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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA II
Prof. Me. Luiz Carlos Berri
● 16/02/2023 – 4 créditos
● Plano de ensino;
o Avaliações:
+ 23/03: Atividade avaliativa de leitura e interpretação de texto
+ 27/04: Avaliação escrita
+ 18/05: Atividade avaliativa de leitura e interpretação de texto
+ 06/07: Avaliação oral
+ Atividade de extensão
o Bibliografia Básica: VAZ, Henrique C. de Lima. Antropologia filosófica
II. São Paulo: Loyola, 1992.
o Conteúdo programático: 3. A pessoa humana e sua realização
3.1 A realização humana
3.2 A pessoa
4. Considerações finais

2. RELAÇÕES DO SER HUMANO

2.1 Relação com o mundo (objetividade)


(A nossa relação é fundamentalmente relacionada ao nosso ser no mundo)
consciência da relação: eu – mundo 🡪 intencionalidade: sempre que estou consciente há outro correlato,
ex.: sempre que estou pensando, há uma diferença entre eu e o objeto que estou pensando

(sujeito se relaciona com a natureza e a partir disso, forma conceitos/explicações) = natureza 🡪 sujeito =
forma (discurso)
2.1.1 Sentidos do termo objetividade
- Sentido lógico: razão formal segundo a qual um objeto é considerado em determinada
ciência.
- Sentido gnosiológico: oposição do sujeito e do objeto na ordem do conhecimento.
- Sentido epistemológico: alcance objetivo dos conceitos e teorias nas ciências.
- Sentido dialético (Hegel): momento dialético da Lógica subjetiva que opera a
passagem da subjetividade à Ideia.
- Sentido moral: a objetividade moral é atribuída às realidades que são normativas com
relação à ação moral, como o bem, o fim, a norma da reta razão, a lei moral.
- Sentido antropológico (nossa disciplina): designa a abertura do homem à realidade
com a qual ele estabelece uma relação não recíproca (unilateral, apenas o sujeito se relaciona
com o mundo): formas de relação do homem com o ser (ex.: presença mundana: sua
presença aos objetos e eventos cuja interconexão constitui o mundo). (Se fundamenta na
nossa abertura ao Ser, antes de me relacionar com o mundo, eu me relaciono com o Ser)

2.1.2 Pré-compreensão da relação de objetividade: o homem e o mundo


● Noção de mundo usualmente utilizado na filosofia contemporânea tem sua
origem no: Historicismo de Dilthey e na Fenomenologia (Husserl e seus
discípulos: Max Scheler, Heidegger). Eu – não eu (outro) 🡪 estrutura básica da nossa
consciência
● Historicismo de W. Dilthey: introduziu a ideia de visão de mundo
(Weltanschauung) sob um tríplice aspecto:
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- Aspecto histórico-cultural: referência às características culturais de uma época.


- Forma de pensamento (Denkform): imprime seus traços originais às diversas
“visões de mundo” (Estrutura cognoscitiva).
- Aspecto psicológico: incidência da “visão de mundo” na formação dos
indivíduos. (forma mentis (expressão escolástica) – todos temos uma formação que vai
configurando nossa mente)

● Mundo como horizonte: espaço intencional cujos limites estão em perpétuo


movimento.
● Horizonte móvel em cujo fundo desenha-se o perfil das coisas e o tempo
transcorre como trama dos acontecimentos.
● 02/03/2023 – 4 créditos
(objetividade: próprio da dimensão do espírito do no ser humano)
● Primeira determinação de forma de expressão do sujeito ao relacionar-se com
a realidade externa.
● Relação não recíproca entre sujeito e mundo donde lhe advém o caráter de
objetividade.
● O mundo se apresenta como:
o Mundo dos objetos: homólogo ao nosso corpo (localização
espácio-temporal);
o Como mundo das representações e desejos no espaço-tempo da
interioridade psíquica;
o Como mundo das significações e dos fins no domínio do espírito.
(aqui não se fala de espaço)
● Determinações ulteriores (posteriores):
o Caráter concreto do mundo como englobante último das coisas e
acontecimentos (distinto da acepção lógica como unidade abstrata, da
acepção ontológica de kósmos na concepção clássica e da acepção crítica
de mundo como reguladora da razão segundo Kant)
o Caráter aberto da representação do mundo (horizonte móvel). Distinção
entre entorno (horizonte próximo) e patência (abertura do horizonte
distante pressentido como possibilidade ou como apelo): entre os dois o
homem se exprime como ser-no-mundo.
o Caráter de fundamento de sentido da noção de mundo como solo
primeiro no qual se enraíza a vida do homem enquanto propriamente
humana ou como “mundo da vida”.
o Caráter histórico-cultural da noção de mundo possibilitando a elaboração
de “visões de mundo”.
▪ o “mundo da vida” é o terreno onde se exerce a pré-compreensão
da relação de objetividade ou o horizonte que engloba os
horizontes possíveis de uma compreensão explicativa ou
científico do mundo.
o O Mundo se apresenta se apresenta como caminho para uma realidade
trnasmundana (estrutura paradoxal do “englobante” e do “aberto”)
● Relação de objetividade (não recíproca) se manifesta na expressão do mundo
na forma de discurso (lógos) cuja primeira articulação se dá na linguagem.
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2.1.3 Compreensão explicativa da relação de objetividade: o homem e a natureza.


● Distinção:
o Mundo: termo primeiro da relação do homem com o Ser ou horizonte
imediato da sua abertura ao Ser (analisado fenomenologicamente)
o Natureza (próprio da compreensão explicativa): o mundo tal como se
oferece ao homem como campo do seu fazer ou técnica (poíesis) e do seu
contemplar ou ciência (theoría).
● Duas observações preliminares:
o Caráter da objetividade do conceito de natureza: sentido
antropológico, ou seja, segundo o qual o homem se comporta em face do
mundo, transformando-o pela técnica e explicando-o pela ciência. Não se
trata da objetividade científica (atributo primeira da natureza em-si) nem
da objetividade fenomenal (sentido crítico-kantiano enquanto oposta à
objetividade em-si no mundo).
o Polissemia do termo “natureza” desde a sua origem interessando à
antropologia dos sentidos.
o Dois sentidos do termo natureza que interessam à antropologia:
a) Natureza pensada como fundo originário, natureza originante (natura
naturans - criador) ou como mãe natureza (mater matura) aberta ao
conhecimento e à transformação.
b) Natureza pensada como a realidade exterior na medida em que é
submetida às normas de uma racionalidade específica (teorias, leis,
modelos, conceitos) como a ciência e a técnica (sentido que interessa
à antropologia).
● Dois aspectos indissoluvelmente implicados ao conceito de natureza que
satisfazem necessidades fundamentais na relação com a realidade exterior:
o Fazer ou técnica: satisfação das carências que se estendem do biológico
ao espiritual.
o Ciência: satisfação da necessidade de conhecer.
● Técnica e ciência:
o Concepção utilitária: uma das formas fundamentais da compreensão
explicativa da relação de objetividade.
o Concepção ontológica: no horizonte da relação do homem com o Ser
(Heidegger).
▪ Hoje é a natureza científica que se constitui em domínio por
excelência da realidade objetiva.

2.1.4 COMPREENSÃO FILOSÓFICA DA RELAÇÃO DE OBJETIVIDADE


● 16/03/2023 – 4 créditos
Aporética histórica: Desenvolvimento histórico da relação do homem com a realidade
exterior.
● Kósmos no pensamento antigo
o Mútua reflexão entre o homem e o kósmos
(Macrocosmos-microcosmos)
o Acentuação cosmocêntrica na relação de objetividade: kósmos torna-se
espelho no qual o homem se contempla (reveste-se do predicado de
divino).
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o Conceito de Physis (Platão e Aristóteles) compreende o homem na


imutabilidade de uma ordem de essências. A antropologia tende a ser
parte da cosmologia.
● Mundus no pensamento cristão-medieval:
o Desdivinização do kósmos pela doutrina da criação. Prepara o conceito
de “natureza” moderno.
● Natureza científico-técnica na filosofia moderna:
o Dissolução do Kósmos antigo e do mundus medieval
o Matematização da natureza (abstração da natureza)
● Mundo na filosofia conteporânea:
o Relevo particular à dimensão antropológica da relação do homem com
a realidade.
o Husserl e Heidegger: elucidação das estruturas do ser-no-mundo.
● Aliança antropocósmica no pensamento atual
o Posição central do homem no devir cósmico: princípio antrópico,
perspectiva finalista e teísta de Teihard de Chardin e respeito e
admiração religiosa diante do universo de Albert Einstein
o Nova sensibilidade ecológica.
● Tendência atual: fazer do universo o fundo primordial do qual o homem
procede e para o qual retorna.
o Ser cincunscrito ao ser-no-mundo
o A significação do homem se exaure em sua situação no mundo
(ser-para-a-morte)
o Interrogação sobre o significado ontológico do nosso ser-no-mundo.
● Nossa situação mundana incorpora na filosofia contemporânea dois aspectos
fundamentais:
o Mundo vivido como proto-natureza que envolve o homem e solo onde
enraíza sua vida.
o Mundo construído pela objetivação teórica da ciência e pela objetivação
prática da técnica.
Pergunta: A resposta final sobre o ser homem (obscuridade do Começo e
do Fim) pode ser encontrada aí?
● O sujeito aparece como tarefa e destino:
o Tarefa: o homem é para o mundo (esse ad) na medida em que age sobre
ele pela experiência, pela ciência e pela técnica. (homem quer transformar o
mundo sob sua perspectiva)
o Destino: o mundo envolve o homem na fixidez estática do espaço e no
inelutável avançar do tempo para o horizonte absoluto da morte.
● 23/03/2023 – 4 créditos
● A categoria da objetividade exprime a referência constitutiva à realidade
exterior (domínio do ser relativo)
o O Eu aparece estruturalmente situado (espaço-tempo) (corpo próprio)
o Relação com o mundo como primeiro englobante em seu ser-para
● Significação mais profunda da categoria da objetividade:
o Pelo corpo próprio (categoria primeira e fundante de nosso ser) nos
situamos no mundo.
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(por um lado estou ligado ao mundo e ao Ser 🡪 não somos puramente espirituais e nem
completamente materiais = constitui a nossa realidade)
o Pelo espírito, esta presença recebe uma elucidação definitiva em sua
abertura transcendental ao Ser.
o Delineada a possiblidade do conhecimento da infinidade real do Ser
absoluto e inclinação (amor) À sua bondade infinita.
o Negação da identidade entre o sujeito e o “para” da sua relação com o
mundo-natureza.

● 30/03/2023 – 4 créditos

INTERSUBJETIVIDADE
(relação entre sujeitos)
● Relação de intersubjetividade:
o Reciprocidade
o A infinitude intencional (o sujeito aos 90 anos ainda não foi capaz de compreender
toda sua realidade, está sempre aberto – o ser espiritual está sempre aberto à esta
infinitude – o indivíduo está intencionalmente voltado à alguma coisa) do sujeito tem
diante de si outra infinitude.
o A relação de intersubjetividade ocorre no médium da linguagem
(postura corporal, gestos, palavras, articulação do discurso) (É sempre
çelatravés da linguagem que o outro se revela/mostra).
o Abertura constitutiva do sujeito: síntese do ser-em-si (esse in) e do
ser-para (esse ad)

● Pré compreensão

● Relação com o outro como outro eu (Alter ego): reciprocidade


● Relação de reciprocidade: natureza primeira e originante, primazia em relação
aos seus termos (primum relationis).
● A reciprocidade constitutiva da relação com o outro mostra a impossibilidade
do solipsismo.

> 13/04/2023 - 4 créditos


Solicitação de observação: Projeto de extensão
● Relação com o mundo (objetividade): Relação com o mundo físico (extrativismo
– caça, pesca, coleta de frutos não cultivados…), alterações na natureza
(agricultura, tecnologia própria e tecnologia externa).
● Relação com o outro (intersubjetividade): Memória histórica (relação com os
antepassados…), estrutura social (família, organização tribal…), níveis de
relação: [(eu - tu: amizade, namoro, casamento), (eu - comunidade familiar:
relação pais e filhos, educação…), (eu - comunidade tribal), (eu - sociedade
brasileira) e (eu - humanidade)].
● Relação com o absoluto (transcendência): arquitetura (local de culto), ritos
religiosos (dos antepassados, cristiansimo ou outro…), liberdade religiosa
individual (?).
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● A experiência intersubjetiva é tratada sob vários enfoques:


○ Fenomenológico: Husserl - teoria da intersubjetividade transcendental
○ Gnosiológico: procura fundamentar criticamente a relação de
conhecimento entre sujeitos. O conhecimento do outro na sua irredutível
originalidade se dá no encontro dos sujeitos.
○ Psicológico: ocorre no plano da realidade empírica do encontro com o
outro (vida psíquica: percepção, imaginação e afetividade)
○ Lógico: ligado ao medium da linguagem. Expressão primeira: diálogo.
○ Ética: a experiência do encontro do outro com a experiência ética: G.
Marcel e E. Levinas.
○ Histórico: co-existir histórico-social: modo próprio de existir no tempo
com sua afetivação nos costumes, nas instituições, na linguagem…
❖ Compreensão explicativa da relação intersubjetiva
● Sociologia e história (aqui estamos falando de nós = sociedade/humanidade)
○ Aporética histórica: Gregos
■ Opinião corrente: o tema do conhecimento do outro como outro
não foi tratado no pensamento antigo. (tema especialmente do nosso
tempo, século XX)
■ O problema da comunidade humana ocupa lugar importante na
filosofia. Compreende diversas formas de convivência humana:
família, cidade, confrarias religiosas e filosóficas e o gênero
humano.
■ Amizade: principal vínculo que une os homens. Marcada pela
natureza (disposição natural, afinidade e afetividade) e a razão (o
bem e a virtude como fim da amizade).
○ Idade média:
■ O próximo na tradição bíblico-cristã medieval
- Rompe com a visão antiga que a amizade só pode ser vivida entre
iguais.
- Funda-se na revelação da ágape do amor-dom de Deus.
○ Idade moderna:
■ Ocultação do outro no racionalismo moderno
- Construção conceptual da realidade a partir do sujeito
(Descartes);
- O cogito envolve o outro e paradoxalmente o oculta.
- Exploração de caminhos indiretos: raciocínio por analogia;
sentimento na tradição do empirismo inglês; universalização da
norma moral em Kant; presença do outro na constituição do
universo moral (Fichte).
■ O outro no horizonte da história:
- A partir de Hegel historiocentrismo coloca o problema da
comunidade humana.
- A solidão a-histórica do Eu cede lugar ao Nós como
sujeito da história.
- Protesto contra a ameaça dominadora de um sujeito
supraindividual: Kierkegaard, Feuerbach, Nietzsche.
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○ Filosofia contemporânea
■ Retraimento das filosofias do sujeito da história;
■ Crescimento das formas de comunicação e sua extensão mundial
exigiu uma reflexão filosófica sobre a relação intersubjetiva.
■ Três camihas de convergência para o lugar central do Eu no
pensamento atual:
- Caminho fenomenológico: Husserl, Scheler, Jaspers, G.
Marcel e Sartre.
- Caminho lógico: investigações sobre a natureza e
estrutura lógica do diálogo.
- Caminho linguístico: análise da linguagem como medium
primeiro para o encontro com o outro.
■ Qual o fundamento que permite a esta relação transcender seus
simples acontecer natural e histórico e revelar a dignidade de um
outro Eu?
○ Aporética crítica
■ Passagem do Nós empírico (puro acontecer) ao Nós
transcendental (constitui algo permanente: vínculos de família de
amizade, sociais, políticos…)
■ Extensão analógica do Eu (analogado principal) ao Nós
(ser-em-comum que analogamente pensa, delibera, reflete,
decide…)
○ O homem é ser-no-mundo porque ser-com-o-outro (o mundo é mediação
para o encontro com o outro)
○ Ser-com-o-outro é constitutivo da estrutura relacional do sujeito.
○ Oposição fundamental inerente á intersubjetividade entre o eu que só
pode ser pensado ser-com-o-outro em sua irredutível singularidade e o
Nós que se constitui na saída do Eu ao encontro do outro (unidade na
pluralidade).
(Nossa primeira relação é com o ser, e através dela com os outros e depois a relação objetiva)
○ Identidade na diferença: o ser-em-comum é constituído pela identidade
dialética entre o ser-em-si dos sujeitos e o seu ser-para-o-outro.
○ Primazia do ser (abertura do espírito) torna possível a passagem da
intersubjetividade à transcendência.
○ Quatro níveis fundamentais:
■ Relação interpessoal (eu-tu): caráter oblativo, mais ou menos
profundidade, tende à gratuidade do dom-de-si. Amor:
tri-unidade de pulsão, amizade e dom. Virtude própria: felicidade
■ Relação Eu-nós: existir intracomunitário. Caráter de
convivialidade e colaboração espontânea nas tarefas da
comunidade. Virtude própria: amizade.
■ Relação intrasocietária: consenso reflexivo: direitos e deveres
(obrigação cívica). Passagem da sociedade convivial à sociedade
política. Virtude própria: justiça
■ Comunicação intracultural (eu-humanidade): existir histórico. A
história é o englobante último do homem.
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○ Eticidade da comunidade humana: submissão à primazia e norma do ser


como verdade e bem (infinidade formal) e como Existente absoluto
(infinidade real) que rege o agir individual e social.
○ Presença do dever-ser no coração da relação de intersubjetividade mostra
a impossibilidade de uma relação intersubjetiva eticamente neutra.

PROVA DISCURSIVA 27/04

> 04/05/2023 - 4 créditos

● O termo transcendência designa a relação entre o sujeito situado e uma realidade


que está para além da realidade imediatamente acessível e com a qual
necessariamente se relaciona,
(intencionalidade entra aqui também, mas ela me lança para além da realidade imanente, é um
correlato do meu eu)
● Passa além dos limites da intersubjetividade (comunidade humana e história).
● Resultado de um excesso ontológico (identidade entre espírito e ser): o sujeito se
sobrepõe ao mundo e à história e avança além do ser-no-mundo e do
ser-com-o-outro em busca do fundamento último.
● Na oposição entre interioridade e exterioridade, própria do espírito-no-mundo, o
Transcendente é pensado como exterior à sua finitude e interior ao sujeito como
espírito.
(correlato entre espírito – ser)
(é necessário percebermos esta categoria em nossa própria capacidade intelectiva)
> 11/05/2023
- Projeto de extensão
- Preparar um relatório a partir da visita à Aldeia Tava´í

> 18/05/2023
● Experiência da transcendência presente em todas as culturas, com especial
relevo no período de 800 a.C a 200 a.C (do extremo oriente ao mediterrâneo):
○ Consciência da participação no ser como todo leva às noções de essência
(ser-parte) e existência (todo).
○ Ser-parte no todo constitui o problema do qual emerge a ideia de ordem e
experiência da transcendência, expressando-se na ideia de Revelação e
de Filosofia (Grécia).

Três grandes formas de experiência da transcendência no ocidente

● Experiência noética da Verdade (origem da Metafísica como filosofia primeira)


○ Expressão paradigmática: experiência noética da Verdade como
Metafísica da Transcendência em Platão (Ciência [conhecimento
verdadeiro] contraposto à Opinião): relação do homem com o ser. (Platão)
○ Kant: experiência transcendental desloca-se do ontológico para
gnosiológico.
> 25/05/2023 - 4 créditos
● Experiência ética do Bem (origem da ética como ciência da práxis)
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○ Passagem da ética socrática para a metafísica platônica do Bem


(dimensão transcendental da experiência ética do Bem)
○ Kant: transcendental designa a liberdade como condição de possibilidade
“a priori” da síntese entre vontade subjetiva e lei universal.
● Experiência noético-ética do Absoluto (origem da Teologia como ciência do
divino)
○ Experiência transcendental: experiência do Ser (indissociável com a
experiência noético-ética) ou experiência metafísica.
○ A experiência metafísica apresenta-se como fundamento da experiência
transcendental.
○ A experiência metafísica, embora, em sentido estrito, é a experiência do
Ser ou do Absoluto, na tradição filosófico-teológica foi interpretada
como experiência de Deus (Agostinho/Tomás de Aquino).
> 01/06/2023 - 4 créditos
● Reflexão sobre a transcendência: terra natal da filosofia, no seu surgir na Grécia
e em seu desenvolvimento histórico até Hegel.
● A rejeição do tema na filosofia (espírito e transcendência), a partir de Feuerbach
e A. Comte assinalou a crise mais profunda da Razão no intento de compreender
toda a realidade.
● Após a crítica implacável de Feuerbach, Marx, Nietzsche, Freud… a relação de
transcendência é denunciada como projeção, alienação, ressentimento ou
ilusão… e sucedâneos da transcendência metafísica: transcendências do Sujeito,
da História, da Existência, da Linguagem e do cosmos ([aquilo que era absoluto,
começa a absolutizar aquilo que faz parte: somos determinados pela história - a história é
absolutizada, buscando substituir o absoluto que é a transcendência][são espécies de mitos
modernos]).
● Imanência radical do homem em seu mundo: niilismo ontológico (equivalência
entre ser e nada) e ético (equivalência entre bem e mal na raiz última da
liberdade).
● Consequência da rejeição explícita do termo (ad quem) ao qual o homem
constitutivamente se refere: mitos pós-metafísicos (ideologia como mito da
Verdade, hedonismo como mito do Bem e a história como mito de Deus).

REALIZAÇÃO
(Aqui refere-se a unidade do ser humano, a partir de duas vertentes: pessoa [em torno
do próprio eu] e realização [processo de unificação, vamos construindo essa unidade])
(realização = ação de tornar algo real – segundo minhas escolhas –, algo que não era
real)
● O homem torna-se ele mesmo na sua abertura constitutiva ao outro (dialética do
mesmo e do outro)
● Não podemos realizar-nos a nós mesmos senão como seres abertos à infinitude
do Ser.
● Através de seus atos o homem se exprime com plasmador da própria unidade
(síntese de estrutura e relação).
● Os atos descrevem a linha de realização do homem no sentido etimológico do
termo: o que existe na plenitude do seu poder-existir (quod actum est) ou o que
completou o movimento do seu vir-à-existência (quod perfectum est)
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● O movimento de auto realização do homem está voltado para a excelência e


perfeição de seu ato ou para o bem que advém da perfeição do ato (areté, virtus).
● O apelo metafísico que atravessa o ser do homem no movimento da sua
unificação dirige-se à sua excelência e perfeição (areté) regida pela razão.
● O processo de realização não se realiza apenas na ordem do ser, mas também
sob o signo do dever-ser (necessidade moral)
● O homem é constitutivamente ético e este é o primeiro predicado de sua unidade
existencialmente em devir.

Pré-compreensão da categoria da realização

● Realização da própria vida:


○ Risco supremo de ser ou não ser (domínio do sentido da vida).
○ Aventura de viver uma só vez a própria história.
● Experiência fundamental de unificação e seus riscos:
○ Auto realização na corporalidade:
■ Ameaçada pela relativa independência dos processos
físico-químicos.
○ Auto realização no psiquismo:
■ Grandes dilacerações da vida interior se contrapõem aos esforços
de unificação.
○ Auto-realização no espírito:
■ Alcança a camada mais profunda do nosso ser.
■ Decisão da direção do sentido da própria existência.
■ O risco da perda da unidade põe a descoberto as raízes
ontológicas da insegurança humana.
■ A auto realização (unificação) no espírito implicará na submissão
à medida da Verdade, à norma do Bem e à exigência do Absoluto.
● Caráter ontológico da autorealização
○ Efetivação na existência da unidade essencial.
○ Manifestação do ser no movimento de sua constituição progressiva.
○ Este movimento coincide com a auto expressão (da corporalidade,
psiquismo e espírito):
■ Operação de passagem pelo SUJEITO da NATUREZA (dado) à
FORMA (significação)
● situação humana originária da auto realização:
○ Dimensão histórica;
○ Dimensão social;
○ Dimensão cultural;
○ Dimensão circunstancial
● Dilema existencial: o ser e poder ser
● Problema da realização humana como problema metafísico (passagem do ser
que é ao ser que deve ser):
○ Platão:
■ Nova Paideia: filósofo como paradigma mais elevado da
realização humana.
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■ Orientação necessária à transcendência (ideia de Bem):


surgimento da ética.
■ Início da corrente espiritual que coloca na filosofia o caminho da
felicidade (eudaimonía).
○ Aristóteles:
■ Vida regulada pelo lógos.
■ Busca do melhor e mais perfeito modo de vida (areté).
● Três experiências próprias da realização:
○ A vida como tarefa a ser inelutavelmente cumprida.
○ Tarefa não determinada pela natureza nem por força exterior, mas parte
de nós para um fim livremente escolhido.
○ Imensa variedade de modelos oferecidos pela tradição cultural e ética.
● Construção da esfera da ipseidade dinâmica:
○ O que pertence a cada um: conteúdo singular, único inalienável.
○ História única vivida por cada um.
● Síntese dialética entre o eu estrutural e o eu relacional: constitui-se pela
distinção do outro.
● A compreensão explicativa é inadequada para tratar exaustivamente da auto
realização.
● Não há uma ciência de realização humana.
● Há ciências, que pleo seu estatuto abstrato (seletivo e parcial) tratam de certos
aspectos da formação do indivíduo:
○ Psicologia
○ Sociologia (menos se aproxima)
○ Pedagogia (mais se aproxima, apesar de estar voltado para o ensino e não tanto a
realização integral da pessoa)

Compreensão filosófica da categoria de realização

● Realização: síntese dinâmica entre as categorias de estrutura e de relação.


● Domínio da existência: o homem se realiza agindo (existindo na e pela ação)
● Unidade da essência do ser-em-si (estrutura) e no ser-para-o-outro (relação)
● A realização é um movimento diferenciado segundo a primazia dos diversos
níveis estruturais (corpo, psiquismo e espírito) e as regiões ontológicas com as
quais o homem se relaciona (mundo, história e transcendência)
● Dialética da identidade na diferença
○ Abertura do sujeito à amplitude intencional do seu ser-para-o-outro.
○ Centração maior do ser-para-si (unidade).
● Oposição entre ser e devir no âmago da constituição ontológica do homem:
○ Primazia entre:
■ Essência ou existência
■ Natureza ou condição
■ Estrutura ou situação
○ Existencialismo: precedência da existência sobre a essência:
■ Afirmação da gratuidade da liberdade.
■ Responsabilidade do sujeito ser livre.
■ Criatividade do homem como ser-em-situação.
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■ Tentativa de superação do “essencialismo” fixista (“natureza” na


filosofia clássica e “sujeito” na filosofia moderna).
● Consequência: desessencializa o conceito de “unidade” do
homem.
● Unidade pensada em constante devir.
● Dissolução do núcleo ontológico do ser humano
(categorias estruturais).
○ Solução para evitar:
■ O essencialismo estático e uma substância que permanece imóvel
sob suas propriedades e,
■ O puro dinamismo de uma existência sem sujeito.
● Homem como expressividade (passagem da NATUREZA à FORMA pela
mediação do SUJEITO):
○ Passagem ou mediação entre o ser que é e o ser que significa (tanto na
constituição em si [estrutura] como na conversão para o outro
[relações]).
○ Operar é movimento de auto manifestação que procede do ser e o
constitui como existência em ato.
○ Realização é passagem do ser que é ao ser que se torna.
● O ser-em-si (estrutura) e o ser-para-o-outro (relações) são suprassumidos no
ser-para-si da realização.
● Realização é conquista pelo sujeito, da unidade profunda do que é (essência)
mas deve tornar-se (existência).

APORÉTICA HISTÓRICA

● O ideal de realização humana na antiguidade clássica (grega e romana):


○ Humanismo greco-romano: VIRTUDE (não é algo em nós, mas algo adquirido,
por isso é visto como uma realização)
○ Areté (grega): excelência. Esplendor do ser em sua plenitude (belo e
bom):
■ Areté aristocrática (herói)
■ Areté guerreira (herói)
■ Areté do sábio (Ideal na idade clássica e helenística).
○ Virtus (romana): sabedoria prática (estoicismo):
■ Lógos político: gênio romano

● O ideal de realização humana no cristianismo


○ Santo cristão: ideal de humanidade diante do herói e do sábio da
antiguidade.
■ O Lógos da ciência deve submeter-se à Pístis (fé).
■ A autárkeia (auto-suficiência) do sábio (orgulho) é substituída
pela “justificação pela fé” (fé, esperança e caridade) e pelos frutos da
vida segundo o Espírito.
■ Ideal do “homem perfeito”: acolhimento ao dom transcendente
que conduz à humanidade definitiva.
■ Tensão: esforço humano x graça.
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● O ideal de realização humana no período moderno:


○ Ruptura com o ideal cristão: Humanismo dos séculos XV e XVI
○ Primazia da vida ativa sobre a vida contemplativa
○ Autárkeia: voltada para a transformação do mundo
○ Iluminismo: convicção de maturidade histórica e ruptura com a tradição.
(iluminismo dá uma autonomia do ser humano)

● O ideal do mundo contemporâneo:


○ Fragmentação do ideal de auto realização.
○ Constelações de “universos culturais” (profissão, pesquisa científica,
produção, política…).
○ Os antigos modelos de “formas de vida” perderam sua exemplaridade.

APORÉTICA CRÍTICA

● Homem concreto, sem-em-situação encontra o mundo natural e constrói o


mundo cultural.
● Transgressão dos limites da situação e da finitude projetando no horizonte
ilimitado do ser, novos modelos de ser-homem.
● Oposição entre o perfil situado e finito do modelo e a natureza ideal do modelo:
normatividade como exigência do dever-ser.
● A realização obedece ao imperativo de um dever ser que suprassume todo o
conteúdo ontológico do homem: estrutura e relações.
● Drama existencial: oposição entre a tendência constitutiva a ser-mais (ideal) e as
limitações existenciais tendendo ao simplesmente ser.
● A realização obedece ao imperativo de um dever ser que suprassume todo o
conteúdo ontológico do homem: estrutura e relações
● Drama existencial: oposição entre a tendencia constitutiva a ser-mais (ideal) e as
limitações existenciais tendendo ao simplesmente ser.
● Dialética interna da realização:
○ Unificação da essência (homem como expressividade unidade) na ordem
da existência (expressão atual de seu próprio ser)
○ Paradoxo da existência humana: passagem o ser ao derver-ser submetida
ao ser mais.
● Existência humana: realização nas formas escolhidas pelo sujeito:
○ Técnica (poíesis).
○ Política e existência histórica (práxis).
○ Saber e crença (Theoría).
(há uma hierarquia)
● Realização:
○ Poíesis e práxis operam com conceitos unívocos.
○ Theoria (transcendental e categorial).
○ Domínio do espírito e relação de transcendência.
○ Perfeição do homem realizável enquanto analogado inferior da perfeição
do Absoluto.
■ Auto-afirmação do “Eu sou” como ser-para-a-verdade,
ser-para-o-Bem e Ser-para-o-absoluto.
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● A categoria da realização conduz ao limiar da síntese entre sujieoto e ser


alcançada na categoria de pessoa.
(Ao estudar, analisar a partir da perspectiva do ser)

PESSOA

● Pessoa > persona > prosopon


● Raiz mais profunda da acepção filosófica de pessoa: controvérsias trinitárias e
cristológica do século IV.
● Duas chaves interpretativas:
○ Seriação das categorias
○ Oposição entre essência e existência
■ Essência (in actu primo ou perficiendum): manifestação do que o
homem é, seus constitutivos ontológicos fundamentais (estrutura
e relações).
■ Existência (in actu secundo ou perfectum): manifestação do que o
ser-homem efetivamente se torna na sua realização.
● Pessoa
○ Inteligibilidade radical (raiz) do ser do homem.
○ O homem é sujeito enquanto pessoa. (somos sujeitos por sermos pessoas, e não
ao contrário)
○ Todas as categorias convergem na categoria de pessoa. (Tudo que já foi
estudado, convergem à categoria de pessoa, essa unidade mais profunda)
○ Designada pelo momento conceptual da singularidade.
● Pessoa como singularidade:
○ Suprassume a universalidade da essência pela mediação da
particularidade da existência.
○ Pessoa é a expressão adequada com a qual o sujeito ou o eu se exprime a
si mesmo. (realidades profundamente relacionadas)
● Racionalidade unívoca e analógica
○ Pessoa é noção analógica:
■ Definição de pessoa de Tomás de Aquino: “subsistens in rationali
natura” (Subsistência de natureza racional):
(natureza racional refere-se à espiritual; um ser espiritual distinto
dos outros seres materiais)
■ Subsistência: incomunicabilidade (não refere-se a diálogo entre pessoas,
mas ontológica - algo que não partilhamos com nenhum outro ser, apenas entre
humanos) radical, não partilhada com o outro ser.
■ Natureza racional (espiritual): universalidade racional: abertura
ao acolhimento de todo o ser.
● Totalização (unitas opposituorum)
○ A pessoa reúne e si os extremos opostos do arco da experiência
(fronteiras do ser): a maneira e o absoluto.
○ Abertura à universalidade do ser a partir da particularidade do “aqui e
agora”.
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○ A pessoa é o lugar inteligível onde entrecruzam todas as regiões do ser:


sensível e inteligível, contingente e necessário, possível e atual, relativo e
absoluto, universo e Deus.
○ Na pessoa se realiza a mais alta perfeição do universo: “Persona
significat id quod est perfectissimum in tota natura” (pessoa significa o
que há de mais perfeito em toda a natureza).
○ Síntese admirável enunciada numa única proposição: o homem é pessoa.
PRÉ-COMPREENSÃO
● Termo do discurso antropológico
● Precedentes históricos que prepararam a atual pré-compreensão da pessoa:
○ A longa e lenta emergência do indivíduo na pré-história (Estudos da
natureza pela Etnologia e do universo simbólico da sociedade pela
Antropologia Cultural).
○ Passo decisivo: surgimento de grandes civilizações (chinesa, indu,
mesopotâmica, semita, greco-mediterrânea) e de excepcionais
interlocutores da transcendência.
● No ocidente: a experiência da transcendência em israel e na civilização grega
○ Experiência de transcendência em Israel
Existir na presença de Deus como resposta à sua Palavra e à
vocação: o indivíduo é alçado à condição paradigmática de
Profeta (segundo Voegelin): primeiro perfil da pessoa na tradição
ocidental (definição da singularidade na relação dialogal com o
Absoluto)
○ Experiência da transcendência civilização grega
■ O evento determinante é o aparecimento da filosofia: tradição dos
antigos sábios e filósofos.
■ A experiência da transcendência origina a diferenciação noética
que deu ao indivíduo o predicado de racionalidade.
○ Traço comum que é premissa teórica para a descoberta e a afirmação da
pessoa: a individualidade espiritual.
■ A experiência da Transcendência no oriente: absorção do
indivíduo no abismo primordial do ser.
■ A experiência da Transcendência no ocidente: síntese, sem
confusão, entre o Ser e os seres e o espírito sendo coextensivo à
universalidade do ser.
■ Individualidade espiritual na qual emergem dois movimentos
opostos constitutivos de seu ser:
● Abertura à universalidade do Ser (lógos; razão) e élan
para a transcendência (pnêuma e nous: vida e
inteligência).
● Retorno e reflexão sobre si mesmo (synesis, reditio in
seipsum: consciência de si).
○ Verdadeira gênese, histórica e teórica, do conceito ocidental de pessoa: o
fato Cristo.
■ Dogmas cristológico e trinitário do século IV: conceito de pessoa
divina.
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■ Encarnação: união hopostática (duas naturezas, divina e humana,


na unidade da pessoa divina).
■ Hegel: “Deus somente é conhecido como espírito quando é
conhecido como trino e uno”.
■ O conceito de pessoa divina se tornou o analogado principal ideia
de pessoa na tradição ocidental: a pessoa realiza em si a
identidade do ser-em-si e do ser-para-o-outro assim como a
pessoa divina se revela no mistério da Encarnação e da Vida
trinitária.
● A experiência da pessoa:
○ Experiência integradora e sintética: na unidade do mesmo ato nos
experimentamos como interioridade (categorias de estrutura) e como
abertos ao outro (categorias de relação).
○ Compenetração de presenças (estrutura fundamental da experiência da
pessoa): presença da realidade exterior no espaço interior da nossa
presença a nós mesmos (manifestação da alteridade no centro da
ipseidade).
○ A pessoa é experiência de presença às coisas (mundo, ao outro (história)
e ao Transcendente (absoluto)
■ Experiência da presença ao mundo (relação de objetividade):
● Nosso existir pessoal é a experiência do nosso
ser-em-situação.
● Atividade do fazer (poíesis): o trabalho, enquanto ato
pessoa, é expressão da pessoa.
● Passagem do mundo das coisas na sua simples facticidade
para o mundo das significações que o organizam como
mundo da pessoa.
■ Experiência da presença ao outro (relação de intersubjetividade):
● Conteúdo determinante da esfera psíquica do desejo e da
afetividade.
● A experiência da pessoa na dimensão da
intersubjetividade tem como arquétipo e paradigma a
relação Eu-Tu cuja forma suprema é o amor-dom.
● Universo pessoal: partindo da relação primeira Eu-Tu,
passando pelo consenso espontâneo (comunidade), pelo
consenso refletido (sociedade), pela convivência cultural
(história) a experiência da pessoa se dilata ao universo do
Nós.
■ Experiência da presença ao Absoluto
● Revela-se a natureza espiritual da pessoa quando o
homem se vê necessariamente em face da transcendência.
● Como a transcendência é correlato objetivo da experiência
do espírito, a experiência da pessoa deve ser caracterizada
como experiência da transcendência. (preserva-se a
singularidade do indivíduo)
● Os transcendentais como pátria nativa da pessoa: Ser,
Uno, o Verdadeiro, o Bem e o Belo.
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COMPREENSÃO EXPLICATIVA DO HOMEM


● A realidade da pessoa, como experiência do existir singular e único do sujeito, é
inatingível por processos objetivantes de conhecimento.
● A ciência em suas observações psicológicas, sociológicas, culturais… atinge o
indivíduo, sinal manifestativo que anuncia a presença da pessoa na exterioridade
do mundo e da história.
○ O indivíduo é membro de uma espécie, sujeito às suas leis e passível de
compreensão explicativa.
○ A pessoa é única na sua originalidade e irredutível a um denominador
comum classificatório e só pode ser objeto da compreensão filosófica.
● Entre o conceito empírico de indivíduo e o conceito metafísico de pessoa nasce
o conceito de personalidade englobando todas as manifestações do homem sob o
ângulo de determinada ciência. (distinção pessoa [metafísico] e personalidade [aspecto de
realização])

COMPREENSÃO FILOSÓFICA
● Aporética histórica:
○ Tradição platônica-aristotélica: transposição da noção de psyché em uma
metafísica do espírito (Nous): situa a ideia de homem na perspectiva da
“participação do ser”.
○ Desenvolvimento da metafísica do espírito: no neoplatonismo e no
estoicismo antigo (minuciosas análises psicológicas, relação do homem
com o lógos universal e a lei natural).
○ O pensamento antigo não chegou ao conceito de pessoa porque não
chegou à inteligibilidade intrínseca da existência.
○ Pessoa e natureza no pensamento cristão-medieval
■ Aparecimento da noção de pessoa no momento da transposição
da fé em teologia.
■ Profunda transformação do substrato semântico da terminologia
filosófica grega:
● Prósopon < Persona: em lugar de máscara (teatro grego)
passou a significar o sujeito na sua radical originalidade,
incomunicabilidade e irrepresentabilidade.
● Ousía (essência) e hypóstatis (substantia) enraizam-se no
terreno da inteligibilidade da existência.
■ Analogicidade do conceito de pessoa: predicado em primeiro
lugar de Deus enquanto absoluto de existência.
■ Predicado secundariamente da pessoa humana: a universalidade
da ousía (essência) se singulariza na incomunicabilidade da
hypóstasis (existência).
○ Pessoa e subjetividade no pensamento moderno
■ A ideia moderna de sujeito: novo perfil da nossa dominado pela
primazia do sujeito.
■ Reação à aparente retirada do predicado da autárkeia do homem
(vontade criadora e salvífica de Deus como Existente absoluto)
■ A Modernidade é dominada pela distinção entre o homem “ser da
natureza” e o homem “ser racional” (contraposição
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aparentemente inconciliável entre empírico e racional, entre


natural e transcendental.
■ Atribuição ao sujeito do predicado da autocausalidade com
relação ao existir inteligível ou na imanentização.
■ Supressão de qualquer comunidade analógica com o Absoluto.
■ Projeto pós-kantiano: colocar sobre a pessoa o enorme peso de
ser a criadora de si mesma, da verdade, do bem dos valores e dos
fins.
○ Pós-modernidade:
■ Caracteriza-se pela fragmentação dos discursos unitários sobre o
homem e desconstrução dos princípios destes discursos:
transcendentes (Deus e transcendentais na tradição clássica) e
imanentes (sujeito e sua atividade a priori na filosofia moderna).
■ O que resta da ideia de homem são fragmentos de discursos.
■ O conceito de pessoa só encontrará novamente seu conteúdo
inteligível quando a oposição entre existência e essência voltar a
ser experiência vitalmente decisiva no existir histórico, ou seja,
quando o imanentismo absoluto concluir seu ciclo e deixar de ser
o espírito da civilização do ocidente.
APORÉTICA CRÍTICA

● Categoria da pessoa: clímax da tensão entre a racionalidade unívoca (corpo


próprio, psiquismo, objetividade, intersubjetividade) e racionalidade analógica
(Espírito e transcendência).
● A noção de pessoa é analógica. Presente na definição de Tomás de Aquino
(resumindo Boécio): “subsistens inrationali natura”.
○ Subsistência (ens in se): incomunicabilidade radical
○ A natureza racional: universalidade radical com que a pessoa está aberta
ao acolhimento de todo o ser.
○ A pessoa realiza a “unidade da unidade e da alteridade” analogicamente
pela distinção real na identidade intencional com a universalidade.
● Na elaboração da categoria da pessoa humana não ocorre oposição entre o
conteúdo particular da categoria e a universalidade do ser, mas sim entre
categorial e transcendental, entre finito e infinito.
● Na categoria da pessoa dá-se adequação entre sujeito e ser, sendo o ser
absolutamente universal.
● A equação ontológica entre sujeito e ser, realizada limitadamente nas categorias
anteriores, realiza-se plenamente na categoria de pessoa onde ocorre a igualdade
entre sujeito e ser.
● Pessoa é o universal que se auto-afirma como absolutamente singular.
● Duas possíveis opções ontológicas decisivias:
○ Paradigma da racionalidade analógica (filosofia cristã): a pessoa é
pensada como participação finita da identidade absoluta entre sujeito e
ser que define a Pessoa infinita na sua absoluta transcendência.
○ Paradigma da racionalidade unívoca (metafísica da subjetividade):
■ Afirmação da universalidade do sujeito na sua absoluta
singularidade.
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■ Ou a adequação entre o sujeito e ser é interpretada como refluxo


na imanência do sujeito dando origem a novos problemas
(subjetividade infinita na finitude da situação).
● Peculiaridades da estrutura dialética da categoria da pessoa:
○ Por um lado, com a categoria da pessoa o discurso sobre o homem chega
ao seu termo. Por outro lado, afirmando-se como pessoa o sujeito rompe
a finitude de sua situação e abre-se à infinitude intencional do ser
orientando sua auto realização pela união final com a infinitude real do
Existente absoluto (Ipsum Esse subsistens).
○ Totalização da categoria da pessoa (o homem como “unitas
oppositorum”): lugar onde se entrecruzam linhas que procedem de todas
as regiões do ser: sensível e inteligível, contingente e necessário,
possível e atual, relativo e absoluto e universo e Deus. Na pessoa
humana ser realiza, portanto, a maior perfeição do universo: “persona
significat id quod est perfectissiumum in tota natura)
○ O microcosmo humano pode ser descrito segundo a continuidade
ascendente e descendente dos níveis de ser, irredutíveis entre si, que nele
se unem, sem se confundir, em síntese admirável, enunciada na
proposição: “o homem é pessoa”.

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