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Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 019

Pesquisa de Jurisprudência e Anotações – Perseu Gentil Negrão – 16/06/2003.


OBS: Na jurisprudência citada, sempre que não houver indicação do tribunal, entenda-se que é do
Superior Tribunal de Justiça.

Tese 019
DENÚNCIA – REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS – “HABEAS
CORPUS” – TRANCAMENTO – ARGÜIÇÃO DE FALTA DE JUSTA
CAUSA – EXAME APROFUNDADO DE PROVAS – INADMISSIBILIDADE
Preenchendo a denúncia os requisitos legais, incabível o trancamento da
ação penal em sede de “habeas corpus”, quando demandar exame
aprofundado das provas.
(D.O.E., 12/06/2003, p. 30)

JURISPRUDÊNCIA
CRIMINAL. HC. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA. EXCESSO DE
PRAZO. INÉPCIA DA DENÚNCIA. AFRONTA AO PRINCÍPIO
DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. FIANÇA. VIOLAÇÃO AO
EXERCÍCIO DA ADVOCACIA. NÃO-CONHECIMENTO.
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. TRANCAMENTO DE AÇÃO
PENAL. FALTA DE JUSTA CAUSA NÃO-EVIDENCIADA.
AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE DO DELITO.
IMPROPRIEDADE DO WRIT. PRISÃO PREVENTIVA.
POSSÍVEL CERCEAMENTO À LIBERDADE DA
ADVOCACIA. AUSÊNCIA DE CONCRETA MOTIVAÇÃO.
ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E CONCEDIDA EM
PARTE.
I. É imprópria a análise de questões que não tenham sido
ventiladas em 2º grau de jurisdição, sob pena de indevida
supressão de instância, razão pela qual não se conhece do writ no
tocante às alegações de excesso de prazo na formação da culpa,
inépcia da denúncia, ofensa ao princípio do devido processo legal,
possibilidade de concessão de fiança e violação ao exercício da
advocacia.
II. Evidenciado que, em princípio, o paciente poderia ter
dado causa à instauração de várias investigações policiais e
processos judiciais envolvendo várias pessoas e vindo a imputar-
lhes crimes dos quais, em tese, sabia inocentes os acusados, pode

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vir a restar caracterizado o delito de denunciação caluniosa, pelo


qual restou denunciado.
III. A ausência de justa causa para o prosseguimento do
feito só pode ser reconhecida quando, sem a necessidade de exame
aprofundado e valorativo dos fatos, indícios e provas, restar
inequivocamente demonstrada, pela impetração, a atipicidade
flagrante do fato, a ausência de indícios a fundamentarem a
acusação, ou, ainda, a extinção da punibilidade.
IV. O habeas corpus constitui-se em meio impróprio para
o exame da apontada ausência de materialidade do delito, baseada
em controvertidas alegações, não demonstradas de pronto.
V. Decretação da custódia amparada no fato de o paciente
ter oposto exceção de suspeição contra um promotor de justiça
local, que não se encontra fundamentada em nenhum dos
requisitos da lei processual ou na jurisprudência dominante.
VI. Possível cerceamento à liberdade profissional da
advocacia evidenciado.
VII. Despacho que decretou a prisão preventiva do
paciente que deve ser anulado por ausência de concreta
motivação.
VIII. Habeas corpus conhecido em parte e parcialmente
concedido tão-somente para anular o despacho que decretou a
prisão preventiva do paciente, determinando a expedição de
alvará de soltura em seu favor, se por al não estiver preso,
mediante condições a serem estabelecidas pelo juízo monocrático.
(Habeas Corpus nº 22462 – SC, 5ª Turma, Rel. Min. GILSON
DIPP, j. 12/11/2002, D.J.U. de 03/02/2003, p. 329).

RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE


ENTORPECENTES. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
ALEGAÇÃO DE INOCÊNCIA E FALTA DE PROVAS A
CORROBORAR A PERSECUÇÃO PENAL. EXAME DE
PROVAS INVIÁVEL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. REQUISITOS
DO ART. 41, DO CPP ATENDIDOS. IRREGULARIDADES NA
PRISÃO EM FLAGRANTE, FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO
DA DECISÃO QUE INDEFERIU O PEDIDO DE LIBERDADE
PROVISÓRIA E EXCESSO DE PRAZO DA CUSTÓDIA
CAUTELAR. QUESTÕES SUPERADAS ANTE O ADVENTO
DA SENTENÇA CONDENATÓRIA.
Descabe, em sede de habeas corpus, conforme
entendimento jurisprudencial, o trancamento de ação penal por
falta de justa causa quando não desponta, prontamente, a

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inocência do acusado, a atipicidade da conduta ou se acha extinta


a punibilidade, circunstâncias não evidenciadas na espécie.
Denúncia formalmente apta, consoante os requisitos
exigidos pelo art. 41 do Código de Processo Penal, não havendo
que se falar em inépcia da exordial acusatória.
Proferida sentença condenatória, restam superadas as
alegações decorrentes de suposta ilegalidade da prisão em
flagrante, falta de fundamentação da decisão que indeferiu o
pedido de liberdade provisória e excesso de prazo para a formação
da culpa, eis que novo título justifica a custódia cautelar.
Precedentes.
Recurso desprovido. (Recurso Ordinário em Habeas
Corpus nº 11953 – SP, 5ª Turma, Rel. Min. JOSÉ ARNALDO
DA FONSECA, j. 02/05/2002, D.J.U. de 10/06/2002, p. 224).

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO


CULPOSO. NEGLIGÊNCIA E IMPERÍCIA MÉDICA. INÉPCIA
DA DENÚNCIA. INOCORRÊNCIA. REQUISITOS DO ART. 41
RESPEITADOS. POSSIBILIDADE DE DEFESA.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL POR FALTA DE JUSTA
CAUSA ANTE A CONTRADIÇÃO DAS PROVAS CARREADAS
E OS TERMOS DA DENÚNCIA OFERTADA. MATÉRIA
COMPLEXA QUE EXIGE EXAME APROFUNDADO DE
PROVAS, INVIÁVEL NA VIA ELEITA.
Narrando a exordial acusatória crime em tese, na forma
do art. 41, do CPP, não procede a alegação de inépcia da
denúncia, a qual permite o exercício pleno do direito de defesa.
Descabe o trancamento da ação penal, por falta de justa
causa, descrevendo a denúncia crime em tese, com indícios
mínimos de autoria, se da análise dos autos não desponta de forma
flagrante e incontroversa a inocência dos acusados, a atipicidade
da conduta ou a extinção da punibilidade. In casu, trata-se de
tema complexo, envolvendo morte de paciente por septicemia em
razão de suposta negligência e imperícia médica, cujo deslinde
somente poderá advir do acurado cotejo das provas produzidas na
instrução criminal.
Recurso desprovido. (Recurso Ordinário em Habeas
Corpus nº 11844 – MG, 5ª Turma, Rel. Min. JOSÉ ARNALDO
DA FONSECA, j. 26/03/2002, D.J.U. de 13/05/2002, p. 210).

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EMENTA: HABEAS-CORPUS. CRIME DE CORRUPÇÃO


PASSIVA: "JOGO DO BICHO". ADITAMENTO À DENÚNCIA
RECEBIDO COMO NOVA DENÚNCIA PELO ÓRGÃO
ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. ALEGAÇÃO DE
VIOLAÇÃO À REGRA DO SIMULTANEUS PROCESSUS,
(CPP, ART. 76, III), DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE
DEFESA (CF, ART. 5º, LV), DE INÉPCIA DA DENÚNCIA
(CPP, ART. 41) E DE FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A
AÇÃO PENAL.
1. A competência determinada pela conexão provatória é
de juízo, e não de autos de processo-crime (CPP, art. 76, III).
2. A separação de processos no âmbito da competência do
mesmo Juízo pode ser determinada facultativamente quando por
motivo relevante for reputada conveniente (CPP, art. 80). Esta
decisão tem respaldo no art. 2º da Lei nº 8.038/90, combinado com
o art. 1º da Lei nº 8.658/93.
3. Não há prejuízo ao direito de defesa porque foram
trasladadas todas as peças do processo original para o
desmembrado; prejuízo, se houver, será para o Órgão acusador,
que sofrerá as restrições aplicáveis à prova emprestada.
4. Inépcia da denúncia: a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal vem se orientando no sentido de que é admitida
a narração genérica dos fatos, sem discriminação da conduta
específica de cada denunciado (CPP, art. 41), quando se trata de
crime multitudinário, eis que só a instrução pode esclarecer quem
concorreu, participou ou ficou alheio à ação ilícita ou ao resultado
com ela obtido; no caso, a denúncia indica o fato imputado ao
paciente e possibilita o exercício do direito de defesa. Precedente.
5. Falta de justa causa: em sede de habeas-corpus só é
possível trancar ação penal em situações especiais, como nos casos
em que é evidente e inafastável a negativa de autoria, quando o
fato narrado não constitui crime, sequer em tese, e em situações
similares, onde pode ser dispensada a instrução criminal para a
constatação de tais fatos, situação que não se configura na espécie.
6. Habeas-corpus conhecido, mas indeferido. (STF -
HABEAS CORPUS Nº 73208 - RJ , 2ª Turma, Rel. Min.
Maurício Corre, j. 16/04/1996, D.J.U. de 07-02-97, p. 01337)

PENAL. PROCESSUAL. DENÚNCIA. INÉPCIA NÃO


CARACTERIZADA. FLAGRANTE. PRESSUPOSTOS. RÉUS
DEFENDIDOS POR UM ÚNICO ADVOGADO.
POSSIBILIDADE. IDÊNTICAS VERSÕES DO FATO

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CRIMINOSO. EXCESSO DE PRAZO PARA A FORMAÇÃO DA


CULPA. "HABEAS CORPUS".
1. Não se tranca Ação Penal, por falta de justa causa, se a
denúncia descreve crime em tese, facultando, ao acusado, o pleno
exercício de sua defesa.
2. A inépcia de uma denúncia somente será declarada
quando desrespeitados os comandos do CPP, art. 41; jamais em
razão de elementos de prova ainda pendentes de exame.
3. Preso o paciente logo após o fato criminoso, em razão
de
eficiente ação policial, está caracterizado o flagrante.
4. Não havendo conflito entre os interesses jurídicos de
cada um dos acusados, nada impede sejam eles defendidos por um
único advogado. Justificado o atraso na instrução criminal pela
atuação da própria defesa, não se reconhece o alegado excesso de
prazo. Recomendação, à origem, de maior celeridade.
5. "Habeas Corpus" conhecido; pedido indeferido. (HC
12192 – AP, 5ª Turma, Rel. Min. Edson Vidigal, j. 28/03/2000,
D.J.U. de 02/05/2000, p. 00155).

HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM


TRIBUTÁRIA. AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. DENÚNCIA.
1 - A demonstração pela circunstância indiciária - ainda
que tenuemente - da existência, pelo menos in thesi, de infração
penal, o esclarecimento definitivo quanto à materialidade e
autoria deverá se processar no curso da instrução com a ampla
possibilidade de provas, submetida ao contraditório. Não há, por
outro lado, como exigir-se para a denúncia um juízo de certeza,
mas apenas de probabilidade. O núcleo da denúncia, conforme
entendimento pretoriano, é formular uma imputação e não prová-
la desde logo.
2 - Sob este prisma, não revela a acusação carente de justa
causa apta a impor o trancamento da ação penal, mesmo porque
este desideratum envolve-se com a investigação probatória, vedada
nos estreitos limites da ordem.
3 - Habeas corpus denegado. (HC 9247 – PA, 6ª Turma,
Rel. Min. Fernando Gonçalves, j. 18/10/1999, D.J.U. de
29/11/1999, p. 00205).

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME


CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ART. 2º, II, DA LEI

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8.137/90). SÓCIOS MINORITÁRIOS. TRANCAMENTO DA


AÇÃO POR FALTA DE JUSTA CAUSA.
Se os fatos narrados na denúncia permitem um perfeito
enquadramento ao tipo penal incriminador, não há falar em sua
inépcia por atipicidade da conduta. O simples fato de serem
os pacientes sócios minoritários da empresa não exclui, de pronto,
a sua responsabilidade penal. Por não comportar exame
aprofundado de provas, a via estreita do writ é inviável para se
pretender afastar a responsabilidade dos ora pacientes pelos
ilícitos praticados, já que só a instrução criminal pode definir
quem concorreu, quem participou ou quem ficou alheio à ação
ilícita.
Recurso conhecido e desprovido. (RHC 8186 – MG, 5ª
Turma, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, j. 30/06/1999,
D.J.U. de 25/10/1999, p. 00098).

RHC. TRANCAMENTO DE AÇÃO. EXCLUSÃO DE CO-


DENUNCIADA DO PÓLO PASSIVO. APROFUNDADO EXAME
DE PROVAS. IMPROPRIEDADE DO WRIT. EXCLUSÃO DO
DELITO DO ART. 288 DO CP. IMPOSSIBILIDADE. NÚMERO
DE INTEGRANTES CONFIGURADO. EQUÍVOCO QUANTO À
AUSÊNCIA DE PLURALIDADE DE CRIMES. OBSERVÂNCIA
AO ART. 384 DO CPP PARA A PRETENSÃO. RECURSO
DESPROVIDO.
I. Havendo indício de participação da denunciada na
prática dos delitos, como apontado na peça acusatória, não se pode
determinar a sua pronta exclusão do pólo passivo da lide, sendo
que maior exame da controvérsia é incompatível com a via eleita.
II. Não excluída a denúncia em relação à paciente,
permanece configurado o número necessário de integrantes para a
caracterização do tipo previsto no art. 288 do CPP.
III. Reconhece-se como equívoco da impetração a alegada
ausência do requisito da pluralidade de delitos, se a peça
acusatória aponta a formação de pelo menos três loteamentos
clandestinos em circunstâncias assemelhadas, pelo grupo
denunciado.
IV. A exclusão de um dos crimes descritos na denúncia -
que se encontra formalmente perfeita, após o seu recebimento,
deve aguardar a devida instrução processual e obedecer às
diretrizes do art. 384 do CPP.
V. Recurso desprovido. (RHC 8617 – PR, 5ª Turma, Rel.
Min. Gilson Dipp, j. 05/10/1999, D.J.U. de 25/10/1999, p. 00100).

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MODELO
O MODELO AINDA NÃO FOI JULGADO

EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DO EGRÉGIO


TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

RECURSO ESPECIAL
Recorrente : Ministério Público do Estado de São Paulo
Recorridos : Michael Mary Nollan e Aton Fon Filho
Pr. nº 274/98 – 3º Vara Criminal de Diadema/SP
HC nº 346042-3 – TACRIM/SP

O PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO


DE SÃO PAULO, não se conformando, “data vênia”, com o V. Acórdão
(fls. 168/185), fundando-se no art. 105, III, alínea “a” e “c”, da Constituição
da República Federativa do Brasil, e na forma do art. 541 do Código de

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Processo Civil, vem, mui respeitosamente, interpor RECURSO ESPECIAL


pelos motivos a seguir deduzidos:

EMÉRITOS JULGADORES E
ÍNCLITA PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA:

“HABEAS CORPUS” – AÇÃO PENAL – ARGÜIÇÃO DE


JUSTA CAUSA – EXAME APROFUNDADO DAS PROVAS –
INADMISSIBILIDADE.

Se a denúncia narra fatos de natureza criminosa, seu


exame aprofundado e comprovação ficam na dependência da
instrução criminal, improcedendo a argüição de justa causa
para a ação penal em processo sumaríssimo de “habeas
corpus”.

1 – DOS FATOS

A Colenda Sétima Câmara Criminal do Egrégio Tribunal


de Alçada Criminal do Estado de São Paulo, por votação unânime,
concedeu “habeas corpus” aos recorridos para trancar ação penal, por
falta de justa causa.

Compilação: Perseu Gentil Negrão 9


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O recorridos foram denunciados por prática do crime


previsto no art. 139, “caput”, c.c. o art. 29, ambos do Código Penal.

2 – DO CABIMENTO DO RECURSO

O V. Acórdão s.m.j., contrariou o art. 648, inciso I, do C.


P. Penal, e deu interpretação divergente da que lhe atribuíra outro
Tribunal.

Ademais, houve explícito prequestionamento, já que o


dispositivo foi o seguinte:

“Tudo isso sopesado, ora meu voto concede a ordem,


para determinar o trancamento da presente ação penal contra os
pacientes, por falta de justa causa”(fls. 185).

3 – DAS RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA DA


DECISÃO RECORRIDA

Compilação: Perseu Gentil Negrão 10


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A denúncia expôs o fato criminoso, com todas as suas


circunstâncias qualificou os acusados, classificou o crime e ofereceu o rol
de testemunhas, nos moldes do art. 41 do Código Penal. (cf. 26/27).

Ademais, fundamentou-se nos seguintes documentos:


1º) Memorial de José Filippi Júnior (fls. 61/74); 2º) Declarações do
ofendido feito na Polícia (fls. 110/113); 3º) Representação do ofendido
junto à Egrégia Procuradoria Geral de Justiça (fls. 118/126); e 4º) relatório
da digna Autoridade Policial (fls. 143).

Como se observa, a peça inaugural não é uma pura


criação mental de seu autor.

O V. Acórdão impugnado fez longa, detalhada e


aprofundada análise das provas do inquérito policial, o que se mostra
incabível nos estreitos limites do “habeas corpus”.

A prova manifesta dessa afirmação reside no fato de


que o Exmo. Sr. Dr. Juiz Relator escreveu 22 (vinte e duas) laudas para
discutir o mérito da acusação, concluindo, por fim, que não houve justa
causa.

Ocorreu equívoco, porque no inicio da ação penal, o


que deve ser analisado é a falta de justa causa para causa para a
acusação e não é justa causa para a condenação (RTJ 59/2).

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As questões referentes ao anexo de casualidade entre


a ofensa e os debates e à imunidade penal do advogado só podem ser
devidamente analisadas e sopesadas na sentença de mérito, pós
criteriosa instrução criminal.

Lembre-se de que a indenidade não pretende liberar


abusos, tanto que a disposição constitucional a impõe “nos limites da lei”
(STJ, HC 104, RT 652.346; STF, HC 69.085, 1ª Turma, rel. Min. Celso de
Melo, DJU, 26/março/1999, p. 5003; RT, 693/419. Ademais, imunidade
judicial não é absoluta (STJ, RHC 4.539, 5ª Turma, RT 723/538).

Enfim, os denunciados foram absolvidos sem processo,


ficando o Ministério Público, impossibilitado de comprovar suas alegações
por meio de regular instrução, onde deve imperar o princípio
constitucional do contraditório.

A jurisprudência pátria é remansosa no sentido de não


permitir trancamento da ação penal por meio de “habeas corpus” se
houver necessidade de aprofundado exame das provas, o que ocorreu no
caso.

Senão vejamos.

“O juiz não pode trancar a ação penal por meio de


“habeas corpus” a pretexto de não estar provado no inquérito
policial aquilo que a ação se propõe a demonstrar na
instrução, se a denúncia descreve fato que constitui crime. O
STJ já decidiu nesse sentido (RTJ 75/454), argumentando
incabível o exame da prova policial, uma vez que isso

Compilação: Perseu Gentil Negrão 12


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importaria absolvição sem processo (RECrim 90.697, DJU


30/11/79, p. 8986). (“in” Código de Processo Penal Anotado,
Damásio E. de Jesus, Saraiva, 14ª edição, pág. 47).

“O processo de “habeas corpus” não comporta exame


interpretativo da prova, notadamente prova testemunhal (STF,
RTJ 58/523). Entretanto, para a perquirição da falta de justa
causa, é impossível sua análise, desde que tal exame não
tenha de se fazer aprofundado ou analiticamente (TJSP, RT
514/350). Ensina Heleno Cláudio Fragoso que a “única
limitação quanto à prova no âmbito do “habeas corpus” é que
seja absolutamente extreme de dúvidas e inteiramente
inequívoca. A regra a ser considerada é a seguinte: não se
pode admitir em HC matéria de prova duvidosa ou
controvertida” (Jurisprudência criminal, São Paulo, 1979, II/432,
n. 431). No mesmo sentido RT 416/240, 482/348, 462/436,
459/322 e 539/264. (“in” obra já citada, pág. 468).

“Em sede de “habeas corpus” só se reconhece a falta


de justa causa para ação penal, sob fundamento de divórcio
entre a imputação fática contida na denúncia e os elementos
de convicção em que ela se apóia, quando a desconformidade
entre a imputação feita ao acusado e os elementos que lhe
servem de supedâneo for incontroversa, translúcida e evidente,
revelando que a acusação resulta de pura criação mental de
seu autor. Nesse sentido: STJ, RHC 681, 5ª Turma, RT
665/342. Em face da natureza do “habeas corpus”, não é
possível em seu âmbito o confronto e a valoração de provas
(TACrim SP, RT 527/355) (“in obra citada, pág. 472/473).

Compilação: Perseu Gentil Negrão 13


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Conferir, também os doze julgados publicados na


festejada obra intitulada “Jurisprudência Criminal do Supremo Tribunal
Federal e do Superior Tribunal de Justiça”, de autoria de Alfredo de
Oliveira Garcindo Filho, 4ª Edição, Curitiba, 1998, pág. 200/201.

4 – DA INTERPRETAÇÃO DIVERGENTE

A tese acolhida pelo V. Acórdão recorrido dissente do


V. Acórdão proferido pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, como demonstra o julgado, publicado na íntegra em repositório
oficial autorizado (doc. 1 a 4, em anexo) ou seja, a Revista dos Tribunais
nº 751/588-591, cuja ementa é a seguinte:

“HABEAS CORPUS – TRANCAMENTO DA AÇÃO


PENAL – ALEGAÇÃO DE JUSTA CAUSA –
INADMISSIBILIDADE, POIS PRESENTE O FATO TÍPICO E
INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA.
Inadmissível o trancamento da ação penal por falta
de justa causa, via “habeas corpus”, quando
demonstrados não serem os fatos atípicos, do ponto de
vista criminal, e existirem indícios suficiente de autoria.

5 – DA COMPARAÇÃO ANALÍTICA

Compilação: Perseu Gentil Negrão 14


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O V. Acórdão paradigma decidiu, “in verbis”:

“Existindo suspeitas de haver o


agente participado de ilícitos, a inclusão de
seu nome na peça acusatória não constitui
nenhum constrangimento ilegal. O
representante da Justiça Pública não
praticou abuso ao elaborá-la.
Inegável ser perfeitamente
admissível, em casos excepcionais, o
trancamento da ação penal através de
“habeas corpus” , porquanto o “jus
accustionis” sempre deve estar apoiado em
elementos tangíveis que, ao menos em tese,
indiquem a provável existência de algum
ilícito penal.
Mas em contrapartida, uma coisa
precisa ficar bem clara: o aniquilamento,
logo no início, da ação penal somente pode
ocorrer quando o fato evidentemente
(atenção para força do advérbio) não
constituir crime (art. 43, I, do CPP).
E, no caso em testilha, como já visto,
existe o “fumus banis iuris” (a fumaça do
bom direito) que autoriza a instauração da
“cersecutio criminis”, e como se infere dos

Compilação: Perseu Gentil Negrão 15


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tópicos acima mencionados, extraídos das


declarações da vítima e testemunhas.
Presentes, neste caso, elementos
demonstrativos da materialidade do delito
de indícios da autoria, não procede, “data
vênia”, argüição da falta de justa causa para
a ação penal.
Na realidade, a falta de justa causa
só pode ser reconhecida no “mandamus”
quando for perceptível ao primeiro golpe de
olhar, de modo claro e inequívoco, sem se
aprofundar no exame de provas, e se o
julgador, sem maiores esforços
interpretativos, “prima facie”, sentir o calor
que emana do processo e que denote, sem a
menor sombra de dúvida, a inexistência do
fato típico ou a total insofismável inocência
do agente. Diante de qualquer dúvida, deve
a ação penal ter prosseguimento (cf. RSTJ
59/69).
Tal asserção, aliás, encontra
respaldo na jurisprudência na Suprema
Corte, cuja orientação sempre se direcionou
no sentido de que “se a denúncia descreve
suficientemente fatos, verificando-se não
serem eles atípicos, do ponto de vista
criminal, e sendo necessário aprofundado
exame de provas para saber se os autores
devem ou não ser considerados

Compilação: Perseu Gentil Negrão 16


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responsáveis pelo ilícito de que são


acusados, não se torna possível a
concessão de “habeas corpus” para o
trancamento da ação penal” (RHC 66.680-9,
rel. Min. Aldir Passarinho).
De igual modo tem decidido o STJ
(“v.g.” RHC 332, rel. Min. Fláquer
Scartezzini; RHC 171, rel. Min. Edson
Vidigal; HC 2777-0-RJ, rel. Min. Pedro
Acioli).
Demais, no umbral da ação penal, o
que deve ser analisado é a falta de justa
causa para acusação e não de justa causa
para a condenação, como proclamou a
Suprema Corte, de forma que “é a denúncia
descreve fato criminoso, em todos os seus
elementos, de tal maneira que autoriza um
juízo de suspeita de crime (e não de certeza)
merece ela havida como eficaz ou apta e não
inepta, donde a configuração de justa causa
para a acusação” (RTJ 59/2, rel. Min.
Antonio Néder).”

O V. Acórdão impugnado, por sua vez, manifestou-se,


simplesmente da seguinte forma:

Compilação: Perseu Gentil Negrão 17


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“Tudo isso sopesado, ora meu voto


concede a ordem, para determinar o
trancamento da presente ação penal contra
os paciente, por falta de justa causa”. (cf.
fls. 185).
Como se verifica
pelas transcrições, ora feitas, é
evidente o paralelismo entre o caso
tratado no julgado trazido à colação e
a hipótese decidida nos autos, ou
seja, concessão de “habeas corpus”
para trancar a ação penal, por falta de
justa causa.
Entretanto, as
soluções aplicadas, em cada caso,
apresentam-se diametralmente
opostas.
De fato, o V. Acórdão
paradigma não admitiu o “habeas
corpus” para o trancamento da ação
penal por falta de justa causa, se
houver necessidade de aprofundado
exame das provas, e o V. Acórdão
impugnado, após longa, exaustiva e
detalhada análise das provas, conclui
divergentemente.

6 – DO PEDIDO

Compilação: Perseu Gentil Negrão 18


Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais – Modelo da Tese nº 019

Requer-se, pois, em preliminar, a admissão, e, no


mérito, o provimento pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, a fim de
que seja cassada a ordem de “habeas corpus”, devendo a ação penal
seguir os seus ulteriores termos.

São Paulo, 23 de setembro de 1.999

LUIZ ANTONIO GUIMARÃES MARREY


Procurador-Geral de Justiça

CLÁUDIO EUGENIO REIS BRESSANE


Procurador de Justiça

Compilação: Perseu Gentil Negrão 19

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