22/09/2015 Quando a suástica foi usada como marca de combustível no Brasil - FlatOut!

Quando a suástica foi usada como marca de
combustível no Brasil
DALMO HERNANDES  18 FEVEREIRO, 2014   131 COMENTÁRIOS

Em  1920,  o  Partido  Nacional  Socialista  alemão  adotou  oficialmente  a  suástica  como
símbolo. O emblema acabou usado em bandeiras, distintivos e braçadeiras dos oficiais do
governo  nazista.  Porém,  no  dia  18  de  abril  daquele  mesmo  ano,  a  swastika  também
aparecia  em  uma  campanha  publicitária  nos  principais  jornais  paulistanos.  Ninguém  sabia
ainda, mas tinha a ver com carros.

Não estamos falando de nenhuma marca que usava a suástica como emblema nem nada
disso.  Tratava­se,  porém,  de  uma  infeliz  coincidência,  em  que  uma  famosa  marca  de
combustíveis  adotava  o  mesmo  símbolo  do  partido  de  Hitler  como  sua  identidade
publicitária.

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A  marca  em  questão  era  a  Anglo­Mexican  Petroleum  Company,  que  conhecemos  hoje
como  Shell.  Depois  do  primeiro  anúncio,  que  exibia  apenas  uma  suástica  e  a  pergunta
“Sabeis  o  que  significa  este  emblema?”,  no  dia  22  foi  publicado  outro  anúncio,  desta  vez
com um texto falando sobre os diferentes usos da “svastika” (com “v” mesmo) na história do
mundo.  Mas  ficava  a  pergunta:  “que  vem  a  significar  na  presente  era?”  A  resposta  seria
revelada alguns dias depois, no dia 27 de abril de 1920.

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O último anúncio da campanha dizia que a Anglo­Mexican Petroleum Company lançava no
mercado brasileiro “dois produtos de uma excelência inexcedível”: a querosene “Aurora” e a
gasolina “Energina”. Com a suástica, a empresa, que estava instalada no País desde 1913,
queria tornar­se ainda mais conhecida não apenas em São Paulo, mas no Brasil todo.

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Uma bomba de rua com o símbolo da suástica

Em  um  país  que  ainda  engatinhava  no  mercado  automotivo  e  infraestrutura  rodoviária,  as
grandes bombas de combustível de rua com o símbolo da suástica chamavam bastante a
atenção.  A  cruz  também  estava  em  bombas  menores,  que  eram  instaladas  em  garagens
particulares,  e  em  todo  o  material  publicitário  da  Anglo­Mexican,  bem  como  nos  papéis
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timbrados usados internamente.

Enquanto  isto,  na  Alemanha,  a  swastika  era  adotada  como  símbolo  oficial  do  Partido
Nazista. Contudo, tudo o que o anúncio da Anglo­Mexican dizia era verdade: o símbolo, por
si só, era muito mais antigo, e foi utilizado por diferentes culturas ao longo dos séculos, em
diferentes  variações:  os  hinduístas  e  budistas  consideravam  a  suástica  como  um  símbolo
de  boa  sorte,  bem  como  algumas  tribos  indígenas  da  América  do  Norte.  Na  década  de
1910, pilotos militares usavam broches com o formato da suástica como amuleto, e muitos
povos  usavam  variações  da  suástica  como  mero  tema  decorativo,  como  as  civilizações
celtas e da grécia antiga.

Em 1920, Hitler ainda nem era líder do Partido Nazista, e a suástica ainda não havia sido
estigmatizada  como  o  símbolo  do  Nazismo  como  o  conhecemos  hoje.  Sendo  assim,  por
alguns anos a Anglo­Mexican utilizou o símbolo de maneira comercial durante alguns anos,
mesmo com a nomeação de Hitler como líder do partido e a popularização do Nazismo na
Alemanha  a  partir  da  segunda  metade  dos  anos  20,  quando  a  suástica  passaria  a  ser
largamente utilizada pelos defensores da superioridade da “raça ariana”.

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Não  é  um  instrumento  de  tortura  nazista  —  é  apenas  uma  bomba  de  combustível  de
garagem

O site São Paulo Antiga conta, porém, que a Anglo­Mexican não deixou de usar a suástica
por causa disso:

Mesmo com os nazistas utilizando largamente a suástica desde a segunda metade
dos  anos  20,  a  Anglo­Mexican  manteve­a  como  emblema  da  empresa.  O  símbolo
só seria descartado com a ascensão no nazismo ao poder, na Alemanha, em 1933.
Neste mesmo ano, a empresa voltaria aos principais jornais do Brasil para anunciar
a adoção de um novo símbolo, hoje também mundialmente conhecido: a concha”.

Concha,  ou,  em  inglês,  Shell.  Em  dezembro  de  1933,  um  novo  anúncio  circulava  pelos
jornais  comunicando  que  a  Anglo­Mexican  deixaria  de  utilizar  a  suástica  como  marca,  e
adotaria o símbolo do grupo do qual fazia parte. Por mais que a suástica da Anglo­Mexican
girasse no sentido contrário à dos nazistas, seria péssimo para a imagem da empresa usar
o  mesmo  símbolo  que,  apesar  de  seu  amplo  significado  histórico,  fora  estigmatizado  pelo
regime de Adolf Hitler.

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Felizmente  a  mudança  veio  a  tempo,  pois  foi  a  partir  daquele  ano  que  o  Partido  Nazista
tomou  conta  da  Alemanha  e,  em  1939,  provocou  a  Segunda  Guerra  Mundial.  A  Shell,

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contudo,  estava  livre  de  qualquer  associação  com  a  imagem  nazista.  Hoje  em  dia  poucas
pessoas sabem desta história e se espantam quando vêem a suástica em fotos e material
publicitário do início do século, acreditando se tratarem de artefatos nazistas. A Shell, como
é de se esperar, prefere manter esta história bem longe de seus arquivos.

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