Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO ABSTRACT
Neste trabalho foram identificadas as especies This study identified the timber species used by
madeireiras utilizadas na indústria da construção naval boatyards in Novo Airão, Amazonas. Wood samples and
de Novo Airão - Amazonas. Em visitas a 7 estaleiros e 2 information concerning local names and specific use in
serrarias foram coletadas amostras de madeira e infor- boat construction were collected in 7 boatyards and 2
mações sobre o nome vulgar e uso específico nas sawmills. Wood samples were identified in Wood Anatomy
embarcações. As amostras foram identificadas laboratory of the Instituto de Tecnologia da Amazônia
anatomicamente no laboratório de Anatomia da Madei- (UTAM), Manaus. Twenty-seven species, belonging to
ra do Instituto de Tecnologia da Amazônia (UTAM), 11 families, were found, with itauba (Mezilaurus spp. -
Manaus, sendo em número 27 espécies, pertencentes a lauraceae) being the most important timber for boat
11 famílias, sendo que a itauba (Mezilaurus spp. - construction.
lauraceae) foi a madeira de maior importância para a
construção naval.
Palavras-chave: construção naval, madeira, Novo Key words: Boatbuilding, Wood, Novo Airão, itauba,
Airão, itauba, Mezilaurus. Mezilaurus.
(1) Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, Manaus.Coordenação de Pesquisas em Silvicultura Tropical (CPST).
(2) Instituto de Tecnologia da Amazônia - UTAM, Manaus. Departamentos de Manejo Florestal (DMF), (Atual: Programa Waimiri Atroari
[FUNAf/ELETRONORTEj). .
(3) Instituto de Tecnologia da Amazônia - UTAM, Manaus. Departamento de Tecnologia da Madeira (DTM).
itauba poderá indicar a urgência de se estudar o manejo floresta, e as etapas da construção naval foram obtidas
e silviculturada itauba e a implantação de projetos pilotos por entrevistas, enquanto a obtenção de informações
de plantios e/ou manejo. específicas sobre as madeiras e suas utilidades foi
Em suma, o presente trabalho procurou atender os baseado na coleta de amostras. A forma da coleta das
seguintes objetivos: amostras e informações a respeito variou conforme a
a) identificar as espécies utilizadas pela constru- situação, sendo que houve 3 formas principais:
ção naval de Novo Airão, e seu uso específico a) o informante escolhia amostras de madeira e
nas embarcações; nos dava o nome comum e uso;
b) descrever as etapas da construção das em bar- b) o informante foi indagado sobre a utilização da
caçoes e madeira numa embarcação em construção, sen-
c) caracterizar a indústria da construção naval de do coletadas amostras correspondentes entre
Novo Airão em termos do seu consumo de um os resíduos ao redor;
recurso natural (madeira) e as possíveis indica- c) coletamos amostras de madeiras que foram
ções deste consumo para o planejamento do identificadas pelo informante, segundo o nome
uso da terra nesse município. comum e uso nas embarcações.
As amostras foram numeradas em série única com
2 MATERIAIS E MÉTODOS caneta indelével. Para cada número foram anotados o
nome vulgar, uso na embarcação, nome do estaleiro e
Para obter informações sobre a utilização de ma- informante.
deira pela indústria da construção naval de Novo Airão, As identificações das amostras de madeiras
foram feitas visitas a 7 estaleiros e 2 serrarias locais. coletadas com o nome científico e família botânica,
Informações gerais sobre a retirada de madeira da foram feitas no Laboratório de Anatomia da Madeira do
Instituto de Tecnologia da Amazônia-UTAM.
TABELA 1 - Lista das espécies utilizadas pela indústria da construção naval de Novo Airão
Anacardiaceae
Tapirira guianensis Aubl. Saboeiro Convés e obra morta
Apocynaceae
Aspidosperma album (Vahl.) R. Ben Amarelinho Quilha, obra morta e convés
Ma/ouetia sp Molongó Bóia e isolante
Bombacaceae
Sc/eronema micranthum (Ducke) Ducke Envira-de-cotia Convés
Combretaceae
Buchenavia ochropruma Tanimbuca Convés
Guttiferae
Moronobea pu/chra Ducke Bacuri Obra morta
Lauraceae
Mezilaurus sp itauba-amarela Casco, quilha, convés, etc.
Ocotea sp itauba-amarela-de-varzea Casco, quilha, convés, talhamar, etc.
Mezi/aurus itauba (Meissn) Taub. itauba-preta Casco, quilha, convés, etc.
Licaria aritu Ducke Louro-aritu Quilha, verdugo, convés e obra morta
Ocotea cynbarum H.B.K. Louro-inhamui Quilha, verduço, convés e obra morta
Aniba sp Louro-preto Quilha, verdugo, convés e obra morta
Aniba parviflora (Meiss) Mez Louro-puxuri Quilha, verdugo, convés e obra morta
Leguminosae Caesalp.
Copaifera sp Mirapiranga Quilha
Tachiga/ia sp Envira-de-cotia Obra morta
Pe/togyne catingae Ducke Roxinho Quilha
Lecythidaceae
Lecythis usitata Miers. Castanha-sapucaia Quilha
Leguminosae Mimosoideae
Pithecellobium racemosum Ducke Angelim-rajado Obra morta
Parkia decussata Ducke Sucupira-amarela Quilha e obra morta
Leguminosae Papilionoideae
Hymenotobium petraeum Ducke Angelim-pedra Casco, quilha, convés e obra morta
Dipteryx sp Cumaru Quilha e obra morta
Dipteryx maqnifica Ducke Cumaru Ferro Quilha e talhamar
Swartzia recurva Poeppig Saboarana -do-ig apó Obra morta
Swartzia sp Saboarana Obra morta
Dip/otropis martiusii Benth. Sucupira-preta Convés e quilha
Vochysiaceae
Vochysia sp Guaruba Obra morta.
Qua/ea paraensis Ducke Rabo-de-arraia Obra morta e convés.
ETAPAS ATIVIDADES
1 Montagem da estrutura da quilha, talhamar e queixo, espinha e toco de popa, cordeado e casa mestre (duas
cavernas).
2 Encavernamento com as casas de braços (cavernas) redondo de popa e sobrequilha.
3 Entaboamento (falcas) e verdugo.
4 Colocação de falcas internas.
5 Colocação das faceiras e rabicho (barco> 20 m)
6 Colocação dos ficher para dar suporte à máquina.
7 Colocação do convés: Iaitas , entaboamento e balaústre.
8 Obras mortas: tolda, etc.
N E
O
O
.r
-i'---7.-00-m--f
5.0001
1'-------------3-0.-00-m-------------,t-
VISTA LATERAL
poço (CASCO)
1 quilha 0,15xO,18x 12,0 0,32
1 talharnar 0,15xO,18x 2,5 0,07
1 subquilha 0,15 x 0,18 x 9,0 0,24
Tábuas (2500 palmos **) 0,04 x 0,18 x 500,0 3,60
Pranchas (750 palmos) 0,07 x 0,32 x 150,0 3,36
1 toco 0,15 x 0,18 x 1,5 0,04
1 ástia de popa 0,15xO,18x 2,5 0,07
2 coral 0,15xO,18x 1,5 0,08
subtotal
CONVÉS
Pranchas (150 palmos) 0,15 x 0,32 x 30,0 0,67
Tábuas (1500 palmos) 0,04 x 0,18 x 300,0 2,16
subtotal 2,83m3
TOLDA
Pranchas (100 palmos) 0,07 x 0,32 x 20,0 0,45
Pranchas de louro (8) 0,07 x 0,32 x 24,0 0,54
Tábuas (300 palmos) 0,04 x 0,18 x 60,0 0,43
Tabique (1 O dúzias) 0,02 x 0,10 x 360,0 0,72
subtotal 2,14m3
TOTAL 12,75m3
POÇO (CASCO)
1 quilha 0,20 x 0,25 x 18,0 0,90
1 talhamar 0,20 x 0,25 x 3,0 0,15
1 subquilha 0,20 x 0,25 x 15,0 0,75
1 espinho de popa 0,20 x 0,25 x 3,0 0,15
2 ficher 0,15 x 0,35 x 5,0 0,525
Pranchas (2000 palmos) 0,07 x 0,32 x 400,0 8,96
Tábuas (4500 palmos) 0,04 x 0,18 x 900,0 6,48
TOLDA E CONVÉS
subtotal 4,02m3
TOTAL 21,93 m3
Total 419 m3
(*) Para fins de cáculo, foram estabelecidos as seguintes estimativas de consumo de madeira nas embarcações:
>10 m : 11 m3
15 m (rebocador): 15 m3
>15m:15m3
20 m: 22 m3
>20 m: 25 m3
importância, pois é a única madeira utilizada para caver- Aripuanã e suas utilidades. Mato Grosso. Acta Ama-
nas e casco. Nas demais partes das embarcações tais zônica, Manaus, 9(1): Suplemento, mar.
como quilha, convés, obras morta etc., várias madeiras LOUREIRO, A A & SILVA, Marlene F. da. 1968. Catá-
podem ser utilizadas. logo das madeiras daAmazônia. Belém-PA, vol. I.
Dados encontrados na literatura sobre a utilização LOUREIRO, A A; SILVA, Marlene F. da; Alencar, J. C ..
destas espécies em outras indústrias indicam que os 1979. Essências MadeireirasdaAmazônia. Manaus-
resíduos gerados pela construção naval poderiam ser Am, INPA, 2v.
aproveitados para outros fins e não queimados. É impor- MAINIERI, C .. 1978. Fichas de características das ma-
tante, então, estudar a quantidade de resíduos gerados, deiras brasileiras. IPT - São Paulo,
tanto na fase de exploração florestal como na fase da MAINIERI, C.; CHIMELO, J. P.; AFONSO, V. A. 1983
construção naval, com possibilidade de diminuir a perda Manual de identificação das principais madeiras co-
de material, como também explorar as possibilidades de merciais brasileiras. IPT - São Paulo. 1983.
um uso econômico alternativo, com retorno para a comu- MINISTÉRIO DO INTERIOR; Superintendência do De-
nidade local. senvolvimento da Amazônia; Departamento de Re-
Uma estimativa do consumo global de madeira cursos Naturais. 1981. Madeiras da Reserve Flores-
utilizada na construção naval de Novo Airão, indica a tal de Curuá-Una, Estado do Pará. Caracterização
necessidade de se iniciar estudos sobre a silvicultura e Anatômica, Propriedades Gerais e Aplicações - Belém-
manejo das espécies em questão, principalmente da PA
itauba, como também incluir a análise do setor madeirei- RADAMBRASIL. 1978. Levantamento de Recursos Na-
ro no planejamento do uso da terra desse município. turais. Rio de Janeiro, Vol, 18 - Anexo.
SANTOS, J. dos. 1988. Diagnóstico das Serrarias e das
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fábricas de Laminados e Compensados do Estado
do Amazonas - Acta Amazônica. 18(1-2):67-82.
FRÓES, R. L. 1959. Informações Sobre Algumas Plan- SILVA, Marlene F. da; Lisboa, P. L. B.; LISBOA, R. C. L.
tas Econômicas do Planalto Amazônico. Belém - PA, 1977. Nomes vulgares de plantas amazônicas. Belém-
1959. PA,INPA
IBDF, 1981. Madeiras da Amazônia: características e SUDAM - Centro de Tecnologia da Madeira. 1981.
utilização - Brasilia, CNPq. Rendimento em Serraria de Trinta Espécies de Ma-
LOUREIRO, Arthur A 1979. Madeiras do Município de deiras Amazônicas. Belém-PA