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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG

CENTRO DE EDUCAÇÃO E SAÚDE - CES

UNIDADE ACADÊMICA DE FÍSICA E MATEMÁTICA – UAFM

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

KANT E

A COMPREENSÃO DA NATUREZA

DISCENTES:

Diniz Raimundo Santos Filho

Sueli da Silva Santos

Jéssila Letícia Santos Pereira

Semonaria da Silva Santos

27 de Novembro de 2019
KANT E A COMPREENSÃO DA NATUREZA

INTRODUÇÃO

Ao longo dos séculos XVII e XVIII, se consolidava no meio científico o


Empirismo, tendência positiva e prática, expressa pela cultura anglo-saxônica,
e o Racionalismo, corrente vinculada ao pensamento francês.

O Racionalismo privilegiava a razão como meio de conhecimento que


explicava a realidade. Enquanto o Empirismo diz que o conhecimento provém
somente da experiência, limitando-se ao que pode ser captado pelos sentidos.

Immanuel Kant tentou aliar essas duas correntes filosóficas, pois


compreendeu que não haveria conhecimento sem percepção sensível e,
tampouco, sem entendimento. Além das contribuições para o pensamento
filosófico, elaborou uma teoria pedagógica em que o homem é o único ser que
necessita ser educado e dá outras disposições sobre.

Uma de suas obras foi sobre a educação (pedagogia), segundo Kant, é


a razão que distingue os seres humanos dos animais, pois sobre a razão
consiste a faculdade de julgar. Mas não é porque o homem é racional por
natureza que ele faz o devido uso de sua razão, pois a razão, além de estar
implícita, sofre a influência das inclinações, mesmo assim é capaz de conceber
a ideia de uma razão pura e prática, mas não é tão facilmente dotado da força
necessária para torná-la eficaz e concreta no seu comportamento.

Dessa forma, a educação por meio da disciplina e instrução possibilita o


sujeito orientar suas ações em uma pedagogia que aponta para a liberdade.

DESENVOLVIMENTO

Após o estabelecimento da ciência moderna, a filosofia teve de enfrentar


um problema crucial: como se conhece a verdade? Duas correntes filosóficas
se opunham no que tange a forma de apreensão da realidade.

A primeira foi o racionalismo que via no pensamento a única fonte


confiável de conhecimento. Só na razão residiria a verdade universal. A
segunda era o empirismo, defensor da ideia de que todo saber só poderia
provir dos sentidos, da experiência sensível. Vários filósofos haviam se
alinhado no interior das duas correntes. Essa dualidade não era nova, existia
desde os gregos.

Os racionalistas tinham em René Descartes sua referência no contexto


da ciência moderna. Além de se posicionar filosoficamente a favor do primado
da razão em detrimento dos sentidos, Descartes construíra uma física de
cunho matemático, baseada em processos dedutivos a partir de princípios
gerais.

Os empiristas, como o britânico John Locke, defendiam que a mente


humana era uma tabula rasa na qual os sentidos iam imprimindo ideias simples
ao longo da vida. A partir delas, o intelecto construíra ideias complexas. O
processo que permitiria partir de fatos particulares, apreendidos pelos sentidos
para chegar à formulação de leis e teorias gerais chamava-se indução.

David Hume, outro empirista britânico, levantou em 1748 sérias


questões relativas ao método da indução. Sua pergunta básica era: como se
poderia passar da observação de um fato particular para uma lei geral?
Tentando responder a essas indagações, Hume formulou uma resposta na qual
afirmava que só os conhecimentos locais, provenientes da experiência,
provenientes da experiência, poderiam ser considerados verdadeiros. As
generalizações, frutos da razão, seriam sempre falsas, pois não se tinha
garantia alguma de sua veracidade em qualquer situação. Em outras palavras,
para Hume, a observação de um mesmo fenômeno não garantiria que ele se
repetisse indefinidamente, não podendo assim levar à conclusão de sua
universalidade. O fato de o Sol ter nascido todos os dias até hoje não garante
que ele irá nascer amanhã. Essa posição cética de Hume acabou influenciando
enormemente outro filósofo que passou a se debruçar de forma mais
contundente sobre esse problema epistemológico: Immanuel Kant (1724-1804).

Nascido na cidade de Konigsberg, na antiga Prússia Oriental, Kant não


casou, não teve filhos e jamais saiu de sua cidade natal. A importância de seu
trabalho na tentativa de resolver a dualidade racionalismo/empirismo colocou-o
entre os maiores filósofos do século do Século das Luzes, sendo apontado por
muitos como o maior filósofo do iluminismo.

Sua proposta era buscar uma síntese das duas posições consideradas
antagônicas e excludente até então. Kant admitiu que o conhecimento deveria
ser obtido por meio da experiência sensível, concordando em parte com os
empiristas, mas percebeu que sua obtenção não ocorreria de forma pura. A
interpretação e análise das informações provenientes da experiência sensível
eram condicionadas por elementos dados pela razão a priori. Assim,
parafraseando o próprio Kant, pode-se dizer que a razão sem os conteúdos
dos sentidos é vazia, mas a sensações sem a razão são cegas.
Kant procurou fazer uma distinção entre duas realidades distintas: a
coisa-em-si, ou número, e a coisa-pra-nós, ou fenômeno. Afirmou que jamais
poderemos chegar ao conhecimento da coisa-em-si, pois no processo de
conhecimento, existiriam formas de entendimento próprias dos homens que
funcionam como óculos, filtrando nossas apreensões da realidade e revelando
não a coisa-em-si, mas a coisa-para-nós. Com isso, Kant retirava o sujeito e o
objeto do centro da investigação filosófica, como acreditavam racionalistas e
empiristas, respectivamente, colocando em seu lugar a interação sujeito-objeto.

A obra de Kant procurou dar um fundamento filosófico para a nova


ciência que tinha como referência a física newtoniana e a geometria euclidiana.
Seu pensamento ofereceu um caminho seguro para as investigações
científicas em diversas áreas ao longo do século XlX.

A antropológica prática de Kant, sobretudo, se refere ao âmbito da


educação. Kant afirma que “o homem é a única criatura que precisa ser
educada”, e que “o homem não pode se tornar um verdadeiro homem senão
pela educação, ele é aquilo que a educação faz dele”.

A disciplina transforma animalidade em humanidade. Um animal é por


seu próprio instinto tudo aquilo que pode ser; uma razão exterior a ele tomou
antecipadamente todos os cuidados necessários. O homem tem necessidade
de sua própria razão, não tem instinto e precisa formar por si mesmo seu
projeto de conduta. A espécie humana é obrigada a extrair de si mesma pouco
a pouco, com suas próprias forças, todas as qualidades naturais, que
pertencem à humanidade.

A disciplina é o que impede ao homem de desviar-se do seu destino, de


desviar-se da humanidade, através das suas inclinações animais. Ela deve, por
exemplo, conte-lo, de modo que não se lance ao perigo como um animal feroz
ou como um estúpido. A disciplina é puramente negativa, porque é o
tratamento através do qual se tira do homem a sua selvageria; a instrução, pelo
contrário, é a parte positiva da educação.

A selvageria consiste na independência de qualquer lei. A disciplina


submete o homem às leis da humanidade e começa a fazê-lo sentir a força das
próprias leis. Mais isso deve acontecer bem cedo. O homem é tão
naturalmente inclinado à liberdade que, depois que se acostuma a ela por
longo tempo, a ela tudo sacrifica. Ora, esse é o motivo preciso, pelo qual é
conveniente recorrer cedo à disciplina; pois, de outro modo, seria muito difícil
mudar depois o homem. Ele seguiria então todos os seus caprichos.

O homem não pode se tornar um verdadeiro homem senão pela


educação. Ele é aquilo que a educação dele faz. Note-se que ele só pode
receber tal educação de outros homens, os quais a receberam igualmente de
outros. Portanto, a falta de disciplina e de instrução em certos homens os torna
mestres muito ruins de seus educandos.

Quem não tem cultura de nenhuma espécie é um bruto; quem não tem
disciplina ou educação é um selvagem. A falta de disciplina é um mal pior do
que a falta de cultura, pois esta pode ser remediada mais tarde, ao passo de
que não se pode abolir o estado selvagem e corrigir um defeito de disciplina.

Os animais cumprem o seu destino espontaneamente e sem o saber. O


homem, pelo contrário, é obrigado a tentar conseguir o seu fim; o que ele não
pode fazer sem antes ter dele um conceito. O indivíduo humano não pode
cumprir por si só essa destinação.

A educação é uma arte, cuja prática necessita ser aperfeiçoada por


várias gerações. Cada geração, de posse dos conhecimentos das gerações
precedentes, está sempre melhor aparelhada para exercer uma educação que
desenvolva todas as disposições naturais na justa proporção e de
conformidade com a finalidade daquelas, e, assim, guie toda a humana espécie
e seu destino.

O homem deve, antes de tudo, desenvolver as suas disposições, para o


bem; a providência não as colocou nele prontas; são simples disposições, sem
a marca distintiva da moral. Tornar-se melhor, educar-se e, se se é mau,
produzir em si a moralidade: eis o dever do homem. Desde que se reflita
detidamente a respeito, vê-se o quanto é difícil. A educação, portanto, é o
maior e o mais árduo problema que pode ser proposto aos homens. De fato, o
conhecimento depende da educação e esta, por sua vez, depende daqueles.
Por isso, a educação não poderia dar um passo à frente a não ser pouco a
pouco, e somente pode surgir um conceito da arte de educar na medida em
que cada geração transmite suas experiências e seus conhecimentos à
geração seguinte, a qual lhes acrescenta algo de seu e os transmite à geração
que lhe segure.

Entre as descobertas humanas há duas dificílimas, e são: a arte de


governar os homens e a arte de educá-los. A arte da educação ou pedagogia
deve, portanto, ser raciocinada, se ela deve desenvolver a natureza humana de
tal modo que esta possa conseguir o seu destino. Os pais, os quais já
receberam certa educação, são exemplos pelos quais os filhos se regulam.
Mas, se estes devem tornar-se melhores a pedagogia deve tornar-se um
estudo; de outro modo, nada se poderia dela esperar e a educação seria
confiada a pessoas não educadas corretamente.

Um princípio de pedagogia, o qual, mormente os homens que propõem


planos para a arte de educar deveriam ter ante os olhos, é: não se devem
educar as crianças segundo o presente estado da espécie humana, mas
segundo um estado melhor, possível no futuro, isto é, segundo a ideia de
humanidade e da sua inteira destinação. Esse princípio é da máxima
importância. De modo geral, os pais educam seus filhos para o mundo
presente, ainda que seja corrupto. Ao contrário, deveriam dar-lhes uma
educação melhor, para que possa acontecer um estado melhor no futuro.

Uma boa educação é justamente a fonte e todo bem neste mundo. Os


germes que são depositados no homem devem ser desenvolvidos sempre
mais. Na verdade, não há nenhum princípio do mal nas disposições naturais do
ser humano. A única causa do mal consiste em não submeter à natureza a
normas. No homem não há germes senão para o bem.

Na educação, o homem deve, portanto: ser disciplinado (quer dizer;


procurar impedir que a animalidade prejudique o caráter humano); tornar-se
culto (a cultura é a criação da habilidade e esta é a posse de uma capacidade
condizente com todos os fins que almejamos); ser prudente (que o homem
permaneça em um lugar na sociedade e que seja querido e tenha influência);
ter moral (convém que ele consiga escolher apenas os bons fins).

CONCLUSÃO

As propostas de produção de conhecimento propostas por Descartes,


Hume, Locke e Kant, foram extremamente importantes para o que veio se
tornar o método científico. Descartes que era da corrente racionalista via no
empirismo um defeito crucial, ele considerava que os sentidos eram falhos e,
portanto não eram instrumentos confiáveis para chegar-se a qualquer
conclusão. Porém Hume e Locke da vertente empirista consideravam a
experimentação método únicos para se alcançar às leis gerais do universo e
eram os sentidos responsáveis pela compreensão do mundo. Há nesses dois
ramos pontos positivos e negativos tais qual é impossível que qualquer um
deles possam nos dar leis universais que expliquem o mundo, visto que a ideia
sem experiência que comprove sua existência não é aceitável, por outro lado
presenciar um fenômeno frequentemente não quer dizer que aquele fenômeno
irá se repetir pra toda eternidade.

Kant como responsável por sintetizar as duas teorias, avistou no


horizonte a comprovação de ideias através da experimentação a fim de
resolver esta dualidade. Porém ele introduziu algo extremamente interessante
à presença de filtros em cada um, que captam a realidade a sua volta, e
modifica invariavelmente a coisa observada, por isso nunca alcançamos as
coisas como elas são.
Kant compreende que a educação parte desde o princípio. Quando
criança, precisamos ser guiados para os preceitos do bem, temos que ser
ensinados a pensar e não viver de forma brutal como é da natureza humana.
Uma geração educa a outra de forma a tornar cidadãos disciplinados. Essa
disciplina deve ser aplicada logo cedo para que sejamos acostumados com as
leis da humanidade, ao contrário disso será muito difícil mudar depois de
homem. O homem não pode se tornar um verdadeiro homem senão pela
educação. Educação essa, passada de um para outro, logo, para se ter bons
educandos terá que ter sido um bom educador. De acordo com o auxílio da
disciplina e da instrução é que o homem usa da razão para construir sua moral.

REFERÊNCIAS

⮚ BRAGA, Marco; GUERRA, A; REIS, J.C.; Breve história da ciência


moderna, volume 3: Das luzes ao sonho do doutor Frankenstein – Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005

⮚ Disponível em>http://www.ensinarfilosofia.com.br/wp-
content/uploads/2017/03/KANT-Sobre-a-Pedagogia.pdf > acesso em 18
de novembro de 2019

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