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Eng. Civil, Doutor, Professor Adjunto, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza.
4 e-mail: yago_mpm@hotmail.com ( Y. M. P. Matos )
A resistência de ponta, no caso do DPL correlação (Equação 5) para solos finos de baixa e
(qd), pode ser obtida através da Equação 1 média plasticidade acima do nível d’água quando 2
sugerida por ISSMFE (1989): ≤ N10 ≤ 30:
Eq. [5]
Eq. [1]
Acredita-se que, nessas expressões, o
valor de N10 se refere à mediana das medidas de
Em que:
cada metro ensaiado.
Mm = massa do martelo (kg);
M’ = massa total da composição de hastes, Vale ressaltar que as correlações
cabeça de bater e haste guia (kg); fornecidas pela DIN 1054 (2003) não foram
h = altura de queda do martelo (m); concebidas para solos tropicais, típicos do
e = penetração média por golpe (cm); território brasileiro.
A = área da base do cone (cm2); No Brasil, alguns autores, partindo da
g = aceleração da gravidade (m/s²).
realização de investigações com DPL e SPT,
desenvolveram correlações entre os resultados
O atrito lateral (fs) pode ser estimado
desses ensaios para diferentes localidades.
pela Equação 2:
Entre eles, destaca-se o estudo feito por
Nilsson (2004) que apresentou correlações
Eq. [2]
satisfatórias entre os respectivos ensaios para os
solos de Curitiba-PR e São José dos Pinhais-PR,
Sendo: predominantemente, de Formação Guabirotuba; e
A = área de contato do cone com o solo (m²);
para as argilas porosas de Londrina-PR, Campinas-
l = braço de alavanca do cone (m);
SP e Brasília-DF. Contudo, essas expressões, ainda,
Mres = momento residual (N.m).
são específicas de cada cidade, não sendo
Finalmente, a razão de atrito (FR), recomendadas generalizações para outras regiões.
medida em porcentagem, é definida na Equação 3 Sanchez et al. (2010) abordam uma
como a relação entre o atrito lateral e a resistência comparação entre diferentes procedimentos de
de ponta: aplicação dos resultados do DPL para obtenção de
correlações com o NSPT. Assim, eles determinaram
Eq. [3] equações distintas utilizando a soma de N10 nos 30
cm finais de cada metro e as médias de N10 a cada
metro e, também, nos últimos 30 cm de cada
3.1 CORRELAÇÕES ENTRE N10 E NSPT metro. Seus resultados mostraram que a
expressão entre o NSPT e a média dos valores de
Considerando a ampla utilização do SPT
N10 obtidos nos últimos 30 cm de penetração da
para investigar o subsolo e a existência de diversos
haste apresentou o maior coeficiente de
métodos de dimensionamento de fundações que
determinação (R²) entre as três formas diferentes
partem de seus resultados, foram elaboradas
de correlação.
algumas proposições que correlacionam os
Porém, o uso de correlações entre os
parâmetros obtidos no DPL (N10) e no SPT (NSPT).
dois ensaios, ainda, parece ser bastante
DIN 1054 (2003) sugere a seguinte questionável, já que alguns autores não
expressão (Equação 4) para solos granulares acima recomendam sua utilização, Silva; Miguel e
do nível d’água quando 3 ≤ N10 ≤ 50: Belincanta (2006) por exemplo. Outros, como
Ribeiro Junior et al. (2007) e Figueiredo (2016),
Eq. [4]
introduziram os resultados do DPL, diretamente,
DIN 1054 (2003) propõe, também, uma em métodos de cálculo de capacidade de carga de
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estacas. “q” no cálculo depende de cada caso, ficando,
dessa forma, a critério do projetista. Assim, com 5
4. TENSÃO ADMISSÍVEL DE FUNDAÇÕES ≤ NSPT ≤ 20, calcula-se a tensão admissível (a) em
SUPERFICIAIS kPa conforme a Equação 6:
Solo 1 1
Curitiba (geral) 0,2 0,6
Curitiba (formação Guabirotuba) 1,8 1,3
Curitiba (material aluvionar grosseiro) 1,5 1,8
Campinas (argila porosa colapsível) 0,5 1
Brasília (argila porosa colapsível) 0,5 1,1
Londrina (argila porosa colapsível) 0,2 0,3
FONTE: Nilsson (2003).
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Peso Específico dos Sólidos Peso Específico Natural Peso Específico Seco
Profundidade (m)
gs (kN/m³) gn (kN/m³) gd (kN/m³)
FIGURA 3: Locação dos furos de sondagens SPT e DPL, do poço de coleta de amostras e das estacas raiz no campo
experimental da UNIFOR.
FONTE: Autoria Própria.
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A regressão linear foi feita considerando Dessa forma, foi adotada a média dos
a média de todas as medidas de NSPT e a média dos valores de N10 na faixa de influência do ensaio SPT.
valores de N10 relativos a cada metodologia Nesse procedimento, os valores de NSPT foram
empregada para cada metro de profundidade, já comparados com a média dos golpes N10 na faixa
que não se verificou, de acordo com os desvios de influência do SPT, ou seja, na cota em que se
padrões calculados, dispersão significativa entre os estima o número de batidas necessário para
dados de cada ensaio. Os principais resultados penetrar os últimos 30 cm do amostrador. Assim,
foram: considerou-se a média dessas medidas para cada
• Média para cada metro: NSPT = 0,5159N10 – metro de sondagem.
5,7439 (R² = 0,6578); Por exemplo, para um ensaio SPT
• Média nos últimos 30 cm de cada metro: NSPT iniciado na cota de 1 m até a profundidade de 1,45
= 0,5417N10 – 6,1171 (R² = 0,8325); m, o índice do DPL adotado consiste na média das
medidas obtidas nas profundidades de 1,20 m e
• Soma nos 30 cm da faixa de influência do SPT:
1,30 m, pois, como mencionado anteriormente, o
NSPT = 0,2893N10 – 7,4776 (R² = 0,9097);
N10 é medido a cada 10 cm.
• Média nos 30 cm da faixa de influência do Vale ressaltar que, devido à existência de
SPT: NSPT = 0,5799N10 – 7,6208 (R² = 0,9054). variação de estratigrafia do solo no sexto e último
Portanto, entre todos os conjuntos metro com relação às camadas sobrejacentes, não
de dados analisados, a soma e a média dos valores foram levadas em consideração as médias dessa
de N10 na faixa de influência do ensaio SPT profundidade na obtenção da correlação geral,
obtiveram os melhores coeficientes de tendo em vista que a intenção do presente
determinação (R²). Como as duas propostas trabalho é obter uma expressão específica para o
exibiram, praticamente, o mesmo R², optou-se mesmo tipo de solo atravessado. Além disso, a
pela alternativa que possuía os menores valores consideração dessa última camada não fornece
de coeficiente de variação. A Figura 4 resume a uma boa correlação entre os dois ensaios. A
análise realizada. Tabela 2 esclarece a metodologia adotada.
FIGURA 4: Medidas de coeficiente de variação da média e da soma N10 na faixa de influência do SPT ao longo da
profundidade.
FONTE: Autoria Própria.
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TABELA 2: Valores de Nspt e N10 considerados na correlação geral
SPT DPL
Profundidade (m) Tipo de solo
Média +σ -σ CoV (%) Média +σ -σ CoV (%)
1 2 2 2 0 17 18 16 6 Areia siltosa
2 2 2 2 0 17 21 13 24 Areia siltosa
3 5 5 5 0 21 21 21 0 Areia siltosa
4 6 8 4 33 26 28 24 8 Areia siltosa
5 8 8 8 0 25 29 21 16 Areia siltosa
6 9 11 7 22 16 17 15 6 Silte argiloso
FONTE: Autoria Própria.
Eq. [15]
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6.3 DETERMINAÇÃO DA TENSÃO ADMISSÍVEL DE um dos valores obtidos em referência aos
UMA SAPATA HIPOTÉTICA resultados fornecidos pelo cálculo baseado nos
Para o cálculo da tensão admissível, foi dados do ensaio SPT.
utilizada a Equação 6. Como exemplo de elemento Analisando a Tabela 3, constatou-se
de fundação superficial, adotou-se, no caso, que a metodologia de aplicação dos resultados
sapata de base quadrada, com 1,5 m de lado e do DPL adotando o NSPT equivalente fornecido
apoiada à profundidade de 2 m. pela correlação geral apresentou uma
Considerou-se, para efeitos práticos, a aproximação razoável da adotada para o SPT
profundidade do bulbo tensões como duas vezes a em sapatas, com uma variação máxima entre
dimensão da sapata. Utilizou-se, também, a tensões admissíveis de 15% menor para o DPL
proposta de Godoy (1972) para estimar o peso no ponto 02. No que diz respeito à Equação 4
específico do solo que causa o efeito de proposta por DIN 1054 (2003), foram
sobrecarga na sapata. As tensões admissíveis observadas variações bem elevadas (maiores
foram calculadas usando os dados do SPT. que 300%). Possivelmente, por ter sido
Fazendo uso da correlação geral desenvolvida para solos de países de clima
(Equação 11) obtida entre os resultados das temperado.
sondagens SPT e DPL no campo experimental da A fim de comparar os resultados obtidos
UNIFOR e a Equação 4 sugerida por DIN 1054 do método semiempírico, um dimensionamento
(2003) para solos granulares acima do nível d’água foi realizado pela metodologia de Terzaghi (1943)
foi feita a estimativa do valor do NSPT. Em seguida, com fatores de capacidade de carga e de forma
a determinação da tensão de projeto foi realizada, recomendados por Vesic (1975), adotando-se fator
seguindo a mesma metodologia adotada para o de segurança de 3 e valor médio das sondagens
SPT, mas utilizando as camadas de solo SPT. A Figura 6 ilustra os valores médios de tensão
reconhecidas pelo ensaio DPL. admissível obtido por cada metodologia de
A Tabela 3 apresenta a variação de cada cálculo.
Observou-se que, para o método referida norma. A princípio, deveria ser feita a
semiempírico, o dimensionamento feito com aplicação de cargas conhecidas e sucessivas em
dados do DPL pela correlação geral forneceu dez estágios de carregamento, cada um recebendo
resultado próximo do obtido pelo SPT e quase o 10% do valor da carga de ruptura (estimada em
dobro do valor exibido para o método teórico de 800 kN), levando, ao final do ensaio, os elementos
Terzaghi (1943). de fundação ao estado-limite último. Contudo, em
alguns estágios, quando se pretendia obter uma
6.4 DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA curva carga x deslocamento mais detalhada ou
DA ESTACA RAIZ quando se observava que o valor da carga se
aproximava do valor máximo mobilizável pelas
6.4.1 Prova de carga estática
estacas, adotaram-se acréscimos de
A execução das duas provas de carga foi carregamentos inferiores a 10% da capacidade de
feita próxima ao ponto 01 da sondagem SPT com carga. As fases de descarregamento das provas de
procedimento semelhante ao de carregamento carga não seguiram a NBR 12131 (ABNT, 2006) e
lento conforme a NBR 12131 que trata de prova de foram realizadas em, apenas, um único estágio
carga estática em estacas (ABNT, 2006). As fases cada. As Figuras 7 e 8 apresentam os resultados
de carregamento dos ensaios foram realizadas de das duas provas de carga executadas no campo
acordo com todas as prescrições estabelecidas na experimental.
a segurança do projeto. Isso pode ser justificado, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), pelo auxílio
talvez, pela provável diferença nas propriedades na confecção do equipamento DPL, à Universidade
entre o solo usado na obtenção dessa correlação, de Fortaleza (UNIFOR) por ter cedido o campo
experimental para realização dos estudos, à
que é de clima temperado, e o solo do campo
Berater Tecnologia de Solos e Fundações pela
experimental, de clima tropical, além de possíveis realização das sondagens SPT e à Tecnord
variações nas eficiências dos ensaios de cada Tecnologia de Solos e Fundações pela execução
região. das estacas e das provas de carga.
Identificou-se uma correlação com o
coeficiente de determinação satisfatório entre os 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
parâmetros obtidos nos ensaios SPT e DPL para o
terreno em questão, mostrando-se o DPL ser uma AOKI, N.; VELLOSO, D. A. An approximate method to
alternativa pertinente, em termos técnicos para estimate the bearing capacity of piles. In: PAN
AMERICAN CSMFE, 5., 1975, Buenos Aires. Anais... .
projetos de fundações de obras de pequeno porte. Buenos Aires, 1975. p. 367 - 376.
Verificou-se que o dimensionamento por
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR
meio da correlação geral do DPL resultou, para 6484: Solo – Sondagens de simples reconhecimento
essa análise, em valores de capacidade de carga com SPT – Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT,
mais conservadores do que os aferidos pela 2001.
sondagem com o SPT. Essa evidência, se ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR
confirmada em outras análises, deve ser levada em 12131: Estacas – Prova de carga estática – Métodos de
ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2006.
consideração para a confirmação da viabilidade
econômica do DPL em projetos de fundações para BOWLES, J. E. Foundation analysis and design. New
York: McGraw-Hill, 1996.
pequenas edificações.
É importante salientar que, apesar de a CABRAL, D. A. O uso da estaca raiz como fundação de
obras normais. In: CBMSEF, 8., 1986, Porto Alegre.
equação de correlação geral ter apresentado uma
Anais... . Porto Alegre, 1986. p. 71 - 82.
boa estimativa do valor NSPT, é necessária cautela
CASTELLO, R. R.; POLIDO, U. F.; BICALHO, K. V.
na utilização da referida expressão, pois é
Recalques observados de sapatas em solos terciários
importante atentar-se para o fato de ela relacionar de São Paulo. Solos e Rochas, São Paulo, v. 24, n. 2,
dois ensaios que foram realizados em períodos p.143-153, 2001.
diferentes, cujos dispositivos e metodologias de CINTRA, J. C. A.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. Fundações
execução não são equivalentes, provavelmente, diretas: Projeto geotécnico. São Paulo: Oficina de
com eficiências também distintas e que transpõem Textos, 2011.
um material não homogêneo, o solo. Alternativa CINTRA, J. C. A. et al. Fundações: Ensaios estáticos e
viável para definir uma possível equação que dinâmicos. São Paulo: Oficina de Textos, 2013.
correlacione bem os parâmetros NSPT e N10 e que DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG. DIN 4094:
seja mais abrangente seria partindo da relação Erkundung und Untersuchung des Baugrunds. Berlin:
Beuth, 1991.
entre energias empregadas em cada um dos
ensaios. DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG. DIN 1054:
Sicherheitsnachweise im Erd- und Grundbau. Berlin:
Beuth, 2003.
8. AGRADECIMENTOS FIGUEIREDO, L. C. Medida de energia do DPL com
instrumentação dinâmica. 2016. 215 f. Tese
Os autores agradecem ao (Doutorado) - Curso de Geotecnia, Departamento de
Conselho Nacional de Desenvolvimento Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília,
Científico e Tecnológico (CNPq) e à Fundação Brasília, 2016.
Cearense de Apoio ao Desenvolvimento
GODOY, N. S. Fundações: Notas de Aula, Curso de
Científico e Tecnológico (FUNCAP) pelo apoio
Graduação. São Carlos (SP): Escola de Engenharia de
financeiro, ao Instituto Federal de Educação, São Carlos – USP, 1972.
M. F. P. AGUIAR; F. F. MONTEIRO; F. H. L. OLIVEIRA; Y. M. P. MATOS REEC – Revista Eletrônica de Engenharia Civil Vol 14- nº 2 ( 2018)
215
INTERNATIONAL SOCIETY FOR SOIL MECHANICS AND VESIC, A. S. Bearing capacity of shallow foundations.
FOUNDATIONS ENGINEERING. Report of the ISSMFE In: WINTERKORN, H. F.; FANG, H. Y. (ed.) Foundation
technical committee on penetration testing of soils – TC Engineering Handbook. New York: Van Nostrand
16 with reference test procedures: International Reinhold, Cap.3, p. 121-147, 1975.
reference test procedure for dynamic probing (DP).
Linköping: Swedish Geotechnical Society, 1989. 49 p.