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João Quartim
Segundo Rocco a grande novidade da teoria fascista era uma visão da sociedade como um
todo em oposição ao que ele chama de visão atomística atribuída ao liberalismo,
democracia e socialismo que teriam no fundo a mesma origem filosófica . Esta visão
atomística seria sintetizada na compreensão do Estado como uma soma de todos os
indivíduos em oposição à compreensão do Estado como a totalidade orgânica de seus
indivíduos. Eis uma explicação filosófica para a famosa frase atribuída a Mussolini: Tudo
para o Estado, nada contra o Estado e nada fora do Estado. Tem significado para nós que
ele não cite o positivismo nestes trechos, pois ainda que a ideia de Estado total não seja
parte do linguajar positivista, a ideia fundamental aí é a de que o Estado fascista (ou
corporativista) promove a conciliação de classes em oposição à luta existente em outras
sociedades individualistas. Referência direta à concepção de Augusto Comte que utilizava
frequentemente a ideia de incorporar o proletariado na sociedade capitalista. De mesmo
modo, o Apostolado Positivista do Rio de Janeiro usava sempre essa figura de linguagem.
Até semanticamente esta ideia de incorporação se aproxima do termo corporativismo.
Mas a relação entre corporativismo e conciliação de classes que une fascismo e positivismo
não se limita a um debate filosófico. Pois confere respostas práticas ou teóricas, afinal se a
sociedade é injusta e queremos dirimir as desigualdades, há que se melhorar a condição de
vida dos marginalizados incorporando-os ao Estado. Motivo pelo qual ambos regimes
defendiam a ampliação dos direitos dos trabalhadores, ainda que no regime fascista isso
não tenha saído do papel. E é neste ponto que o regime fascista se separa completamente
do varguismo, enquanto um se utilizava da retórica de defesa dos trabalhadores, o outro
concretamente defendia os direitos deles. Por outro lado, esta concepção “conciliadora” do
positivismo e do fascismo, os põe em franca oposição à luta de classes de socialistas e
marxistas. Ajudando a explicar porque ambos regimes foram, em diferentes medidas,
antissocialistas, ainda que Vargas em determinados momentos e contextos tenha se aliado
a socialistas e comunistas.