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“PESQUISAS EM ACESSIBILIDADE PEDAGÓGICA:

RELATO DE EXPERIÊNCIA EM REPOSITÓRIOS


ACADÊMICOS COM LEITOR DE TELA”

JAQ U EL I N E CO STA C A ST I L HO M O REI RA , F C T/ I PT ECHI / U NESP B R A SI L


M A R I A R I TA R O DR I G UES C E RQUE I RA , F C T/ I PT ECHI / UNESP B R A S I L

U N I V E R S I D A D E E S TA D U A L PA U L I S TA J Ú L I O M E S Q U I TA - U N E S P

VI CONGRESSO INTERNACIONAL 2019: Educação Inclusiva: Olhares pelo Caminho


Santarém, 24, 25 e 26 de outubro de 2019
Introdução
 Na Lei nº 13.146 (Brasil, 2015), a acessibilidade é uma das condições

destinadas a “assegurar e promover em condições de igualdade, o

exercício dos direitos e liberdades fundamentais por pessoa


deficiente, visando sua inclusão social e cidadania”.
Contextualização Teórica
 Porém, a existência da Lei nº 13.146 (Brasil, 2015) não tem garantido
equidade em oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional para este
público, por na práxis estar associada à transposição de obstáculos:
arquitetônicos, comunicacionais, metodológicos, instrumentais, programáticos e
atitudinais (Sassaki, 2009).
Da contextualização teórica a problematização: há uma
acessibilidade pedagógica?
 Na trajetória dos estudos de alunos do nível básico ao superior, a
acessibilidade envolve ainda os obstáculos pedagógicos, desde materiais
disponíveis ao ensino às metodologias: de “estudo”, para “aprendizagem”, para
realização de “pesquisas” e para “apropriação de conhecimento”.
Objetivo
 Relatar as condições de acesso e acessibilidade de repositórios utilizados
mais frequentemente por estudantes de ensino médio / cegos ou com baixa visão
da Educação básica.
Contextualização Metodológica

 Trata-se de investigação de abordagem qualitativa, que enfocou o relato de experiências de


uma pesquisadora com cegueira adquirida, na busca e recuperação de conteúdo em bases
multidisciplinares: Bing, Wikipédia, Info Escola (link “navegando e aprendendo”), Yahoo, Google e o
Google Acadêmico; exploradas através do leitor de telas NonVisual Desktop Access (NVDA),
programa em código aberto, que possibilita a “leitura” do Windows, auxiliando a inclusão digital.
Procedimento Metodológico: dos princípios de
acessibilidade digital seguiu-se critérios brasileiros
“marcação de conteúdo” (link clicável, que avisa o usuário que naquela aba existe um conteúdo);

“tamanho da área de toque”,

“contraste de texto , imagem e cores”

“ampliação de fontes, caracteres, imagens e sons”,

“descrição das imagens por texto ou som”,

“leitura e exploração da página” e

“interação com a base de dados”.


Procedimento Metodológico: critérios do
relato

Foi utilizado um notebook Acer, com NVDA e navegador Chrome.


O procedimento metodológico foi realizado no primeiro semestre de 2018.
Após a vivência de pesquisa, houve a associação de um conceito as bases:
ruim (R), satisfatório (S), bom (B) e excelente (E).
Procedimento Metodológico: avaliação em
seis tarefas
1. execução de uma busca simples sobre tema aleatório;
2. busca avançada utilizando estratégias e filtros (operadores booleanos,
indexadores, etc.);
3. quantificação das recuperações;
 4. leitura dos títulos por meio do NVDA;
5. averiguação da existência de um botão/ícone indicativo de download;
6. após o acesso - baixar o texto escolhido.
Análise e Discussão dos Resultados Alcançados
Optou-se pela disponibilização dos resultados em itens com texto corrido ao invés de
um quadro, pois este formato dificulta a acessibilidade das pessoas com deficiência visual, já
que este artigo intenciona ser um texto para todas as pessoas.

Assim tem-se:

a) Marcação de conteúdo: Todas as bases apresentaram essa opção.

b) Tamanho da área de toque: No oferecimento deste item, a Wikipédia foi à única base que
não atendeu a disposição de apresentar os links um embaixo do outro. Enquanto as outras
bases receberam conceito “B” nesse quesito.
Análise e Discussão dos Resultados Alcançados
c) Contraste de texto, imagem e cores: Somente o Google acadêmico apresentou essa opção,
compreendida na vivência do relato como “B”.
d) Opção de ampliação de fontes, caracteres, imagens, sons: O Google acadêmico foi classificado
como “B”; já as demais bases, como “R”, ou por não oferecerem este item ou pelo fato dele não
ser encontrado.
e) Descrição das imagens por texto ou por som: Nessa opção o Google acadêmico obteve o
conceito “S”, e as demais bases pesquisadas obtiveram “R”, ou por não oferecerem este item ou
pelo fato dele não ser encontrado.
f) Leitura e exploração da página, com os itens Falar Seleção, Falar Conteúdo da Tela, Falar Texto
Automático: Somente o Google e o Google acadêmico apresentam essa opção, sendo classificados
como “B” neste item, enquanto as demais bases foram categorizadas como “R”, ou por não
oferecerem este item ou pelo fato dele não ser encontrado.
Análise e Discussão dos Resultados Alcançados
g) Interação com a base de dados, por meio do uso de palavras-chave e operadores booleanos
com a base de dados, indicador/quantidade de dados recuperados, acesso aos títulos e
resumos, acesso ao material na íntegra: Todas as bases pesquisadas receberam “B” nessa
opção.
 Neste relato de experiência, a Wikipedia foi a base que obteve a maior quantidade de
conceitos ruins e o Google Acadêmico, o repositório considerado com maior acessibilidade
pedagógica. O Google teve este conceito porque para estudantes cegos ou com deficiência
visual, a base atendeu suas demandas. Para estudantes com estas características, as
plataformas complexas são pouco produtivas, pela dificuldade de navegação que representam
e pelo tempo dispendido com devolutivas que não atendem satisfatoriamente o que
desencadeou a busca.
Análise e Discussão dos Resultados Alcançados
 Vale destacar que os resultados obtidos neste relato de vivência são similares aos
existentes na literatura brasileira (Castanho & Freitas, 2011; Leite; Borelli & Martins, 2013; Aciem,
2015; Fulas, 2015; Marcellino & Siebra, 2015). Por exemplo, assemelha-se ao que foi obtido com a
pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pernambuco (Marcellino & Siebra, 2015), que
teve como objetivo avaliar a interação dos usuários, a respeito da acessibilidade e usabilidade de
repositórios institucionais, realizada em cinco universidades públicas, com seis deficientes visuais.
 Os indivíduos que participaram do estudo durante a navegação pelos repositórios
avaliados, não puderam encontrar áudio-descrição para cada imagem apresentada; não
recuperaram algumas siglas ou abreviaturas presentes nas páginas, por não se apresentarem
descritas; dificultando a compreensão dos usuários que não tinham conhecimento a respeito da
estrutura da instituição.
Análise e Discussão dos Resultados Alcançados
 Também não foi encontrada a identificação do idioma, pela qual estava sendo
disponibilizada a página, o que é algo essencial para a configuração dos leitores de
telas. Sem essa identificação, o leitor não é capaz de reconhecer qual o dicionário de leitura
deve utilizar na navegação, o que o leva a mesclar suas leituras em diferentes idiomas,
dificultando a compreensão do usuário.

 O presente relato não é um julgamento, mas uma contribuição para o entendimento de


como estudantes cegos ou com deficiência visual realizam suas pesquisas e produzem seus
trabalhos escolares.
Análise e Discussão dos
Resultados Alcançados
 Quanto a avançar em relação ao paradigma da educação inclusiva, alguns ajustes
podem tornar as bases mais intuitivas na percepção dos estudantes de ensino básico,
contribuindo para a acessibilidade pedagógica; o que em última análise promove não
somente a inserção dos estudantes com essa especificidade, mas todos.
 Também desse relato emergiu o pressuposto de que aprimorar a acessibilidade
pedagógica de uma base, também se relaciona à análise do conteúdo ali disponibilizado..
Afinal um número maior de acessos, implica na discussão sobre a disseminação e a
reverberação dos conteúdos postados e com isso, o questionamento dos critérios de
inserção utilizados para a disponibilização das obras por estes repositórios, o que demanda
outras investigações.
Considerações
 É premente a necessidade de instrumentalizar os alunos de ensino básico em
competências informacionais, em especial aqueles com algum tipo de
deficiência, para que utilizem os recursos e ferramentas já existentes de forma
plena;

 E quanto às bases, elas devem adequar-se e possibilitar interlocução com


aqueles que vivenciam de fato, as condições e as dificuldades da inclusão na
educação pela acessibilidade pedagógica.
Referências Bibliográficas
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Pesquisa em Ciência da Informação (XVI ENANCIB). Informação, memória e patrimônio: do documento às
redes (191-207). João Pessoa: UFPB. DOI: 10.5585/cpg.v16n2.7411
◦ Arquivo.pt. (2009). Visibilidade.net: estar presente na web não basta. Disponível em
https://arquivo.pt/wayback/20180628132823/http://visibilidade.net/tutorial/testes-Acessibilidade-Pessoas-
Deficiencia.html
◦ Castanho, D., & Freitas, S. (2011). Inclusão e prática docente no ensino superior. Revista Educação Especial,
0(27), 85-92. Disponível em https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/4350
◦ Cerqueira, M.R.R. & Moreira, J.C.C. (2018). O "ACESSabilidade" um recurso para inclusão e permanência de
estudantes com deficiência no ensino superior. Colloquium Humanarum, 15 (Especial 2), 406-412. DOI:
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◦ Dussilek, C. & Moreira, J.C.C. (2017). Inclusão no ensino superior: uma revisão sistemática das condições
apresentadas aos estudantes com deficiência. Research, Society and Development, 6 (4), 317-341.
Recuperado: 05 out. 2019. Disponível em: https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/view/124/141.
Referências Bibliográficas
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Pesquisa em Ciência da Informação (XVI ENANCIB). Informação, memória e patrimônio: do documento às
redes (170-190). João Pessoa: UFPB. DOI: 10.5585/cpg.v16n2.7677
◦ Galvão Filho, T. (2013). A construção do conceito de Tecnologia Assistiva: alguns novos interrogantes e
desafios. Revista da FACED - Entreideias: Educação, Cultura e Sociedade, 2 (1), 25-42. Disponível em
www.galvaofilho.net/TA_desafios.htm
◦ Google acessibilidade. (2019). Ajuda do Google Acessibilidade. Disponível em
https://support.google.com/accessibility#topic=9071908
◦ Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015 (2015). Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília. Recuperado: 05 out. 2019. Disponível:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.ht
◦ Leite, L. P.; Borelli, L. M.; & Martins, S. E. S.O. (2013). Currículo e deficiência: análise de publicações
brasileiras no cenário da educação inclusiva. Educação em Revista, 29(1), 63-92.
https://dx.doi.org/10.1590/S0102-46982013000100005
Referências Bibliográficas
◦ Marcelino, C.S. & Siebra, S.A. (2015). Análise da Interação de Usuários Com Repositórios Institucionais de
Instituições Federais de Ensino Superior Brasileiras. Revista Gestão.Org, 13 (Edição Especial), 300-309.
Disponível em https://periodicos.ufpe.br/revistas/gestaoorg/article/view/22123/18488
◦ Poblacion, D. A.; Witter, G. P. & Silva, J. F. M. (Org.). (2006). Comunicação e produção científica: contexto,
indicadores, avaliação. São Paulo: Angellara.
◦ Queiroz, M.A. (2009). A Importância dos Padrões Web para a Acessibilidade de Sites. Disponível em
https://imasters.com.br/acessibilidade/a-importancia-dos-padroes-web-para-a-acessibilidade-de-sites
◦ Sassaki, R. K. Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação. (2009). Revista Nacional de
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https://www.w3c.br/pub/Materiais/PublicacoesW3C/cartilha-w3cbr-acessibilidade-web-fasciculo-I.html

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