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05.

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Toxicologia forense

Toxicologia é o estudo da interação entre os xenobióticos e os sintomas biológicos com o


objetivo de determinar qualitativamente e quantitativamente o potencial do xenobiótico para
induzir danos, de onde resultem efeitos adversos para os diferentes organismos.

Investiga, igualmente, a natureza destes efeitos adversos, a sua incidência, o seu mecanismo
de produção, os fatores que influenciam o seu desenvolvimento e a sua reversibilidade e
desenvolve os tratamentos para as intoxicações por xenobióticos.

Fatores que influenciam a toxicidade

Composição, via de administração, excreção, estado de saúde, idade, sexo, variabilidade


genética, fatores ambientais, interações medicamentosas.

Mas cuidado… depende… variabilidade intra e inter-individual.

Toxicocinética – conjunto de processos a que uma substância tóxica é submetida quando a sua
passagem pelo organismo, processos esses que vão controlar quer o grau de acesso da
substância tóxica ao seu local de ação específico nos diversos tecidos, bem como determinar a
extensão da sua ação.

Absorção, distribuição, metabolismo, eliminação

Toxicologia forense – é uma ciência forense de características essencialmente analíticas com


importante fundamento que é o esclarecimento de questões judiciais presumivelmente
relacionadas com a intoxicação seja esta ou não fatal.

Deteta e quantifica substâncias químico-toxicológicas em vários tipos de matrizes.

O que procuramos num serviço de química e toxicologia forense?

Determinação de álcool etílico e drogas abuso…

São das substâncias tóxicas que vêm sendo consumidas de forma intensiva pelos jovens ou
porque dizem que explicam muitos dos resultados das relações interpessoais ou porque dizem
ser a solução de muitos problemas.
Comportamento Desviantes:

- Suicídios

- Criminalidade

- Ofensas corporais

- Homicídios

- Agressões sexuais

Trombeteira – todas as partes da planta são tóxicas

Quem pode pedir análises químico-toxicológicas ao serviço de toxicologia forense? Serviço de


patologia forense, comarcas e GML pertencentes à respetiva circunscrição médico-legal,
polícia de segurança pública, GNR da respetiva área.

Exame do local

- Informação

- Exame do local

- Exame do corpo

- Procura e colheita de todos os vestígios biológicos e não biológicos

Nos casos de suspeita de morte por intoxicação, o perito deve dar especial atenção à
informação circunstancial da morte e material encontrado junto da vítima.

Exame do corpo na autópsia

Resultados da patologia forense – as lesões macroscópicas ou microscópicas são apenas


indicativas de determinado tipo de intoxicação e carecem de confirmação toxicológica.

Os aspetos lesionais que podem ser objetivados durante uma autópsia (quer do hábito interno
ou externo) em que se suspeita de intoxicação, não permitem ao perito médico tirar
conclusões definitivas sobre a(s) substância(s) responsáveis por determinada morte.
Exame hábito externo

Cheiro

Xilol – organofosforados

Amêndoas amargas – compostos cianídricos

Dados da toxicologia forense: não existe substituto para uma inequívoca identificação e/ou
quantificação de uma substância em amostras biológicas para explicar a lesão com razoável
grau de probabilidade científica.
06.06

Álcool etílico

Este é uma das substâncias tóxicas que vem sendo consumida de forma intensiva pelos
jovens…

DL nº 50/2013, 16 de abril. venda ou entrega de todas as bebidas alcoólicas proibidas

Absorção do etanol

Mais hidro que lipossolúvel – absorção e difusão pelo sangue rápida, com tropismo para o
sistema nervoso

Mais 50% do álcool ingerido é absorvido nos primeiros 30´ e o resto nas 3 horas seguintes

Efeitos do álcool

Pele:

- Dilatação vascular cutânea

- Flush da face, pescoço e tronco

- Em doses elevadas: palidez da pele por insuficiência circulatória do tipo do choque

Rim:

- Poliúria, acima acidez urina

- Inibe libertação da HAD

Fígado:

- Hepatotóxico direto

- Esteatose e cirrose

Cardiovascular:

- Vasodilatação

- Elevação da TA
- Aumento do débito cardíaco

- Altas quantidades: asfixia, impede circulação, choque e analgesia

Tubo Digestivo:

- Acima fluxo de saliva e suco gástrico

- Inibe motilidade, secreções

- Vómitos de origem central

Efeitos o SNC

- Deprime todas as áreas e funções do cérebro

- Depressão centros inibitórios mais elevados – libertação dos mecanismos normais de


controlo social e comportamental – efeito inibidor e euforizante

- Depressão das áreas de integração mais elevadas – alteração do raciocínio, da


discriminação fina, da capacidade de decisão e da função motora

O que faz…

- Perturbação dos aspetos cognitivos

- Perturbação do processamento da informação

- Deterioração da análise das aferências sensoriais

- Deterioração da organização das respostas motoras

- Menor capacidade e rapidez de decisão (aumento dos tempos de reação e diminuição do


poder de diversificar a atenção)

Influência de uma TAS num determinado indivíduo vs consequências/acidentes de viação ou


trabalho

Note-se, de igual forma, que o código da estrada, bem como toda a legislação complementar,
reguladora da fiscalização da condução sob efeito de álcool e substâncias psicotrópicas
estabelece as condições permitidas por lei, quer em matéria de alcoolémia, quer de drogas de
consumo.
O que importa é que uma TAS determinada é aquela que está a exercer efeitos num dado
momento.

Ar expirado

Os pulmões humanos dispõem de uma superfície de contacto ar-sangue de cerca de 70m 2.

O etanol presente no sangue em equilíbrio com o do ar alveolar.

2300 cc de ar alveolar contêm aproximadamente a mesma quantidade de etanol que 1cc de


sangue, quando o ar é medido a 34ºC (relação é pouco suscetível de variações individuais).

A conversão dos valores do teor de álcool no ar expirado em teor de álcool no sangue é


baseada no princípio de 1mg de álcool por litro de ar expirado é equivalente a 2,3g de álcool
por litro de sangue.

Análises de sangue – STF do INMLCF, I.P.

Exames de confirmação

Artigo 156º Código da estrada – Exames em caos de acidente

Os condutores e os peões que intervenham em acidente de trabalho devem ser submetidos a


exame de pesquisa de álcool no ar expirado. Quando não tiver possível, o médico do
estabelecimento oficial de saúde deve proceder à colheira de amostra de sangue.

Se o exame não puder ser feito ou o examinando recusas deve proceder-se a exame médico
para diagnosticas o estado.

Artigo 157º Código da estrada – fiscalização da condução sob influencia de substâncias


psicotrópicas

Estabelecimentos da rede pública de saúde

Segundo o regulamento de fiscalização da condução sob a influencia do álcool ou de


substâncias psicotrópicas as administrações regionais de saúde e as regiões autónomas devem
listar e divulgar os estabelecimentos de saúde onde a avaliação pode ser realizada.
Aos estabelecimentos da rede pública de saúde que constem da lista divulgada em anexo ao
presente documento, compete, de acordo com o que lhe for solicitado pelas entidades
fiscalizadoras, promover as condições para:

a) Recolha e remessa para a delegação do INML da sua área, de amostra de sangue


venoso destinado à realização dos exames de quantificação da taxa de álcool e/ou de
confirmação da presença de substâncias psicotrópicas no sangue.
b) O exame de rastreio de substâncias psicotrópicas, em amostra de urina
c) O exame médico para avaliação do estado de influenciado pelo álcool ou por
substâncias psicotrópicas, quando não sejas possível a colheita de fluidos biológicos.

Assim e mediante a requisição da entidade fiscalizadora (PSP ou GNR), o estabelecimento


de saúde, deve promover a realização dos seguintes atos:

- Colheira de sangue para análise de quantificação da taxa de álcool no sangue

O profissional de saúde que recebe a requisição da entidade fiscalizadora deve:

- Providenciar a colheita, no mais curto espaço de tempo, de um volume mínimo de 5ml de


sangue, utilizado para recolha, acondicionamento e expedição da amostra, o material
fornecido pela entidade fiscalizadora no momento da entrega da requisição de exame:

- A colheita de sangue deve ser feita, preferencialmente, numa veia que não tenha sido
canalizada;

- A limpeza e a desinfeção da pele não podem ser feitas com produtos que contenham
álcool.

Exame médico para avaliação do estado de influenciado pelo álcool

Se após repetidas tentativas, não for possível a colheita de uma amostra de sangue em
quantidade suficiente, o examinando deve ser submetido ao exame médico para
determinação do estado de influenciado pelo álcool, feito por um médico do
estabelecimento de saúde a que tiver sido conduzido.

O exame consiste na observação dos sintomas e no preenchimento do relatório médico,


Anexo III, previsto na portaria 902-B/2007, conforme o modelo que abaixo se reproduz.
C0 = Ct + ßt

C0 – concentração de álcool extrapolada para a hora pretendida

Ct – concentração de álcool no sangue no momento da extração

ß – coeficiente de etiloxidação de álcool do sangue

t – Período de tempo decorrido

ß – variabilidade inter-individual
– Variabilidade Intra individual
ß – 0.095 a 0.371g/l/h

As fórmulas para o cálculo retrospetivo são apenas aplicáveis na fase de eliminação;

Para serem de maior fidedignidade exigem diversas determinações da T.A.S. e tão próximas
quanto possível da ingestão;

Foram elaboradas a partir de estudos experimentais desenvolvidos em condições não


correspondentes às da prática médico-legal, nomeadamente tanatológica;

O cálculo exponencial utilizado em muitas delas leva a uma multiplicação do erro da própria
determinação, o que pode conduzir a desvios inadmissíveis.

Local da colheira da amostra de sangue

Fase de absorção/distribuição: concentração arterial é diferente concentração venosa

Fase de pós-absorção: concentração arterial é aproximadamente a concentração venosa

1. Difusão e distribuição Postmortem do etanol


2. Amostras sanguíneas não homogéneas
3. Absorção Postmortem do etanol

Se não for possível obter sangue venoso periférico:

- Utilizar sangue central desde que:

- Intervalo Postmortem < 18 horas

- Ausência de fenómenos putrefativos (cadáver conservado a 4ºC)

- Ausência de traumatismo tóraco-abdominais severos


- Ausência de aspiração de vómito

- Ausência de etanol no conteúdo gástrico

Determinação indireta da alcoolemia

Humor vítreo

- Facilidade na obtenção da amostra

- Protegido dos fenómenos putrefactivos e traumas

- Fluido com boa estabilidade química e fácil de processar analiticamente

- Reduzida probabilidade de contaminação por síntese Postmortem

- Amostra pode ser obtida necessidade de autópsia

Taxa de conversão para o humor vítreo – 0,80

Álcool vs violência crimes sexuais

- O abuso de álcool por agressões e/ou vítimas está frequentemente presente nos
casos de violação

- Em cerca de 50% das violações, as vítimas reportam que os seus agressores estavam
sob a influencia de álcool

- Nos casos em que as vítimas estão intoxicadas, o comportamento sexualmente


ofensivo do perpetrador tem sido relatado como mais violento

Álcool vs suicídio/homicídio/acidente

- Presente de álcool nos comportamentos desviantes, sendo importante a


determinação do estado de influência
Drogas de abuso

Dependência psíquica – estado mental caracterizado por comportamentos compulsivos e


obsessivos para o consumo de uma droga para obter prazer ou aliviar uma tensão

Dependência física – exigência do organismo de consumir uma droga sob pena de


aparecimento de uma síndrome de abstinência

Tolerância – propriedade do organismo à qual ele se adapta a algumas drogas, fazendo com
que, com a repetição do consumo, sejam necessárias doses progressivamente crescentes para
obter o mesmo efeito

O consumo, a aquisição e a detenção para consumo próprio – contraordenação

A aquisição e a detenção para consumo próprio não poderão exceder a quantidade necessário
para o consumo médio individual durante o período de 10 dias.

O princípio ativo, Δ9-tetrahidrocanabinol (Δ9-THC), é obtido a partir da planta cannabis sativa L.

Apesar de originária da Ásia Central, rapidamente se propagou a todos os continentes.

Δ9-tetrahidrocanabinol (Δ9-THC) – responsável pelos efeitos psicoativos e fisiológicos da


cannabis

Endocanabionoides e análogos sintéticos

Endocanabionoides: anandamida. 2- araquidonoglicerol

Canabinoides sintéticos: clássicos, não clássicos e eicosanóides

Canabinoides sintéticos

- Análogos do THC

- Efeitos equivalente cannabis

- Concentrações variáveis

- Tipicamente não misturados com CBD


- Perfiz farmacocinéticos diferem grandemente: efeito 1-6 horas; rápida tolerância

- Efeitos imprevisíveis e frequentemente mais severos que cannabis

- Utilizadores: risco equivalente a 30 vezes superior assistência emergente

- Maior probabilidade psicose provocada

A potência dos produtos da Cannabis é determinada pelo teor de Δ 9-THC, normalmente dada
em percentagem de Δ9-THC

Atualmente, um cigarro pode apresentar cerca de 150 mg de Δ 9-THC ou 300 mg se misturado


com óleo de haxixe.

Assim, um consumidor de cannabis dos dias de hoje estará exposto a doses francamente mais
elevadas do que nas anteriores décadas de 60 ou 70.

Inalação e ingestão oral – são as vias mais comuns da administração de produtos naturais e
sintéticos da canabinoides.

Mas tem sido igualmente desenvolvida formas para administração rectal, sublingual,
transdérmica, oftálmica, intravenosa…

São muitas as variáveis que podem afetar as propriedades psicoativas dos canabinoides,
incluindo:

- Potência do cannabis usado (dependente da % THC existente)

- Via de administração

- Técnica de fumar

- Dose

- Experiências e expectativa do utilizador, bem como vulnerabilidade biológica aos


efeitos da droga
Efeitos farmacológicos/sintomas

Efeitos farmacológicos (THC) – ação no SNC

Efeitos subjetivos:

- Sensação relaxamento e bem-estar

- Sensação passagem extremamente lenta do tempo

- Perceção aumento de autoconfiança e criatividade – euforia

- Impressões de consciência sensorial aguçada

Efeitos a curto prazo (reversíveis):

Centrais

- Comprometimento memória curto prazo e tarefas aprendizagem simples

- Menor coordenação motora

- Catalepsia

- Hipotermia

- Analgesia

- Ação antiemética

- Maior apetite

Periféricos

- Taquicardia

- Vasodilatação

- Menor pressão intraocular

- Boncodilatação
Potenciais efeitos a longo prazo

Uso regular (mais na adolescência)

- Vício com aumento ânsia pela droga

- Comprometimento cognitivo duradouro

- Resultado educacional pobre

- Diminuição sensação de realização e satisfação com a vida

- Aumento irritabilidade e reatividade ao stress

- Aumento distúrbios psicóticos (esquizofrenia)

O que significa detetar ou quantificar THC em sangue? Em urina? Que valorização se deve
dar a estes resultados?

A rápida diminuição deve-se à elevada natureza lipofílica do THC, com consequente rápida
distribuição do sangue para os tecidos, e a sua rápida conversão a metabolitos mais polares.

Concluíram que a proporção de observações que demonstraram um estado de influenciado


aumentam progressivamente com o aumento das concentrações de THC detetadas:
- THC entre 2 e 5 ng/ml - pode existir um estado de influenciado inicial e significativo
- THC entre 5 e 10 ng/ml - 75 a 90% das observações foram indicativas de um estado
de influência muito significativo em todos os testes realizados
- THC > 30 ng/ml - Pode atingir um estado de influenciado de 100%

O que significa detetar ou quantificar unicamente THC-COOH?


Monóxido de carbono: importância da toxicologia forense na investigação
Propriedades do Monóxido de carbono: incolor, inodoro, insípido, não corrosivo, elevada
difusibilidade
Principais fontes: incêndios, gases de exaustão de veículo motorizados, aparelhos domésticos,
processos industriais, vapores de CH2CL2
Mecanismos de toxicidade
Diminuição da capacidade de transporte de oxigénio no sangue

- Competição com O2 pela ligação à hemoglobina (Hb) – reversível

- Afinidade 250-300 vezes superior à afinidade do O 2

-- Maior transporte de O2 e aporte aos tecidos – hipoxia tecidular

- Efeito citotóxico direto (impede respiração mitocondrial por ligação ao complexo


citocromo C oxidase)

- Stress oxidativo celular – radicais livres O 2

-- Absorção maior com temperatura, altitude e exercício

Não há absorção passiva Postmortem de CO

% COHb não é alterada por decomposição

COHb é reversível e dissociável – exposição aguda termina – CO é excretado pelos pulmões

Toxicidade

- Concentração de CO (quantidade de CO inspirado)

- Duração da exposição

- Ventilação alveolar por minuto durante o exercício físico e em repouso (ventilação pulmonar)

- Produção endógena de CO (concentração de COHb inicialmente existente no organismo)

AUTÓPSIA MÉDICO-LEGAL EM SUSPEITAS DE MORTE POR INTOXICAÇÃO POR CO


• Exame do cadáver no local
Esquentadores + botijas de gás
Braseiras
Fogões
Incêndios
Tubo de escape ligado a mangueira introduzida
para interior de veículo
Carro ligado dentro de garagem
• Avaliação preliminar relativamente à etiologia médico-legal

Exame hábito externo


• Livores cadavéricos rosados/coloração comum
• Hipotermia/ intoxicação por cianeto/ artefacto produzido por frio
• Poderão Ø se anemia
• Ancestralidade africana
• Difícil visualização
• Melhor: face mucosa lábios / conjuntivas/ leito ungueal / língua / palmas
das mãos/ plantas dos pés
• Vesículas
• Inespecíficas
• Raras
• Punhos / nádegas / joelhos /face posterior da perna
• Queimaduras

Exame hábito interno


• Músculos e vísceras rosados /carminados
• Sangue rosado / carminado
• Diluir com H2O sobre superfície clara
• Diluir com NaOH 10% sobre superfície clara
• CO ausente → Fe2+ da Hb passa a Fe3+ → meta-hemoglobina sangue
verde-acastanhado
• CO presente → Ø metahemoglobina → sangue rosado / carminado
• Encéfalo de consistência firme e tonalidade rosada
• Edema encefálico e pulmonar
• Se incêndio → negro de fumo nas vias aéreas

Determinação laboratorial de carboxiemoglobina


- Quantificação
- %COHb = COHb / Hb Total
- Várias matrizes e vários métodos
- Matrizes – qualquer uma que contenha glóbulos vermelhos
- +++ sague periférico
- Sangue cardíaco
- Sangue das cavidades anatómicas
- Coágulos sanguíneos
- Sangue “cozido”
- Baço
- Medula óssea

Cianeto – propriedades físico-químicas


- Líquido muito volátil (temperatura de ebulição – 26ºC)
- Densidade reduzida
- Elevada tensão de vapor
- Muito solúvel em água e em álcool
- Incolor
- Odor a amêndoas amargas

Ácido cianídrico puro – as intoxicações que pode provocar são devidas à inalação dos seus
vapores
Substâncias que dão origem a intoxicações rápidas – HCN = “veneno fulminante”
A intoxicação cianídrica ocorre pela sua ingestão – no organismo dão origem a ácido cianídrico
(HCN) nascente
- Sais cianídricas – os compostos que dão origem a este tipo de intoxicação são o
cianeto de potássio ou sódio, mas a ingestão de outros compostos, como o cianeto de prata e
mercúrio ou zinco podem levar à morte
- Glucósidos cianogénicos – vegetais (amêndoas amargas e sementes de pêssego ou
cereja)
Mecanismo de ação:
Autópsia
Hábito externo – coloração rosa/arroxeada da superfície corporal (pele) e labial
Hábito interno –
- Mucosas (incluindo a gástrica) e órgãos e tecidos de coloração rosa
- Sague fluido com uma coloração rosa brilhante característica
- Odor a amêndoas amargas – nos casos de suspeito de intoxicação por cianeto, a
cavidade craniana deve ser aberta logo de início uma vez que este odor se encontra bem
evidente nos tecidos cerebrais
12.06
Garantia da qualidade
Conjunto de atividades planeadas e implementadas destinadas a garantir a validade dos
resultados emitidos.
Controlo de qualidade (interno/externo) pode ser definido como o conjunto de medições que
evidenciam e suportam a garantia da qualidade

Para uma melhor compreensão do significado de garantia de qualidade associada a


laboratórios forenses é preciso primeiro conhecer os âmbitos de atuação e os principais
objetivos da toxicologia forense.
Âmbitos de atuação:
- Amostras provenientes da fiscalização da condução
- Perícias médico legais
- Autópsias
- Custódia de menores
- Agressões sexuais
- Envenenamentos
- Exumações
- Solicitações particulares

Objetivos da toxicologia forense


1º - confirmação qualitativa – identificar substâncias exógenas em matrizes orgânicas
(principalmente sangue)
2º - confirmação quantitativa – aferir a concentração das substâncias detetadas
3º - atribuição de estado de influência – terapêutico/tóxico/fatal

1º Confirmação qualitativa
Espectrometria de massa: técnica analítica que permite detetar espectros de massa
Em toxicologia forense as análises qualitativas são realizadas por comparação entre uma
amostra real e uma amostra fortificada no laboratório com as substâncias a analisar (controlo
positivo).
A comparação entre uma amostra real e um controlo positivo está suportada por critérios de
identificação objetivos: tempo de retenção, razão sinal/ruido e comparação de fragmentos
diagnóstico.
A confirmação qualitativa deve permitir discriminar amostras positivas de amostras negativas:
- Uma amostra é declarada positiva para uma determinada substância quando é
possível identificar, sem nenhuma dúvida o correspondente espectro de massa (e demais
critérios de positividade).
- Uma amostra é declarada negativa para uma determinada substância quando não é
possível identificar o correspondente espetro de massa. Assim sendo uma amostra pode ser
negativa por diferentes motivos:
- Não houve consumo de nenhuma substância
- Intervalo de tempo dilatado entre o consumo e a colheira da amostra
- Utilização de métodos analíticos não apropriados ou indevidamente validados
- Amostras degradadas
- Os métodos analíticos detetam um número limitado de substâncias
- Não são cumpridos todos os critérios de positividade

Garantia da qualidade associada a confirmações qualitativas:


a) Utilização de critérios de positividade objetivos: tempo de retenção, razão sinal ruido,
comparação de fragmentos diagnóstico
b) Utilização de controlos positivos e negativos: os controlos positivos permitem
evidenciar o correto funcionamento do método analítico utilizado; os controlos
negativos evidenciam a ausência de contaminações
c) Utilização de padrões de referência primários – substâncias químicas sintetizadas
artificialmente utilizadas para fortificar os controlos positivos e que servem como
padrões de referência na identificação.

2º Confirmação quantitativa
a) Utilização de cartas controlo – parâmetros habitualmente monitorizados nas cartas
controlo:
a. Controlos de diferentes concentrações
b. Coeficientes de regressão (R2 – quanto mais perto do 1 melhor)

3º Atribuição do estado de influência


- A atribuição de um estado de influência é o maior desafio que enfrenta a toxicologia
forense
- As conclusões medico legais estão condicionados pela atribuição de um determinado
estado de influência
- Na atribuição do estado de influência são frequentemente utilizadas tabelas de
referência
Terapêutico – toxico – letal

Garantia da qualidade associada a tabelas de referência


- A credibilidade da atribuição de um estado de influência com recurso a tabelas de
referência está diretamente relacionada com a qualidade dos valores utilizados na sua
construção (concentrações)
- Só devem ser utilizados dados obtidos através de métodos analíticos devidamente
validados.

Controlo interno de qualidade


- Permite garantir a aceitação dos resultados e decidir se os mesmo podem ser
emitidos:
- Controlos positivos/negativos
- Critérios de positividade
- Curvas de calibração
- Cartas controlo
- Análise de duplicados

O controlo interno de qualidade evidencia o correto funcionamento do laboratório em


condições normais de rotina.

Controlo externo de qualidade


- Permite comparar os resultados obtidos no nosso laboratório com os resultados
obtidos em outros laboratórios equivalentes (reproducibilidade)
- Ensaios interlaboratoriais
- Ensaios de aptidão
- Testes de proficiência

Amostragem: processo que determina que uma amostra recolhida é representativa da


totalidade de um conjunto
Colheita: recolha da amostra
Cadeia de custódia
- Processo que consiste em documentar a história cronológica de evidências e provas
(amostras) em todas as etapas, desde a colheira até a destruição
- O objetivo principal da cadeia de custódia é garantir o rastreamento das provas
utilizadas em processos judiciais de forma a evitar alterações, substituições, contaminações ou
destruições.

Seleção, recolha e acondicionamento e envio de amostras:


- As amostras devem ser adequadas ao tipo de análise toxicológica solicitada
- A recolha da amostra deve ser realizada com material adequado evitando
contaminações
- As amostras devem ser bem identificadas e acondicionadas
- Devem ser conservadas refrigeradas (4ºC) até serem enviadas para o serviço de
química e toxicologia forense

Tipos de amostra
- Sangue
• Matriz de eleição para a pesquisa de uma intoxicação como causa de morte
• Correlação direta como esta clínico.
• Exige um grande cuidado na colheita (contaminação).
• A sua complexidade pode dificultar a análise
• Necessidade de preparação prévia
• Baixas concentrações presentes

- Sangue da cavidade cardíaca


• Obtida preferencialmente da cavidade direita por aspiração.
• Habitualmente utilizado na análise toxicológica de rastreio.
• Para algumas substâncias verifica se um efeito cumulativo devido ao
fenómeno de redistribuição Postmortem.
• Habitualmente são recolhidos 30mL de sangue cardíaca.

- Sangue periférico
• Menos afetado pelo fenómeno de redistribuição Postmortem.
• Preferencialmente obtido da veia femoral ou subclávia.
• Amostra de eleição para determinação de alcoolemia e quantificação de
substâncias de interesse médico-legal.
• Recomenda-se a recolha de aproximadamente 10mL.

- Urina (vantagens)
• Substâncias presentes em concentrações elevadas.
• Quantidade elevada de amostra disponível
•Matriz menos complexa (95% água, ureia, ácido úrico e sais, sem proteínas).
• Fácil manipulação e menos exigente em termos de preparação da amostra.
• Análise de substâncias e metabolitos
• Pode ser detetada a presença de substâncias entre algumas horas até dias
após a ingestão, em função da natureza da mesma.

- Urina (inconvenientes)
• Não permite correlacionar com o estado clínico
• Fácil adulteração
• Para algumas substâncias a sua excreção é realizada sob a forma de
conjugados (união com grupos glucurônido e/ou sulfato) o que exige um passo
adicional de hidrólise na preparação das amostras.

- Conteúdo gástrico
• É possível encontrar as substâncias não metabolizadas.
• Permite orientar a pesquisa no sangue.
• Matriz de preferência na identificação de substâncias cáusticas.
• O odor e coloração podem ser sugestivos do tipo de tóxico envolvido (por
exemplo: o forte odor a xilol é comum nas intoxicações por pesticidas
organofosforados; e uma coloração de cor verse sugere a possibilidade de intoxicação
por herbicidas).
• Baixa concentração da substância sugere difusão a partir do sangue e não da
ingesta recente da substância.
• Conteúdo não homogéneo e volume variável.

- Bílis
Vantagens:
• Amostra de utilidade na análise de opiáceos.
• Pode ser útil por ser uma via de eliminação importante de alguns tóxicos
Inconvenientes
• Amostra complexa que resulta numa elevada presença de interferentes.
• Grande dificuldade na determinação analítica.

- Vísceras
• Amostras de elevada complexidade, apresentando muitos interferentes.
• Constituem uma alternativa em situações de exumação.
• Estas amostras são utilizadas em análises qualitativas, uma vez que a sua
natureza torna difícil uma análise quantitativa.
→Fígado – Assume importância por ser a principal via de metabolização.
Concentrações elevadas de substâncias.
→Rim – Pode ter utilidade uma vez que se trata da principal via de excreção; útil na
investigação de intoxicações crónicas por metas pesados.
→Estômago– Útil na ausência de conteúdo gástrico.
→Pulmão–Possível via de entrada de tóxicos voláteis. Importante na pesquisa de
paraquato (pesticida).
→ Outras vísceras: coração, cérebro, intestino.

- Humor vítreo
É um gel aquoso, transparente e incolor anatomicamente situado entre o cristalino e a retina.
As substâncias incorporam-se no humor vítreo através de diferentes mecanismos,
nomeadamente: difusão passiva, pressão hidrostática, pressão osmótica, transporte ativo.

Vantagens:
• Matriz relativamente simples em termos analíticos quando comparada com o
sangue ou urina.
• É estável, mais resistente a mudanças Postmortem e contaminação por
bactérias (posição anatomicamente isolada).
• A amostra pode ser colhida facilmente-
• Pode revelar-se muito importante quando o sangue é escasso,
nomeadamente na determinação de etanol.

Inconvenientes:
• Volume de amostra limitado (5mL no máximo).
• A colheita é dificultada em caso de intervalo Postmortem longo.
• A correlação entre os valores no humor vítreo e no sangue não esta
totalmente estudada para a maioria dos tóxicos, tornando a sua interpretação difícil.

- Cabelo – é a amostra alternativa mais estudada


Composição: queratina (65 – 95%), água (15-35%), lípidos (1- 9%) e minerais (0,25 – 0,95%)
A cor do cabelo é devida à presença de melanina: eumelanina (polímero negro) e feomelanina
(polímero vermelho amarelado).
Estrutura cilíndrica constituída por três camadas:
- Cutícula – camada de células queratinizadas que forma um escudo resistente a
agentes físicos e químicos
- Córtex – camada principal do cabelo e que contém grânulos de melanina, responsável
pela cor. Situado imediatamente após a cutícula.
- Médula – zona mais interna do cabelo, constituída por células e espaço oco. Pode
estar ausente no cabelo do adulto. Rica em proteínas e lípidos.

O cabelo cresce a partir do folículo piloso.


O cabelo cresce em média cerca de 1cm por mês, mas o seu crescimento não é uniforme
podendo haver variações na velocidade de crescimento para um mesmo indivíduo.
Cada cabelo tem um ciclo de vida próprio, passando por diferentes etapas de crescimento,
transição e repouso, até que acaba por sair.
Numa mesma área podem existir cabelo em distintas fases de crescimento.

Ciclo de crescimento:
Anagénica: fase de crescimento ativo do folículo e mais ou menos 3 anos para o cabelo
da cabeça
Catagénica: fase de repouso, com a duração aproximada de 2-3 semanas. O processo
de divisão celular é interrompido, o folículo piloso involui e torna-se mais superficial, os vasos
sanguíneos e nervosos são atrofiados.
Telogênica: fase de descanso do ciclo capilar (2-6 meses). A papila dérmica desaparece
e o cabelo mantém-se preso apenas por sua base, caindo facilmente.

A incorporação das substâncias no cabelo pode ser feita através:


- Suor – as drogas hidrossolúveis são também excretadas pelo suor e pelo sebo,
podendo ser incorporada no cabelo após emergir da pele
- Sangue – algumas drogas são incorporadas a partir da corrente sanguínea
(diretamente na raiz) durante o crescimento do cabelo
- Exposição passiva – por outro lado, a exposição passiva do cabelo à droga (vapor,
contacto direto), pode levar também à incorporação.

Mecanismos de incorporação
- Transporte seletivo para as células do cabelo
- Ligação das drogas aos constituintes do cabelo (proteínas, lípidos, melanina)
A incorporação não se faz por difusão simples.
A concentração da droga mãe é maior que a dos seus metabolitos.

Fatores que afetam a incorporação externa das drogas:


- Concentração
- Tipo (cabeça, axilas e púbis) e cor de cabelo
- Tempo de exposição
- Tratamentos cosméticos
As diferenças de concentração encontradas em diferentes tipos de cabelos para uma dada
substância podem ser significativas, observando-se uma concentração muito superior no caso
de axilas e púbis em comparação com a concentração encontrada no cabelo. Devido:
- À razão anagénese7teleogénese típica de cada cabelo;
- À diferente taxa de crescimento nas diferentes zonas anatómicas;
- É a melhor circulação sanguínea e maior número de glândulas apocrinas.

Tratamentos cosméticos
A cutícula quando intata é uma barreira forte contra a perda de droga do cabelo. No entanto,
alguns tratamentos cosméticos podem danificá-lo, mudar a estrutura molecular dos pigmentos
do cabelo ou ainda degradas a droga incorporada.
A utilização de alguns shampoos e tratamentos (permanentes, colorações e descolorações)
podem diminuir significativamente concentração de droga no cabelo.

- Vantagens
• Colheita não invasiva.
• Permite conhecer o historial de consumo.
• Drogas não removidas por abstinência.
• Grande janela de deteção, de semanas a meses.
Recolha de amostra: Os extremos proximal e distal devem ser assinalados no caso de análise
por segmentos. No pelo púbico a análise por segmento não tem utilidade.

- Inconvenientes
• Não existe correlação conhecida entre a dose consumida e a concentração
detetada;
• Grande variabilidade individual.
• Matriz complexa.
• Possibilidade de falso positivo por contaminação externa, sendo muito
importante garantir a descontaminação da amostra e a identificação de metabolitos.

Aplicações
• Arqueologia;
• Perfis de consumo de drogas e álcool
• Carta de condução e controlo rodoviário;
• Avaliação de exposição fetal a drogas;
• Avaliação do estado de toxicodependência;
• Avaliação da prevalência de drogas no local de trabalho;
• Toxicologia Postmortem;
•Drug facilitated crimes;

- Saliva/fluído oral
O fluido oral é um líquido incolor e viscoso formado essencialmente pelas secreções das
glândulas: parótida (23%), submandibular (65%) e sublingual (4%)
É constituído por: água (99%), proteínas e eletrólitos.
→ Possui um pH 6,8 (sem estimulação) podendo ir até um pH 8 com estimulação e
produz-se cerca de 1 a 3mL/min.
→ A composição e volume pode sofrer alterações devido ao ritmo ou ciclo circadiano,
estimulação salivar, alterações hormonais, doenças, stress e a utilização de algumas drogas e
medicamentos.

Mecanismos de incorporação
- Difusão passiva através das membranas plasmáticas de acordo com um gradiente de
concentrações (para substâncias entre 100 e 500 Da, não ionizadas, lipossolúveis e não ligadas
às proteínas plasmáticas)
- Transporte ativo
- Filtração através dos poros membranares.

Recolha da amostra:
- Não estimulada – spitting (sem adsorção ao dispositivo de recolha)
- Cálculo direto da concentração das substâncias (sem diluição)
- Inconvenientes: elevada viscosidade; boca seca; método pouco higiénico,
baixa estabilidade da amostra
- Estimulada – estimulação mecânica ou química
- Produção eficiente (quantidade mais elevada e em pouco tempo)
- Controlo de Ph (aproximadamente 7.4)
- Diminuição da variabilidade inter-individual
- Inconvenientes: algumas substâncias apresentam menores concentrações
quando comparado com a colheira não estimulada

- Vantagens:
• Colheita fácil e não invasiva.
• Difícil de adulterar ou substituir.
• Substância original geralmente presente em grandes concentrações.
• A confirmação da presença das substâncias permite concluir sobre a sua
administração recente (horas).
• Possível correlação com os níveis plasmáticos.

- Inconvenientes:
• Elevado conteúdo glicoproteico (mucima)
• Difícil de adulterar ou substituir.
• Substância original geralmente presente em grandes concentrações.
• A confirmação da presença das substâncias permite concluir sobre a sua
administração recente (horas).
• Possível correlação com os níveis plasmáticos.

Aplicações:
• Monitorização terapêutica de fármacos
• Estudos de farmacocinética
• Deteção de drogas de abuso e medicamentos
- Suor
Solução hipotónica produzida pelas glândulas écrinas e apocrinas, cuja composição é
essencialmente água (99%). Apresenta elevadas concertações de Na e Cl. Inclui K+, glucose, os
ácidos pirúvico e láctico e ureia.
Produz-se cerca de 300-700 ml/dia e 2-4 l/h em exercício intenso.

- Mecanismos de incorporação
- Difusão passiva do sangue, nas glândulas
- Passagem transdérmica das drogas através da pele
- As drogas básicas não ionizadas difundem para o suor, ionizando-se como
resultado do pH baixo do suor (5,8) em relação ao do sangue.

- Recolha de amostra
- Um adesivo próprio é colocado na parte superior do braço (ou em alternativa
na barriga ou na parte inferior das costas).

- Vantagens:
- Colheita fácil e não invasiva
- Difícil de adulterar
- É possível a recolha da amostra durante uma semana, devido à natureza da
técnica empregue
Aumento da janela de deteção

- Inconvenientes:
- São necessárias técnicas analíticas muito sensíveis, devido às baixas
concentrações presentes
- Difícil estimar o volume de suor e consequentemente as concentrações das
substâncias. Pelo que se trata de uma análise qualitativa.

Aplicações: utilizado na deteção de drogas de abuso – Workplace Drug testing


- Mecónio
- Primeira matéria fecal eliminada pelo recém-nascido
- Começa a formar-se entre a 12ª e a 16ª semana
- Composto por: água, mucopolissacarídeos, lípidos, sais e ácidos biliares, células
epiteliais e resíduos de líquido amniótico.

- Vantagens:
- Facilidade de recolha de amostra (não invasiva)
- É excretado várias vezes por dia durante os primeiros 1 a 5 dias pós-parto (72h –
últimas fases de excreção, a matriz é uma mistura de mecónio/fezes)
- Matriz mais interessante e de mais fácil recolha do que a urina
- Concentrações maiores devido a acumulação durante a gestação -
Representa uma janela de exposição intrauterina a drogas de cerca de 20 semanas
- Drogas estáveis o máximo 2 semanas à temperatura ambiente e pelo menos 1 ano se
congelado.

- Inconvenientes:
- Amostra complexa, dificultando a análise
- Obtenção sempre através de um serviço hospitalar
- Contaminação com urina

Acondicionamento de amostras
As amostras devem ser acondicionadas em recipientes, contentores ou suportes apropriados
que permitam garantir a integridade da amostra desde a colheira até receção no laboratório.
Para garantir a preservação de algumas amostras deve ser adicionado aos tubos conservantes.

Transporte de amostras
As amostras devem ser transportadas o mais rapidamente possível até ao seu destino
(laboratórios) em condições de segurança e em condições de temperatura apropriada.

Receção de amostras
O laboratório deve examinar o estado em que as amostras são entregues (contentores
devidamente selados) assim como toda a documentação que acompanha as amostras. No caso
de ser observada alguma anomalia o laboratório deve registar e comunicar as entidades
competentes as situações detetadas.

Armazenamento de amostras
- Os laboratórios devem garantir que possuem instalações apropriadas para garantir a
preservação das amostras
- A maior parte das amostras em toxicologia forense devem ser armazenadas a
temperaturas <- 10ºC
- As amostras de cabelo podem ser armazenadas a temperatura ambiente

Destruição de amostras
- Os laboratórios devem preservar as amostras até a sua destruição
- Os laboratórios só podem destruir as amostras uma vez recebida a autorização das
autoridades competentes
- Os laboratórios possuem uma capacidade de armazenamento limitada

Cadeia de custódia intralaboratorial


- Processo que consiste em documentar a história cronológica de evidencias/provas
em todas as etapas, desde a receção no laboratório até a sua destruição
- Rastreabilidade das medições: conjunto de procedimentos e registos que permitem
ao laboratório reconstruir todas as operações realizadas com as amostras mesmo após a
destruição das mesmas e na ausência do pessoal que realizou as análises

Fatores que influenciam a interpretação dos resultados


- A interpretação dos resultados toxicológicos é complexa e muitas vezes é possível
obter respostas claras as questões formuladas
- É fundamental ter um bom conhecimento em muitas áreas
- Frequentemente interpretações pouco rigorosas conduzem a conclusões inexatas e,
por vezes, totalmente erradas.
- Dificuldades de comunicação com profissionais de outras áreas
- Interpretação errada dos conceitos “positivo” e “negativo”
o Uma amostra é declarada positiva para uma determinada substância
quando é possível identificar, sem nenhuma dúvida o correspondente
espetro de massa (e demais critérios de positividade)
o Uma amostra é declarada negativa para uma determinada substância
quando não é possível identificar o correspondente espetro de massa.
Falsos negativos: amostras degradadas, substâncias instáveis,
substâncias desconhecidas, seleção de amostras não apropriadas
- Dificuldade em atribuir um estado de influência
- Toxicologia em idosos
o A atribuição de um determinado estado de influência em pessoas
idosas é particularmente difícil. A presença de elevadas concentrações
de um medicamento pode resultar de: efeito de acumulação
(administração de medicamentos em períodos de tempo prolongado),
diminuição da atividade do sistema excretor, diminuição da atividade
hepática
- Instabilidade de amostras/substâncias
o Algumas substâncias degradam-se muito rapidamente
o Todas as matrizes orgânicas degradam-se facilmente
o Processos de fermentação bacteriana nos açúcares presentes em
amostras de sangue negativas podem originar resultados positivos
para esta substância (“falso positivo”).
- Os laboratórios não são responsáveis pela amostragem e colheira das amostras
o Dificuldade em realizar colheitas apropriadas em situações de grande
traumatismo
o Possibilidade de obter valores toxicologicamente aberrantes
- Deteção de substâncias farmacologicamente ativas
o A atribuição de um determinado estado de influência depende da
capacidade de deteção de substâncias farmacologicamente ativas no
sangue. Muitas destas substâncias estão presentes em pequenas
concentrações ou podem ainda não ser detetadas devido a sua rápida
metabolização
13.06 (1)

GHB – composto endógeno, droga recreativa, droga da violação, e um pouco mais…

Caracterização do composto:

- Hidroxiácido carboxílico de cadeira curta

- Anestésico

- Componente endógeno dos tecidos de mamíferos

- Suplemento para culturistas, promotor do aumento da massa muscular

- Aplicações terapêuticas na narcolepsia, cataplexia, fibromialgia, terapêutica de


recuperação de alcoolismo crónico e substituição de opiáceos.

Formas de consumo:

- É consumido em colher ou utilizando a tampa do frasco onde se encontra guardado

- Liquid X, Ecstasy Líquida

- GHB, Scoop

- Soap, Cherry Meth

Metabolismo:

- É um depressor do sistema nervoso central, sendo estruturalmente semelhante ao


GABA e um seu metabolito

- Afeta os ciclos do sono, temperatura corporal, metabolismo da glicose no cérebro e


memória

- Regulador de sistemas neurotransmissores (dopamina, serotonina)

- Estimulante da hormona de crescimento


Produção Endógena:

- É um obstáculo importante na interpretação de eventuais resultados positivos

- Necessidade de definir valores de referência

- Janela de deteção do composto: 6-12 horas (sangue, soro e urina)

- GHB acidúria

- Repetição de análise, para valor basal

Produção Postmortem:

- Este composto continua a ser produzido após a morte do indivíduo

- Decomposição celular e ação bacteriana, culminando num consumo total do


composto, caso se verifique esta segunda possibilidade

- Aumento da concentração do GHB devido à metabolização do ácido succínico, GABA


e putrescina.

Recolha da amostra – LLE (100uL SG + 300 uL MetOH) – derivatização (BSTFA + TMCS) – Se


positivo – quantificação

Recolha da amostra – lavagem da amostra (diclorometano X2) – LLE – Derivatização – se


positivo – quantificação

- A concentração de GHB poderá ser um indicador relevante na estimativa do PMI

- O uso da amostra de cabelo sugere a sua utilização para distinção entre contexto
endógeno ou origem exógena
- Estudo de experimentação animal corrobora a indicação de que as amostras de
sangue poderão ser úteis para a estimativa do PMI, enquanto que as amostras de cabelo
poderão permitir uma distinção entre origem endógena e consumo exógeno.

13.06 (2)

Substâncias medicamentosas e a sua importância médico-legal

Medicamento – preparação farmacêutica contendo um ou mais princípios ativos, destinada ao


diagnóstico, prevenção ou tratamento de doenças ou dos seus sintomas, ou à correção de
funções orgânicas, no homem ou animais.

Benzodiazepinas, anticonvulsivantes, antidepressivos, antipsicóticos, anestésicos,


cardiovasculares, outros.

Intoxicações medicamentosas

- Uso crescente de medicamentos

- Facilidade de aquisição

- Automedicação

- Suscetibilidade individual

- Estreita margem de segurança

- Associação de fármacos e/ou outros depressores do SNC

Importância médico-legal:

- Clínica Forense

- Violações/agressões

- Intoxicações não fatais


- Monitorizações terapêuticas

- Patologia Forense

- Mortes por intoxicação

- Mortes sob influência de medicamentos

Benzodiazepinas:

- Depressores do SNC

- Ansiolíticos, hipnóticos, anticonvulsivos, pré-anestésicos, relaxantes musculares

- Frequentemente envolvidas em intoxicações, acidentes de viação e de trabalho

- Efeitos laterais menores que os barbitúricos

- Dependência psicológica, física, tolerância

- Atuam seletivamente sobre os recetores GABA A

- Potenciam a resposta ao GABA e facilitam a abertura dos canais de CL -

- Ligam-se fortemente às proteínas plasmáticas (70-99%)

- Sofrem extensa metabolização gerando metabolitos também ativos

- Eliminação sob a forma de glucuronídeos

Toxicogenómica – importância médico-legal

A variabilidade genética tem impacto na resposta individual aos fármacos. A Toxicogenómica


pode fornecer informações complementares para a interpretação dos resultados dos exames
toxicológicos Postmortem.

Técnicas analíticas

- Técnicas imunológicas (EIA)


- Procedimentos extrativos (SPE, líq-líq)

- Métodos instrumentais de análise (GC, LC)

- Técnicas hifenadas (GC-MS(-MS), LC-MS, UPLC-MS)

- Técnicas espectrofotométricas (UV-VIS)

Procedimentos analíticos – benzodiazepinas

(imunoensaios) Rastreio – negativo – relatório

(imunoensaios) Rastreio – positivo – (SPE) extração – (LC/MS/MS) confirmação qualitativa –


negativo – relatório

(imunoensaios) Rastreio – positivo – (SPE) extração – (LC/MS/MS) confirmação qualitativa –


positivo – (LC/MS/MS) quantificação

Procedimentos analíticos – substâncias medicamentosas

(GC/MS) Rastreio – negativo – relatório

(GC/MS) Rastreio – positivo – (SPE) extração – (GC/MS) confirmação qualitativa – negativo –


relatório

(GC/MS) Rastreio – positivo – (SPE) extração – (GC/MS) confirmação qualitativa – positivo –


(LC/MS/MS) quantificação

Obtenção dos resultados

A emissão de um resultado é o corolário de um conjunto de procedimentos analíticos e


estatísticos, que permitem a validação e aceitação do mesmo, segundo normas e guidelines
internacionais.

A definição de critérios de aceitação de um resultado é fundamental para a garantia da


qualidade do mesmo.

O SQTF utiliza critérios de aceitação para todos os passos da análise toxicológica.


Interpretação dos resultados

Terapêutico/tóxico/letal ou irrelevante

Interpretação dos resultados obtidos

- Via de administração

- Metabolitos ativos

- Tempo de sobrevida

- Diferenças interindividuais

- Redistribuição Postmortem

- Degradação Postmortem

- Ação sinérgica entre compostos

A interpretação de um resultado toxicológico não poderá ser baseada apenas e só num


número, concentração, ou, eventualmente, identificação positiva de um determinado
composto (salvo exceções).

O diagnóstico diferencial médico legal tem que de se basear numa avaliação global e
abrangente de todos os dados disponíveis para o perito.

Mas, naturalmente, há algumas ajudas a que se pode recorrer…

Tabelas descritivas de gamas de valores terapêuticos, tóxicos e letais;

Publicações em periódicos científicos com descrição de casos concretos;

Casuística interna;

Discussão multidisciplinar.
13.06 (3)

Pesticidas

- A melhoria da produção e da qualidade de colheitas

- Controlo de espécies invasoras

- Contaminação dos lençóis freáticos, do ar e dos solos

- Afeta outros organismos além dos alvos

- Gera, por vezes irreversivelmente, desequilíbrios biológicos e ecológicos

- Em Portugal, os pesticidas são essencialmente utilizados na agricultura

- São denominados por produtos fitofarmacêuticos e compreendem as substâncias


ativas e as preparações contendo uma ou mais substâncias ativas, ditas formulações.

Inseticidas Organofosforados (IOFs)

- São compostos orgânicos que contém fósforo

- Triésteres de ácido fosfórico e ácido tiofosfórico ~

Inseticidas Organoclorados

- Apresentam na sua constituição átomos de cloro em substituição de átomos de


hidrogénio

- A toxicidade, a baixa volatilidade, a estabilidade química, a solubilidade nos lípidos, a


biotransformação e a degradação lentas levaram a que fossem banidos
- Em Portugal, a sua comercialização desceu para 0 em 2009

Carbamatos

São derivados de ácido carbâmico (NH2COOH).

Aldicarbe, carbofurão, Carbaril – venda proibida

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