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Giuseppa Spenillo1
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Mestre em Administração Rural e Comunicação Rural e Professora da Escola Superior de Relações Pú-
blicas/Recife - PE
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LOPES, Mª Immacolata Vassalo de. “Sobre um novo projeto pedagógico no campo da comunicação”. In:
BACCEGA, Mª Aparecida (org.). Comunicação e cultura: um novo profissional. São Paulo :
CCA/ECA/USP, 1993, p. 15 (grifos da autora).
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Id. Ibid., p. 16.
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Ver SANTOS, Mª Salett Tauk, SPENILLO, Giuseppa. “Uma nova política para o ensino da comunica-
ção rural: o caso UFRPE”. In: SANTOS, Mª Salett Tauk. (org.). Políticas de comunicação rural nos anos
90. Recife : Imprensa Universitária/UFRPE, 1998, p. 111-115.
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SANTOS, Mª Salett Tauk, CALLOU, Angelo Brás Fernandes. “Desafios da comunicação rural em tem-
po de desenvolvimento local”. In: Signo. Revista de Comunicação Integrada. João Pessoa, V. 2, N. 3,
1995, p. 46.
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“... um grupo social é considerado rural pela forma de garantia da sobrevivência (produção) se dar pre-
dominantemente pela via agrícola, mesmo quando há outras formas de recolhimento de recursos financei-
ros por seus membros (...); pelo lugar sócio-geográfico que ocupa em relação aos grandes centros de pro-
dução de informação e circulação de capital; pelas origens históricas (e apegos a elas) do sujeito coletivo;
por características próprias do grupo capazes de lhe garantir condições de reunir-se em buscas de trans-
formações sociais que permitam a manutenção do grupo num meio rural e, ao mesmo tempo, sua inserção
econômica e política junto à sociedade através de atividades produtivas locais.” SPENILLO, Giuseppa.
“Lazer e comunicação na era da informática: interpessoalidade ou automatismo? Um estudo de caso entre
os reassentados do Projeto Brígida”. Recife : UFPRPE, 1998. Dissertação (Mestrado em Administração
Rural e Comunicação Rural), p. 67-68.
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SANTOS, Mª Salett Tauk, CALLOU, Angelo Brás Fernandes. “Desafios da comunicação rural em tem-
po de desenvolvimento local”. Op. Cit., p. 45.
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los, com o tipo de interesse do grupo e sua articulação/ mobilização, com elementos ex-
ternos ao grupo que chegam até ele e muitas vezes determinam o modo de ser e de estar
no mundo (pertencimento simbólico), com a cultura peculiar à comunidade. Desta forma,
quem determina com que finalidade os recursos comunicacionais serão usados é a estrutu-
ra social e as conjunturas sob as quais vive o grupo com o qual se estará trabalhando.
O uso de recursos comunicacionais para o desenvolvimento comunitário aparece
como uma alternativa ao trabalho com grupos populares rurais numa busca por atuar so-
bre problemas identificados localmente, de acordo com as prioridades da comunidade, e,
principalmente, numa tentativa de fazer o grupo assumir sua realidade e sua capacidade
para transformá-la. Mais do que as deficiências, até mesmo estruturais, em áreas como
educação, saúde, trabalho e lazer, moradia, com as quais as camadas populares são obri-
gadas a conviver cotidianamente, a exclusão na produção social de informação/ comunica-
ção destitui esses grupos do poder e do direito de decisão, participação e exercício da ci-
dadania. A questão que se apresenta, então, é:
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Ver MARCELLINO, Nelson. Lazer e humanização. Campinas : Papirus, 1995. 2ª ed.
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Para Vinton Cerf, engenheiro americano responsável pela criação da norma que possibilita o fluxo de
informações na Internet: “Um dia haverá mais dispositivos ligados à rede do que pessoas no planeta.
Quantos aparelhos já podem ser conectados? O PC, o notebook, o celular e o pager. Mas temos geladeiras,
máquinas de lavar. Os microondas serão programáveis. Será possível copiar um programa melhorando
suas funções, atualizando-o”. MOON, Peter. “O pai do ciberespaço”. In: Revista Isto é. N. 1541,
14/4/1999, p. 44-45 - Ciência & Tecnologia.
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“Em Brígida, por exemplo, a presença de parabólicas, aparelhos de som, televisão, videocassete e vide-
ogame compõe o cenário comunitário de modo até exacerbado. Mas quais as condições de uso? Não há no
local locadoras de filmes ou games; não há emissoras de rádio ou televisão comunitárias (...). O que se faz
em Brígida com os instrumentos e tecnologias de comunicação massiva, no entanto, não demonstra uma
rejeição comunitária por não corresponderem ou não partirem das questões locais. Ao contrário, os apa-
relhos são adquiridos e incorporados ao cotidiano familiar. Também não se pode afirmar que ocorre o
inverso: uma total aceitação e alienação quanto ao núcleo de programações das emissoras.” .” SPENILLO,
Giuseppa. “Lazer e comunicação na era da informática: interpessoalidade ou automatismo? Um estudo de
caso entre os reassentados do Projeto Brígida”. Recife : UFPRPE, 1998. Op. Cit., p. 137-138.
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Por exemplo, no Projeto Brígida, de reassentados da Barragem de Itaparica, criado e mantido pela
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - Chesf e Companhia para o Desenvolvimento do Vale do
São Francisco - Codevasf a irrigação é feita com bombas elétricas controladas a partir de painéis lumino-
sos. Ver SPENILLO, Giuseppa. “Lazer e comunicação na era da informática: interpessoalidade ou auto-
matismo? Um estudo de caso entre os reassentados do Projeto Brígida”. Dissertação (Mestrado em Admi-
nistração Rural e Comunicação Rural). Recife : UFRPE, 1998.
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Diferentemente do desemprego conjuntural, em que a recessão provocava demissões que poderiam ser
corrigidas com a volta do crescimento econômico, o desemprego estrutural significa o desaparecimento de
postos de trabalho pelo emprego de automotores na produção.
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Para David Harvey13, o espaço e o tempo vêm sendo comprimidos pela ordem ca-
pitalista tecnológica, que acelera o ritmo de vida, criando novas necessidades e novos con-
sumidores. O mundo todo passa a estar no mesmo espaço, ao mesmo tempo, na forma de
mercadorias. Para Paul Virilio14, estar vivo é uma velocidade. Velocidade que decide a
permanência ou não da humanidade. A maneira como homens e mulheres olham o mundo
o transforma, alterando a realidade, hoje, em função daquilo que a tecnologia pode fazer.
Virilio acredita que o império da cidade já é uma realidade, e que o mundo rural se
desfaz, com a desocupação do campo, pela unificação econômica e cultural da nova or-
dem mundial. “Há pouco tempo, este projeto imperial se tornou uma realidade quotidiana
que não podemos mais ignorar em termos econômicos, e menos ainda culturalmente. Daí
este fim da oposição cidade-campo que presenciamos, depois do Terceiro Mundo, agora
na Europa, com o despovoamento de um mundo rural entregue às culturas rotativas e à
desocupação.”15
Nesse contexto, como podemos pensar os conflitos de terra, os assentamentos e
reassentamentos, os milhares de bóia-frias e sem-terras que povoam o interior do Brasil?
Como pensar, sobretudo, o papel do pesquisador, do profissional de comunicação e das
universidades em relação a estas comunidades rurais?
A este quadro é preciso juntar os recentes movimentos de Reforma Agrária que
vêm distribuindo (com maior ou menor intensidade) terras para agricultores sem condi-
ções tecnológicas de produção - e, logo, sem competitividade - que produzem para sub-
sistência e não encontram mercados interessados em sua matéria-prima. É o que se pode
chamar de musealização16, ou perda do valor de uso do espaço/território, por ele não se
apresentar mais como investimento que interesse ao grupo hegemônico da sociedade.
Isto porque as tecnologias de comunicação fazem do tempo o local para os grandes
investimentos. O tempo real permite inúmeras outras formas de investimento que indepen-
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HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo : Edições Loyola, 1993.
14
VIRILIO, Paul. O espaço crítico. Rio de Janeiro : Editora 34, 1993: “As perspectivas do tempo real”, p.
101-119.
15
Id. Ibid., p. 116, (grifos do autor).
16
Ver COLETIVO NTC. Pensar Pulsar - cultura comunicacional, tecnologias, velocidade. São Paulo :
Edições NTC, 1996, p. 159-160. Musealização é um conceito usado pelos autores para referir-se aos bens
sociais já em desuso pelos grupos hegemônicos e que, portanto, restam para os grupos populares.
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dem de um espaço onde abrigá-los. Por exemplo, pode-se participar de leilões via Internet
adquirindo e vendendo objetos sem chegar a possuí-los materialmente, ou seja, sem pegá-
los, transportá-los e acomodá-los em espaço próprio.
Portanto, quando pensamos nos movimentos para redistribuição de terras nas áreas
rurais brasileiras, percebemos mais do que a força e a conquista dos grupos populares,
uma manifestação das classes hegemônicas (governo, latifundiários) no sentido de desviar
seu interesse econômico desses espaços, cedendo, então, terra a quem se encontra agora
excluído do território virtual (e tudo o que ele implica).
17
COLETIVO NTC. Pensar Pulsar - cultura comunicacional, tecnologias, velocidade. São Paulo : Edi-
ções NTC, 1996, p. 160.
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18
GRAZIANO, José. Revista Reforma Agrária. Rio de Janeiro, maio/agosto, N. 1, 1993, p. 14. Apud:
SANTOS, Claudia, LIRA, Hildebrando. “Políticas de comunicação rural nas organização governamentais:
o caso Emater”. In: SANTOS, Mª Salett Tauk. (org.). Políticas de comunicação rural nos anos 90.
Op.Cit., p. 20.
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É o caso, por exemplo, de se realizar pesquisas com fins práticos, ou seja, buscan-
do encontrar junto às comunidades estudadas potenciais possíveis de serem explorados no
sentido de captar e utilizar recursos, locais ou não, em função do desenvolvimento local.
Assim podemos considerar o Projeto Brígida21, onde percebemos uma disponibilidade e
interesse da população para o aprendizado da informática e outras tecnologias (irrigação,
por exemplo), aplicadas ao cotidiano.
Uma pesquisa comprometida com o desenvolvimento local precisa ocupar-se des-
tas demandas de modo a apresentar uma documentação do perfil comunitário quanto às
possibilidade de desenvolvimento local, sempre entendido como “um esforço de mobiliza-
ção de pequenos grupos (...) a fim de resolver problemas imediatos ligados às questões de
sobrevivência econômica, de democratização de decisões, de promoção de justiça soci-
al.”22, mas também apresentar propostas para atuações futuras do profissional de comuni-
cação numa perspectiva de desenvolvimento e resgate das cidadanias.
19
Podemos citar as tentativas da Federação Nacional de Rodeio Completo em transformar a prática numa
categoria esportiva. Ver ARAUJO, Rute. “Seguuura atleta!”. In: Isto é, N. 1534, 24/2/99, p. 50.
20
CAPARELLI, Sérgio. Comunicação de massa sem massa. São Paulo : Summus Editorial, 1986, p. 112.
21
Projeto de reassentamento para produção agrícola das populações rurais da Barragem de Itaparica, lo-
calizado na cidade de Orocó, Pernambuco. Local onde realizamos nossa pesquisa de Mestrado, em 1997.
22
SANTOS, Mª Salett Tauk, CALLOU, Angelo Brás Fernandes. “Desafios da comunicação rural em tem-
po de desenvolvimento local”. Op. Cit., p. 45. (Ver nota 7).
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23
LOPES. Op. Cit., p. 17, (grifos da autora).
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24
COLETIVO NTC. Atrator estranho. N. 31 - “Crítica como método”, p. 12.
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Curso de Mestrado em Administração Rural e Comunicação Rural / Universidade Federal Rural de Per-
nambuco.
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modo a torná-la autônoma nesta prática; permitir o diálogo e a construção de foros a par-
tir do uso dos recursos comunicacionais para negociações de medidas pertinentes ao des-
envolvimento e demandadas pela comunidade; estabelecer práticas duradouras de comuni-
cação plural27. E no caso específico da Comunicação Rural, autonomizar a comunidade
em termos comunicativos quanto aos técnicos que atuam modernizando seus espaços, de
modo a capacitá-la para aplicar as novas tecnologias a que venham a ter acesso no sentido
do desenvolvimento local e coletivo.
Referências Bibliográficas
CALLOU, Angelo Brás. “O GT - Comunicação Rural nos Congressos Intercom: balanço
para entrar no século XXI”. São Paulo : INTERCOM. Texto produzido para apresen-
tação no XX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 1997. Inédito.
CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos. Conflitos multiculturais da globa-
lização. Rio de Janeiro : Editora UFRJ, 1995.
CAPARELLI, Sérgio. Comunicação de massa sem massa. São Paulo : Summus, 1986.
COLETIVO NTC. Pensar Pulsar - cultura comunicacional, tecnologias, velocidade. São
Paulo : Edições NTC, 1996.
COLETIVO NTC. Atrator estranho. N. 31 - “Crítica como método”.
HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo : Edições Loyola, 1993.
LOPES, Mª Immacolata Vassalo de. “Sobre um novo projeto pedagógico no campo da
comunicação”. In: BACCEGA, Mª Aparecida (org.). Comunicação e cultura: um novo
profissional. São Paulo : CCA/ECA/USP, 1993
MARCELLINO, Nelson. Lazer e humanização. Campinas : Papirus, 1995, 2ª ed.
MARCONDES FILHO, Ciro. Jornalismo fin-de-siècle. São Paulo : Scritta, 1993.
MARTÍN-BARBERO, Jésus. “Dinámicas urbanas de la cultura”.
Http:/www.filo.uba.ar/otros/naa/jmb.htm.
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SPENILLO, Giuseppa. “Lazer e Comunicação...” . Op. Cit., capítulo IV (Estratégias Metodológicas).
27
Comunicação plural é um conceito empregado por Martín-Barbero para sintetizar um tipo de comuni-
cação social ideal, esperado pela democracia, em que as diferenças étnicas, religiosas, de gênero, culturais
seriam verdadeiramente superadas, e não apenas toleradas.
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