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cabos energia

construção e dimensionamento
Introdução
Este material apresenta algumas das principais considerações sobre
os elementos constituintes e o dimensionamento dos cabos de energia
desenvolvidos e fabricados pela Prysmian, no Brasil.

Pág 02 cabos energia - construção e dimensionamento


Web Curso 2012
Confira alguns dos conteúdos técnicos que farão
parte do programa de estudos neste ano:

LINHA CABOS ENERGIA...........................................................................Abril


Tensão............................................................................................Abril
Aplicação........................................................................................Abril
ESCOLHA DO CABO.................................................................................Abril
Considerações Gerais........................................................................Abril
Construção........................................................................................Maio
Condutor.........................................................................................Maio
Forma.............................................................................................Maio
Blindagem sobre o condutor............................................................Junho
Isolamento........................................................................... Junho/Julho
Blindagem sobre o isolamento........................................................... Julho
Proteções....................................................................................... Julho
Dimensionamento...........................................................................Agosto
Generalidades...............................................................................Agosto
Estimativa da seção do condutor.....................................................Agosto
Cálculo da espessura isolante..........................................................Agosto
Cálculo da corrente admissível........................................................Agosto
Cálculo da queda de tensão....................................................... Setembro
Cálculo da corrente de curto-circuito..............................................Outubro

ABRIL/2012 - 1ª VERSÃO

Pág 03 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 1
Linha Cabos Energia
A linha Prysmian de Cabos Energia pode ser
classificada de acordo com vários critérios:

Tensão Aplicação
• Baixa tensão • Cabos de uso geral
Cabos até 1 kV • Cabos de uso específico
• Cabos de comando
• Média tensão • Cabos para uso móvel
Cabos de 2 a 35 kV • Cabos para uso submarino
• Cabos para instrumentação
• Cabos para equipamentos de solda
• Alta tensão • Cabos para lides de motores
Cabos de 36 a 150 kV • Cabos para navios
• Cabos para sistemas ferroviários (vias, locomotivas e vagões)
• Altíssima tensão • Cabos para a indústria de petróleo
Cabos acima de 150 kV (plataformas, bombeio submerso, umbilicais e refinarias)
• Cabos para elevadores
• Cabos para circuitos de segurança (resistentes ao fogo)
Tipo de dielétrico

Material Isolante Cabos Prysmian* tensão de isolamento (kV)


Sintenax,
PVC 0,6/1
Sintenax Flex
Multiplexado
Polietileno (PET) 0,6/1
Auto-Sustentado
Voltenax 0,6/1
Voltalene 0,6/1 • 3,6/6 • 6/10 • 8,7/15 • 12/20 • 15/25 • 20/35 (**)
Polietileno
Multiplexado
Reticulado 0,6/1
Auto-Sustentado
(XLPE)
RDA 8,7/15 • 12/20 • 15/25 • 20/35
Voltalene Concêntrico 0,6/1
Afumex 0,6/1
Eprotenax Gsette 0,6/1
Eprotenax Compact 3,6/6 • 6/10 • 8,7/15 • 12/20 • 15/25 • 20/35
Borracha Etileno Eprotenax
3,6/6 • 6/10 • 8,7/15 • 12/20 • 15/25 • 20/35
Propiieno (EPR) Compact 105
Eprotenax Compact 3,6/6 • 6/10 • 8,7/15 • 12/20 • 15/25 • 20/35
Eprotenax 0,6/1 • 3,6/6 • 6/10 • 8,7/15 • 12/20 • 15/25 • 20/35 (**)
Afumex MT 0,6/1 • 3,6/6 • 6/10 • 8,7/15 • 12/20 • 15/25 • 20/35 (**)
(*) Denominação comercial dos cabos isolados Prysmian Brasil.
(**) A Prysmian brasileira produz cabos com isoiação de EPR para tensões de até 145 kV e de XLPE até 245 kV

A Prysmian no Brasil se encontra apta a atender consultas de qualquer tipo de cabo das linhas apresentadas na
tabela acima (ainda que esta consulta demonstre alguma especificidade adicional) e também de vários outros
cabos para aplicações especiais.

Cap 1 / Pág 04 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 2
Escolha Do Cabo
CONSIDERAÇÕES GERAIS Dimensionamento
O cabo não é um elemento independente, mas cons- O dimensionamento do cabo referente a cada alterna-
tituinte de um sistema elétrico, a cujas característi- tiva consiste em calcular a seção do condutor e a es-
cas deve adaptar-se. O tipo de cabo depende do tipo pessura isolante necessárias. A seção depende do ma-
de sistema, que por sua vez depende das exigências terial condutor, da corrente a transportar e do tipo de
do consumidor final que vai ser atendido. A escolha instalação. O material dielétrico, a seção do condutor
do cabo envolve basicamente três etapas: e a tensão efetiva determinam a espessura isolante.

1. Definir, entre as alternativas possíveis, aquelas que


a princípio se apresentam como mais indicadas. Análise dos resultados
2. Dimensionamento do cabo referente a cada alter- A análise dos resultados consiste em comparar o cus-
nativa escolhida. to de cada alternativa em face das restrições orça-
3. Análise dos resultados, para definição final da me- mentárias do projeto. No caso de inviabilidade, será
lhor alternativa entre as consideradas. necessário redefinir as condições iniciais do projeto,
implicando a escolha de novas alternativas e reinício
do processo.
Definição das alternativas Este Catálogo Geral de Cabos Energia objetiva princi-
A definição das alternativas a serem analisadas deve palmente minimizar o trabalho do projetista quanto à
ser feita a partir de uma série de condições que são escolha de alternativas e quanto ao dimensionamen-
estabelecidas pelo projetista mediante considerações to. Veja o fluxograma a seguir:
operacionais e econômicas:
• Tipo e projeto do sistema: o tipo de sistema Processo iterativo de escolha do cabo
(transmissão, distribuição, iluminação pública,
etc.), bem como o seu projeto (radial, radial se-
Início
letivo, reticulado, etc.), podem ser determinantes
na escolha do tipo de cabo.
• Tensão e potência: os vários tipos de cabos Levantamento das condições iniciais
apresentam faixas limitadas de tensão e potência
nas quais podem operar.
Consideração técnica das alternativas de tipos de cabos
• Comprimento do circuito: particularmente em
baixa tensão, o comprimento do circuito deve ser Altern. 1 Altern. 2
considerado principalmente no que concerne aos
valores admissíveis de queda de tensão. Dimensionamento
• Tipo de carga: cargas indutivas capacitivas ou
puramente resistivas, podem exigir cabos com
detalhes diferentes de construção.
Análise econômica das alternativas
• Condições ambientais: os cabos devem ser do-
tados de proteções mecânicas condizentes com
as condições ambientais do local de instalação do Alternativa mais econômica
circuito.
• Trajeto: os eventuais desníveis ou curvas ao lon- O custo da alternativa
go do trajeto do cabo são importantes na escolha é aceitável? NÃO
dos materiais de isolamento e proteção.
SIM
• Confiabilidade desejada: o tipo de isolamen- Revisão das
to deverá apresentar confiabilidade compatível Cabo definido condições iniciais
com a desejada para o sistema a curto, médio e
longo prazos.
FIM

Cap 2 / Pág 05 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 3
Construção
Examinaremos a seguir os vários componentes dos Cabos de Energia,
na mesma ordem de sua fabricação, ou seja, do condutor à capa externa.

Condutor Como a condutibilidade do alumínio equivale a 61%


da condutibilidade do cobre, podemos escrever, com
Dois aspectos devem ser analisados: base na relação (1)
a) Material a ser utilizado
Sal
___ ρal ____
100
b) Forma geométrica do condutor = ___
ρcu = 61 =
1,64
Scu

Material e concluir:
Os materiais utilizados atualmente na fabricação de _____
Øal √1,64 1,28
___
condutores dos cabos elétricos são o cobre e o alumínio. = =
Øcu
O cobre, que é o material tradicional, deve ser ele-
trolítico, ou seja, refinado por eletrólise, de pureza
mínima 99,9% (considerando a prata como cobre), Por outro lado:
recozido (têmpera mole), de condutibilidade 100% γcu ___
___ 8,9
IACS (International Annealed Copper Standard). So- γal = 2,7 = 3,29
mente em aplicações especiais, torna-se necessária
a utilização de cobre de têmperas meio-dura e dura.
, o que permite concluir:
O alumínio, normalmente obtido por laminação contí-
nua, vem sendo amplamente empregado como con- Mcu
___ 3,29
dutor elétrico em virtude principalmente de sua boa = ____ = 2
Mal 1,64
trabalhabilidade, menor peso específico e conveniên-
cia econômica.
O alumínio puro utilizado em condutores isolados é,
Simbologia
normalmente, de têmpera meio-dura e de condutibi- R = resistência ohmica do condutor (Ω/km)
lidade 61% IACS.
ρ = resistividade do material condutor (Ω.cm)
Para uma comparação entre ambos os materiais, cal-
S = seção do condutor (mm2)
cularemos as seções necessárias de cada um para o
transporte de uma mesma corrente. Ø = diâmetro do condutor (mm)
Esta condição equivale aproximadamente à igualda- γ = peso específico (kg/cm3)
de das resistências ohmicas (*), ou seja:
M = massa (kg)

ou seja, para o transporte de uma mesma corrente,


L = Ral = L o condutor de alumínio terá diâmetro 28% maior que
Rcu = ρcu . ___ ρal . ___
o de cobre, mas, mesmo assim, pesará cerca da me-
Scu Sal
tade deste.
A maior limitação ao uso do alumínio como condutor
elétrico vinha sendo a confecção de acessórios em
ρal . Scu = ρcu . Sal (1) face da rápida oxidação do metal quando em contato
com o ar e à deterioração de suas propriedades me-
cânicas, notadamente a resistência à tração, quando
deformado. Com o desenvolvimento de novas técni-
cas de trabalho e linhas de acessórios especiais estes
(*) Dissemos “aproximadamente” porque outros fatores, além
da resistência ohmica, interferem na capacidade de condução problemas estão hoje resolvidos e os cabos em alu-
de corrente dos cabos. mínio têm encontrado ampla aplicação.

Cap 3 / Pág 06 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 3
Construção
Forma Setorial compacto
(tipos de construção) É fabricado analogamente ao redondo
compacto, sendo que o formato do per-
Há várias alternativas possíveis de construção do fil setorial é obtido através da passa-
condutor de cobre ou alumínio: gem de uma corda redonda normal por jogos de
calandras, dimensionadas para atribuir ao condutor
o formato setorial adequado, com deformação dos
Redondo sólido fios elementares.
Solução ideal do ponto de vista econômico; Pode ser utilizado nos cabos múltiplos (tripolares e
suas limitações estão no aspecto dimensional quadripolares) traz a vantagem de redução do diâ-
e na flexibilidade, sendo utilizado, portanto, metro externo do cabo e consequente economia de
apenas em seções menores (até 16 mm2). Seu uso materiais de enchimento e proteção.
no âmbito de cabos de energia está limitado a fios
para construções, ou em aplicações especiais.
Flexível e extraflexível
Redondo normal Amplamente utilizada em cabos energia sin-
(ou condutor de formação concêntrica; ou de forma- gelos ou múltiplos, com qualquer tipo de iso-
ção regular) lamento. Seu uso também abrange os cabos
alimentadores de máquinas móveis (escavadeiras,
Amplamente utilizado em cabos energia sin- dragas, pontes rolantes, etc.) ou aparelhos portáteis
gelos ou múltiplos, com qualquer tipo de iso- (máquinas de solda, aparelhos eletrodomésticos,
lamento. etc.). São obtidos através de encordoamento de
Apresenta melhor flexibilidade. Constitui-se de um grande número de fios de diâmetro reduzido.
fio longitudinal, em torno do qual são colocadas, em
forma de espiral, uma ou mais coroas de fios de mes-
mo diâmetro do fio central. Conci
As formações padronizadas de cordas normais são: É usado unicamente em cabos OF (óleo flui-
do). Trata-se de um condutor anular cujo nú-
7 fios-1 + 6 cleo é oco, formando um canal para o óleo
19 fios-1 +6 + 12 impregnante. É formado por uma ou várias coroas
anulares, que por sua vez são formadas por setores
37 fios-1 + 6 + 12 + 18 anulares (fios Conci) encordoados helicoidalmente.
61 fios-1 + 6 + 12 + 18 + 24 Existem outros tipos de construções, adotadas para
e assim sucessivamente, observando que cada coroa cabos de uso específico. Por exemplo:
possui um número de fios igual ao número de fios da Condutor segmentado (ou condutor Millikan) é
camada inferior mais seis. um condutor dividido em três ou quatro setores de
círculo, separados entre si, por uma parede isolan-
te relativamente delgada. Sua principal aplicação se
Redondo compacto encontra em cabos singelos de seções superiores a
A construção é semelhante à da corda redonda 500 mm2, onde, por ação de correntes elevadas, é
normal; porém, após o encordoamento, sofre sensível o efeito pelicular e as correntes de Foucault.
um processo de compactação através da pas- Condutor anular é um condutor redondo, em forma
sagem da corda por um perfil que reduz seu diâmetro de coroa circular, formado por fios encordoados em
original com deformação dos fios elementares. redor de um núcleo central de corda têxtil. É empre-
A vantagem se traduz na redução de diâmetro exter- gado para bitolas superiores a 500 mm2, nas quais o
no, eliminação dos espaços vazios na periferia e no efeito superficial é considerável (caso de cabos para
interior do condutor e superfície externa mais unifor- altas frequências). São também usados em cabos de
me (menor área estrelar). alta tensão com seção de cobre muito pequena, com o
objetivo de aumentar o diâmetro do condutor e reduzir
Desvantagem: menor flexibilidade. o gradiente de potencial nas proximidades do mesmo.

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CAP 3
Construção
Blindagem sobre o condutor (interna) Isolamento
Os materiais normalmente utilizados como isolamen-
to dos Cabos Energia são:

PVC
TERMOPLÁSTICOS (Policloreto de vinila)
PET (Polietileno)
XLPE e TR XLPE(1)
SOLIDOS (Polietileno reticulado
(EXTRUDADOS) quimicamente)
TERMOFIXOS EPR, HEPR(2)
Condutor sem Blindagem e EPR 105(3)
(Borracha
Aqui vemos um condutor encordoado recoberto ape- etilenopropileno)
nas por uma camada isolante. Com esta construção - PAPEL IMPREGNADO COM MASSA
simples o campo elétrico devido à energização, as- ESTRATIFICADOS - PAPEL IMPREGNADO COM ÓLEO FLUÍDO
-sume uma forma distorcida, acompanhando as ir- SOB PRESSÃO
regularidades da superfície do condutor, provocando (1) - TR XLPE - Polietileno reticulado quimicamente retardante
concentração de esforços elétricos em determinados à arborescência (tree retardant) • (2) - HEPR - Borracha etile-
pontos. Nestas condições, as solicitações elétricas nopropileno de alto módulo ou EPR de maior dureza • (3) - EPR
concentradas podem exceder os limites permissíveis 105 - Borracha etilenopropileno para temperatura no condutor
pelo isolamento, ocasionando uma depreciação na de 105°C, em regime permanente
vida do cabo. Além disso, no caso de cabos com iso-
lamento sólido, a existência de ar entre o condutor e
O nosso objetivo aqui é comparar as principais pro-
o isolante pode dar origem a ionização, com conse-
priedades físicas e elétricas destes materiais.
qüências danosas para o material isolante.
Até o início da década de 90 cabos com isolamen-
to estratificado foram muito utilizados. São cabos de
muita confiabilidade ao longo de sua vida útil (a qual
também é elevada), porém com custo e peso supe-
riores a cabos equivalentes de isolamento extrudado.
Atualmente sua utilização fica restrita a aplicações
especiais bem como a produção que está limitada a
poucas fábricas no mundo.
Ao longo do texto, falaremos frequentemente do pa-
râmetro “gradiente”. Julgamos oportuno relembrar o
significado de tal parâmetro:
Condutor com Blindagem
Chama-se “gradiente de potencial” (ou “força elé-
trica”), que se exprime normalmente em kV/mm, a
Com a interposição de uma camada semicondutora,
relação entre: a diferença de potencial, ou tensão,
o campo elétrico se torna uniforme e os problemas
aplicada a uma camada elementar de dielétrico e a
são minimizados ou mesmo totalmente eliminados.
espessura desta camada.
Evidentemente, para um perfeito desempenho desta
Sabe-se que o gradiente não é uniforme em toda a
função, a blindagem interna, constituída pela camada
espessura do dielétrico. sendo mais elevado nas pro-
semicondutora, deve estar em íntimo contato com a
ximidades do condutor e mais baixo na superfície ex-
superfície interna do isolamento. No caso de cabos
terna do isolamento,
secos (isolamento extrudado) isto é alcançado me-
diante extrusão simultânea da semicondutora e da Fala-se, todavia, em “gradiente médio” que se en-
camada isolante. tende como a relação entre a tensão fase-terra e a
espessura total isolante.
No caso de isolamento estratificado, a blindagem é
constituída por fitas de papel semicondutor aplicadas A expressão matemática que define o gradiente má-
helicoidalmente sobre o condutor. ximo é:

Cap 3 / Pág 08 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 3
Construção
0,502 Eff kV/mm
G = _________ ou 0,869 Eo
G = _________ Isolantes sólidos (extrudados)
De
di.log ___ De
di.log ___ Os isolantes sólidos se dividem em 2 grandes famí-
di di
lias: termoplásticos (amolecem com o aumento da
Onde: temperatura) e termofixos (não amolecem com o au-
G = gradiente máximo (kV/mm) mento da temperatura).
Eff = tensão fase-fase (kV) Quimícamente, os termoplásticos são polímeros de
Eo = tensão fase-terra (kV) cadeia linear e os termofixos são polímeros tridimen-
di = diâmetro sob o isolamento (mm) sionais obtidos por vulcanização.
De= diâmetro sobre o isolamento (mm) Para orientar a escolha do isolamento adequado, da-
mos a seguir comparações das características mais
kV/mm importantes destes materiais:
4
3
2
Potencial 1
Constante de isolamento:
de Fase 0
PVC.........................................370 M Ω km à 20oC
PET.................................... 12.000 M Ω km à 20oC
Condutor
Isolamento Potencial XLPE e TR XLPE...................... 3.700 M Ω km à 20oC
Zero
EPR, HEPR e EPR 105.............. 3.700 M Ω km à 20oC

Fala-se também de “gradiente máximo” que corres-


ponde ao gradiente na superfície de contato entre Temperaturas admissíveis
o condutor e o isolamento e de “gradiente-mínimo”
em correspondência ao contato entre a superfície De operação
De De Curto
externa do isolamento e a terra (ou a blindagem em regime
Sobrecarga Circuito
externa que é aterrada). continuo

O gradiente de perfuração do dielétrico, ou rigidez PVC 70ºC 100ºC 160ºC


dielétrica, é um dos parâmetros mais importantes na
escolha do material isolante. É necessário ressaltar,
PET 70ºC 90ºC 130ºC
entretanto, que a rigidez varia de secção para secção
ao longo do comprimento do cabo, apresentando uma XLPE e
dispersão considerável em torno de um valor médio. 90ºC 130ºC 250ºC
TR XLPE
Esta dispersão será aleatória e proporcional ao núme- EPR e
ro de vazios ou impurezas localizadas no seio do iso- 90ºC 130ºC 250ºC
HEPR
lamento, que se constituem em sedes de ionização.
EPR 105 105ºC 140ºC 250ºC
Por meio de provas de tensão em amostras, observa-
mos que a dispersão de valores de rigidez é muito me-
nor nos dielêtricos estratificados do que nos dielétricos
sólidos. Explica-se isto pelo fato de que o método de É uma propriedade física das mais importantes, pois
aplicação do isolamento estratificado e subsequente se constitui em um fator limitante da capacidade de
impregnação, evita a presença de vazios localizados no corrente (ampacidade) do cabo.
isolamento, enquanto que o processo de preparação e
aplicação dos dielêtricos sólidos torna quase impossí-
vel garantir a total ausência destes vazios. Resistência à ionização
Entretanto, a dispersão da rigidez nos dielêtricos sóli- A resistência à ionização é medida pelo tempo ne-
dos pode ser sensivelmente melhorada, mediante um cessário ao aparecimento de fissuras em amostras
rigido controle das matérias primas, de um equipa- do material isolante colocadas em célula especial de
mento adequado e da limpeza dos locais de prepara- provas onde são submetidas a descargas parciais
ção e aplicação das massas isolantes. com ionizações intensas.

Cap 3 / Pág 09 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 3
Construção
PVC..................................................... 200 horas Na prática, até 1 kV, o PVC é muito utilizado, apesar
de suas características elétricas apenas regulares,
PET....................................................... 12 horas
porque é muito econômico, bastante durável e não
XLPE. e TR XLPE...................................... 12 horas propagante da chama.
EPR, HEPR e EPR 105............................. 160 horas O polietileno comum, com excelente constante de
isolamento, alta rigidez dielétrica e fator de perdas
baixíssimo, encontra limitação na baixa resistência à
Rigidez dielétrica ionização e nas pobres características físicas (é prati-
camente fluido a 110°C).
GRADIENTE
RIGIDEZ
DE PROJETO O Polietileno Reticulado, obtido por reticulação mo-
(kV/mm)
(kV/mm) lecular do polietileno comum, aliás excelentes pro-
C. A. IMPULSO C. A. IMPULSO priedades deste com a alta temperatura admissível
e boas propriedades mecânicas, mas é pouco flexível
PVC 25 50 2.5 40
e tem baixa resistência a ionização. É utilizado em
PET 40 40 2.5 40 todas as classes de tensão (baixa, média e alta).
XLPE e TR
*50 65 4 40 Devido à dispersão relativamente alta da sua rigidez
XLPE
dielétrica e também devido ao fenômeno nocivo do
EPR, HEPR “treeing” (*) que tem se verificado com certa fre-
*40 60 4 40
e EPR 105 qüência neste material, foi desenvolvido mais recen-
Valores referido a amostras de 10 m de cabos temente o TR XLPE (tree retardant), bem mais resis-
de Φ interno de 12 mm tente a esse fenômeno, permitindo projetos de cabos
mais simples.
O EPR (borracha etilenopropileno) é o isolante de
A espessura isolante pode ser calculada a partir do gra-
desenvolvimento mais recente e bem completo: alta
diente de projeto do material, definido com certa mar-
temperatura admissível, ótima resistência à ioniza-
gem de segurança a partir de sua rigidez dielétrica.
ção, gradientes de projeto de valores equivalentes ao
polietileno reticulado e excelente flexibilidade.
Perdas dielétricas O EPR apresenta baixa dispersão da rigidez dielétrica
e é praticamente isento do fenômeno do “treeing”,
As perdas que ocorrem no dielétrico devido à ten-
fato que permite utilizá-lo também em cabos subma-
são aplicada podem ser calculadas pela seguinte
rinos com projetos bem simplificados.
expressão:
Mais recentemente foram desenvolvidos e são muito
utilizados o HEPR um EPR de maior dureza apresen-
P = 2π fCE2 tgδ ou P = K Є tgδ tando características físicas mais incrementadas e o
EPR 105 utilizado na média tensão, permitindo tempe-
ratura de operação permanente ainda maior (105oC).
Simbologia
O conjunto destas características faz com que o
P = perdas (W) C = capacidade (F) EPR possa ser utilizado numa ampla gama de ca-
f = frequência (Hz) tgδ = fator de perdas bos, nas mais diversas aplicações em baixa, média
e alta tensão.
E = tensão fase-terra (V) Є = constante dielétrica

(*) arborescências que se formam


Є tgδ Єtgδ no material isolante provocando
descargas parciais e consequente
PVC 5,0 0,06 0,30 deterioração do mesmo.
PET 2,3 0,0002 0,00046
XLPE e TR XLPE 2,3 0,0003 0,00069
EPR, HEPR
2,6 0,007 0,0182
e EPR 105

Cap 3 / Pág 010 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 3
Construção
Isolantes estratificados Rigidez dielétrica
O papel impregnado com massa foi tradicionalmen- GRADIENTE
te utilizado em cabos de energia para baixa e média RIGIDEZ
DE PROJETO
tensão. Este material vem sendo utilizado há muitas (kV/mm)
(kV/mm)
décadas em todo o mundo, comprovando uma vida
CA IMPULSO C. A. IMPULSO
útil excepcionalmente longa.
Papel
O papel impregnado com óleo fluído sob pressão tam- impregnado 30 75 4 40
bém tem apresentado uma vida útil excepcionalmente c/ massas
longa é um dos isolamentos disponíveis para utilização
Papel
em altíssima tensão. 10 90
impregnado 50 120
25 100
Porém ambos os cabos somente são utilizados em c/ óleo fluido
aplicações muito especiais bem como a produção de
ambos está limitada a poucas fábricas no mundo. A rigidez dielétrica dos cabos OF pode ser maior com
Os isolamentos estratificados, pela sua constituição o aumento da pressão do óleo impregnante, confor-
característica, apresentam uma dispersão extrema- me ilustrado no gráfico abaixo.
mente baixa da sua rigidez dielétrica. Este fato faz
com que o papel impregnado seja por excelência o kV/mm
mais confiável dentre todos os materiais isolantes
100
normalmente utilizados, ou, em outras palavras, o
que apresenta menores probabilidades de falhas. 90
Apresentamos a seguir as principais propriedades 80
destes materiais:
70
60
Temperaturas admissíveis
50
40
De operação
de de curto 30
em regime
sobrecarga circuito
continuo
20
Papel
80ºC 85ºC 10
impregnado 200ºC
90ºC 115ºC
c/ massa 0
Papel 0 5 10 15 kg/cm2
impregnado 85ºC 105ºC 250ºC
c/ oleo fluido Perdas dielétrica
Є tgδ Єtgδ
Resistência à ionização Papel
Como os eventuais vazios existentes no seio dos iso- impregnado 3,7 0,014 0,0618
lamentos estratificados não permanecem localizados, c/ massa
nas condições reais de utilização o fenômeno de ioni- Papel
zação praticamente inexiste. 3,3 0,0018 0,0059
impregnado c/
3,5 0,004 0,014
oleo fluido

Analogamente aos isolantes sólidos, as perdas dielé-


tricas podem ser calculadas pela relação:

P = K.Є.tgδ (Watts)

Cap 3 / Pág 011 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 3
Construção
Blindagem sobre o isolamento (externa) Campo Radial
A blindagem consiste de uma camada de material
semi-condutor e, na maioria dos casos, também de
uma camada de material condutor aplicadas sobre
a superfície do isolamento. Sua principal finalidade
é confinar o campo elétrico dentro do cabo isolado.
Como se pode ver na figura a seguir, o cabo sem blin-
dagem, que denominamos “a campo não radial” apre-
senta distribuição irregular do campo elétrico, enquan-
to no cabo blindado, denominado “a campo radial”,
o campo elétrico distribui-se de forma equilibrada e
radialmente em relação ao condutor. A construção a
campo radial é preferível, principalmente para tensões
mais elevadas, pois garante solicitações elétricas uni-
formes em cada camada isolante (conjunto de pontos
do isolamento equidistantes do condutor).

Campo não Radial

Capa Externa
Enchimento
Blindagem
Externa
Isolamento
do Condutor
Blindagem
Interna
Condutor

Do mesmo modo que a blindagem sobre o condu-


tor (interna), a blindagem sobre o isolamento (ex-
terna) deve ser construída de maneira a eliminar
Capa Externa
qualquer possibilidade de formação de vazios en-
Cinta Isolante tre ela e a superfície do isolamento. Este processo
é obtido a partir das seguintes técnicas:
Enchimento
Isolamento
do Condutor
Cabos secos
Extrusão simultânea da semicondutora e do isola-
Blindagem
mento
Interna
Nos cabos secos, a camada condutora é constituída de
Condutor
fitas ou fios de cobre e fornece um caminho de baixa
impedância para condução das correntes em caso de

Cap 3 / Pág 012 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 3
Construção
curto-circuito. Quando se deseja uma capacidade de
condução de corrente bem definida, a construção mais
indicada é a de fios, cuja resistência ohmica é pratica-
mente constante ao longo da vida do cabo, o que não
ocorre com as fitas, pois a resistência ohmica depen-
de essencialmente da condição de contato superficial
no remonte das mesmas. Recomendamos, portanto, a
blindagem a fios para Cabos de Energia isolados com
dieiétricos sólidos.

Não-Metálicas
(por exemplo, PVC)

Existe, de uma geração mais recente, um tipo de pro-


Semicondutora Extrudada teção não metálica que substitui com algumas vanta-
Fios de Cobre gens certas proteções metálicas (armação metálica)
no aspecto de proteção mecânica do cabo. É a prote-
ção tipo AIR BAG™, constituída por uma camada de
material extrudado resiliente com alta capacidade de
absorção de impactos radiais.
A escolha do tipo de proteção não metálica a ser utili-
zada baseia-se na resistência a ações de natureza me-
Cabos em papel cânica, química e, naturalmente, de meio-ambiente.
Aplicação de papel semi-condutor. Na maioria dos casos, a capa dos cabos com isola-
mento seco é de PVC, material mais econômico, não
Nestes tipos de cabos, o elemento de baixa impe-
propagante de chamas e com resistência suficiente
dância é constituído pela capa metálica (chumbo ou
para o uso corrente. O polietileno (pigmentado com
alumínio) que os recobre.
negro de fumo para torná-lo resistente à luz solar)
é utilizado para instalações em ambientes com alto
teor de ácidos, bases ou solventes orgânicos e uso
PROTEÇÕES aéreo em postes.
Distinguem-se dois tipos:
Em cabos de uso móvel, que requerem boa flexibi-
• Não-metálicas lidade e grande resistência à abrasão e laceração, a
cobertura usual é o Neoprene.
• Metálicas
Cabos instalados em locais de grande afluência de
público (shopping centers, grandes hotéis, hospi-
Proteções não-metálicas tais, cinemas, escolas, etc.) requerem cobertura do
tipo Afumex®.
Os Cabos Energia são normalmente protegidos com
uma capa não-metálica. Estas capas externas, co- Nos cabos isolados em papel, exige-se uma capa
nhecidas como coberturas, são normalmente feitas metálica do tipo continuo para assegurar a estan-
a partir de PVC, Polietileno, Neoprene ou de material queidade do núcleo. Emprega-se tradicionalmente
sem halogênios (“halogen free”) e muito baixa toxi- o chumbo e mais recentemente o alumínio. Estes
cidade (LSZH, low smoke zero halogen) conhecido materiais são protegidos contra corrosão por uma
como Afumex®. cobertura não-metálica (PVC ou Polietileno).

Cap 3 / Pág 013 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 3
Construção
Características mecânicas

CARGA DE
ALONGAMENTO À RESISTÊNCIA À RESISTÊNCIA A
RUPTURA (kg/ FLEXIBILIDADE
RUPTURA (%) ABRASÃO GOLPES
mm2)
PVC 1,41 150 BOM BOM BOM
PET 0,98 350 BOM BOM REGULAR
XLPE 1,26 250 EXCELENTE EXCELENTE REGULAR
Neoprene 0,49 250 EXCELENTE EXCELENTE EXCELENTE
Afumex ®
0,92 120 BOM BOM REGULAR

RESISTÊNCIA AOS AGENTES QUÍMICOS


ÁCIDOS ORGÂNICOS
TETRA-
SULFÚRICO 3 + CLORÍDRICO
NÍTRICO 10% CLORETO DE ÓLEOS GASOLINA
30% 10%
CARBONO
PVC REGULAR REGULAR REGULAR BOA REGULAR BOA
PET EXCELENTE BOA EXCELENTE BOA BOA BOA
XLPE EXCELENTE BOA EXCELENTE BOA BOA BOA
Neoprene EXCELENTE REGULAR MEDÍOCRE MEDÍOCRE BOA REGULAR
Afumex ®
REGULAR REGULAR REGULAR BOA REGULAR REGULAR

Proteções metálicas
Proteções metálicas adicionais com função de arma-
ção são empregadas nas instalações sujeitas a danos
mecânicos. Os tipos mais usados são:
Armações de fitas planas de aço, aplicadas helicoi-
dalmente.

Fitas Armaflex

Armações de fios de aço, que são empregadas em


cabos que necessitam de resistência aos esforços de
tração (cabos submarinos, por exemplo)
Fitas Planas

Armações de fitas de aço ou alumínio, aplicadas trans-


versalmente, corrugadas e intertravadas (interlocked).
Proteção mais moderna, garante maior resistência
aos esforços radiais do que as armações do tipo tra-
dicional de fitas planas, conferem boa flexibilidade Fios
ao cabo e dispensam o uso de conduítes flexíveis.

Cap 3 / Pág 014 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 4
dimensionamento
Generalidades Estimativa da Bitola
Conforme referido anteriormente, o dimensionamen- Para esta estimativa, o projetista dispõe, além de sua
to consiste no cálculo da seção do condutor (bitola) e experiência acumulada, de tabelas e gráficos de ca-
da espessura isolante necessária. pacidade de corrente para os produtos mais comuns
nas instalações usuais. A título de orientação, mos-
tramos a seguir um gráfico de valores de capacidade
Cálculo da bitola de corrente em função da seção do condutor, para
cabos isolados em Borracha Etileno Propileno (EPR).
É feito por um processo iterativo, já que se dispõe
de instrumentos teóricos; não para cálculo direto da
seção, mas apenas para verificação da capacidade de
corrente de um cabo de construção definida. O dimen- 1000
sionamento, portanto, terá que se iniciar por uma bi-
Concorrente x Secção
tola estimada.

500
Espessura isolante
É determinada a partir da seção do condutor, do gra-
diente de projeto (característico do material isolante)
Seção do condutor (mm2)

e da tensão efetiva do sistema. 200


O fluxograma abaixo ilustra as etapas do processo de
dimensionamento

Início 100

Estima bitola
50
Calcula espessura isolante 40
30
Determina materiais e dimensões das proteções
20

Calcula corrente admissível Cabo EPROTENAX - 8,7/15 kV


Instalação: Ao Ar Livre
NÃO 10
Bitola satisfaz?
100 200 500 1000
SIM
Corrente (A)
Calcula queda de tensão

Bitola satisfaz?
NÃO Cálculo da espessura isolante
SIM A espessura isolante é usualmente fixada pela espe-
Calcula condições de curto-circuito cificação relativa ao cabo, já considerados todos os
fatores de segurança necessários. Seu valor mínimo,
entretanto, pode ser facilmente calculado a partir das
NÃO
Bitola satisfaz? relações existentes entre tensão, gradiente e dimen-
SIM sões do cabo.
Cabo dimensionado A fórmula de cálculo é deduzida considerando a dis-
tribuição do campo elétrico ao redor do condutor
supondo que este seja o condutor ideal infinito de
Fim
Gauss. Nestas condições, o campo elétrico será com-

Cap 4 / Pág 015 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 4
dimensionamento
pletamente radial e podemos aplicar o Teorema de Sendo o campo normal ao condutor e considerando a
Gauss à superfície cilíndrica hipotética ao redor do igualdade (4), resulta em:
condutor, obtendo:
ρ 1 . dr
V - v = ____ __ (6)
R
r
OE.dh = ___
Q (1) 2πЄ r

Є
ou, integrando:
Onde:
ρ R
Q = cargas (coulombs) V - v = ____ . ln __
r
(7)
2πЄ
Є = constante dielétrica relativa
substituindo o resultado (4) nesta equação, obtém-se:

Sendo E perpendicular à superfície, se reduz a: R


V - v = E.r.ln __ (8)
r
EO.ds = ___
Q (2)
Є Como as proteções metálicas são aterradas, v = 0 e
podemos reescrever a equação na forma:

V
E = __ 1
_____ (9)
dh r R
ln __
r
ou
0,868V
E = _______ (10)
D
d.log__
d
D

Nesta equação, a tensão V é a tensão fase-terra e o


P campo E é o gradiente utilizado no projeto. Para tra-
d
balhar com a tensão fase-fase, ela pode ser colocada
na forma:
0,502Vff
E = _________
E
(11)
D
d.log__
d
Fazendo a integração em toda a superfície para um ele-
mento medindo dh no sentido longitudinal, obtemos: ou, para trabalhar com a tensão de impulso, na forma:

0,868 BIL
E = _________
Q
E 2πr dh = ___ (3)
D
(12)
Є d.log__
d
sendo r = raio do condutor (mm)
Como a espessura isolante

Representando nesta equação a distribuição de carga D-d


e = _____
___
Q pela letra ρ, vem 2
dh concluímos, a partir das equações (10) e (11)
ρ
E = _____ (4)
2πr Є
e = __
2
[ 0,868 V )-1
d antilog (________
E.d
]
Por outro lado, sabemos que a diferença de potencial
no ponto P, na superfície hipotética, em relação ao
condutor é dada por: e = __
2
[ 0,502 Vff)-1
d antilog (________
E.d
]
V-v= r
R
E. de (5) expressões que permitem calcular a espessura isolan-
te mínima a partir do diâmetro do condutor, da tensão
com e = espessura isolante do sistema e do gradiente máximo de projeto E.

Cap 4 / Pág 016 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 4
dimensionamento
Cálculo da corrente admissível Esta expressão é válida tanto para o estado estacio-
nário como para o período variável, já que o tempo
Consideremos um corpo de forma qualquer que se considerado é infinitesimal.
ache à temperatura t do ambiente. Suponhamos que
a partir de determinado instante a temperatura de O sinal negativo indica que o fluxo de calor ocorre
um ponto interno P do corpo seja elevada e mantida dos pontos de maior para os de menor temperatura,
no valor T, sendo T>t. ou seja, no sentido decrescente de t.

Observa-se que a temperatura das regiões do corpo em O postulado de Fourier tem uma analogia mais do
redor do ponto P começará a subir progressivamente. Se que puramente formal com a lei de Ohm. Com efeito,
traçarmos idealmente a superfície ocupada pelos pontos a lei de Ohm pode ser escrita:
que se acham numa determinada temperatura interme-
diária entre T e t, verificaremos facilmente tratar-se de
uma superfície fechada, aproximadamente paralela ao V
I = __ onde R = ____

contorno externo do corpo e às superfícies correspon- R S.σ
dentes às demais temperaturas intermediárias.
Estas superfícies tomam o nome de superfícies iso- sendo: ℓ = comprimento do condutor (km)
térmicas e servem para caracterizar a distribuição S = seção do condutor (mm2)
das temperaturas do corpo. Durante o período de σ = condutividade
aquecimento, a temperatura em cada ponto do corpo
estará subindo, o que significa que cada superfície e o postulado de Fourier
isotérmica se movimentará em direção à superfície
externa. Este período é chamado período variável. dq dt
____ = ________
Ao aumentar a temperatura da superfície externa, dθ dx/dS.K
esta começará a ceder calor ao ambiente, em inten-
sidade tanto maior quanto maior for sua temperatura Observando-se que:
em relação à do ambiente. Quando a cessão de calor
ao ambiente igualar a quantidade de calor recebida I (corrente elétrica) corresponde a
no ponto P, chegaremos a um equilíbrio dinâmico: dq
____
a temperatura da superfície externa permanecerá dθ (intensidade do fluxo de calor)
constante e da mesma forma todas as superfícies
isotérmicas internas se imobilizarão. V (diferença de potencial) corresponde a
dt (salto térmico)
O calor continua passando do interior para o exterior,
mas sem acarretar variações da temperatura dos di- R = ____
ℓ (resistência elétrica) corresponde a
versos pontos do corpo. Foi atingido o chamado es- S.σ
dx
_____
tado estacionário. (resistência térmica)
dS.K
Como não há fluxo de calor entre 2 pontos na mesma
temperatura, não haverá componente tangencial do
fluxo e este se processará no sentido ortogonal às Assim, o postulado de Fourier se resume em:
superfícies isotérmicas.
salto térmico
intensidade do fluxo de calor = _____________
Esta descrição corresponde à transferência de calor resistência
por condução, que é regida pelo postulado de Fourier, térmica
cujo enunciado é o seguinte:
“A quantidade infinitesimal de calor dq que no inter- Em um cabo conduzindo corrente, haverá aumento
valo infinitesimal de tempo dθ passa através da su- de temperatura no condutor, que é um ponto interno,
perfície dS é proporcional a esta superfície, ao tem- e consequente transmissão de calor, conforme des-
po, gradiente térmico dt/dx e a um coeficiente K, ca- crito. Sabemos que a energia gerada pode ser ex-
racterístico do material constituinte do corpo.” pressa por: P = I2R, onde a resistência R do condutor
é conhecida. Também conhecemos o salto térmico
dq -dt entre a superfície do condutor e o meio ambiente,
Matematicamente: ____ = ____ sendo seu valor máximo definido pela temperatura
dθ dx
____
admissível no material isolante.
KdS

Cap 4 / Pág 017 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 4
dimensionamento
Como as resistências térmicas dos materiais que se- Cálculo da queda de tensão
rão atravessados pelo fluxo de calor são conhecidas,
observa-se que o valor de I máximo admissível pode Consideremos uma carga C alimentada por uma fon-
ser calculado. te F de tensão V a uma distância ℓ. Se a alimentação
for feita em corrente contínua,
O Comitê Eletrotécnico Internacional, em sua publica-
ção IEC 60287, sistematizou este procedimento como R
o mais recomendável para o cálculo da corrente ad-
missível nos cabos, em regime permanente. De acor-
do com ela, levando em consideração também as per- F c
das de energia em cada uma das camadas que serão
atravessadas pelo fluxo de calor, pode-se escrever: R


a Lei de Ohm estabelece que a queda de tensão nos
[ ]
∆t = (I2R+1/2Wd)T1+ (I2R (1+λ)+Wd) .(T2-3+T4) condutores ocasionada pela passagem da corrente
pelo circuito será ∆V = 2RI onde I é a corrente con-
sumida pela carga e R a resistência de cada um dos
condutores utilizados na ligação. Em função da resis-
tência r por unidade de comprimento dos condutores,
Simbologia:
esta igualdade pode ser escrita na forma:
∆t = diferença de temperatura entre o condutor
e o ambiente (°C) ∆V = 2rIℓ (1)
I = corrente no condutor (Ampères)
Se a alimentação for feita em corrente alternada con-
R = resistência elétrica do condutor (ohm/cm) siderando carga indutiva e a indutância da linha, o cir-
Wd = perdas no dielétrico (W/cm) cuito terá que ser analisado pelo diagrama vetorial:

λ = perdas nas proteções metálicas


perdas no condutor
C D
T1 = resistência térmica entre o condutor e
a blindagem metálica da isolação (°C.cm/W)
XLIℓ
T2-3 = resistência térmica do enchimento,
capa interna e cobertura (°C.cm/W)
T4 = resistência térmica entre a superfície do cabo ϕ
B
e o meio ambiente (°C.cm/W)
A r1Iℓ
e portanto concluir que:

E1 E2

α
1 T + (T + T )
∆t - Wd __
I= 2 1 2-3
_________________________
4

RT1 + R (1+λ)(T2-3 + T4)


ϕ
I
A IEC 60287 contém os métodos de cálculo e as ta- O
belas necessárias para utilização desta fórmula.

Cap 4 / Pág 018 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 4
dimensionamento
Simbologia: Como se pode ver nas equações (2) e (3), a queda
de tensão depende do sistema (monofásico ou trifá-
E1 = tensão na fonte (volts)
sico), da carga (corrente absorvida I) e do compri-
E2 = tensão na carga (volts) mento da instalação (ℓ).
I = corrente absorvida pela carga (ampères) Por outro lado, sabemos que:
cosϕ = fator de potência da carga XL = 2πfL.10-3 Ω/km
XL = reatância indutiva da linha de alimentação (ohm/km) onde
r1 = resistência dos alimentadores em corrente f = frequência em hertz
alternada (ohm/km)
L = indutância do cabo em mH/km
ℓ = distância da alimentação à carga (km)
sendo:
2.Sn
L = K + 0,46 log _____
Desprezando o ângulo α, que na maioria dos casos é
muito pequeno, o segmento OC pode ser confundido dc
com OD, e a queda de tensão E1 - E2 com módulo AC, com
pode ser considerada como tendo módulo AD. Como K = parâmetro que depende do número de fios do
AD = r . l ℓ cosϕ + XL . l . ℓ . senϕ (ver diagrama), condutor (mH/km)
podemos escrever (respectivamente para circuitos
monofásicos e trifásicos): dc = diâmetro do condutor (mm)
Sn = distância média geométrica dos condutores (mm)

∆V = 2.l.ℓ (r1.cosϕ + XL.senϕ) (2) Portanto, a reatância indutiva XL, e consequentemen-


ou te a queda de tensão, depende também da disposi-
--- ção dos cabos na instalação, traduzida na distância
∆V = √3.l.ℓ (r1.cosϕ + XL.senϕ) (3) média geométrica Sn.
Assim, quando verificamos a queda de tensão, esta-
mos na realidade verificando o efeito de todos estes
Se o ângulo α não puder ser desprezado, a queda fatores de instalação sobre a seção de cabo necessá-
de tensão terá que ser calculada a partir da relação ria. Até 440V esta verificação pode ser de terminan-
entre E1 e E2, que pode ser facilmente deduzida por te, exigindo uma seção algumas vezes bem maior
relações trigonométricas no diagrama vetorial: que a calculada pelo critério térmico.
---------------------------------------------------------------------------------------------
E1 = √ (E2.cosϕ + r1.l.ℓ)2 + (E2.senϕ + XL.l.ℓ)2 (4)
---------------------------------------------------------------------------
E2 = √E21 - (XL.l.ℓ. cosϕ - r1.l.ℓ. senϕ)2 - (r1.l.ℓ.cosϕ + XL.l.ℓ.senϕ) (5)

A queda de tensão máxima admissível nas instalações Segundo a NBR 5410, a queda de tensão não deve
elétricas de baixa tensão é regulamentada pela ABNT. exceder os valores da tabela abaixo:

VALOR MÁXIMO
Calculados a partir dos terminais secundários do transformador MT/BT,
A 7%
no caso de transformador próprio.
Calculados a partir dos terminais secundários do transformador MT/BT,
B da empresa distribuidora de eletricidade quando o ponto de 7%
entrega for aí localizado.
Calculados a partir do ponto de entrega, nos demais casos com
C 5%
fornecimento em tensão secundária de distribuição.
Calculados a partir dos terminais de saída do gerador, no caso do
D 7%
grupo gerador próprio.

Cap 4 / Pág 019 cabos energia - construção e dimensionamento


CAP 4
dimensionamento
Cálculo da corrente de curto-circuito
Também as sobrecargas a que os sistemas elétricos es- É importante realçar que a temperatura anormal
tão sujeitos devem ser consideradas quando da deter- no condutor persiste por um intervalo de tempo
minação da bitola de cabo necessária. maior que o de duração do curto. Por exemplo, uma
corrente de 36.000 ampères em um Cabo Eprote-
O caso mais crítico é o de curto-circuito, quando o con-
nax 240 mm2, eleva a temperatura do cobre de
dutor pode ser submetido a sobrecorrentes de alguns
90°C para 250°C em aproximadamente 1 segundo,
kA, ameaçando seriamente a integridade do isolamento.
mas, com a corrente reduzida a zero o condutor só
Para a resolução do problema de curto-circuito em retornará à temperatura normal de operação de-
cabos isolados, foram desenvolvidas 2 fórmulas: pois de 3.000 segundos. O tempo de resfriamento
uma para condutor de cobre e outra para condutor variará com a geometria do cabo e com o local
de alumínio. de instalação.

CONDUTOR FÓRMULA

2
T2 + 234
l t = 115679 log _________
___
Cobre
S T1 + 234

2
l
___ t = 48686 log T2 + 228
_________
Alumínio
S T1 + 228

SIMBOLOGIA

I = Corrente de curto-circuito (A)


S = Seção transversal (mm2)
t = Tempo de duração do curto-circuito (s)
T1 = Máxima temperatura admissível no condutor em operação normal (°C)
T2 = Máxima temperatura admitida para o condutor no curto-circuito (°C)

Estas fórmulas se baseiam na energia térmica ar- Geralmente a temperatura do condutor no momen-
mazenada no material condutor e no limite máximo to do curto-circuito não é precisamente conheci-
de temperatura admitida pelo isolamento. Admite- da, uma vez que depende da carga do cabo e das
-se ainda que o intervalo de tempo da passagem da condições do ambiente. Por motivos de segurança,
corrente de curto-circuito é pequeno, de forma que deve-se adotar a máxima temperatura admissível
o calor desenvolvido durante o curto fica contido no condutor nas condições normais de trabalho
no condutor. contínuo do cabo.

Cap 4 / Pág 020 cabos energia - construção e dimensionamento

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