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SANTOS, Roberto Elísio - Aplicações Da História em Quadrinhos PDF
SANTOS, Roberto Elísio - Aplicações Da História em Quadrinhos PDF
EM QUADRINHOS
Criaiiqas e jovens têin. iia História crn Quadrinhos,
Lim aliado para desenvolvei- o hhbito de leiiura c a
coinpreeiisiio de conteúdos escolares
Neste sentido, ressalta Abrahão, a História Mas, então, como explicar a falta de
em Quadrinhos, "como veículo de apren- interesse pela leitura também presente no
dizagem para as crianças, não só é capaz caso de estudantes vindos de extratos mais
de atingir uma finalidade instrutiva (ensi- altos da sociedade, que têm poder aquisi-
no direto ou central), pela apresentação dos tivo e podem frequentar escolas particu-
mais diversos assuntos e noções. Mais do lares pagas?
que isto, e principalmente, consegue pre- O fato de o hábito da leitura ter dimi-
encher uma finalidade educativa (ensino nuído nas últimas décadas pode ser credi-
concomitante), por um desenvolvimento tado a um fator cultural: o brasileiro não
[que produz], de ordem psicopedagógica, está sendo instigado a ler ou por causa da
isto é, dos processos mentais e do interesse censura nos anos 70, ou devido à falta de
pela leitura"'. Apresentar o potencial di- incentivo por parte das escolas e dos pais,
dático-pedagógico dos quadrinhos é, por- pelo número reduzido de bibliotecas ou
tanto, o objetivo deste texto. até mesmo pela violência, que retira os
jovens de classe média das ruas e impede
INCENTIVO A LEITURA sua incursão pelas bancas de jornal, onde
encontram material que pode abrir as por-
O desinteressepela leitura por parte das tas para a leitura, a exemplo da História
novas gerações tem sido explicado, de for- em Quadrinhos.
ma generalizada e até mesmo precon- O preconceito existente contra os qua-
ceituosa, como conseqüência dos meios drinhos por parte de pais e educadores fe-
visuais e audiovisuais. Imputa-se a ojeriza cha a possibilidade de utilizar este veículo
pelos textos à televisão e, mais recen- de comunicação para incentivar a leitura.
temente, ao videogame e à Internet. E nem
mesmo a História em Quadrinhos passa A crianqa que não lê nem
incólume à ação de teóricos e educadores História em Quadrinhos
que procuram entender as causas da tampouco se sentirá disposta a
rejeição à palavra escrita e impressa por
parte dos jovens. enfrentar textos didáticos,
No caso específico do Brasil, há diver- literários e informativos.
sos processos que desencadeiam o desin-
teresse pela leitura, sejam de ordem eco- A utilização de quadrinhos pode ser de
nômico-social (a parcela mais pobre da grande valia para iniciar o jovem no ca-
população não tem poder aquisitivo para minho que leva à consolidação do hábito
adquirir livros, jornais e revistas), sejam e do prazer de ler.
de ordem política (o Estado é responsável Azis Abrahão considera que a História
pela situação calamitosa, crônica e persis- em Quadrinhos, denominada por ele lite-
tente do ensino público que, além de não ratura em quadrinhos, agrada as crianças,
incentivar o aluno a criar o hábito da lei- uma vez que atende a sua necessidade de
tura, ainda é ineficiente). crescimento mental. Na sua opinião, as
1. Apud MOYA. Álvaro de. Shazam! 3. ed. São Paulo: Perspectiva (Debates, 26). 1977. p. 147
Aplicações da História em Quadrinhos
crianças "pouco entendem da literatura utilizam HQs são: quadrinhos com exces-
produzida para elas. O desinteresse que so de texto e imagens muito chamativas
nutrem, por qualquer gênero de leitura, em detrimento do conteúdo. Ela adverte
que não seja de quadrinhos, pode ser ex- que "há livros que, apenas para vender
plicado pela falta de familiarização com mais, inserem alguns elementos de qua-
certas noções abstratas da linguagem co- drinhos (balões ou onomatopéias) em ve-
mum, particularmente da linguagem es- lhas imagens conhecidas". Pondera, ain-
crita, pela dificuldade experimentada na da, a respeito de a disciplina ser afeita ou
análise de seu vocabulário e do sistema não à quadrinização: em matérias das
de imagens e idéias, pelo defeituoso apren- Ciências Humanas (Geografia, História,
dizado da leitura, pela limitação de seus Sociologia), "quando a quadrinização é
quadros e experiências e t ~ . " ~ . mal feita, a imagem pode transmitir figu-
A História em Quadrinhos, ao falar ras deturpadas, gerar estereótipos,
diretamente ao imaginário da criança, conotações ideológicas, ou seja, interpre-
preenche suas expectativas e a prepara para tações errôneas dos acontecimento^"^ .
a leitura de outras obras. A experiência de Contudo, a linguagem característica dos
folhear as páginas de uma revista de quadrinhos e os elementos de sua semân-
quadrinhos pode gerar e perpetuar o gosto tica, quando bem utilizados, podem ser
pelo livro impresso, independente de seu aliados do ensino. A união de texto e de-
conteúdo. Além disso, o aprendizado por senho consegue tornar mais claros, para a
meio do uso de quadrinhos, como será visto criança, conceitos que continuariam abs-
a seguir, é mais proveitoso. tratos se confinados unicamente à palavra.
Na visão de Azis Abrahão, texto e ilustra-
ção "se ajustam e se testam, na identifica-
ção de seus significados e de suas rela-
Os quadrinhos vêm sendo utilizados ções, naquela necessária integração de
com sucesso em livros didáticos há três matéria e forma, que tão bem atende aos
décadas. Artistas e pedagogos unem-se princípios atuais da Pedagogia, baseados
para aproveitar as possibilidades técni- no caráter sincrético e globalizador do
cas, narrativas e expressivas dos quadri- pensamento da criançav5.
nhos no que tange à disseminação mais Da mesma forma, a sequencialidade (a
eficiente de conhecimento. maneira como se articula a narrativa
No entanto, Sonia Bibe Luyten obser- quadrinhográfica, com uma vinheta su-
va que, pelo caráter comercial de muitos cedendo a outra, em ordem lógica, mas
livros didáticos, ocorrem distorções. Se- fragmentada temporalmente, o que exi-
gundo a pesquisadora de quadrinhos3, os ge participação e perspicácia da parte do
erros mais comuns nas obras didáticas que leitor para preencher os momentos não
inoslrados), assume, para Abrahào, "o ca- liso de iniage~isque desenhava, palavras e
i-átei- d e verd;ideiro relato visual ou ações que seriam niais difíceis de sei-em
i rriagístjco, que sugeslivamente se iii tegi-a compreendidas se ficassem liinitadas a
com as riipjdas conotações do texto escri- lextos escritos.
to, niiina perfeita identificaçfio e
entrosarnento das duas formas de lingua-
gerri: a palavra e o dcsenlio. Exalamente
corno convéin ao caráter sincritico e in- A leitura e apenas uma das possibilida-
tuitjvo do pensameiilo infan~il"~. Dessa des de einprego da História em Quadri-
forma, o quiidriiiho teima inais interessante nhos no ensino. Pieri-e Micliel, profes~or
o conteúdo a ser estudado, e inais: exige do Liceu de Corbeil, iia França, destaca
do aluno uma percep~áoinaior do meio 21saplicações dos quadrintios na educaçiÍo.
empregado, a História em Quadrinhos. Para ele trata-se de '-um inateiial que pode
suscitar a reflexãoi a pesqiiisa e a críaçãoV7e
náo iner2unetitea leitura descoiiipromissada.
Temas cla alualidade ou de natureza liis-
tórica, ética o11cientítica podeiii ser dis-
O mesino mecanisino das HQs clue per- cutidos a partir da leitura de uina cleterini-
mite a absorção de temas por parte das nada História em Quadrinhos. A tiirma de
ci-ianqas taiiibém pode sei-usado com eti-
cácia pai-a aprender lingiias eslrangeiras.
O sucesso do emprego de
iimgens e textos an-tic~ilzidoseix n
seqii2nicia não se restringe
apenas às criai~qas.
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L.--
v
6 . MOYA.
Aivaro cie. oyi rir p. I 50- I 5 I .
7. MICHEL, Picrr.c. I,n Uande Dessinbc. (,4 Hi\ti>riíirin Q~iadriiihos.)Pai-i.;: Libraii-íc Larous\e. 1976. p. 137.
Aplicações da História em Quadrinhos
tória brasileira, a exemplo de O boi das ção de jogos dramáticos, pode-se con-
aspas de ouro, Adeus, chamigo brasi- seguir um rendimento maior e uma
leiro e Crônicas da Província. Na pri- integração mais espontânea do grupo,
meira história, publicada em 1997 pela com ganhos de eficiência e economia de
editora Escala, de São Paulo, o vetera- tempo na aprendizagem.
no artista Flávio Colin adapta uma len-
da gaúcha. Já a segunda, editada pela No que sc refere ao potencial
Companhia das Letras em 1999, é o re- criador da História em
sultado da pesquisa feita para a tese de
doutorado do quadrinhista André Toral Quadrinhos, uma experiência
sobre a iconografia da Guerra d o produtiva e din21nica foi
Paraguai. E a última, lançada em 1999 conseguida por meio da
pelas editoras Tempo Presente e Via integrac;ão das atividades de
Lettera com apoio cultural da Universi-
dade Federal de Mato Grosso, aborda, redação e desenho.
por meio do roteiro de Wander Antunes
e arte elaborada por Mozart Couto, o Em 1994, a partir da oficina oferecida
coronelismo, a fraude eleitoral e outras durante a exposição "Quadrinhistas e
características típicas da política brasi- cartunistas do ABC", realizada pela Fun-
leira que ainda hoje são praticadas. dação Pró-Memória de São Caetano do
A dramatização é outro recurso pe- Sul, duas professoras (uma de Português
dagógico que, ao lado do debate, pode e outra de Educação Artística) de escola
ser provocado pela História em Quadri- pública da Região desenvolveram um tra-
nhos. Como observa Azis Abrahão, "à balho com alunos de quinta série. O ro-
criança o que importa é brincar, jogar teiro redigido para História em Quadri-
noutras palavras; é de especial impor- nhos foi tarefa mais amena e prazerosa
tância e interesse, para a criança, a ati- para os estudantes e serviu para que a do-
vidade lúdica, em si mesma, pelo seu cente avaliasse a escrita, enquanto a
processo, pela simples ação que desen- finalização do projeto foi feita pela livre
cadeia, pois que o objetivo consciente transposição das palavras em imagens e
ou deliberado do jogo tem sempre cará- em narrativas sequenciais.
ter fictício e fortuito". E salienta que "o
jogo exercita atividades inespecíficas, EDUCAGAO POPULAR
desenvolve capacidades e virtualidades
gerais, sem qualquer objetivo próprio, Finalmente, a História em Quadrinhos
relacionadas com o crescimento físico também tem sua aplicação como prática
e mental da criançaw8.Assim é que, ao pedagógica empregada em movimentos
utilizar a História em Quadrinhos (ela sociais, tenham eles a finalidade de
mesma um objeto de ludicidade) para a conscientizar ou de alfabetizar as parte-
encenação de um tema, para a formula- las mais carentes da população.
9. ACEVEDO, Juan. Como fazer Histórias em Quadrinhos. São Paulo: Global, 1990. p. 195.
10. ACEVEDO, Juan. op. rir. p. 195.