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Luís Vaz de Camões parte A

10ºANO
Professora: Lurdes Augusto
Época - 1524 (?) - 1580

Professora: Lurdes Augusto


Em síntese:
Características gerais:
* Racionalidade
* Rigor Científico
* Dignidade do Ser Humano
* Ideal Humanista
* Reutilização das artes greco-romana s

a) Racionalismo – a razão é o único caminho para se chegar ao conhecimento.


b) Experimentalismo – todo o conhecimento deverá ser demonstrado
racionalmente.
c) Antropocentrismo – colocava o homem como a suprema criação de Deus e como
o centro do universo.
d) Humanismo – glorificação do homem e da natureza humana, em contraposição
ao divino e ao sobrenatural.
e) Classicismo - movimento cultural que valoriza e recupera os elementos artísticos
da cultura clássica (greco-romana). Ocorreu nas artes plásticas, teatro e literatura,
nos séculos XIV ao XVI.
Mitificação do herói
Mitificação do herói

• Exaltação dos heróis;


• Verdadeiros símbolos da capacidade de ultrapassar “a força humana” e de
merecerem um lugar na memória;
• Vasco da gama é mais do que um herói individual ou a representação do
herói coletivo, representa o espírito de aventura;
• A viagem é mais do que um percurso é a passagem do desconhecido, do
velho continente, do medo de mitos indefinidos ao conhecimento e à
realidade de um mundo a descobrir;
Reflexões do poeta
Crítica ao
desprezo pelas Contra a má
artes e pelas prática religiosa
letras

Crítica à vã
Contra a cobiça e Glória, ao desejo
as desigualdades de Fama e à
Linha moral cobiça.

Contra a
Elogio da degeneração da
experiência nobreza e ainda
O Poder do amor contra a
adulação
As características da epopeia:
• A epopeia é um género narrativo em verso;
•é um género narrativo e que exige a presença de uma ação, desempenhada por personagens num
determinado tempo e espaço.
• visa celebrar feitos grandiosos de heróis fora do comum reais ou lendários.;
• tem pois sempre um fundo histórico;
• funciona como um exemplo universal;
•PRESENÇA DE MITOLOGIA GRECO-LATINA - contracenando heróis mitológicos e heróis humanos.
• O estilo é elevado e grandioso e possui uma estrutura interna própria:
- PROPOSIÇÃO - em que o autor apresenta a matéria do poema;
- INVOCAÇÃO – pedido de inspiração às musas ou outras divindades e entidades míticas protetoras das
artes;
- DEDICATÓRIA - em que o autor dedica o poema a alguém (facultativa);
- NARRAÇÃO - a ação inicia-se já no decurso dos acontecimentos (“in media res”), sendo a parte inicial
narrada posteriormente num processo de retrospetiva, “flash-back” ou “analepse”;
• Tem uma estrutura externa própria ( no caso de Os Lusíadas):
- Divisão em dez cantos
- cada canto dividido em estâncias
- cada estância com oito versos
- cada verso com dez silabas métricas - decassilabos Ver silabas
métricas
A narrativa organiza-se em quatro planos:
Plano da viagem - A viagem de Vasco da Gama de Lisboa até à Índia.
Saída de Belém, paragem em Melinde e chegada a Calecut e por fim, regresso a Lisboa

Plano Mitológico, em alternância, ocupa uma posição importante.

Plano da História de Portugal – Quando Vasco da Gama ou outro


narrador conta, por exemplo ao rei de Melinde, a História de Portugal.
Está encaixada na viagem.

Plano do Poeta – ou as considerações pessoais aparecem normalmente


nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a visão crítica do
poeta sobre o seu tempo.

A narrativa organiza-se de forma anacrónica:

Passado – reconto da História de Portugal desde as origens até D. Manuel I. (analepse)

Presente – tempo da acção central do poema, ou seja, da viagem de Vasco da Gama,


iniciada “ in media res”.

Futuro – Profecias . (prolepse)


Proposição I
As armas, e os barões assinalados Todos os homens ilustres
Sinédoque – Que, saíram de Portugal
apresentar a Que, da Ocidental praia Lusitana,
parte pelo E foram por mares desconhecidos -
todo
Por mares nunca dantes navegados, navegadores
Passaram além da já conhecida ilha de
Passaram ainda além da Taprobana, Ceilão

Em perigos e guerras esforçados Enfrentaram perigos enormes,


Mesmo superiores ao seu estatuto de
Hipérbole –
exagero da Mais do que prometia a força humana, ser humano – afasta-os do comum
realidade mortal
E entre gente remota edificaram Construíram um novo império em
terras distantes. Um reino que tanto
Novo Reino, que tanto sublimaram; desejaram

 O sujeito poético começa por apresentar os destinatários da epopeia, valorizando já os


seus feitos e aproximando-os já de um estatuto acima do humano.

 Fazem-se referências a factos históricos e locais concretos.


Gerúndio –
processo de
enumeração continuidade
II
E também as memórias gloriosas E aqueles reis que estiveram
envolvidos na reconquista cristã
Daqueles Reis que foram dilatando /nas cruzadas contra os
Conjunção
coordenativa mouros/infiéis em África e na
copulativa – A Fé, o Império, e as terras viciosas
Ásia
enumeração de
figuras a ser De África e de Ásia andaram devastando; E aqueles que fazem obras com
exaltadas
E aqueles que por obras valerosas valor e que, por isso, não cairão
no esquecimento – vão –se
Se vão da lei da Morte libertando. imortalizando

O sujeito poético compromete-


Cantando espalharei por toda
toda aa parte,
parte,
se a exaltar a louvar, a cantar os
Se a tanto me ajudar oo engenho
engenho ee arte.
arte. feitos daqueles que enumerou
anteriormente. Usando a
1ª pessoa do primeira pessoa – plano do
singular – poeta.
envolvimento do
poeta
Herói de Herói de
Odisseia - Eneida -
III Ulisses Eneias
Cessem do sábio Grego e do Troiano Num tom imperativo, de ordem
As navegações grandes que fizeram; manda suspender/cessar a fama
Imperativo dos gregos e romanos
Cale-se de Alexandro e de Trajano
Manda suspender a fama das
A fama das vitórias que tiveram; vitórias de reis e imperadores
clássicos
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
Porque o poeta louva o povo
A quem Neptuno e Marte obedeceram. lusitano ao qual pertence.
Conjunção Povo esse que dominou o mar
subordinativa Cesse tudo o que a Musa antiga canta, (Neptuno)e a guerra (Marte).
causal (= porque)
. Apresenta a Que outro valor mais alto se alevanta.
causa da Continua em tom imperativo,
desvalorização ordenando que os clássicos
dos clássicos
Neptuno – deus do mar suspendam a sua fama, porque
Marte – deus da guerra agora há um novo povo que
1ª pessoa do
Patriotismo, apresenta feitos ainda com mais
singular –
valores
envolvimento
nacionais valor.
do poeta

 Para demonstrar a superioridade e a legitimidade da realização desta epopeia, o


poeta compara os feitos dos Portugueses aos de Ulisses, herói da Odisseia de Homero e
aos de Eneias, o troiano que, na Eneida de Virgílio, chegou ao Lácio e fundou Roma, ou
seja compara o seu herói com os heróis das epopeias de referência.
Proposição e os três grandes grupos
que constituem o herói coletivo

Canto I, est. 1-3,


• Camões proclama ir cantar as grandes vitórias e os homens ilustres –
“as armas e os barões assinalados”;

• As conquistas e navegações no Oriente (reinados de D. Manuel e de D. João III);

As vitórias em África e na Ásia desde D. João a D. Manuel, que dilataram “a fé e o


império”;

• e, por último, todos aqueles que pelas suas obras valorosas “se vão da lei da morte
libertando”, todos aqueles que mereceram e merecem a “imortalidade” na memória
dos homens.
A proposição aponta também para os “ingredientes” que constituem os quatro planos
do poema:

Plano da Viagem - celebração de uma viagem:


"...da Ocidental praia lusitana / Por mares nunca dantes navegados
/ Passaram além da Tapobrana...";

Plano da História - vai contar-se a história de um povo:


"...o peito ilustre lusitano..."."...as memórias gloriosas /
Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o império e as
terras viciosas / De África e de Ásia...";

Plano dos Deuses (ou do Maravilhoso) aos quais os Portugueses se equiparam:


"... esforçados / Mais do que prometia a força humana..."."A quem Neptuno e Marte
obedeceram...";

Plano do Poeta - em que a voz do poeta se ergue, na primeira pessoa:


"...Cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e
arte..."."...Que eu canto o peito ilustre lusitano...".
Invocação
Canto I, est. 4-5, o poeta pede ajuda a entidades mitológicas, chamadas musas. Isso
acontece várias vezes ao longo do poema, sempre que o autor precisa de inspiração:

Tágides ou ninfas do Tejo (Canto I, est. 4-5);

Calíope - musa da eloquência e da poesia épica (Canto II, est. 1-2);

Ninfas do Tejo e do Mondego (Canto VII, est. 78-87);

Calíope (Canto X, est. 8-9);

Calíope (Canto X, est. 145).


Algumas curiosidades:

Conta o Mito que, após a vitória dos deuses do Olimpo sobre os seis filhos de Urano, conhecidos como
titãs, foi solicitado a Zeus que se criassem divindades capazes de cantar a vitória e perpetuar a glória
dos Olímpicos.
Zeus então partilhou o leito com Mnemósine, a deusa da memória, durante nove noites consecutivas e,
um ano depois, Mnemósine deu à luz nove filhas num lugar próximo ao monte Olimpo. Criou-as ali o
caçador Croto, que depois da morte foi transportado, pelo céu, até a constelação de Sagitário.

As musas cantavam o presente, o passado e o futuro, acompanhados pela lira de Apolo, para deleite
das divindades do panteão. Eram, originalmente, ninfas dos rios e lagos. O seu culto era originário da
Trácia ou em Piéria, região a leste do Olimpo, de cujas encostas escarpadas desciam vários rios
produzindo sons que sugeriam uma música natural, levando a crer que a montanha era habitada por
deusas amantes da música. Nos primórdios, eram apenas deusas da música, formando um maravilhoso
coro feminino. Posteriormente, suas funções e atributos diversificaram-se.

As suas moradas, normalmente estavam situadas próximas das fontes e riachos, ficavam na Pieria,
leste do Olimpo (musas pierias), no monte Helicon, na Beócia (musas beócias) e no monte Parnaso em
Delfos (musas délficas). Nesses locais dançavam e cantavam, acompanhadas muitas vezes de Apolo
(líder das musas). Eram bastante zelosas da sua honra e puniam os mortais que ousassem presumir
igualdade com elas na arte da música.

O coro das musas tornou o seu lugar de nascimento um santuário e um local de danças especiais.
Também frequentavam o monte Hélicon, onde duas fontes, Aganipe e Hipocrene, tinham a virtude de
conferir inspiração poética a quem bebesse as suas águas. Ao lado das fontes, faziam graciosos
movimentos de uma dança, com os seus pés incansáveis, enquanto exibiam a harmonia de suas vozes
cristalinas.
Anáfora - é uma figura de estilo que Mod.
consiste em repetir a mesma palavra Metáfora –
ou expressão apositivo Perífrase dar coragem
Invocação estrofes 4-5 Apóstrofe inspira a
vontade e a
ação
E vós, Tágides minhas, pois criado
Invocar significa apelar, pedir, suplicar.
Tendes em mi um novo engenho ardente Daí a presença do Imperativo.
Se sempre, em verso humilde, celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente, Nestas estrofes, Camões dirige-se às
Tágides, as ninfas do Tejo, pedindo-lhes
Dai-me agora um som alto e sublimado que o ajudem a cantar os feitos dos
Um estilo grandíloco e corrente, portugueses de uma forma sublime.
Por que de vossas águas Febo ordene Até aí apenas usou a inspiração na
Que não tenham enveja às de Hipocrene. humilde lírica, mas agora precisa de
uma inspiração superior.

Dai-me hua fúria grande e sonorosa, O estilo da epopeia aparece aqui descrito:
E não de agreste avena ou frauta ruda, “alto e sublimado”
”Um estilo grandíloco e corrente.“
Mas de tuba canora e belicosa,
“fúria grande e sonorosa”
Que o peito acende e a cor ao gesto muda. “tuba canora e belicosa”
Dai-me igual canto aos feitos da famosa “Que se espalhe e se cante no Universo”
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
-“Que se espalhe e se cante no Universo, Se
Que se espalhe e se cante no Universo tão Sublime preço cabe em verso” Ou seja,
Se tão sublime preço cabe em verso. Camões quer que a mensagem se espalhe e
que cante ao universo os feitos dos
Conjunção Imperativo portugueses
subordinativa
condicional
Dedicatória
Canto I, est. 6-18, é o oferecimento do poema a D.
Sebastião, que encara toda a esperança do poeta,
que quer ver nele um monarca poderoso, capaz de
retomar “a dilatação da fé e do império” e de
ultrapassar a crise do momento.

Termina com uma exortação ao rei para que


também se torne digno de ser cantado,
prosseguindo as lutas contra os Mouros.

Exórdio (est. 6-8) - início do discurso;

Exposição (est. 9-11) - corpo do discurso;

Confirmação (est. 12-14) - onde são apresentados os exemplos;

Peroração (est. 15-17) - espécie de recapitulação ou remate;

Epílogo (est. 18) - conclusão.


Algumas curiosidades:

- Filho do príncipe D. João e de D. Joana de Áustria;


- nasceu em Lisboa a 20 de janeiro de 1554, e morreu em
Alcácer Quibir, a 4 de agosto de 1578.

- Sucedeu a seu avô D. João III


o seu nascimento foi esperado com ansiedade, enchendo
de júbilo o povo, pois a coroa corria o perigo de vir a ser
herdada por outro neto de D. João III, o príncipe D. Carlos,
filho de Filipe II de Espanha.
- De saúde precária, D. Sebastião mostrou desde muito cedo duas grandes
paixões: a guerra e o zelo religioso. Cresceu na convicção de que Deus o criara
para grandes feitos;
- Foi educado entre dois partidos palacianos de interesses opostos - o de sua avó
que pendia para a Espanha, e o do seu tio-avô o cardeal D. Henrique favorável a
uma orientação nacional.

- D. Sebastião, desde a sua maioridade, afastou-se abertamente dum e doutro,


aderindo ao partido dos validos, homens da sua idade, temerários a exaltados, que
estavam sempre prontos a seguir as suas determinações.
- Tinha o sonho de sujeitar a si toda a Berbéria e trazer à sua soberania a veneranda
Palestina,

- nunca se interessou pelo povo, nunca reuniu cortes nem visitou o País, só
pensando em recrutar um exército e armá-lo, pedindo auxílio a Estados
estrangeiros, contraindo empréstimos a arruinando os cofres do reino, tendo o
único fito de ir a África combater os mouros.

- Chefe de um numeroso exército, na sua maioria aventureiros e miseráveis, parte


para a África em Junho de 1578; chega perto de Alcácer Quibir a 3 de agosto e a
4, o exército português esfomeado e estafado pela marcha e pelo calor, e dirigido
por um rei incapaz, foi completamente destroçado, figurando o próprio rei entre os
mortos.
- D. Sebastião (1554-1578) transformou-se num mito após o seu
desaparecimento na batalha de Alcácer Quibir, no norte de África. A sua morte
abriu as portas à crise dinástica que vai colocar os reis de Espanha no trono
português.

- ver:: http://ensina.rtp.pt/artigo/d-sebastiao-1554-1578/#sthash.LRDQ0veF.dpuf
Dedicatória estrofes 6-8
Metáfora e Apóstrofe : Vós, tenro e novo ramo florecente”,
E vós, ó bem nascida segurança -“E vós” 6estrofe-1linha: A D.Sebastião
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança -“Maravilha Fatal da Nossa Idade”: Elogio a D.Sebastião

Exórdio (est. 6-8) - início do discurso;


De aumento da pequena Cristandade,
Vós, ó novo temor da Maura lança,
Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Pera do mundo a Deus dar parte grande.
Vós, tenro e novo ramo florecente,
De hua árvore, de Cristo mais amada
Que nenhua nascida no Ocidente,
Cesária ou Cristianíssima chamada,
Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
As que Ele pera Si na Cruz tomou;
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E, quando dece, o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do tope Ismaelita cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio
Que inda bebe o licor do santo Rio: (...)
. O sujeito lírico usa o imperativo para pedir a atenção do rei;
. Reforça novamente a juventude, a majestade e superioridade do rei;
. O sujeito poético apresenta-se como um humilde servo (“ Ponde no chão”);

Exposição (est. 9-11) - corpo do discurso;


. Reforça o seu patriotismo.

9
Inclinai por um pouco a majestade
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Perífrase - morte
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valerosos,
Em versos divulgado numerosos.
. Camões refere que
escreverá não para ser
10 reconhecido, pois é

Exposição (est. 9-11) - corpo do discurso;


Vereis amor da pátria, não movido impulsionado pelo
De prémio vil, mas alto e quási eterno; patriotismo.
Que não é prémio vil ser conhecido . Através do uso do
Por um pregão do ninho meu paterno. imperativo, Camões
Ouvi: vereis o nome engrandecido pede a atenção ao rei e
Perífrase Daqueles de quem sois senhor supremo, reforça que louvará os
E julgareis qual é mais excelente, portugueses de quem
ele tem o privilégio de
Hipérbole Se ser do mundo Rei, se de tal gente. ser Rei.

11
Ouvi, que não vereis com vãs façanhas, . O que irá ser
Imperativo
Fantásticas, fingidas, mentirosas, contado é verdade
Louvar os vossos, como nas estranhas e não fantasia
Musas, de engrandecer-se desejosas: como acontece em
As verdadeiras vossas são tamanhas alguns casos;
Que excedem as sonhadas, fabulosas, . O que se vai
Anáfora
Que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro contar excede o
E Orlando, inda que fora verdadeiro. que já foi contado.
.
12 - Nuno Álvares Pereira – líder militar

Confirmação (est. 12-14) - onde são apresentados os exemplos


Por estes vos darei um Nuno fero, - Egas Moniz – aio de D. Afonso
Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço, Henriques
Um Egas e um Dom Fuas, que de Homero - Homero – escritor grego da Ilíada e
A cítara par'eles só cobiço; Odisseia
Pois polos Doze Pares dar-vos quero - Doze nobre – Carlos Magno
- Guerreiros portugueses – história
Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço; lendária
Dou-vos também aquele ilustre Gama, - Vasco da Gama – navegador
Que para si de Eneias toma a fama. - Eneias – herói da Eneida de Virgílio

Pois se a troco de (Carlos, Rei de França, - Carlos Magno – 1º imperador do


Ou de César, quereis igual memória, império romano e germânico
Vede o primeiro Afonso, cuja lança - Júlio Cesar – conquistador das Gálias
- D. Afonso Henriques
Escura faz qualquer estranha glória;
Perífrase
: E aquele que a seu Reino a segurança - D. João I – vencedor de Aljubarrota
D. João I Deixou, com a grande e próspera vitória; - D. João II, o príncipe perfeito (1455-
Outro Joane, invicto cavaleiro; 1495)
O quarto e quinto Afonsos e o terceiro. - D. Afonso III, IV e V

Nem deixarão meus versos esquecidos - Todos os que lutaram na Índia


Aqueles que nos Reinos lá da Aurora - Duarte Pacheco Pereira, navegador,
Perífrase Se fizeram por armas tão subidos, militar e cosmógrafo (1460-1533)
Vossa bandeira sempre vencedora: - D. Francisco de Almeida e filho, 1º vice-
Um Pacheco fortíssimo e os temidos rei da Índia
Almeidas, por quem sempre o Tejo chora, - Afonso de Albuquerque, 2ºVice-rei da
Albuquerque terríbil, Castro forte, Índia
- D. João de Castro, governador, vice-rei
E outros em quem poder não teve a morte da Índia (1500-1548)
12

Confirmação (est. 12-14) - onde são apresentados os exemplos


Por estes vos darei um Nuno fero,
Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço,
Um Egas e um Dom Fuas, que de Homero
A cítara par'eles só cobiço;
Pois polos Doze Pares dar-vos quero São apresentados
Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço; exemplos variados
Dou-vos também aquele ilustre Gama, de figuras
Que para si de Eneias toma a fama. portuguesas reais ou
Pois se a troco de (Carlos, Rei de França,
lendárias de renome:
Ou de César, quereis igual memória, reis, governadores,
Vede o primeiro Afonso, cuja lança navegadores, vice-
Escura faz qualquer estranha glória; reis, aio.
Perífrase
: E aquele que a seu Reino a segurança
D. João I Deixou, com a grande e próspera vitória; Estabelece-se a
Outro Joane, invicto cavaleiro; relação com algumas
O quarto e quinto Afonsos e o terceiro. Figuras da
Nem deixarão meus versos esquecidos
antiguidade.
Aqueles que nos Reinos lá da Aurora
Perífrase Se fizeram por armas tão subidos,
Vossa bandeira sempre vencedora:
Um Pacheco fortíssimo e os temidos
Almeidas, por quem sempre o Tejo chora,
Albuquerque terríbil, Castro forte,
E outros em quem poder não teve a mor
15
E, enquanto eu estes canto - e a vós não posso,

Peroração (est. 15-17) - espécie de recapitulação ou remate;


Sublime Rei, que não me atrevo a tanto - ,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso: . Camões acrescenta que
Futuro canta estes que enumerou,
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Comecem a sentir o peso grosso mas ainda não se atreve a
Hipérbole (Que polo mundo todo faça espanto) cantar os feitos do reinado de
Hipérbole De exércitos e feitos singulares, D. Sebastião.
De África as terras e do Oriente os mares. Considera que D. Sebastião
16 tem tudo para liderar o seu
Em vós os olhos tem o Mouro frio, povo e ser autor de grandes
Em quem vê seu exício afigurado; feitos em África e no Oriente.
Só com vos ver, o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo já inclinado; . Refere que os mouros temem D.
Tétis todo o cerúleo senhorio Sebastião e preveem a sua
Tem pera vós por dote aparelhado, perdição. Mostram-se já disponíveis
Que, afeiçoada ao gesto belo e tento, para se entregar.
Deseja de comprar-vos pera genro. . A deusa do mar que está disponível
17 para aceitar D. Sebastião = sucesso
Em vós se vêm, da Olímpica morada, no mar.
Dos dous avós as almas cá famosas;
D. João III . D. Sebastião é descendente de D. João
üa, na paz angélica dourada,
Carlos V III e Carlos V, que são apresentados
Outra, pelas batalhas sanguinosas.
com origem divina.
Em vós esperam ver-se renovada
. Agora há a esperança que o valor dos
Sua memória e obras valerosas;
antepassados seja continuada por D.
E lá vos têm lugar, no fim da idade,
Sebastião.
No templo da suprema Eternidade.
. Desta forma alcançará a glória imortal.
Os Lusíadas

Epílogo (est. 18) - conclusão.


18
Mas, enquanto este tempo passa lento
De regerdes os povos, que o desejam,
Dai vós favor ao novo atrevimento,
Pera que estes meus versos vossos sejam,
E vereis ir cortando o salso argento
Os vossos Argonautas, por que vejam
Que são vistos de vós no mar irado,
E costumai-vos já a ser invocado.

. Referência à estagnação do país;


. Entretanto, Camões pede que a sua obra tenha o seu lugar e
oferece os seus versos ao rei;
. Antecipa mais uma vez a temática do mar e o louvor futuro ao rei
D. Sebastião.
Questionário:

- Relaciona o assunto das estâncias 11 a 14 com o conteúdo da


Proposição.

- Explica o uso do Imperativo e do Vocativo nas estâncias da


Dedicatória.

- Explica de que forma está presente na Dedicatória o passado, o


presente e o futuro de Portugal.
Narração
Começa no Canto I, est. 19
• constitui a ação principal que, à maneira clássica, se inicia “in media res”, isto é,
quando a viagem já vai a meio, “Já no largo oceano navegavam”, encontrando-se já
os portugueses em pleno Oceano Índico.

• Este começo da ação central, a viagem da descoberta do caminho marítimo para a


Índia, quando os portugueses se encontram já a meio do percurso do canal de
Moçambique, e vai permitir:
 A narração do percurso até Melinde (narrador heterodiegético);

 A narração da História de Portugal até à viagem (por Vasco da Gama);

 A inclusão da narração da primeira parte da viagem (por Vasco da Gama);

 A apresentação do último troço da viagem (narrador heterodiegético).


Consílio dos Deuses - plano mitológico Canto I – 19-41c
Consílio dos Deuses - plano mitológico Canto I – 19-41c
Os Deuses reúnem-se para decidir se ajudam ou não os portugueses a chegar à Índia.
Esta reunião foi presidida por Júpiter, tendo estado presentes todos os Deuses convocados.
Os Deuses sentem a necessidade de reunir face aos feitos gloriosos conseguido até ao
momento.

Júpiter decide ajudá-los, pois considera que os portugueses, pelos seus feitos passados,
são dignos de tal ajuda.
Baco, pelo contrário, não queria que os portugueses fossem para a Índia, com medo
de perder a sua fama no Oriente.
Vénus apoia Júpiter, pois vê refletida nos portugueses a força e a coragem do seu filho
Eneias e dos seus descendentes, os romanos. Vénus defende os portugueses não só por se
tratar de uma gente muito semelhante à do seu amado povo latino e com uma língua
derivada do Latim, como também por terem demonstrado grande valentia no norte de
África. Sabe ainda que será louvada onde os portugueses tiverem sucesso.
Marte - deus defensor desta gente lusitana, porque o amor antigo que o ligava a Vénus o
leva a tomar essa posição e porque reconhece a bravura deste povo. Marte consegue
convencer Júpiter a não abdicar da sua decisão e assim, os portugueses serão recebidos
num porto amigo. Pede a Mercúrio - o Deus mensageiro - que colha informações sobre a
Índia, pois começa a desconfiar da posição tomada por Baco.
Este consílio termina com a decisão favorável aos portugueses e cada um dos deuses
regressa ao seu domínio celeste.
. Tenta ainda desviar a frota para Mombaça, onde Vasco da Gama acredita que
poderá encontrar nativos com a fé cristã;
. Mais uma vez Baco intriga o rei, mais uma vez Vénus protege os portugueses;

. Plano do Poeta

- Escurso de caráter filosófico da reflexão sobre as falsidades da vida


- Fragilidade do Homem
- Extrema insegurança em que se encontra o Homem
- Onde o homem deposita grande esperança é onde sucede o grande perigo;
- Passa de um acontecimento particular para a dimensão universal – epopeia
- O homem luta contra forças muito fortes:
no mar há o perigo, tormenta e a morte
na terra há guerra, engano e traição
- Ser humano é “um bicho da terra tão pequeno”
- Levanta questões:
- Poderá o homem ultrapassar a sua pequenez?
- Na proposição já respondera: os homens vencem o poder da morte

- O homem infinitamente pequeno vai tornar-se infinitamente grande,


apesar da sua fragilidade
Canto I – Plano do Poeta estâncias 103-106

103
Estava a ilha à terra tão chegada,
Que um estreito pequeno a dividia;
Uma cidade nela situada, Localização e descrição da
Que na fronte do mar aparecia, cidade de Mombaça
De nobres edifícios fabricada,
Como por fora ao longe descobria,
Regida por um Rei de antiga idade:
Mombaça é o nome da ilha e da cidade.

E sendo a ela o Capitão chegado, Vasco da Gama chega ao


Estranhamente ledo, porque espera local e vem muito feliz, pois
De poder ver o povo batizado, acredita encontrar um povo
Como o falso piloto lhe dissera, cristianizado.
Eis vêm batéis da terra com recado
Do Rei, que já sabia a gente que era: No entanto, Baco tinha
Que Baco muito de antes o avisara, intrigado o rei contra os
Na forma doutro Mouro, que tomara. portugueses.
Interjeição e exclamação =
Hipérbole expressividade
105
O recado que trazem é de amigos, Traição: oposição entre a
Mas debaixo o veneno vem coberto; aparência de amigos e a verdade
Que os pensamentos eram de inimigos, do veneno
Segundo foi o engano descoberto.
Ó grandes e gravíssimos perigos! Reflexão do poeta:
Ó caminho de vida nunca certo:
Que aonde a gente põe sua esperança, Tom de lamento, desilusão em
Tenha a vida tão pouca segurança! relação à fragilidade da vida humana;
Onde o homem deposita grande
No mar tanta tormenta, e tanto dano, esperança é onde sucede o grande
Tantas vezes a morte apercebida! perigo.
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida! O homem luta contra forças muito
Onde pode acolher-se um fraco humano, fortes: no mar há o perigo,
Onde terá segura a curta vida, tormenta e a morte
Que não se arme, e se indigne o Céu sereno na terra há guerra, engano e
Contra um bicho da terra tão pequeno? traição

Interrogação retórica = reflexão e dimensão filosófica:


Poderá o homem ultrapassar a sua pequenez? (Na proposição já respondera: os homens vencem o poder da morte)
O homem infinitamente pequeno vai tornar-se infinitamente grande, apesar da sua
fragilidade
Questionário:

- Relaciona as estâncias 105 e 106 do Canto I com a imagem.


Canto IV – Plano da História de Portugal / narrador: Vasco da Gama
Despedidas de Belém e Velho do Restelo/ estâncias 84 – 93
estâncias 94 - 104

Mar Português

O homem do leme
O projecto para o caminho marítimo para a Índia foi
delineado por D. João II como medida de redução dos
custos nas trocas comerciais com a Ásia e tentativa de
monopolizar o comércio das especiarias. A juntar à cada
vez mais sólida presença marítima portuguesa, D. João
almejava o domínio das rotas comerciais e expansão do
reino de Portugal que já se transformava em Império.
D. João II - 3 de Maio
de 1455 – Alvor, 25 de Porém, o empreendimento não seria realizado durante o
Outubro de 1495 seu reinado. Seria o seu sucessor, D. Manuel I que iria
designar Vasco da Gama para esta expedição, embora
mantendo o plano original.

Na preparação da partida das naus de Vasco da


Gama para a Índia, sobressai no meio da
confusão um alvoroço e ao mesmo tempo um
desejo de alcançar o trajeto pretendido.
Após a citação do chamado Velho do Restelo,
deu-se a partida; ficaram para trás as terras
D. Manuel - 31 de portuguesas e apenas o mar e o céu infinitos
Maio de 1469 — cabiam na visão dos lusitanos.
Lisboa, 13 de
Dezembro de 1521)
Partida das naus , o velho do restelo -
Plano da História de Portugal e início da viagem (narrador – Vasco da Gama) Canto – IV 83-89 / 94-104

Preparação do rei Foram de Emanuel remunerados, D. Manuel é o responsável pela


Porque com mais amor se apercebessem, organização deste grupo. Tê-
E com palavras altas animados lo-á incentivado e motivado.
Para quantos trabalhos sucedessem.
Assim foram os Mínias ajuntados, Tal como já acontecera no mar
Para que o Véu dourado combatessem, Negro
Na fatídica Nau, que ousou primeira
Tentar o mar Euxínio, aventureira.
Apresentação dos
84
marinheiros e
E já no porto da ínclita Ulisseia Já no Porto de Lisboa, em
soldados
C'um alvoroço nobre, e é um desejo, Belém, onde o rio Tejo
Perífrase -
(Onde o licor mistura e branca areia encontra o mar.
Lisboa Co'o salgado Neptuno o doce Tejo)
As naus prestes estão; e não refreia As naus já estão prontas e o
Narrador
Temor nenhum o juvenil despejo, ânimo dos marinheiros e
participante: Porque a gente marítima e a de Marte soldados é elevado.
Vasco da Estão para seguir-me a toda parte.
Gama a 85
contar a Pelas praias vestidos os soldados Descrição dos soldados,
própria De várias cores vêm e várias artes, prontos para descobrir novos
viagem
E não menos de esforço aparelhados mundos.
Para buscar do mundo novas partes.
Nas fortes naus os ventos sossegados
Ondeam os aéreos estandartes; As naus são personificadas e
Elas prometem, vendo os mares largos, prometem levar aqueles
De ser no Olimpo estrelas como a de Argos. homens à imortalidade.
86
As condições físicas estão
Depois de aparelhados desta sorte asseguradas, há que
preparar o espírito para o
De quanto tal viagem pede e manda, perigo da morte, que sempre
Aparelhamos a alma para a morte, existe.
Que sempre aos nautas ante os olhos anda.
Perífrase:
Deus
Para o sumo Poder que a etérea corte Vasco da Gama recorda a
Sustenta só coa vista veneranda, oração e pedido de
Imploramos favor que nos guiasse, protecção e ajuda a Deus
Deus para esta viagem.
Cristão
E que nossos começos aspirasse.

87
Partiram da ermida de Nossa
Perífrase:
Belém S. de Belém.
Partimo-nos assim do santo templo
Que nas praias do mar está assentado,
Apóstrofe: Que o nome tem da terra, para exemplo,
Rei de Donde Deus foi em carne ao mundo dado. Apóstrofe ao rei de Melinde,
Melinde Certifico-te, ó Rei, que se contemplo recordando a dúvida e o
Como fui destas praias apartado, receio que sentira, mas que
Apresentação do Cheio dentro de dúvida e receio, tentara disfarçar.
estado de espírito Que apenas nos meus olhos ponho o freio.
de Vasco da
Gama
88
Apresentação do
estado de espírito
A gente da cidade aquele dia, No dia da partida, havia
das gentes
(Uns por amigos, outros por parentes, muitos presentes
Outros por ver somente) concorria, descontentes/ infelizes.
Saudosos na vista e descontentes.
E nós coa virtuosa companhia A comitiva fez-se
acompanhar de religiosos em
De mil Religiosos diligentes,
procissão.
Em procissão solene a Deus orando,
Para os batéis viemos caminhando.

89

Em tão longo caminho e duvidoso O povo não acreditava no


Por perdidos as gentes nos julgavam; sucesso desta expedição.
As mulheres c'um choro piedoso,
Enumeração Os homens com suspiros que arrancavam;
de pessoas
que não
Mães, esposas, irmãs, que o temeroso
acreditavam Amor mais desconfia, acrescentavam
voltar a ver A desesperarão, e frio medo
os que
embarcavam
De já nos não tornar a ver tão cedo.
90
Qual vai dizendo: -" Ó filho, a quem eu tinha Apresentam-se dois casos de
Só para refrigério, e doce amparo lamúrias/queixas:
Desta cansada já velhice minha, . Os filhos, que deveriam
Que em choro acabará, penoso e amaro, acompanhar os pais e ajudá-
Por que me deixas, mísera e mesquinha? los, são afastados.
Por que de mim te vás, ó filho caro,
A fazer o funéreo enterramento,
Onde sejas de peixes mantimento!" –
91
"Qual em cabelo: -"Ó doce e amado esposo, . Os homens que
Sem quem não quis Amor que viver possa, abandonavam os lares para
Por que is aventurar ao mar iroso se aventurarem no mar.
Essa vida que é minha, e não é vossa?
Como por um caminho duvidoso * Crítica aos descobrimentos
Vos esquece a afeição tão doce nossa? ao facto de se abandonar o
Nosso amor, nosso vão contentamento país e o seu
Quereis que com as velas leve o vento?" - desenvolvimento.
92
Nestas e outras palavras que diziam O narrador diz que todos
De amor e de piedosa humanidade, tinham esta perspetiva.
Os velhos e os meninos os seguiam,
Em quem menos esforço põe a idade.
Os montes de mais perto respondiam,
Quase movidos de alta piedade; E até a natureza responde a
A branca areia as lágrimas banhavam, esta dor.
Que em multidão com elas se igualavam. Personificação
93
Nós outros sem a vista alevantarmos O narrador diz que a tripulação não parou os
Nem a mãe, nem a esposa, neste estado, seus olhos naqueles que deixava para não
Por nos não magoarmos, ou mudarmos sofrer, nem se deixar mover dos seus
Do propósito firme começado, propósitos.
Determinei de assim nos embarcarmos
Sem o despedimento costumado,
Que, posto que é de amor usança boa,
A quem se aparta, ou fica, mais magoa. Vasco da Gama não quis demorar as
despedidas que sempre magoam.
1 – Apresenta o estado de espírito dos vários elementos presentes neste
episódio. (Vasco da Gama, os marinheiros e soldados e as gentes)

. Soldados e navegadores – com ânimo juvenil; prontos para seguir viagem.


. Vasco da gama – consciente; receoso; duvidoso.
. Gentes – saudosos; descontentes; em desespero; sem esperança; sem
acreditarem no sucesso desta armada.

2 – Nas estâncias 90 e 91 estão apresentados dois casos concretos de


consequências das descobertas. Apresenta-os.
94
Mas um velho d'aspeito venerando, Apresentação de um velho
Que ficava nas praias, entre a gente, que fica nas praias:
Postos em nós os olhos, meneando - Aspeto respeitado
Três vezes a cabeça, descontente, - Descontente
A voz pesada um pouco alevantando, - Experiente
Que nós no mar ouvimos claramente, . As características do Velho
C'um saber só de experiências feito, reforçam a legitimidade desta
Tais palavras tirou do experto peito: figura.

95 . Atitude crítica em relação


- Ó glória de mandar! Ó vã cobiça à política dos
Desta vaidade, a quem chamamos Fama! descobrimentos:
Ó fraudulento gosto, que se atiça - Denuncia a atitude de
C'uma aura popular, que honra se chama! cobiça e vaidade
Que castigo tamanho e que justiça associada às
Fazes no peito vão que muito te ama! Descobertas,
Que mortes, que perigos, que tormentas, apresentada com uma
Que crueldades neles experimentas! imagem de Honra e
Fama.
. Tom de revolta/ desalento/
exclamações
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Sozinho na noite
um barco ruma para onde vai.
Uma luz no escuro brilha a direito
ofusca as demais.
E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...
E uma vontade de rir, nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...
No fundo do mar
jazem os outros, os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
- Cada um de nós à sua maneira descanso eterno lá encontraram.
E mais que uma onda, mais que uma maré...
segura o leme da vida. Para onde
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
queres navegar? Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...
Elabora um texto expositivo- E uma vontade de rir, nasce do fundo do ser.
argumentativo onde desenvolvas E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
esta questão e onde faças a vida é sempre a perder...
referências ao poema Homem do No fundo horizonte
sopra o murmúrio para onde vai.
leme.
No fundo do tempo
foge o futuro, é tarde demais...
E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

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