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NIEMEYER
SCOTTÁ, Luciane1
INTRODUÇÃO
O TIPO
1
Arquiteta e Urbanista graduada pela UFSM, Mestranda em Teoria, História e Crítica pelo Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU-UnB. E-mail: lu_scotta@yahoo.com.br
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perfeitamente quanto a idéia de um elemento
que deve, ele mesmo, servir de regra ao
modelo.(...)O modelo, entendido segundo a
execução prática da arte, é um objeto que se
deve repetir tal como é; o tipo ‘é’, pelo contrário,
um objeto, segundo o qual cada um pode
conceber obras, que não se assemelharão entre
si. Tudo é preciso e dado no modelo; tudo é
mais ou menos vago no ‘tipo’. Assim, vemos que
a imitação dos ‘tipos’ nada tem que o sentimento
e o espírito não possam reconhecer.2
Aldo Rossi sugeriu que o tipo surge de acordo com as necessidades e em razão
do local onde é desenvolvido:
2
Apud ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p.25. (grifo nosso)
3
ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e Destino. São Paulo: Editora Ática, 2000. p. 66 e 67.
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ROSSI, 1995. p .25. (grifo do autor)
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Talvez possa ser definido como aquele conceito
que descreve um grupo de objetos
caracterizados por ter a mesma estrutura formal.
Não se trata pois, nem de um diagrama espacial,
nem do objeto médio de uma série. O conceito
de tipo se baseia fundamentalmente na
possibilidade de agrupar os objetos servindo-se
daquelas similitudes estruturais que lhe são
inerentes, poderia dizer inclusive que o tipo
permite pensar em grupo.5
Assim, o “Tipo” pode ser entendido como o ponto de partida, a forma primordial,
que se desenvolve de maneiras diferentes gerando objetos finais distintos entre
si, mas mantendo características essenciais iguais e reconhecíveis. Pode ser
definido também como uma espécie de esquema organizativo, encontrado na
origem das edificações.
O TIPO RELIGIOSO
5
Apud STRÖHER, Eneida R. Considerações sobre o conceito de tipologia arquitetônica. In: O tipo na
arquitetura: da teoria ao projeto. São Leopoldo: Editora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2001.
p.27.
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GRAEFF, Edgar Albuquerque. O Edifício. Cadernos Brasileiros de Arquitetura, Projeto Editores
Associados Ltda.1979. p.80.
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AS PRIMEIRAS EDIFICAÇÕES CRISTÃS
Figura 01: Esquema das edificações residenciais onde os primeiros cristãos se reuniam.
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MULLER, Werner; VOGEL, Gunther. Atlas de Arquitectura. vol. 1. Madrid: Alianza Editorial, 1984.
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Nicho, geralmente semicircular, que abriga um altar ou tribuna, acrescentado ao espaço principal.
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A partir do século IV, com a liberação do culto, se iniciou a construção de vários
recintos e a transformação de lugares já existentes, doados pelo Imperador
Constantino, para adequá-los ao culto cristão. Nas cidades mais importantes
foram construídos grandes edifícios e conjuntos planejados para este fim.
Tomou-se então como referência, para o desenvolvimento dos edifícios
adequados ao novo programa, os tipos e as formas da arquitetura romana
profana.
BASÍLICAS
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Evangelho. Ainda, nos edifícios cristãos foi acrescentado um espaço anterior à
sala principal, onde se localizou o batistério. Era clara a distinção entre
sacerdotes e povo, o que não ficava tão evidenciado nas construções anteriores.
Este tipo de edificação teve sua origem nas sepulturas pré-historicas ou “tholos”15.
Os gregos a adotaram para o culto de heróis e a realização de sacrifícios, na
forma de um templo redondo com cella16 e pórtico circular. Posteriormente os
romanos tomaram esta forma para os locais de celebração de suas divindades.
Para as igrejas batismais e as de caráter comemorativo (cella memoriae17,
martyrium18), a arquitetura paleocristã adotou a tradição dos edifícios de planta
15
Sepultura subterrânea com câmara circular coberta por cúpula, acessada através de um longo corredor.
16
Câmara ou recinto principal do templo, onde está abrigada a imagem da divindade.
17
Igreja construída em memória de um mártir ou de um santo.
18
Igreja construída sobre o túmulo de um mártir.
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central, com espaço principal separado por colunata, seguido de um espaço
circundante.
EDIFÍCIOS DE CÚPULA
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Constantinopla, como um dos exemplos mais expressivos. Possui planta
retangular com um espaço longitudinal centralizado, repleta de arcadas e pilares,
o presbitério em forma de trevo e o volume externo escalonado com cúpulas e
meias-cúpulas.
IGREJAS CRUCIFORMES
No início do século XX, muitos acreditavam que não havia sentido na procura de
uma nova arquitetura, sustentando que as igrejas existentes eram o modelo
adequado a ser seguido e repetido. Mas começou-se a discutir esta prática em
busca de uma adaptação às novas formas arquitetônicas e às novas técnicas de
construção.
O Movimento Litúrgico, de acordo com as manifestações do Papa Pio X, que
exerceu seu papado de 1903 a 1914, iniciou uma renovação na Igreja Católica.
Houve iniciativas para aproximar os fiéis da liturgia nas missas e a intenção de
aliar os artistas modernos à Igreja, de maneira a reafirmar a ‘modernidade’
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litúrgica. No campo da arquitetura essas reformas preconizaram a lógica e
harmonia das construções com os materiais e técnicas modernas.
Um dos arquitetos que se dedicou à exploração das formas, buscando
alternativas de configurações dos espaços tradicionais e aproximando o altar dos
fiéis foi Dominikus Böhm, seguido por seu colaborador Rudolf Schwarz que em
1938 escreveu “Vom Bau der Kirche”19, onde apresentou modelos esquemáticos e
discorreu sobre os problemas de representatividade dos templos para o arquiteto.
O evento mais importante do século para o catolicismo foi o Concílio Vaticano II,
realizado entre 1962 e 1965. Neste, a Igreja passou por uma transformação
efetiva e profunda em direção à aceitação da modernidade, que já vinha sendo
discutida no seio da igreja. A missa, que antes era celebrada em latim e rezada
pelo padre de costas para os fiéis, passou a utilizar a língua de cada país e o
celebrante a se postar voltado para a assembléia. A mudança arquitetônica que
isto acarretou foi a localização do altar, que se aproximou da assembléia, exigindo
uma reorganização do espaço.
Com todas essas transformações no século XX, os espaços das Igrejas também
se modificaram, com a principal finalidade de aproximar as pessoas da Divindade,
dos santos e do clero. Os Santos passaram a serem vistos mais como humanos
do que divindades, e reduziram-se suas imagens em número, privilegiando a
simplicidade. A pia batismal que se localizava fora da igreja ou logo à entrada,
segundo a idéia de que as pessoas deveriam ser batizadas antes de entrarem no
templo, que só deveria ser freqüentado depois que deixassem de ser pagãos,
passou a ter um local de importância dentro da nave. Os fiéis deviam participar
deste ato importante, e por este motivo ela se localizou próxima ao altar, para que
todos possam testemunhá-lo.
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SCHNELL, Hugo. La arquitectura eclesial del Siglo XX en Alemania. Munich: Schnell & Steiner, 1974.
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OSCAR NIEMEYER E A ARQUITETURA RELIGIOSA
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NIEMEYER, Oscar. Minha Arquitetura. Rio de Janeiro: Revan, 2004. p.137
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AS EDIFICAÇÕES RELIGIOSAS
Figuras 07 e 08: Igreja São Francisco de Assis, Pampulha, Belo Horizonte, MG, 1940.
FONTE: foto da autora.
21
CARDOZO, Joaquim. In: XAVIER, Alberto (org). Arquitetura Moderna Brasileira: depoimento de
uma geração. São Paulo: Pini: Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura: Fundação Vilanova Artigas,
1987. p. 135.
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Módulo, nº 1, março de 1955, p.3.
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O projeto apenas desenhado acabou sendo utilizado na solução para a capela
destinada ao Palácio da Alvorada, residência do Presidente da República. Esta
pequena capela possui planta circular, e volume cilíndrico que lembra a concha
de um caracol, pelo qual, ao entrar, se percorre meia volta para então se postar
frente ao altar. Alinhada com o palácio e, como este, elevada em relação ao solo,
possui ligação por este nível e também por um acesso subterrâneo. No subsolo
da capela se localiza a sacristia. O seu interior, iluminado indiretamente pelas
faixas verticais de vidros transparentes e pelos vitrais coloridos da porta de
entrada, é revestido com madeira folheada a ouro que contrasta com seu exterior
em mármore branco. O teto recebeu pintura de Athos Bulcão.
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FICHER, Sylvia. Brasília: Guiarquitetura. São Paulo: Empresa das Artes, 2000. p. 144.
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Figuras 13 e 14: Igreja Nossa Senhora de Fátima, Brasília, DF, 1958.
FONTE: fotos da autora.
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BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea brasileira. São Paulo: Editora Perspectiva, 1991, p. 214.
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Em 1970 a obra se completou, com a construção dos demais elementos: espelho d’agua , batistério,
campanário, interior da nave, vitrais, sacristia, etc.
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Dentre os edifícios religiosos pouco conhecidos está uma pequena igreja de
planta circular situada na Favela de Manguinhos, no Rio de Janeiro. A Igreja de
São Daniel também possui uma via sacra pintada por Guignard. Foi inaugurada
em 1960, com a presença de Juscelino Kubitschek.
No mesmo ano, Oscar fez o projeto de uma igreja que completaria o conjunto do
Instituto de Teologia da UnB, mas não foi edificada.
Figura 19: Projeto do Instituto de Teologia com o volume da capela não construída à direita, 1960.
FONTE: Correio Braziliense de 08/12/07
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Para este projeto Niemeyer propôs um processo construtivo diferente. Os
volumes seriam realizados com terra, e posteriormente cobertos com lajes de
concreto. Retirando-se a terra, os espaços estariam prontos. A maior parte do
programa se abrigaria sob uma grande cobertura, enquanto a capela e um
anfiteatro possuiriam edifícios distintos. Pelos croquis feitos pelo arquiteto se
percebe que a capela se assemelharia à forma da Catedral de Brasília, no entanto
menos esbelta que esta.
Niemeyer também realizou o projeto (não construído) de uma mesquita para a
Argélia, no ano de 1968, que se baseava em um edifício de planta circular
suspenso sobre o mar, apoiado em pilares delgados.
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Para a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Antioquina de Brasília, em 1986, o
arquiteto elaborou um edifício de volume cilíndrico de aproximadamente 30m de
diâmetro e 7m de altura, encimada por uma cúpula que sustenta uma cruz. O
volume possui dois pavimentos e a ele se agrega um volume menor que contém a
caixa de elevador. Uma viga faz a ligação entre o edifício e o campanário,
configurando uma espécie de pórtico por onde a rampa de desenho sinuoso faz a
ligação entre o terreno e o acesso a nave, que se localiza no piso superior.
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No ano seguinte projetou a capela da residência Orestes Quércia, em
Pedregulho, São Paulo. A capela, de planta retangular situa-se no mesmo nível
da residência, ambas sobre uma plataforma elevada.
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Figuras 31 e 32: Igreja Militar Rainha da Paz, Brasília, DF, 1992.
FONTE: http://www.fredcamper.com/
Figuras 33 e 34: Capela do Anexo IV da Câmara dos Deputados, Brasília, DF, 1994.
FONTE: fotos da autora
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Figuras 35 e 36: Catedral Católica e Catedral Batista, Niterói, RJ, 1997.
FONTE: NIEMEYER, Oscar. Minha arquitetura, 1937-2004. Rio de Janeiro: Revan, 2004 e
http://www.arcoweb.com.br/
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Figura 39: Catedral Cristo Rei, Belo Horizonte, MG, 2006.
FONTE: http://www.picasa.web.com.br/
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Figura 40: Esquema das edificações religiosas de Oscar Niemeyer.
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BIBLIOGRAFIA
ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e destino. São Paulo: Editora Ática, 2000. 334p.
BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea brasileira. São Paulo: Editora
Perspectiva, 1991. 398p.
CARDOZO, Joaquim. In: XAVIER, Alberto (org). Arquitetura Moderna
Brasileira: depoimento de uma geração. São Paulo: Pini: Associação Brasileira
de Ensino de Arquitetura: Fundação Vilanova Artigas, 1987. 389p.
FICHER, Sylvia et al. Brasília: Guiarquitetura. São Paulo: Empresa das Artes,
2000. 242p.
GRAEFF, Edgar Albuquerque. O Edifício. Cadernos Brasileiros de Arquitetura,
Projeto Editores Associados Ltda.1979. 146p.
Módulo, nº 1, março de 1955.
MULLER, Werner; VOGEL, Gunther. Atlas de Arquitectura. vol. 1. Madrid:
Alianza Editorial, 1984. 289p.
NIEMEYER, Oscar. Minha Arquitetura. Rio de Janeiro: Revan, 2004.
ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995. 309p.
SCHNELL, Hugo. La arquitectura eclesial del Siglo XX en Alemania. Munich:
Schnell & Steiner, 1974. 184p.
STRÖHER, Eneida R. Considerações sobre o conceito de tipologia
arquitetônica. In: O tipo na arquitetura: da teoria ao projeto. São Leopoldo:
Editora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2001. 208p.
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ANEXO 1 - RELAÇÃO DOS PROJETOS RELIGIOSOS DE OSCAR NIEMEYER
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