Você está na página 1de 9

Mecanomia

Comece no Estado (ele insiste): tecnoespecialismo organicista, autoritarismo pedagógico e


setorização territorial que culminam em inumeracia em massa. Independentemente de sua
configuração enquanto crise educacional, a supressão das práticas populares de numeração
é tanto um resultado quanto um pressuposto da matemática institucionalizada. A cultura-
Estado - por mais moderna ou mesmo pós-moderna que seja - é modelada sobre uma voz
despótica ideal (Logos). A palavra vinda de cima esboça a cadeia significante, com todas as
suas características essenciais: enunciador único, interioridade semântica, sinais
consecutivos, conclusão formalmente antecipada, aplicação global e redundância
interpretativa. Quando a semiologia entrópica dos Estados senescentes multiplica a
enunciação, desloca referencialmente a interioridade, remarca a especialidade gráfica,
localiza a aplicabilidade e infinitiza a interpretação, ela o faz sob o sinal de um Logos inefável
e imperturbado; confirmado tão mais esmagadoramente pelo especialismo discursivo, pelo
rígido credenciamento profissional, pela criteriologia alusiva e pelo fetichismo linguístico,
assim como também pela zombaria desdenhosa de uma megapotência autopilotada, agora
cristalizada em ciência exata.
A numeracia se afina a uma popularidade irredutível, da qual nenhuma alfabetização
- por mais global que seja - pode se aproximar. Práticas de numeração emergem
espontaneamente dentro de qualquer população que se torne uma efetiva multidão. Jogos,
música, dinheiro e práticas de marcação do tempo1 todos revelam a influência contagiosa de
um elemento numérico primário. O cálculo mobiliza um pensamento que é direta e
efetivamente exterior, indexando a dispersão maquínica ou distribuição anorgânica do

1
Sistemas calêndricos fornecem um modelo parcial e estasiado da máquina de guerra (que não pode
entrar na história sem colapsá-la). Ambos trabalham de maneira compositiva e envolvem ordenações
(em vez de quantidades), a enésima (da enésima...). Em ambos os casos, a convenção de valores
ascendentes indica uma proximidade da subjetividade do número numerante, oposta à perspectiva
global do Estado expressa pelos valores descendentes da alocação posicional padrão. A ordinalidade
calêndrica se descobre cada vez mais cardinalizada pela cronometria sob condições capitalistas.
O próximo Calendário é a Bomba-Relógio do Milênio (1900DC = 00, mas 2000DC também).
Um protocolo econômico para prolongar este sistema de datação para além do milênio o
modifica e expande até o Tempo-K (Espaço-K ou Kilo-tempo), ao prefixar um zero adicional. 1900DC
= K-000, 2000DC = K-100, etc., postergando sua crise notacional até 2900DC (Dr. Melanie Newton).

1
NÚMENOS COM PRESAS

número. Não antes na cabeça do que nos dedos e seixos, o contar sempre acontece do lado
de fora. Uma população já é um número, misturado em híbridos irredutíveis através de
técnicas e aparatos de contagem (tábua de cálculo, ábaco, moedas e dispositivos
calêndricos). Mesmo quando socialmente despotencializado por sociedades sedentárias, o
número evidencia uma afinidade residual com a concorrência, a assimetria e com critérios
imanentes. Uma cultura numérica maquinicamente repotencializada coincide com uma
máquina de guerra nômade.2
O número está distribuído dentro de si mesmo entre dois polos principais. No
Planômeno, ele existe intensivamente, enquanto pura ordinalidade, ou série envoltória não-
métrica.3 Uma consistência semiótica com este lado intensivo do número não envolve nada
além de cifras de sequenciamento, indiferentes entre nomeação-numeração, marcando graus
de um contínuo heterogêneo (singularidades aninhadas). Elementos notacionais são planos
ou nomádicos, carecendo de ligação orgânica a agências de codificação ou zoneamento.
Eles são montados diagramaticamente, a partir de traços diretamente expressivos,
distribuídos diferencialmente em um espaço-plano de dimensionalidade-0 (nomos), e
compreendem uma ordem não-redundante de diferenças (sequência não sequenciada),
produzindo imanentemente variações de velocidade-temperatura absoluta e curvatura
(vórtex). Em seu aspecto Oecumênico, o número sofre modificações interligadas complexas,
através das quais ele adquire generalidade qualitativa e magnitude quantitativa
(cardinalidade).4 Uma transformação intensiva simultânea (estratocaptura) procede através
de uma divisão extensiva gêmea: cancelando a diferença em um registro (quantidades
resolúveis) ao constituir um segundo registro (qualitativamente diferente) que é, por sua vez,
definido pelo componente não cancelado ou problemático. A diferença em-si-mesma do
número intensivo é convertida em um resíduo, alocado a um tipo numérico superior, cuja
regularidade métrica é estabelecida pelo deslocamento: uma construção da unidade
quantitativa idêntica através da retransmissão qualitativa da problemática.5
O Oecúmeno é multiplamente duplo: expressão e conteúdo, cada um dicotomizado
recursivamente dentro de si mesmo. Em cada caso, a expressão lida com elementos
relativamente desproblematizados de um tipo numérico mais baixo, exibe um grau mais
elevado de cardinalidade consolidada e opera uma seleção de instâncias comparativamente
tratáveis. O conteúdo lida com elementos de maior generalidade tipal e complexidade
numérica, para os quais ele requer uma semiótica relativamente heterogênea, que envolve
variedades de componentes algébricos, indéxicos, probabilísticos e anexatos. Em uma
direção, o conteúdo tem uma fronteira meramente semi-estável; um limite indistinto

2
A máquina de guerra processa intensidades desestratificadas através de multiplicidades
numerizantes, em afinidade com a desorganização, o tráfico intercultural, o hibridismo biológico, a
pragmática e a turbodinâmica. Ela se reproduz por meio de duas operações complementares, ambas
numéricas: um deszoneamento subtrativo que marca sua escapada da organização do Estado, e uma
decodificação aritmética que mantém sua fluidez contra linhagens tribais recrudescentes. As duas
juntas regeneram a convergência excêntrica da máquina de guerra: problema-em-processo
sustentando desunião consistente.
3
Mesmo uma escala intensiva metrificada substitui o 1º valor cardinal do sistema considerado (n-1)
pela 0ª intensidade. Esta característica é compartilhada pela ordenada prima (1 = P-0).
4
'Uma unidade idêntica não é pressuposta pela ordinalidade, mas surge através da cardinalização e
do cancelamento da diferença na extensão.' G. Deleuze, Difference and Repetition, tr. P. Patton
(NY:Columbia University Press, 1994), 233.
5
'Na história do número, vemos que todo tipo sistemático é construído com base em uma desigualdade
essencial e retém essa desigualdade em relação ao próximo tipo mais baixo.' Deleuze, Difference and
Repetition, 232.

2
MECANOMIA

(incompletável) que se abre por sobre elementos não ordenados, cruzados por diagonais. Em
outra, ele se relaciona a uma expressão superordenada, que o define com reciprocidade
qualitativa e a partir do qual ele extrai um princípio de padronização métrica, fornecendo uma
norma reguladora para a determinação quantitativa dos problemas. Há uma diferenciação
complementar ou inter-relativização real de um polo matemático e calculativo, o primeiro
caracterizado por um poder superior de globalização semiótica (unidade de expressão), o
último por uma maior plasticidade de função e diversidade de método (compreensão do
conteúdo). A estratificação em qualquer nível (não apenas antropomórfico ou etoplástico)
exige processos efetivamente equivalentes a essa dupla captura do número, com a produção
de uma substitutibilidade extensiva por escala/tipo, uma articulação dividida e uma
problemática deslocada. A diferenciação estrática é, de uma só vez, uma ocorrência
intensivamente singular e extensivamente segmentada, por meio da qual o Oecúmeno
consolida uma distinção geral entre si e o Planômeno, ao se bifurcar internamente. A máquina
abstrata é atraída para dentro do Oecúmeno por uma diplo- ou esquizotese estraticamente
coerente, recompondo efetivamente o problema da consistência (diferença intensiva) ao nível
do conteúdo, mas nos termos da expressão.
O número em-si-mesmo é exterior ao Oecúmeno, mesmo quando capturado por ele
(uma relação externa de captura é sempre precursora da organização de relações internas).
Um indicador preliminar é fornecido pela variabilidade semiótica ou coesão poli-notacional
que caracteriza o número em seu aspecto Oecumênico. No nível antropomórfico, o sistema
numérico mais inerte é instituído pelos signos linguísticos, combinando um vocabulário de
nomes numéricos e um conjunto de regras para construir frases parciais (ou palavras
complexas) isomórficas a todos os números racionais. Se for para estes signos fornecerem
uma completude sequer rudimentar, eles devem necessariamente sofrer uma decodificação
considerável (abstração das regras de construção local, tokenização dos signos). Eles
também são marcados por altos níveis de indexação (funções zonais), algebrismo formal ou
informal (problemática especulativa ou sinais indicativos) e anexatidão (partitivas,
aproximações, margens de imprecisão, incerteza e erro, etc.). Há uma reciprocidade entre a
logicização do número e a decodificação numérica da linguagem, enredando consolidações
regionais de identidade (teoremática-matemática) com movimentos complementares de
desorganização através de relações externas (problemáticas-calculares).
Frequentemente se assume que a difamação geral daqueles modos (nebulosamente
concebidos) de aritmetização linguística classificados como 'numerológicos' é o fechamento
efetivo de um episódio cultural exótico, mas inconsequente. O caráter estéril e formulaico da
maior parte da numerologia moderna - seu esoterismo aleatório e sua aura teatral6 - reforça
essa conclusão. É em tais termos que a estranha metamorfose da numeracia grega durante
o século II A.C., quando os numerais áticos foram substituídos por um sistema numérico
alfabético7, é tanto radicalmente marginalizada, quanto abertamente incompreendida pelos
historiadores modernos da matemática. Similarmente, a numeracia ordinal instanciada pelos

6
Ocultistas tão perspicazes quando Aleister Crowley e Kenneth Grant regularmente caem em uso
meramente mecânico e pseudo-tradicional da Gemátria. A tentativa de reproduzir os valores e
consequências da gemátria hebraica, sem renovar sua função cultural sistemática, é em grande parte
a responsável.
7
Os números iônicos ou alexandrinos (alfabéticos) haviam substituído completamente os numerais
áticos por volta do fim do século II A.C. A base do sistema ático era um precursor mais rigorosamente
decimal àquela do romano. Seus elementos centrais eram os signos (1), (10), (100), (1000), (10 000),
embora signos mais complexos para um número menor de valores intermediários também existissem.

3
NÚMENOS COM PRESAS

alfabetos romano8 e latino moderno é geralmente excluída dos relatos da cultura aritmética,
onde a disputa entre os numerais romanos e indo-arábicos recebe uma esmagadora
predominância.9
Todo este padrão de avaliação requer uma correção substancial. A tendência
inequívoca em direção a um eclipse da cardinalidade (valor aritmético intrínseco) na
numeracia alfabética não implica no fim - ou mesmo em um enfraquecimento - de sua
numeracia. Que tal conclusão seja tirada se deve muito ao triunfo secular manifesto da
cardinalidade sobre a ordinalidade dentro da civilização ocidental: o resultado efetivo da
metrificação programática, associado à ascensão relativa do dinheiro e o declínio do
calendário enquanto fatores culturais. Longe de desnumerizar o alfabeto, a descardinalização
progressiva reforça sua função numérica. Ao eliminar a interferência quantitativa, ela induz
uma atualização superior da numeracia lexicográfica pura, meticulosamente monta
competências ordinais socialmente distribuídas e cada vez mais se instala nos processos
eletrônicos digitais (ordenação alfabética e alfanumérica). A ordinalidade lexicográfica efetua
uma não-linguagem efetiva e uma potencial antilinguagem. Ela é indiferente ao foneticismo e
à significação, mesmo à codificação e descodificação. Ela consiste de índices ordinais
(rótulos de zona) que efetuam zoneamentos e deszoneamentos - entre-embaralhamentos,
agrupamentos, inserções e extrações - operadas de acordo com regras concretas para cortes
não métricos e caracterizadas por uma anexatidão rigorosa.
Esta latência ordinal-numérica massiva contrasta de maneira gritante com a estrato-
matemática, que atravessa esferas cada vez mais sutis de metanúmeros angélicos e além....
Essa ascensão por entre tipos gerais cada vez mais elevados de número - e até
mesmo conjuntos e grupos abstratos alegadamente não numéricos - se conforma à
amplificação intensiva da estratificação, correlativa à crescente rigidificação métrica dos tipos
numéricos mais baixos. A cardinalidade não é mais essencial aos tipos numéricos mais
baixos do que aos mais elevados. Pelo contrário, é precisamente a indefinição calcular dos
números altamente gerais que leva mais diretamente à supressão da autonomia numérica,
ao encorajar a subordinação da numeracia concreta às dimensões superiores que a logicizam
e geometrizam. Valorizações da sutileza e da irrepresentabilidade analógicas - em contraste
com o binarismo e o reducionismo digitais - continuam atreladas a um programa estrático. Ele

8
A estimativa moderna padrão dos numerais romanos como fundamentalmente incompetentes -
interessantes exclusivamente como um antecedente, inferior e exemplar, dos decimais com notação
posicional - negligencia um resíduo nômade teoricamente crucial.
Isto é mais bem exemplificado por sua afinidade superior com o dinheiro em espécie (antigo e
atual), derivando de exigências similares e associado a um espaço relativamente deszoneado. No caso
dos numerais romanos, isso deriva de uma proximidade intensa com as funções numéricas da máquina
de guerra, evidentes em numerosos registros históricos e mais claramente nos apelos numéricos das
unidades e das tropas militares romanas. A alocação posterior de uma relação subtrativa a uma série
de valores numéricos ascendentes, em última análise, compromete sua mobilidade, fornecendo um
índice de uma civilização-estatal que se rigidifica, com uma predominância crescente e imperativos
burocráticos e financeiros (em vez de logísticos).
9
A conclusão organicista-segmentária extraída da especialização semiótica dos numerais indo-
arábicos pode ser problematizada de inúmeras maneiras. Particularmente notável é a evidência de
intercâmbio contínuo entre números e signos linguísticos (vide S.L. Gokhale, Indian Numerals
[Poona:Deccan College, 1996]), a aritmetização persistente do alfabeto sânscrito, mesmo depois que
ele havia supostamente adquirido um status exclusivamente linguístico e o uso algébrico de letras
enquanto elementos aritméticos simbólicos (ele mesmo profundamente intricado na história da
matemática indiana). Uma interpretação evolutiva (estágios de numerologia alfabética, depois
aritmética com numerais, depois abstração algébrica) não parece mais plausível do que sua alternativa
mecanotípica (uma segmentarização Estatal do algebrismo semiótico inicialmente fluído, extraído de
influências nômades).

4
MECANOMIA

se articula dentro de termos que são, em ambos os lados, apenas pseudo-autônomos, uma
vez que compreendem segmentos maquinicamente complementares de uma estratificação
geral. Em sua relação com o número intensivo, a diferenciação digital-analógico opera como
uma síndrome integrada. Por um lado, uma aproximação cada vez maior a um ideal-digital é
efetuada através de iterações e resoluções massivas sistematicamente interligadas de
mínimos discretos, tanto a regularização da microsegmentaridade qualitativa, quanto a
quantificação em dados abstratos. Por outro lado, o ideal-analógico correlativo do contínuo
homogêneo é afinado em complementaridade com as discretizações aprofundadas em uma
série de níveis, organizando a separação da variação qualitativa através do tópico (domínio)
digitalmente codificado e tirando proveito de formalizações compensatórias de elementos
notacionais discretos para programar sua aplicação (tais como os designadores algébricos e
termos genéricos usados na semiótica dos números reais, vocabulários técnicos que dão
suporte à função dos medidores, leituras e ajustes).
A segmentação matemático-cumulativa do Oecúmeno estabiliza mutualmente e
consolida interativamente sistemas de expressão e conteúdo, de acordo com as funções
divisionais de uma máquina abstrata que permanece não segmentada - enquanto
singularidade intensivamente divisional - em seu polo Planômico. A zigogênese mecanômica
do número numerante compõe contra-mutualidade, dessolidarização, desengajamento e
deslocamento da interdependência estrática, geminada até uma convergência fusional plana
que colapsa a segmentaridade. Ela mistura uma descomplicação na direção dos subnaturais
(as ordens dos primos e dos hiper-primos) com um achatamento Planômico da cardinalidade
por sobre trópicos não pontuais (Nomo-magnitudes cósmicas se condensando
equatorialmente, uma intensidade grau-0 da mega-molécula).
Operações aritméticas multiplicativas assumem uma função estritamente ordinal
quando usadas dentro de sistemas pragmáticos abstratos de composição numérica não-
métrica. Agregação multiplex e fatoração desagregativa são as chaves para uma prática
numerante ordinal intrinsecamente bivalente (ou zigônoma), empregando um pequeno
número de conversões consistentes e reversíveis para potenciar maquinicamente os primos
enquanto partes ordinais singulares (ou não substituíveis). A susceptibilidade de cada número
natural à fatoração única (e à reagregação) efetua uma diferença modal básica interna a ele
e o engaja com um sistema externo heterogêneo. Tanto implexação procedural (esquema de
fatoração compactada), quanto ligação interordinal (matrizes de trans-sequenciamento primo-
natural). É esta ambivalência dupla que conecta o número ao segredo e faz dos primos os
componentes principais dos sistemas criptográficos, nos quais eles funcionam como chaves:
operadores abstratos para o trancamento (agregativo) e destrancamento (desagregativo) de
multiplicidades.
A distinção entre os modos do número - agregado/desagregado - é puramente
semiótica (embora não significante). Ela está relacionada a uma ambivalência notacional com
designação consistente, interruptores na fase composicional de uma única magnitude
heterogênea. Em contraste, a diferença entre séries primas (traços de conteúdo) e suas
ordenadas (traços de expressão) é real, regulada por uma distribuição alógica sem
correspondência ou conformidade e concordando com uma diferença em registro, entre
séries heterogêneas rigorosamente interconectadas. É apenas por meio de sua(s)
ordenação(ões) (agregada(s) ou desagregada(s)) que o número converte sua capacidade de
conversão modal em um poder sintético, efetuada cada vez que um membro da série dos
primos se torna determinável como tal, ao passar para dentro do registro de uma série
diferente. Tais deszoneamentos e rezoneamentos ordinais sobre a série dos números
naturais ocorrem a cada vez que um número composicional se desagrega em partes

5
NÚMENOS COM PRESAS

singulares (efetuando codificações e decodificações enquanto mais-valias) ou que um primo


se transfere para a ordinalidade que o especifica como o fator potencial de um outro número.
A transformação incorpórea de 1931: a iniciação cultural do potencial da codificação-
10
Gödel produz um a mutação Planômica instantânea inclinada na direção de multiplicidades
nomádicas: englobando virtualmente a segmentaridade Oecumênica em um processo
colateral de sistemas numéricos planos. A numeração-Gödel efetua um redirecionamento
revolucionário do kantianismo - de acordo com um esquema nômade em vez de copernicano
- ao voltá-lo na direção da operacionalização da síntese transcendental enquanto método, e
para longe da exaustão programática de um esforço analítico autolimitador. Ele converte a
descoberta kantiana da síntese numérica de um comprometimento doutrinário para um
maquinário procedural: subsumindo a filosofia na aritmética transcendental, com uma crítica
aniquiladora do programa de Hilbert enquanto produto excedente.
A gödelização coloca o diagrama aritmético contra o modelo axiomático,
despedaçando a interioridade semântica ao infectar sobrecodificações organizacionais com
a diferença numérica (síntese ou relações externas). Ela sistematiza anorganicamente um
contra-ataque aritmético contra a axiomatização: uma replanificação metódica da isomorfia
aplicada (código e metacódigo) por sobre o potencial metamórfico (número). Da perspectiva
da aritmética transcendental, a codificação-Gödel aninha-se dentro da numeração-Gödel,
onde é produzida enquanto um subsistema suplementar coerente da polifunção numérica
(mais-valia de código).
Em seu lado puramente numérico, a gödelização produz, compacta e mobiliza um
agregado heterogêneo sobre a sequência dos números naturais, onde ela entra unicamente
em sínteses externas com as características ordinais. Simultaneamente - e enquanto produto
excedente - ela instala uma montagem virtualmente desagregada de potencial ilimitado,
composta de singularidades numéricas consecutivamente descompactadas, marcadas em
um outro registro (enquanto fatores primos ordinalmente rotulados, sequenciados por valores
ascendentes). Cada número de Gödel é produzido enquanto uma geminação intrínseca de
uma partícula numérica agregada e uma carga poli-semiótica desagregativa (vírus abstrato).
Quanto de padrão existe na série dos números primos? A gödelização torna esta
questão Oecumenicamente crítica, ao indicar definitivamente que o padrão numérico
inexplícito constitui mais-valias indelimitáveis potencialmente realizáveis enquanto
decodificações sincrônicas. Também torna a questão absolutamente críptica, ao usar um
fragmento deste excedente - uma macropartícula desagregativa que funciona como apêndice
decodificador - para desencadear um englobamento virtual Planomosísmico de todos os
traçados Oecumênicos (incluindo qualquer teoria axiomática dos números). Qualquer número

10
O código é composto de um pequeno conjunto de mapeamentos entre valores numéricos e notações
nucleares de sobrecodificação (jargões de teoremas metamatemáticos). O tamanho do conjunto
numérico-codificador não é finito em princípio, mas pragmaticamente restrito. Os valores relevantes
são realizados na desagregação fatorial de um número composto, que os produz enquanto blocos de
fatores reiterativos (pura diferença numérica, aritmeticamente isomorfa às potências dos fatores da
série). O código de Gödel torna explícita uma isomorfia implícita entre produtos colaterais aritméticos
e sistemas formais metamatemáticos, eliminando assim toda a diferença principiológica entre
metaproposições lógicas (expressão) e o objeto teórico numérico (conteúdo). Os números obtêm o
poder virtual indelimitável da insinuação, extraído de um reservatório de mais-valias numéricas planas,
e são capazes de efetuar isso de maneira explícita a fim de fazer os sistemas de sobrecodificação
falarem sobre si mesmos (de uma maneira que não podem antecipar). A introdução de um paradoxo
do mentiroso na teoria dos números do Principia Mathematica é a maneira concreta em que a versão-
1 do código de Gödel arruinou sua competência lógica.

6
MECANOMIA

de números naturais poderia potencialmente se desagregar em sistemas de antilógica lateral


que efetivamente embaralham axiomatizações.
Quando a gödelização codifica o número (pelo lado), é a fim de produzir - ou para
alcançar - uma decodificação e desestratificação absoluta (nomos). Um modelo de
codificação numericamente estranho - mais precisamente, uma instância exemplar de
isomorfia executiva (ou estrato-semiótica nuclear do tipo mais exaltado) - induz uma transição
cósmica no nível da máquina abstrata. Ele marca uma passagem em intensidade,
concomitante ao englobamento abrangente pelo padrão excedente da ordem Oecumênica.
O englobamento numérico do Oecúmeno, a segmentaridade esmagada e as
codificações e axiomáticas lateralmente corrompidas (em qualquer nível) se dobram juntas
em um único e imenso evento catastrófico, plenamente realizado em potenciais Planômicos
no Exterior.
Por um lado, o número foge da cardinalidade, inovando maquinários poliordinais e
mais-valias semióticas que flanqueiam as sobrecodificações. Por outro lado - mas
simultaneamente - o número abre uma linha de fuga que escapa da métrica em direção à
cardinalidade: comprimindo-a até magnitudes absolutas (incontáveis). Um embaralhamento
numérico-composicional da expressão (aritmética transcendental gödeliana) interopera
virtualmente com um rompimento diagonal-diagramático do conteúdo (planotectônica
cantorina). Ambos começam a partir dos Estratos: metaestases segmentárias
isomorficamente entrelaçadas com dinâmicas complementares. A gödelização transforma o
isomorfismo no vírus de processo colateral, desbloqueando a metrificação ao desmantelar a
superordenação da expressão. As diagonais de Cantor conduzem a isomorfia por outro
caminho, através do Oecúmeno, para dentro de vagos cataespaços de conteúdo
problemático, onde ela se histeriza contra o contínuo (colapso métrico em hiperdensidades
Planômicas).
Faça da própria cardinalidade uma medida de potencial isomórfico. O resultado é uma
análise transfinita de conjuntos - cheia de nomos torcionais - onde ordens de contenção são
topologicamente desinteriorizadas por uma deformação absoluta. De acordo com as intuições
métricas (conformidade com estratos finitos), um conjunto que contém outro dentro de si
evidencia uma cardinalidade superior. A série dos números naturais é o caso crucial. Ela
claramente não é o primeiro infinito contável, mas o enésimo, onde o n é em si um número
infinito. Infinitos inumeráveis são aninhados pelos naturais, em meio aos quais a
preeminência pertence aos primos (demonstravelmente infinitos, desde Euclides)11. Uma vez
que os primos consistem de uma seleção proporcionalmente decrescente do conjunto dos
naturais, a métrica projetiva finita confiantemente antecipa sua subsunção cardinal. Introduzir
a isomorfia faz sentido a princípio. Por que não usar infinitos para contar uns aos outros?
Produza critérios de contagem abstratos ao interzipar virtualmente séries intermináveis. Um
critério é exigido para estimar diferencialmente as cardinalidades dos infinitos subnaturais.
Nada aparece.

11
O teorema dos números primos de Euclides inaugura a teoria dos números provando a não-finitude
da série dos primos. Seu ingrediente conceitual básico é o fatorial de n (n! = 1 x 2 x 3... x n), abrangendo
todos os divisores possíveis abaixo e até n. Em qualquer maneira que n! + 1 seja dividido (além de por
1), ele necessariamente deixa 1 enquanto resto. Se quaisquer divisores para n! + 1 existem - portanto
- eles devem ser maiores do que n em si, de modo que n! + 1 é ou primo, ou um múltiplo de algum
primo maior do que n. Uma vez que nenhum número menor do que n pode ser o último primo, e n pode
ser qualquer número, nenhum número pode ser o último primo. É notável que esta demonstração
abstrata compartilha de uma característica crucial do argumento diagonal: aquela de inovação
construtiva ilimitável através da exaustão e permutação rigorosas, que produzem um item excedente
indicando a não completude.

7
NÚMENOS COM PRESAS

O problema é composto quando uma definição é necessária para o limiar de


infinidade. Como determinar o primeiro conjunto transfinito? Os naturais fornecem um modelo
para a contabilidade: a capacidade de executar uma conta abstrata - até mesmo sem fim -
através de passos exaustivos. Use um outro infinito para contar através da máquina abstrata
para você, contanto que não perca nenhum passo. Se o fim já está lá, da perspectiva do
infinito, então o prolongamento extensivo perde sua proeminência. O primeiro conjunto não-
finito deve já ser intensivamente infinitizado: introduzindo uma recursão suficiente como o
princípio da magnitude transfinita. Para que um conjunto evite ser superado em contagem -
relegado à finitude - um mínimo de recursividade é exigido. O primeiro conjunto transfinito
deve ser isomórfico a um subconjunto de si mesmo (primeira recursão a uma potência
infinita).
A cardinalidade se derrete na esquizofrenia precisamente aí. Todo conjunto contável
que cruza o limiar de recursão transfinita se achata em um único hipervalor: Aleph-0. Os
primos o fazem (e qualquer coisa que o faça, o faz a uma potência transfinita (de modo que
um número infinito de subconjuntos dos primos o fazem (o que cada um, por sua vez, (((( ...
)))))). Quando o transfinito acontece, ele se alimenta diretamente a si mesmo ... e então
diagonais entram.
A consistência aritmética (p. ex. (1 ÷ 3) x 3 = 1) implica na equação 1 = 0.999...12 e,
assim, em uma forma expandida necessária para cada número, expressando-o com tantas
casas decimais quanto existem números em uma série infinita contável (Aleph-0). Um
conjunto ordenado de tais números desenha uma matriz, que tem dois lados, definidos por
diagonais que funcionam como fios de corte: definindo uma fronteira ao cruzá-la (na direção
da consistência). Eles contam como mônadas leibnizianas, cada uma reduplicando o universo
dentro de si (a complexidade de cada uma sendo não menos do que aquela do todo).
Igualmente, elas contam corpos espinozísticos, cujas latitudes intrínsecas mapeiam relações
extrínsecas, constituindo o paralelismo estrito entre cosmos intensivo e extensivo.
Quando a cartografia mapeia corpos através de latitude e longitude, ela os interpreta
como diagonalizáveis. Diagonais são linhas de fuga. Elas se conectam a elementos fora da
totalidade, desenhando trajetórias entre os cruzamentos absolutos marcados pela magnitude
Oecumênica e Planômica hipertensa. O método diagonal ativa um potencial inovador
inexaurível. Ele explora capacidades não maiores do que aquelas pressupostas por uma
conclusão prospectiva, que ele então subverte, ao encontrar um item estranho em relação a
qualquer lista, até mesmo uma infinita. Ele o faz ao construir um número que varia a partir do
enésimo número já listado em sua enésima casa decimal (ou fracional-modular) (pelo menos).
Isto é mais economicamente exemplificado por um diagonalismo determinístico, produzido
quando todos os valores numéricos são expressos em notação binária (mod-2). A série de
variações diagonais será, então, estritamente programada por uma alternação simples
(troque 0 por 1, e inversamente). Ao incluir recursivamente cada novo número na lista
excedida e rediagonalizando, todo o conjunto (transfinito) de itens extranumerados gera a si
mesmo automaticamente.
O que foi descoberto? Cardinalidade transfinita número-2: Contínuo Último, uma
borda absoluta, tocada diagonalmente - como o que vem a seguir - depois que a totalidade
Oecumênica foi terminada em intensidade. Na cardinalidade C(ontínua), a magnitude se torna
inúmera, desengajando a métrica da contabilidade comparativa. Cantor desliza através da

12
1 = 0,999... (mod-10), ou (mod-2): 1 = 0,111...

8
MECANOMIA

esquizofrenia, não-zona nomos, a magnitude é ocupada sem ser contada.13 Um cheiro como
se algo queimasse no Superstrato. Lá Fora é Planomic Now, e os números estão
enxameando. Aleph-0 se vaporiza por sobre o plano de consistência.

MAIORES REFERÊNCIAS

Crowley, Aleister, 777 and other Qabalistic Writings.


Deleuze, Gilles, e Felix Guattari, Capitalism and Schizophrenia Volume 1: Anti-Oedipus.
(London:Athlone, 1984).
Deleuze, Gilles, e Felix Guattari, Capitalism and Schizophrenia Volume 2: A Thousand
Plateaus. (London:Athlone, 1988).
Gödel, Kurt, On Formally Undecidable Propositions. (NY:Basic Books, 1962).
Gokhale, Shobhana Laxman, Indian Numerals. (Poona:Deccan College, 1996).
Kaplan, Aryeh, ed., Sefer Yetzirah, the Book of Creation (In Theory and Practice). (NY:Samuel
Weiser, 1983).
McLeish, John, Number. (London:Bloomsbury, 1991).
Thapar, Romila, Time as a Metaphor of History: Early India. (Delhi:Oxford University Press,
1996).

13
Nomos - espaço não seccionado ou 'pasto' (por mais escasso que seja) - sustenta uma população
em trânsito contínuo, não tolera nada além de totalidades explodidas. Ao desempilhar todos os níveis
organizacionais em dinâmica turbular, nomos garante uma conversão perpétua de redundância em
processo diferencial, efetuando uma contra-memória coletiva enquanto impulso vortical (torque).

Você também pode gostar