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Comentário do professor
Confira a seguir o comentário do prof. Marcílio B. Gomes Jr, da Oficina do
Estudante de Campinas (SP):
A narrativa de "A hora da estrela" é uma interminável pergunta sobre a
condição humana, ao longo de um enredo no qual se fundem histórias ou
eixos distintos e complementares: ma vida de Macabéa, imigrante
nordestina que vive desajustada no Rio de Janeiro; a história do autor do
livro, identificado como Rodrigo S. M., sem propriamente um rosto definido,
mas que interfere sistematicamente no enredo; e ainda a história do
próprio ato de escrever. Nessa arquitetura instigante, Clarice Lispector
articula três linhas de reflexão a respeito da existência e da arte: 1)
filosófica, com a qual focaliza os limites do conhecimento do mundo, por
meio da palavra; 2) social, com a qual investiga os impasses e os
confrontos gerados pela incomunicabilidade entre os seres humanos; e 3)
estética, com a qual investiga o ato da criação e sua importância na vida
das pessoas. O narrador, Rodrigo S. M., é uma figura particularmente
interessante, pois, assim como a personagem Macabéa, também está em
busca de si mesmo, em busca de uma identidade; ao mesmo tempo em
que se identifica com a realidade circundante, sente também
estranhamento ao interagir com ela, oscila entre identificação e
afastamento. A obra é digressiva, porque não segue uma narrativa linear;
é metalinguística pela contínua reflexão sobre sua própria estrutura;
apresenta 13 títulos que se referem aos estados de espírito do narrador e
desmistificam o poder centralizador de um só.