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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO VALE DO ARAGUAIA

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA / 3º SEMESTRE


ÉTICA EM PSICOLOGIA

VINICIUS ROCHA OLIVIERI

ÉTICA PROFISSIONAL EM PSICOLOGIA

Sigilo e confidencialidade profissional. Ética em testagens psicológicas. Cidadania.

Barra do Garças
2020
ÉTICA PROFISSIONAL EM PSICOLOGIA

SIGILO E CONFIDENCIALIDADE PROFISSIONAL

O QUE É CONFIDENCIALIDADE?

É a propriedade da informação pela que não estará disponível ou divulgada a


indivíduos, entidades ou processos sem autorização. Em outras palavras,
confidencialidade é a garantia do resguardo das informações dadas pessoalmente
em confiança e proteção contra a sua revelação não autorizada.

Confidencialidade foi definida pela Organização Internacional de Normalização (ISO)


na norma ISO/IEC 17799 como "garantir que a informação seja acessível apenas
àqueles autorizados a ter acesso" e é uma pedra angular da segurança da
informação.

O QUE É SIGILO PROFISSIONAL?

O sigilo profissional é o pilar central da relação do psicólogo com seu atendido, seja
ele paciente, cliente ou instituição. O respeito ao sigilo é um dever do profissional
e um direito do atendido.

O sigilo, segundo o disposto pelo Código de Ética Profissional do Psicólogo, se


configura da seguinte forma:

Art. 9º – É dever do Psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por


meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações a
que tenha acesso no exercício profissional.

Art. 10º – Nas situações em que se configure conflito entre as exigências


decorrentes do disposto no Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais
deste Código, excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá
decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo.

Parágrafo Único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o


psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da


dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores
que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das


pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer
formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e
historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento
profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo
científico de conhecimento e de prática.

V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da


população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e
aos padrões éticos da profissão.

VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com
dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada.

VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os


impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se
de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código.

DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO

Art. 11º – Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar


informações, considerando o previsto neste Código.

SIGILO PROFISSIONAL

Art. 12º – Nos documentos que embasam as atividades em equipe multiprofissional,


o psicólogo registrará apenas as informações necessárias para o cumprimento dos
objetivos do trabalho.

Art. 13º – No atendimento à criança, ao adolescente ou ao interdito, deve ser


comunicado aos responsáveis o estritamente essencial para se promoverem
medidas em seu benefício.

Art. 14º – A utilização de quaisquer meios de registro e observação da prática


psicológica obedecerá às normas deste Código e a legislação profissional vigente,
devendo o usuário ou beneficiário, desde o início, ser informado.

DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO

Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:


...
g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços
psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a tomada de
decisões que afetem o usuário ou beneficiário;
...
i) Zelar para que a comercialização, aquisição, doação, empréstimo, guarda e forma
de divulgação do material privativo do psicólogo sejam feitas conforme os
princípios deste Código;
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
...
q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de
serviços psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor pessoas,
grupos ou organizações.

Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos:


...
b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço
prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando
a responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo.

Art. 15º – Em caso de interrupção do trabalho do psicólogo, por quaisquer motivos,


ele deverá zelar pelo destino dos seus arquivos confidenciais.
§ 1° – Em caso de demissão ou exoneração, o psicólogo deverá repassar todo o
material ao psicólogo que vier a substituí-lo, ou lacrá-lo para posterior utilização pelo
psicólogo substituto.
§ 2° – Em caso de extinção do serviço de Psicologia, o psicólogo responsável
informará ao Conselho Regional de Psicologia, que providenciará a destinação dos
arquivos confidenciais.

ÉTICA EM TESTAGENS PSICOLÓGICAS

O QUE É ÉTICA

Grego  ethos = valores morais, costume, normas e ideais de conduta (aquilo que
pertence ao caráter).

Ética é o nome geralmente dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais.
Busca fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento humano, é a
investigação geral sobre aquilo que é bom.

TESTAGENS PSICOLÓGICAS

Conjunto de procedimentos que objetiva coletar dados para testar hipóteses clínicas,
produzir diagnósticos, descrever o funcionamento de indivíduos ou grupos e fazer
predições sobre comportamentos ou desempenho em situações específicas.

A ÉTICA NA TESTAGEM PSICOLÓGICA

 Aspecto amplo de deveres, valores e responsabilidades do psicólogo para


com a ciência e com as pessoas com as quais se relaciona.
 Ideias norteadoras de ações, atitudes e comportamentos da prática
profissional,
 Princípios éticos fundamentais: respeito, beneficência e não maleficência,
justiça.
 PRINCÍPIOS ÉTICOS FUNDAMENTAIS NA TESTAGEM
 Psicólogo deve explicar, de forma clara e em linguagem compatível com o
nível cognitivo e educacional do indivíduo, o que será feito, o que será
avaliado, os objetivos, o que será feito com os resultados, quem tomará
conhecimento deles, quais os limites do sigilo e confidencialidade.
 É importante: informação prévia, devolução e informações que não são
diretamente relevantes para o objetivo da testagem não serem registradas e
nem usadas para qualquer outro objetivo.
 Respeito: preocupação moral de que as pessoas sejam tratadas como
autônomas, mesmo as pessoas mais vulneráveis devem ter seus direitos
protegidos.
 Beneficência e não maleficência: envolve a maximização dos benefícios
possíveis e a minimização de danos, a avaliação psicológica deve beneficiar
a quem a ela é submetido (diagnosticando um problema), descrevendo com
precisão uma situação, e encaminhando para intervenção apropriada mesmo
quando a demanda não é do próprio avaliado (exames psicotécnicos, perícias
judiciais).
 Risco da Maleficência: recusa de emprego para pessoa que estaria apta,
promoção negada, não reconhecimento de um transtorno ou confusão com
outro quadro, laudos judiciais inadequados que levam a sentenças injustas.
 Ter clareza sobre o que se está fazendo.
 Ponderar se os benefícios são maiores do que os possíveis danos advindos
de uma avalição imprecisa ou incorreta
 Planejamento adequado e utilização de instrumentos válidos e métodos
cientificamente embasados
 Princípio da justiça: só usar testes que tenham sido validados e normatizados
para uma população ou grupo equivalente aos indivíduos que serão testados.

COMO GARANTIR A ÉTICA

Padrões norteadores a serem respeitados na formação e atuação de psicólogos,


conforme a CFP:

Competência: O psicólogo deve procurar manter os mais altos padrões de


excelência no seu trabalho, reconhecendo os limites da sua competência, limitações
da sua especialidade e oferecer somente serviços que se sinta adequadamente
habilitado estando a par do desenvolvimento da literatura científica.

Integridade: Espera-se que o psicólogo tenha compotamentos honestos, justos e


respeitosos na sua atuação e deve ter a consciência do seu sistema de valores e os
efeitos que esses possam ter na sua prática diária.

Responsabilidade científica e profissional: o psicólogo deve reconhecer a


importância do seu comportamento e atuação, procurando sempre atender as
necessidades de diferentes tipos de clientela e espera-se que colabore com outros
colegas ou instituições envolvidos no bem-estar das populações atendidas.

Respeito pela dignidade e direitos das pessoas: Necessidade do reconhecimento do


direito de privacidade, confidencialidade, autodeterminação e autonomia dos
indivíduos atendidos. Determinar a guarda sigilosa da informação e o direito à
recusa de continuar determinado tratamento
Preocupação com o bem-estar do outro: Psicólogos devem estar sensíveis à relação
de poder no atendimento ao outro, evitando qualquer atitude que envolva engano ou
exploração da pessoa envolvida.

Responsabilidade social: Responsabilidade científica do profissional diante da


comunidade e da sociedade na qual está inserido, divulgação dos conhecimentos
psicológicos para reduzir o sofrimento e contribuir para a melhorida da humanidade
e responsabilidade na formação de políticas e leis que possam beneficiar a
sociedade, sem que tais funções envolvam, necessariamente vantagens
profissionais.

FALTAS ÉTICAS GRAVES EM TESTAGENS PSICOLÓGICAS

 Fotocopiar material sujeito a direitos autorais;


 Utilizar testes inadequados na sua prática;
 Estar desatualizado na área de atuação;
 Desconsiderar os erros de medida nas suas interpretações;
 Utilizar folhas de respostas inadequadas;
 Permitir a aplicação de testes por pessoal não qualificado;
 Desprezar condições que afetam a validade dos testes em cada cultura;
 Ignorar a necessidade de arquivar o material psicológico coletado;
 Interpretar além dos limites dos testes utilizados;

A ÉTICA NAS ETAPAS DO PROCESSO DE TESTAGEM

 Seleção de testes e escalas para testagem psicológica;


 Administração de testes e escalas psicológicas;
 Correção e interpretação dos resultados psicológicos;
 Elaboração de laudos psicológicos e entrevistas de devolução;

RESOLUÇÃO CFP 07/2003

 Institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo


psicólogo;
 Em vigor desde 14 de junho de 2003;
 Toda e qualquer comunicação por escrito decorrente de avaliação psicológica
deverá seguir as diretrizes descritas neste manual;
 Avaliação Psicológica: processo técnico-científico de coleta de dados,
estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos
psicológicos, utilizando-se de estratégias psicológicas - métodos, técnicas e
instrumentos.
 Objetivo: orientar o profissional psicólogo na confecção de documentos
decorrentes das avaliações psicológicas e fornecer os subsídios éticos e
técnicos necessários para a elaboração qualificada da comunicação escrita.

CIDANIA
A discussão que pretendemos desenvolver tomará um a um os termos que
aparecem no título acima. Tratemos do primeiro deles. O que é para nós a
Psicologia? Na forma como se entende normalmente, a Psicologia se propõe a ser
um estudo científico do comportamento humano (e animal, para alguns) que se
situaria a meio caminho entre o conhecimento biológico e o conhecimento dos
processos sociais. Haveria uma unidade de base nessa ontologia regional e as
várias teorias se integrariam em um corpo epistêmico comum. Nada mais falso, a
nosso ver, que essa idéia unitária da Psicologia.

Hoje compreendemos, diferentemente de Penna (1997), as psicologias no plural


como distintas formas de tratar a subjetividade e que, ao fazê-lo, por sua vez,
constroem diferentes subjetividades. Ao fato de que não encontramos um objeto
uno de estudo para a Psicologia nem um método único de investigação, soma-se
a constatação de que produzimos com os nossos discursos sujeitos diferenciados.
Assim, enquanto dispositivo constitutivo de subjetividade, cada abordagem
psicológica cria seu próprio sujeito-objeto.

Temos, então, duas evidências. A primeira, de que a toda prática psicológica subjaz
um modelo ético específico sujeito às injunções da própria teorização a que se
coaduna; a segunda, de que uma “ética” particular – a ética do trabalho psicológico –
se coloca no lugar de rectora de toda e qualquer atuação profissional. Aqui e ali
podemos vislumbrar conflitos na relação entre essas duas orientações éticas.
Tomemos, a título de exemplo, a intrincada situação constituída no setting
psicoterápico quando o cliente, ou paciente (ao gosto de cada abordagem),
comunica ou mesmo atua perante o profissional uma tentativa de suicídio. Segundo
o Código de Ética, dá-se a possibilidade de o psicólogo, por “imperativo de
consciência”, quebrar o sigilo ético para que outrem auxilie o indivíduo ou que ele
mesmo o socorra de alguma forma. Tal atuação do psicoterapeuta, no caso,
implicaria um erro técnico em algumas abordagens, uma quebra da confiança
depositada pelo cliente na relação terapêutica, em uma outra perspectiva, ou mesmo
uma conduta normal para um terceiro grupo de práticas.

Isso tem a ver, de fato, com a busca de qualidade de vida. Com a necessidade de se
estar bem, de gozar “uma vida boa, com e para os outros, em instituições justas”
(Ricoeur, 1996). Logo, se aproxima da questão da justiça e da justiça social, mais
especificamente. Essa qualidade de vida seria uma dimensão da cidadania, questão
dos direitos democráticos. Chegamos ao quarto termo – a cidadania. Ser cidadão,
portanto, significa ter o direito de escolher seus representantes no espaço público e
fazer valer seus reclamos, mas também significa buscar uma “vida boa” para si e
para os outros, e isso implica fazer com que a dimensão da diferença, da
criatividade, da produção cultural, possa emergir de cada um – aquilo que Rolnik
(1994) denominou de “homem da ética”, em oposição ao homem da moral, dos
princípios, valores e regras estabelecidos. Este seria necessário, mas não suficiente
para aquilo que chamamos de “qualidade de vida”.

No atendimento psicológico, significa propiciar condições para que irrompa na


pessoa sua própria diferença, seu outro, seu estranho. Disso as psicologias não têm
se ocupado muito, preocupadas que estão em reafirmar a identidade de um eu
indivisível e autoconsciente. Significa, também, possibilitar o encontro da pessoa
com os outros e suas diferenças, com o estrangeiro, com a exterioridade que exige a
produção de diferenças.

Temos, assim, um longo caminho a percorrer. Rever nossas teorizações, para ali
encontrarmos a impertinência do outro. Renovar nossas práticas, para oferecer
condições para a irrupção desse outro nas falas e nos gestos de nossos clientes,
pacientes, outros de nós mesmos.

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