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EFEITOS DA CONTABILIZAÇÃO DOS INSTRUMENTOS FINANCEIROS PELO

CRITÉRIO DO JUSTO VALOR NOS RESULTADOS DAS EMPRESAS, Caso das


empresas cotadas na BVM, 2010 a 2012 Nampula.

Rui Fernando Dias Júnior


Mestrando em Management and Business Administration
Universidade Católica de Moçambique
Cidade de Nampula
Contacto: 845944262, E-mail: jrufed@gmail.com
Resumo
O presente artigo, foi redigido sob através de um estudo de caso realizado nas empresas cotadas
na Bolsa de Valores de Moçambique (CDM, CETA, CMH). O objectivo principal da pesquisa, centrou-se
em analisar os efeitos da contabilização dos instrumentos financeiros nos resultados das empresas. Com
intuito de elucidar se a forma de contabilização pode ou não incrementar réditos para a empresa. Pois, os
instrumentos financeiros têm assumido um papel de preponderante relevância no âmbito da gestão de
risco, o que tem levado os organismos de normalização contabilística a elaborar normas de contabilidade
específicas para o efeito. Após análise e reflexão sobre dos resultados com recurso a metodologia baseada
na análise documental com dados secundários e aplicados critérios de contabilização plasmados pela IAS
39, concluiu-se que nas organizações, não houve impacto significativo nas suas demonstrações
financeiras, devido à natureza dos seus activos financeiros, porém as alterações trazidas pela IAS 39,
consubstanciadas aos estudos correlacionados demonstram que impactam de forma significativa a
classificação dos instrumentos financeiros nas organizações. Pelo que, tirou-se a seguinte conclusão: a
contabilização dos instrumentos financeiros pelo critério de justo valor eleva os resultados expectáveis
pelas empresas na medida em que é revisto a cada data de relato. Daí, depreende-se que, os critérios
adoptados pelas empresas, traduzem uma volatilidade acrescida quando contabilizadas pelo critério do
Justo Valor, uma vez que o normativo permite que as empresas classifiquem os instrumentos financeiros
com base no Custo Amortizado e no Justo Valor, o que permite às empresas optarem qual dos critérios
propicia melhores resultados.
Palavras-chave: Instrumentos financeiros, Justo Valor, Resultados.

1. Introdução
1.1. Contextualização
A crescente dinamização dos mercados financeiros e a criação de produtos financeiros
complexos tem trazido novos desafios à contabilidade designadamente ao nível da relevância da
informação contabilística tendo em vista a sua utilidade para os decisores económicos.
Acontecimentos recentes têm vindo a mostrar que, afinal, o uso dos novos critérios do
justo valor estava a ser utilizado por empresas em situação de falência que, caso usassem o
critério tradicional do custo histórico, tudo teria sido diferente, não se escondendo as situações de
descalabro que aparecem tardiamente. Obviamente que a posição de falsidade das empresas
resulta menos do justo valor do que de mau uso, de não correcção nos anos em que ocorreram
mudanças de valor significativo e em sentido contrário.
Assim, esta mudança de paradigma de mensuração traduziu-se numa remodelação dos
princípios contabilísticos, na medida em que, o modo de mensuração tradicionalmente adoptado
pelas empresas nos relatos financeiros era, até então, o custo histórico.
Assim, olhando para estes pressupostos, o objectivo deste estudo visou, na essência,
analisar os efeitos da contabilização dos instrumentos financeiros nos resultados das empresas

1
quando aplicado o critério de Justo Valor, para poder atestar se esta técnica provocará alguma
consequência nos réditos das empresas.
1.2. Objectivos da pesquisa
Objectivo Geral: Analisar os efeitos da contabilização dos instrumentos financeiros pelo
critério de Justo Valor nos resultados das empresas.
Objectivos específicos: Mensurar os instrumentos financeiros através dos pressupostos
de contabilização plasmado na NCRF 25 ou IAS 39;
1.3. Relevância do estudo
A pesquisa torna-se relevante na medida em que a crescente sofisticação dos mercados de
capitais a nível mundial levou maior parte das empresas a transaccionar novos tipos de
contratos/instrumentos, os quais se revelam bastante complexos. De forma geral, estes
instrumentos possibilitam às empresas alterarem a estrutura do risco de negócio e do risco
financeiro.
Por outro lado, a volatilidade ao nível das taxas de câmbio, das taxas de juro e dos preços
de várias commodities, originou a necessidade de gerir cuidadosamente os riscos de negócio e os
riscos financeiros das empresas de modo a fazerem face à instabilidade existente nos mercados.
Não obstante, devido à elevada complexidade da norma e das diferentes posições dos
organismos normalizadores, bem como dos preparadores da informação financeira relativamente
à mensuração dos instrumentos financeiros, a IAS1 39 foi revista e alterada em 2001, em 2003 e
em 2004 (alterações que se revelaram mais conservadoras no que concerne ao reconhecimento
do dos instrumentos financeiros pelo critério do justo valor).
Diante desses contornos e de outros, surgiu a seguinte questão: Que efeitos poderão advir
sobre os resultados das empresas face a contabilização dos instrumentos pelo critério de justo
valor?
1.4. Hipóteses de estudo
H0: A contabilização dos instrumentos financeiros pelo critério de justo valor eleva os
resultados expectáveis pelas empresas na medida em que é revisto a cada data de relato.
H1: A contabilização dos instrumentos financeiros pelo critério de justo valor diminui os
resultados expectáveis pelas empresas na medida em que é revisto a cada data de relato.

2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Abordagem histórico-conceptual
2.1.1. Breve histórico
A partir da década de oitenta do século XX, alguns organismos de normalização
contabilística, nomeadamente, o Financial Accounting Standards Board (“FASB”) e o
International Accounting Standards Board (“IASB”), encetaram a discussão sobre alternativas
de mensuração dos activos e passivos financeiros. Onde passaram a defender a aplicação do justo
valor na mensuração de alguns tipos de activos e passivos (como seja, os de natureza financeira),
em detrimento do custo histórico (Ernst & Young, 2005, Hitz, 2007).
Neste contexto, a adopção do justo valor, em oposição ao custo histórico é defendido por
alguns como a solução para este desafio (Ernst & Young, 2005).
O justo valor é considerado mais relevante por alguns autores (Hitz, 2007, Landsman,
2006). Porém, a sua mensuração pode ser muito complexa, especialmente na ausência de preços
de mercado cotados em mercados activos, obrigando a que mensuração do justo valor por vezes

1
International Accounting Standard
2
seja baseada em suposições subjectivas podendo, portanto, ser objecto de manipulações
(Dechow, P., L. Myers, & C. Shakespeare, 2009),
2.1.2. Abordagem conceptual
þ Instrumento financeiro
À luz da IAS 39 consubstanciada a NCRF 2 25, um instrumento financeiro representa
qualquer contrato que dê origem a um activo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro
ou instrumento de capital próprio para outra entidade. Por sua vez, considera-se:
─ Ativo financeiro
Qualquer activo que seja: caixa, um instrumento patrimonial de outra entidade, um direito
contratual de receber caixa ou um direito contratual de liquidar um instrumento financeiro com
outra entidade sob condições potencialmente favoráveis para a entidade.
─ Passivo financeiro
Um passivo financeiro é qualquer passivo que seja por exemplo: uma obrigação
contratual de entregar caixa ou uma obrigação de liquidar um instrumento financeiro com outra
entidade sob condições que são potencialmente desfavoráveis para a entidade.
─ Instrumento de capital próprio
Qualquer contrato que evidencie uma participação nos activos de uma entidade após a
dedução de todos os seus passivos.

þ Justo valor
À luz da NCRF 25, o justo valor corresponde a quantia pela qual um activo pode ser
trocado, ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras e interessadas numa transacção de
boa fé.
Adicionalmente, a IAS 39 assevera que“Fair value is the amount for which an item could
be exchanged or settled between knowledgeable willing parties in an arm’s length transaction”.
Que pode ser traduzido para português como sendo “Justo Valor” é o montante pelo qual
um determinado item poderia ser transaccionado entre participantes dispostos e conhecedores do
assunto, numa transacção sem favorecimento.
Nota-se que não há diferenças substanciais entre as definições. As definições do IASB
são praticamente sempre as mesmas, modificando-se apenas quando se referem unicamente ao
activo e ao passivo. Dai, depreende-se que por se querer atribuir valor a um elemento patrimonial
que não tenha preço de mercado, adoptou-se a expressão Justo Valor3.
Reflexão:
Diante destes pressupostos, os reguladores sugerem que o justo valor conduz a
informação financeira de maior qualidade porque os seus valores são mais oportunos e mais
relevantes enquanto mecanismo de decisão. Consequentemente, os investidores deverão
beneficiar da introdução da contabilidade a justo valor, pois permite-lhes tomar decisões
melhores e mais informadas.
No entanto, coloca-se a questão de saber se o justo valor deve ser usado no
reconhecimento de rendimentos e em que medida as variações de justo valor devem ser
reconhecidas como ganhos e perdas nos resultados quando os mercados não são activos.
2
Norma Contabilística de Relato Financeiro
3
A melhor evidência do justo valor é a existência de preços cotados num mercado activo. Quando o mercado para
um instrumento financeiro não é activo, uma entidade estabelece o justo valor através de uma técnica de valorização.
O objectivo para usar uma técnica de valorização é o de determinar qual teria sido o preço da transacção na data de
mensuração numa transacção de boa fé entre as partes motivadas por considerações comerciais normais, (NCRF 25,
§47).
3
þ Resultado Líquido do Período
Para que se possa ter uma imagem global em relação ao desempenho operativo de uma
empresa durante um dado período de actividade, coloca-se em questão a obtenção de Resultados
através da subtracção dos custos aos proveitos. O resultado líquido corresponde ao lucro obtido
pela empresa já após a dedução dos impostos que sobre ele incidem.4 
Em termos globais pode se dizer que se está diante de um Resultado líquido do período
quando se verifica um aumento de capital próprio posterior a um bom desempenho operativo por
parte da empresa.

2.2. Classificação e mensuração dos instrumentos financeiros


þ Reconhecimento inicial
Um instrumento financeiro deve ser reconhecido como activo financeiro ou passivo
financeiro nas demonstrações financeiras quando, e apenas quando, a entidade se torna parte das
disposições contratuais do instrumento. No momento do reconhecimento inicial, um instrumento
financeiro deve ser classificado numa das seguintes 4 categorias de activos financeiros ou 2
categorias de passivos financeiros, NCRF 25:
Activos financeiros:
a. Activos financeiros mensurados ao justo valor por meio do resultado;
b. Investimentos mantidos até a maturidade (activos financeiros com pagamentos fixos ou
determináveis com vencimentos definidos);
c. Empréstimos concedidos e recebíveis originados pela entidade;
d. Activos financeiros disponível para venda;

Passivos financeiros:
a. Passivos financeiros mensurados ao justo valor por meio do resultado;
b. Passivos financeiros não classificados como ao justo valor por meio do resultado.

þ Mensuração Subsequente
A mensuração subsequente de um activo financeiro está directamente dependente da
classificação do activo financeiro. Para efeitos da NCRF 25 (§44), aplicam-se as quatro
classificações seguintes:
─ Instrumentos financeiros registados ao justo valor por meio do resultado
Estes instrumentos financeiros são registados no balanço patrimonial ao justo valor em
contrapartida do resultado. Os instrumentos financeiros classificados nessa categoria são detidos
para venda quando eles são adquiridos ou incorridos principalmente para a finalidade de venda
ou de recompra em prazo muito curto.
─ Instrumentos financeiros registados ao custo amortizado
Os instrumentos financeiros que classificados como “investimentos detidos até a
maturidade”, “empréstimos e contas a receber” originados pela entidade ou “passivos financeiros
não classificados como ao justo valor por meio do resultado” devem ser mensurados ao custo
amortizado em aplicação do método dos juros efetivos5.
4
[Online] recuperado em http://www.iapmei.pt/iapmei-gls-02.php?glsid=4&letra=R,
5
é o método que consiste em calcular o custo amortizado de um activo financeiro ou de um passivo financeiro e de
alocar a receita ou a despesa de juros no período pela aplicação da taxa efectiva de juros do instrumento. A taxa
efectiva de juros é a taxa que desconta exactamente os pagamentos ou recebimentos de caixa futuros estimados
durante a vida esperada do instrumento de forma que o valor presente dos fluxos de caixa futuros descontados pela
taxa efectiva de juros seja igual ao valor do investimento inicial no caso de um activo financeiro ou ao valor do
4
─ Instrumentos financeiros detidos para venda
Os instrumentos financeiros desta categoria devem ser registados ao justo valor no
balanço patrimonial da seguinte forma: os juros calculados pela taxa efectiva de juros, devem ser
registados no resultado e o efeito da marcação a mercado do instrumento deve ser registado
directamente no capital próprio numa reserva de reavaliação.

þ Ganhos e perdas
À luz da NCRF 25 §54, um ganho ou perda resultante de uma variação no justo valor de
um activo financeiro ou passivo financeiro que não faz parte de uma relação de cobertura deve
ser reconhecido como segue:
(a) um ganho ou perda resultante de um activo financeiro ou passivo financeiro classificado
pelo justo valor por via dos resultados deve ser reconhecido nos resultados;
(b) um ganho ou perda num activo financeiro disponível para venda deve ser reconhecido
directamente no capital próprio, excepto no caso de perdas por imparidade e de ganhos e
perdas cambiais, até que se anule o reconhecimento do activo financeiro.
Nesse mesmo momento, o ganho (ou perda) acumulado anteriormente reconhecido no
capital próprio deverá ser reclassificado e reconhecido nos resultados como um ajustamento de
reclassificação. Contudo, o juro calculado por utilização do método do juro efectivo é
reconhecido nos resultados. Os dividendos resultantes de um instrumento de capital próprio
disponível para venda são reconhecidos nos resultados quando o direito da entidade de os receber
for estabelecido.
Reflexão crítica:
A aplicação do justo valor às grandezas contabilísticas da empresa permite, a cada
momento, melhor aferir da capacidade da entidade fazer face aos seus compromissos e de obter
recursos financeiros, recorrendo à alienação dos seus activos atribuindo valores mais ajustados à
realidade de cada empresa (Gebhardt, Günther, Reichardt, Rolf & Wittenbrink, Carsten, 2004).
Ademais, existem alguns problemas práticos associados ao justo valor. Por um lado, a sua
mensuração pode ser muito complexa, especialmente na ausência de preços de mercado cotados
em mercados activos, obrigando a que mensuração do justo valor por vezes seja baseada em
suposições subjectivas podendo, portanto, ser objecto de manipulações oportunistas por parte dos
gestores que aproveitam a discricionariedade que a determinação do justo valor em alguns casos
permite.
Por outro lado, uma das maiores críticas ao justo valor, em especial nos instrumentos
financeiros, é que este introduz uma volatilidade acrescida nos resultados das empresas, o qual
não reflectirá apenas as variações económicas e o risco subjacente ao negócio e actividade, e que
se revela uma medida pró-cíclica que exacerba a volatilidade subjacente da empresa,
introduzindo um factor de volatilidade estritamente relacionado com as normas contabilísticas
(Fiechter, 2011, Plantin, G., H. Sapra, & H. Shin (2007).

2.3. Estudos correlatos


Relativamente à utilização do justo valor para mensuração dos instrumentos financeiros:
Barth, M. E., Landsman, W. R. & Wahlen, J. (1995), investigaram as críticas dos
profissionais de contabilidade ao justo valor, tendo concluído que os resultados baseados no
critério do justo valor são mais voláteis do que no custo histórico, mas os valores das acções não
reflectem a volatilidade incremental.
recebimento inicial no caso de um passivo financeiro. Ao calcular a taxa efectiva de juros, a entidade deve estimar
os fluxos de caixa considerando todos os termos contratuais do instrumento financeiro (por exemplo, pagamento
antecipado, opções de compra e semelhantes), mas não deve considerar perdas de crédito futuras, (NCRF 25).
5
Noutro estudo, Barth (2004) conclui que existe um crescimento da adopção do justo valor
no sector financeiro, mas que este implica um aumento da volatilidade. Nesse sentido identifica
três fontes de volatilidade: a de erro de estimativa (que é comum em mercados ilíquidos e cujas
cotações não são conhecidas), volatilidade decorrente do uso de critérios de mensuração
diferentes para activos diferentes e por fim a volatilidade inerente, que respeita às naturais
oscilações económicas.
Neste âmbito, Hodder, L., P. Hopkins, & J. Wahlen (2006), investigaram, para uma
amostra de 202 bancos comerciais dos Estados Unidos entre 1996 e 2004, a relevância do risco
associado à volatilidade do resultado líquido dos bancos, do resultado integral, e de uma medida
de rendimento full fair value (FFV), que inclui rendimentos não realizados em todos os
Simplificadamente, estudos sobre a relação entre a aplicação do justo valor a volatilidade dos
resultados sintetizam-se conforme a tabela abaixo:

Reflexão crítica:
Os principais estudos realizados acerca deste tema revelam que, quando existe opção, o
custo histórico continua, ainda assim, a estar no topo das preferências, o que em muitos casos se
relaciona com a complexidade e custos associados à obtenção do justo valor, e em outros com a
aversão dos gestores à volatilidade dos resultados e a mensagem que isso passa ao mercado.
Face ao exposto conclui-se que, a mensuração a justo valor, tende a produzir uma
informação mais actualizada já que assenta, normalmente, em valores correntes de mercado. A
existência de um mercado activo, que serve de referência à sua determinação, confere-lhe, regra
geral, um elevado grau de objectividade, fiabilidade e neutralidade. Porém, na ausência de um
mercado activo torna-se necessário recorrer a técnicas e modelos de avaliação para auxiliar a
determinação da melhor estimativa do preço de mercado corrente.

3. Metodologia
O presente estudo enquadra-se na pesquisa de carácter quantitativa e assume uma
natureza exploratória, pois para a interpretação dos resultados, foi necessário recorrer a dados
quantitativos, constantes dos relatórios financeiros da organização, interpretados com recurso ao
modelo estatístico de correlação de Person e R Qudrado.

6
As empresas estudadas foram seleccionadas por conveniência e disponibilidade de
informações, pois as mesmas podem ser encontradas no site da Bolsa de Valores de Moçambique
(BVM) http://www.bvm.co.mz. Para critério de estudo e tratamento dos dados, foram adoptadas
técnicas estatísticas baseadas em medidas de tendência central consubstanciadas aos critérios de
mensuração contabilísticos plasmados pelo normativo contabilístico NCRF 25 (Instrumentos
financeiros).
O outro critério a referenciar, diz respeito aos descritores, foram incluídos neste estudo
ilações contidas em artigos publicados na base SCIELO, que apresentassem descritores como:
Instrumentos financeiros, instrumentos financeiros ao justo valor, efeitos subjacentes a aplicação
do justo valor. Foi limitado como idioma de busca o português e inglês, por se tratar de idiomas
em que o pesquisador é mais fluente.

4. Apresentação e analise e discussão de resultados


4.1. Apresentação
Sendo Moçambique um país conservador em termos de divulgação de informação
financeira e bastante cauteloso no que respeita ao justo valor, é pertinente estudar os efeitos da
contabilização dos instrumentos financeiros pelo critério de justo valor. Para o efeito, tomou-se
como referência os dados das empresas cotadas na bolsa de valores para os anos de 2010 a 2012,
nomeadamente a CDM, CETA e CMH cujos relatórios financeiros encontram-se publicados e
disponíveis.
A justificação do intervalo temporal a estudar revela-se facilitada na medida em que
pretende-se focar na totalidade dos anos de informação disponíveis desde o início da aplicação
da norma IAS 39 ou NCRF 25, sendo 2012 o último ano disponível à data de início da
elaboração do presente trabalho, por outro lado, o alargamento da análise a diversos sectores de
actividade, permite aumentar o número de empresas a analisar, o que permite obter resultados
mais representativos e menos enviesados por factores específicos de cada empresa
4.2. Análise e Discussão dos resultados

Para estimar a melhor equação que determinasse uma relação entre as variáveis
económicas seleccionadas, aplicou-se a análise de regressão linear simples e de correlação de
Pearson, tendo como variável dependente o resultado líquido do período. Foram testadas
combinações das variáveis, com base na matriz de correlações, pelo cálculo do R Quadrado e da
correlação de Pearson.

Como critério de resposta ao problema, foi corrido o modelo de “regressão linear


simples6” que procura medir através do coeficiente de Correlação de Pearson (rxy), a relação
existente entre duas variáveis x e y, na qual uma variável é dependente e a outra independente
(Mulenga, 2004).

þ Explicação do modelo de regressão linear:

O resultado da correlação é interpretado da seguinte forma: Quando o valor da correlação


se encontra no intervalo de { -1 a +1 } e interpreta-se da seguinte maneira, se: r= -1, Existe
Correlação negativa muito forte; I -1<r<-0.5, Correlação negativa forte I -0.5 <r<0,
Correlação negativa fraca I r= 0, Não existe relação entre as duas variáveis; I 0 <r≤0.5, Existe
correlação positiva fraca I 0.5 <r<1, Correlação positiva forte I r= +1, Correlação positiva
muito forte (Mulenga, 2004).
Assim sendo, determina-se que, a hipótese nula testa a equivalência entre as regressões
geradas a partir de cada período e, ao não ser rejeitada, pode-se dizer que do ponto de vista
estatístico a alteração de uma variável é estatisticamente explicada pela outra. Ao rejeitar a
6
É uma medida estatística que mostra o grau de relacionamento entre duas variáveis, (Mulenga, 2004, p. 158).
7
hipótese nula, estar-se-á afirmando que as duas regressões têm comportamento estrutural
diferentes. Com este método, pretendeu-se modelar uma regressão que explique a relação entre
as duas variáveis. Os testes foram realizados Software Excel, com um nível de significância de
5%.

4.2.1. Mensuração ao Justo valor


Tome-se como espécime a CDM, na posse de uma obrigação de Um Milhão de Meticais
a 5 anos, com cupão anual, com uma taxa fixa de 4%. Ao fim do primeiro ano, a taxa de juro de
mercado subiu para os 7%. Sabendo que o objectivo foi a obtenção de mais-valias no curto
prazo, para aproximar o valor dos activos financeiros contabilizados da realidade dos seus
objectivos, faz sentido a contabilização ao Justo Valor. Consubstanciado a mensuração
preconizada pela NCRF 25:
No ano primeiro ano,
ANO CONTA DÉBITO CRÉDITO
Activos financeiros ao justo valor 1.000.000,00
1
Disponibilidades 1.000.000,00

No segundo ano, para além de recolher os juros a que tem direito, o valor do investimento
reduziu-se, por causa da subida da taxa de juro. Uma vez que o objectivo expresso da entidade
era a obtenção de mais-valias, faz sentido que a entidade registe esta perda incorrida:

ANO CONTA DÉBITO CRÉDITO


Disponibilidades 40.000,00
Juros de activos financeiros ao justo valor 40.000,00
2
Perdas em activos financeiros ao justo valor 10.200,00
Activos financeiros ao justo valor 10.200,00
Pelo que se pode depreender, a mensuração pelo justo valor propicia a reflexão da
realidade das transacções financeiras, pois tendem a revalorizar a classificação dos instrumentos
ao valor actual de mercado. Quando a empresa espera obter retornos e não sejam realizáveis as
perdas são reconhecidas em resultados, podendo eventualmente acrescer à matéria colectável o
que por sua vez reduz os resultados do exercício expectáveis. Por outro lado, por si só, a
contabilização ao justo valor introduz complexidade, quando esse valor não consegue ser obtido
directamente do mercado.
Verificados os demonstrativos contabilísticos das três companhias, constatou-se que, as
regras contabilísticas aplicadas e que se consubstanciam a NCRF 25, indicam três níveis de
avaliação do justo valor. O primeiro nível é utilizado nos instrumentos cuja cotação pode ser
obtida directamente do mercado. O segundo nível para instrumentos financeiros que podem ser
avaliados através de modelos que apenas recorrem a variáveis observáveis no mercado. O
terceiro nível é exigido para os instrumentos mais complexos, que para serem avaliados tem que
se recorrer a modelos que não utilizam apenas variáveis observáveis no mercado.

4.2.2. Variação do RAI

8
V a r i a ç ã o a nua l mé dia do R A I
CDM CETA CMH
2,000,000,000.00

1,500,000,000.00

1,000,000,000.00

500,000,000.00

-
2010 2011 2012
(500,000,000.00)

Analisando a tendência, concluiu-se que no total da amostra, a CDM ostenta uma


volatilidade do RAI superior às demais, o que coloca em posição de elevada volatilidade do justo
Valor, pois os seus instrumentos financeiros encontram-se.

Escolhida a melhor equação pelos critérios citados anteriormente, buscou-se identificar se


os parâmetros se mantiveram estatisticamente estáveis ao longo do período analisado. Analisado
o grau de correlação entre as duas variáveis (Mensuração pelo justo valor e Resultado do
período) verificou-se a existência de um grau de correlação positivo forte, pois o grau de
correlação aproxima-se de rxy=0.99993175, e o grau da proporção da variação do coeficiente de
determinação R2 iguala 0.9999 (99%), este resultado demonstra que a variação do resultado do
período é 99% significativa, isto é, existe uma correlação perfeita entre os a mensuração pelo
justo valor e o resultado do período das empresa, levando a aceitar a hipótese H0: A
contabilização dos instrumentos financeiros pelo critério de justo valor eleva os resultados
expectáveis pelas empresas na medida em que é revisto a cada data de relato.

5. Conclusões
Diante do estudo realizado, os instrumentos financeiros são usados para efectuar a
cobertura dos activos e dos passivos que são mensurados ao custo, custo amortizado ou ao justo
valor com ganhos e perdas reconhecidos no capital próprio ou itens que não são reconhecidos no
balanço. Isso cria uma incompatibilidade no momento do reconhecimento do ganho e perda do
item coberto e do item de cobertura, gerando um desbalanceamento nas demonstrações
financeiras com as operações de cobertura de risco, podendo provocar um aumento fictício da
volatilidade dos resultados.
Ademais, o critério do justo valor tem vindo a ser duramente criticado por alegadamente
introduzir uma volatilidade acrescida nos resultados das empresas, estritamente relacionada com
as normas contabilísticas conforme estudos de (Allen & Carletti, 2008, Barth, 2004, Fietcher,
2011, Laux & Leuz, 2009, Plantin 2007).
Os resultados do presente estudo confirmaram que a aplicação das regras de contabilidade
de cobertura é reduzida. Apenas 67,7% das empresas utilizam as regras definidas no IAS 39,
pelo que as respectivas variações no justo valor são registadas na demonstração dos resultados do
período em que ocorrem, o que, de facto, leva a crer que os requisitos do IAS 39 se revelam
bastante restritivos.
Em face do exposto, o presente estudo leva a concluir que nas empresas, as variações do
justo valor dos instrumentos financeiros derivados destinados a cobertura do risco cashflow
provocam volatilidade acrescida nos resultados das empresas, na medida em que a operação não
seja designada contabilisticamente como uma operação de cobertura , assim, a contabilização dos
instrumentos financeiros pelo critério de justo valor eleva os resultados expectáveis pelas
empresas na medida em que é revisto a cada data de relato.
9
Não obstante, as conclusões retiradas devem ser interpretadas à luz das limitações que se
reconhecem ao presente trabalho, particularmente, a reduzida dimensão da amostra bem como a
impossibilidade de analisar as variações de justo valor incluídas na demonstração de resultados
relacionadas com instrumentos financeiros derivados mensurados ao justo valor através de
resultados. As limitações identificadas constituem, assim, a base de uma sugestão de
investigação futura

Bibliografia
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