercício regular de direito “pro magistrato”. Ou seja, o Estado
não podendo estar presente para impedir a ofensa a um bem jurídico ou recompor a ordem pública, incentiva
o cidadão a atuar no seu lugar.
Ex.2: a violência empregada no esporte, a exemplo do boxe, também caracteriza exercício regular de direito.
Ex.3: possuidor de boa fé que retém coisa alheia para ressarcir-se das benfeitorias necessárias e uteis não
pagas.
Regra 2: independe de consentimento, no caso de iminente risco de vida. Abarca a situação das
testemunhas de Jeová. Caso de estado de necessidade e de exercício regular de um direito.
Ex5.: utilização de cadáver em faculdade de medicina. Não há crime de vilipêndio ou destruição de cadáver,
quando obedecidos os ditames legais que regulamentam a hipótese.
#OBS.: trata-se de uma espécie de descriminante penal em branco, pois o conteúdo da norma permissiva
precisa ser complementado por outra norma jurídica.
Atenção: Zaffaroni entende que o exercício regular de direito divide-se em incentivado por lei e permitido por
lei. O incentivado por lei exclui tipicidade, enquanto o permitido exclui a ilicitude. Porém, para a maioria, não
existe exercício regular de direito puramente permitido.
#OBS.: NÃO EXISTE O DIREITO E NEM O DEVER DE MATAR – NUCCI: caso haja morte, não se pode alegar o
exercício regular de direito ou o cumprimento do dever legal, pois não há direito e nem dever de matar.
#EXCEÇÃO: em caso de guerra. A função da polícia não é matar, é prender; sendo assim o policial somente
pode matar se for em legítima defesa, não podendo alegar o dever legal.
2.1.5 Ofendículos:
Os ofendículos são aparatos preordenados para a defesa do patrimônio (Ex. cerca elétrica). Devem
ser visíveis, sob pena de configurarem excesso. Ocultos são chamados de Defesa mecânica predisposta.
#OBS.: independentemente da corrente que se adota, o ofendículo traduz direito do cidadão defender seu
patrimônio, devendo ser utilizado com prudência e consciência, evitando excessos, os quais são puníveis.
Nesta situação, quando os ofendículos forem ocultados e vierem a agredir pessoa inocente, será aplicada a
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descriminante putativa da legítima defesa putativa, excluindo o dolo e punindo o agente a título de culpa, se
houver previsão no tipo penal.
Requisitos:
O dissentimento (ou não consentimento) não pode integrar o tipo penal (elementar do tipo), pois o
consentimento do ofendido excluiria a própria tipicidade.
Ofendido deve ser o único titular. Não pode ter por titular a sociedade. Bem próprio
Ofendido capaz de consentir. Não pode ser representante no caso de menores ou incapazes.
O consentimento deve ser moral e respeitar os bons costumes.
Bem disponível
O consentimento deve ser expresso. Pouco importa a forma. (a doutrina moderna admite o tácito).
Ciência da situação de fato que autoriza a justificante (elemento subjetivo).
O consentimento deve ser prévio ou simultâneo à lesão ao bem jurídico.
Crimes culposos? Possível. Vítima aquiesce ao excesso de velocidade que lhe causa lesões leves.
#OBS.: o consentimento posterior não exclui a ilicitude, mas pode refletir na punibilidade (renúncia ou perdão
no caso de ação privada, por exemplo).
#OBS.: a doutrina moderna rotula a integridade física como bem disponível, desde que a lesão seja leve e não
contrarie a moral.
#OBS.: LEI DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E ESTERELIZAÇÃO: demonstra que aos poucos o consentimento do
ofendido vai ingressando na lei, pois permite a doação de órgãos duplos, ou seja, a lesão deixa de ser crime,
em decorrência da autorização do ofendido.
3 EXCESSO PUNÍVEL
3.1 CONCEITO
Está relacionado com a REAÇÃO MODERADA e a UTILIZAÇÃO DOS MEIOS NECESSÁRIOS. O excesso
passou a ser padronizado para todas as excludentes de ilicitude (antes da reforma de 1984, somente havia
excesso na legítima defesa). Artigo 23, CP: trata das excludentes de ilicitude (estado de necessidade, legítima
defesa, exercício regular de direito ou estrito cumprimento do dever legal), em seu parágrafo único, está
previsto o EXCESSO.
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Ocorre excesso quando, cessada a agressão, o agredido continua praticando a conduta de defesa, ou
seja, é um estado inicial alcançado pela excludente de ilicitude e que depois há uma intensificação da conduta
que descaracteriza a excludente. O agente se excede nos limites da justificativa (DAMÁSIO). Para alguns
autores, ocorre, no excesso, a existência de uma nova conduta, denominada de EXCESSO INTENSIVO
(FRANCISCO DE ASSIS TOLEDO).
*Está ligado ao tempo de duração da defesa, continuando a agir sobre o agressor após
cessada a agressão.
*Está ligado à ESCOLHA DE MEIOS, que devem ser os "necessários", proporcionais, caso
não o seja teremos uma defesa com a intensidade maior que a exigida pela agressão.
É dividido em 03 espécies:
EXCESSO DOLOSO OU
EXCESSO CULPOSO OU INCONSCIENTE EXCESSO EXCULPANTE
CONSCIENTE
#OBS.: Júri. Quesitos. 3. O jurado absolve o acusado? Aqui engloba todas as teses de excludente. Se a maioria
responder não, aí sim se poderá perguntar sobre o excesso culposo, caso seja tese subsidiária da defesa. O
excesso doloso nunca será perguntado, pois está implícito no terceiro requisito.
DIPLOMA DISPOSITIVO
Código Penal Art. 23 a 25
5 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
- Anotações de aula