Você está na página 1de 10

1

TRADUÇÃO DOS DOIS PRIMEIROS CAPÍTULOS


DO LIVRO HECATE’S FOUNTAIN
DE KENNETH GRANT

Tradução por Frater Lóki

PREFÁCIO
Alt+Ctrl+f = notas de rodapé

P areceria que quase todas as mágickas realizadas com sucesso manifestam-se como um ricochete, um
retorno para o grupo de cerimônias, rotina da loja ou procedimentos templários, ou para trabalhos mágickos
individuais isolados. Denomino esta peculiaridade de tantrum tangencial. Anômalo ou não, isto não parece ter sido
investigado por qualquer escritor ocultista anterior do assunto. É provável que se o mecanismo do fenômeno possa
ser surpreendido, a mágicka transformar-se-ia na última da qual seus exponentes clamaram desde seu princípio, i.e.,
que ela é uma ciência mais do que uma arte. A experiência, entretanto, persuadiu-me que uma surpresa jaz além do
reino da medida, dentro do qual embala o tipo de ocorrências ocultas aqui descritas que restarão imprevisíveis. E
talvez isto seja favorável!
Entre os anos de 1955-1962, eu estava envolvido com uma Ordem oculta conhecida como Loja Nova Ísis.
Ela funcionava como um ramo da Ordo Templis Orientis (O.T.O.), com sede em Londres. Eu fundei a Loja para
canal de transmissão de origens transplutoniana 2, e durante seus sete anos de atividades ela transformou a O.T.O. em
um veículo altamente especializado de energia mágica que Aleister Crowley idealizou para ela desde 1945.
Era minha intenção incluir aqui os rituais da Loja, mas como isto teria necessariamente envolvido
tecnicalidades e repetições, e como este livro não pretende ser um manual de rituais mágickos, a intenção foi
abandonada. No entanto, certas formas de tantra tangencial lançados por ritos particulares tem sido extraídos dos
Registros da Loja e editados, onde necessário, para preservar a continuidade textual.
Acima e além disto, o livro esforça-se para seguir os trabalhos deste fenômeno em dimensões que os
cientistas estão apenas começando a explorar. Estas dimensões, as quais podem ser consideradas como existentes
além ou entre os dois estados adormecido e desperto, chamo-as de Zona Malva. Ela inclui e exclui ambos os estados
simultaneamente. A designação comporta implicações ocultas não necessitando de explanações para aqueles
familiarizados com a função de Daäth como o Portal de Ingresso e Egresso para o outro lado da Árvore da Vida 3.
Para aqueles não tão familiarizados, a Zona Malva pode-se dizer que tem uma analogia mítica no símbolo do
Deserto Vermelho dos Árabes, o qual, de acordo com Lovecraft, era o equivalente antigo do Roba el Khaliyeh, uma
zona supostamente assombrada pelos maus espíritos e monstros da morte.
A Parte I deste livro não necessita de comentário. A Parte II requer algumas explanações porque ela
pretende iluminar um texto especifico – o Livro da Lei de Crowley (Liber AL vel Legis)4 – o qual interpretei aqui
com referência, não às suas implicações mundanas, mas à sua proveniência extraterrestre. Como é a primeira vez
que isto é tentado, é rogado aos leitores exercitarem sua paciência à medida que o esqueleto é gradualmente
desnudado de sua aparência deceptivelmente humana. Isto será recompensado quando ele passar à Parte III, onde os
processos ocultos do trabalho na fabricação da Parte II são mais completamente revelados.
Com a publicação deste volume a roda fecha seu ciclo. The Magical Revival contém uma lista na qual os
nomes de certas entidades mencionadas no AL vel Legis de Crowley são comparadas com aquelas que são
apresentadas no AL Azif (O Necronomicom), o qual posteriormente, de acordo com Lovecraft, era completamente um
produto de fantasia. Mais de uma década atrás, em um artigo em Man, Myth & Magic, eu sugiro uma origem comum
para ambos estes livros. A idéia foi assimilada por vários editores e compiladores de grimoires e não menos do que
quatro versões do Necronomicom foram publicadas desde então! Não é portanto de surpreender que o presente livro
toca novamente, e explora mais adiante, as afinidades e identidades que espreitam além das máscaras sombrias
destas duas esfinges. Isto também indica algumas das mais pertinentes pesquisas de Ufólogos que sugerem – talvez
com mais probabilidade do que eles, até mesmo, podem preocuparem-se em admitir – que as entidades visualizadas

1
2
O corpo destas transmissões formam as bases da Trilogia Typhoniana ( ver bibliografia). Durante o transcurso de obtenção delas, todas as sortes de
fenômenos inexplicáveis racionalmente foram experimentados pelos membros da Loja. Algumas destas experiências estão aqui descritas.
3
O assunto tem sido tratado extensivamente em Nightside of Eden.
4
Posteriormente refere-se à ele como AL.
por Crowley, Lovecraft, Castañeda, Bertiaux, e outros, realmente existem em algum lugar e alguma época, e que
eles ocasionalmente aparecem aqui sobre a terra.

Obs.: é importante mostrar aos leitores brasileiros que a Loja Nova Ísis não é a Loja que se situa na Tijuca no Rio de
Janeiro aqui no Brasil, e sim uma Loja de origem inglesa fundada muitas décadas antes da Loja brasileira e encabeçada por Kenneth
Grant. A versão brasileira é apenas charlatanismo barato.

PARTE UM
MÁGICKA DA ZONA MALVA

1
‘OBJETOS D’ARTE NOIR’
Um grande número de noções errôneas prevalecem hoje sobre talismãs, fetiches, objetos carregados com
prana, ojas, vhril, mana – ou apenas evidente poder mágico. Parece necessário esclarecer o fundamento e eu não
encontro melhor caminho do que basear minhas observações sobre objetos atualmente preservados no museu
mágico da Loja Nova Ísis. Um deles é um fragmento de um envoltório-de-embalsamar Egípcio, pretensamente de
uma sacerdotisa Egípcia da 26ª Dinastia. Restos da múmia que havia sido embalsamada ainda aderiam à sua
superfície interna 5. As imagens do Macaco de Thoth e do sagrado chacal de Anúbis são claramente discerníveis.
Logo após a virada do presente século o fragmento era utilizado como um foco psíquico por alguém do
grupo cindido da Golden Dawn dirigido pela Sóror S.S.D.D. 6. Seu pequeno livro Magia Egípcia, formou parte da
série ‘Collectanea Hermetica’ editada pelo Dr. Wynn Westcott e publicado pela Sociedade Teosófica de Londres em
1896. A Loja Nova Ísis veio a ter posse do fragmento através da generosidade de um colecionador que a apresentou
em 1948. Durante a década de cinqüenta ele foi psicometrado por uma talentosa clarividente que recusou comentar
sobre ele, se por conhecimento ou ignorância não se sabe. Ao redor deste período uma mulher chamada Mira uniu-
se a Loja. Ela foi imediatamente atraída pela relíquia embora ela não tivesse mais conhecimento de suas recentes
associações do que nós tínhamos de suas antigas. Ela sugeriu, porém, que nós pudéssemos utilizá-lo para formar um
ritual designado a explorar sua história mágica.
O Templo da Loja foi inteiramente mobiliado tanto quanto possível de acordo com o período da Dinastia
relevante, e a sacerdotisa oficiante havia executado o ritual. Mira era uma sensitiva natural e havia demonstrado
diversas vezes seus poderes peculiares.
Vestida em robes apropriados ela estava sentada diante um espelho mágico posto em um ângulo oblíquo
contra o envoltório de modo que duas imagens distintas dele apareciam simultaneamente, uma sobre a outra.
Alaúdes e flautas emprestaram uma atmosfera calma aos procedimentos e não havia muito tempo antes os olhos de
Mira assumiram uma expressão distante e vazia.
É usual, em circunstâncias assim, apenas o clarividente ver imagens no espelho mágico. Nesta ocasião,
entretanto, a sacerdotisa oficiante, sete acólitos, e um sacerdote ‘visitante’ de um coven de Gerald Gardner, viram o
desvanecimento da imagem refletida e a introdução abrupta de entidades animadas encenando o seguinte drama nas
profundidades do espelho:
Um objeto longo era movido com rodas por figuras encapuzadas de preto dentro de um túnel o qual parecia
distanciar-se ao infinito. Ele assemelhava-se a um divã móvel, e sobre ele uma mulher – sedutoramente branca –
reclinada sobre peles de cheeta. Patas e caudas suspensas identificadas posteriormente, mas havia atributos
adicionais que não eram físicos, embora eles parecessem na refração tão substancialmente quanto os que eram. Eles
poderiam ser extrusões ectoplásmicas dos karmas passados da mulher; eles giravam em espiral como poeira

5
Uma reprodução dela aparece na p.54 de Aleister Crowley and the Hidden God.
6
Florence Farr, uma amiga de Bernard Shaw. Seu moto mágico na Golden Dawn era Sapientia Sapienti Dono Data.
interestelar crescendo e nevando um pó luminoso sobre os muros do túnel onde eles formavam curiosos depósitos.
Quando Mira finalmente retornou a si ela descreveu-os como “um tipo de fungos fantásticos”. Eles cobriam os
muros como um musgo verde saturado de vida maligna o qual aglomerou-se sobre toda superfície que se apresentou.
Havia muitos porque o ângulo de visão de Mira era continuamente modificado de maneira que novas superfícies
eram expostas à vista. A mulher branca sobre o carrilhão parecia mudar de cor enquanto um tentáculo fungóide saía
do muro e explorava seu corpo. Ela se assemelhava a uma ampola de carne transparente inflada continuamente com
vapores de verde, escarlate, malva, e finalmente com um fluído tingido de índigo. O objeto de execução restava
obscuro. Ninguém podia alcançar o propósito de tal orgasmo colorido.
Aqui uma ligeira divagação parece necessária. É possível que estes kalas tenham sido ejaculados pelas
entidades alienígenas e transmitidos a terra via sacerdotisa quem, em seu sono mágico, estava apta a conduzir a
semente do Exterior. Tendo desprendido seus venenos, os tentáculos então lançaram um véu impenetrável que
obscureceu a visão. Os únicos objetos que emergiram da névoa foram as duas reflexões originais do fragmento do
envoltório.
Mira mergulhou em um profundo transe e nós aguardamos por manifestações adicionais. As visões tão
distantes haviam nos confundido. Elas sugeriam que ela havia contatado – através de uma antiga sacerdotisa Egípcia
– um estrato infinitamente mais remoto do que aquele pertencente à Dinastia na qual ela havia vivido. Era possível
apenas que Mira houvesse esbarrado em linhas entrelaçadas. Havia elementos transplutonianos na visão e eles
pareciam ter revelado, em um modo literal, regiões a partir das quais Lovecraft havia concebido o Fungi from
Yuggoth7. Era uma visão de um período mais fechado a vida da sacerdotisa mumificada do que o período o qual se
seguiu.
O espelho então ficou nublado como se as partículas de poeira tivessem se acumulado sobre o pára-brisa da
‘astronave’ de Mira. Padrões estranhos de cristais de gelo apresentaram-se em um rápido caleidoscópio. Era no
princípio reconciliar uma impressão de neve ártica com o cáustico calor e poeira associada com o velho Egito.
Sendo interpretado, porém, o fenômeno simboliza de um lado a austera virgindade da sacerdotisa, e, de
outro, o terreno tórrido o qual karma ordenou como a cena de seu enterro. O período era identificável como aquele
da 13ª Dinastia, sob o reinado da Rainha Sebek-nefer-Ra, uma dos grandes exponentes da Tradição Draconiana em
épocas históricas.
Para antecipar os eventos: havia-se tornado aparente que a hierarquia do envoltório havia sido também uma
Grã-Sacerdotisa no Templo de Set fundado pela Rainha Sebek-nefer-Ra. O templo sobreviveu a devastações e
depredações pelos seguidores de Osíris, quem, por séculos haviam buscado destruir todos os traços do ‘odioso’
Culto Typhoniano.
A próxima figura a aparecer no espelho estava também reclinada, e em processo de sofrer tratamento de
uma espécie mágica reminiscente de uma visão experimentada por Joan Grant, com a diferença de que a placa
colocada sobre os genitais da sacerdotisa possuía o hieróglifo de uma deidade desconhecida para a história, talvez de
um daqueles ‘Deuses da Sombra’ que Beatty sugere.8
Novamente a série de múltiplos orgasmos, mas desta vez uma explanação prontamente sugere-se. A placa
torna-se brilhantemente incandescente à medida que cada um dos orgasmos surge carregando seu metal com vívidas
cores. O kalas real poderia ser visto como halos de arco-íris lançados como anéis graduando do ultravioleta a um
indescritível matiz invisível à visão humana. Mas era registrado pelo espelho e transmitido ao templo da Loja onde
causava um avivamento dos olhos e uma curiosa sensação de leveza. Uma acólita disse, após a sessão, que ela havia
sido fisicamente levitada algumas polegadas acima do solo.
A cena novamente modificou-se abruptamente e o espelho pareceu ser envolvido por chamas. Uma
procissão de figuras encapuzada emergiu de um túnel. Seus robes eram negros mas ornados com sigilos
incandescentes que emanavam uma radiância esverdeada. A parte extraordinária disto era que, à medida que a
procissão emergia, chovia um vapor esverdeado dentro da Loja; o espelho emanava uma onda de kalas os quais
lentamente envolvia Mira até ela assemelhar-se a uma estátua de pedra com líquen. Não havia nenhum motivo,
fisicamente falando, para estas sutis radiações, nem foi encontrado qualquer traço deles sobre a mobília da Loja. É
inteiramente difícil distinguir tais visões de conteúdos oníricos irracionais e confusos.
Se a cor caísse do espaço, ela cairia como a do espelho mágico no qual Mira e outros membros da loja
olhavam.

7
O fato do livro de Lovecraft deste nome ser uma coleção de poemas sem referências diretas relacionadas as visões de Mira não é argumento contra
uma sugestão assim. Poemas, como visões e antigos hieroglifos, tem sido interpretados por recurso para seu plano de origem, não em termos de sua
final “terrificação”. Interpretadas nesta luz, as visões de Mira mostram sinais inequívocos de terem saltado de um período vastamente anterior para a
vida da sacerdotisa Egípcia.
8
Ver Gate of Dreams, por Charles Beatty, Londres, 1972. A passagem relevante é citada em Cults of the Shadow, p.135.
Outro objeto, de nenhuma forma tão antigo quanto o envoltório mas tão fortemente carregado com poder, é
o lustre de candeia que era utilizado como um bastão destruidor por Allan Bennett 9. Ele era também um membro da
Golden Dawn e era instrumental em estabelecer o Sangha Budista no Oeste. Ele também instruiu Crowley em
muitas técnicas orientais de meditação e mágicka. Olhando-o é um lustre muito ordinário, agora montado sobre uma
trípode ornada e dourada. Bennett utilizou-o como uma extensão de seu bastão mágico. Não há necessidade para
mim de descrever seu poder nas mãos de Bennett porque Crowley já o fez em seu Confessions.10
Uma arma até mesmo mais potente é a adaga utilizada por Crowley em sua invocação de Choronzon 11. Isto
ocorreu no deserto próximo a Bou Saad em 1909 onde, com Frater Lampada Tradam (Victor Neuburg), Crowley
sofreu uma série de iniciações em aethyrs parcialmente explorados dois séculos antes por Dee e Kelley. Foi-me dito
por indivíduos psiquicamente ativos que a adaga tem uma aura decididamente sinistra, e eu não a entregaria para um
psicômetra, uma pessoa vendada ou qualquer outra pessoa.
Mas o mais misterioso objeto mágico na coleção é indubitavelmente um retrato original de LAM, uma
entidade extraterrestre, o qual eu selecionei – a convite de Crowley – de um de seus portfólios. O desenho 12 de
alguma forma projeta-se adiante e pode-se dizer sem exageros que Lam escolheu-me mais do que ao contrário. O
retrato estava sendo mostrado em Greenwich Village, Nova York, por volta de 1919 em uma exibição chamada
“Almas Mortas”. Esta era uma designação certa porque Lam saiu diretamente do Necronomicon, o tão falado.
Apenas olhar nos olhos desta entidade é um convite para um potente contato. Há em seguida uma imediata sensação
de lucidez, leveza, e então uma sensação de queda. Uma das reações iniciais é resistir a ser sugado para dentro do
vórtice de um funil astral infernal. Todas as quais confirmam as opiniões daqueles que consideram Lam algo, ou
alguém, não desta terra.
Falar de extraterrestres inevitavelmente evoca, se não o Grande Antigo, então Seus emissários ou servos.
Eles algumas vezes mascaram-se, como Machen’s Jervase Craddock, 13 em formas humanas deficientes. Foi de uma
tal procedência que eu adquiri um jogo de ‘manequins’14 mágicos os quais inegavelmente facilitavam o contato com
O Grande Antigo.
As relíquias descritas acima são artefatos mágicos de poder oculto. Alguns deles, como o retrato de Lam,
são mais do que isto por eles serem também Portais para outras dimensões, outros mundos ou aethyrs. Algumas
vezes são formados cultos ao redor deles como Culto de Lam com o qual os leitores desta trilogia estão
familiarizados.
Poderosas máquinas podem manifestar-se em todos os objetos aparentemente inocentes. Em um moderno
grimoire15 o qual faz associações com números da sorte, jogo, sistemas esotéricos de corrida de cavalos, e o mais
profundo aspecto da feitiçaria, o autor faz referências às caixas de madeira pintadas as quais ele chama de Atua.
Ornados sobre elas em cores apropriadas estão os sigilos e selos dos loa ou espíritos aos quais eles foram
consagrados. Eu tenho em minha posse muitos de tais domicílios de espíritos.
O grimoire diz que “nos Templos de Lucky Hoodoo e nas casas daqueles mais favorecidos pelos espíritos
são encontradas as caixas de espíritos pintadas”.
Uma das minhas foi pintada por Zos vel Thanatos 16 de quem o toque mágico era o bastante para consagrar
uma caixa à quase qualquer espírito que você pudesse nomear. As outras foram embelezadas por Soror Ilyarun de
quem os desenhos mágicos e pinturas são tão bem conhecidas quanto de Spare. O incidente aqui relatado concerne a
uma das caixas pintadas por Ilyarun.
No período em questão17 a caixa continha quatro pequenas figuras de madeira dedicadas a um serviçal
elemental do Grande Antigo – uma ao Fogo, uma a Água, as outras duas ao Ar e a Terra respectivamente. Os
manequins eram nutridos periodicamente pela visão sagrada mencionada no grimoire, e sendo regularmente
recarregadas elas estavam mui altamente carregadas com mana mágico, e excessivamente ativas no nível astral. Elas

9
O bastão é reproduzido em Outside the Circles of Time, gravura 12.
10
Capítulo 21.
11
Outside the Circles of Time, gravura 13.
12
Ele foi publicado primeiramente por Crowley em The blue Equinox (1919). Mais recentemente ele aparece no The Magical Revival e Outside the
Circle of Times. Até mais recentemente, Robert Anton Wilson publicou o retrato de Lam em seu Masks of the Illuminati (1981). Ele aceitou como
extraterrestre a proveniência de Lam mas também declarou que Crowley invocou a entidade pelas Chaves Enochianas. Não há, porém,
concretização deste chamado em qualquer manuscritos ou diários sobreviventes de Crowley.
13
Em The Novel of the Black Seal.
14
Ver, em particular, Cults of the Shadow, cap.10, Outside the Circles of Time, cap.12, e a Revista Mezla, nº’s 12, 13.
15
Lucky Hoodoo – Uma curta viagem nos poderes secretos do vodu, por Dr. Bacalou Baca (Michael Bertiaux), publicado em Chicago por Absolute
Science Institute, 1977.
16
O moto mágico de Austin Osman Spare.
17
Por volta de 1958.
dormiam em seus atua como o morto mumificado dormia em seu silencioso sarcófago embelezado ou não com
hieróglifos apropriados.
Um dos manequins havia sido dedicado ao Duplo Espaço18 no Culto de Hastur, Senhor do Ar, ou, mais
propriamente, Senhor dos Ventos Espaciais. O domicílio de Hastur é o profundo Espaço Exterior o qual é
representado na esfera mundana pelo elemento ar, e, quando próximo a terra, como um vento rápido.
Uma noite, durante o terceiro ano de atividades esotéricas da Loja Nova Ísis, este manequim – o qual havia
desaparecido por muitas semanas – reapareceu de uma maneira inesperada.
Os membros da Loja estavam performando um ritual de Lua Cheia o qual envolvia a utilização de
chandrakalas19. Eles haviam obtido sucesso na evocação e estavam manifestando ao ritmo e vibração de vários
instrumentos de madeira de sopro, principalmente flautas. A Deusa nesta ocasião era representada por uma Grã
Sacerdotisa Asiática chamada Lî que era quase que totalmente ignorante do Inglês embora seu corpo correspondesse
perfeitamente à linguagem das flautas. Ela era lânguida, tinha olhos-de-lótus, e de cor de marfim cintilado de âmbar.
Uma de suas duas assistentes no ritual era Clanda que o nome será familiar aos leitores que se lembram do episódio
da ‘Water-Witch’.20 Sua afinidade oculta com a água fez Clanda uma escolha desafortunada, à medida que a noite
avançava isto seria provado. Ela perdeu a consciência no clímax do ritual, caiu contra a plataforma de metal
entalhado sobre a qual Lî estava sentada, e bateu sua cabeça contra os alto-relevos, monstros fantásticos das
profundezas mais apropriados ao Culto de Cthullu do que de Hastur. Porém, estas considerações não fazem parte do
assunto e não tem referência sobre os eventos os quais são puramente procedimentos de rotina – até Clanda golpear
a plataforma.
Uma gota de sangue de seu lóbulo da orelha – lacerado pela cauda saliente do monstro marinho – conduziu
ao encontro de meu manequim perdido o qual havia evidentemente caído de sua atua e rolado para trás da
plataforma. Eu estava a ponto de recuperá-lo quando Lî retornou de um estado de imobilidade de quase-desmaio.
Ela implorou-me para não recolocar o manequim em sua caixa. Ela não sabia Inglês, como eu disse, mas seus gestos
eram repletos de imperiosos comandos. Eu instintivamente obedeci.
Por esse momento a lua havia perdido sua plenitude e o objeto do ritual, que requereu o enfrascamento de
kalas, havia sido cumprido. Lî aproximou-se do altar e removeu a caixa tomando cuidado para não abrir a tampa. Eu
não pude entender a razão para suas manobras mas consenti a elas porque ela havia estado, até recentemente, em um
poderoso humor oracular e exibido completa e perfeitamente a fase final do rito lunar. Mas não até Clanda ‘voltar’
que eu soube que algo estava seriamente errado, e que uma inegável força poderosa estava crescendo no templo da
loja.
Após muitos dos celebrantes terem deixado as premissas, e eu ainda podia ouvir, fracamente, algumas
trocas de despedidas subindo do térreo dois andares abaixo, preparei-me para uma possível manifestação de ‘nervos’
pós-ritual a qual eu tinha esperado acontecer através das sacerdotisas exaustas.
O que realmente ocorreu envolveu um ataque furioso tão concentrado em sua fúria que, se houvesse corrido
seu curso desenfreado, poderia indubitavelmente ter derrubado o edifício e, possivelmente, a vizinhança inteira por
milhas ao redor. Ele partiu daquele mais inócuo objeto – a caixa pintada.
Cinco de nós, ao todo, testemunharam a manifestação resultante. A caixa tombou neglicenciada sobre a
plataforma onde Lî havia colocado-a. Ela havia sucumbido ao sono após seus esforços, e alguém que havia
retornado desadvertido do andar de baixo totalmente despropositadamente deslizou a tampa para trás – e todo o
inferno correu solto.
Primeiro uma leve brisa penetrou no templo. Ela subiu para uma corrente de ar forte e espalhou alguns
documentos esparramados sobre uma mesa no canto da sala. Então sem qualquer aviso surgiu um vento
incrivelmente forte e balançou as cortinas pesadas em seus anéis de metal e logo alcançou o impulso de um furacão.
Tornou-se virtualmente impossível de respirar, e o pânico aterrador fundiu-se com a violente corrente de ar. A
lanterna central, suspensa por uma pesada corrente sobre o altar ameaçou chocar-se contra o teto enquanto era
levantada na tempestade. Olhando por uma minúscula janela no alto da parede norte eu notei que nem uma única
folha balançava no jardim exterior; a noite estava totalmente calma. Na parte de dentro, o vento batia sugando para
dentro de seu vórtice todos os objetos que se encontravam em seu caminho. Clanda, histérica, foi literalmente
soprada para a plataforma. Ela teve a presença mental, entretanto, para agarrar a caixa, retornar aos seus confins o
manequim mágico, e forçar a tampa de volta. Somente a vontade demoníaca da mulher, protegida sem dúvida pelas
energias evocadas pelo rito, habilitou-a para fechar a caixa. Imediatamente – quietude perfeita, e um silêncio que
parecia terrivelmente artificial.
18
Toda idéia projetada carregada magicamente pela mente na dimensão terrestre (estado acordado) tem um duplo no espaço que é refletido em
infinitas dimensões.
19
Essência Lunar ou ‘medicinas’.
20
Ver Man, Myth & Magic, Nº65; Imagens &Oracles of Austin Osman Spare, por Kenneth Grant; Encyclopedia of Witchcraft & Demonology, por
Hans Holzer; The Magical World of Aleister Crowley, por Francis King; The Runes, por Michael Howard.
Julgando a partir do tom geral das cartas que eu recebi de ocultistas do mundo inteiro, eu imagino que eu
devo ser informado que isto é tudo facilmente explicável. Desta forma eu quero advertir o imprudente (se houver
algum!) que há uma seqüela para este incidente. Clanda, como foi registrado em outro lugar21, morreu no mar,
reivindicada talvez pelo Senhor das Profundezas. Alguns meses após o episódio aqui descrito, Lî caiu do ar quando
um avião carregando ela chocou-se sobre a Ásia Central contra montanhas. Ela também foi reinvindicada pelos
servos elementais?
Mas houve o seguinte incidente que fez com que os membros começassem a referirem-se a tais episódios
com os ‘Anais da Loja Negra’. Este incidente também originou-se como um efeito colateral ou tantrum tangencial
da rotina ritual.
Os membros da Loja Nova Ísis encontravam-se toda sétima Sexta-feira, e parte do preâmbulo consistia na
troca de experiências nos vários campos da cultura mágica, mística e espiritual. Nós tinhamos como uma convidado
de honra nesta esta ocasião particular um indivíduo realmente notável conhecido somente por alguns no mais
reservado dos círculos ocultos. Ele era uma daquelas raras almas que havia devotado a maior parte de sua vida ao
estudo da alquimia.
Este homem havia me apresentado alguns anos antes a um Tantrika do Sul da Índia profundamente versado
na arte do Srividya.22 Um dos candidatos do Círculo Kaula de Aquimistas era a ‘Water-Witch’, Clanda. Seu glamour
havia alcançado até mesmo ele, a uma tal extensão que seu juramento original de bramacharya,23 tomado na
presença de seu guru muitos anos antes, pareceu estar em perigo. Ele pediu-me para agir como um ‘pára-raio’, para
agüentar o ímpeto de possíveis curto-circuitos.
O edifício da Loja havia sido equipado com uma extensa rede de apartamentos que formavam a base de
uma loja comercial deceptivelmente pequena em uma das ruas laterais à rua principal do Fim Oeste. O Alquimista,
que era também o proprietário da loja comercial, era um iniciado do Gômaya Diksha24 que o havia feito elegível
para sua iminente iniciação no círculo interno do Kaula Chakra, um avançado grau envolvendo a prática da lambika
yoga.25 Clanda, com sua personalidade hiper-sensual havia – através da participação em vários trabalhos mágicos –
uma idéia bastante astuta das vantagens ocultas inerentes à tal iniciação. É desnecessário extender-se sobre este
aspecto do episódio além de mencionar o fato de que o Alquimista sem dúvida representou uma garantia em uma de
suas tramas.
A Loja foi preparada para a performance de um tipo de ritual de licantropia e necromancia associado com
dois túneis específicos de Set.26 Imagine, portanto, uma miniatura em versão ainda mais complexa das cavernas de
Dashwood com – em lieu de várias grutas preparadas para carícias sensuais – uma série celas em forma de concha,
como vórtices petrificados, criados com o único propósito de atrair em suas convoluções as energias ocultas de
Yuggoth, e de focalizá-las através dos kalas da Nova-Ísis, representados por um prisma gigante de forma vésica. A
decoração foi misteriosa ao extremo, a iluminação astutamente arranjada para dar um jogo sinistro e mutável de luz
e sombra combinada com sons sugestivos de água corrente e ventos astrais silvantes; uma atmosfera completamente
misteriosa criada por alguns toques inteligentes de suprema arte. 27 O lugar foi a epítome do crepúsculo e daqueles
estados equívocos de consciência peculiar para o lobisomem, o vampiro e o espectro, de quem a sutil presença foi
sugerida por vários dispositivos engenhosos. Nesta ilusória atmosfera Clanda parecia com um ser escamoso nadando
em um mar árido de substâncias etéricas sanguinolentas pululando com as correntes insalubres de qliphot.
O Alquimista, reclinado sobre uma laje de pedra adornada com emblemas do Grande Antigo tinha
assumido a ‘postura da morte’ 28 e aguardou o beijo da Deusa, quem ele havia evocado pelo modo peculiar de sua
‘morte’;29 ele havia peticionado-A a aparecer para ele e conferir sobre ele em seu sono mágico os supremos siddhis.30
Assim prosseguiu o ritual, e os vários participantes foram adequadamente preenchendo seus respectivos
papéis. Mas as coisas não procederam tão calmamente. Clanda havia inconscientemente abrigado em sua aura os
restos do contato com questionáveis entidades engendradas por sua associação passada com um Culto de Bruxas. 31

21
Ver o artigo ‘Water – Witch’, Man, Myth & Magic, Nº65.
22
A ciência dos kalas; o equivalente oriental da alquimia.
23
Neste contexto, real abstinência sexual, mental e física.
24
Uma iniciação altamente secreta nos mistérios dos kalas lunares da metade escura. Ela possui certas afinidades com o XIº O.T.O. como
compreendido na Tradição Typhoniana.
25
Uma forma de yoga que envolve a imbibição de kalas.
26
Veja Nightside of Eden, pp204 – 206.
27
Aquela de Zos vel Thanatos (A.O.Spare), quem criou o fundo e outros equipamentos ritualísticos da Loja Nova-Ísis.
28
Ver Images & Oracles of Austin Osman Spare, and The Magical Revival, ch. 12.
29
Ele havia previamente performado um rito necrofilico e indentificado-se com o cadáver, interpretando este ato como moralmente compatível com
seu voto de castidade!
30
Poderes Mágicos.
31
Este havia sido estabelecido por Gerald Gardner, um antigo membro da O.T.O.
A conecção havia sido novamente reativada e isto causou um súbito e violento conflito em sua psiquê. Eu senti o
choque disto mas estava totalmente despreparado para a erupção de energia negra que acompanhou o seu despertar.
Emergindo do transe no qual o ritual havia lançado ela, Clanda gritou, correndo em desvario pela Loja e
agarrou um punhal que estava em uma parte do aposento em desuso então. Sua ação pode ter meramente resultado
em uma disrupção temporária do ritual, mas a arma em questão aconteceu de ser a arma mágica utilizada por
Aleister Crowley em sua invocação, anos antes, de Choronzon, quem Crowley uma vez descreveu como “o primeiro
e mais mortal de todos os poderes do mal”. 32 Desperto para o perigo da situação eu tentei agarrar a arma, percebendo
enquanto eu assim procedia, que o Alquimista estava apertando o peito e contorcendo-se na laje como se ele
sofresse a agonia de uma excruciante imolação. Clanda tropeçou e caiu a medida que o punhal – agora
desembainhado – caiu sobre a laje. O Alquimista contou-me posteriormente que ele havia naquele momento visto
uma forma encapuzada pairando sobre ele, próximo de injetar em seu coração o veneno que fluía de seus olhos em
um jato de malva.
Esta foi minha primeira introdução às Necromancias em Malva que ocorreram persistentemente através da
história da Loja Nova Ísis. Malva é uma das cores descritas para a ‘falsa’ sephira, Daath. Sua emanação como um
kala, em um rito tendo sobretons de necrofilia, foi a prova significante para capacitar-me, em um período posterior,
para penetrar a Gnose Lovecraftiana com referência especial aos Mistérios do “abominável Platô de Lêng”. Isto
também deu-me insights na função mágica dos três maiores fantasmas noturnos: o lobisomem, que transforma os
kalas do dia nos da noite;33 o vampiro, que bebe os kalas; e o espectro, que come a substância etérica destes kalas em
sua forma de tornar-se carne, desta forma inibindo a completa revificação na luz do dia. Isto sugere o triunfo dos
sonhos, ou irracionalidade, sobre a ‘razão’ ou estado de consciência desperta. Houve muitos anos, entretanto, antes
que eu fosse capaz de desenvolver a partir destes insights a fórmula sistematizada de controle-onírico esquematizada
em Nightside of Eden34 e sub-adicionar ao sistema de graus na O.T.O.. Pois escondida por detrás destas imagens
demoníacas jaz uma suprema zona de poder de energia mágica. Crowley indicou-a em seus escritos; Lovecraft
escondeu-se dela, atemorizado. 35
Como o morcego – o totem supremo desta corrente noturna – o sistema parece de cabeça para baixo para
aqueles que não estão familiarizados com os modos da reversão protoplasmática peculiar a esses Mistérios, pois o
Mago da Necromancia Malva é, em sua forma, como o sábio Hindu; o que é dia para o homem comum, é noite para
o sábio, e vice-versa.
É importante noter que na gama completa de kalas (ou cores) listados no Liber 777,36 malva em vários tons
aparece apenas em conecção com os caminhos 17 e 28 da Árvore Sephirótica. O simbolismo destes caminhos esta
por sua vez conectado com a letra Zain e com Aquário, respectivamente. Estes são glifos do aeon ou era atual
(Aquárius), e do Aeon Sem Palavra ao qual referências já foram feitas. Note também 17 como 71 ao contrário, 71
sendo o número de LAM, o Caminho Silencioso ou Sem Palavra.37 17 e 28 juntos perfazem 45, o número de ADM,
‘Homem’, 38 de quem a perfeita manifestação é esperada ocorrer entre estes dois aeons. Mas há um significado
anterior de ADM que significa o ‘homem vermelho’ e que aplica-se à fêmea, sendo idêntica com a corrente lunar
manifestando-se como o kalas menstrual.39
---==oooOO0OOooo==---

1
O CULTO DE KÛ
A sacerdotisa Lî foi a minha conecção com o curioso Culto de Kû que originou-se no Sul da Ásia
Oriental. Seu interesse no presente contexto mora no fato de que o coração do culto possui um sistema análogo ao
Vodu Mystére dos 256 venenos, ou kalas, da Deusa.

32
Ver The Vision & the Voice (Crowley, 1909), um informe das explorações de Crowley dos espaços ou aethyrs ocultos além do Universo
conhecido, primeiro mapeado por Dee and Kelley. O punhal caracterizado ‘acidentalmente’ em outros rituais da Loja Nova Ísis. Ver Parte III, ch. 5,
e outros lugares.
33
Compreendendo, assim, ambos brilho e escuridão das metades.
34
Págs. 204 – 206, em particular, e em muitos outros lugares através das trilogias.
35
Em suas cartas ele negou-a; em seus contos ele exultou no conhecimento dela.
36
Ver Magick (edição RKP) p.388, e Liber 777, colunas XV, XVI, XVII e XVIII.
37
Este assunto foi explorado em Outside the Circles of Time e em outras partes; é necessário aqui meramente recordar as implicações.
38
A espécie, não o ‘primeiro’ homem.
39
Ver Números, XXXI, 35; Levítico, XII, 7.
No Culto os kalas são ostensivamente utilizados para adquirir riquezas e/ou promover vinganças, mas eles
também possuem utilizações profundas e mágicas . O hieróglifo Kû comporta muitos significados, o primeiro dos
quais é ‘magia negra’, em contraste à variedade branca conhecida como Wû. Como um ideograma Kû tem ao menos
a idade de 3.000 anos. Ele denota um princípio mágico gerado por licenciosidade, um princípio que controla os
espíritos daqueles tiveram uma morte violenta ou que tenham sido moralmente degenerados através de uma
excessiva sensualidade. Ele é em alguns aspectos o equivalente Chinês do Mystére du Zombeeisme.40 Seu
instrumento mágico é uma bacia, tigela ou vaso d’água, e seu totem zoomórfico são os seguintes: inseto, verme,
cobra, sapo, centopéia, etc. Enquanto que o comentário de Tsou Chuan revela: “Vasos e vermes fazem o kû, causado
pela licenciosidade. Aqueles que tiveram morte violenta também são kû”.
O conceito básico de Kû é preservado no Yî King onde ele aparece como o décimo oitavo hexagrama. O
comentário textual provido por Legge e outros é geralmente obscuro, mas os dois trigramas elementais que formam
o hexagrama são aqueles os da terra e do ar, e portanto de acordo com o significado de Kû quando causa uma perda
de alma ou sôpro.41 Isto vai bem de acordo com os antigos textos Chineses onde Kû é identificado com condições
atmosféricas malignas tais como aquelas geradas, fisicamente, por regiões subterrâneas sulfurosas e pantanosas, ou
psiquicamente, por eflúvios miásmicos de condições cadavéricas. Kû também indica a presença de maus espíritos e
as auras insalubres de entidades artificiais criadas por meio de magia negra.
O que é de interesse especial aqui, é o fato de que, conforme alguns textos extremamente antigos, o Kû voa
através da noite e aparece “como um meteoro”. Sua luminosidade aumenta e ele projeta uma sombra na forma
humana; ele é então conhecido como t’iao-sheng-kû. A sombra pode desenvolver um grau de densidade que
capacita-o a copular com mulheres, neste estágio ele é chamado chin-tsan-kû. Ele pode então ir aonde quer que ele
deseje e dizem que ele espalha calamidades através da zona-rural. A crença popular encara o Kû como um maligno
caçador da escuridão que arrebata as almas dos mortos. Tais crenças deram lugar à consideração de noites calmas
oprimidas por pesadas nuvens 42 em que irreconhecíveis objetos eram vistos reluzir e raiar como meteoros sobre o
alto dos telhados e voar para o espaço. Tais luzes foram atribuídas ao Kû, e o Kû era capaz de devorar em suas
correrias noturnas os cérebros das crianças. Ele também seqüestrava espíritos humanos. Nas famílias de feiticeiros
que eram conhecidas como ‘guardiões Kû’, a mulher era sempre seduzida por este espírito.
O meteoro era identificado como o Kû voador ou a serpente Kû, uma referência oblíqua à Corrente
Ofídica43 a qual os iniciados sabiam ter entrado na atmosfera da terá vinda do Exterior 44. O círculo de feiticeiros que
servem a este espírito ‘venenoso’ 45 tornam-se ricos. Esta crença é reminiscente de seu equivalente Vodu na deusa
serpente Ayida Oeddo, de quem é dito “minha deusa serpente, quando você vem é como o flash de luz”. O espírito
de Ayda Oeddo é “uma grande serpente que aparece apenas quando ela quer beber. Ela então descansa sua cuda
sobre a terra e afunda sua cabeça na água. Diz-se que ‘aquele que encontra excrementos desta serpente é rico para
sempre’”.46
Partindo do fato de que as mulheres e meninas da família (círculo) são ditas serem seduzidas pela serpente,
é evidente que a Corrente Ofídica manifesta seus venenos através dos kalas da fêmea. A serpente voa noturnamente
“como um meteoro”. Quando ela alcança regiões esparsamente inabitadas ela desce e “come os cérebros de
homens”. Tais mortais canibalizados tornam-se zumbis; “cérebros” significa inteligência, que, em troca, é símbolo
de princípios vitais.
Um espírito similar ao chin-tsan-kû aparece na forma de um sapo ou rã. Ambas as formas, batráquia e
ofídica, são familiares aos feiticeiros como totens do Senhor das Profundezas e do Grande Antigo. É interessante
notar aqui que o Kû, como os OVNIs, parecem evitar as áreas populosas.Ele aterrissa ou materializa-se em regiões
desertas. Outra similaridade com os relatos de OVNIs é que os ocupantes de tais engenhos algumas vezes fogem
com várias partes do corpo humano.47 Os antigos Chineses foram compelidos a incorporar suas observações em um
contexto ‘mágico’ para encontrarem termos para descrever o fenômeno da origem extraterrestre. A insistência sobre
o simbolismo dos insetos é altamente significante em vista do som sussurrante credito por ser o arauto da
proximidade ou advento do Grande Antigo.48
Há ainda outro tipo de Kû. Ele era lendário por excretar ouro e prata e arremessa-los durante a noite, como
raios. “Um grande ruído era criado por sua queda”. Também diz-se que OVNIs caem em uma grande rapidez
40
Veja os escritos de Michael Bertiaux ligados ao Culto da Serpente Negra.
41
A superposição do trigrama da Terra sobre o do Ar sugere sufocação.
42
Representadas pelos trigramas Terra sobre Ar.
43
N.T.: Em inglês = Ophidian Current.
44
N.T.: Em Inglês = Outside.
45
O espírito é o veículo dos venenos ofídicos ou kalas.
46
Ver Cults of the Shadow, p34.
47
Ver as observações de Vallée sobre canibalismo e a morte de gado para a venda, em Messenger of Deception, parte III.
48
Note, nesta conexão, a abelha, que é um zoótipo do Aeon de Maat. N.T.: mantenham em mente que Kenneth Grant e Michael Bertiaux dão
crédito à idéia de um Aeon de Maat de Frater Achad (filho mágico de Crowley).
sonora. Além do mais, “ele pode ser uma serpente, um sapo ou qualquer outra espécie de inseto ou réptil”. É
mantido por seus adoradores em uma sala secreta, e alimentado pelas mulheres. Entretanto, ele é formado de puro
Yin, o qual é uma maneira figurativa de dizer que é ele é um Kû vampiro que vive do sangue menstrual. É dito
também que o Kû que devora homens excretará ouro, enquanto que o Kû que devora mulheres excretará prata. A
chave para estas palavras deve ser procurada no simbolismo da alquimia Chinesa e interpretada à luz da Gnose
Ofídica. Lê-se então: O Kû vampiro (fêmea) que suga a semente masculina (como íncubus), emana o kala criativo
ou solar; o Kû vampiro (macho) que absorve o sangue menstrual (como succubus), emana o veneno lunar ou
destrutivo. O processo divide-se naturalmente em Magick (sol) e Bruxaria (lua). Mas o kala lunar nem sempre é
destrutivo ou corrosivo algo mais do que a corrente solar é invariavelmente criativa. Há gradações infinitas. Os
Chineses estavam conscientes de uma sutil perichoresis, ou interpenetração de dimensões, e o Kû era talvez, uma
das formas na qual eles simbolizavam-no. Ainda assim em quase todos os casos o processo envolvia um intercâmbio
sexual entre mortais e extraterrestres – entre feiticeiros, meteoros ou ‘raios’.
O simbolismo do ‘pires’49 está também implícito no símbolo dual do Kû que inclui a bacia ou vaso, e o
verme ou inseto. Os espíritos lunares e solares copulam nas águas contidas no vaso, assim imbuindo o fluído com os
kalas vindos do Exterior.
O Yî chien chih pû lista quatro tipos de Kû: Kû serpente, chin-tsan-kû, Kû centopéia e Kû sapo. Eles podem
mudar suas formas ou tornarem-se invisíveis. Cada um deles possuem suas consortes co as quais eles copulam a
intervalos fixos em um vaso contendo água. Os venenos assim liberados fluem sobre a superfície da água e são
coletados com uma agulha.50 A infusão é conhecida como a respiração ou espírito do Yin e Yang e é então injetado,
durante uma visitação noturna51 nos genitais da vítima. O princípio vital é assim dominado e a vítima torna-se um
zumbi, seu fantasma é daqui em diante controlado pelo Kû da mesma forma que o tigre escraviza o ch’ang.52
Esta explicação foi necessária para explicar os curiosos eventos que ocorreram em um encontro da Loja
Nova Ísis53 quando Lî oficiou em um Rito de Kû interpretado de acordo com as linhas gerais do Nu-Aeon.54
O templo da loja estava decorado com seda amarela rajada com malva. 55 Lî tomou sua posição sobre um
trono esculpido em ébano atapetado com malva. Ela usava um robe de seda negra enfeitado com uma serpente de
esmeralda e rodeado com cordas de cetim, também de cor malva. As correias de sua sandália eram da forma de
sapos forjadas em jade verde. No lugar do altar usual, estava um grande tanque repleto de um fluido colorido no
qual aglomeravam-se muitos aparatos altamente realísticos sugestivos do Grande Antigo. Um grande gongo de
bronze era golpeado para marcar os estágios do ritual que sucedeu.
Lî afundou em profundo transe. Seu corpo balançava ritmicamente como um delicado caule de um lótus
negro cauterizado contra a brilhante seda amarela. Um sussurro quase inaudível procedeu vindo do capuz através da
abertura da qual os olhos de Lî cintilavam vindo de seu sono mágico. Seus dedos estavam excepcionalmente longos
e inclinados co brilhante verniz que refletiam raios de irradiações luminosas advindas da lamparina adornada com
jóias que pendia, balançando lentamente na escuridão, acima do trono. Ela era uma lanterna de metal forjado de
artesanato Árabe, suas janelas alternadas brilhavam com painéis multicoloridos que lançavam pesadas sombras por
todo o aposento e dirigia um brilho esmeralda nas profundezas do tanque.
Oito figuras encapuzadas rodearam o trono e tocaram a tempo o gongo. Suas reverberações criaram um
vácuo que pareceu sugar na sala um curioso lamento, como de insetos dos quais a presença invisível tornava-se
inacreditavelmente palpável.
O círculo dos adoradores fechou-se sobre Lî como um mar negro invadindo uma vívida praia amarela. Seu
sussurro aumentou de uma baixa e pausada repetição de duas ou três notas a um alto falsete, assemelhando-se ao
grito agudo dos guinchos de morcegos. A intensidade hipnótica do gongo, combinada com a concentração crescente
do incenso que espiralava de um incensório em forma de dragão, evocou uma atmosfera bizarra, onde o incidente
que ocorreria pareceria – aos participantes – como uma vívida realidade.
No clímax do rito Lî desprendeu seu robe e, como uma sombra branca, incrivelmente réptil, escorregou
sobre beira do tanque. A medida que ele afundava nas águas, oito tentáculos fálicos alcançaram e prenderam-na.
Eles envolveram-na em um múltiplo maithuna no qual cada um dos tentáculos participava de cada vez. O cabelo de
Lî, negro como a noite, formou uma ondulação lentamente arabesca, cada vívido tendão cauterizou-se contra a zona-

49
N.T.: Pires em inglês é ‘saucer’. Em inglês os discos voadores (OVNIs ou UFOs) são conhecidos como ‘flying saurcers’.
50
Esta é a versão Chinesa da prática do Tantra Hindu da coleta sobre uma folha de bhurpa dos kalas da suvasini.
51
Incubi e succubi.
52
Uma referência à lenda Chinesa concernente ao espírito de uma pessoa devorada por um tigre.
53
N.T.: Não confundir com a Loja Nova Ísis situada no Brasil (i.e. RJ). A Loja referida no texto, é uma Loja da Typhonian O.T.O. da qual Kenneth
Grant (o autor) é o O.H.O.. Esta loja chama-se New Isis Lodge.
54
N.T.: Nu-Aeon é análogo à Novo Aeon, posto que a palavra ‘Nu’ é análoga à ‘New’ (Novo) de acordo com as correlações cabalísticas utilizadas
por Grant ao longo de todo o livro.
55
N.T.: A palavra malva, aqui, está vinculada à cor, e não à flor.
malva com precisão Dalínica. 56 O orgasmo óctuplo que finalmente convulsionou-a foi registrado pelos adoradores
ao redor do trono. Violentos paroxismos deslocaram os capuzes negros, revelando brilhantes cabeças calvas e os
protuberantes olhos dos servos batráquios de Cthullu. Esta transação ocorreu apenas nas profundezas da zona-malva,
pois a estática figura de Lî, ainda encapuzada, sentada mergulhada em uma poça como uma piscina de óleo sobre o
ponto de escoamento abaixo das pernas do trono.
A medida que a Imagem amontoava intensidade nas mentes dos acólitos, as sombras lançadas pela lanterna
assumia sobre o chão uma animação quase tangível e ofídica. Lentamente, as ondulações oleaginosas aproximaram-
se do tanque e começaram a e escalar suas paredes. A radiância malva resplandecia através delas e fazia de cada
uma das formas pululantes uma pesada ampola repleta de líquido, um alongado saco de pus infuso com um veneno
peculiar. Quando as sombras alcançaram a parede do tanque elas gotejaram em suas profundezas e fundiram-se com
o fluido esverdeado. Ao contato deste novo elemento a forma Kû de Lî emergiu do abraço daquele yab-yum
octópode e retornou repentinamente ao trono, descrevendo uma perfeita parábola quando o espírito penetrou a massa
flácida sobre o trono e identificando-se uma vez mais com a casca vazia encapuzada. Nesse retorno repentino o Kû
revelou-se como um réptil marinho ao meio termo entre uma serpente e um peixe.
A experiência de Lî confirmou algumas, se não todas, das principais descobertas de dois pesquisadores que
contribuíram com um artigo sobre Magia Chinesa para o Jornal da Universidade da Pensilvânia, em 1933. A fase
mais importante, entretanto, com suas implicações extraterrestres permaneceu inesperada por eles.
O resultado do rito conteve alguns elementos que sugeriram que os Chineses possuíam um conhecimento
oculto particular que precedeu qualquer evidência científica assim chamada de intervenção extraterrestre nos
afazeres da humanidade. A substância sombra que pareceu viva e rastejava dentro do tanque era realmente algum
tipo de óleo ectoplásmico secretado dentro do robe de Lî, seu refugo réptil. Isso deixou um depósito sobre o trono e
um rastro de limo sobre os muros do tanque que emitiu um ganido lânguido mas alto quando dissolvido em ácido.
Como previamente notado, o Kû foi identificado com o décimo oitavo hexagrama do Yî King. O vaso ou
tanque é tipificado pelo trigrama simbolizando o elemento Terra; ele aparece como uma cobertura acima do trigrama
do espaço ou ar, assim encerrando, prendendo, ou capturando aquele elemento. Nesta retenção o elemento
descarrega sua vitalidade, ou semente, como o verme (corrente ofídica) dentro de um conteúdo. Crowley, que
trabalhou por muitos anos com o sistema do Yî King, comparou o hexagrama dezoito com seu reflexo - hexagrama
cinqüenta e três – que é composto dos trigramas de Ar-de-Terra. Isto sugere ‘voar’, enquanto que Terra-de-Ar
sugere ‘sufocar’. A conclusão posterior sugere sufocação por submersão ou gases pantanosos, e por emanações
venenosas advindas de kalas miásmicos tipificados pelos venenos da serpente Kû.

---==oooOO0OOooo==---

56
N.T.: No original “Dalinian precision”.

Você também pode gostar