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AULA DE LABORATÓRIO N.

º 2

LEI DE STOKES PARA DETERMINAÇÂO DA VISCOSIDADE DE UM FLUIDO

1 INTRODUÇÃO

Inicialmente se faz necessário a revisão de alguns conceitos relacionados para entender o


teste da viscosidade em fluidos Fluido pode ser definido como uma matéria que se deforma
continuamente sob a ação de uma tensão de cisalhamento. Assim, viscosidade é a propriedade
que representa a resistência interna do fluido ao cisalhamento, ou pode-se entender também como
a resistência do fluido ao movimento ou à fluidez. Este conceito foi estabelecido
experimentalmente, em princípio por Isaac Newton.
Sejam duas placas planas paralelas, uma fixa e a outra móvel, Figura 1, com uma distância
Y entre elas e sendo o espaço ocupado entre as mesmas por um fluido. Aplicando-se uma força F
constante na placa superior de área A, na mesma direção da placa, observa-se que esta irá se
movimentar com uma velocidade V e que o fluido em contato com a placa irá também se
movimentar com a mesma velocidade V. O fluido em contato com a placa fixa terá velocidade
zero. Desta forma, tem-se que o elemento fluido quando submetido à tensão de cisalhamento
𝑑𝐹 𝑑𝑉
(𝜏 = 𝑑𝐴) sofre uma taxa de deformação . Assim, a tensão de cisalhamento é proporcional à taxa
𝑑𝑌
𝑑𝑉
de deformação do fluido, ou seja, 𝜏 ∝ 𝑑𝑌 . De modo geral, os fluidos podem ser classificados de

acordo com a relação entre a tensão de cisalhamento com a taxa de deformação.

Figura 1: Experimento de Newton

𝑑𝑉
Introduzindo a constante de proporcionalidade tem-se, 𝜏 = 𝜇 𝑑𝑌 , sendo 𝜇 o coeficiente de

viscosidade absoluta ou dinâmica.


É muito comum na engenharia, trabalhar com o conceito de viscosidade cinemática 
que é definida como sendo a relação, 𝜐 = 𝜇/𝜌, sendo 𝜌 a massa específica do fluido.
Os fluidos considerados Newtonianos são aqueles que possuem a tensão de cisalhamento
diretamente proporcional à taxa de deformação e a viscosidade é constante para uma data
temperatura. Como exemplo, pode-se citar a água, o óleo e o ar.
Os fluidos não-newtonianos podem ser classificados em dois grupos:

a) Não-newtonianos independente do tempo - Existem três grupos de fluidos que obedecem


a esse comportamento. Os pseudoplásticos cuja viscosidade decresce com o aumento da tensão de
cisalhamento, para uma data temperatura. Exemplo: polpa de frutas, caldos de fermentação,
melaços de cana, cremes faciais. Os plásticos que exigem uma tensão de cisalhamento mínima para
iniciar o escoamento. Exemplos: lamas de perfuração de poços de petróleo, gorduras, massa de
batom, sorvetes industrializados. Os dilatantes cuja viscosidade aparente aumenta com o aumento
da tensão de cisalhamento. São exemplos, as soluções de amido de milho, farinha de milho e açúcar.

b) Não-newtoniano dependente do tempo - Nesse grupo, os fluidos apresentam uma mudança


na viscosidade em função do tempo sob condições constantes de taxa de cisalhamento. A
viscosidade aparente diminui com o tempo de aplicação da tensão de cisalhamento voltando a
aumentar quando esta cessa. São exemplos as suspensões concentradas, emulsões, soluções
proteicas, petróleo cru, tintas, ketchup.

1.1 Unidades de Viscosidade:

Para a viscosidade dinâmica, 𝜇, de acordo com o sistema de medidas adotado, as unidades


podem ser expressas em:
𝑔𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑖𝑛𝑎 𝑘𝑔𝑓 𝑙𝑏𝑓
[𝑃𝑎. 𝑠] ; [ . 𝑠 = 𝑝𝑜𝑖𝑠𝑒] ; [ 2 . 𝑠] ; [ 2 . 𝑠] ; [ . 𝑠]
𝑐𝑚 𝑐𝑚 𝑚 𝑓𝑡²
E para a viscosidade cinemática, 𝜐, tem-se:

𝑚² 𝑐𝑚² 𝑓𝑡²
[ ] ; [ = 𝑠𝑡𝑜𝑘𝑒] ; [ ]
𝑠 𝑠 𝑠

Obs: Em alguns casos, principalmente para produtos derivados do petróleo e lubrificantes,


o valor da viscosidade pode vir relacionado com um determinado tipo de viscosímetro padrão que
determina o tempo de escoamento do fluido em segundos. Como exemplo, pode-se citar o
viscosímetro de Saybolt onde a unidade da viscosidade é apresentada como SSU (Segundo,
Saybolt, Universal). Outros exemplos serão apresentados no próximo item deste capítulo.

1.2 Viscosímetros

Viscosímetros são dispositivos utilizados para medir a viscosidade de fluidos. Eles são
divididos em dois grupos: primários e secundários.

1.2.1 Viscosímetros primários

Determinam a viscosidade através da medição direta da tensão e da taxa de deformação


da amostra do fluido. Para esses viscosímetros são utilizados instrumentos com diversos arranjos
como, por exemplo:

a) Viscosímetro rotativo:
A Figura 2 apresenta três modelos de viscosímetros rotativos: o de disco, de cone-disco e de
cilindro rotativo. O símbolo Ω refere-se a rotação aplicada e T ao torque medido, que resulta da tensão
oriunda da deformação do fluido.
Figura 2: viscosímetros primários rotativos.

b) Viscosímetro de Brookfield
A figura 3 apresenta dois modelos de viscosímetros do tipo Brookfield, muito utilizados pela
facilidade de manuseio. Cada modelo é apropriado para medir a viscosidade de fluidos em uma
faixa específica, sendo os de menor diâmetro para as maiores viscosidades e os de maior diâmetro
para as menores viscosidades.

Figura 3: viscosímetros do tipo Brookfield

1.2.2 Viscosímetros secundários

Para esse grupo, os viscosímetros inferem a razão entre a tensão aplicada e a taxa de
deformação por meios indiretos, isto é, sem medir a tensão e deformação diretamente. Nessa
categoria, como exemplo, pode-se citar o viscosímetro capilar onde a viscosidade é obtida por meio
da medida do gradiente de pressão, os viscosímetros de Saybolt, Redwood, Engler (viscosidade
relacionada com o tempo de escoamento) e o de Stokes onde a viscosidade é medida pelo tempo
de queda de uma esfera em um meio fluido, cujo experimento é foco dessa aula. A seguir, são
apresentados alguns exemplos de viscosímetros utilizados na indústria:

a) Viscosímetro capilar
No viscosímetro capilar, figura 04, a viscosidade é determinada através da medida do
gradiente de pressão de um escoamento laminar em um tubo.

Figura 04: viscosímetros tipo capilar

b) Viscosímetro de Saybolt
O viscosímetro de Saybolt é um dos dispositivos utilizados para obter a viscosidade de
um fluido através da medição do tempo em segundos que 60 cm 3 deste fluido leva para atravessar
um orifício calibrado em uma temperatura que varia entre 100 º F (37,8 º C) a 210 º F (98,9 º C).
Existem dois tipos de viscosímetros tipo Saybolt, o Universal (SSU) utilizado para fluidos mais
leves e o Furol (SSF) utilizado para fluidos mais pesados, onde o tempo para atravessar o orifício é
superior a 250 segundos que o Saybolt Universal. Os dois viscosímetros diferem apenas no
diâmetro dos orifícios calibrados.
A Figura 5 apresenta um modelo de Viscosímetro Saybolt Universal (modelo a) e um
modelo de viscosímetro Saybolt Furol ou Saybolt Universal para 2 ou 4 provas, (modelo b),
com controle eletrônico digital da temperatura do banho, volume de óleo 5.000 ml e display
digital. Os valores das viscosidades são apresentados seguidos das siglas SSU (Segundo, Saybolt,
Universal) ou SSF (Segundo Saybolt, Furol).
Figura 5: viscosímetros de Saybolt

c) Viscosímetro de Redwood

Para o viscosímetro de Redwood que é utilizado na Inglaterra, a viscosidade é


obtida da mesma forma que o SAYBOLT, diferindo no volume de fluido que, para esse modelo,
corresponde a 50 cm3. O valor do tempo que o fluido leva para atravessar o viscosímetro é
apresentado em R (Redwood). São utilizados dois tipos, dependendo do diâmetro do orifício de
escoamento, o Redwood Nº. 1, ilustrado na figura 06, que possui entrada de 1,62 mm e o Redwood
Nº. 2 com entrada é 3,80 mm.

Figura 6: viscosímetro Redwood nº 1

d) Viscosímetro de Engler
O viscosímetro Engler, Figura 7, também tem o mesmo princípio do Saybolt. Nele, são
utilizados 200 cm3 de fluido e o tempo que leva para escorrer, medido em segundos e
convertido em graus Engler (ºE). A conversão é feita dividindo- se o valor do tempo medido
para o fluido cuja viscosidade está sendo determinada, pelo tempo gasto para escoar um igual
volume de água nas mesmas condições, a uma determinada temperatura.
Figura 7: viscosímetros tipo Engler

e) Viscosímetro Hoppler
O Viscosímetro de Hoppler, Figura 7, utiliza a lei de Stokes (queda da esfera no meio
líquido) para determinar a viscosidade. Consiste de dois cilindros concêntricos. Dentro do
cilindro menor encontra-se o fluido em análise e a esfera. Nele existem marcas para determinar a
distância percorrida pela esfera emumdeterminado tempo. Entre o cilindro maior e o menor é colocada
uma corrente de água contínua provinda de um banho termostático para controle de temperatura.
O aparelho possui liberdade de rotação em torno do eixo que o prende à haste, para inverter o
sentido de queda da esfera e fazê-la retornar ao ponto de partida.

Figura 8: viscosímetros tipo Hoppler

Como informação, tem-se a tabela 1 que apresenta os padrões dos viscosímetros secundários
Saybolt, Redwood e Engler:
Tabela 1: Padrão dos viscosímetros

1.3 Classificação dos óleos lubrificantes

De maneira geral os óleos lubrificantes são classificados pelas três normas: API - American
Petroleum Institute, a ASTM - American Society for Testing and Materials e a SAE - Society of
Automotive enginineers .
A classificação dos óleos pela API foi feita juntamente com a ASTM definindo as
especificações conforme níveis de desempenho que os óleos lubrificantes devem atender. Essas
especificações funcionam para o consumidor como um guia para a escolha do óleo de acordo
com o tipo de aplicação. Para carros de passeio, por exemplo, temos os níveis API SJ, SH, SG,
etc.. O "S" desta sigla significa Service Station, e a outra letra define o desempenho. O primeiro
nível foi o API SA, obsoleto há muito tempo, consistindo em um óleo mineral puro, sem qualquer
aditivação. Com a evolução dos motores, os óleos sofreram modificações, através da introdução
de aditivos, para atender às exigências dos fabricantes dos motores no que se refere à proteção
contra desgaste e corrosão, redução de emissões de gases, formação de depósitos de borra, etc..
Atualmente, o nível API SL é o mais avançado. No caso de motores diesel, a classificação é API
CI-4, CG-4, CF-4, CF, CE, etc. O "C" significa Comercial. A API classifica ainda óleos para
motores de dois tempos e óleos para transmissão e engrenagens.
A classificação dada pela SAE identifica o lubrificante conforme a necessidade e o tipo de
óleo é identificado através de um número. Os óleos são divididos em dois grupos, conforme
temperatura de trabalho, sendo um o grau verão e o outro o grau inverno. Podem também ser do
tipo monoviscoso (são instáveis quanto à variação de temperatura) ou do tipo multiviscoso (a
viscosidade do óleo não a se aumentar a temperatura. O que altera é o comportamento
intramolecular do óleo, pois, há maior força de coesão entre as moléculas, fazendo com que seu
comportamento seja semelhante ao de um óleo de maior viscosidade). Exemplos:

a) Óleos de grau verão: SAE 20, 30, 40, 50, 60 (monoviscosos);


b) Óleos de grau inverno: SAE 0W, 5W, 10W, 15W, 20W, 25W (monoviscosos);
c) Óleos de grau verão e inverno: SAE 20W40, 20W50, 15W50 (multiviscosos).

O óleo do tipo 20W40, por exemplo, que é utilizado em um motor de combustão interna, tem
um comportamento semelhante ao óleo 20 na partida a frio e semelhante ao 50 no funcionamento a
quente. A letra "W" vem do inglês "winter" que significa inverno.

1.4 Lei de Stokes

Segundo Stokes, sempre que um fluido escoa por uma esfera em repouso, ou quando a
esfera se move através de um fluido em repouso, ela está sujeita à ação de uma força resistente
que pode ser determinada através da expressão:

𝐹𝑅 = 6𝜋𝜇𝑅𝑉 (1)

Sendo, 𝐹𝑅 a força resistente, 𝜇 a viscosidade absoluta, R o raio da esfera e V a velocidade da esfera


em relação ao fluido.

1.4.1 Aplicação da Lei de Stokes

A lei de Stokes pode ser utilizada em diversas situações na engenharia como no cálculo de
sistemas particulados como ciclones, em linhas de sistemas hidráulicos e pneumáticos,
determinação do tamanho de partículas para sistemas de tratamento de água e esgoto, para
determinação da viscosidade de fluidos e outros. No caso da viscosidade, a aplicação da lei de
Stokes é feita através de um experimento, onde uma esfera cai verticalmente no interior de um tubo
que contém um líquido. Identificando as forças que atuam sobre a esfera tem-se:

• Peso da esfera dado por: 𝑃 = 𝑚𝑔 (2)

• Força resistente determinada pela expressão 𝐹𝑅 = 6𝜋𝜇𝑅𝑉 (3)

• Empuxo segundo o princípio de Arquimedes: 𝐸 = 𝛾∀ (4)

Sendo 𝛾 o peso específico do líquido (𝛾 = 𝜌𝑔) e ∀ o volume da esfera

A esfera ao ser colocada na superfície do líquido, Figura 8, iniciará o movimento de queda


vertical, sujeita a uma força retardadora, crescente com a velocidade, dada pela lei de Stokes. Essa
força cresce até atingir um valor tal que, ao ser somado com o empuxo que atua sobre a esfera,
dá uma resultante igual ao peso da esfera. De acordo com a 2ª Lei de Newton, a resultante das
forças que atuam sobre a esfera é nula, a esfera adquire velocidade constante chamada velocidade
limite ou terminal.

Figura 9: Parte da montagem do laboratório

Estabelecendo o equilíbrio entre as forças, tem-se;

∑ 𝐹 = 𝐹𝑅 + 𝐸 − 𝑃 = 0 (5)

Substituindo as expressões (2), (3) e (4)

6𝜋𝜇𝑅𝑉 + 𝛾∀ − +𝑚𝑔 = 0 (6)

E explicitando o valor de 𝜇 tem-se a expressão para o cálculo da viscosidade do líquido,

𝑚𝑔−𝛾∀
𝜇= (7)
6𝜋𝑅𝑉

1.4.2 Considerações gerais sobre a lei de Stokes

Quando se realiza o experimento da esfera aplicando a lei de Stokes é importante levar


em conta algumas considerações na realização do experimento e na análise dos resultados:

a) A aplicação da Lei de Stokes só é válida quando a velocidade de queda da esfera for


suficientemente pequena para não causar turbulência. Quando ocorrer turbulência, a força
resistente é muito maior que a força determinada pela lei de Stokes. Essa condição pode ser
analisada a partir do cálculo do número de Re, uma vez que a condição de equilíbrio das forças é
validada, segundo Stokes, quando Re < 1. Em casos do Re for pouco maior que 1, o resultado
também pode ser validado.

𝑉𝐷
𝑅𝑒 = (7)
𝜐

Sendo Re o número Reynolds, V é a velocidade terminal da esfera, D o diâmetro da esfera


e 𝝊 a viscosidade cinemática.

b) Esse processo para a determinação da viscosidade de fluidos pode ser também aplicado
em líquidos e gases, em tubos fechados, utilizando esferas especiais fornecidas pelo fabricante do
viscosímetro e inclusive para valores diversos da temperatura e da pressão.
2 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL PARA OBTENÇÃO DA VISCOSIDADE DOS
TRÊS FLUIDOS: GLICERINA, ÓLEO DE MAMONA E ÓLEO SAE30

2.1 Bancada do laboratório

O esquema de montagem de teste do laboratório, Figura 9, apresenta três tubos transparentes


contendo em cada um deles respectivamente: glicerina, óleo de mamona (óleo de rícino) e o óleo
lubrificante SAE 30. Em cada tubo existe um termômetro e um densímetro. Completam a bancada,
esferas de aço e um cronômetro.

Figura 10: Bancada do laboratório

2.2 Procedimento experimental:

Para a realização do teste, deve-se seguir a seguinte sequência:

a) Fazer as medições da temperatura e da densidade para cada fluido.


b) Definir as distâncias a serem percorridas pelas esferas de acordo com a graduação do
tubo.
c) Soltar uma esfera na superfície do líquido e cronometrar o tempo. Repetir para mais
duas esferas.
d) Anotar todas as medições na folha de testes.
e) Preencher a folha de testes calculando a viscosidade dinâmica, a viscosidade
cinemática, o número de Reynolds, a incerteza e a expressão correta do resultado.
f) Consultar tabelas e/ou gráficos oficiais e anotar também os valores das viscosidades
dinâmica e cinemática dos fluidos do teste para análise comparativa.
3 ERROS E INCERTEZAS DE UMA MEDIÇÃO

O objetivo de uma medição é determinar o valor do mensurando, isto é, o valor da


grandeza específica a ser medida. Uma medição começa, portanto, com uma especificação
apropriada do mensurando, do método de medição e do procedimento de medição. Em geral, o
resultado de uma medição é somente uma aproximação ou estimativa do valor do
mensurando e, assim, só é completa quando acompanhada pela declaração da incerteza
dessa estimativa.
O erro de uma medição pode ser compreendido como a diferença entre o valor real de
uma grandeza sob medição e o valor obtido experimentalmente. Em geral, uma medição tem
imperfeições que dão origem a um erro no resultado da medição. Tradicionalmente, um erro é
visto como tendo dois componentes, a saber, um componente aleatório e um componente
sistemático.
O erro aleatório presumivelmente se origina de variações temporais ou espaciais,
estocásticas ou imprevisíveis, de grandezas de influência. Os denominados efeitos aleatórios, são
a causa de variações em observações repetidas do mensurando. Embora não seja possível
compensar o erro aleatório de um resultado de medição, ele pode geralmente ser reduzido
aumentando-se o número de observações.
O erro sistemático, como o erro aleatório, não pode ser eliminado, porém ele também,
freqüentemente, pode ser reduzido. Se um erro sistemático se origina de um efeito reconhecido
de uma grandeza de influência em um resultado de medição, daqui para diante denominado
como efeito sistemático, o efeito pode ser quantificado e, se for significativo com relação à
exatidão requerida da medição, uma correção ou fator de correção pode ser aplicado para
compensar o efeito. Supõe-se que, após esta correção, a esperança ou valor esperado do erro
provocado por um efeito sistemático seja zero.
Quando se relata o resultado de medição de uma grandeza física, é obrigatório que
seja dada alguma indicação quantitativa da qualidade do resultado, de forma tal que
aqueles que o utilizam possam avaliar sua confiabilidade. Sem essa indicação, resultados de
medição não podem ser comparados, seja entre eles mesmos ou com valores de referência
fornecidos numa especificação ou numa norma. É, portanto, necessário que haja um
procedimento prontamente implementado, facilmente compreendido e de aceitação geral para
caracterizar a qualidade de um resultado de uma medição, isto é, para avaliar e expressar sua
incerteza.
A incerteza do resultado de uma medição reflete a falta de conhecimento exato do valor do
mensurando. O resultado de uma medição, após correção dos efeitos sistemáticos reconhecidos,
é ainda, tão somente uma estimativa do valor do mensurando por causa da incerteza proveniente
dos efeitos aleatórios e da correção imperfeita do resultado para efeitos sistemáticos.
Na prática, existem muitas fontes possíveis de incerteza em uma medição, incluindo:

a) definição incompleta do mensurando;


b) realização imperfeita da definição do mensurando;
c) amostragem não-representativa – a amostra medida pode não representar o
mensurando definido;
d) conhecimento inadequado dos efeitos das condições ambientais sobre a medição ou
medição imperfeita das condições ambientais;
e) erro de tendência pessoal na leitura de instrumentos analógicos;
f) resolução finita do instrumento ou limiar de mobilidade;
g) valores inexatos dos padrões de medição e materiais de referência;
h) valores inexatos de constantes e de outros parâmetros obtidos de fontes externas e
usados no algoritmo de redução de dados;
i) aproximações e suposições incorporadas ao método e procedimento de medição;
j) variações nas observações repetidas do mensurando sob condições aparentemente
idênticas.

Essas fontes não são necessariamente independentes e algumas das fontes de a) a i)


podem contribuir para a fonte j). Naturalmente, um efeito sistemático não reconhecido não pode
ser levado em consideração na avaliação da incerteza do resultado de uma medição, porém
contribui para seu erro.
A Recomendação INC-1 (1980) do Grupo de Trabalho sobre a Declaração de Incertezas
agrupa os componentes da incerteza em duas categorias baseadas no seu método de avaliação,
“A” e “B”. Estas categorias se aplicam à incerteza e não são substitutas para os termos
“aleatório” e “sistemático”.
A incerteza padrão do Tipo A é obtida a partir de uma função densidade de
probabilidade derivada da observação de uma distribuição de freqüência, enquanto que uma
incerteza padrão Tipo B é obtida de uma suposta função densidade de probabilidade, baseada no
grau de credibilidade de que um evento vá ocorrer (freqüentemente chamada probabilidade
subjetiva). Ambos os enfoques empregam interpretações reconhecidas de probabilidade.
A incerteza padrão do resultado de uma medição, quando este resultado é obtido de
valores de um número de outras grandezas, é denominada incerteza padrão combinada e
designada por 𝒖𝒄 . Ela é o desvio padrão estimado, associado com o resultado, e é igual à raiz
quadrada positiva da variância combinada, obtida a partir de todos os componentes da variância
e covariância, independente de como tenham sido avaliados, usando a lei de propagação de
incerteza.

𝒏 𝟐
𝝏𝒇
𝝈 = √∑ ( (𝝈 ))
𝝏𝒙𝒊 𝒊
𝒊

3.1 Avaliação da incerteza padrão do tipo A

̅, é a melhor estimativa disponível do valor


Na maioria dos casos, a média aritmética, 𝒙
esperado 𝝁 de uma grandeza 𝒙 que varia aleatoriamente para a qual são feitas 𝒏 observações
independentes, 𝒙𝒊 , obtidas sob as mesmas condições de medição.

∑𝒏𝒊 𝒙𝒊
̅=
𝒙
𝒏

As observações individuais 𝒙𝒊 diferem em valor por causa de variações aleatórias nas


grandezas de influência, ou dos efeitos aleatórios. A variância experimental das observações, que
estima a variância 𝝈𝟐 da distribuição de probabilidade de 𝒙, é dada por:

∑𝒏𝒊(𝒙𝒊 − 𝒙
̅ )𝟐
𝝈 𝟐 (𝒙 𝒊 ) =
𝒏−𝟏

Esta estimativa da variância e sua raiz quadrada positiva 𝝈, denominada desvio padrão
experimental, caracteriza a variabilidade dos valores 𝒙𝒊 observados ou, mais especificamente,
̅.
sua dispersão em torno de sua média 𝒙

A estimativa da variância da média 𝝈𝟐 (𝒙̅𝒊 ), é dada por:

𝝈 𝟐 (𝒙 𝒊 )
𝝈𝟐 (𝒙̅𝒊 ) =
𝒏

A variância experimental da média 𝝈𝟐 (𝒙̅𝒊 ) e o desvio padrão experimental da média,


𝝈, igual à raiz quadrada positiva de 𝝈𝟐 (𝒙̅𝒊 ), quantificam quão bem 𝒙̅𝒊 estima do valor esperado
𝝁 de uma grandeza 𝒙, por isto por vezes são denominadas como variância do Tipo A e incerteza
padrão do Tipo A.
𝝈(𝒙̅𝒊 ) = √𝝈𝟐(𝒙̅𝒊 )

Observação: O número de observações n deve ser suficientemente grande para assegurar


que 𝒙̅𝒊 forneça uma estimativa confiável do valor esperado 𝝁 de uma grandeza 𝒙 e que 𝝈𝟐 (𝒙̅𝒊 )
forneça uma estimativa confiável da variância.

3.2 Avaliação da incerteza padrão do Tipo B

Para uma estimativa xi de uma grandeza de entrada 𝝁 que não tenha sido obtida através
de observações repetidas, a variância estimada associada 𝝈𝟐 (𝒙𝒊 ) ou a incerteza padrão 𝝈(𝒙𝒊 ) é
avaliada por julgamento científico, baseando-se em todas as informações disponíveis sobre a
possível variabilidade de 𝝁. O conjunto de informações pode incluir:

a) dados de medições prévias;


b) a experiência ou o conhecimento geral do comportamento e propriedades de materiais
e instrumentos relevantes;
c) especificações do fabricante;
d) dados fornecidos em certificados de calibração e outros certificados;
e) incertezas atribuídas a dados de referência extraídos de manuais.

O uso adequado do conjunto de informações disponíveis para uma avaliação do Tipo B


da incerteza padrão exige o discernimento baseado na experiência e no conhecimento geral,
sendo esta uma habilidade que pode ser aprendida com a prática. Deve-se reconhecer que uma
avaliação do Tipo B da incerteza padrão pode ser tão confiável quanto uma avaliação do Tipo A,
especialmente numa situação de medição onde uma avaliação do Tipo A é baseada em um
número comparativamente pequeno de observações estatisticamente independentes.
Em outros casos, pode ser possível estimar somente fronteiras (limites superior e inferior)
para 𝝁, em particular, para afirmar que “a probabilidade de que o valor 𝝁 esteja dentro do
intervalo a- até a+, para todos os fins práticos, é igual a um, e a probabilidade de que 𝝁 esteja
fora deste intervalo é, essencialmente, zero”. Se não há conhecimento específico sobre os valores
possíveis de 𝝁 dentro do intervalo, pode-se apenas supor que é igualmente provável que 𝝁
esteja em qualquer lugar dentro dele (uma distribuição uniforme ou retangular de valores
possíveis, Figura 1. Então xi, a esperança ou valor esperado de 𝝁, é o ponto médio no intervalo
𝒙𝒊 =(𝒂− + 𝒂+)/2, com a variância associada:
(𝒂+ − 𝒂−)𝟐
𝒖 𝟐 (𝒙 𝒊 ) =
𝟏𝟐

Se a diferença entre os limites, a- até a+, é designada por 2a, então a equação torna-se:

𝒂𝟐
𝒖 𝟐 (𝒙 𝒊 ) =
𝟑

Figura 12: Avaliação da incerteza padrão de uma grandeza de entrada a partir de uma
distribuição retangular

Fonte: Adaptado do Guia para expressão da incerteza de medição.

Quando não se tem conhecimento específico sobre os possíveis valores de 𝒙𝒊 dentro de


seus limites estimados 𝒂− e 𝒂+ , poder-se-ia somente supor que seria igualmente provável, para
𝝁, tomar qualquer valor entre esses limites, com probabilidade zero de estar fora deles.

Exemplo: Para determinar a velocidade de um bloco deslizando sobre uma mesa sem atrito, foi
medido o tempo necessário para ele percorrer a distância de 1,00 ± 0,01 m. As seguintes
medições foram obtidas com um cronômetro cuja resolução é de 0,01 segundos. Determine a
incerteza da velocidade.

Medição 1 2 3 4
Tempo (s) 2,20 2,70 2,50 2,60

Solução: Não é possível determinar as incertezas do tipo B para a velocidade diretamente,


contudo há informação suficiente sobre a variável tempo. Como não há conhecimento sobre os
valores obtidos dentro do intervalo da resolução, é possível assumir uma distribuição
retangular, portanto a incerteza do tipo B pode ser calculada como:

𝒂 𝟎,𝟎𝟏 𝒔/𝟐
𝒖𝑩 = = ≈ 𝟎, 𝟎𝟎𝟑 𝒔
√𝟑 √𝟑

A incerteza do tipo A

(𝟐,𝟐𝟎+𝟐,𝟕𝟎+𝟐,𝟓𝟎+𝟐,𝟔𝟎) 𝒔
̅=
𝒙 = 𝟐, 𝟓𝟎 𝒔
𝟒

∑𝒏 ̅)𝟐
𝒊 (𝒙𝒊 −𝒙 [(𝟐,𝟐𝟎−𝟐,𝟓𝟎)𝟐 +(𝟐,𝟕𝟎−𝟐,𝟓𝟎)𝟐 +(𝟐,𝟓𝟎−𝟐,𝟓𝟎)𝟐 +(𝟐,𝟔𝟎−𝟐,𝟓𝟎)𝟐] 𝒔²
𝝈 𝟐 (𝒙 𝒊 ) = = = 𝟎, 𝟎𝟓 𝒔²
𝒏−𝟏 𝟒−𝟏

𝝈𝟐 (𝒙𝒊 ) 𝟎,𝟎𝟓 𝒔²
𝒖𝑨 = √ 𝒏
=√ 𝟒
≈ 𝟎, 𝟏𝟏 𝒔

A incerteza combinada

𝒖𝑪 = √𝒖𝑨𝟐 + 𝒖𝑩 𝟐 = √(𝟎, 𝟏𝟏 𝒔)𝟐 + (𝟎, 𝟎𝟎𝟑 𝒔)𝟐 ≈ 𝟎, 𝟏𝟏 𝒔

Propagando a incerteza do tempo para encontrar a incerteza da velocidade que pode ser
𝑑 1,00 𝑚
calculada ela expressão: 𝑉 = = = 0,40 𝑚/𝑠
𝑡 2,50 𝑠

𝝏𝒇 𝟐 𝝏𝑽 𝟐 𝝏𝑽 𝟐 𝒅 𝟐 𝟏 𝟐
𝝈𝑽 = √∑𝒏𝒊 (𝝏𝒙 ∙ 𝝈𝒊 ) = √( 𝝏𝒕 ∙ 𝝈𝒕 ) + (𝝏𝒅 ∙ 𝝈𝒅 ) = √(− 𝒕𝟐 ∙ 𝒖𝑪 𝒕 ) + ( 𝒕 ∙ 𝒖𝑪 𝒅 )
𝒊

𝟏,𝟎𝟎 𝒎 𝟐 𝟏 𝟐
𝝈𝑽 = √((𝟐,𝟓𝟎 𝒔)𝟐
∙ 𝟎, 𝟏𝟏 𝒔) + (𝟐,𝟓𝟎 𝒔 ∙ 𝟎, 𝟎𝟏 𝒎) ≈ 𝟎, 𝟎𝟐 𝒎/𝒔 (incerteza da

velocidade)

A expressão correta da velocidade portanto é de 0,40 ±0,02 m/s


4 RELATÓRIO DA PRÁTICA DO VISCOSÍMETRO

Caros alunos, os roteiros devem ser elaborados SEGUINDO AS NORMAS DE


NORMALIZAÇÃO DA PUCMINAS para trabalhos acadêmicos. Os itens folha de rosto, lista de
figuras, lista de tabelas, etc, podem ser desprezados, os relatórios necessariamente deverão conter
os seguintes itens:

CAPA
Identificando a instituição, o curso, a disciplina, a prática, os autores, a localidade e o ano.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO
Descrição introdutória da teoria contendo o princípio de funcionamento e limitações do
viscosímetro utilizado e a determinação da incerteza experimental.

1.1 Objetivo
Descrever os objetivos da prática.

2. ANÁLISE DOS RESULTADOS


Comparar os valores obtidos experimentalmente com os presentes na literatura, descrevendo as
possíveis caudas de erro identificadas durante o experimento.

3 CONCLUSÃO
Elaborar uma conclusão abordando os principais resultados do trabalho.

REFERÊNCIAS
Relacionar fontes consultadas para a elaboração do relatório.
Normalização da Puc Minas disponível em:
http://www.pucminas.br/documentos/orientacoes-abnt-apa-vancouver.pdf
5 FOTOS DA BANCADA DO LABORATÓRIO

5 . FOLHAS DE TESTE
Fluido Temperatura [°C] Densidade [kg/m³] Viscosidade teórica [Pa.s]

Vicosidade Viscosidade Incerteza do Incerteza do Incerteza do Incerteza propagada da


Queda Tempo Velocidade Renolds
absoluta cinemática tempo tipo A tempo tipo B tempo tipo C viscosidade
m s m/s Pa.s m²/s - s s s Pa.s

Expressão correta da viscosidade absoluta [Pa.s]

Fluido Temperatura [°C] Densidade [kg/m³] Viscosidade teórica [Pa.s]

Vicosidade Viscosidade Incerteza do Incerteza do Incerteza do Incerteza propagada da


Queda Tempo Velocidade Renolds
absoluta cinemática tempo tipo A tempo tipo B tempo tipo C viscosidade
m s m/s Pa.s m²/s - s s s Pa.s

Expressão correta da viscosidade absoluta [Pa.s]

Fluido Temperatura [°C] Densidade [kg/m³] Viscosidade teórica [Pa.s]

Vicosidade Viscosidade Incerteza do Incerteza do Incerteza do Incerteza propagada da


Queda Tempo Velocidade Renolds
absoluta cinemática tempo tipo A tempo tipo B tempo tipo C viscosidade
m s m/s Pa.s m²/s - s s s Pa.s

Expressão correta da viscosidade absoluta [Pa.s]


6. ANEXOS:

Gráfico 01 : Viscosidade cinemática de alguns fluidos á pressão atmosférica

Fonte: Silva (1990)


Gráfico 02 : Viscosidade absoluta de alguns fluidos á pressão atmosférica

Fonte: Silva (1990)

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