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O estudo tradicional do direito civil se faz apenas pelo texto do código civil, como se esse
fosse uma ilha. O sistema atual é de leitura do CC pelos princípios constitucionais.
Na metáfora de Ricardo Lorenzetti, o sol ocupa o centro do sistema solar e emite raios que
atingem todos os planetas. Já a Constituição emite princípios que atingem todos os diplomas.
A escola do direito civil constitucional nasce na Itália, com Perlingieri, exatamente porque
o Código italiano é anterior à Constituição. No Brasil, na vigência do antigo Código, o problema
era idêntico e a escola do direito civil constitucional tem três representantes (liderança): Gustavo
Tepedino, Paulo Lobo e Luiz Edson Fachin.
Nesta nova visão, o patrimônio perde importância e a pessoa humana é valorizada – esse
fenômeno chama-se repersonalização do direito privado e sua consequente
despatrimonialização.
A lei 12376/10 alterou o nome da LICC, pois, na realidade, a lei de introdução se aplica a
todas as normas.
É um conjunto de normas que tem como objeto a própria norma e não um comportamento
humano. É o chamado sobredireito (lex legum). É uma lei sobre uma lei.
1 Funções
Obs.: a própria lei pode permitir a alegação de sua ignorância, fazendo-o expressamente – art. 8º,
Dec.-Lei 3688/41 (Contravenções penais): “no caso de ignorância ou errada compreensão da lei,
quando escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada”.
O art. 3º da LINDB colide com a noção de erro de direito (error juris) do art. 139, III, CC?
R. Bevilácqua equiparava o erro de direito à ignorância da lei e, por isso, o CC/16 não adotava tal
figura. Contudo a doutrina traz argumentos que distinguem as figuras. Orlando Gomes afirma
que não se trata de inobservância da lei, com base na sua ignorância, mas sim, acreditar que uma norma
esta em vigor quando já foi revogada. Ex. casamento sob o regime da comunhão parcial de bens
quando se pensava que o regime era o da comunhão universal, mas a mudança ocorreu por força
da lei do divórcio.
Maria Helena Diniz entende que não pode ser uma recusa à aplicação da norma, nem recair sobre
normas cogentes, mas pode se tratar de falso conhecimento, compreensão ou interpretação equivocada.
Resumindo: o erro de direito não é exceção ao art. 3º, da LINDB, pois são institutos diferentes!
a) Vigência X Vigor:
- Vigência é o período em que a norma goza de eficácia (até sua revogação);
- Vigor é a força vinculante da norma, é sua imperatividade.
Pode ocorrer de a lei perder a vigência, mas manter o vigor (lei revogada que ainda obriga).
Ex. ultratividade - o art. 2038 do CC manda aplicar às enfiteuses o revogado CC/16.
Art. 1º, § 3º. Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada
a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova
publicação.
Obs.: a vacatio é por prazo único, ou seja, a norma entra em vigor a um só tempo em todo o
território nacional (princípio da vigência sincrônica).
Vacatio indicada pelo diploma
Aplica-se a lei complementar 95/98, art. 8º, § 1º: inclui-se a data da publicação e o último
dia do prazo, entrando em vigor no dia seguinte à consumação integral.
Dec. 4176/02, art. 20.
Enunciado 164, CJF: tendo início a mora do devedor ainda na vigência do CC/16, são devidos
juros de mora de 6% ao ano, até 10 de janeiro de 2003; a partir de 11 de janeiro de 2003 (data de
entrada em vigor do novo CC), passa a incidir o art. 406, CC/02.
Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou
revogue.
Lei temporária (ad tempos): a própria lei indica seu prazo de vigência. Essas leis perdem a
vigência na data por elas indicada, ou quando acaba o evento a que se referem.
Ex. lei que cria, por quatro anos, contribuição provisória sobre movimentação financeira; lei que
disciplina os contratos, permitindo sua revisão pelo período de guerra.
Lei permanente: não há prazo de vigência indicada. É necessária a revogação (“re-vocar” – tirar a
voz).
Art. 2º, § 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter, a lei
revogadora, perdido a vigência.
Repristinação ocorre com a revogação da lei revogadora, de modo que aquela anteriormente
revogada retorna à vigência. No Brasil, a repristinação NÃO É REGRA, deve, pois, ser expressa.
Ex. o CC/16 revogou as ordenações e, por sua vez, foi revogado pelo CC/02. Se vier uma
lei revogando o atual código, as ordenações não voltam a produzir efeitos. A lei revogadora acaba
sendo uma nova lei com conteúdo igual ao da lei anteriormente revogada.
Obs.! Controle de constitucionalidade e Repristinação: o art. 11, § 2º, da Lei 9868/99 prevê
repristinação (na verdade, efeito repristinatório) se a lei revogadora for declarada inconstitucional
OU por força de concessão de liminar em medida cautelar, em ADI.
Conflito de lei no espaço: é matéria do direito internacional privado, e não do direito civil.
Interpretação NÃO se confunde com integração. Essa última é expediente jurídico para se
preencher lacuna ou omissão do legislativo (4º, LINDB). Já a interpretação esclarece o alcance da
dicção legal.
a) Critérios de interpretação:
- Gramatical: utiliza o vernáculo e as regras da linguagem. Ex. pelo art. 391, CC, em interpretação
literal, todos os bens do devedor respondem por suas dívidas. Pela interpretação literal, o adjetivo
“todos” indica que o devedor perderia tudo o que tem, sem qualquer ressalva,.
- Sistemática: comparação e leitura dos diversos dispositivos legais, já que o direito é um sistema.
Ex. possibilidade de o companheiro herdar os demais bens na sucessão do outro por força da
leitura conjunta do artigo 1.790 e 1.844, do CC.
- Teleológica (finalidade): novamente, pela literalidade do art. 1790, o companheiro não é herdeiro
dos bens adquiridos antes da União Estável ou gratuitamente adquiridos, mas, pela finalidade da
norma, a família tem direito aos bens antes do município. Já que o afeto só se transfere à pátria não
havendo família (Itabaiana de Oliveira).
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.
É a lei que tem lacunas, e não o direito. Se tivesse lacuna o direito, precisaríamos, para
resolvê-la, elementos metajurídicos. Desse modo, a integração é feita por elementos jurídicos:
analogia, costume e princípios gerais de direito. ANA.CO.PRI
Fonte é o ponto de surgimento do direito. Rubens Liminge França utiliza o termo “formas
de expressão do direito”, pois é por meio delas que o direito se manifesta.
O art. 4º traz uma ordem para preenchimento das lacunas: primeiro a analogia, depois os
costumes e, por último, os princípios gerais de direito.
MHD entende que a ordem deve ser obedecida, ou seja, os princípios representam a última
das fontes a ser utilizada. CONTUDO a doutrina MAJORITÁRIA entende que NÃO há
hierarquia das fontes, podendo o juiz aplicar os princípios gerais ainda que seja possível a
analogia.
Oscar Tenório, já na década de 1940, afirmava que a analogia não prevalece sobre os
princípios gerais de direito. Flávio Tartuce também segue essa ideia, afirmando haver aplicação
prioritária dos princípios constitucionais para as hipóteses de lacuna da lei.
Obs.: Os princípios não são apenas os constitucionais, mas também os do direito civil (boa-fé e
vedação ao enriquecimento sem causa).
b) Não formais/ indiretas/ mediatas: contribuem para a criação do direito, mas não representam
normas jurídicas. São duas:
Doutrina: pensamento dos estudiosos do direito. Ex.: enunciados do CJF, pois sintetizam o
pensamento das pessoas presentes nas jornadas de direito civil.
Jurisprudência: consolidação das decisões de um tribunal em um determinado sentido.
Obs.: A súmula vinculante é fonte do direito, pois obriga os juízes a cumpri-la, mas isto não
transforma a jurisprudência em fonte direta, pois a constituição da súmula vinculante e da
jurisprudência passam por processos distintos.
Lei
É a norma imposta pelo Estado que, devendo ser obedecida, assume forma imperativa.
a) Características
Generalidade: dirigida a TODOS os cidadãos
Imperatividade: IMPÕE Deveres a todos
Permanência até a sua REVOGAÇÃO:
Emanada de autoridade legiferante competente, sob pena de não valer.
Obs.: A lei não deixa de ser lei porque não prevê sanção. São as chamadas leis autorizantes.
Analogia
a) Espécies
Analogia legis: preenche-se a lacuna com apenas uma norma próxima (MHD).
Analogia juris: é a aplicação de um conjunto de normas próximas (MHD, Velozo)
Obs.: Diverge PABLO STOLZE ao entender que a analogia juris é a aplicação dos princípios
gerais do direito. A distinção é polêmica, também, no direito europeu, mas não tem utilidade para
o direito brasileiro. Outrossim, se a analogia juris fosse os princípios gerais, estes perderiam a
autonomia.
Analogia: não há norma aplicável, há uma omissão, então se aplica norma semelhante.
Ex. por analogia, se aplica o § 2º do art. 157, CC que prevê a conservação do negócio viciado
por lesão AO negócio viciado pelo estado de perigo, que não tem disposição sobre o tema
(Enunc. 148, CJF).
Interpretação extensiva: já existe uma norma e o intérprete amplia o seu alcance, ou seja,
não há omissão, nem lacuna.
Ex. Dois diplomas cuidam da lesão: CC e Dec. 22.626/33. A aplicação do CC à lei da usura
em termos de lesão é interpretação extensiva, pois a norma criada para um tipo de lesão
atinge o outro.
01/10/2015
Costume
São usos gerais constantes e notórios que, por serem normalmente obedecidos, têm força
coativa. Pressupõe, portanto, dois elementos:
Uso (elemento objetivo)
Convicção jurídica (elemento subjetivo).
Segundo a doutrina, NÃO há prazo mínimo para que o costume seja fonte do direito. No
direito português, a lei da boa razão (1969) exigia, no mínimo, 100 anos.
a) Espécies:
Secundum Legem: o costume segundo a lei é aquele com referência no texto legal. Ex. art.
596, CC.
Praeter legem: é aplicado na hipótese de omissão legal, chamado de costume integrativo. Ex.
cheque pré-datado (que na verdade é pós datado), pois é ordem de pagamento à vista e
passa a ser utilizado como nota promissória. A jurisprudência impõe responsabilidade por
dano moral se o depósito ocorre antes da data avençada.
Contra legem: é contrário à lei. Em REGRA, o costume NÃO pode alterar ou revogar a lei (2º,
LINDB).
CAIO MÁRIO afirma que se afronta a lei, não pode se formar um costume. CONTUDO, a
doutrina admite o fato de que a lei pode cair em desuso e o costume produz um efeito
negativo chamado desuetudo (“lei que não pega”)1. MIGUEL REALE admite revogação da
norma legal pelo desuso, pois a norma perde a eficácia se não teve a aplicação por largo
tempo, “tão profundo era seu divórcio com a realidade social”.
São as diretrizes básicas e gerais que fundamentam e dão unidade ao sistema. São linhas
extras, orientadoras do ordenamento jurídico. DEL VECHIO refere-se a “verdades superiores do
Direito”. OSCAR TENORI se refere a “pressupostos lógicos necessários às normas legislativas”. Ex.:
vedação ao enriquecimento sem causa e proteção da boa-fé.
Os princípios não são antinômicos, mas podem colidir e na colisão haverá preponderância
de um sobre o outro. Ex. 1) nas biografias não autorizadas, o STF entendeu que o direito à
1
O mesmo que desuso, quando uma lei deixa de ser aplicada por já não corresponder à realidade em que se insere.
informação prevalece sobre a intimidade; 2) posse: quando há colisão entre a boa-fé e a vedação ao
enriquecimento sem causa, prevalece a segunda e, por isso, o CC garante ao possuidor de má-fé
indenização pelas benfeitorias necessárias (1220, CC).
Antinomia é o conflito de duas normas válidas em sua aplicação ao caso particular, em que
uma norma exclui a outra.
2.1 Critérios
a) Critério hierárquico: a lei superior revoga a lei inferior (ex. CC/16 foi revogado pela CF/88
quanto às regras discriminatórias dos filhos);
a) Lei especial anterior e lei geral posterior: o critério da especialidade prevalece sobre o da
posterioridade.
Obs.! Em certos momentos, o CC assume o papel de lei especial e o CDC de lei geral e, aí, não
haverá antinomia de segundo grau.
Ex.: CDC - culpa exclusiva da vítima ou de terceiro afasta a responsabilidade do fornecedor (12, §
3º e 14, § 3º). CC - no contrato de transporte de pessoas, a culpa de terceiro não afasta a
responsabilidade do transportador. Assim, para o transporte de passageiros, o Código Civil é lei
posterior e especial, pois o CDC trata de todas as relações de consumo (735, CC).
b) Lei superior anterior e lei inferior posterior: prevalece a hierarquia de lei superior.
A lei terá efeitos imediatos e gerais, NÃO podendo retroagir em prejuízo ao direito
adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada.
b) Ato jurídico perfeito: aquele já consumado de acordo com a lei vigente ao tempo em que se
formou.
(i) Fato pretérito: Se o ato se iniciou e se esgotou na vigência da antiga lei (fato pretérito) a ele
só a lei antiga se aplica. É a proibição da retroatividade da nova lei.
(ii) Fatos futuros: Se o fato nasce e produz efeitos na nova lei (fatos futuros) a eles somente a
nova lei se aplica.
(iii) Facta pendencia (fatos pendentes): negócios e atos formados na vigência da antiga lei que
continuam a produzir efeitos na vigência da atual.
A antiga lei permanece ou não produzindo efeitos, mesmo com a mudança?
R. Deve-se SEPARAR OS PERÍODOS: (Solução dada por Roubier)
1) Para os efeitos produzidos na vigência da antiga lei, somente ela se aplica: ex. juros de
mora de 0,5% ao mês (art. 1032, CC/16).
2) Para os fatos produzidos na vigência da nova lei, somente esta se aplica: ex. juros de mora
do CC/02 de 1% ao mês.
Enunc. 164, CJF. Tendo início a mora do devedor ainda na vigência do Código Civil de 1916,
são devidos juros de mora de 6% ao ano, até 10 de janeiro de 2003; a partir de 11 de janeiro de
2003 (data de entrada em vigor do novo Código Civil), passa a incidir o art. 406 do Código Civil
de 2002.
- Coisa julgada: é a decisão judicial prolatada da qual não cabe mais recurso (6º, § 3º). É
decorrência da segurança jurídica e da necessidade de pacificação social.
Obs.: o STF admitiu de maneira excepcional a relativização da coisa julgada para aqueles que
tiveram a investigatória de paternidade julgada improcedente por insuficiência de provas (RE
363.889/DF).
Questão!
(FCC| 2017 | TST, analista judiciário) João, nascido na Espanha, naturalizou-se italiano, casou-se
na França e estabeleceu domicílio único no Brasil, juntamente com sua esposa. Nesse caso, de
acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, serão definidas pela lei do Brasil
as regras sobre
a) o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
b) a capacidade e os direitos de família, enquanto as regras sobre o nome serão definidas pela lei
da Espanha.
c) o nome, a capacidade e os direitos de família, enquanto as regras sobre o começo e o fim da
personalidade serão definidas pela lei da Itália.
d) o começo e o fim da personalidade, o nome e a capacidade, enquanto as regras sobre os direitos
de família serão definidas pela lei da França.
e) o começo e o fim da personalidade, enquanto as regras sobre a capacidade serão definidas pela
lei da Itália. R.: A V. art. 7º, LINDB
05/10/2015
ATOS UNILATERAIS
b) Atos unilaterais (título VII do livro das obrigações): são atos humanos íncitos dos quais nasce
a obrigação.
b.1) Promessa de recompensa
b.2) Gestão de negócios
b.3) Pagamento indevido
b.4) Enriquecimento sem causa
c) Ato ilícito causador de dano (título IX do livro das obrigações): responsabilidade civil.
*Título VIII – título de crédito – direito empresarial.
II Atos Unilaterais
1 Promessa de recompensa
1.1 Conceito
854, CC. Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar, ou gratificar, a
quem preencha certa condição, ou desempenhe certo serviço, contrai obrigação de cumprir o
prometido.
- Ex. perdeu-se cachorro: recompensa-se bem; promessa de recompensa para informação sobre
paradeiro de certa pessoa; recompensa para o melhor aluno da turma.
- Anúncios públicos: jornal, autofalante, televisão, rádio e internet.
- A publicidade se dirige a pessoas indeterminadas, ainda que o grupo seja limitado.
Art. 855. Quem quer que, nos termos do artigo antecedente, fizer o serviço, ou satisfizer a
condição, ainda que não pelo interesse da promessa, poderá exigir a recompensa estipulada.
É ato unilateral, pois aquele que faz o serviço tem direito à recompensa, mesmo
desconhecendo a existência da promessa. Logo, é irrelevante a capacidade daquele que realiza a
tarefa e faz jus à recompensa.
1.3 Recompensa
A recompensa pode ser um dar (dinheiro, troféu, placa indicativa) ou um fazer (massagem,
tratamento de pele, etc.). Nada impede que a recompensa seja um não fazer, o que não ocorre na
prática.
- Vincula aquele que prometeu: o credor tem direito de receber o que se prometeu, comprovando
que cumpriu a tarefa.
- Tem direito à recompensa o indivíduo que primeiro que realizou o ato (857).
-Nos termos do art. 858, se a execução for simultânea, a cada um tocará quinhão igual na
recompensa se esta for divisível. É a aplicação do art. 257, que cuida das obrigações divisíveis
(concursu partes fiunt = faça-se a divisão em partes). Se a recompensa for coisa indivisível, esta será
atribuída por sorteio para uma das pessoas que cumpriu a tarefa e aquele que ficar com a coisa,
paga ao outro seu quinhão em dinheiro.
2 Gestão de negócios
2.1 Conceito
Ex. imóvel está pegando fogo e vizinho contrata pessoas para apagá-lo; alguém presenciando
estragos em prédio alheio contrata empreiteiro em nome do proprietário para repará-lo; pessoa
contrata oculista para cuidar da criança sem autorização dos pais desta.
2.2 Gestão X Mandato
O mandato nasce de um acordo de vontades e a gestão não necessita de acordo, bastando que
beneficie o dono do negócio.
No mandato o objeto é a realização de um negócio jurídico; já a gestão pode ter por objeto a
conclusão do negócio jurídico, mas também a realização de ato material (ex. gestor apaga o fogo
do imóvel incendiado).
O mandante fica sempre vinculado aos compromissos assumidos pelo mandatário, desde que
nos limites do contrato. Já o dono do negócio só fica obrigado aos efeitos da gestão se essa lhe
for útil (869, CC).
1) Atuar de acordo com o interesse e a vontade presumível do dono do negócio (como se esse
estivesse presente).
A obrigação do gestor é de desempenhar a tarefa com sua diligência habitual, respondendo
por culpa. Diligencia habitual indica culpa in concreto, ou seja, de acordo com a pessoa do gestor
e não com o homem médio. O padrão in concreto não é regra no sistema e está presente, também,
no comodato (582, CC).
Pelo art. 868, o gestor de negócios, excepcionalmente, responde pelo caso fortuito e pela força
maior, pois os efeitos de ambos são idênticos, apesar de seus conceitos serem distintos. Esse artigo
amplia a responsabilidade do gestor assim como faz o 399 para o devedor em mora, apesar de no
868 a mora não ocorrer. Três hipóteses:
a) quando o gestor iniciar a gestão contra a vontade real ou presumida do dono do negócio (862);
b) quando fizer operações arriscadas ainda que o dono do negócio costumasse fazê-las (868);
c) quando preterir o interesse do dono do negócio em proveito aos próprios interesses (868).
Obs.: responder por fortuito ou força maior quando alguém protege seus interesses e não os da
outra pessoa é regra que também existe para o contrato de comodato (583, CC).
2) Comunicar ao dono do negócio, tão cedo quanto possível, a gestão que assumiu, aguardando-
lhe a resposta, se da espera não resultar perigo (864, CC).
Isso porque, na gestão não há acordo. Logo, o dono do negócio deve ser informado da
gestão para, querendo, se opor a ela.
3) O gestor vela pelo negócio, devendo concluir o que iniciou (865, CC)
Os seus deveres prosseguem até o fim da gestão ou até que o dono ou seus herdeiros
assumam a questão.
1) O dono se vê obrigado perante terceiros, desde que a gestão lhe seja útil.
Como não há mandato a obrigação do dono do negócio nasce por força da lei, ou seja, não
depende da vontade do dono do negócio.
3 Pagamento indevido
Todo aquele que recebeu o que não era devido fica obrigado a restituir.
O enriquecimento sem causa é gênero do qual pagamento indevido é espécie. Assim, todo
pagamento indevido é fonte de enriquecimento sem causa, mas o enriquecimento sem causa pode
decorrer de situações que não têm relação com o pagamento indevido (ex. reembolso por
benfeitorias decorrentes da posse advém da vedação ao enriquecimento sem causa).
Ex. depósito bancário realizado na conta de quem não é credor; depósito bancário realizado
em valor superior ao devido.
Provar que o pagamento foi feito em erro, não como vício do negócio jurídico, mas como
equívoco. Orlando Gomes afirma que, em favor daquele que pagou, há uma presunção de erro.
3.3 Efeitos
1) A coisa deve ser restituída ao que pagou indevidamente. Se a coisa dada em pagamento
de maneira indevida não mais estiver no patrimônio do accipiens, este paga o equivalente em
dinheiro.
2) Quanto aos frutos, acessões, benfeitorias e deteriorizações, as regras variam de acordo
com a boa ou má-fé co accipiens, ou seja, aquele que recebeu. Trata-se da boa-fé subjetiva, que é
conhecer os vícios da posse. Aplicam-se os artigos da posse de boa ou má-fé. V. tabela (prof.).
A dúvida que surge é se aquele que realizou o pagamento indevido por meio de imóvel
pode ou não tomá-lo de terceiro, pois aquele que recebeu o imóvel já transferiu o bem.
Ex João paga indevidamente o imóvel a José e este aliena o imóvel para Maria. Maria, na
qualidade de terceira só perderá o bem para João em duas hipóteses: (i) se recebeu o bem
gratuitamente de José, pois, nessa hipótese, Maria, ao perder o bem, apenas deixa de ter uma
vantagem; (ii) se Maria sabia e está adquirindo bem que não pertencia a José, pois agiu de má-fé.
Nas demais hipóteses a alienação é válida e João terá direitos contra José.
O solvens que realiza pagamento indevido tem direito de pedir de volta o que pagou, ou
seja, repetição do indébito (re – petir é pedir de volta e in – débito significa não devido).
Há três hipóteses em que não cabe a repetição:
Art. 880: Fica isento de restituir pagamento indevido aquele que, recebendo-o, inutilizou o
título, deixou prescrever a pretensão ou abriu mão das garantias do crédito. Diante da
impossibilidade de o accipiens cobrar o real devedor, a repetição não ocorrerá; mas o que
pagou indevidamente pode cobrar o real devedor (norma análoga ao pagamento ao credor
putativo – 309).
Art. 882: Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir
obrigação judicialmente inexigível.
Dívida prescrita é dívida que existe, mas não é exigível; aquela em que o vínculo é
imperfeito, ou seja, o devedor tem dívida (Schuld), mas não tem responsabilidade
(Haftung). Logo, a dívida existe.
Art. 883: não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito,
imoral ou proibido por lei. Torpeza de ambas as partes não é correto que apenas uma delas
tenha a vantagem do negócio ilícito. Assim, o dinheiro ou bem reverterá para o
estabelecimento de beneficência.
Pelo Enunc. 35, CJF, a expressão enriquecer a custa de outrem não significa que deva haver
empobrecimento, pois pode-se deixar de ter uma vantagem, o que não é empobrecimento
(analogia aos lucros cessantes). Evita-se que o patrimônio aumente.
LINDB. Art. 4o Quando a lei for OMISSA , o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.
- OMISSÃO → ANA.CO.PRI - Analogia, costumes e princ.)
- Interpretação Sistemática → comparação entre a lei atual, em vários de seus dispositivos e
outros textos ou textos anteriores;
EX.: Art. 1586, CC: ''Regular de maneira diferente por causa de motivos 'graves''' só vem em mente
a equidade, pois ela serve para atender os FINS SOCIAIS. É a técnica que está prevista no artigo
5º da LINDB, que prevê:
LINDB. Art 5 º: Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e as exigências
do bem comum.
-Equidade é empregada quando a PRÓPRIA LEI abre espaços ou lacunas para o juiz utilizar a
norma de forma mais adequada ao caso concreto;
- É restrita e limitada pelo CPC, que só permite seu uso se houver expressa referência legal;
Resumos: https://www.facebook.com/Aprendendo-Direito-108313743161447/
Decisão por equidade: tem como base a consciência e percepção de justiça do julgador, que não
precisa estar preso a regras de direito positivo e métodos preestabelecidos de interpretação.
(i) O art. 140 do CPC prevê que o “juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”.
(ii) O art. 1.586 do Código Civil é um deles, pois autoriza o juiz a regular por maneira diferente
dos critérios legais a situação dos filhos em relação aos pais, se houver motivos graves e a bem do
menor.
(iii) O STJ decidiu que a “proibição de que o juiz decida por equidade, salvo quando autorizado
pela lei, significa que não haverá de substituir a aplicação do direito objetivo por seus critérios
pessoais de justiça. (...)”
(iv) Entretanto, o STJ enfatizou que isso não pode ser entendido como vedação a que ele busque
alcançar a justiça no caso concreto, pois está autorizado a fazê-lo nos termos do art. 5º da LINDB.
FONTE:
https://books.google.com.br/books?
id=F9ViDwAAQBAJ&pg=PT107&lpg=PT107&dq=equidade+crit%C3%A9rios+legais+filhos+situa
%C3%A7%C3%A3o+grave&source=bl&ots=RZCaa_fJ1j&sig=6lt3Km0gp9Ue-
O5ppa5GbxgMRRo&hl=pt-
BR&sa=X&ved=2ahUKEwjhqs6s_r3eAhWCTJAKHdtEDQYQ6AEwAnoECAUQAQ#v=onepage&
q=equidade%20crit%C3%A9rios%20legais%20filhos%20situa%C3%A7%C3%A3o%20grave&f=fals
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Direito Civil, volume 1: parte geral / Pablo Stolze Gagliano,
Rodolfo Pamplona Filho - 8. ed. rev. atual. e reform. - São Paulo: Saraiva, 2006.
DECISÃO "POR EQUIDADE" - Significa decidir o juiz sem apego à legalidade estrita,
devidamente autorizado pelo legislador. FAZER JUSTIÇA NO CASO CONCRETO.
A equidade não constitui meio supletivo de lacuna da lei, sendo mero recurso auxiliar
da aplicação desta. Não considerada em sua acepção lata, quando se confunde com o
ideal de justiça, mas em sentido estrito, é empregada quando a própria lei cria espaços
ou lacunas para o juiz formular a norma mais adequada ao caso. É utilizada quando a
lei expressamente o permite.
Prescreve o art. 127 do CPC que o “juiz só decidirá por equidade nos casos previstos
em lei". Isso ocorre geralmente nos casos de conceitos vagos ou quando a lei formula
várias alternativas e deixa a escolha a critério do juiz. Como exemplos podem ser
citados o art. 1.586 do Código Civil, que autoriza o juiz a regular por maneira diferente
dos critérios legais a situação dos filhos em relação aos pais, se houver motivos graves e
a bem do menor; e o art. 1.740, II, que permite ao tutor reclamar do juiz que
providencie, “como houver por bem", quando o menor tutelado haja mister correção,
dentre outros.
Decidir “com equidade". Trata-se de decidir com justiça, como sempre deve
acontecer. É quando o vocábulo “equidade" é utilizado em sua acepção lata de ideal
de justiça.
Decidir “por equidade". Significa decidir o juiz sem se ater à legalidade estrita, mas
apenas à sua convicção íntima, devidamente autorizado pelo legislador em casos
específicos. (Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Esquematizado. v. 1. – 4. ed.
rev. E atual. – São Paulo: Saraiva, 2014).
Retirado do QC - Q878215