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15/10/13 Bóson de Higgs - Como, onde e porque surgiu.

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Bóson , Bóson de Higgs , Calibre , Campo de Higgs , Campos , divulgação Cient ífica , Elet rofraca , e-mail
Férmion , Gauge , Massa , Mat éria , Mecanismo de Higgs , Quebra de simetria Local , Teoria Quânt ica
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Bóson de H iggs - Como, onde e porque surgiu.

Bóson de Higgs - Como, onde e porque surgiu. Google+


Posted by : Thiago Guimarães domingo, 13 de outubro de 2013 Thiago Guim…
Adicionar a
Mudança total de planos. Essa semana Peter Higgs ganhou o prêmio por causa do
bóson de Higgs e a mídia fez uma cagada monstruosa ao tentar noticiar o assunto. A
coisa foi tão feia que o bóson de Higgs acabou sendo até o responsável pela vida na
Terra. Obviamente que eu estava doido para escrever um texto metendo o pau nos
jornalistas, mas vou fazer melhor, vou dissecar o assunto ao máximo para os leigos.
Farei isso em alguns posts, basicamente já tenho tudo escrito só vou postando aos
poucos para não ficar gigante.

Para não comprometer o entendimento de todos, esse texto será divido em 3 123 me Ver
adicionaram tudo
partes; a círculos
1 – Introdução,
2 – O Higgs para leigos,
3 – O Higgs para não tão leigos. Seguidores
0 – O porquê: Participar deste site
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Esse texto possui uma motivação extra. Vocês que acompanham o blog sabem que
eu trabalho com Teoria Quântica de Campos, mas nunca falei exatamente em quê.
Minha pesquisa é em uma área relacionada ao Higgs, trabalho com vórtices
semilocais no modelo de Higgs não-abeliano, não se preocupe se você não entendeu
nada, acho que nem eu entendo direito. Essa área trabalha diretamente com o
campo de Higgs, embora eu não pesquise diretamente a fenomenologia da partícula
em si. Como vários pesquisadores da área de partículas e campos que trabalham Já é um membro? Fazer login

diretamente com modelos de Higgs não se manifestaram sobre o assunto, me senti


na obrigação de escrever esse texto. Então lá vamos nós:

Posts populares
1 – Introdução:

Nós sabemos que a matéria é formada por átomos e há não muito tempo se
Buracos Negros de

descobriu que os átomos são compostos de outras partículas menores, como os Matéria Escura são Portais
elétrons, prótons e nêutrons. Mais recentemente ainda, se descobriu que o próton e de Viagem no Tempo
o nêutron poderiam ser divididos em partículas ainda menores, chamadas de Para outros Universos
quarks. No decorrer do século passado foi descoberto um grande número de
Olá, com certeza você clicou no link para
partículas novas que possuíam propriedades características diferentes entre si. Os
ver esse t exto porque você se interessa
físicos viram então a necessidade de organizar seu grande armário de partículas

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elementares para a coisa não ficar bagunçada. por um dos (ou todos) temas do Título.
Mas me diga, qual ...

As partículas fundamentais foram dividas em dois grandes grupos chamados de


Férmion e Bóson. Esses dois grupos são fundamentalmente diferentes. O primeiro é NÃO É "Só" Uma Teoria!

composto por partículas de matéria propriamente ditas (SIC) e possui spin semi- Sempre vejo em coment ários no facebook

inteiro, 1/2, 3/2, 5/2, por exemplo. Dentro desse mesmo grupo as partículas são uma coisa que me irrita um pouco, o

divididas em 12 subclasses chamadas de sabores. Entre essas partículas estão os famoso “é só uma teoria”. O assunto é de

elétrons, vários sabores de quarks e de neutrinos. Quando juntamos esses quarks fato de uma complexida...

eles formam partículas maiores chamadas de hadrons – que é exatamente o que


A Cura Quântica - um
significa aquele H do LHC – que compreendem os prótons, nêutrons e píons,
basicamente. perigoso paralelo entre
Mecânica Quântica e

Medicina Alternativa
Como eu já disse nesse texto aqui, O Gat o
Zumbi de Schrödinger e o Colapso da
Função de Onda , eu ODEIO escrev er

sobre mecânica quântica po...

Campos e Partículas - A Nossa Visão


Moderna do Universo
No texto passado falamos sobre simet rias
nas leis da física. Nesse texto de hoje

vamos trat ar de uma leve introdução da


relação entre partí...

Bóson de Higgs - Como,

onde e porque surgiu.


Mudança total de planos.
Essa semana Peter Higgs ganhou o prêmio

por causa do bóson de Higgs e a mídia fez


uma cagada monstruosa ao tent ar ...

tabela com fé rmions e bósons


Notas nas graduações
científicas
Por sua vez o grupo dos bósons é composto de partículas que, de forma geral, são Os últ imos textos postados
mediadoras de campos e possuem spin inteiro, 0,1,2. Os bósons com spin 1 são a bordaram sit uações que fazem parte do
chamados de bósons vetoriais, pois são provenientes de campos vetoriais. Os nosso cotidiano. E então, aproveitando
bósons de spin 2 são tensoriais (provenientes de campos tensoriais) e os bósons de essa linha, e como sinto falt a de...
spin 0 são chamados escalares (provenientes de campos escalares). Dentro desse
grupo temos o fóton, que é o mediador de interações eletromagnéticas, o glúon, os 10 argumentos que você não deve
bósons Z e W que são responsáveis pela mediação da força nuclear fraca e bóson de usar em uma discussão sobre
Higgs, que por sua vez é mediador de uma interação de massa.
misticismo quântico
Estava aqui moscando olhando para o
Quando juntamos todas essas partículas fundamentais e as interações que elas
Maple plot ar umas soluções numéricas
representam, temos um zoológico de partículas e interações chamado de “Modelo
para uns problemas em TQC que eu est ou
Padrão”. Esse modelo é muito bonito e funciona muito bem, é quase como uma
resolv endo, como isso est á ...
tabela periódica dos físicos de partículas. Mas existe um “porém” nessa beleza toda,
falta uma partícula para fechar esse modelo, o maldito bóson de Higgs. Tão maldito O Gato Zumbi de
que o físico norte americano Lederman escreveu na década de 90 um livro chamado
Schrödinger e o Colapso
The Goddamn Particle, "A partícula maldita" em uma tradução literal, mas os
da Função de Onda
editores acharam mais legal trocar o nome para The God Particle, A Partícula Deus.
Escrev er sobre ciência, em especial a física,
Como era de se esperar foi uma cagada homérica que só deu dor de cabeça para os
é uma tarefa dura, mas quando nós
físicos.
abordamos assuntos que gostamos é
prazeroso escrever textos...

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Afinal, a massa varia ou


não?
Ontem um moderador da
minha página v eio falar que ele teve uma

discussão sobre “ dilatação da massa” , e


alguns curtidores disseram que isso ...

Matéria e Energia - Diferenças que

você precisa saber!


Você leigo, que adora ler texto sobre física

na int ernet, sempre se depara com a


relação entre mat éria e energia, e recebe
definições difer...
Mode lo padrão.

Labels
2 – Higgs Para Leigos (e para jornalistas)

Aniquilação ( 2 )
Mas enfim, que diabos é essa partícula exatamente? Obviamente a resposta correta
Antipartículas ( 3 )
e formal para essa pergunta exigiria uma boa quantidade de matemática, então isso
Bóson ( 4 )
fica para a seção 3. Aqui irei me ater a uma explicação superficial, mas ainda sim
dentro da margem do que se considera correto. Bóson de Higgs ( 1 )

Calibre ( 1 )
Nossa charmosa teoria que descreve as interações entre as partículas e forças Campo de Higgs ( 1 )
funciona muito bem, mas existe um problema que tira o sono de muitos cientistas.
Campos ( 3 )
A teoria diz que as partículas não deveriam ter massa e, portanto viajar a velocidade
da luz, como acontece com o fóton. Entretanto, as partículas que conhecemos têm
ciência ( 2 )

massa, então alguma coisa deve estar errada ou não estar sendo considerada nesse Cura Quântica ( 2 )
modelo. Para sanar esse problema algumas propostas surgiram, entre elas uma bem Curso de Física ( 1 )
elegante dizia que existia um campo responsável por frear essas partículas e esse
divulgação Científica ( 7 )
freamento poderia ser entendido como a “massa” dela. E se produzíssemos uma
documentários ( 2 )
perturbação nesse campo iríamos gerar ondulações que na teoria quântica de
campos são vistas como partículas. Então, chama-se as oscilações no campo de Educação ( 2 )

Higgs de bóson de Higgs e é exatamente isso que o LHC tenta fazer, criar essas Eletrofraca ( 1 )
perturbações no campo. Energia ( 5 )

epistemologia ( 1 )
Assim, a grosso modo, o bóson de Higgs é responsável por dar massa às partículas,
mas existe um pequeno misconception passado por muitas pessoas nesse ponto e
Equação de Schrödinger ( 2 )

que pode surpreender você. A existência do bóson de Higgs nos mostraria a origem erros ( 4 )
direta da massa de apenas uma pequena parte das partículas que conhecemos, facebook ( 1 )
como o elétron, e não de TODA a matéria do universo. Porém, mesmo que a massa
Fastfood ( 1 )
de outras partículas, como o próton, tenha origem em grande parte na força nuclear
Função de Onda ( 2 )
forte elas são afetadas diretamente pelo campo de Higgs (note que falei campo e não
bóson), assim podemos considerar que estudos sobre o campo e o bóson de Higgs Férmion ( 4 )

têm efeitos praticamente sobre toda a matéria ordinária que conhecemos. Caso você Gato ( 1 )
queira uma segunda explicação bem didática veja esse artigo: Dossiê Higgs Gauge ( 1 )

Massa ( 2 )
A busca pela partícula maldita começou antes do LHC, no acelerador Tevatron que
funcionou até 2011 no Fermilab, EUA (eu particularmente tinha uma questão de
Massa de Repouso ( 1 )

feeling com esse). No final da década de 90 e começo de 2001 esse acelerador Massa Relativística ( 1 )
passou por algumas modificações para realizar o seu Run II que durou até encerrar Matéria ( 4 )
suas atividades em 2011. A um dos programas era estudar o quark Bottom, porém
Mecanismo de Higgs ( 1 )
houve a possibilidade de se estudar o bóson de Higgs associado aos bósons W e Z,
Mecânica Quântica ( 2 )

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uma vez que o Higgs decaía em quarks bottom. No geral o estudo foi um grande Pensamento Quântico. ( 2 )
sucesso tanto para os quarks bottom quanto para o bóson de Higgs. Na física de
Periódicos ( 3 )
partícula a confiança estatística de que a partícula exista é dada em sigmas, quanto
Pesquisa ( 3 )
maior o sigma melhor, mas a partir de 5σ já é possível anunciar a descoberta de
uma nova partícula, por sua vez o Tevatron conseguiu 3σ para o bóson de Higgs. Provas ( 2 )

Quebra de simetria Local ( 1 )


Nesse tempo de árduo trabalho do Tevatron, o LHC ficou pronto e como trabalha Salami Science ( 1 )
com energia, intensidade mais altas e com detectores melhores, a chance de se
Slow Science ( 1 )
obter uma medida mais precisa que 3σ era bem maior. E foi exatamente isso que
teoria ( 3 )
aconteceu, no dia 4 de julho os cientistas anunciaram a significância combinada de
5σ e dias depois subiram para 5.9σ. Ou seja, encontraram algo bem na faixa de Teoria Quântica de Campos ( 4 )
energia onde o safado do bóson de Higgs deveria estar. Além dessa ótima notícia
teve também a enxurrada de cagadas jornalísticas que despertaram a fúria de alguns
cientistas, até a emissora de TV Al Jazira falou enfaticamente sobre o assunto e Posts Anteriores
muitos sites intitularam seus artigos de “Encontraram a partícula de Deus”.
▼ 2013
3 – Higgs para Não Tão Leigos.
▼ Outubro
Bóson de Higgs - Como,

Após essa introdução vamos nos aprofundar um pouco mais no assunto. A qui nós onde e porque surgiu.
seremos levados a caminhos sombrios e muito bonitos da área de partículas e Afinal, a massa varia ou
campos. Minha intenção é expor com maior número de detalhes possível o porque, não?
onde e como surgiu o bóson de higgs. Indico as (muitas) linhas abaixo apenas a 10 argumentos que você
quem está disposto a entender o assunto de verdade, vai depender de seu esforço não deve usar em uma
de absorver o que escreverei, pois não é nada trivial, embora seja deverás
discus...
interessante. Não deixe de ler todos os textos linkados e também as referências.
► Setembro
► Agosto
3.1 – Quebra de Simetria Eletrofraca.
► Julho

Antes de começarmos, dê uma lida nesse texto aqui: Campos e Partículas. Eu vou
partir desse princípio.

O primeiro ponto a ser tratado é o que é a teoria eletrofraca e o que é uma quebra
de simetria eletrofraca. Partiremos desse ponto pelo fato de o mecânismo de Higgs,
que é o mecânismo com que algumas partículas ganham massa, ser uma quebra de
simetria eletrofraca no modelo padrão.

Então, cabe a nós agora entendermos como funciona a quebra de simetria


eletrofraca no modelo padrão.

Anteriormente abordei no texto sobre matéria e energia, que o que consideramos


matéria propriamente dita são os férmions, que como você sabe temos como
exemplo os quarks e elétrons, entre várias outras partículas. Os quarks interagem
fracamente, fortemente e eletromagnéticamente, enquanto os léptons, como o
elétrons, não interagem pela força forte. Em todo o caso, as interações fracas e
eletromagnéticas de ambos os quarks e léptons são descritos de forma
(parcialmente) unificada pela teoria eletrofraca. Resumindo, a teoria eletrofraca é
basicamente a unificação da força nuclear fraca com a força eletromagnética.

Ok, onde entra a simetria nisso?

Podemos dizer que o universo ama simetrias, e a grande matemática Noether


conseguiu mostrar que simetrias estão matematicamente relacionadas à
conservações de propriedades como a carga elétrica, por exemplo. Mas que tipo de
simetria são essas? Podemos dividir as simetrias nas leis da física em duas, as
Globais e as Locais. Simetrias Globais são aquelas aplicadas uniformemente sobre

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todos os pontos do espaço. Se pegarmos um balão e marcarmos seus meridianos e


paralelos (como na imagem a baixo), ao girarmos esse balão no seu eixo, por
exemplo, veremos que a nova posição do balão é idêntica a primeira, isso porque
todos os seus pontos foram girados de forma igual, sendo assim todos os pontos
sobre o balão sofrem o mesmo deslocamento angular, essas simetrias são as que
levam à conservação de cargas. As simetrias locais (também conhecidas como
Simetria de Gauge¹) são aquelas aplicadas a cada ponto do espaço, tomando a
mesma linha do exemplo anterior, é como se a simetria de local fizesse o balão
manter a mesma forma, porém dessa vez cada ponto irá se mover
independentemente, com isso surgirão forças aplicadas nos diversos pontos do
balão, causando uma deformação dos meridianos e dos paralelos.

Ape nas linhas paralelas

apenas os meridianos .

sobreposiç ão dos meridianos e para lelos

Em 1954, a dupla de físicos Yang e Mills, demonstrou que se uma interação física
tem simetria global e exigirmos que ela também seja invariante por simetria local,
teremos então que colocar novos campos na interação desejada, isso porque
precisamos dar origens àquelas forças “ponto-a-ponto” que surgem da simetria local.
Esses novos campos são chamados de campos de gauge, que serão muito
importantes para esse texto, uma vez que estão associados a bósons sem massa
(como o caso do fóton).

A interação fraca é descrita por um campo de gauge, assim ela possui simetria local,
um tipo específico que chamamos de SU(2), mas essa nomenclatura não importa

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muito para esse texto. Como sabemos, campos estão associados à partículas e as
partículas associadas a campos de gauge são bósons vetoriais massivos. Pô, mas eu
acabei de dizer acima que Yang-Mills previa bósons vetoriais não massivos, mas
agora a interação fraca requer bósons massivos?! Tem um problema aí?!

Sim, a teoria feita por Yang e Mills tinha um problema, quando ela tentava descrever
bósons massivos surgiam valores infinitos nas equações, e isso significa que alguma
coisa deu merda. Quando surgem infinitos em uma teoria dizemos que ela não é
uma teoria renormalizável para aquela situação, assim ela não funciona direito. A fim
de descrever a forma com que os bósons na teoria de Yang-Mills ganham massa,
algumas idéias foram propostas, e a princiapl delas pode ser vista nessa imagem
abaixo:

Esses papers, acima mostraram que os bósons vetoriais da Teoria de Yang-Mills


poderiam ganhar massa a partir de uma mecanismo que quebra esponataneamente
a simetria de gauge. Esse mecanismo é chamado de “mecanismo de higgs” e ele
quebra a simetria que impedia os bóson vetoriais ganharem massa. Podemos
chamar esse evento de quebra de simetria eletrofraca, pois está associado a essa
interação. A essa quebra de simetria eletrofraca existe um bóson associado, o bóson
de Englert-Brout-Higgs-Guralnik-Hagen-Kibble, injustamente conhecido apenas como
bóson de Higgs.

Tudo isso que vemos acima tem um paralelo direto com algo muito interessante.
Quando tentamos unir a gravidade com as outras forças da natureza, surgem
infinitos que não sabemos contornar, ou seja, temos uma teoria não renormalizável.
Para fazer essa renormalização construímos teorias como a Teoria de Cordas, que
tentam justamente dominar esses infinitos.

3.2 – Mecanismo de Higgs, e a coisa fica mais complicada.

Aqui vamos precisar de um pouco de matemática, mas não se assuste, muito


provavelmente você não irá entender algumas coisas, mas meu foco é que você
entenda ao menos o que cada termo das equações abaixo significa.

A pergunta inicial aqui é “como descrevemos um campo matematicamente ?”. Para


fazer isso nós usamos a energia do campo, subtraímos a energia potencial da
energia cinética do mesmo, da seguinte forma:

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L=K-U

K é o termo cinético e U é o termo potencial, a essa subtração damos o nome de


Lagrangiana. São essas lagrangianas que descrevem o comportamento do campo. Se
considerarmos um campo escalar massivo da seguinte forma:

Esse campo é chamado de dubleto, pois possui dois termos e o que nos interessa é
o de baixo, Φ⁰. Φ⁺ está associado a um campo não físico e Φ⁰ está associado ao
famoso campo de Higgs, dado por:

H é um campo real escalar associado ao bóson de Higgs e v é a relação μ divido pela


raiz quadrada de λ. A Lagrangiana² que descreve o campo é a seguinte:

Dμ é uma derivada covariante em quatro dimensões de Φ, "Dagger" (†) indica que é


um conjugado hermitiano da derivada de Φ e de Φ.

Tá, mas e agora? o que fazemos com isso?

O primeiro passo que devemos dar é esquecer o termo cinético e encontrar o termo
de potencial mínimo. Potencial mínimo pode ser entendido classicamente de forma
simples, imagine uma montanha russa, na parte mais alta dela a energia potencial é
máxima, na parte mais baixa a energia potencial é mínima, se o campo fosse uma
montanha russa nós estaríamos tentando encontrar a parte mais baixa dele. O
potencial mínimo é chamado de vácuo, e assim como a montanha russa, podemos
ter vários pontos de mínimo, ou seja, de vácuos. Quando formos tentar encontrar o
mínimo do potencial na lagrangiana do campo, nós encontraremos apenas um
vácuo de todos os possíveis. Nesse contexto a quebra espontânea de simetria
“escolhe” um vácuo possível do sistema. Ou seja, escolhe um mínimo do potencial.
Ok, eu sei, ficou confuso então tentarei dar um exemplo mais simples. Imagine que
você está em uma mesa de jantar redonda repleta de pessoas, e existem copos à
direita e a esquerda de cada pessoa, como na imagem a baixo.

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como você pode ver, o copo a esquerda de um se rá s empre o copo a direita do outro

a pessoa número 1 acabou fazer a escolha do copo a sua esquerda,


isso irá forçar a pessoa número 2 a escolher t ambém o copo da esquerda,
assim sucessivamente.

Antes de você escolher seu copo, todos têm a chance de escolher o copo da direita
ou da esquerda, porém se você resolver beber no copo da esquerda irá forçar as
outras pessoas a escolherem o copo da esquerda também. Isso é a quebra
espontânea de simetria. As pessoas representam o campo e o copo representa o
mínimo de potencial (vácuo).

minimo de potenc ial no campo de Higg s

Tomando o mínimo do potencial (derivando o potencial), como eu tinha dito,


obtemos:

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Agora basta fazer uma substituição direta de |Φ|² no potencial V e obtemos:

H é nosso Bóson de Higgs com massa de 2λv², o H³ e H⁴ são termos que chamamos
de auto-interação. Nós acabamos de fazer um monte de conta, mas o que elas
significam é algo ainda mais bonito. Traduzindo em palavras, o que temos é um
bóson vetorial que não possuía massa, mas após uma quebra espontânea de
simetria local ele ganha massa. Esse mecanismo de uma partícula sem massa ganhar
massa na quebra de simetria é chamado de mecanismo de Higgs e pode ser
resumido assim:

4 campos escalares + 4 bósons não massivos ---> 1 campo escalar + 3 bósons


massivos + 1 não massivo

Note que nesse resumo, um campo escalar massivo desaparece, isso acontece
porque o bóson sem massa “engole” esse campo e adquire massa. Da mesma forma
que fizemos para um bóson, podemos fazer para férmions, como é o caso do
elétron, mas aí é muito mais complicado e não cabe nesse texto.

Acima demonstrei e falei muitas coisas extremamente complicadas que só começam


a ser vistas pelos físicos no mestrado e doutorado, logo abaixo voltarei a tratar em
termos leigos alguns aspectos que considero importante sobre a existência do
campo de Higgs.

3.3 – Higgs existe? Ele está ligado ou desligado?

O Higgs está envolvido de formas diferentes à massa de determinadas partículas.


Por exemplo, o Higgs dá massa diretamente às partículas elementares conhecidas,
férmions e bóson, como elétrons, quarks, bóson Z e W, etc. Embora os prótons
sejam formados por 3 quarks, grande parte de sua massa vêm da interação forte.
Mas meu foco aqui será: o campo de Higgs existe? Se existe ele está “ligado” ou
“desligado”?

Começaremos com uma ilustração clássica e simples que é correlata – O campo


elétrico é bem diferente do campo de higgs em muitos aspectos, mas para esse
exemplo ele funciona bem. Vocês se lembram daquelas TV's de tubo de
antigamente? Então quando a ligávamos e passávamos perto da tela, sentíamos os
pelos do nosso braço se arrepiarem, nesse caso o campo elétrico estaria ligado. Um
campo elétrico desligado seria uma região neutra, como a que você está agora
provavelmente. Sendo assim, o campo elétrico existe e pode ser medido, mas ele
pode estar “ligado” ou “desligado”.

Com o Higgs acontece algo semelhante, se ele existir de fato no nosso universo, ele
pode estar “ligado” ou “desligado”. Detectar um bóson de Higgs confirma a existência
do campo de Higgs e mostra que ele está ligado. Usando o elétron como exemplo, se
o campo de Higgs não existisse, ele não teria massa. Se o campo de Higgs existisse,
mas não estivesse ligado, então sua massa seria menor do que a observada, pois

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teria origem na força nuclear forte e em pequenas interações entre os elétrons e o


campo de Higgs desligado.

Agora que sabemos onde, como e porquê o bóson de Higgs surge, vamos nos focar
em aspectos experimentais e propriedades específicas, mas esse texto já tem
informações demais, então darei uma semana para você tentar digerir isso tudo até
a postagem do próximo texto. Minha intenção na sequência é continuar fazendo um
misto de assuntos mais técnicos e com mais leigos, vamos analisar dados, falar de
acoplamento e outros termos técnicos e legais. Espero que tenham gostado.

Bibliografia:

- The Higgs Hunter's Guide - Dawson etall- 1990


- P.W. Higgs, Phys. Lett. 12 (1964) 132, Phys. Rev. Lett, 13 (1964) 508,
Phys. Rev. 145 (1966) 1156; F, Englert and E. Brout, Phys. Rev. Lett
13 (1964) 321; G-S. Guramik, C.R. Hagen and T.W.B. Kibble,
Phys. Rev. Lett. 13 (1964) 585; T.W.B. Kibble, Phys. Rev. 155 (1967)
1554.
- S. Weinberg, Phys. Rev. Lett. W (196?) 1264; A. Salam, Proceedings of
the 8th NoM Symposium (Stockholm), edited by N. Svartholm (A lmqvist
and Wiksell, Stockholm, 1968) p. 367.
- S. Glashow, Nvcl. Phys. 22 (1961) 579.
- M. Veltman, Acta Phys. Pol. B8 (1977) 475.
- B.W. Lee, C, Quigg and G.B. Thacker, Phys. Rev. Lett. 38 (1977) 883;
Phys. Rev. D16 (1977) 1519.
- L. Susskind, Phys. Rev. D20 (1979) 2619; S. Weinberg, Phys. Rev. D19
(1979) 1277.
- I.J.R. Aitchison and A.J.G. Hey, Gauge Theories in Particle Physics
(A dam Hilger, Bristol, 1982).
- T.-P. Cheng and L.-F. Li, Gange Theory of Elementary Particle Physics
(Oxford University Press, Oxford, 1984).
- H.E. Haber and G.L. Kane, Phys. Rep. 117C (1985) 75.
- Gauger Theories In Particle Physics.
- Higgs Boson Physics part I.
- Theory of Higgs Bosons: The Standard Model and Beyond.
- Introduction to the Physics of Higgs Bosons.

1 - Gauge pode também ser traduzido como "calibre". Viu que legal agora você já
sabe o que o nome desse blog significa.
2 - Eu escrevi na verdade uma densidade lagrangia e não uma lagrangiana em si,
embora todos tenham mania de chamar tudo de lagrangiana.
3 - Não repare nas imagens dos copos, fiz às pressas no Photoshop.

gostaria de agradecer a Rúbia Guimarães e Rebeca Nogueira pela bondade em


corrigir o português deplorável com o qual esse texto foi escrito.

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Anônimo 13 de outubro de 2013 20:58

Muito legal. Nunca havia lido um texto tão completo e ao mesmo


tempo tão fácil de entender sobre os bósons de Higgs. Sério cara,
até chorei aqui. Se esse texto fosse escrito no facebook eu daria
um like e ainda colocaria alguma imagem do tipo "pow kara legal,
xou fazer uns breiki dence aki pa tu" nos comentários.
Responder

Patricia S. 13 de outubro de 2013 21:55

Thiago não esta faltando a palavra "não" no texto abaixo ? (não


estivesse ligado )
..."Usando o elétron como exemplo, se o campo de Higgs não
existisse, ele não teria massa. Se o campo de Higgs existisse, mas
estivesse ligado, então sua massa seria menor do que a observada,
pois teria "....

* por favor não publique isso .....principalmente se o meu


comentario estiver errado ..kkkk
Responder

Respostas

Thiago Guimarães 13 de outubro de 2013 21:59

Está faltando sim, poderia jurar que já tinha arrumado


isso. Valeu

Thiago Guimarães 13 de outubro de 2013 22:02

pronto, arrumei. Muito obrigado mesmo por ter notado


isso.

Responder

Maria Lewtchuk Espindola 14 de outubro de 2013 06:08

O problema todo surge por causa de um detalhe nos fundamentos


da mecânica analítica, as soluções utilizadas por Hamilton da EDP
que define o Hamiltoniano (obtida quando substituímos o primeiro
conjunto de eqs. de movimento de Hamilton na definição da
função Hamiltoniana H=p (dq/dt) – L(q, (dq/dt),t) no caso de um
sistema de partículas ou a EDP variacional no caso das teorias de
campo) é a solução envoltória. (Two fold or A lternative
Hamiltonization.) Se ao invés desta utilizarmos outra solução,
como, por exemplo, a linear nos momenta (ou nas densidades de
momenta no caso da teoria de campos) obtemos uma função
Hamiltoniana (ou uma densidade Hamiltoniana) que não tem mais
problemas. E o caso usual é obtido quando impomos a condição
para se obter a solução envoltória. O problema que surge no caso
singular na teoria usual, desaparece pois nesse caso não existe
solução envoltória desde que a EDP é linear nos momenta, no
entanto temos outra solução. (Ou melhor outras soluções
considerando agora a Hamiltonização Direta que é a generalização
da Hamiltonização alternativa.) Apesar de obtermos a mesma
função Hamiltoniana (ou densidade Hamiltoniana), de Dirac no
caso singular não temos mais vínculos associados ao
Hamiltoniano, e portanto não necessitamos de formulações novas
para a mecânica quântica, e quem sabe poderíamos obter esses
resultados sem ter que apelar para partículas divinas… A diferença
básica entre a nossa teoria e a usual está no fato de que não

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15/10/13 Bóson de Higgs - Como, onde e porque surgiu.
assumimos, a priori, a definição de momenta como Hamilton, mas
esses passam a ser definidos pelo segundo conjunto de eqs. de
movimento de Hamilton, no caso de utilizarmos uma solução
quase geral linear nos momenta, ou a definição usual quando é
imposta a condição de solução envoltória. Sendo que a nossa
Hamiltonização é canônica.
Responder

Respostas

Thiago Guimarães 14 de outubro de 2013 10:54

Olá, você tem um paper sobre isso para eu dar uma lida?
Da forma que você expôs ficou um pouco confuso para
mim.

Maria Lewtchuk Espindola


14 de outubro de 2013 17:53
Thiago o último que é um
resumo sobre toda a teoria e a generalização dessa é:
"DIRECT HAMILTONIZATION - GENERALIZATION OF A N
ALTERNATIVE HAMILTONIZATION", Maria Lewtchuk
Espindola
DOI No: 10.1142/S0218127412501350. Mas não sei se o
acesso é simples. Por outro lado todos os meus trabalhos
e do meu marido (Oslim Espindola - falecido) estão no
site da Academia.edu, no Researchgate. A gora posso
mandr todos se você quiser só me mandar o endereço. O
trabalho inicial é o ""Hamiltonization" as a twofold
procedure" e "Field-theory Hamiltonization as a twofold
procedure" ambos publicados no publicado no Hadronic
Journal : Vol. 9 , pp.121-123, 1986 e Vol. 10, pp. 83-86,
1987. A sim como o "Hamiítonízation for singular and
nonsinguíar mechanics", no J. Math. Phys. 28 (4), 1987,
pp. 807-809.

Maria Lewtchuk Espindola


14 de outubro de 2013 17:58
Meu email é
mariia@mat.ufpb.br. E ainda queria acrescentar que os
seus textos são ótimos e muito bem escritos fazendo com
que a compreensão se torne fácil mesmo para quem
como eu não tenho quase nenhum conhecimento de
física das particulas.

Thiago Guimarães 14 de outubro de 2013 18:31

Maria Lewtchuck Espindola. Muito obrigado acabei de


pegar os papers aqui. O acesso de fato é restrito, mais
usei o sistema VPN da universidade. Mas eu adoraria sim
receber os seus trabalho. Meu e-mail é
phystmg@gmail.com

Mais uma vez, muito obriado

Felix Hiroaki Koga 15 de outubro de 2013 08:48

Excelente texto! Obrigado!

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Responder

lucenalex 14 de outubro de 2013 11:09

Olá Thiago! O seu blog é fantástico e eu o acompanho sempre e


ainda faço campanha de divulgação do mesmo! Parabéns!
Eu gostaria de conhecer um mais sobre o seu trabalho, pois eu
também estou fazendo algo com vórtices no meu mestrado, no
entanto, o meu trabalho esta no contexto das teorias de violação
de simetria de Lorentz. Senti-me menos culpado quando você
disse "acho que nem eu entendo direito", porque é assim mesmo
que me sinto...rsrsrs...

Abraços e sucesso!!!!
Parabéns pelo blog!!!!
Responder

lucenalex 14 de outubro de 2013 11:37

Teve um trecho que fique confuso:


"A teoria diz que as partículas não deveriam ter massa e, portanto
viajar a velocidade da luz, como acontece com o fóton."

acho que o que vc quiz dizer é que:

A teoria diz que as partículas não deveriam ter massa e, mas,


portanto, que deveriam viajar a velocidade da luz, como acontece
com o fóton.

Não precisa pública este poste! É apenas uma contribuição para


torna o texto mais claro. Desconsidere o cometário se eu estiver
errado! Obrigado!!!
Responder

Anônimo 14 de outubro de 2013 19:04

Grande abraço de um leigo que sempre quis ler um texto desses.


O que captei muito claramente, e achei bem lega, pois não
imaginava que era assim foi a coisa de considerar como
descoberta um partícula só depois do dado probabilístico
ultrapassar os 99,99% (3 Sigmas)
Ismar Curi
Responder

Respostas

Thiago Guimarães 15 de outubro de 2013 11:42

fico feliz com isso Ismar. O que tento fazer aqui é agradar
leigos e especialistas que buscam uma abordagem
didática de determinados assuntos, é sempre um grande
desafio para mim. No próximo texto sobre o Higgs eu
vou falar da parte experimental exatamente, aí tratarei
esse assunto de probabilidade, precisão e etc.

Responder

Alexandre Carvalho 14 de outubro de 2013 20:37

Muito bom seu texto!

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