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14 FORMAÇÃO DA
O Pentagrama sempre foi, em todos os tempos, CONSCIÊNCIA HUMANA
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O QUADRADO INSCRITO NO CÍRCULO nos do seu poderoso Conselho, a fim de
nos ensinar que, se tudo o que o gênio
humano descobriu fosse reunido, ele o
O círculo é um espaço fechado no faria servir a sua escrita oculta. O Livro
interior do qual acontece um processo da Natureza é, por conseguinte, desve-
de desenvolvimento. Sabe-se que den- lado a todos os olhos, mas bem raros
tro de todos os espaços sempre vão são aqueles que o podem ler, e, mais
surgindo algumas transformações: raros ainda, aqueles que o podem com-
cisão, divisão, multiplicação. Os antigos preender.
sábios colocaram um quadrado no inte- Da mesma maneira que a cabeça
rior do círculo para representar a vida: é humana possuiu dois órgãos para ouvir
um espaço que é vivificado, um campo e dois para ver, dois para cheirar e um
evolutivo que está totalmente inserido para falar, e que seria vão exigir que os
no campo original de força ígnea e que olhos falassem e que os ouvidos vis-
pode ser definido como “vida”. Ora, esta sem, assim também houve épocas em
vida somente será completa quando que se viu, outras em que se ouviu e
existir a possibilidade de manifestação, outras ainda em que sentiram odor, e,
de renovação e de realização. Os anti- em muito pouco tempo virá a época,
gos simbolizaram este processo com o que se aproxima a grandes passos, em
triângulo ou a pirâmide. que a língua receberá a honra de expri-
Esta descrição clássica de um campo mir tudo o que antes já foi visto, ouvido
de força deixa ver claramente o símbolo e percebido pelo olfato. Depois que o
do círculo, do triângulo e do quadrado, mundo houver despertado do seu sono
que é o símbolo da Escola Espiritual da de embriaguez, bebido na taça envene-
Rosacruz Áurea. Com este símbolo, ela nada, o homem irá ao encontro do sol
dá a entender que coloca seus alunos nascente, ao raiar do dia, com o cora-
diante destes três aspectos, que for- ção aberto, a cabeça descoberta e os
mam uma perfeita unidade no interior de pés nus, jubiloso e transbordante de
seu campo de força. Círculo, triângulo e alegria.1
quadrado representam a totalidade do Esta profecia faz alusão à obra gnós-
campo de força com seu princípio cen- tica universal da Escola Espiritual da
tral, de onde se desenvolve o plano de Rosacruz Áurea em sua atual manifes-
manifestação. O quadrado de constru- tação, e que apresenta à humanidade a
ção é realizado e o triângulo de fogo do necessidade de um renascimento trípli-
novo campo de vida eleva-se a partir ce e fundamental. Para atingir este esta-
dele. do é preciso decidir firmemente libertar-
Este símbolo do campo de força indi- se do espaço e do tempo, do nascimen-
ca que a força divina desce na natureza to, da vida e da morte. Trata-
dialética ímpia como um campo cósmi- -se de um processo que se baseia nas
co sétuplo. É assim que a natureza dia- cinco atividades da Gnosis, mais do que
lética corrompida é captada pela luz: o nunca perceptíveis em nossa época.
zodíaco duodécuplo é aniquilado e um
novo firmamento magnético, um novo
céu e uma nova terra vão-se esboçan- EXISTEM CONDIÇÕES DE VIDA IDEAIS?
do. Os antigos rosa-cruzes diziam que
este campo de força manifestava-se de
setecentos em setecentos anos, a fim Em primeiro lugar, é preciso adquirir a
de conduzir os buscadores até o campo compreensão libertadora. Sobre esta
da luz. base nasce o anseio pela salvação, a
Deus já enviou mensageiros de sua aspiração ao restabelecimento da vida
vontade, as estrelas que surgiram em original. Este anseio é seguido pelo aban-
Serpentarius e Cygnus, os grandes sig- dono dos valores que determinavam a
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vida até este momento: é a auto-entrega. O HOMEM E A NATUREZA MORTAL
Depois deste adeus ao antigo eu, surge o
novo comportamento, que permite ao
candidato transformar-se interiormente e Comparado a este campo poderoso e
preparar-se para o novo nascimento. desmascarador de luz e de força liberta-
Com relação ao processo, as condi- doras, o homem não passa de um
ções de vida de muitos alunos não são “minutum mundum”, um pequeno mun-
as ideais: é por esta razão que podemos do, um microcosmos em interação com
indagar-nos quem está preparando o a natureza mortal. Este pequeno mundo
quadrado de construção; quem já se é fechado: para a alma é uma prisão
encontra no processo de renovação onde reinam a “vida” e a “morte”, pois aí
interior; quem já efetuou a renovação não se encontra o triângulo de fogo da
quádrupla de seus veículos material, possibilidade de libertação. Por esta
etérico, astral e mental; quem já domi- razão, este pequeno mundo tornou-se
nou completamente seus desejos, seus inativo, submetido à “vida” e à “morte”. O
pensamentos e seus atos, subordinan- fogo divino encontra-se recolhido ao
do-os à prática da nova vida; quem par- núcleo central e está sempre esperando
ticipa conscientemente do Trigonum o dia do novo nascimento, processo
Igneum, o fogo sobre o qual fala a descrito em todos os textos sagrados.
Fama Fraternitatis; quem já nasceu de Esta senda leva à formação da cons-
Deus, morreu em Jesus e ressuscitou ciência, ao desaparecimento dos limites
no Espírito Santo. Cada um tem o da antiga personalidade e à entrada no
dever e o poder de determinar onde se novo campo de vida. O símbolo do tem-
encontra. plo de Haarlem traduz este processo.
No fim do século XVI, Tobias Hess No decorrer da consagração deste tem-
percebeu que um novo fogo cósmico plo, em 20 de dezembro de 1957, Jan
surgia no céu. Neste fogo, ele viu um van Rijckenborgh disse o seguinte:
presságio do grande fogo cósmico que
começa hoje sua atividade na Era de Este signo simboliza os sete vezes sete
Aquarius. O fogo do Trigonum Igneum, raios do Espírito Santo Sétuplo que
como o chamavam os antigos rosa-cru- opera através de todos os tempos, em
zes, é o fogo dos planetas dos Mistérios: todas as esferas de nosso cosmo. A
Urano, Netuno e Plutão. Neste momen- força da Doutrina Universal, que confe-
to, ele envolve o cosmos, o mundo e a re ao Lectorium Rosicrucianum sua
humanidade para a necessária renova- autoridade e seus poderes, ativa este
ção interior. Quando os rosa-cruzes fala- campo de radiação sétuplo em seus
vam de sete dias de criação ou sete templos, o que significa que os sete
períodos em que surgia o Trigonum raios do campo de radiação do Amor
Igneum, eles tinham como objetivo nada divino estão manifestados e que agem
mais do que a manifestação da Frater- na alma de todos os que a ele se
nidade universal da Luz, que desce nas abrem. A estrela de cinco pontas, que
trevas para aí libertar as almas huma- se encontra no meio do emblema, pode
nas aprisionadas. É com esta finalidade ser considerada a estrela de Belém,
que foi edificado o Corpo-Vivo da Escola símbolo sagrado do nascimento de
Espiritual da Rosacruz Áurea atual. Este Jesus no buscador que, tocado pelo
corpo é, de fato, imortal, pois está liga- princípio do renascimento, prepara-se
do à corrente cósmica do fogo espiritual para percorrer o caminho estreito da
liberto da natureza da morte, o fogo regeneração. É neste caminho que ele
espiritual que penetra nas regiões do aprende a aprofundar-se no mistério
espaço e do tempo, como uma arca que que Jesus Cristo apresenta nesta era a
pode levar dentro de si as almas dos todos os que são sensíveis a ele e que
homens e conduzi-las à libertação. estão prontos para percorrer, efetiva-
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mente, a senda de retorno à Casa do uma placa de bronze onde se lia:
Pai, com todas as conseqüências que
lhe são inerentes. É por isso que a A.C.R.C fiz deste compêndio do Universo,
sabedoria e sua manifestação por meio em vida, um sepulcro.
de atos concretos são as característi-
cas do Lectorium Rosicrucianum. Em volta do primeiro círculo estava es-
crito:
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Símbolo da
Jovem Gnosis,
na entrada de
Renova.
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abertas poderão experimentar suas
bênçãos. Trata-se da força que confirma
a transformação, a renovação e a trans-
figuração de todo o sistema humano tão
danificado. “Do Egito chamei meu filho!”
Quem se encontra neste processo de
renovação forma com todos os que com
ele caminham um novo cosmos, um
novo elo da corrente da Fraternidade
Universal. Ele está integrado na corren-
te das Fraternidades da Luz, a fim de
desvelar o selo dos mistérios do círculo,
do triângulo e do quadrado, conforme a
lei de Deus.
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A GNOSIS VIVENTE DO SÉCULO VINTE
Nestes últimos dez anos, as idéias e vez maior de pessoas percebe, espon-
as ações da humanidade passaram taneamente ou depois de uma certa
por transformações bastante acen- manipulação, o que há por detrás da
linha que divide a matéria grosseira da
tuadas. Depois de uma onda de pro-
matéria sutil.
testos contra os princípios estabele- As religiões oficiais e a ciência apa-
cidos, muitos conceitos mudaram, rentemente seguem os fatos, apesar de
aumentando o abismo entre os idea- uma certa hesitação e não sem uma
listas e os homens de boa vontade, certa prevenção, para recobrarem um
pouco do brilho de sua antiga autorida-
de um lado, e, de outro, os materia-
de. Entretanto, elas já viraram a casaca
listas endurecidos, que não têm ou- já há muito tempo e reconheceram as
tro ideal senão o de conseguir cada dimensões invisíveis para compreender
vez mais dinheiro, bens e poder. o que agita o homem moderno e para
não perdê-lo de vista no decorrer de
suas explorações mais remotas. Eviden-
O homem atual vive em um século de temente também há negócios a serem
explorações extraordinárias. O mundo feitos neste novo mundo. Quem é hábil
exterior, assim como seu mundo interior, e sabe manipular as forças naturais que
o cativam. As pessoas de idade apenas acabam de ser descobertas ganha
sabem muito bem que, em sua juventu- muito dinheiro: é simplesmente inevitá-
de, a autoridade vinha do alto. O que o vel! Com esta evolução, o termo “seita”*
pai, a mãe, o professor, o teólogo, o tornou-se pejorativo. Geralmente, com
político ou o ministro diziam era lei. Era razão, pois as experiências no mundo
assim mesmo! etérico e astral podem acabar muito
Mas as coisas mudaram. Não somen- mal!
te a juventude atual nem se importa
com as autoridades, como manifestam
suas próprias opiniões. Ela quer ser seu PRELÚDIO OU ADVERTÊNCIA?
próprio guia e descobrir tudo por si
mesma. Ela se baseia em suas próprias
percepções e suas próprias experiên- E os rosa-cruzes, eles negam a exis-
cias, que, aliás, são muito bem alimen- tência deste novo mundo? Eles são
tadas pela mídia. A pessoa que antiga- contra às grandes perspectivas que este
mente via duendes e gnomos era consi- novo mundo oferece? Será que eles
derada como louca: ninguém falava com querem limitar as atividades do homem
ela, como se estivesse morta, e as moderno e dinâmico do século XX?
obras esotéricas eram geralmente tran- Será que eles querem amedrontá-
cadas a sete chaves nas bibliotecas. A -lo com regras e dogmas?
humanidade começa a entrar em um Nada disso! Qualquer pessoa que
novo mundo. Os exploradores que parti- vive conscientemente tem suas próprias
ram antes voltam com histórias fantásti- opiniões sobre tudo o que acontece no
cas. Os turistas do além são legiões. É mundo e é livre para expressá-las e
permitido falar sobre o que se viu, con- divulgá-las. Entretanto, achamos que a
versar sobre isto... e um número cada informação que o ser humano recebe
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atualmente carece de alguma coisa mem seja o produto do mundo que ele
muito importante: acreditamos que é mesmo criou! Todas as suas percep-
nosso dever esclarecer todas as pes- ções e todos os seus julgamentos são
soas receptivas, explicando a elas, por fixados a priori e não lhe dão nenhuma
meio da Doutrina Universal, o que está liberdade de movimento. Como sua
por detrás das transformações do mun- consciência foi formada na natureza e
do e do cosmo. Fazemos isto porque es- pela natureza, ele logo chega à conclu-
peramos que os leitores desta revista são de que falta alguma coisa em sua
Pentagrama poderão, assim, melhor de- vida, e que ele não consegue ir muito
terminar sua posição e fazer uma esco- longe. Assim, todos vão percorrendo um
lha motivada clara e conscientemente. círculo vicioso do qual já não podem
Há quarenta anos a Rozekruis Pers, sair. Para sair deste círculo é preciso um
em Haarlem, na Holanda, editou um outro impulso, que os rosa-cruzes cha-
livrinho que descrevia o desenvolvimen- mam de “Gnosis”.
to atual como uma conseqüência inevi- O conhecimento dos antigos gnósti-
tável da direção que foi tomada pela cos foi divulgado até em nossa época e
humanidade até esta época. Assim muitos especulam bastante sobre o que
como os rosa-cruzes do século XVII vem a ser o conceito de “Gnosis”.
advertiram seus contemporâneos quan- Entretanto, podemos certificar expres-
to aos acontecimentos presentes e futu- samente que a Gnosis não tem nada a
ros, por meio dos escritos de Johann ver com certos livros interessantes,
Valentin Andreæ, assim também, no novas idéias ou manuscritos apaixonan-
século XX, a Rosacruz Áurea vem fazer tes de tempos passados. Para os rosa-
o mesmo. -cruzes, a Gnosis é a força que é preci-
A humanidade faz uma viagem atra- so ser descoberta, que nos toca e nos
vés do Universo, que pode ser conside- liberta, como forma que emana da fonte
rado neste sentido como uma escola de original. Quem a vivencia um pouco,
aprendizagem do processo do verdadei- quem dela testemunha por escrito ou
ro devir humano: como o campo de tra- através da fala é considerado um gnós-
balho onde a humanidade se prepara tico. Uma pessoa como esta pode con-
para entrar novamente no processo da ceber idéias e imagens extraordinárias
criação original — portanto, se prepara e profundamente cativantes, mas nem
para o restabelecimento da realidade de por isso estas idéias e imagens consti-
antigamente, que existia antes que ela tuem a Gnosis. São um testemunho da
sofresse a queda na matéria.
*A palavra “seita” vem do latim “secare”, que
significa cortar. Esta palavra geralmente era
A VIDA É BUSCA, E A BUSCA empregada neste sentido para designar um
Durante o
FORMA A CONSCIÊNCIA grupo que se separou, com ou sem razão,
primeiro milênio
da religião reconhecida oficialmente. Esta
da era cristã, tendência para a separação existe em
o pavão muitas Por esta razão os rosa-cruzes dizem todas as religiões ou grupos ideológicos do
vezes simbolizava mundo inteiro. Geralmente trata-se de diver-
que, no coração humano encontra-se gências de interpretação da doutrina oficial.
o Cristo. Em
oculto um germe imortal que contém to- Em determinado momento, o grupo que se
outras tradições,
ele representava do o processo de restabelecimento do forma em torno de suas próprias concep-
também conceitos homem original. Assim, o ato de deci- ções separa-se da “antiga casa” ou da insti-
como imortalida- frar, da interpretação e da execução na tuição oficial. Este fenômeno sempre existiu
de, renascimento, prática deste plano formam a consciên- na história da humanidade e sempre foi
ou a intang bilida- aceito pelos regimes tolerantes. Mas, em
cia. Portanto, a consciência é a soma de
de da alma épocas de tensões políticas, tanto no pas-
(Manuscrito
toda uma série de experiências feitas sado como hoje, sempre se encontra um
espanhol, 945 durante a viagem de exploração através modo de fazer deles os bodes expiatórios e
d.C.). do Universo. Mas o trágico é que o ho- combatê-los.
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Gnosis, que é um fenômeno compará-
vel à eletricidade: ela é invisível, mas
nós a percebemos claramente por meio
de seus efeitos.
O toque da Gnosis é tríplice: ele
chama, esclarece e salva. Esta tríplice
atividade sempre acompanhou a huma-
nidade. Não é de modo algum um fenô-
meno novo, o achado de uma das teolo-
gias ou da política: de fato, ele é a única
realidade diante da qual a humanidade
se encontra.
O chamado da Gnosis sempre ecoou
para impulsionar os humanos a voltar
para seu campo de vida original. Este
chamado sempre foi explicado – geral-
mente de forma velada. Conduzir a hu-
manidade a um plano superior e libertá-
-la do reino da morte onde ela está mer-
gulhada é uma tarefa que jamais cessou.
Giordano Bruno (1548-1600), filósofo e O chamado ecoa em cada um: ele é forte
livre-pensador italiano. Em suas consi- ou fraco, percebido de maneira hesitante
derações metafísicas, atacou todas as ou como um poderoso impulso para rom-
autoridades que se basearam em dog- per com todos os laços. A voz dos porta-
mas. Estabeleceu que todas as manei- -vozes divinos pressiona e sempre se faz
ras de ver a vida dependem do lugar ouvir, apesar de nem sempre ser muito
em que a pessoa se encontra no bem compreendida; e sempre há uma
mundo, que a verdade absoluta é mão salvadora estendida, apesar de que
indescritível e que a verdade e a sabe- raros são os que a seguram.
doria não têm limites. Segundo ele, o Em nossa época tudo mudou: as coi-
mundo é composto de elementos indis- sas tomaram um novo rumo, uma nova
sociáveis que obedecem a leis do corrente vai crescendo e é possível se-
Universo. Para ele, Deus está em todas gui-la. A humanidade está sendo convo-
as coisas e todas as coisas estão em cada para descobrir em si mesma esta
Deus. Conseqüentemente, seus con- nova corrente; ela é explicada e os re-
ceitos influenciaram inúmeros filósofos sultados são mostrados.
– particularmente Leibniz e Spinoza.
Por ter idéias heréticas, teve de deixar
a Ordem dos Dominicanos, em 1576. A TENDÊNCIA A INTERROMPER
Voltando a Veneza, foi julgado por A QUEDA E ESCAPAR DELA
heresia e queimado vivo em 1600.
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Vivemos em tempos agitados. E, em filhos não a compreenderem. Afinal, ou
meio a toda esta agitação, quando to- eles estão em luta uns contra ou outros
dos os princípios se desfazem e quando ou então se dão tapinhas nas costas
surgem novos valores, é preciso que o uns dos outros, mas jamais procuram
homem moderno continue em pé e vi- dentro de si mesmos a causa de seus
vencie suas provas. Mas como ele pode males.
fazer isto se ele não sabe de que se tra- Esta causa está dentro do próprio
ta nem para onde vai o mundo? homem, no campo de vida que está
Em 1995 aconteceu na Alemanha um submetido à morte. Mas, sobretudo, no
simpósio onde um dos temas era: o de- fato de se comprazer com a situação, de
senvolvimento simultâneo da consciên- se acomodar, de tentar adaptar-se a ela
cia e da imunidade, tendo como base o e de estar sempre reconstruindo as coi-
autoconhecimento e o conhecimento de sas para esconder um pouco a infelici-
um possível adversário. Para poder de- dade atrás da porta ... onde ele tenta
fender-se, um sistema deve contar com fechar todos os medos e sofrimentos.
o autoconhecimento a fim de poder re- Em meio a todas estas tentativas, a
conhecer as influências que possam Gnosis o arrebata. Ela toca seu cora-
atacá-lo. Se um sistema não se conhe- ção, seu ponto mais sensível, onde está
ce, é incapaz de situar o inimigo e se inscrito o plano completo do futuro divi-
destrói. É lógico e justo; mas, ao mesmo no. Este toque lhe faz mal porque lhe
tempo, é a causa do enfraquecimento e mostra que ele está sempre no caminho
da degeneração da raça humana. Afi- errado. Ora, ele não quer nem saber
nal, quando um ser humano já não co- disto! Enquanto isto, o caminho certo
nhece a finalidade de sua vida, ele tam- lhe é indicado, a senda que consiste em
bém não sabe quem são seus inimigos. aniquilar a fonte de todos os males, a
Portanto, ele não sabe nem como se de- senda pela qual se chega à nova Vida,
fender nem como escapar. onde a doença fundamental e sua exis-
tência e a morte já não vigoram.
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FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA HUMANA
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mas sim que ele impôs-se como
“Na mais alta antigüidade, o povo sa- senhor dentro do sistema humano.
bia somente que os príncipes existiam. Como aconteceu este processo?
Depois da ligação entre o microcosmo
O povo amou e louvou os príncipes e a entidade que o habitava, parecia
que se seguiram a eles.Os que os que faltava algo muito importante a
sucederam, o povo temeu.. esta entidade: o princípio diretor que
até este momento havia determinado
E os que o seguiram, o povo sua conduta. Antigamente, a humani-
desprezou. dade era dirigida por forças espirituais,
que velavam para que ela atravessasse
Quem perde a confiança no outro todas as etapas de desenvolvimento
já não conta com sua confiança. necessárias para que nascesse uma
personalidade autônoma capaz de
Os antigos eram lentos e graves em consagrar-se inteiramente ao restabe-
suas palavras.Quando eles tinham lecimento da unidade entre o Espírito
feito tudo prosperar e haviam termi- divino, a alma e o corpo terrestre. Logo
nado suas tarefas, que esta personalidade estivesse
constituída, os guias deste processo
o povo dizia: “Aqui estamos, por deveriam retirar-se, a fim de acelerar a
nós mesmos.” independência do homem, assim como
(Citação do Tao Te King, “A Gnosis os pais dão a liberdade a seus filhos
Chinesa”, capítulo 17, Jan Van Rijckenborgh, para que eles possam tornar-se com-
Rozekruis Pers, Haarlem, Holanda, 1992) pletamente adultos.
Entretanto, o guia interior do homem,
o princípio divino situado no centro do
microcosmo, ainda não havia desperta-
outros. Nem os minerais, nem as plantas, do. É neste estágio transitório que
nem os animais dispõem de um sistema foram-se desenvolvendo as religiões.
tão aperfeiçoado. É por isso que estas Os sacerdotes, que ainda eram envia-
formas de vida são ativadas e conduzi- dos divinos, ensinavam aos homens a
das por impulsos exteriores. Neste con- respeito de sua origem e sua missão, e
texto, falamos de forças diretrizes da assim foram surgindo, pouco a pouco,
natureza, ou de espíritos-grupo. A cons- alguns grupos preparados espiritual-
ciência individual desenvolveu-se no mente para cumprir esta missão. Mas os
decorrer do tempo, em ligação direta dirigentes terrestres intervieram ao
com o desenvolvimento dos corpos sutis mesmo tempo, querendo conduzir os
e do processo de concentração destes homens, muitas vezes convencidos de
corpos ao redor de um único núcleo. É que eles também eram enviados divi-
somente no final desta fase construtiva nos! Era um grande perigo, pois o
que o homem começou a tornar-se cons- homem deste período já possuía um
ciente de sua própria existência, a fim de corpo de desejos. Desta forma, ele era
poder aprender a discernir e a cumprir capaz, com a ajuda de seu enorme
seu papel no interior do microcosmo. poder mental, de manipular seus dese-
jos egocêntricos como bem entendesse.
Assim, esta humanidade jovem aca-
A SEGUNDA QUEDA bou perdendo a proteção dos verdadei-
ros guias espirituais. Já não contando
com seus bons exemplos, ela foi sofren-
Os textos esotéricos nos ensinam do completamente a influência dos diri-
que o homem não se tornou um servi- gentes terrestres e dos sacerdotes que
dor, um instrumento do microcosmo, estavam submetidos a eles. Como a
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acumular conhecimento e experiências
exotéricas, mas sim de tirar a única con-
clusão correta de todas essas experiên-
cias. Como “Deus não deixa perecer a
obra de suas mãos”, sempre houve, em
todas as épocas, assim como existem
em nossos dias, forças divinas atuantes
para sustentar a todos os que desejam
chegar a ele pelo caminho da luz.
O processo de devir dos seres huma-
nos aconteceu há muitos milhões de
anos, paralelamente ao processo de de-
senvolvimento da terra, pois foi também
preciso criar para estes seres um
campo de vida, onde pudessem habitar
e vivenciar experiências como instru-
mentos do microcosmo. Todo este pro-
cesso deve desenrolar-se em um espa-
ço de tempo inconcebível para a cons-
ciência humana. A paleontologia ape-
nas evidencia uma parte deste proces-
so, pois os homens desta jovem huma-
nidade durante muito tempo não possuí-
ram corpo material e a terra ainda não
possuía uma forma sólida. Deste perío-
do, nada foi encontrado.
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AS METAMORFOSES DE KUNDRY
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Parsifal, Galaad culo XVII, está escrito: ...porém, lá teve
e Bors desco- de permanecer devido a dificuldades
brem o Graal corporais e — granjeando a simpatia
(Manuscrito
do século XV,
dos turcos por conta de seus conheci-
Biblioteca mentos de medicina — ouviu casual-
Nacional, Paris). mente falar sobre os sábios de Damcar,
na Arábia, dos milagres que faziam e
que toda a Natureza lhes estava desve-
lada. Christian Rosenkreuz escreve, na
Arábia, o Livro da Humanidade, onde
ele registra toda a cosmologia da natu-
reza tal como ela lhe foi revelada.
Quando Kundry traz da Arábia o bál-
samo para curar Amfortas, ela também
traz o conhecimento dos segredos mile-
nares do passado. O ser aural possui
este conhecimento, mas, no século XX,
ele já não tem nenhuma força libertado-
ra. Isto surge no momento em que
Kundry revela a Parsifal que seu pai,
O EVANGELHO DA PISTIS SOPHIA* Gamuret, morreu em um combate na
Arábia. Desta forma, ela quer significar
A Pistis Sophia diz para si mesma: que o passado está morto e que, pren-
“Quero descer a esta região, der-se às coisas do passado não ofere-
sem o ser que me ligou, e tomarei ce nenhuma perspectiva. É preciso abrir
esta luz para dela formar um eão uma nova senda iniciática levando em
de luz para mim mesma; assim conta as possibilidades que valem para
estarei em tal estado que poderei a época atual. Entretanto, Kundry nada
transportar-me até a Luz das Luzes pode fazer com estas novas possibilida-
que se encontra na mais alta das des, que só podem ser utilizadas por
alturas. uma alma pura e renovada, ou seja um
Enquanto assim refletia, ela Parsifal.
saiu de sua região, que era o No primeiro ato, Gurnemanz assinala
Décimo-Terceiro Eão, e desceu outros aspectos de Kundry:
rumo aos doze eões. Todos os
arcontes dos eões, furiosos contra Sim, muitas vezes, quando ela
ela, a perseguiram, pois ela trazia ficou longe por muito tempo, nos
consigo a idéia de uma grande glória. sobreveio a infelicidade.
Enquanto isso, ela também deixou
os doze eões, chegou às regiões No segundo ato, a causa de sua ausên-
do caos e aproximou-se da cia é evidente. Klingsor mandou chamá-
força-luz com cabeça de leão para la e a mantém prisioneira para exercer a
absorvê-la, mas todas as emanações sedução no jardim encantado.
materiais de Authades a envolveram
dentro de um círculo. A grande Vem, vem cá, chega perto de mim!
força-luz com cabeça de leão Teu mestre te chama, inominável
engoliu toda a força-luz de Sophia e deusa demoníaca das origens!
tirou dela toda a posse de sua luz, Rosa do inferno! Foste
que ela devorou.” Herodíade, e o que mais ainda?
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segunda núpcias. Quando João Batista tar fazer dele sua vítima. Com sua malí-
a acusou por esta razão, ela mandou cia habitual, ela dirige seu ataque para
decapitá-lo. Assim, Kundry é desmasca- o ponto fraco da personalidade de
rada: é a força da natureza corrompida Parsifal: ela se lamenta pela morte da
que, por sua violência, constrange João mãe dele, Herzeleide, e o culpa por tê-
Batista, “aquele que clama no deserto”, -la abandonado um dia. O plano parece
a calar-se. Sob sua influência, o ser dar certo. Ela desperta em Parsifal um
humano é arrastado através do oceano sentimento de culpa que poderia torná-
da vida dialética, abandonado, desar- -lo receptivo a novas investidas. É a táti-
mado, à ilusão astral da natureza da ca clássica do ser aural, que se esforça
morte. para enlaçar a personalidade. Vencido
No segundo ato, no jardim encantado pela tristeza, Parsifal acaba caindo aos
de Klingsor, acontece o inevitável pés de Kundry, que age como se fosse
encontro entre Kundry e Parsifal. Esta a mensageira de Herzeleide, simulando
cena dramática faz lembrar a tentação querer consolar Parsifal e ensinar-lhe o
A visão de Parsi-
de Jesus no deserto, quando Satã lhe que é o amor. Seu beijo deve dissipar fal. Ele contem-
promete poder, fama e riqueza. Jesus seus sentimentos de culpabilidade. pla o Leão com
não cede e Satã se retira. a Ekklesia,
Na ópera de Wagner, Parsifal anda Como último adeus de tua mãe, símbolo da
nova vida que
entre as moças-flores que estão sob o eu te ofereço agora o amor e um
confere o Amor
poder de Klingsor. Seu coração puro o primeiro beijo divino. Atrás de-
preserva de seus artifícios e seduções. le encontra-se
Mas, depois de ter resistido a esta ten- Parsifal está como enfeitiçado e deixa- o dragão do
tação, ele encontra Kundry, a personifi- -se enganar. O beijo de Kundry, entre- Apocalipse, ima-
gem da humani-
cação de seu ser aural, seu “guardião tanto, não abre em seu coração puro as
dade decaída
do umbral”. Ele consegue resistir a sua comportas astrais do desejo, mas sim (França, manus-
fervilhante beleza, mas Kundry abre os olhos de seu coração. Como um raio, crito do século
todo o arsenal de seu charme para ten- ele tem a visão do trágico destino de XIV).
Amfortas, o rei do Graal, e percebe a pertar, ele é capaz de resistir a seus
causa de todo o sofrimento do mundo. ataques. Simultaneamente, ele abre seu
Mas ele também vê a graça que oferece ser ao sofrimento do Salvador e ao
o caminho de libertação. Amfortas! O desejo dos Cavaleiros do Graal de um
ferimento! Pena cruel! clama ele, com dia serem salvos. E, depois de ter tenta-
os olhos já abertos. Ele se livra dos bra- do fazer com que Kundry compreendes-
ços de Kundry antes que ela possa se que a missão que ele realiza também
arrastá-lo para mais longe. Pela compai- significa a libertação dela, Parsifal
xão ele recebeu o conhecimento e que- clama:
brou a magia de Klingsor! Quanto a
Kundry, seu encontro com uma alma Desaparece, infeliz tentadora!
pura fez com que ela fizesse um bem,
ainda que involuntariamente. Ela se Mas ela não vai embora sem antes lhe
debate, esbraveja, suplica que ele tenha dizer:
piedade dela, mas todos os seus esfor-
ços são vãos. Sabes onde podes encontrar-me!
20
do Graal. No final da história de Parsifal, da matéria: primeiro dentro de si mesmo,
parece que a senda da libertação da mas logo em seguida também na nature-
alma não passa pela unificação da per- za que o rodeia. Tocado pela força gnós-
sonalidade com o ser aural, nem pelo tica, ele começa sua busca e seu cami-
apaziguamento dos conflitos cármicos nho o leva, através da busca e da purifi-
no eu superior. É exclusivamente pela cação, a servir a Gnosis de forma verda-
abnegação e conseqüentemente pela deira e consciente.
rejeição às forças aurais que o novo Wagner mostra estas três etapas do
poder da alma vai-se desenvolvendo, caminho de Parsifal nos três atos de seu
permitindo que ela retome a posse da drama musical. Na narrativa primitiva,
lança: o Espírito. As janelas da alma que os Cavaleiros do Graal se encontram
davam para o jardim encantado de em uma situação infeliz depois da
Klingsor agora já estão fechadas, queda de Amfortas. Será que não existe
enquanto se vão abrindo outras para nenhum cavaleiro capaz de assumir a
deixar entrar o novo sol em ascensão, realeza no lugar de Amfortas? Por que
cujos raios consomem e dissolvem os esta escolha recai sobre Parsifal?
restos da herança cármica do microcos- A resposta se encontra no primeiro
mo. Kundry recebe o batismo: ela está aspecto de seu nome. Os cavaleiros que
instruída para sempre quanto a sua rodeiam Amfortas são os homens-
vocação humana. Ela, a quem somente -almas que ainda não têm nenhuma
Parsifal, o “tolo”, o puro, tinha o poder de experiência pessoal, que, por causa
trazer a salvação. disso, não sabem ainda empregar seu
livre-arbítrio. Sua pureza é essencial-
mente inconsciente: eles são inaptos
O CAMINHO DE PARSIFAL para exercer a realeza. Amfortas possuía
as qualidades requeridas, mas deixou
que sua vontade seguisse um ato ímpio.
O nome Parsifal designa não somen- Somente Parsifal pode agora preen-
te o personagem principal da narração, cher as condições para assumir a reali-
mas também representa o protótipo do za do Graal. Ele possui um grande te-
homem que realiza o caminho do de- souro de experiências no mundo dialéti-
senvolvimento e da libertação espiritual. co, e manteve sua pureza original e seu
Neste sentido, sua imagem pode ser coração sempre aberto.
comparada à de Christian Rosenkreuz,
o símbolo do homem que deve seguir
seu caminho em novas condições at- AQUELE QUE NÃO TEM NOME
mosféricas.
A palavra Parsifal tem dois sentidos
diferentes: par ce vale, que significa pelo Entretanto, este tesouro de experiên-
centro e também fal parsi, que significa cias não está simplesmente à disposi-
puro tolo. Estas duas interpretações são ção e pronto. Ao contrário: no primeiro
adequadas. Parsifal é o protótipo do ho- ato, ele é apresentado como uma pes-
mem que deve vagar em meio à natureza soa estúpida e ignorante. Além do mais,
dialética, acumulando muitas experiên- ele comete o erro escandaloso de matar
cias. E, na qualidade de “tolo” e “puro”, ele um cisne com uma flecha. Ora, o cisne
tem o poder de voltar para o reino do é o símbolo do Espírito e um pássaro
Graal enquanto está a caminho. Final- sagrado no reino do Graal! Por isso,
mente ele torna-se o rei iniciado, o prote- Gurnemanz pergunta a ele por que fez
tor e realizador dos Mistérios. É o homem isso e fica desconcertado com sua falta
que está pronto para deixar o mundo do de jeito. Parsifal não consegue respon-
espaço-tempo. Por sua reminiscência, ele der a nenhuma pergunta. Ele nem se-
pode ajudar a libertar o Espírito da prisão quer consegue dizer seu nome! “Eu não
21
O que é o me lembro de nenhum!” Esta é uma alu- reza dialética. Suas ações geralmente
Graal? Nenhuma são às inúmeras personalidades que se não têm um motivo e aparentemente
palavra pode foram sucedendo em seu microcosmo. ele segue em frente, sem rumo na vida.
explicá-lo. Mas
quem o encontra,
Elas já estão todas mortas e esqueci- E, quando tenta conformar-se com as
capta sua mensa- das. É somente quando Kundry conta a normas deste mundo, que lhe é estra-
gem (Ilustração respeito de sua juventude que ele se nho, não consegue. Seus relaciona-
Pentagrama). lembra de alguma coisa de seu passado mentos com os outros são superficiais
microcósmico. Ele vê como tornou-se ou cheios de frustração e de oposição.
culpado de crueldade e joga longe seu Este distanciamento do mundo exte-
arco e suas flechas. Jamais ele voltará a rior assinala o homem que busca a Ver-
caçar um cisne. dade. Mas esta condição dolorosa é ne-
Da descrição de sua juventude, sabe- cessária para que seu desejo de voltar a
-se que ele viveu vagando aqui e ali, em seu estado original vá-se tornando cada
completa inocência e simplicidade. Ele vez mais evidente.
não sabe o que é o bem ou o mal, e No começo, o buscador não compre-
pergunta a Kundry se é ameaçado por ende nada sobre seu estado. Ele não
forças malignas. Ele teve uma vaga sabe responder à pergunta sobre sua
idéia de tornar-se como “estes homens origem, e ignora para onde seu cami-
faiscantes, sobre seus belos cavalos” nho o conduz. O átomo-centelha-do-
que um dia havia visto de passagem. -espírito despertou em seu coração, é
Mas, até este momento, ele não teve verdade, e tornou-se uma pequena
esta chance e é por isso que não ficou chama sob o toque da força divina. A
em nenhum lugar por muito tempo. origem, o caminho e a finalidade estão
Quem se encontra nesta fase do pro- presentes neste átomo, sem entretanto
cesso não pode, de fato, continuar por estarem à disposição da antiga cons-
muito tempo em nenhum lugar da natu- ciência.
22
O GUIA INVISÍVEL seu caminho de autoconhecimento. To-
dos os dias ele se vê frente a frente com
suas esperanças e desejos, e sente que
Parsifal deixou-se guiar inconsciente- lhe está sendo despojado de sua força-
mente por seu átomo-centelha-do-espí- luz. É então que ele aprende lenta mas
rito, que finalmente o conduziu ao reino firmemente a afastar estas influências,
do Graal. O que se espera dele necessita evitando dar-lhes atenção.
uma consciência que tenha autoconheci-
mento, mas ele ainda não a possui.
Gurnemanz o conduz ao interior do cas- A VISÃO CLARA
telo do Graal, onde ele toma parte, cheio
de espanto, na cena solene no decorrer
da qual Amfortas desvela o Graal. Apesar Então acontece o encontro decisivo
de já ter fixado sua missão de salvador, entre Parsifal e Kundry. Também é a pri-
Parsifal ainda não pode realizá-la. A igno- meira vez que o nome de Parsifal é pro-
rância e a falta de qualidade alma não o nunciado. Isto significa que ele se torna
permitem. À pergunta de Gurnemanz so- consciente de si mesmo. Mas, como po-
bre se ele sabe o que vê, ele menea sua de ser que este “tolo”, este “puro”, pos-
cabeça e não pode responder. Ele nada sa ver seu “eu superior” e como ele po-
compreende do sofrimento de Amfortas, de sentir o sofrimento de Amfortas
nem sobre a oferenda do Graal ou a ceri- como se fosse seu próprio sofrimento?
mônia que se passa diante de seus olhos. A própria essência de todas as expe-
É por isso que ele deve deixar o reino do riências vividas pelos moradores ante-
Graal e voltar à vida comum. riores de seu microcosmo está presente
A mesma coisa acontece a muitos no ser aural. Portanto, é compreensível
buscadores da verdade. E isto provavel- que aquele que segue o caminho possa
mente no decorrer de inúmeras encar- atingir, num certo momento, o ponto em
nações. É verdade que eles percebem o que o habitante precedente parou: é
chamado da centelha-do-espírito, mas neste lugar que a senda de libertação
eles não são capazes de responder a foi interrompida, e o sofrimento que re-
ela conscientemente. Para tanto, é pre- sultou disto ficou gravado no ser aural.
ciso ter um coração puro e uma perso- Os personagens do Parsifal, de Wagner,
nalidade que já tenha atingido o limite não devem, portanto, ser considerados
de suas possibilidades. Afinal, quem como personalidades diferentes, mas
busca deve aprender a causa do sofri- como aspectos do próprio Parsifal. Da
mento e o que ele deve ou não deve fa- mesma forma, Amfortas pode ser visto
zer para libertar sua alma prisioneira. como a personalidade que precedeu a
A fim de adquirir esta consciência, o atual personalidade de Parsifal, mas
caminho o conduz ao jardim encantado também como o primeiro homem a ser
de Klingsor. Nem bem Parsifal deixa o vítima de Kundry. Neste caso, ele repre-
Castelo do Graal e já chega a este jar- senta o átomo-centelha-do-espírito, que
dim onde as moças-flores giram em tor- sofre e espera dentro do coração. No
no dele forçando-o a ficar. E Parsifal faz confronto entre Parsifal e Kundry, a ex-
gracejos circulando entre elas. Mas, co- periência de Amfortas estava, portanto,
mo elas não param de movimentar-se, potencialmente presente. Amfortas tam-
ele quer fugir e diz com humor: bém foi, por sua vez, seduzido por Kun-
dry, pois, como ainda era ignorante, ele
Deixem-me, vós não me fareis reagiu espontaneamente às forças da
cair em vossa armadilha! natureza. E o sofrimento de Amfortas é
despertado em Parsifal pelo beijo de
Assim, ele faz alusão aos desejos co- Kundry. A compaixão lhe faz reconhecer
muns que todo ser humano encontra em o perigo, e ele tem a força de resistir às
23
seduções da natureza personificadas
por Kundry. E, quando Klingsor atira-lhe
a lança na cabeça, ele tem o poder de
segurá-la sem perigo e já pode deixar o
jardim encantado para pôr-se a caminho
em busca do Castelo do Graal.
O REI DO GRAAL
24
FELICIDADE E SOFRIMENTO
25
no dentro dele e que por isto torna-se
presa fácil do sofrimento.
A VERDADEIRA FELICIDADE
26
O VERDADEIRO AUXÍLIO
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cer de todo o seu coração: um auxílio cuida bem em que ele não renasça
verdadeiro! Então, ele se pergunta de- da morte.3
sesperadamente o que deve fazer. Con-
tinuar? Isto não serve para nada. E, de- E muitas outras exortações vão-se se-
cepcionado, com o coração sempre guindo. Então, ele se põe corajosamen-
cheio do desejo justo de pôr fim ao sofri- te a trabalhar e tenta colocar em prática
mento dos outros, este buscador entra todos estes conselhos. Ele se exercita.
na fase seguinte de sua busca. Ele tenta matar todos os seus desejos.
Enquanto vai refletindo profundamen- Se ele quiser “verdadeiramente auxi-
te no problema do sofrimento, ele pega liar”, a semente deverá germinar e a flor
novamente A Voz do Silêncio. Ele relê a deverá desabrochar! Enquanto isso, de-
mesma passagem, mas, como se sente pois de muitas decepções, ele vai per-
mais rico com uma nova vivência, ele a lê cebendo que é impossível matar seus
com outros olhos e vai compreendendo próprios desejos.
pouco a pouco o que se espera dele. Ele
acredita que chegou ao fundo do proble- Mais uma vez desiludido, mas enrique-
ma, acha que o captou e o compreende. cido com um novo conhecimento, ele se
encontra em seu ponto de partida: ele
Então ele lê: continua incapaz de auxiliar verdadeira-
mente os outros! Apesar disso, ele ain-
Estas lágrimas, ó tu de coração tão da não perdeu este desejo. Neste mo-
compassivo, são os rios que irrigam mento ele se pergunta se não há algu-
os campos da caridade imortal. ma coisa errada nesta recomendação:
É neste terreno que cresce a flor mata o desejo!. No entanto, está bem
noturna de Buda, mais difícil escrita e é bem isto o que ele quer!
de achar, mais rara de ver do que Ele não desiste. E a força de seu de-
a flor da árvore Vogay. sejo justo lhe faz encontrar outras pes-
É a semente da libertação do soas e ler outros livros. Ele compreende
renascer. Ela isola o Arhat tanto de repente que todos os seres huma-
da luta como da luxúria, nos, há séculos, lutam para resolver os
leva-o através dos campos do ser mesmos problemas, individual e coleti-
para a paz e a felicidade vamente. Mas, como esta semente pode
que só se conhecem na terra do germinar? Como a flor vai nascer para a
silêncio e do não-ser. 2 vida? O que fazer? Como matar seu de-
sejo? O que é o desejo? Ele vai perce-
Perseverando em seu desejo de com- bendo que há séculos as mesmas dire-
preender como auxiliar “verdadeiramen- trizes são dadas para resolver estas
te” a seu próximo, a idéia de que algu- questões: são idéias universais com ex-
ma coisa vai acontecer interiormente pressões que só diferem de acordo com
vai amadurecendo dentro dele. Uma as épocas e os países. Ele descobre o
semente deve germinar dentro de seu Baghavad Gita, o Tao Te King, de Lao-
coração: a semente de um renascimen- Tse, a Bíblia, a Fama Fraternitatis.
to, que é a libertação! Mas para que
este crescimento aconteça, ele deve Nesta última obra, ele lê:
desaparecer, apagar-se. Enquanto isso,
uma nova questão se coloca: como O desejo é uma força que não é deste
poderemos renascer? O que devemos mundo e esta força somente pode rea-
fazer para que isto aconteça? lizar-se em um reino que não é deste
mundo. uma força que preenche nosso
E ele lê: sangue, nos acossa dia e noite, até
que cheguemos de maneira absoluta,
Mata o desejo; mas se o matares, mas tão absoluta, ao ponto morto em
28
vós mesmos. É somente então que
poderemos ir buscar o segredo da sal-
vação. 4
Aquele que se encontra nesta busca,
encontra a resposta para suas indaga-
ções. Ele reconhece que a força do de-
sejo está oculta, fortemente enraizada
dentro de cada ser humano. Ele reco-
nhece que é esta força que o arrastou e
que o desejo vai em todas as direções,
tanto para baixo como para cima. A Voz
do Silêncio lhe fala da flor maravilhosa.
Ele aprende como colocar em prática as
recomendações seculares da Doutrina
Universal. Os Mistérios crísticos vão se
desvelando diante dele, assim como di-
ante de todos os homens que já estão
prontos. Ele sabe que, para ele, já che-
gou a hora.
Dando uma olhada para trás, no ca-
minho percorrido, ele vê o desenvolvi-
mento de sua busca, suas tentativas, e
a finalidade de todos os seus esforços.
Não era preciso chegar ao limite de su-
as possibilidades para só depois passar
à fase seguinte? E, chegando a este li-
mite, ele que buscou e experimentou de
tudo, percebe que está sendo auxiliado
para “auxiliar de verdade” os outros. Ele
vê claramente sua tarefa diante de si.
Se estiver pronto e for capaz de mor-
rer para seus desejos primários aniqui-
lando-se em Cristo, então um milagre
mágico acontece.5
E ele sabe que está pronto. E ele sa-
be que está em condições para tanto.
Cheio de confiança, ele se abandona ao
mistério crístico para ser transformado e
poder, enfim, levar aos outros o “verda-
deiro auxílio”.
29
O QUINTO ÉTER, O ÉTER ELÉTRICO
31
dos outros campos. A força associada rais e cristalizam as formas, tendo como
ao núcleo está, desta forma, aprisiona- característica a dureza. Particularmente
da no interior de seus próprios limites. A no homem, vemos claramente que o
estrutura bem conhecida dos átomos corpo físico tenro e suave vai-se endu-
nos dá uma clara ilustração. Não há ne- recendo em uma forma frágil, como se
cessidade de demonstrar que no interior fosse um pergaminho enrugado, escle-
destes limites estão presentes forças rosado.
consideravelmente poderosas – como
no átomo. Neste primeiro campo de vida, o Espí-
Todas as formas perceptíveis pelos rito Santo concentra a substância pri-
sentidos estão limitadas, apresentando mordial. Neste campo, não há absoluta-
um lado exterior que marca seu limite mente nenhuma forma[...] Neste primei-
com as outras formas. É assim que se ro campo de vida, trata-se de reunir e de
apresenta a realidade cotidiana para a concentrar a substância primordial. O
maioria dos humanos: quase unicamen- núcleo de consciência deste campo de
te pelo lado exterior das coisas; quanto vida tem a tarefa de dar a esta massa
ao que se encontra em seu interior, eles uma característica que lhe seja própria,
somente podem especular. Quem con- uma vibração própria[...] Pelo éter quí-
segue penetrar o lado exterior, logo des- mico, dá-se um processo de assimila-
cobre que o pretenso lado interior tam- ção de matéria e de força e a introdução
bém comporta lados exteriores! em um campo vibratório, graças ao qual
A “vida” terrestre não passa de ten- a idéia subjacente, a forma final, já co-
são e se mantém por tensão. Quatro é- meça a despontar fracamente, como
teres tomam parte neste processo: o uma imagem.*
éter químico, o éter vital, o éter de luz e
o éter refletor. Podemos demonstrar que
estes éteres estão em um estado de su- O ÉTER VITAL
jeira e de corrupção.
Cada um destes quatro éteres dá pro- O segundo éter, ou éter vital, conce-
priedades e poderes importantes aos de, entre outros, o poder de criação ou
reinos naturais em que ele se manifes- de reprodução. O homem emprega uma
ta. Por exemplo, o crescimento material; parte desta energia, por exemplo, para
a criatividade, o impulso criador, a re- exprimir-se pela fala ou pela escrita, pe-
produção; as percepções sensoriais e a la música, arquitetura, artes plásticas,
formação dos pensamentos conscien- enquanto que uma outra parte serve pa-
tes. O éter químico assegura, entre ou- ra a conservação da espécie.
tros, o processo de crescimento biológi-
co e o metabolismo, onde os processos Por outro lado:
de assimilação e de eliminação desem- Ora, a atividade do éter vital aconte-
penham um papel importante. E é o éter ce no interior dos reinos da matéria, co-
químico que mantém as diversas for- mo uma atividade quase sempre limita-
mas específicas. da à manutenção e à reprodução, em
vez de se manifestar de acordo com o
Por outro lado: plano divino com suas miríades de as-
Em vez de agir sobre a substância pectos. O princípio específico é reduzi-
primordial de acordo com o plano divino do a uma forma a mais pequena possí-
de manifestação, a atividade do éter vel, a semente ou óvulo, que, uma vez
químico corrompido provoca a cristali- reunidos, fazem surgir uma nova crista-
zação da natureza terrestre. Pressão e lização. Podemos observar este fenô-
tensão se exercem para começar sobre meno na individualização de quase to-
uma partícula, fazem nascer os mine- das as manifestações vitais.
32
No segundo campo de vida, ter de luz mostra as sutilezas de suas
vemos como se desenvolve um percepções sensoriais, por projeção,
poder de expansão e de diferenciação das cores de suas experiências passa-
autônoma, sobre a base da das e de suas esperanças pessoais. A
concentração de substância primordial luta é necessária para que ele sobrevi-
obtida no primeiro campo de vida. va. Ela aquece o sangue e o coração.
O núcleo de consciência do segundo
campo de vida confere ao material A idéia que está na base Plano de
concentrado e que está agora criação microcósmica formava, no
presente, a vibração que ele deseja, primeiro campo de vida, a unidade do
e esta vibração pode novamente devir. No segundo campo, a Idéia
diversificar-se. A unidade característica desenvolve a riqueza de aspectos
do primeiro campo de vida contida nesta unidade. No terceiro
torna-se uma multiplicidade ilimitada campo de vida, vemos esta riqueza
no segundo[...] Assim vai-se de vida em evolução revelar-se,
desenvolvendo, no quadro do plano anunciar-se como um calor, um brilho,
divino, a possibilidade de manifestação um fogo, uma luz sempre crescente...
de cada forma autônoma[...] No O desejo silencioso, o calor vital que
segundo campo, a Idéia recebe sua se desenvolve no terceiro campo de
cor. Aí se opera uma ligação entre vida é um desejo sem avidez, é um
os materiais de construção e as forças desejo que emana de cada átomo em
vitais; as forças vitais que aí se direção ao objetivo de servir, para aí
derramam fazem surgir um raio de luz perder-se inteiramente com alegria.
que se revela como cor na multiplicida- É um fogo que arde tranqüilamente
de das diferenciações.* diante da face de Deus, uma luz
santa.*
O ÉTER DE LUZ
O ÉTER REFLETOR
33
sagrado, se revela como um fogo, uma É impensável que a sociedade dos
luz, em sua riqueza da concentração países industrializados possa passar
da matéria primordial, liga-se, no sem a eletricidade. Ora, o uso desta for-
quarto campo, à Sabedoria divina. ma de energia parece colocar cada vez
Guiada pelo núcleo de consciência mais distância entre o homem e a maté-
deste campo, ela está totalmente unida ria.
à sabedoria do Plano divino. O campo
de trabalho em toda a sua extensão é • O homem cria instrumentos que ser-
percorrido pela Sabedoria divina: ela vem para prolongar, completar ou su-
está presente em cada partícula da bstituir seus sentidos.
esfera; o núcleo de consciência capta • Em todos os tipos de trabalho, o mo-
a intenção, a missão interior de cada tor elétrico substitui suas capacida-
elemento, de cada nuança vibratória... des pessoais e sua força.
O próprio Deus aí se reflete totalmente, • Com a luz artificial e o relógio, ele re-
contemplando-se a si mesmo em sua gula seu ritmo de acordo com suas
criação: o homem em formação.* necessidades e sua vida já não é de-
terminada pelo ritmo da natureza.
• Com o computador, ele cria sua pró-
O QUINTO ÉTER pria realidade, qualificada de “realida-
de virtual”.
34
capaz de transportar a informação. O neste quarto campo, em que o
som, a imagem, são transformados equilíbrio ainda não foi estabelecido
em impulsos elétricos transmitidos a em razão da ação dominante do éter
partir de um emissor até um receptor. refletor. A verdadeira manifestação
acontece no quinto campo. Este
Estas duas aplicações estão baseadas campo é chamado de Reino. No
no poder que a eletricidade possui de o- quinto campo as forças dos quatro
rientar magneticamente os átomos. Este outros campos (campo de preparação,
poder de influência sobre os constituin- de devir) são assimiladas e, no
tes da matéria é uma das marcas mais equilíbrio perfeito que então foi
características da eletricidade na natu- atingido, a forma divina se manifesta.
reza mortal. O homem celeste nasce. O Mahatma
Como a eletricidade pode modificar e irradia fisicamente na luz divina. É o
orientar as formas da natureza, o mes- coroamento da obra do Espírito Santo
mo acontece com a força astral pura, e em sua primeira fase.*
esta tem uma potência infinitamente
maior (Helena Blavatsky fala de uma “di-
ferença” comparável à que existe entre O CAMINHO DE VOLTA
30 m/s e 180.000 km/s!) e é capaz de
dirigir e manifestar o núcleo divino no
homem de acordo com o plano divino. É Para que a personalidade não seja
por isso que é importante que todos os desnaturada por um toque demasiado
que desejam seguir a senda de retorno brusco e violento, o processo de resta-
tomem as disposições necessárias, belecimento acontece ao longo da sen-
sem perder de vista o objetivo, e que se da gnóstica. Com o auxílio da Gnosis, a
direcionem a partir da força original que força divina que sempre está presente
é a base de tudo o que é aparente. em toda a parte, a personalidade cor-
Esta constatação tem uma conse- rompida a ponto de ter-se tornado uma
qüência capital. A personalidade é com- fonte de tensão, pode ser pouco a pou-
posta por diversas condensações da su- co transformada em uma nova forma,
bstância primordial e é mantida por ten- nascida da vontade e do poder divino.
sões. Além disso, ela é limitada e fecha- Na senda de transfiguração – ampla-
da. Assim, ela é essencialmente inca- mente descrita na literatura da Rosa-
paz de produzir em si mesma as trans- cruz Áurea – é preciso distinguir cinco
formações necessárias, o correto direci- etapas: discernimento, anseio pela sal-
onamento magnético, pois a nova estru- vação, auto-rendição, nova atitude de vi-
tura é contrária à antiga. Se ela fosse to- da e transfiguração.
cada diretamente em seu “antigo“ esta- Quando acontece a primeira fase, o
do de vida pela força astral divina, ela discernimento, a força gnóstica revela-
se consumiria em um clarão. -se à personalidade nascida da nature-
A manifestação conforme o plano divi- za. Esta força serve-se do poder refletor
no diz respeito a uma consciência que do quarto éter. Poeticamente falando: “A
não foi constituída pelos campos de ten- Gnosis chama o homem”. Em seguida,
são terrestres, mas que foi formada e di- este homem concebe o anseio pela sal-
rigida pelo Espírito divino em um ser hu- vação. Um intenso desejo de cura total
mano direcionado de acordo com o plano desperta dentro dele. A Gnosis o toca
divino. O núcleo desta manifestação não em seu sangue, utilizando o poder do
está ligado às forças “inferiores”, mas irra- terceiro éter. Com o auxílio dos poderes
dia as forças superiores recebidas. dos dois éteres superiores, mesmo que
ainda corrompidos, o homem decaído
A matriz está pronta; a manifestação está doravante ligado à força-luz liberta-
pode acontecer. Entretanto, não será dora. Seu sangue recebe um elemento
35
vivificante e o processo de recriação do
homem original começa agora, baseado
nas palavras: “Seja feita a tua vontade, e
não a minha”.
36
A SENDA DO SILÊNCIO
37
COMPREENDER É ABANDONAR daí resulta pode transformar profunda-
mente sua vida. Tudo para ele adquire
um novo sentido e agora tudo está em
Esta história foi extraída do Fascículo seu lugar certo.
número 1 da Mocidade do Lectorium
Rosicrucianum. Ela traduz o grande
anseio do buscador de vivenciar a paz FINALMENTE, CHEGA!
divina desconhecida na terra. Inúmeras
emoções e agitações da vida cotidiana
têm como causa a busca, muitas vezes Pôr um fim às atividades habituais,
inconsciente, de alguma coisa verdadei- tornar-se silencioso diante do Senhor
ra e desconhecida: o silêncio divino. Ge- interior, é um momento importante na
ralmente é difícil aceitar e compreender senda da libertação interior. Sim, este
que ele está mais próximo de nós do momento é essencial, se quisermos ver-
que pés e mãos, e é bem menos estra- dadeiramente seguir esta senda. Seguir
nho do que possa parecer. o caminho, a senda, não é como viajar
O que significa “mais próximo do que em um trem, sentado confortavelmente,
pés e mãos”? O que entendemos por enquanto se espera chegar a um bom
“divino”? Em razão de sua natureza, o porto. Trata-se, na verdade, de determi-
homem está completamente ligado à nar conscientemente a direção a seguir
matéria de trevas; e, como o rei da his- e saber que o trem escolhido parte na
tória contada acima, ele anda quilôme- hora certa. Na prática, isto significa que
tros e quilômetros no mundo do espaço- devemos deixar para trás o que acredi-
tempo para tentar satisfazer seu desejo tamos ser nosso verdadeiro ser, o mais
de encontrar a fonte da água viva. Ora, conscientemente possível. É preciso
nesta situação, ele vai-se conduzindo renunciar a seguir a pista das antigas
como certos animais. Uma mosca, por experiências: todo o nosso passado dia-
exemplo, sobe até o alto de uma janela lético. Também não devemos pensar no
para sentir que lá realmente existe um futuro, pois quanto a ele apenas faze-
vidro. Mas, um instante depois, ela voa mos projeções adiantadas de todas as
com toda rapidez contra este vidro para antigas experiências. Esta “entrega” é a
sair da sala e conseguir sua liberdade. conclusão de experiências muito pro-
Muitas pessoas agem exatamente da fundas, a entrega dinamizada pela com-
mesma maneira quando descobrem preensão de que o eu, com suas ativi-
obstáculos em seu caminho. E isto dura dades e seus sonhos contínuos, jamais
até o momento em que, como o filho poderá ser livre. Estudando de fora as
mais jovem do rei, eles finalmente com- manobras do eu, fazemos o espaço-
preendem que devem parar de buscar e -tempo desaparecer por um instante, e
tornar-se silenciosos. então o puro presente, sem mácula, nos
Neste sentido, é no momento em que oferece o esplendor de seu silêncio.
alguém se fere duramente contra as Esta “escapada” não é contra o espa-
paredes da natureza dialética que ele ço-tempo: é uma transformação de
se salva! Então ele começa a perder as todas as agitações em um silêncio inte-
ilusões que ele acariciava durante tanto rior absoluto, que permite que a força
tempo, e logo ele se encontra nas ruí- libertadora e regeneradora da rosa-do-
A aproximação nas de todas as suas tentativas mate- -coração possa agir. Quem interrompe
de Deus riais. A partir deste momento, ele come- suas atividades egocêntricas pode ter a
pelo silêncio ça a compreender que os desejos de impressão de estar sentado em um trem
(Bononiensis,
seu eu jamais farão com que ele vá mais que está andando porque um outro trem
1574, Biblioteca
Philosophica longe. Este choque é uma graça, mes- está passando ao lado dele. Mas ele vê,
Hermetica, mo que ele tenha ficado ferido com isto de repente, que a estação, os passagei-
Amsterdam). e sinta dor. A nova compreensão que ros e ele próprio continuam imóveis. A
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ilusão do movimento explode como uma
bolha de sabão. É evidente que, na
realidade, ele continuou o tempo todo
imóvel. Jan van Rijckenborgh expressa
Quando despertamos de um sonho este conceito da seguinte forma
como este, podemos sentir o profundo em A Arquignosis Egípcia, Tomo 4,
silêncio da alma. A emoção causada por capítulo 12:
este silêncio é absolutamente diferente
da agitação provocada por todas as ati- Somente quando o coração se
vidades egocêntricas. O que está em torna verdadeiramente silencioso,
movimento nesta suprema calma é a puro, é que ele pode dedicar-se a
Criação divina. O ser que se absorve sua verdadeira tarefa, à qual todo
neste silêncio e nesta paz pode viver e o homem, devido a suas duas
agir no mundo sem ser de modo algum faculdades divinas, é chamado e
dirigido por este mundo e sem ficar eleito, a saber, a vitória sobre a
dependente dele. morte e assim ingressar verdadeiro
Voltemos ao início de nossa história: novo estado de vida.
os seis filhos não evitaram sua dor, nem
pouparam seus esforços. Então, eles
encontraram o que o mundo pode ofere-
cer de mais precioso: a celebridade, o
poder, a força. Eles encontraram o que
correspondia a seu desejo e imagina-
ção direcionados por seus “eus”: frag-
mentos da verdade, que podem dar um
contentamento de curta duração, que
logo se transforma em seu oposto. A
natureza não é mesmo impressionante?
A arte dos homens não é, muitas vezes,
efervescente? Os pensamentos não
parecem às vezes possuir uma profun-
didade incrível, assim como os senti-
mentos, e as relações com os outros,
que parecem que sempre vão dar
certo?
Valentemente, não paramos de “trico-
tar” com pés e mãos no universo dialéti-
co, comendo com prazer os frutos da
Árvore do Conhecimento do Bem e do
Mal. Mas, sistematicamente, o belo
transforma-se no feio, o quente no frio, o
alto no baixo e vice-versa. E tudo reco-
meça eternamente, até o dia em que
finalmente paramos, nos imobilizamos e
compreendemos o que realmente “é”.
O ser humano que, em sua existência
precipitada e ofegante, aprende a ficar
imóvel e silencioso, pode formar uma
imagem de sua própria realidade. Em
um estado interior de absoluta calma,
os pensamentos, os sentimentos e as
ações vão-se tornando mais claros. A
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percepção objetiva das ilusões interio- o eu faz “muito barulho por nada”! Quem
res e exteriores da existência mostram não gostaria de abandoná-lo para dar
que o homem não é “nada”, despertan- lugar à Luz eterna? Quem é preenchido
do e reforçando o desejo de entrar no pela Luz não deseja outra coisa, pois
silêncio e no “não-agir”, do qual fala ele é semelhante à Luz. E todas as
Lao-Tsé. Quando tomamos consciência influências negativas que gostariam de
de que a vida exterior não passa de invadi-lo se dissipam como sombras,
uma corrida desenfreada que conduz às quase que imediatamente.
ilusões, podemos chegar e morar neste
“não-agir” interior; e a força e o poder do
verdadeiro silêncio se manifestam sem- O DIRECIONAMENTO PERFEITO
pre e cada vez mais. É o silêncio que
constitui a própria essência da rosa-do-
-coração. O silêncio profundo é um “direciona-
Os seis filhos do rei encontraram o mento” que conduz ao objetivo final da
que era visível, definido, e que corres- vida. Não se trata de uma concentração
pondia a suas naturezas. Por isso, cada voluntária em que afastamos todos os
um descobriu algo diferente. O sétimo pensamentos estranhos. Direcionamen-
filho calou-se: ele havia encontrado o to, aqui, significa o vazio e o silêncio da
silêncio indizível, o Tao, o que é impos- consciência dialética, a morte de todos
sível de ser definido, o que é impossível os desejos e a ausência de toda e qual-
de ser descrito. Ele não partiu porque “o quer projeção ou emoção. Este direcio-
reino estava dentro dele”, mais próximo namento é um silêncio interior durável,
do que mãos e pés, no próprio coração onde os pensamentos, as vontades e os
da vida vibrante, palpitante. Este silên- sentimentos centrados no eu já desapa-
cio interior não é ligado a um lugar ou a receram. Neste silêncio assim estabele-
um momento determinado. Em meio cido, é a paz quem domina. Não mais a
aos turbilhões da vida exterior, ele pode paz que reina entre duas guerras, mas
surgir em qualquer pessoa que esteja “a paz eterna que ultrapassa todo o
cansada de todas as contradições dialé- entendimento”.
ticas e que já tenha adquirido a maturi- Qualquer pessoa que viva em um
dade que é requerida para tanto. direcionamento como este participa do
Quem se mantém neste silêncio vive Amor absoluto, único, Onipresente. E,
da rosa-do-coração. O perfume da rosa no direcionamento total e no amor abso-
é sempre exalado como força do silên- luto, nasce o silêncio que reina no pró-
cio, e devemos estar prontos a respirar prio coração do Tao.
este perfume. Nosso ser está, então,
realmente no coração “da jóia maravi-
lhosa no lótus”, perfeitamente indiferen-
te a este lodaçal imundo que é a nature-
za dialética: ele foi, ele é e será para
sempre silencioso.
Portanto, não é necessário esperar
pelo silêncio, pois ele está presente a
todo o instante do dia, a partir do
momento em que nos distanciamos da
agitação e do barulho, e observamos os
movimentos, sem julgar, de dentro para
fora!
Se olharmos para as coisas friamen-
te, parece que a causa de toda a agita-
ção é o eu! Com relação à vida imortal,
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