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Curso de Engenharia Mecânica

Campus Coração Eucarístico

Resistência dos Materiais II – Aula 28

Prof. Eng. Inácio Santiago de Oliveira Queiroz


Mestre em Engenharia Civil
e-mail: prof.inacio.queiroz@gmail.com

Belo Horizonte - MG
2020
Conteúdo
➢ Flambagem de colunas (cap. 10)

• Conceito de flambagem;

• Fórmula de Euler para colunas com extremidades articuladas

• Fórmulas de Euler para colunas com outras condições de apoio;

• Carregamento excêntrico;

• Fórmulas empíricas...
Estabilidade de Estruturas
Suponha que tenhamos de projetar uma coluna AB de
comprimento L, para suportar uma dada força P. A coluna será
articulada em ambas as extremidades, e consideramos que P é
uma força axial centrada. Se a área da seção transversal A da
coluna é selecionada de maneira que o valor σ = P/A da tensão
em uma seção transversal seja menor do que a tensão admissível
σadm para o material usado, e se a deformação δ = PL/AE estiver
dentro das especificações dadas, podemos concluir que a coluna
foi projetada corretamente.

No entanto, pode ocorrer que na medida em que o


carregamento é aplicado, a coluna se flamba. Em vez de
permanecer reta, ela subitamente se curva de maneira acentuada.
Está claro que uma coluna que sofreu flambagem sob a ação de
uma força que ela deveria suportar não foi projetada
corretamente.
Estabilidade de Estruturas
Vamos adquirir alguns conhecimentos básicos sobre o
problema, considerando um modelo simplificado de duas barras
rígidas AC e BC conectadas em C por um pino e uma mola de
torção de constante K. Se as duas barras e as duas forças P e P'
estiverem perfeitamente alinhadas, o sistema permanecerá na
posição de equilíbrio enquanto não for perturbado.

Porém, suponha que movamos C ligeiramente para a direita.


de maneira que cada barra forme agora um pequeno ângulo Δθ
com a vertical. O sistema retornará à sua posição de equilíbrio
original ou se afastará ainda mais daquela posição?

No primeiro caso, dizemos que o sistema é estável e, no


segundo, que ele é instável.
Estabilidade de Estruturas
Para determinar se o sistema constituído de duas barras é
estável ou instável, consideramos os esforços que atuam na barra
AC. Esses esforços consistem em dois momentos, que são o
formado por P e P' de momento P(L/2) sen Δθ, que tende a
afastar a barra da linha vertical, e o momento M exercido pela
mola, que tende a trazer a barra de volta para sua posição vertical
original. Como o ângulo de deflexão da mola é 2 Δθ, o momento
M é M = K(2 Δθ).

Se o segundo momento for maior do que o primeiro, o


sistema tende a retornar à sua posição original de equilíbrio; o
sistema neste caso é estável.

Se o primeiro momento for maior do que o do segundo, o


sistema tende a se afastar de sua posição de equilíbrio original: o
sistema neste caso é instável.
Estabilidade de Estruturas
O valor da carga para o qual os dois momentos se
equilibram é chamado de carga crítica e é representado por Pcr.
𝐿
Temos 𝑃𝑐𝑟 𝑠𝑒𝑛∆𝜃 = 𝐾(2 ∆𝜃) ou, com 𝑠𝑒𝑛∆𝜃 ≈ ∆𝜃, quando
2
o deslocamento de C é muito pequeno (início imediato da
4𝐾
flambagem), então 𝑃𝑐𝑟 = . Está claro que o sistema é estável
𝐿
para P < Pcr e instável para P > Pcr.

Vamos supor que a força P > Pcr foi aplicada às duas barras
e que o sistema foi perturbado. Como P > Pcr, o sistema se
afastará da vertical e, após algumas oscilações, estabilizará em
uma nova posição de equilíbrio. Considerando o equilíbrio do
corpo livre AC, obtemos uma equação similar à, mas envolvendo
𝐿 PL 𝜃
o ângulo finito 𝜃, ou seja, 𝑃𝑐𝑟 2
𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝐾(2 𝜃) ou 4K = 𝑠𝑒𝑛𝜃.
Estabilidade de Estruturas
O valor de θ correspondente à posição de equilíbrio
representada é obtido resolvendo a por tentativa e erro.
Contudo, observamos que, para qualquer valor positivo de θ
temos sen θ < θ. Assim, resulta em um valor de θ diferente de
zero somente quando o membro esquerdo da equação for
maior do que um. Notamos que, sem dúvida, esse é o caso
tratado aqui, pois assumimos que P > Pcr, mas, se tivéssemos
considerado que P < Pcr, a segunda posição de equilíbrio
mostrada não existiria. A única posição de equilíbrio possível
seria a correspondente a θ = 0. Verificamos então que, para P
< Pcr, a posição θ = 0 deve ser estável.

Essa observação se aplica a estruturas e sistemas


mecânicos em geral, e será usada na próxima análise, em que
discutiremos a estabilidade das colunas elásticas.
Fórmula de Euler para colunas biarticuladas
Retornando à coluna AB, propomos determinar o valor
crítico da força P, isto é, o valor Pcr da força para o qual a
posição mostrada na deixa de ser estável. Se P > Pcr, o menor
desalinhamento ou perturbação fará a coluna flambar, isto é, a
coluna assumirá outra configuração de equilíbrio como a
mostrada ao lado.

Nossa abordagem tentará determinar as condições sob as


quais a configuração “flambada” é possível. Como a coluna
pode ser considerada uma barra colocada em uma posição
vertical e submetida a uma força axial, procederemos
conforme o Capítulo 9 e chamaremos de x a distância da
extremidade A da coluna até um dado ponto Q de sua linha
elástica, e por y a deflexão desse ponto. Consequentemente, o
eixo x será vertical e orientado para baixo, e o eixo y
horizontal e orientado para a direita.
Fórmula de Euler para colunas biarticuladas
Considerando o equilíbrio do corpo livre AQ,
concluímos que o momento fletor em Q é M = -Py.
Substituindo esse valor de M na Equação da linha elástica,
𝑑2 𝑦 𝑀 𝑃
escrevemos = 𝐸𝐼 = − 𝐸𝐼 𝑦, transpondo o último termo,
𝑑𝑥 2
𝑑2 𝑦 𝑃
+ 𝐸𝐼 𝑦 = 0. Essa é uma equação diferencial linear
𝑑𝑥 2
homogênea de segunda ordem com coeficientes constantes.
𝑃 𝑑2 𝑦
p2 = , então escrevemos + 𝑝2 𝑦 = 0, que é a mesma
𝐸𝐼 𝑑𝑥 2
equação diferencial para movimento harmônico simples
exceto, naturalmente, que a variável independente agora é a
distância x e não o tempo t. A solução geral é 𝑦 = 𝐴 𝑠𝑒𝑛 𝑝𝑥 +
𝑑2 𝑦
𝐵 cos 𝑝𝑥 . Podemos facilmente verificar calculando 𝑑𝑥 2
e
𝑑2 𝑦
substituindo os valores de y e .
𝑑𝑥 2
Fórmula de Euler para colunas biarticuladas
Lembrando as condições de contorno que devem ser
satisfeitas nas extremidades A e B da coluna, primeiramente
fazemos x = y = 0 e constatamos que B = 0. Substituindo em
seguida x = L e y = 0, obtemos 𝐴 𝑠𝑒𝑛 𝑝𝐿 = 0. Essa equação é
satisfeita se A = 0, ou se 𝑠𝑒𝑛 𝑝𝐿 = 0. Se a primeira dessas
condições é satisfeita, a equação se reduz a y = 0 e a coluna
estará reta. Para que a segunda condição seja satisfeita,
devemos ter 𝑝𝐿 = 𝑛𝜋 ou substituindo p e resolvendo para P,
𝑛2 𝜋2 𝐸𝐼
𝑃= . O menor dos valores de P definido pela Equação
𝐿2
𝜋2 𝐸𝐼
é aquele correspondente a n = l. Temos portanto, 𝑃𝑐𝑟 = .
𝐿2

A expressão obtida é conhecida como fórmula de Euler,


em homenagem ao matemático suíço Leonhard Euler (1707-
1783).
Fórmula de Euler para colunas biarticuladas
Ao lado é demonstrado que a tensão crítica é
proporcional ao módulo de elasticidade do material e
inversamente proporcional ao quadrado do índice de esbeltez
(L/r) da coluna. O gráfico de 𝜎𝑐𝑟 em função de L/r é mostrado
para o aço estrutural, considerando E = 200 GPa e E = 250
MPa. Devemos ter em mente que não foi usado coeficiente de
segurança no gráfico de 𝜎𝑐𝑟 .

Notamos também que, se o valor obtido para 𝜎𝑐𝑟 ou da


curva é maior do que a tensão de escoamento 𝜎𝑒 , esse valor
não tem utilidade para nós, pois a coluna escoará em
compressão e deixará de ser elástica antes que a flambagem
ocorra.
Outras condições de apoio
𝜋2 𝐸𝐼
A fórmula de Euler para a carga crítica 𝑃𝑐𝑟 = ou tensão
𝐿2
𝜋2 𝐸
crítica 𝜎𝑐𝑟 = foi deduzida para uma coluna articulada em
𝐿/𝑟 2
ambas as extremidades. Agora a força crítica Pcr será determinada
para colunas com diferentes condições de extremidade. No caso de
uma coluna com uma extremidade livre A suportando uma força P
e uma extremidade engastada B, observamos que a coluna se
comportará como a metade superior de uma coluna biarticulada.

A força crítica para a coluna é então a mesma da coluna


biarticulada e pode ser obtida por meio da fórmula de Euler usando
um comprimento de coluna igual a duas vezes o comprimento L
real da coluna dada. Dizemos que o comprimento de flambagem
𝐿𝑓𝑙 da coluna é igual a 2L, e substituímos 𝐿𝑓𝑙 = 2𝐿 , na fórmula de
Euler. A relação 𝐿𝑓𝑙 /𝑟 é chamada de índice de esbeltez da coluna
e, no caso considerado aqui, é igual a 2L/r.
Outras condições de apoio
Considere em seguida uma coluna com duas extremidades
engastadas A e B suportando uma força P. A simetria dos vínculos e
do carregamento em relação a um eixo horizontal que passa pelo
ponto médio C requer que a força cortante em C e as componentes
horizontais das reações em A e B sejam zero. Conclui-se que
restrições impostas na metade superior AC da coluna pelo
engastamento em A e pela metade inferior CB são idênticas. A parte
AC deve, portanto, ser simétrica em relação ao seu ponto médio D, e
esse ponto deve ser um ponto de inflexão, em que o momento fletor
é zero. Um raciocínio similar mostra que o momento fletor no ponto
médio E da metade inferior da coluna também deve ser zero. Como
o momento fletor nas extremidades de uma coluna biarticulada é
zero, conclui-se que a parte DE da coluna deve se comportar como
uma coluna biarticulada. Concluímos então que o comprimento de
flambagem de uma coluna com duas extremidades engastadas é
𝐿𝑓𝑙 = 𝐿/2.
Outras condições de apoio
No caso de uma coluna com uma extremidade engastada B e
uma extremidade articulada A suportando uma força P, devemos
escrever e resolver a equação diferencial da linha elástica para
determinar o comprimento de flambagem da coluna. No diagrama de
corpo livre da coluna inteira, observamos em primeiro lugar que
uma força transversal V atua na extremidade A, além da força axial
P, e que V é estaticamente indeterminada. Considerando agora o
diagrama de corpo livre de uma parte AQ da coluna o momento
fletor em Q é:
Outras condições de apoio
No caso de uma coluna com uma extremidade engastada B e
uma extremidade articulada A suportando uma força P, devemos
escrever e resolver a equação diferencial da linha elástica para
determinar o comprimento de flambagem da coluna. No diagrama de
corpo livre da coluna inteira, observamos em primeiro lugar que
uma força transversal V atua na extremidade A, além da força axial
P, e que V é estaticamente indeterminada. Considerando agora o
diagrama de corpo livre de uma parte AQ da coluna o momento
fletor em Q é:
Outras condições de apoio
Outras condições de apoio
Carregamento excêntrico
O problema de flambagem de coluna será abordado de uma
maneira diferente, observando que a força P aplicada a uma coluna
nunca é perfeitamente centrada. Chamando de e a excentricidade da
força, isto é, a distância entre a linha de ação de P e o eixo da
coluna, substituímos a força excêntrica dada por uma força centrada
P e um conjugado MA de momento MA = Pe. Não importa o
tamanho da força P e a excentricidade e, o momento MA resultante
sempre provocará alguma flexão na coluna. À medida que aumenta
a força excêntrica, tanto o momento MA quanto a força axial P
também aumentam, e ambos farão a coluna flexionar ainda mais.
Visto dessa maneira, o problema de flambagem não é uma questão
de determinar por quanto tempo a coluna pode permanecer reta e
estável sob uma força cada vez maior, mas sim quanto se pode
permitir que a coluna flexione sob uma força cada vez maior, sem
que a tensão admissível seja ultrapassada e sem que a deflexão ymáx
se torne excessiva.
Carregamento excêntrico
Gráfico da fórmula da secante para flambagem em colunas carregadas Unidades do SI.
Fórmulas empíricas
No estudo anterior, determinamos a força crítica de uma coluna usando a fórmula de Euler e
investigamos as deformações. Em cada caso consideramos que todas as tensões permaneciam
abaixo do limite de proporcionalidade e que a coluna era inicialmente um prisma reto e
homogéneo. Na prática, poucas são as colunas assim ideais e seu projeto se baseia em fórmulas
empíricas que refletem os resultados de numerosos testes de laboratório.
Durante o último século, foram testadas muitas
colunas de aço aplicando a elas uma força axial
centrada e aumentando a força até ocorrer a falha. Os
resultados desses testes estão representados, em que,
para cada um dos diversos testes, foi colocado no
gráfico um ponto com sua ordenada igual à tensão
normal na falha, e sua abscissa igual ao valor
correspondente do índice de esbeltez, 𝐿𝑓𝑙 /𝑟. Embora
os resultados do teste sejam bastante dispersos,
podem ser observadas as regiões correspondentes a
três tipos de falhas.
Fórmulas empíricas
• Para colunas longas, em que 𝐿𝑓𝑙 /𝑟 é grande, a falha é prevista com boa aproximação pela
fórmula de Euler, e observa-se que o valor depende do módulo de elasticidade E do aço utilizado,
e não de sua tensão de escoamento 𝜎𝐸 .

• Para colunas muito curtas e blocos de compressão, a falha ocorre essencialmente como
resultado do escoamento, e temos 𝜎𝑐𝑟 ≈ 𝜎𝐸

• Para colunas de comprimento intermediário, falha depende tanto de 𝜎𝐸 quanto de E. Nessa


região, a falha da coluna é um fenómeno extremamente complexo, e foram usados
extensivamente dados de ensaios para orientar o desenvolvimento de especificações e fórmulas
de projeto.
Próxima aula
➢ Flambagem (cap. 10)

• Fórmulas empíricas.

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