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16/12/2015 Centro de Estudos Claudio Ulpiano » Aula de 22/08/1995 – ENKRATEIA – Estética da Existência » Print

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Aula de 22/08/1995 – ENKRATEIA – Estética da Existência
Posted By Editoria On 20 de fevereiro de 2010 @ 4:40 In Aulas Transcritas | 1 Comment

Como os dois filmes que passaram da última vez, “Era uma vez no Oeste”, do Sérgio Leone e a “A
condessa descalça”, do Joseph Mankiewicz, não foram vistos pela maioria das pessoas (ou seja:
alguns nem conhecem!) eu vou ter que suspender [a fala sobre] esses filmes, pra depois voltar
sobre eles. Vocês não viram os filmes, eu não posso falar: é impossível!

Esses dois filmes (para quem viu, vai ficar fácil o que eu vou dizer…) trabalham com flashbacks. O
do Sérgio Leone com o flashback de impregnação; o do Mankiewcz, com a memória­lembrança.

Então eu vou abandonar os filmes. Na frente, eu vou ver o que eu posso fazer. (Está bem?)

Bom, eu vou começar essa aula utilizando um filósofo chamado Platão. E o tema de Platão que eu
vou falar tem como nome… uma palavra em grego – eikasia. A palavra eikasia vem de eikon, que
quer dizer ícone.

Vocês sabem o que é ícone? Ícone é um objeto feito à semelhança de outro. (Está bem?)

Antes de começar com o Platão…, eu vou contar uma historia pra vocês:

Existem duas religiões, a protestante e a católica, que têm uma diferença em suas igrejas. Nas
igrejas protestantes não existem ícones, não há imagens. Na igreja católica, você entra, encontra
Santa Terezinha, São João, santa não sei o quê… Agora, quando você entra na igreja protestante,
não encontra ícones.

Então, vamos dizer o seguinte: eu vou chamar o protestante e o judeu de iconoclastas. O que
quer dizer iconoclasta? Aquele que não quer ícones. E vou chamar o católico de iconofílico: aquele
que quer ícones.

(Todo mundo entendeu o que é iconofilia e iconoclastia?)

Então, quando se entra numa igreja judaica, numa sinagoga, não se encontra imagens porque os
judeus são iconoclastas. (Estão entendendo?) E os católicos são iconofílicos.

Numa cidade chamada Bizâncio, mais ou menos no século VII, VI DC, havia um acontecimento
muito interessante: duas facções governavam Bizâncio, uma facção iconoclasta e uma iconofílica.
Ora dominava a iconoclasta, ora a iconofílica. Então… derrubavam as imagens… colocavam as
imagens; derrubavam as imagens… colocavam as imagens… Eram, então, essas duas linhas!

Vamos lá outra vez:

O que é iconofílico? Fílico vem da palavra filia – do gr. Philia. Ícone vem da palavra imagem; quer
dizer, amigo da imagem: iconofílico.

Iconoclasta – inimigo da imagem.

(Está bem assim?)

Vejam, então: o iconoclasta é aquele que não quer imagem, não quer imagem; (está bem?) e o
iconofílico, quer imagem.

Então…. o iconoclasta gosta de cinema? Não, ele não deve gostar de cinema; o cinema para ele é
um problema! Já, o iconofílico, ele gosta da imagem (Está bem?)

Agora, toda imagem que você encontra na igreja católica – Santa Terezinha, (o que mais?) São
João, Cristo, uma porção, São José… (não é?) – cada imagem daquelas representa um santo.
(Vejam se entenderam?) Cada imagem representa um santo! Quando uma imagem representa
alguma coisa, essa imagem recebe o nome de cópia. Quando é que uma imagem é uma copia?
Quando ela representa alguma coisa; como?

Aluno: – Claudio,você está usando imagem e ícone como a mesma coisa?

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Claudio: – Estou usando como sinônimos!

Agora, quando você vai para a iconoclastia, os iconoclastas consideram uma heresia colocar­se
uma imagem, de pedra ou de madeira, representando um santo. Por isso eles não querem
imagem. (Vocês entenderam?)

Então, quais são as duas correntes? A iconoclasta – que não quer imagem e a iconofílica que quer
imagem. Mas como é que o iconofílico quer que a imagem seja? Ele quer que a imagem seja uma
cópia, imagem­cópia! Imagem­cópia quer dizer ícone.

(Entenderam bem aqui?)

Então, qual é o preceito fundamental do catolicismo? Imagem; mas imagem­cópia ou ícone. Quer
dizer, uma imagem­ícone é uma imagem que tem alguém que essa imagem representa. Na
iconoclastia não há imagem; desaparecem as imagens. (Tá?)

Agora, entre essas duas correntes aparece uma terceira, chamada simulacro. O simulacro se
distingue da iconoclastia, porque no simulacro há imagem; mas difere da iconofilia, porque a
imagem do simulacro não copia nada.

Quer dizer, o simulacro é diferente da iconoclastia? É… porque no simulacro há imagem. É
diferente da iconofilia? É… porque o simulacro não copia; é uma imagem autônoma.
(Entenderam?) A questão dessa imagem não é copiar!

O que é que estou dizendo p’ra vocês? Estou dizendo que a iconofilia é regulada por um princípio.
O princípio que regula a iconofilia é o princípio da semelhança. O que quer dizer isso? Uma
imagem… um ícone é melhor quanto mais ele parecer com o que representa. (Entenderam?)
Então, para a iconofilia, quando um artista é melhor? Quando copia com mais perfeição! Ele quer?
como fundamento dele? a semelhança. Então, a imagem­ícone é regulada por um princípio. O que
regula o princípio da imagem­ícone é a semelhança. Por exemplo, vocês atrizes:

C. recebe uma má notícia numa novela. Tem, então, que manifestar tristeza; assumir a cópia da
tristeza; fazer a imagem da tristeza. É iconofílico: C tem que fazer aquela imagem da tristeza!

Al: A atitude dela seria um ícone?

Cl: É um ícone. Ela está representando a tristeza. Por isso que o diretor pode dizer: “C, você não
fez bem!”? porque C está representando a tristeza: ela é uma cópia! É por ser cópia que ele mede
a qualidade da interpretação. (Conseguiram entender o que eu disse?)

Al: E ela podia muito bem manifestar isso [essa tristeza] de uma forma diferente… e falar para ele:
não, mas isso é um simulacro!

Cl: Exatamente!… Para dar um exemplo, que já chegou até na minha frente…

Existia uma atriz na França, em Paris, de quem Proust gostava muito. Chamava­se Berna. Ela
jamais chorava ou manifestava qualquer coisa de sofrimento no rosto quando tinha que
interpretar uma tristeza. Porque ela achava que a tristeza só poderia ser expressada
espiritualmente. Por isso você não poderia, jamais, representar. Era???* Ou seja: quando o ator
sai da iconofilia, mergulha no espírito. (Ficou muito difícil?) Ali, no espírito, você não representa;
você expressa.

Então, vou contar outra história para vocês entenderem melhor: de um filósofo, contador de
histórias, chamado Montaigne, que conta que um nobre foi aprisionado em seu castelo…. e
aqueles que o prenderam mataram o irmão dele, o irmão do nobre. Na hora em que comunicaram
para o nobre que tinham matado o irmão dele, o nobre começou a chorar, a gritar, a sofrer…,
(certo?)

Aí, no dia seguinte, eles mataram o melhor amigo do nobre. E comunicaram a ele. Ele não moveu
um músculo; ele não move um músculo! Aí perguntaram: “mas, puxa, ontem morreu um de
quem você nem gostava tanto e você gritou feito um louco…. e agora morre o seu melhor amigo e
você não manifesta… não move um músculo!” “Ele diz: essa dor que estou sentindo agora não é
material, é espiritual: a matéria não expressa!” (Conseguiu entender, C?) Era uma dor tão
intensa que jamais poderia ser representada pelo organismo. E é exatamente essa a posição da
personagem na segunda dor, em que ela já não está mais na iconofilia. Já não estaria mais.

Al: Você estar na iconofilia, por exemplo, interpretando, é ruim isso?

Cl: Não, não é ruim! É o modelo… o modelo do realismo. Tudo isso eu vou te ensinar, C. Não é
ruim. Você jamais, por enquanto. .. pode questionar isso. É claro que na frente você vai começar a

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compreender um tipo de interpretação – vou usar a linguagem desta aula – que não seja
iconofílica. Porque…

Por exemplo, vamos lá: há pouco tempo passou uma seqüência de um capítulo, que foi a morte do
seu pai, não foi? Então… Uma filha que perde o pai, o que ela tem que fazer? Chorar, sentir dor…
É esse o ícone, é esse o ícone! Vocês entenderam? O ícone é esse: sentir dor, chorar, gritar… Se
você não estiver fazendo isso, você não está representando bem uma filha. (Entendeu… ou ficou
difícil isso? Está claro? Entendeu, C?)

Al: Não… Eu entendi o que você falou, mas…

Cl: É esse o modelo, o modelo é esse. O modelo é a iconofilia. Tem sempre alguma coisa que você
copia. Na hora em que você está lá… (no seu caso fica muito fácil, porque é o seu próprio pai, não
é?) Fica muito difícil, quando você está lá. Quando o artista está lá, o que ele faz?

Vamos dizer que a M, por exemplo, estivesse vivendo o seu papel. Então, morreu o pai de mentira,
mas ela tem que ter o sentimento do pai verdadeiro. Então, o que faz ela? Ela copia o modelo.
Qual modelo? Do que sente uma filha quando o pai morre. É esse o modelo que ela sente. É isso a
iconofilia. É isso que o artista faz. Ele sempre vai buscar um modelo para imitar.

Por exemplo, você não tem um determinado sentimento… Vamos dizer que de repente, num
quadro, você tem que fingir que está embriagado. Vamos dizer que você nunca tenha
experimentado a embriaguez, o que faz você? Vai imaginar como é um embriagado… Isso se
chama copiar, representar… isso que se chama representar. Por causa disso, todo esse processo
que você está fazendo se chama representação. Porque você copia um determinado modelo, você
executa a cópia de um modelo. E esse fato de copiar… Então eu coloco C chorando, M chorando, V
chorando, A chorando e eu digo qual deles chorou melhor. Eu digo: Foi esse quem melhor
interpretou! Como é que posso saber quem interpretou melhor? Porque há um… modelo. Se não
tiver modelo, eu não posso saber.

Al: Mas, não existe um meio de você, por exemplo, reagir dentro da cena de modo que não seja
necessariamente por cópia, mas que responda ao que seja normal? Por exemplo: se um pai
morre, o que a gente espera de uma filha? Que ela chore. Mas eu não pretendo copiar nada. É um
sentimento que eu acho que o personagem vai ter. Será que isso é necessariamente uma cópia?

Cl: Necessariamente! Isso é uma cópia, não tem como sair. Não tem como sair. É uma cópia.

Al: Não tem como sair?

Cl: Não: é uma cópia! Porque… se você pega, por exemplo… morreu o pai de não sei quem…. ai
tem um filho dele no velório e esse filho não chora, não grita, não faz nada. O que que vai ser
dito? Esse cara é um mau filho!… O que é ser um mau filho? É não copiar os modelos. Isso que é
um mau filho: “Olha, você não chorou quando seu pai morreu: você é um mau filho!”
Evidentemente que a interpretação realista produz modelos. (Está entendendo, M?)

Al: Eu entendi, mas é que eu coloquei uma questão: se necessariamente tem que existir esse
modelo…

Cl: Tem que existir, porque é, inclusive, o meio que eu tenho para avaliar sua interpretação? C.
não foi bem aí… ou… C foi ótima aí!? porque tem esse modelo que garante a minha avaliação.
Agora, isso seria no mundo iconofílico… (não é?)

… Quando você passa para o mundo iconoclasta, ele traz uma pequena complicação, porque não
há mais o que copiar: você sai do mundo da cópia. Esse mundo (da iconoclastia), eu vou demorar
um pouquinho para explicar p’ra vocês, porque ele é um pouco difícil. Você sai da cópia e entra no
que se chama símbolo. (Certo?)

Então, a iconofilia é a cópia, imitação por semelhança: você imita aquele modelo. Por exemplo, eu
vou fazer o papel de São José; eu olho para aquele santo ali e vou imitar, fazer exatamente o
papel que o santo executava na vida dele. É por isso que, quando o ator vai interpretar uma
personagem, ele vai fazer um… papel. Papel quer dizer isso, papel é um modelo. Não sei se está
claro aqui. Você está fazendo um papel. Você está representando um determinado modelo. E você
está plenamente dentro do mundo iconofílico, está plenamente dentro desse mundo, está
cumprindo os seus papéis dentro desse mundo. E esse processo não se dá apenas no teatro; esse
processo também se dá na vida. Ou seja, quando determinados acontecimentos ocorrem com a
gente e o campo social espera que tenhamos uma resposta X àquele acontecimento. (Ta?) Por
exemplo, mataram 500 pessoas lá em Ipanema… aí você fica horrorizado. Quer dizer, o campo
social sempre espera que você manifeste determinados sentimentos diante de determinadas
situações. A constituição de modelos é isso!

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(Está claro assim? Está, C?)

Agora, do outro lado, encontra­se o campo iconoclasta e o iconoclasta já não está mais no campo
da imitação, é o campo simbólico. (Eu volto ainda aqui.)

E, em terceiro lugar, o simulacro. O simulacro são imagens que não copiam, que deformam,
modificam, variam. Por exemplo, vou dar um exemplo de simulacro para vocês. Você dá um grito
– Ahahah! – lá numa montanha. O que acontece? Dá­se um eco. O eco não é uma copia; o eco é
um simulacro… porque ele vai introduzir uma modificação. Ele vai variar. E, ao mesmo tempo, o
eco tem uma existência independente do grito. Porque aquele eco gera… outros ecos. Ele sai
gerando outros ecos. Até que o eco mais distante do grito é inteiramente enlouquecido. (Vocês
estão conseguindo entender?)

Ou, de outro lado, o que chamam… reflexos. Você se coloca aqui e sucessivamente sua imagem
começa a refletir­se em espelhos… Vai chegar um ponto em que a imagem já não se parece mais
com a sua. Então, o mundo dos simulacros são as imagens se libertando da obrigação de copiar.
Vocês conseguiram entender isso? As imagens começam a se libertar da obrigação de fazer cópias.
Por exemplo, na música existe um determinado músico do século XX, eu vou citar alguns… –
Edgard Varèse, Pierre Schaeffer, John Cage – que eles tentaram fazer música com o silencio e com
o ruído, saindo de todo o modelo clássico da música, rompendo com o modelo clássico. A música
feita com o ruído e com o silencio é simulacro. Já não é mais o modelo clássico da escala
heptatônica: a escala heptatônica que nós vivemos, a escala de sete notas. Eles rompem com
isso. Na hora em que eles rompem, acabam com todos os modelos. Então, na música, o nosso
tempo é, literalmente, uma experiência muito marcada… pela produção de simulacros.

O nosso tempo não reproduz Bizâncio, não reproduz a cidade de Bizâncio? que é um confronto
entre a iconofilia e a iconoclastia. O nosso tempo é, sobretudo, a geração do simulacro. A geração
do simulacro, no caso do teatro, é produzir um outro tipo de interpretação. Vou dar um exemplo,
que acredito que vá ficar claro: quando você vai ver uma peça do Beckett, a personagem, o ator,
não pode usar o modelo realista, o modelo iconofílico. Porque ele não pode fazer isto? Porque na
peça de Beckett não existem sentimentos. Ele exclui os sentimentos da peça dele. E você só pode
imitar sentimentos. Então, ele quebra aquilo dali.

Cl.: Ficou muito difícil, C?

Al.: Não,não…

Cl.: Está tudo bem, para todo mundo? Então, a colocação é a existência de três mundos das
imagens: uma imagem que copia? chama­se ícone; uma imagem que perde a sua característica
de imagem? chama­se símbolo e uma imagem que não copia? chama­se simulacro. (Certo?) É
esse simulacro a grande figura do cinema­tempo. O simulacro é a grande figura do cinema tempo,
é a grande figura da música do nosso tempo, da música, por exemplo, eletrônica. Ou seja, é toda
uma experimentação do homem moderno para quebrar o domínio icnofilico iconoclasta. Por
exemplo, existe um pensador do século XIX, que eu já dei uma aula dele aqui para vocês,
chamado Nietzsche. E esse pensador chamado Nietzsche todo mundo diz que ele é iconoclasta.
Jamais! Ele é o homem do simulacro. Jamais, iconoclasta! Então a linha de aula, sei que está um
pouco difícil, é essas três linhas: o iconofílico, o iconoclasta e os simulacros. O que são os
simulacros? Os simulacros são, sobretudo, (aqui eu começo a te responder!) a repetição e
variação. Ou seja, o simulacro tem por característica repetir, mas repete fazendo variações.

Al: Com que fim?

Cl: O fim dele é repetir o modelo, mas variar para fugir de seu domínio, do domínio do modelo. Ele
é insubordinado. O simulacro é uma criança má, que não obedece aos pais. Ele é insubordinado.
Ele copia, mas deforma. Então, o simulacro vai introduzir a figura repetição­variação. É muito fácil
de se entender o que é uma repetição­variação: o eco, o reflexo, a miragem, a sombra. Vocês já
viram que a sombra em determinada posição fica comprida? Ela ganha, assim, três metros, cinco
metros? Aquilo é um simulacro. Porque ela está repetindo o corpo, mas repetindo numa variação.
Ela está produzindo uma variação. Aquela variação começa a gerar a liberação do simulacro aos
modelos.

Al: O simulacro é uma copia modificada, não é isso?

Cl: É… vamos dizer assim. .. é uma copia modificada.

Al: Não é uma copia degradada?

Cl: Ela… vai chegar, vai chegar… Ela é degradada. É degradada. Veja bem. O que vocês acham?
Você vê um retrato: o retrato é um ícone! Agora você vê uma sombra esticada com três metros,

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aquela sombra é uma copia degradada.

Al: Mas é diferente do tipo de cópia degradada para Platão, não?

Cl: Não. É a mesma coisa.

Al: É a mesma coisa?

Cl: Nesse instante, um eco e uma sombra são a degradação da iconofilia. Não sei se ficou claro isso
daqui. Vai degradando. Em vez de imitar com perfeição, começa a produzir a variação, começa a
gerar a variação.

Al: Para fugir do modelo…

Cl: Para fugir do modelo!…

Al: E a repetição também!?

Cl: Exatamente! Aí que surge o Platão. O Platão é um sujeito tão inteligente, que ele verificou que
essas cópias degradadas ainda estão presas ao modelo. Não estão? Estão degradadas, mas ainda
estão presas ao modelo? Platão disse: o perigo não está aí! Enquanto elas estiverem degradadas,
elas estão presas ao modelo. O perigo é o dia em que elas deixarem de se submeter ao modelo.
Porque o dia em que os simulacros deixarem de se submeter ao modelo, quer dizer, as sombras
fugirem das pessoas… (Entenderam aqui?) No dia em que isso acontecer, o próprio simulacro se
tornará modelo! (Ficou muito difícil?…) E no momento em que o simulacro se tornar modelo, você
deixa de viver o mundo da semelhança para viver o mundo da diferença!…

Cl: Não foi bem não… Está muito difícil…não é…?

Al: Você deixa… de quê?

Cl: Você sai do mundo da semelhança e entra no mundo da diferença! (Veja bem!)

Vamos lá outra vez, vamos ver:

Iconofília: você é uma imagem que copia o modelo. (Não é?) Então, qual é o procedimento de
uma imagem que copia o modelo, qual o principio? O principio é muito fácil: semelhança! Você
tem que ter semelhança… então, você tem que manter dentro de você, permanentemente, uma
semelhança ao modelo. (Entenderam?) Então, vamos lá: Eu sou homem, eu sou um homem.
Ora, sou filho de homem, sou um homem. Então eu tenho que me comportar como o quê? Como
homem. Para manter o quê? A minha… semelhança…. ao meu modelo, que é O Homem. (Agora
vou crescer mais nisso daqui, vou voltar para a década de 60) Na década de 60 existia, muito
francamente, no campo político a luta de classe. Então, tinha o operário e o burguês. O operário
tinha que ter um comportamento, de quê?

Als: De operário!

Cl: E o burguês?

Als: De burguês!

Mas apareceu uma figura cahamada o intelectual pequeno­burguês, que tinha um
comportamento do lado do operário. Ele era um simulacro… (Vejam se entenderam…)…porque ele
não reproduzia o modelo do burguês: ele era um simulacro aparente; na verdade era uma cópia
degradada! Ele era uma cópia degradada… porque o que eu estou colocando para vocês é que… o
fato da degradação da copia é permanente! No mundo, nós vemos esses processos de imitação e
vemos aparecer as degradações na sombra. .. a degradação no eco. .. Então, essas degradações
têm a ver… ou, para ficar mais explicito, a degradação no comportamento. Porque o nosso
comportamento tem que ser iconofílico! Nós temos que copiar exatamente o que a nossa
sociedade entende por homem e entende por mulher. Você tem que copiar aquilo. É isso que você
tem que ser. Porque é o modelo da cópia e o modelo da semelhança.

Então, o Platão é um filosofo iconofílico. Ele é o mestre da iconofilia. E é aqui que aparece a coisa
mais engraçada de Platão. Ele é o mestre da iconofilia, não tem medo de iconoclasta e não tem
medo de cópia degradada. Não tem medo…

Al: Ele era um iconofílico convicto.

Cl: Convicto! Ele não tem medo de iconoclasta, nem tem medo de cópia degradada…. Mas ele é
apavorado com o simulacro!

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Ele tem pavor total do simulacro. Então, ele começa por dizer: “nós temos que tomar cuidado com
as cópias que vão perdendo a semelhanca.” Porque as cópias vão perdendo a semelhança… vão
perdendo a semelhança… vão perdendo a semelhança… chega a um ponto que elas não têm
semelhança nenhuma. Quando não tiver semelhança nenhuma, vira?…

Als: simulacro!

Cl: Vira simulacro!!

Então, ele diz: ai está o perigo. Ai está o perigo! Na hora em que.. dentro de uma sociedade,
dentro de um campo social, aparecerem as cópias degradadas, não tem muito problema porque
vai haver dentro do campo social os responsáveis para curarem aquelas cópias degradadas. O
problema está quando começam a aparecer os simulacros. Quer dizer, o simulacro é o quê? Aquele
que perdeu toda ª..

Als: semelhança!

Cl: Perdeu toda a semelhança! Ele é… pura diferença. Ele é pura diferença!

Al: O travesti seria um simulacro?

Cl: Cópia degradada. Mas há uma ameaça muito grande ai, por exemplo, com o uso do silicone, de
começar a aparecer no mundo pessoas com oito peitos, trinta e duas bundas… (Risos) Vocês
sabiam disso? (Risos…) (vozes…) heim?

O que estou dizendo para vocês é que a experimentação do silicone já vai gerar um novo tipo de
corpo. Nós vamos viver isso em muito pouco tempo. Os monstros, que só existiam nos livros, vão
começar a aparecer na rua. Você vai começar a encontrar pessoas de tromba… Por que isso vai
ocorrer? Porque… porque, essa experimentação, ela vai se dar! Ela vai se dar! Porque o homem…
ele só mantém a unidade da semelhança dele se o sistema iconofílico o prender. Mas o homem
não é preso pelo sistema iconofílico. Ele começa a escapar daquilo dali. Ele começa a fugir. E ele
começa a fugir na música, no cinema, no teatro… Em todas as artes ele começa a fugir do sistema
de semelhança. Ele vai fugir de tal forma do sistema de semelhança que um santo, chamado
Santo Agostinho, escreveu um texto com o titulo “Da música”. E nesse título chamado “Da
música” o Santo Agostinho disse que nós, os homens, só devemos ouvir cantar aos outros
homens… jamais ouvir cantar as bestas. Incrível! Olivier Messiaen fez toda uma obra do canto de
bestas. (Vocês entenderam o que eu disse?) Canto de bestas é o seguinte: O Messian fez uma
obra em que só os pássaros cantam! A obra de Messian é um simulacro. É um simulacro!
Absurdo! Absurdo!! Porque jamais se poderia pensar em privilegiar o animal sobre o homem.

É… as três figuras – o símbolo, o simulacro e o ícone – no nosso caso, que é o cinema, o cinema­
tempo…. ou seja: a entrada no cinema­tempo é a saída do símbolo e do ícone: a entrada do
simulacro!.. Você sai de todos os modelos… sai de tudo quanto é modelo.

Quando você entra no tempo, quando você entra na verticalidade do tempo, você entra no ser do
tempo, tudo aquilo que te garantia se quebra. Tudo se quebra! Você já não tem mais nenhuma
linha conforme a linha em que você vive – que é a linha da história – onde os modelos estão
constituídos.

Muito fácil! Eu coloco esta roupa… saio andando pela rua… – ninguém vai olhar! – na maior
tranqüilidade, sem problema nenhum. Chego num restaurante e como, entro no cinema… Nada
me abala! Porque há um processo de semelhança que garante a nossa existência dentro do
mundo social. Mas, desde a década de sessenta, nós começamos a experimentar a primavera da
diferença; o surgimento da diferença!

Por que eu estou falando da década de sessenta? A década de sessenta foi a liberação do
vestuário, o surgimento do sexo grupal… Ou seja, uma série de ocorrências que vieram quebrar os
grandes modelos do ocidente. E ao ponto extremo que, hoje, não há nenhum problema de um
homem estar de terno e um outro estar vestindo uma roupa do século XVIII. Ou seja, o nosso
mundo abriu, começou a abrir, para todas as possibilidades. E esse fenômeno vai desencadear na
arte. Ele desencadeia na arte. Por exemplo, você já não vê mais uma tela onde tem um rosto
pintado como uma fotografia. Qualquer tela que você encontrar, se aquela tela é a tela
representando a figura de um homem, ela tem o rosto deformado… É todo o processo da iconofilia
que começa a se desfazer em cópias degradadas e em simulacros: simulacros de músicas,
simulacros de pinturas, simulacros de dança…

Olhem a dança!… Olhem o que aconteceu com a dança moderna: o pé ficou descalço, a roupa
variou, o corpo se horizontalizou, o corpo horizontal!… a dança é dançada no chão, olhem que
absurdo!…

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O homem é um ser ereto. O homem conquistou, na escala dos animais, o poder de andar com as
mãos livres, o poder de andar em pé, o poder dançar… E, de repente… ele dança…no chão! Se
arrastando no chão!

O que que significa isso? A emergência do simulacro! O simulacro começa a invadir todos os
campos. (Está bem assim?) Todos os campos… ele começa a invadir!

Um último exemplo (e eu vou tomar um café para descansar):é o desfile das manequins:

Que é o desfile? Um simulacro!!!

Um simulacro… ah, porque… o século XX inventou um outro corpo de mulher. Não há ali sequer
um corpo que não tenha sido produzido artificialmente, sobretudo pela anorexia. Não sei se vocês
concordam comigo!?… Joga anorexia num manequim ou modelo, ou seja, produz um corpo
diferente. (Agora vão tomar um café!)

(Eu vou começar!)

Al: Por que se chama degradação?

Degradação é o seguinte: N, você chama um artesão e manda ele fazer uma cadeira. Ai você diz
para ele como é que você quer a cadeira, não é isso? Agora, o principal elemento que você quer
que a cadeira tenha, quando você manda fazer uma cadeira… Você manda fazer uma cadeira!

L. vai mandar fazer duas asas para uma fotografia. Fotografia do grupo dele, que são os
personagens rítmicos.

Você, N., mandou fazer uma cadeira, tá?

As asas que L. mandou fazer, ele não quer, de modo nenhum, que tenham a função “voar”. Ele
não quer isso! Se ele quisesse que elas tivessem a função voar, ele viraria uma personagem mítica
chamada Ícaro, que iria morrer. (Certo?)

Ou seja, a asa que o Carlinhos quer já é uma asa de cópia degradada. Porque a asa dele não tem
função. E a cadeira que a N vai mandar fazer, ela tem função. Ela vai mandar fazer uma cadeira
que sirva para sentar. Quando você produz um objeto, que é o objeto que respeita o modelo, ele
tem a função dele em pleno exercício. Mantém­se a função dele.

Por exemplo, eu mando fazer um sapato. O que que meu sapato tem? A função de ser usado.
Você manda fazer uma cadeira… função de ser usada.

Agora, L. vai mandar fazer duas asas. As asas de L. vão ter apenas uma função: fotografia,
depois… não vale mais nada. Não valem mais Elas saíram do esquema clássico do artesanato, que
é produzir objetos com função. Isso que o artesanato faz. Ai N. mandou fazer a cadeira. A cadeira
que N. mandou fazer chama­se cópia. Cadeira­cópia. Cadeira­ícone. Por que é uma cadeira­ícone?
Porque ela respeita todas as funções e as formas da cadeira.

Agora, amanhã chega na casa de N um pintor. E esse pintor vai, pinta a cadeira que a N mandou
fazer… ele pinta na tela. A cadeira do pintor é uma copia degradada, porque ela perdeu a função.
Ela não serve para sentar. A pintura é uma copia degradada. Vocês entenderam? Degradar a cópia
é arrancar do objeto a sua função.

Al: E a foto da cadeira?

Cl: A foto da cadeira? Já é uma degradação dela! Porque ela perdeu a função.

Al: A foto dela não seria um ícone?

Cl: É um exemplo de ícone. Mas para o Platão, quando o Platão analisa… ainda não existia foto em
Platão, mas tinha um pintor que pintava igualzinho… Para o Platão, a fotografia é uma copia
degradada. Inteiramente degradada. Perdeu a função. Todos os objetos, para serem boas cópias,
têm que manter a função. Por exemplo, eu mando fazer 30 sapatos, mas nenhum serve para
usar. Eu fiquei maluco! Eu pirei! Os objetos que a gente produz têm que ter função. Tendo
função, os objetos são cópias perfeitas!

Então, o pintor, quando ele pinta um objeto, ele já degrada esse objeto. Por isso, para Platão, todo
artista degrada. O artesão, não! O artesão produz as boas copias; e os artistas, as cópias
degradadas. (Entenderam?) Cópias degradadas!… (Não entendeu não, C? M?)

Al: Por isso ele não gostava dos artistas?

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Cl: Por isso ele não gostava dos artistas!

Mas vejam bem, a cópia degradada não é problema para Platão. Ele diz: “Não, a cópia está
degradada, não é bom isso! Não é bom, porque as cópias devem ser perfeitas. Então, os artistas
não devem viver na sociedade. “Vão embora. Não quero artista na minha cidade…. porque eles
degradam tudo! Só quero artesão”. Agora, a copia degradada traz problemas? Não! Não é
problema nenhum! O problema é que a cópia degradada vai se degradar………. (fim do lado A)

Lado B:

Você pega, por exemplo, o Brancusi. Você pega um pássaro que Brancuzi fez… Brancusi fez o
pássaro. Mandou lá da [Romênia] para os EUA. de navio. Chegou na Alfândega, dos EUA, o pássaro
não passou. O pessoal da Alfândega disse: isso aqui não é obra de arte! Não deixou passar. Não é
obra de arte! Por que não é obra de arte? Porque na Alfândega obra de arte tem que ser…

Al: Cópia do modelo.

Cl. Cópia do modelo! O Brancusi ficou uns dez anos brigando para provar que ele era uma obra de
arte. Porque, ou seja, a obra de arte ela começa a perder as características de cópia. (Certo?)
Quando ela perde as caraterísticas de cópia – como esse pássaro que o Brancusi fez – quando
alguma coisa perde as características de cópia, ela já não imita mais nada! Por exemplo, isso aqui
[mostra alguma figura] já não imita mais nada. (Dá para entender isso aqui?) Quando não imita
mais nada, torna­se…

Al: Simulacro!

… e o seu próprio modelo: é isso que o simulacro.??..

Al: E por que essa cópia degradada ameaça tanto o Platão?

Cl: Ela ameaça porque de tanto se degradar vai virar simulacro. É isso!

Al: E o que que isso faz?

Cl: O simulacro? O simulacro é a perda da semelhança! Você não obedece mais a modelo nenhum.
O Platão, por exemplo, todo homem grego tem que ser um guardião da cidade grega. Todo
homem grego tem que seguir um modelo. Você sendo simulacro, você não segue mais modelo
nenhum!

Al: Só é música, a musica erudita, não é?

Cl: Só é música a música erudita! Só é não sei o que isso…. acabou­se, você não tem mais suporte
para..

Al: Isso ameaça politicamente…?

Cl: A cidade? Acaba a cidade! A cidade se desfaz! O campo social acaba! É a emergência das
singularidades. Você já não imita mais nada. Você não tem que ser bom, você não tem que ser
mau, você não tem que ser obediente, você não tem mais nada para seguir. Você, quando faz um
ato, o seu ato não pode ser bom nem mau. Porque um ato só é bom quando ele imita o modelo, o
ato só é mau quando ele não imita o modelo. Não há modelo, o ato não é bom nem mau.
Inclusive, todo sistema de linguagem se desfaz. Tudo se desfaz. Acaba com tudo! Então, Platão
zelando, não pela Grécia, mas zelando pela humanidade, porque a humanidade não sabe viver
sem obedecer e ser castigada. (Risos…) Literal! Literal!

Al: O conceito de andróide…?

Cl: O que é que tem? Se o andróide vai romper com isso?

Al: Não, é, porque o conceito de andróide seria o que… uma cópia…?

Cl: Não… um simulacro? Por exemplo, passou um filme, L., não sei se você chegou a ver – “Blade
Runner”. Aqueles replicantes, eles são simulacros. Agora, eles chegaram a um ponto tal…(aqui
você vai entender!)…os simulacros chegaram a um ponto tal que ninguém sabe mais quem é
homem ou quem é simulacro. Ninguém mais sabe quem é replicante e quem não é. Porque,
inclusive, na segunda produção do Blade Runner, o Harrison Ford é replicante. Você entendeu isso
que eu falei? Aquele policial que cata replicante, na segunda versão ele é replicante. Porque o
simulacro, ele se mistura tanto com o modelo, com a cópia, que ele acaba com o mundo das
cópias e ninguém mais distingue o que é cópia e simulacro. É isso que Platão temia.

Al: Mas ai vem o caos?
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Cl: O caos completo!

Al: O Blade Runner é uma visão totalmente caótica!

Cl: Totalmente caótica! Mas só que… ai começa a aparecer o que Platão mais temia: o caos pode
ser administrado.

Al: Ele temia que o caos fosse administrado?

Cl: Não. Platão temia o caos. Mas… a experiência do caos nos revela que o caos pode­se
administrar.

Al: Isso o Platão não esperava?

Cl: Não. Ele não esperava, não: ele não admitia! Ele não admitia!… Porque a questão é a seguinte:
toda a questão de Platão – isso é que é muito difícil, o que eu vou falar agora, sei que vai ser
difícil… – toda a questão do Platão é a manutenção da humanidade, sabendo­se que a
humanidade se constitui pelo processo de imitação . Você pega uma criancinha e o que que você
fala para a criancinha? Imite os mais velhos! Ou não? Não é isso? Por exemplo, você vai numa
tribo de índios, os bororós, e depois vai na tribo de índios xavantes. O que que as crianças bororós
fazem? Imitam os adultos bororós! E os xavantes, as crianças xavantes? Imitam os adultos
xavantes! Então, dentro de uma sociedade, sempre o processo de imitação vai ser o modelo. É o
modelo constituinte dela. Se você introduz o simulacro, você rompe com os modelos. A quem que
eu vou imitar? Eu vou chegar lá na policia… Delegado, a quem que eu imito? Eu estou sem saber
o que eu faço, não sei a quem eu vou imitar, o que é que eu vou fazer? (Vocês entenderam o que
eu disse?) Você não sabe mais o que faz!

Mas, nesse momento, aparece uma das coisas mais bonitas da vida! No momento em que você
não sabe o que faz é o momento em que você tem que se constituir. É a experimentação da
sua liberdade. Ou seja, você já não tem mais nada para copiar: você próprio tem que se tornar o
seu próprio modelo. É esse que é o modelo: você próprio tem que se constituir, produzir um novo
ser.

Al: Isso que é a administração do caos?

Cl: Isso que é a administração do Caos!

Al: Claudio, eu posso dizer então que agora o modelo é Deus­Natureza?

Cl: Não! Bem, você pode dizer isso, pode dizer isso! Modelo Deus­Natureza… ou seja, isso daqui….
Eu vou dizer de outra forma que vocês vão entender melhor… Vou usar uma aula que eu, por
exemplo, não dou há séculos, (viu?) mas vocês vão compreender com mais facilidade o que estou
dizendo. Existe um filósofo historiador, chamado Michel Foucault, e o que esse filósofo estudava
era o poder na cidade. Viu? O poder na cidade. Por exemplo, no RJ, vamos dizer uma coisa que
tenha poder aqui no Rio de Janeiro… O César Maia! Ele não tem poder? Ele não pode tirar
paralelepípedos? Eu posso tirar paralelepípedo? Não, não posso! O César Maia pode! O César Maia
não pode fechar a TV Globo, dizendo, inventando que a TV Globo, por exemplo, está produzindo
balburdia sonora? Pode! O Roberto Marinho bota outro prefeito no lugar dele…. mas ele pode! Ele
não faz, mas ele pode fazer: ele tem o poder!

Al: O poder legal?

Cl: Pode! Se ele provar que a TV Globo está produzindo perturbação sonora na cidade, ele fecha. Aí
o sistema jurídico..?..ele fecha: ele tem o poder, tá?

Agora prestem a atenção!

Na cidade grega, quando Foucault foi estudar os gregos, ele descobriu que na Grécia, na cidade
grega, havia dois poderes. (Agora vocês vão marcar, para vocês compreenderem!) Havia dois
poderes na cidade grega. Um, chamava­se poder político e o outro, chamava­se poder econômico.
Havia esses dois poderes: o poder político e o poder econômico. Antes de entrar, vamos fazer uma
prática chamada filológica. (O que é filologia? É estudar os termos.) O que que quer dizer político?
Político se origina na palavra polis, que em grego quer dizer cidade. Então, o que que é o poder
político? É o poder sobre…

Als: a cidade.

Cl: Político é aquele que tem poder sobre…

A cidade! E esse poder político existia na Grécia? Sim. Então, todo grego queria o poder político.

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Mas além do poder político ele queria o poder econômico. Agora, econômico quer dizer o quê?
Econômico vem da palavra oikos, que quer dizer casa. Oikonomia. Nomos, nomia quer dizer lei, a
lei da casa. Então, todo grego queria ter poder econômico e poder político, poder sobre a cidade e
poder sobre a sua casa. (Entenderam?) Porque o grego tinha duas casas: a casa da cidade e a casa
do campo. A casa do campo é que trazia os alimentos para a casa da cidade. Então ele
administrava a casa da cidade e a casa do campo. Por isso… aparece uma coisa que ninguém
nunca compreendeu: os gregos adoravam as gregas. Eles adoravam as gregas, mas sempre
quando um grego {atingia os] quarenta anos casava­se com uma grega de dezoito. P’ra quê? Para
ensinar a grega a administrar o oikos, administrar a…

Als: casa.

Então, a mulher grega era uma mulher econômica, ela dava conta da economia. Ela administrava
a casa, [sendo] administrada pelo homem. Mas o homem, além de administrar a casa, o que mais
que ele administrava, M?

Al: A cidade.

Cl: A cidade. A mulher não, a mulher só podia ficar na casa. Era livre para aquilo, mas só podia
ficar na casa. O homem ia para a cidade, para administrar a cidade. Então, dois poderes (não é?):
o poder econômico e o poder político.

Quando Foucault foi estudar os gregos, ele descobriu esse dois poderes: o político, que vem da
polis – a politea; e o oikonomos, que vem do oikos – a economia. Esses dois poderes! Ai o Foucault
descobre um terceiro poder, que se chama enkrateia. O que é enkrateia? É uma das coisas mais
bonitas que os gregos produziram. Os gregos, eles acham que nós, os homens, somos dotados de
paixões muito fortes e essas paixões muito fortes podem comandar as nossas vidas. Por isso, o
homem grego, ele deve administrar as suas paixões. Então, o homem grego tem que adquirir um
terceiro poder: o poder sobre as suas paixões. Esse poder sobre as suas paixões chama­se
enkrateia que é, para os gregos, a estética da existência. Todo aquele que tem o poder sobre as
suas paixões torna a sua vida bela. (Vocês entenderam?) Esse fenômeno grego, jamais pode­se
dar no Ocidente. Por quê? Porque no Ocidente podemos ter o poder político e o poder econômico.
Mas jamais enkrateia. Porque quem organiza a nossa subjetividade é a igreja, a família, a escola,
etc. (Entenderam?)

Então, é exatamente essa a questão platônica. A questão platônica é com a enkrateia. Ele não
quer a enkrateia. Porque a enkrateia vai produzir subjetividades que são constituídas fora de
qualquer modelo. O que você aprende não é seguir modelo. O que você aprende é a ser livre,
dominando as suas paixões, governando as suas paixões. Então você, ao governar as suas
paixões, você não se submete a nenhum poder externo se esse poder não for explicado pela sua
inteligência. Nenhum homem livre se submete ao poder do estado! (Não sei se vocês
entenderam…)(Conseguiu entender, C?)

Essa pratica da enkrateia, que é o terceiro tipo de poder, – não é esse o terceiro tipo de poder? –
nesse tipo de poder não há modelo. Porque na hora que você for administrar a cidade, que é o
poder político, você segue um modelo, o modelo de administrar a cidade. Quando você for
administrar a casa, você segue o modelo de administrar a casa. Mas, quando você for administrar
a si próprio, você não tem modelo nenhum para seguir. Você tem que produzir a sua linha de vida.
E qual é a sua linha de vida? A liberdade! Por quê? Porque você sendo livre deixará que todos os
outros sejam livres. Produz uma sociedade de homens livres. Impensável no nosso mundo!
Impensável no nosso mundo que é governado por outros modelos. Como por exemplo, o dinheiro.
(Entenderam?)

O nosso mundo não pode oferecer isso. Por isso que, no nosso mundo, essas experimentações de
enkrateia, elas só se dão com o artista. Só ele é que faz essa experiência. Porque ele, na
experimentação da sua matéria – pode ser matéria escrita, matéria sonora, não importa qual:
chama­se matéria de expressão ­, quando o artista mergulha nisso, as soluções quem tem que
dar é ele, sem nenhum modelo! (Não sei se entenderam?) Quando o artista vai fazer a sua tela,
quando o artista vai fazer a sua música, ele não tem um modelo para seguir, as soluções quem
tem que dar é ele. Ou seja, ele não está reproduzindo ali nenhum campo político, nenhum campo
econômico. Por isso a arte é a experimentação da liberdade!

(Querem perguntar alguma coisa?)

Al: Mesmo no figurativo, ele não está copiando nada!?

Cl: No figurativo está, no figurativo está. Por isso é que no século XX o figurativo vai sofrer, direto,
desde 1910, a presença do abstracionismo e do figural.

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AA: Mas um quadro impressionista, por exemplo, ele está copiando mas não está copiando!?

Cl: Tá, ainda tá!

Al: E o Bacon?

Cl: Ele vai tentar fugir disso, vai tentar fugir disso.

A gente não deve pensar assim não, AA. A gente não deve pensar escolas, porque as escolas são
grades muito largas. Você deve pensar a singularidade do artista. Em vez de pensar a escola
impressionista, porque isso não existiu, você tem que pensar Manet, Monet… E cada um artista,
este sim, este você afirma…

AA; Monet, Monet, nunca se submeteram…

Cl: Jamais, jamais! Mas outros sim, outros se submetem! Você nunca pode dar conta disso por
essas figuras fictícias que são as escolas. A escola é uma seita, toda escola é uma seita, toda
escola constitui um modelo a que você se submete. Por isso a escola produz fanatismo. (Vocês
entenderam?) Qualquer escola produz fanatismo! Onde você constituir escola aparece o fanático.
O fanático é a reprodução permanente daquele modelo. Isso que o fanático quer. O que é o
fanático? O fanático segue o modelo e quer que aquele modelo jamais se desfaça. Isso é que é o
fanático… O fanático religioso, por exemplo. Então, a única maneira que você tem de evitar a pior
figura que pode existir na humanidade, que se chama fanático, é evitando a construção de
modelos. Impedir o modelo: impedir o surgimento de modelos. Ou seja, gerar uma sociedade de
homens livres.

Isso que estou falando para vocês… (estou agora me dirigindo sobretudo a A, C, M e V)…é o
problema do ator. Vocês estão começando no mundo de interpretação do teatro agora, mas é
exatamente isso que vocês vão conhecer, uma arte em que o modelo de representação não é
esse. Isso tudo eu vou começar a explicar para vocês pelo cinema. Por exemplo, o cinema do
Hitchcock já quebraria esse seu modelo, esse modelo realista. Ele quebraria… Num… num velório
do Hitchcock, ninguém chora. Pode ter, no máximo, um lencinho assim, no nariz. O Hitchcock
exige a neutralidade de sentimento dos atores. (Entendeu, hein, C?) os atores dele têm que ter
absoluta neutralidade de sentimentos. Quando ele faz isso, ele pede neutralidade de sentimento
dos atores, ele está em confronto direto com a arte realista – que pede os sentimentos dos atores!
Então você vê um filme do Hitchcock, você fica assustado, assustado! A Grace Kelly é acusada de
ter matado um homem e ela… [nada manifesta]…O Ray Milland está matando todo mundo…,…. o
amante da mulher da?? vai morrer,… e nada! É como se eles não tivessem sentimentos. Porque…

O Hitchcock quer a neutralidade, porque ele está constituindo uma arte simbólica. Já não é mais
uma arte iconofílica. Vocês estão me entendendo? Então o melhor momento que vocês teriam é
saber que a arte realista não é a única arte possível. Por exemplo, se vocês forem ver um filme do
Robbe­Grillet, o Robbe­Grillet tem um artista principal que se chama Jean­Louis Trintignant, o ator
do Robbe­Grillet, vou dar um exemplo para vocês entenderem. Eu sou ator de um filme e no filme
eu faço uma personagem que perdeu o melhor amigo. Então essa personagem tem que
manifestar sofrimento. Um verdadeiro sofrimento. Ela tem que manifestar isso. A interpretação,
nos filmes de Robbe­Grillet, tem que ser falsa. É assustador! Falsa! Ao invés de produzir uma idéia
de verdadeiro, produzir no espectador uma idéia de falsidade. Você faz um personagem e ao invés
de você fazer aquele personagem parecer verdadeiro, você faz ele parecer… falso! Inclusive é tão
difícil o ator realista entender isso que quando eu digo, inicialmente, ninguém entende. A questão
do Robbe­Grillet não é a postura verídica do ator ou a postura verídica do personagem. Ao
contrário, é a postura falsa. Existe um filme dele, “O homem que mente” – em que a personagem
principal, em l945, está com um terno preto, uma gravata branca e uma camisa vermelha. Em
1980 está com o mesmo terno. O que quer dizer isso? O Robbe­Grillet introduz detalhes que faz
todas as ações no filme parecerem falsas. Realmente é muito difícil as pessoas entenderem isso.
Por quê? Porque quando nós vamos ao cinema, nós queremos reconhecer no cinema a nossa
própria vida.

Por que a novelas fazem sucesso? Porque reproduzem o reconhecimento das pessoas: todo
mundo se reconhece nas novelas! Se você produzir uma novela em que os espectadores não se
reconheçam, ela não passa. Você tem sempre que produzir aquilo que o espectador se auto­
reconheça ali dentro. Ele próprio está ali dentro. É ele que está passando – são os sentimentos
dele, são os desejos dele, são as coisas que ele gosta…

Agora, quando você vai produzir um cinema que já não é mais realista, o homem comum não
pode ver, porque o homem comum só entende aquilo em que ele se reconhece.

Al: E qual o intuito do Robbe­Grillet?

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Cl: O intuito do Robbe­Grillet é produzir o que se chama cinema­tempo.

Al: Não, eu estou perguntando o que é dele, esse não­ reconhecimento?

Cl: Ele não tem nenhum objetivo nisso. Os objetivos são sempre morais. Sempre que você falar
objetivo é uma moral… O Robbe­Grillet não tem objetivo, porque não tem moralidade no cinema
dele. O cinema­tempo não tem moralidade!

Al: Então tem que fazer o quê?

Cl: Nada! Ele não está produzindo um personagem falso porque “Robbe­Grillet resolveu fazer um
personagem falso”. Não é nada disso. São as coordenados daquele cinema que, necessariamente,
produzem uma personagem falsa. Não sei se você entendeu isso…Você pega uma coordenada do
cinema e ali aparece a personagem falsa.

(Eu vou voltar para vocês entenderem!)

Existe um diretor de cinema chamado Quentin Tarantino. O Quentin Tarantino fez um filme
chamado “Cães de Aluguel”. Em “Cães de Aluguel” Tarantino fez um flashback. O que é um
flashback? É uma narrativa de uma história do passado. Ele produz um flashback de uma pessoa…
de um acontecimento que não aconteceu no passado da pessoa.

(Vejam se entenderam?) É uma pessoa…

Al: Não aconteceu?

Cl: Não aconteceu! Tem um flashback, mas aquilo nunca aconteceu. É um flashback falso. Isso já
tinha sido produzido pelo Hitchcock. Vocês entenderam o que é flashback?

Al: Eu entendi. Mas não entendi porque ele produziu isso.

Cl: Introduzindo isso, ele quebra o modelo do flashback, rompe com aquele modelo verídico. Ele
está rompendo com o chamado cinema verídico. Porque esse cinema verídico… o objetivo do
cinema verídico é a produção do reconhecimento.

Al: Sai do tempo cronológico…

Cl: Mas isso é muito grave, C. Porque esse cinema verídico – vou dizer uma coisa gravíssima para
vocês – foi a sustentação do nazismo e do fascismo. Sustentação do nazismo e do fascismo! No
sentido que é o cinema do reconhecimento. Vai produzindo um tipo de homem…vai gerando um
tipo de homem… um tipo de homem abominável! Um tipo de homem que leva a vida dele se
submetendo a modelos!

Então, o cinema­tempo não é apenas uma obra de arte. É também uma obra política, no sentido
de que desfaz a possibilidade de aparecer os sistemas totalitários ou essas figuras nazistas e
fascistas que eles inventaram.

Por exemplo, você não tem o palco, você não vai para o palco, C.?! É uma invenção nazista!
Foram os fascistas que inventaram o palco! Eles inventaram todo esse sistema para produzir um
mecanismo de representação que domine todo mundo. Que domine todo mundo!

Você cria um tipo de voz… por exemplo, o Cid Moreira: por que será que o Cid Moreira tem aquela
voz? Porque o Cid Moreira gosta? Jamais! Porque todo mundo se reconhece naquela voz: é um
processo de reconhecimento!

Se você colocar ali no jornal das oito… vamos ver quem… jornal das oito… quem? O Romário! Você
coloca o Romário ali… Ele sai avacalhando tudo! Quem é que vai acreditar? Nos EUA um furacão
chamado????? Ninguém vai dar importância! É preciso constituir um modelo que você respeite.
(Entenderam?) Que você respeite aquele modelo – é o sistema de respeitabilidade que se funda e
estabelece o homem­cópia.

Então… quando você vê o jornal das oito, você não está vendo uma exibição de notícias. Você está
vendo uma produção de subjetividades!

Al: Quer dizer que o cinema levaria o homem a ser mais livre…

Cl: O cinema­tempo não levaria a ser mais livre, levaria a ser livre. É impossível você encontrar a
liberdade fora do tempo. Ou seja, a única coisa – depois eu vou mostrar isso a vocês – a única
coisa que importa nas nossas vidas é a liberdade. Nada mais importa! É isso que importa! Por
exemplo, a liberdade de L. poder fazer a música que ele quiser. É isso que importa para nós! Nós
vivemos numa sociedade, L, você teve que experimentar isso. Nós vivemos numa sociedade de tal
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16/12/2015 Centro de Estudos Claudio Ulpiano » Aula de 22/08/1995 – ENKRATEIA – Estética da Existência » Print

forma repressiva que os nossos passos hoje são contidos. Nós somos contidos de todos os lados!

Al: Mas, todas as sociedades não foram assim?

Cl: Geralmente foram: são! Porque toda sociedade – e quando eu falava isso vocês pensavam que
era brincadeira – toda sociedade funciona de duas maneiras: obediência e castigo. Obedeceu,
(palmas). Não obedeceu…, castigo! A sociedade funciona assim. Nós chegamos a um momento
crítico da história da humanidade, que é o momento das afirmações das singularidades: cada um
quer afirmar sua própria vida. Nós, hoje, queremos ser responsáveis pela nossa vida e pela nossa
morte. Responsáveis pelas nossas vidas e pelas nossas mortes! O homem desse fim de milênio
começa a retomar o homem grego.

Al: Que é o oposto do homem medieval…

Cl: São submetidos!???

Eu não estou dizendo que isto está se dando. Nós estamos aqui num sistema de avatares, mas
não estamos vendo isso. Nós estamos vendo, como se diz, o ancestral do homem livre. O que quer
dizer o ancestral do homem livre? Que o homem… a vida… a vida é um fenômeno – que eu vou
dizer assim, não tem outra maneira de dizer – que se deu neste planeta, mas poderia não se dar.
Deu­se! Aconteceu! É um acaso! O acaso chama­se acontecimento. O acontecimento se deu. E os
únicos responsáveis pela vida somos nós. Nós somos os guardiões das estrelas, dos planetas, dos
vulcões, e dos subterrâneos. Nós, os homens. (Certo?)

Então, se nós entregarmos a direção do planeta a esses que tudo que eles fazem é regido por
modelos… (Reagan, etc…) teremos, no mínimo… uma guerra atômica. No mínimo, isso que nós
vemos dentro das cidades. As cidades chegaram a um ponto insuportável de vida. Não há como
viver dentro das cidades. Toda e qualquer cidade é a mesma coisa. Por quê? Porque apareceu –
agora que é a grande questão – apareceu a degradação das cópias, porque a essência da cópia é
degradar­se. (Não sei se vocês entenderam…) Toda cópia tem que se degradar! É diferente do que
Platão disse. Você não tem como, numa sociedade constituída como a nossa, ter o poder de
exercer a sua vida. Sua vida é toda presa, não é?, por modelos insuportáveis!

A gente pensa que é brincadeira isso…Esses modelos repercutem no nosso espírito e são os
criadores das angústias, dos temores e da insuportabilidade.

Ah! Então está bom! Vocês viram que eu não dei uma aula de cinema, eu consegui fingir que
estava dando aula de cinema… Eu não dei aula de cinema! Porque, ou nós vemos o filme, ou não
tem aula de cinema!…

Então, para a gente penetrar na imagem tempo… Eu posso, eu posso… partir da imagem­tempo.
Por exemplo, eu estou dando um curso de cinema, já parti da imagem­tempo. Mas aqui não, aqui
eu estou fazendo um trabalho lento, bonito… Vocês me travaram! Sem ver [o filme] é impossível
falar.

Então, parabéns para vocês, tá? (Aplausos!)

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