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INSTITUTO FEDERAL DE BRASÍLIA RIACHO FUNDO

LICENCIATURA EM LETRAS LÍNGUA INGLESA


DISCIPLINA: Organização da Educação Brasileira (OEB)
PROFESSORA: Ana Luiza de França Sá
TURMA: VB3
ALUNA: Paola Cristina Ribeiro Marcellos

Rêses, Erlando da Silva. De vocação para profissão: sindicalismo docente da


educação básica no Brasil. Brasília: Paralelo 15, 2015. 196p.

Erlando da Silva Rêses possui formação variada, voltada especialmente às


áreas de Sociologia e Educação; o autor, inclusive, costuma fazer um paralelo entre
ambas, que é o que ocorre neste texto, inclusive. Rêses é professor da Faculdade
de Educação (FE) da Universidade de Brasília (UnB) e professor do Programa de
Pós-Graduação em Educação (PPGE). Doutor em Sociologia com pesquisa na área
de Sociologia do Trabalho e da Educação. Mestre em Sociologia com pesquisa na
área de Sociologia no Ensino Médio. Bacharel em Sociologia com estudo na área de
Sociologia Política e Licenciado em Ciências Sociais. Todos os títulos UnB. Líder do
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Materialismo Histórico-Dialético e Educação
(CONSCIÊNCIA). Possui experiência na área de Sociologia; Políticas Públicas de
Educação; Currículo; Epistemologias; Formação de Professores; Educação de
Jovens e Adultos; Educação Popular; Ensino de Sociologia; Ensino Médio;
Metodologia da Pesquisa e Educação em Direitos Humanos.
O texto aqui resenhado faz parte da tese de Doutorado de Rêses, que,
posteriormente, foi publicada em forma de livro pela editora Paralelo 15, de Brasília.
O livro tem como tema central as implicações dos estudos do autor sobre o
sindicalismo em educação. Nesta resenha, entretanto, trataremos apenas dos
capítulos um e dois — “Associativismo docente no Brasil”.
O capítulo um — intitulado “A singularidade do trabalho não material do
docente e a posição de classe do professor” — divide-se em uma pequena
introdução e mais três subtítulos, quais sejam: “A Identidade Social da Profissão de
Professor”, “Proletarização do Trabalho Docente” e “Trabalho por Vocação:
Estereótipo do Magistério”.

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Neste capítulo, Rêses busca, primeiramente problematizar a identidade do
professor enquanto profissional singular, isto é, cujo ofício se difere dos demais
devido às suas peculiaridades pontuais. Logo no início do capítulo, antes de iniciar o
primeiro subtítulo, o autor lança as seguintes perguntas: “Qual a singularidade
existente na profissão de professor?” e “O que constitui a identidade social do
professor?”. O autor afirma, então, que identidade é construída e, portanto, flexível,
heterogênea, inacabada. Identidade seria, neste sentido, produção social. O mesmo
ocorre com a identidade profissional, uma das várias identidades coletivas.
A esta altura, o autor afirma que o professor não tem um estatuto social muito
delimitado. “Ora são vistos como funcionários do Estado, e assim como membros
apequenados das classes médias, ora como agentes oriundos das classes
trabalhadoras, mas delas se distanciando por terem sido escolarizados” (p. 29). Ao
longo do texto, Rêses tece conceitos sobre identidade, identidade profissional,
identidade docente e consciência de classe a partir de seus próprios estudos e de
outros autores, como Karl Marx, Charles Wright Mills, Roberto Cardoso de Oliveira,
Henry Giroux, entre outros.
Para Rêses, os sindicatos e coligações têm importância vital na construção de
uma identidade social não só dos professores, como dos segmentos de
trabalhadores em geral, uma vez que dá ferramentas ao trabalhador para que tenha
controle sobre seu trabalho, além de valorizar as peculiaridades e contribuições
deste.
No segundo subitem do capítulo um, o autor trata da proletarização da
docência, trazendo o conceito de semiprofissão que permeia visões sobre a
profissão de professor. Rêses ressalta que, para alguns autores, como Demerval
Saviani e Vitor Henrique Paro, as teses de proletarização do trabalho docente são
questionáveis, por não estarem diretamente vinculadas à lógica do capitalismo, uma
vez que não produzem mais-valia e seu produto é o saber. O autor aponta que a
questão da proletarização do magistério é sempre retomada; recentemente, em
especial pela piora na sensação de mal-estar entre os docentes e pela intensificação
de protestos dos servidores públicos. Neste ponto, o professor Rêses destaca dois
argumentos que sustentam a tese de proletarização da docência: o primeiro consiste

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na “perda do controle do trabalho docente pelos professores” (p. 35); o segundo, na
“massificação e desqualificação do trabalho docente” (p.35).
Um ponto interessante do texto, no que tange a ambos os aspectos
supracitados, é a influência do taylorismo e do fordismo nesse processo de
proletarização do trabalho docente, que o influenciam com o estímulo ao aumento
de produtividade, que ocasionava a desqualificação do trabalhador. Segundo Rêses,
defensores da tese da proletarização ressaltam que muitas das características
desses modelos de produção ocorrem no chão da escola, partindo de uma gestão
escolar baseada em normas empresariais. Para eles, a escola também é uma
“instituição capitalista”.
A esta altura do texto, o autor cita um interessante levantamento de dados
feito pelo professor Sadi Dal Rosso, que investigou em pesquisa — realizada em no
ano de 2002, em dez estados do país, com 4.656 profissionais do ensino — sobre a
situação dos educadores. Entre os dados obtidos — quais sejam; empobrecimento
dos docentes brasileiros; degradação de suas condições de trabalho e; aumento
exponencial de jornadas de trabalho — corroboraram para a ideia de proletarização
da docência, aponta Rêses.
O autor conclui este subitem afirmando ser possível sustentar a tese da
proletarização da docência e sua aproximação da classe trabalhadora.
Por fim, no terceiro e último subtítulo do capítulo um, o professor Rêses
aborda um ponto importantíssimo: o estereótipo de trabalho por vocação, no que
tange ao magistério — a máxima “professor por amor”. O autor cita que essa
concepção, conforme aponta Álvaro Moreira Hypólito, essa noção nasce por razoes
político-religiosas conservadoras e autoritárias. Muito disso se deve ao fato de a
profissão de professor ter sido (e ainda ser) vista como ofício majoritariamente de
mulheres. Tecendo conceitos e motivação a partir de gênero e fatores históricos,
Rêses oferece ao leitor um rico panorama das implicações desse estereótipo.
Um dos pontos mais interessantes deste subitem consiste na análise feita por
Rêses sobre a feminização do magistério ter possibilitado gradualmente a
proletarização e rebaixamento salarial dos docentes. É amplamente sabido que
mulheres têm, historicamente, tido acesso a salários e prestígios profissional
inferiores aos dos homens. Quando se fala, pois, de uma profissão vista

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majoritariamente como destinada a mulheres, essa precarização se torna ainda mais
latente e perceptível.
Este capítulo é de suma importância para (tentar) compreender a identidade
do professor brasileiro sob diversos prismas, diversos recortes. Por meio de um texto
de fácil leitura e vastamente embasado, em especial no que diz respeito a conceitos,
explicações e dados da sociologia, história e educação. Observa-se que os pontos
problematizados por Rêses são muito atuais, embora encontrem suas raízes num
passado distante. Questões como as divergências que envolvem a classificação do
ofício de professor como proletarizado ou não, estereótipos que marcam o
magistério, origens da precarização da profissão são tratadas com maestria pelo
autor.
Penso que as tentativas em identificar a identidade do profissional professor e
pensar suas implicações sejam fundamentais para tratar do tema central do livro de
Rêses, isto é, do sindicalismo docente. Uma vez que o sindicato é entidade que
representa um grupo de trabalhadores, é importante conhecer esse trabalhador.
Conhecer e valorizar. É importante e primário, ainda, caracterizá-lo como
pertencente ao proletariado; conhecer as mazelas com as quais é diária ou
sistematicamente confrontado em seu ofício, entender a precarização de suas
condições de trabalho e posição profissional. E, então, compreender as demandas
por melhorias que surgem a partir destas problemáticas. Afinal, a história da
educação e de movimentos sociais é muito estreita no Brasil.
Um dos momentos mais interessantes deste capítulo se dá quando o autor
tenta, através de um elaborado panorama sociohistórico de origens e motivações,
desconstruir a ideia de que se é professor por vocação. Essa ideia tira do docente,
entre outras coisas, sua voz e força para lutar por melhores condições de trabalho e
de espaço social.
Rêses conclui o capítulo um ressaltando a necessidade de indagar em que
essa identidade social do professor contribuiu ou não para a formação de sindicatos
da categoria.
Inicia-se, então, o capítulo dois — que tem por título “Associativismo docente
no Brasil”. Este capítulo divide-se em uma breve introdução e um único subitem:
“Origem do Associativismo Docente no Brasil (1901-1931)”.

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A introdução deste capítulo consiste em citação de Bertold Brecht sobre a
importância da união entre o sindicato e a respectiva categoria que representa. Em
seguida, tem início o subitem que trata da origem do associativismo de professores
no Brasil.
Neste capítulo, o autor foca em citar as principais associações de professores
conhecidas no país. Algumas delas foram: a Associação Beneficente do
Professorado Público de São Paulo (ABPPSP), de 1901, primeira associação de
professores públicos que se conhece no país — cuja proposta era conceder
benefícios aos seus associados, como na área de saúde, assistência financeira em
caso de moléstia, invalidez ou necessidade momentânea, entre outros; a
Confederação do Professorado Brasileiro (CPB), de 1926, que visava a união da
classe, o amparo a família do associado através de pecúlio e consórcio por
intermédio da sua caixa de empréstimos; a Associação de Professores Primários de
Pernambuco, de 1961; a Associação das Professoras Primárias de Minas Gerais
(APPMG), de 1931, que tinha por objetivo prestar “’amparo material e moral’ às
professoras primárias daquele Estado” (p. 58) — alcançou, em 1940, a marca de mil
associadas.
Neste capítulo, pôde-se observar como os movimentos sindicais atuavam,
quais suas prioridades frente a seus associados e quais os impactos de sua atuação
na vida dos professores.

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